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Toxicologia Alimentar Prof. Doutor Cuinica lcuinica@unirovuma.ac.mz UNIVERSIDADE ROVUMA FACULDADE DE CIÊNCIAS ALIMENTARES E AGRÁRIAS CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS ALIMENTARES COM HABILITAÇÃO EM SEGURANÇA ALIMENTAR Toxicologia Toxicologia é uma ciência multidisciplinar que tem como objecto de estudo os efeitos adversos das substâncias químicas sobre os organismos vivos. Esta ciência engloba a origem, propriedades físicas e químicas, associações, efeitos bioquímicos e fisiológicos, mecanismos de absorção, biotransformação e excreção de agentes tóxicos . Efeito adverso - É qualquer resposta prejudicial de uma substancia toxica causada por doses normais ou exageradas. Este efeito pode resultar na lesão reversível/irreversível de órgãos e na morte do organismo. O Processo toxicológico esta dividido em dois grandes processos: TOXICOCINÉTICA TOXICODINÂMICA TOXICOCINÉTICA TOXICOCINÉTICA Consiste na transferência do tóxico desde o local de aplicação até a corrente sanguínea. Absorção do tóxico no organismo É a fração do tóxico na sua forma activa e quimicamente inalterada (depois de metabolizado), que atinge o seu local de acção. Biodisponibilidade do tóxico TOXICOCINÉTICA A velocidade e extensão da distribuição dependem do fluxo sanguíneo tecidual, propriedades físico-químicas do tóxico, características da membrana através da qual será transportado e sua ligação a proteínas plasmáticas e teciduais. Distribuição do tóxico no organismo O tóxico penetra na circulação sistêmica por administração directa ou após absorção a partir do sítio de aplicação, e distribui-se aos diferentes tecidos do organismo; TOXICOCINÉTICA Distribuição do tóxico no organismo No cérebro a distribuição do tóxico é feita através da barreira hematoencefálica, ou por mecanismos de transporte específicos. Para atravessar a barreira hematoencefálica o tóxico deve ser lipossolúvel ou através de receptores específicos. Biotransformação do tóxico no organismo É a transformação do tóxico em outras substâncias, por meio de alterações químicas, geralmente sob acção de enzimas inespecíficas. O fígado é o lugar de excelência para a biotransformação dos tóxicos, devido a sua diversidade enzimática. Ocorre principalmente: TOXICOCINÉTICA Oxidação Redução Reações hidrolíticas Acetilação Metilação Dessulfurização Epoxidação (ligação dupla) Desalquilação (O, S, N) Transferência de grupo oxidativo Quebra de ésteres Desidrogenção Reações de Conjugação. Aumento da polaridade dos tóxicos biotransformados na fase-I Uma superfamília microssômica de isoenzimas que catalisam a biotransformação de muitos tóxicos Pela adição de um grupo funcional (-OH, -NH2, -SH, ou -COOH) Na fase I, o Cit. P450, converte o tóxico lipofílico em um primeiro metabólito mais polar, através da inserção de um atómo de oxigénio na forma –OH. TOXICOCINÉTICA Na Fase-II os metabólitos sofrem a conjugação com pequenas moléculas endogenas de alta polaridade formando conjugados altamentes hidrossolúveis, que são excretados principalmente pela urina. Biotransformação dos tóxicos no organismo Eliminação dos tóxicos do organismo Eliminação ou Excreção - É a retirada do tóxico do organismo, seja na forma inalterada ou em metabólito activo e/ou inactivo. A eliminação ocorre por diferentes vias e varia conforme as características físico- químicas do tóxico a ser excretado. TOXICOCINÉTICA Permanência dos tóxicos no organismo O tempo que um tóxico leva no organismo depende em grande parte do seu grau de lipossolubilidade. Os tóxicos mais lipofílicos levam mais tempo no organismo em relação aos mais hidrofílicos. Meia-vida (T1/2) - É o tempo necessário para que a concentração plasmática de determinado tóxico seja reduzida pela metade. Supondo então que a concentração plasmática atingida por certo tóxico seja de 100 µg/mL e que sejam necessários 45 minutos para que esta concentração chegue a 50 µ/mL, a sua meia-vida é de 45 minutos. Permanência dos tóxicos no organismo TOXICOCINÉTICA TOXICODINÂMIA Membrana plasmática - É uma estrutura semipermeável (lipofílica), responsável pelo transporte e seleção de substâncias que entram e saem da célula. Funções Permeabilidade selectiva, controle da entrada e saída de substâncias da célula, e proteção das estruturas celulares; Delimitação do conteúdo intracelular e extracelular, garantindo a integridade da célula; Transporte de substâncias essenciais ao metabolismo celular; Reconhecimento de substâncias, através de receptores específicos da membrana. TOXICODINÂMIA Potência do Tóxico: Dose necessária para produzir 50% da resposta máxima que o tóxico é capaz de induzir. Comparação das curvas dose-resposta O tóxico X possui maior actividade toxicológica por equivalente da dose, sendo, portanto mais potente do que os fármacos Y e Z; Os tóxicos X e Z possuem a mesma eficácia, indicada pela resposta máxima alcançada (efeito teto); O tóxico Y é mais potente que o Z, porém a sua eficácia máxima é menor. TOXICODINÂMIA Canais Iónicos TOXICODINÂMIA São proteínas de membrana celular que formam poros aquosos através da bicamada lipídica, pelos quais passam os iões entre o meio extracelular e intracelular. Estas proteínas ajudam a estabelecer e controlar a diferença de potencial elétrico (gradiente de voltagem) através da membrana da célula, permitindo o fluxo de iões pelo seu gradiente eletroquímico. Dependendo do ião que passa pelo canal podem ser classificados em: Canais de Na, K, Ca e Cl. TOXICODINÂMIA Cl- Ca2+ Ca2+ Cl- Ca2+ Cl- Potencial da membrana – é a diferença de potencial entre o meio intra e extracelular. Quando a quantidade de um ião for a mesma no meio entra e intracelular a célula morre. Nos canais iônicos passa mais o K+, que o Na+, Ca2+ e Cl-. Devido ao diâmetro do canal e raio atômico do ião e sua valência. O Na+ atravessa os canais menos vezes apesar de ter um raio atomico menor que K+, porque aparece solvatado e é usado pela célula para o controle da osmose (volume hídrico da célula). Influxo Efluxo O efeito da maioria dos Tóxicos resulta da sua interação com componentes macromoleculares do organismo. TOXICODINÂMIA Principais alvos para acção dos tóxicos Receptores Canais iônicos Proteínas transportadoras Enzimas Proteínas estruturais Sítios de acção - São locais onde as substâncias endógenas ou exógenas interagem para promover uma resposta fisiológica. TOXICODINÂMIA Receptores - São proteínas possuidoras de um ou mais sítios, que quando activados por substâncias endógenas ou exógenas, desencadeam uma resposta fisiológica. Mecanismo geral da acção dos tóxicos O complexo tóxico-receptor é feito por ligação iônica, pontes de hidrogênio, forças de Van der Waals ou interações hidrofóbicas. E em raros casos, é por ligação covalente. Sendo uma ligação muito forte, os complexos são mais estáveis e o efeito pode ser mais duradouro ou até irreversível. TOXICODINÂMIA TÓXICO (Sangue) + R (T – R) ACÇÃO EFEITO TÓXICO São iões ou pequenas moléculas que se formam ou libertadas no citosol em resposta a um sinal extracelular (primeiro mensageiro), que permitem a condução do sinal até ao interior da célula (Transdução de sinal). TOXICODINÂMIA Mensageiros secundários ou segundos mensageiros Os mensageiros secundários mais comuns incluem: Monofosfato cíclico de Adenosina (cAMP); Monofosfato cíclico de guanosina (cGMP); Diacilglicerol (DAG); Inositol trifosfato (IP3); Iões de cálcio (Ca2+) e Cinases. TOXICODINÂMIA A ligação dos tóxicos aos receptores podem ser Agonista ou Antagonista. AGONISTAS TOTAIS AGONISTAS PARCIAIS Quando têm afinidade pelo receptor, e produzem um efeito máximo. Quando têm afinidade pelo receptor, mas só produzem uma resposta parcial, mesmo quando todos os receptores estão ocupados peloagonista. AGONISTA Agonista - Quando o tóxico se liga ao receptor e favorece a sua conformação activa. TOXICODINÂMIA Curvas de dose-efeito Agonista total vs parcial TOXICODINÂMIA Agonista inverso – Tóxico que inibe a actividade intrínseca do receptor, produzindo efeito contrário ao do agonista. Antagonista neutro – Tóxico que apenas bloqueia o receptor sem gerar efeito. TOXICODINÂMIA ANTAGONISTA - Quando o tóxico impede a ativação do receptor pelo agonista. Possui uma afinidade pelo receptor, mas não exerce nenhum efeito na ausência do agonista. Atividade intrínseca igual a zero. TOXICODINÂMIA A. O receptor inativo não-ligado; B. O receptor ativado pelo agonista; C. O antagonista e o agonista liga-se no mesmo sítio do receptor, porém não ativam o receptor, bloqueia-se o potencial do agonista; D. O antagonista alostérico liga-se a um sítio distinto do sítio agonista, porém, impede a ativação do receptor, mesmo se o agonista estiver ligado ao receptor. TOXICODINÂMIA Sinergismo - Quando um tóxico intensifica os efeitos do outro, ou quando a presença simultânea dos dois tóxicos no organismo provoca efeito maior do que a soma de seus efeitos isolados. Sinergismo de adição - Quando o efeito final é igual à soma dos efeitos dos dois tóxicos isolados. A + B = AB Sinergismo de potenciação - Quando o efeito final é maior que a soma dos efeitos individuais. A + B < AB Variações dependentes da associação dos tóxicos Atangonismo - Quando um tóxico diminui os efeitos de outro, inibição ou bloqueio dos seus receptores. Um dos casos vantajosos de antagonismo são os antídotos ou anti-venenos, que são substâncias que se combinam com outras substâncias tóxicas, inativando-as, e/ou provocando sua eliminação. O caso de intoxicação por MeOH, que é inibido por EtOH. TOXICODINÂMIA Toxicidade Aguda e Crónica Toxicidade aguda - É aquela em que uma dose única ou múltiplas doses causam efeitos tóxicos imediatos (em 24 horas), ou no decorrer de alguns dias até duas semanas no máximo. Toxicidade aguda é usada para a determinação da relação dose/resposta que conduz ao cálculo da DL50. Toxicidade crónica – É aquela resultante de exposição prolongada a doses repetidas e cumulativas do tóxico, num período acima de três meses até anos. Ensaios de toxicidade aguda Ensaios de toxicidade aguda Ensaios de toxicidade crônica Ensaios Pré- clínicos Ensaios Pré- clínicos Ensaios Pré- clínicos Toxicidade dos Alimentos Citotoxicidade Citotoxicidade é a propriedade nociva de uma substância em relação às células. Citotóxicos são aqueles que tem a capacidade de lesar ou matar as células. Carcinogénese Hepatotoxicidade Toxicidade Hepática é um dano no fígado causado geralmente por substâncias químicas. Os biomarcadores de lesões hepáticas são: Alanina aminotransferase e asparto aminotransferase. Causas de Hepatotoxicidade Hepatotoxicidade Nefrotoxicidade Nefrotoxicidade é o efeito nocivo causado geralmente por alguns compostos químicos nos rins. Efeitos É o desenvolvimento de malformações congênitas durante o desenvolvimento embrionário ou na organogênese. Um agente teratogénico é qualquer substância química ou organismo que produz uma alteração na estrutura ou função da vida embrionária ou fetal. teratogénicos Os mecanismos incluem ataque ao DNA e danos celulares; Inibição enzimática; Interferência com acção hormonal; Alterações de vias de sinalização do gene; Espécies recativas de oxigênio; Danos nas membranas, proteínas e mitocôndrias. Os tóxicos podem atravessar as membranas fetais ou extra- embrionárias e causar malformações. Este efeito pode causar aborto espontâneo do concepto ou persistir pela vida da criança, alterando ou não seu estilo de vida, dependendo da gravidade da malformação dos órgãos. Prof. Dr. CUINICA
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