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LARISSA GOMES SANTOS | INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS 1 ▪ Aspectos gerais: A inspeção post-mortem consiste no exame de todos os órgãos e tecidos, abrangendo a observação e apreciação de seus caracteres externos, sua palpação e abertura dos gânglios linfáticos correspondentes, além de cortes sobre o parênquima dos órgãos, quando necessário. Se divide em linhas de inspeção que são diferentes dependendo da espécie. A inspeção post mortem deve realizar: ✓ Observação dos caracteres organolépticos e físicos do sangue por ocasião da sangria e durante o exame de todos os órgãos; ✓ Exame de cabeça, músculos mastigadores, língua, glândulas salivares e gânglios linfáticos correspondentes; ✓ Exame da cavidade abdominal e pélvica, órgãos e gânglios linfáticos correspondentes; ✓ Exame da cavidade torácica, órgãos e gânglios linfáticos correspondentes; ✓ Exame geral da carcaça, serosas e gânglios linfáticos cavitários, infra-musculares, superficiais e profundos acessíveis, além da avaliação das condições de nutrição e engorda do animal. ✓ Linhas de Inspeção: LINHA A – Exame das patas Exame visual das patas dianteiras e traseiras, atentando especialmente às superfícies periungueais e espaços interdigitais (Estabelecimentos Exportadores). Vão para a sala de mocotós. Lava-se a estrutura e é feita a inspeção de todas as superfícies à procura de lesões. Caso seja encontrada lesão suspeita (e for) febre aftosa, marca como NE (não exportar). LINHA B – EXAME DO CONJUNTO CABEÇA E LÍNGUA Exame visual de todas as partes que compõem a cabeça: cavidade bucal, olhos, narinas, língua e massas musculares. ✓ Incisar sagitalmente os músculos masséteres e pterigóides – a cisticercose é um problema muito presente nos rebanhos, e alguns músculos são área de eleição para essa doença. ✓ Na língua fazer a palpação da base à extremidade livre – após a inspeção visual. Procura alterações de consistência, presença de corpo estranho, entre outros. ✓ Incisar longitudinalmente a base da língua ✓ Examinar os linfonodos parotidianos, retrofaringeanos, sublinguais e atloidiano ✓ Examinar as glândulas parótidas e as tonsilas palatinas Primeiro realiza-se a inspeção, dependendo do órgão, depois faz palpação e, novamente dependendo do órgão realiza terceiramente um corte. Para a prevenção da Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE, mal da vaca louca), retiramos material de risco específico (MRE). No caso da BSE é: globo ocular, encéfalo, medula espinhal, gânglios do SNC, intestino delgado. Ainda que não tenha comprometimento, essas estruturas são separadas e incineradas. Todo material de risco específico vai para uma bandeja azul – que é onde fica o material de risco específico – não pode ir para a graxaria, onde viraria matéria prima de ração animal*. É encaminhado para a incineração, onde vira adubo ou cinzas. Inspeção post mortem e linhas de inspeção LARISSA GOMES SANTOS | INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS 2 *Ração animal feita a partir de matéria prima de ruminantes não pode ser ofertado para outros ruminantes, por causa do risco de BSE. Lesões que podem ser encontradas: cisticercose calcificada, actinomicose, febre aftosa. Qualquer lesão indicativa de tumor maligno, condena toda a carcaça – mas benigno, condena só a estrutura que está alterada. LINHA C – CRONOLOGIA DENTÁRIA É uma linha facultativa. É muito utilizada em pequenos ruminantes pelo valor comercial da carne. Tem por objetivo primordial estimar a idade dos animais de acordo com o aparecimento, crescimento e desgaste dos dentes temporários e permanentes. Ocasionalmente podem ser identificadas lesões importantes que devem ser melhor investigadas para se determinar o destino adequado da cabeça ou mesmo de toda a carcaça. LINHA D – EXAME DO TGI, BAÇO, PÂNCREAS, BEXIGA E ÚTERO Exame visual¹ (cor, forma, tamanho) e palpação² (corpos estranhos, tecido friável/fibroso que o normal, etc.) do esôfago, estômagos, intestinos, pâncreas, baço, bexiga e útero, fazendo cortes quando necessário; Em estruturas parenquimatosas é necessário realizar cortes³, pois é necessário ver o parênquima desses órgãos – onde realiza o corte: baço. O baço é considerado não comestível, salvo para atender questões regionais do Brasil. ✓ Atentar para o trabalho de oclusão do esôfago e reto; ✓ Examinar os linfonodos da cadeia mesentérica (mínimo dez); ✓ Condenar quando houver contaminação externa por conteúdo gastrintestinal!!! Na mesa de evisceração estômagos e intestinos não serão abertos. Estômagos vão para a sala de buxaria, onde são abertos, esvaziados, lavados e inspecionados. Se aprovados, são fervidos, centrifugados e clarificados (em peróxido de hidrogênio ou cal). Intestinos também seguem o fluxo separado, vão para a triparia, onde serão esvaziados, lavados, virados (serosa para dentro e mucosa para fora – para inspecionar melhor), passa por uma máquina que raspa toda a mucosa, que é vendida para indústria farmacêutica e serve para produção de heparina (anticoagulante). Lembrando: isso é para o intestino grosso, pois o intestino DELGADO vai direto para a caixa azul, pois é material de risco para BSE!!! O pâncreas é pouco explorado, mas ainda é necessário avaliar a presença de parasitas – pode ser aproveitado para fazer opoterápicos, como insulina e glucagon. O útero precisa de uma atenção especial, já que uma fêmea que é mandada para o abate provavelmente é por causa a algum problema no úbere ou trato reprodutivo. A urina é drenada da bexiga, e deve atentar-se a oclusão de reto e esôfago. Se a estrutura tiver alteração que não reflete em outros órgãos, condena apenas ela. Se a alteração está refletindo em outros órgãos, é feito um estudo e pode haver o aproveitamento condicional (destina para outras finalidades, com condições) ou uma condenação total. É proibido por lei o consumo de fetos, todo feto vai para graxaria. Em suspeita de contaminação sistêmica = condenação total!!! LARISSA GOMES SANTOS | INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS 3 No caso de doenças como tuberculose, brucelose e cisticercose, deve ser realizada uma boa inspeção ante + post mortem, constatar a presença de febre + lesões características da doença, observar quantidade de nódulos (podendo ser feita um aproveitamento condicional), sendo baseada na 1ª inspeção ante mortem. LINHA E – EXAME DO FÍGADO Exame visual e palpação das faces do órgão, fazendo cortes quando necessário; ✓ Abrir o canal biliar e comprimir – procurando Fasciola hepatica; ✓ Examinar visualmente e por palpação a vesícula biliar – ponto crítico!!! A inspeção da vesícula deve ser feita por um funcionário de confiança, pois cálculos biliares podem ser vendidos para fora da indústria. A bile é utilizada como fixador de perfume, verniz náutico e cálculos vão para o mercado paralelo. ✓ Condenar total ou parcialmente os fígados com: cirrose, congestão, esteatose, hepatite, parasitas, abscessos, etc; ✓ Condenar totalmente quando houver contaminação por conteúdo gastrintestinal. O fígado não costuma trazer problemas que condenem toda a carcaça. LINHA F – EXAME DO CORAÇÃO E PULMÕES Exame visual do coração e do saco pericárdio; ✓ Incisar o saco pericárdico e fazer a palpação do órgão; ✓ Abrir o coração através dos ventrículos e cortar as cordas tendíneas. O coração deve ser aberto obrigatoriamente!!! ✓ Condenar total ou parcialmente os órgãos que apresentarem: pericardite, endocardite, neoplasias, abscessos, hemorragias, etc. Áreas de eleição para cisticercose: 1) Músculos da mastigação (masseteres e pterigoides) 2) Base da língua 3) Esôfago 4) Fígado 5) Coração 6) Diafragma e seus pilares 7) Músculos intercostais Critérios de julgamento da cisticercose: soma a quantidade de cisticercos e se ele estava vivo/calcificado. Após examinar tudo, se encontrar: Apenas um cisto calcificado– remoção e condenação da área afetada, liberando carcaça e vísceras para consumo. Um cisto viável – remoção e condenação da área afetada, podendo ser tratada em: o Frio: -10ºC por 10 dias – nessa temperatura o cisticerco congela e o líquido na escólex também, matando a tênia. o Salga: 24ºBe por 21 dias – o sal desidrata e vesícula, matando o escólex. (Be = graus Baumé, concentração de salinidade) Dois a sete cistos viáveis ou calcificados – realiza-se o tratamento pelo calor, 76,6ºC por 30 min – há outros tratamentos, mas esse é o mais comum. Oito ou mais cistos viáveis ou calcificados – é considerada uma infecção intensa, há condenação total da carcaça e vísceras. 2 ou + cistos em pelo menos dois locais de eleição: não precisa ir para a musculatura, para preservá-la. 4 ou + cistos na musculatura: realiza o corte em músculos dianteiros e traseiros, PPP e CAL respectivamente. PPP = peito, pescoço e paleta, CAL = coxão, alcatra e lombo LARISSA GOMES SANTOS | INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS 4 Realiza-se exame visual e palpação da superfície dos pulmões e traqueia. Enfisema no pulmão pode ser uma tecnopatia, causada durante a insensibilização. Em pequenos ruminantes, a maioria dos pulmões são condenados pelo acúmulo de sangue e essa tecnopatia ocorre no uso de eletronarcose. LINHA G – EXAME DOS RINS Exame visual e palpação da superfície dos rins, obrigatoriamente presos à carcaça, observando o tamanho, a forma, a coloração e a consistência; Devem estar presos a carcaça sobretudo os que são destinados à exportação, pois serão reinspecionados. ✓ Liberar os rins da sua cápsula e gordura perirenal; ✓ Examinar o parênquima (cortical e medular); ✓ Examinar visualmente as glândulas supra-renais; ✓ Condenar total ou parcialmente os órgãos que apresentarem: congestão, nefrite, nefrose, tuberculose, abscessos, neoplasias, etc. Dependendo da lesão, define se iremos condenar apenas o rim ou outras estruturas, até mesmo a carcaça inteira. LINHA H – EXAME DAS FACES INTERNA E EXTERNA DO TRASEIRO Da 5ª costela para frente = anterior ou dianteiro da carcaça; da 6ª costela para trás = posterior ou traseiro da carcaça. ✓ Exame visual do aspecto geral e cor das meias-carcaças; ✓ Verificar se existe anormalidades nas articulações, massas musculares (cortes comerciais), cavidade pélvica e peritônio; ✓ Examinar o úbere, incisando-o profundamente – ele não é inspecionado agora, no final; dependendo da lesão do úbere, a carcaça é condenada totalmente; ✓ Examinar os linfonodos inguinais, retro-mamários, ilíacos, isquiáticos e pré-crural. ✓ Verificar se existem contusões e edemas localizados ou generalizados (anasarca), contaminação gastrintestinal, etc. LINHA I – EXAME DAS FACES INTERNA E EXTERNA DO DIANTEIRO Exame visual do aspecto geral e coloração das meias-carcaças; ✓ Verificar se existe anormalidades nas articulações, massas musculares, pleura parietal e superfícies ósseas – observar se o animal está caquético; ✓ Inspecionar o diafragma através de incisões; ✓ Examinar os linfonodos pré-escapulares e o ligamento cervical; ✓ Observar a presença de abscessos, contusões, hematomas, aderências, icterícia, adipoxantose, contusões e edemas localizados ou generalizados, etc. Inspeção do diafragma: trata-se de uma porção muscular espessa, logo é feita através de cortes em lâminas, chamado folhamento do diafragma. Importante: primeiramente realiza-se a inspeção visual¹, palpação² e posteriormente esses cortes³. Carcaças amareladas são comuns, podendo ser: Icterícia – problemas hepáticos. Não é fisiológico, logo, condena tudo. Adipoxantose – acúmulo de beta caroteno na gordura dos animais, não há condenação. É apenas uma alteração metabólica (acúmulo de xantina), não havendo pigmentação de outros tecidos além da gordura. LARISSA GOMES SANTOS | INSPEÇÃO E TECNOLOGIA DE CARNES E DERIVADOS 5 Diferença entre icterícia e adipoxantose: ao se deparar com uma carcaça amarelada, deve-se observar: 1) Ligamento cervical 2) Grandes vasos (aorta) Destino das Carnes Liberação para consumo Aproveitamento condicional Condenação parcial (adipoxantose) Condenação total (cisticercose, icterícia) Há a toalete (limpeza) e lavagem das carcaças. LINHA J – CARIMBAGEM DAS CARCAÇAS Serão carimbadas com estruturas de formato ovalado em cor de violeta geniciana (atóxico) – coxão, lombo, paleta e ponta de agulha. Pesagem – carcaças serão levadas para a pesagem, chamada peso quente da carcaça (pois ainda não foram refrigeradas) e na câmara frigorífica é pesada novamente (peso frio da carcaça). Isso é importante para saber se a câmara está numa boa temperatura, geralmente há perda de peso por desidratação. Refrigeração – carcaças não devem estar com a parte muscular voltada para onde o frio está projetado, para não haver desidratação e perda de características sensoriais. O ideal é que a parte óssea esteja voltada para o frio. Unidade frigorífica móvel – caminhão com ar condicionado. resumo: LINHA O QUE INSPECIONA IMPORTANTE LEMBRAR LINHA A Exame das patas Procurar lesão de febre aftosa. LINHA B Exame do conjunto cabeça e língua Onde estão a 1ª área de eleição da cisticercose (músculos da mastigação) e alguns dos materiais de risco específico para BSE (globo ocular, encéfalo); LINHA C Cronologia dentária Para estimar idade dos animais; LINHA D Exame do TGI, baço, pâncreas, bexiga e útero ID é material de risco para BSE, logo é descartado; LINHA E Exame do fígado - LINHA F Exame do coração e pulmões Coração deve ser aberto obrigatoriamente; Coração é a 5ª área de eleição para cisticercose; LINHA G Exame dos rins Devem estar obrigatoriamente presos à carcaça, sobretudo quando serão exportados, pois serve para reinspeção; LINHA H Exame das faces interna e externa do traseiro - LINHA I Exame das faces interna e externa do dianteiro Inspeciona o diafragma. LINHA J Carimbagem das carcaças - Se estiverem brancos leitosos é adipoxantose, se estiverem amarelados é icterícia.
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