Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Infectologia Catarina Alipio XXIIB Síndromes ictéricas febris infecciosas: - Icterícia: deposição da bilirrubina nas mucosas (principalmente na esclera - olho amarelado, pele também). - No nosso meio temos 4 doenças infecciosa que são predominantemente ictéricas. • São altamente prevalentes. - Causa de doença mais frequente em nosso meio: • Hepatites virais. • Leptospiroses. • Febre amarela. • Dengue. Diagnósticos diferenciais: - De doenças não infecciosas com hepatite viral crônica: e que dão icterícia. • Hepatite alcoólica. • Hepatite autoimune. • Hepatite medicamentosa. • Cirrose hepática não alcoólica (NASH). • Câncer primário de fígado. Hepatites virais: Hepatite = inflamação do fígado/ tecido hepático. - Reservamos o tema “hepatites virais” para um grupo de vírus que primariamente afeta do fígado (se replicam no tecido hepático). • Constituem vírus diferentes, portanto são doenças diferentes. • Elas tem em comum 2 coisas: - Todas elas se multiplicam primariamente no fígado (pois existem outros vírus, ex CMV, toxoplasmose que podem ocasionalmente causar hepatite e não se multiplicam primariamente no fígado). - Eles se exteriorizam clinicamente da mesma forma (na suspeita de hepatite, clinicamente não dá para saber se é o vírus A,B,C,D,E, deve fazer pesquisa laboratorial). HEPATITE A: - Doença da infância (raro em adultos). Comum em homossexuais (anal/anal, oral/ anal). • O organismo forma Ac e elimina a doença, ela é a única que não se cronifica, é uma doença aguda. - Doença benigna. - 5% desenvolve icterícia. - Se dissemina com facilidade pela água e alimentos, maioria das pessoas tem contato com o HVA na infância e se curam. - Picornavírus: RNA no núcleo, vírus pequeno. - Transmissão fecal oral (indivíduo portador do HVA elimina o vírus pelas fezes e através de alimentos e água contaminados ou relações oral/anal, contamina um indivíduo). - Não cronifica. - Hepatite fulminante (forma aguda grave): paciente vai para UTI. • 50% risco de morte. • Salva com transplante de fígado (por sorte, a criança pequena não precisa do órgão inteiro, pode receber 1/3 do fígado de um parente, é o tecido indiferenciado que regenera totalmente). HEPATITE B: - Hepadnavírus: DNA no núcleo. - Transmissão parenteral, sexual, mãe-filho (alta transmissibilidade). 33 Hepatites Virais Dr. Focaccia - 14/03 Infectologia Catarina Alipio XXIIB • 35% das pessoas que tem hepatite B tem icterícia. • É um vírus que cronifica e se mantém latente no organismo. • Imunodepressão (HIV, corticoesteroides, desnutrição, estresse…) = reativação do vírus. • Transmissão sexual da HVB se dá com grande facilidade e hoje é a principal via de transmissão. • Portadores assintomáticos da HVB, em fase de alta replicação viral de cada 3 relações sexuais, ele transmite 1. • Por via parenteral, os usuários de drogas que compartilham seringas e agulhas são candidatos de contrair hepatite. - Via sangue e derivados. • A transmissão mãe e filho na hepatite B se dá 100%. - 5% intra útero (pior = criança já nasce com a infecção crônica). - 95% através do canal do parto, amamentação, secreções, cesárea contato com o sangue). • Felizmente hoje temos vacina para hepatite B (vacina RN). - Obrigatória nas primeiras 12 horas após o nascimento (após isso a eficácia cai quase a 0). - RN tem chance de 50% de cronificar (cirrose, CA de fígado, insuficiência hepática, manifestações extra hepáticas). • No pré natal faz exames para hepatite B e vacina o RN. - Cronifica. HEPATITE C: - Hepacivírus: doença descoberta em 1989 (recente). • Termo novo, classificação a parte. - Transmissão parenteral, sexual (?), mãe-filho (?). • Vilão nas transfusões de sangue. • Temos que usar em último caso as transfusões de sangue. • Sangue é transmissor de muitas doenças (HIV, CMV, viroses…). • Atualmente: triagem do sangue. • Sangue e derivados do sangue podem estar contaminados (Ig, criopreciptados, fatores de coagulação, plasma, concentrado de plaquetas…). • Por compartilhamento de seringas (usuários de drogas, dentistas, manicure, barbeiros, piercing, tatuagem). - Instrumental compartilhado por várias pessoas. - Tinta da tatuagem alberga o vírus por 30 dias. • A transmissão sexual está praticamente restrita a sexo anal ou anal/oral. • A transmissão mãe e filho da hepatite C é muito rara (precisa de cargas virais altíssimas no momento do parto). - É a que mais cronifica (85%) e rapidamente. HEPATITE D: - Deltavírus: ele sozinho não causa doença, ele precisa se associar com o HBV para causar doença. • Quem é vacinado contra hepatite B está protegido contra hepatite D. - Transmissão parenteral e sexual. - Cronifica. - Não corre no sul e sudeste do país. - Ocorre na Amazônia (principal) - epidemiologia (pesquisar). HEPATITE E: - Calicivírus. - Transmissão fecal oral. - Cronifica. - Só tem importância nos pacientes transplantados (candidatos a envolver a 34 Infectologia Catarina Alipio XXIIB forma crônica) e em indivíduos não transplantados evoluem de forma benigna. ‣ São doenças diferentes com evolução, virulência, história natural… ‣ Elas tem em comum o fato de que se multiplicam primariamente no fígado e se exteriorizam clinicamente da mesma forma. História natural das hepatites virais agudas: - HVA: evoluem quase sempre de forma aguda benigna para a cura. • Somente 5% apresentam sintomas com icterícia. • Cerca de 0,1% das formas ictéricas evoluem para formas fulminantes (50% de letalidade). - HVB: evoluem para cronicidade (congênita:100%, RN: 50%, até 10 anos idade: 30%; > de 10 anos: 5%). • Cerca de 35% apresenta quadro clínico com icterícia. • É a hepatite viral que mais evolui para formas fulminantes. - HVC: 85% tornam-se crônicos. • Raramente são sintomáticos na fase aguda, apesar de 30% apresentarem sintomatologia extra-hepática na fase crônica. - Na fase crônica ocorrem principalmente manifestações extra hepáticas. • Doença geralmente silenciosa. - Não tem vacina mas tem cura (vale a pena pedir sorologia). • Hoje se alcança cura infectológica em 98% dos casos. - Deveríamos pedir em qualquer consulta esses 3 exames: hepatite B (atenua), hepatite C e HIV. Quadro clínico das formas agudas: - A hepatite aguda (A,B,C) tem um ciclo clínico muito característico. • O indivíduo tem um pródromo (sinais e sintomas inespecíficos): cansaço, febrífuga, mal estar GI, enjoo, intolerância a alimentos gordurosos, diarreia…). - Sintomas inespecíficos. - Pode durar dias ou até semanas. • Em um dia ele vai urinar e ele percebe colúria (urina escura - excesso de urobilinogênio) e o olho amarelado (icterícia) e suas fezes esbranquiçadas (acolia fecal - falta estercobilinogênio). - Período de estado da doença em pacientes que desenvolvem icterícia. - Nesse momento aqueles sintomas inespecíficos desaparecem. - Hepatite A raramente dá icterícia, hepatite B 30 a 40%, hepatite C não desenvolve icterícia (assintomática - difícil diagnóstico). - Agudas benignas: • Pródromos: (ausentes ou até 15 dias). • Febrícula, mal estar, adinamia, cansaço, intolerância aos alimentos gordurosos e ao fumo, náuseas e vômitos, artralgias. • Período de Estado: Icterícia, Colúria, Acolia ou Hipocolia fecal, desaparecimento dos sintomas prodômicos. • Duração: um mês até vários meses (formas prolongadas benignas). - Agudas graves: • Formas fulminantes com necrose maciça do fígado e insuficiência hepática aguda maciça (coma hepático, sangramentos, sepse, etc). - Casos que vão para transplante hepático. 35 Infectologia Catarina Alipio XXIIB Quadro clínico das formas crônicas: HEPATITE CRÔNICA B ou C (apresentações clínicas): - Formas crônicas não dão sintomas hepáticos, dão apenas sintomas extrahepáticos. ‣ Formas inativas assintomáticas (90%). ‣ Icterícia é rara. ‣ Forma fulminante é rara (hepatite B é a que mais desenvolve forma fulminante). ‣ Crônica (B varia com a faixa etária e a C em 85% das vezes ). - Manifestações auto imunes geralmente extra hepáticas (muito frequentes): • Artrites (articulação dolorosa, inflamação). • Hashimoto (doença autoimune da tireoide). • Glomerulites (manifestação autoimune renal). • Doenças da pele: - Líquen plano. - Porfiria tardia. - Poliartrite nodosa. - Crioglomulinemia. • Síndrome de Sjogren (ressecamento das mucosas). • Diabetes (pode desencadear pela resistência à insulina ou estado pré diabético). • Urticária crônica. • Serosites. - Cirrose inativa ou descompensada (25%). • Cirrose = • Detectamos através de biópsia ou métodos não invasivo (imagem, FibroScan > 10). - Hipertensão portal (HP) descompensada (na fase cirrótica): sistema porta é comprometido pela cirrose. • Pancitopenia (redução total do nº de células, decorre da HP - o sistema porta fica hipertenso e tudo à montante fica hipertenso inclusive veia esplênica, então o baço começa a retirar células do sistema). - Portanto, ocorre por problema no baço. • Ascite (devido à compressão da cirrose). • Varizes de esôfago (sistema porta hipertenso, inclusieve varizes do esôfago, neovasos). - EDA = retirar varizes. - Risco de HDA que pode levar ao óbito. • Trombose de veia porta. - Insuficiência hepática crônica (% variável): falta de fatores da coagulação, falta de metabolização hepática de fatores importantes p/ o metabolismo humano. • Sangramentos. • Sepse. • Spiders. • Ginecomastia. • Encefalopatia. • Circulação venosa superficial. • Edemas. • Cansaço. • Alopécia. • Peritonites espontâneas. • SHR. - Hepatocarcinoma (5 a 15%): principalmente na hepatite C. • Inicialmente assintomático. • Sores/ tumoração em HD. • Algumas etnias: afrodescendentes e orientais (Japonês) tem mais tendência a desenvolver. • Precisamos suspender o Ca de fígado precocemente (prova !!) - O indivíduo que tem hepatite C precisamos fazer a cada 6 meses um USG abdominal superior para o resto da vida e pesquisar nódulos no fígado. - Para saber se é CA ou não, não fazemos biópsia pois dissemina as células neoplásicas. Fazemos uma TC contrastada e se na fase venosa 36 Infectologia Catarina Alipio XXIIB aparecer o nódulo e na fase arterial desaparece o nódulo, fecha o diagnóstico de hepatocarcinoma. • Se o nódulo aparece no fim e no começo do contraste não é CA. • Se for CA temos que retirar e destruir esse nódulo (radio, quimio, cirurgia). • Candidato a transplante de fígado. Diagnóstico laboratorial das hepatites virais: prova!! - Hepatite A: IgM específica positiva + TGP bastante elevada. - Hepatite B: AgHBs (Ag de superfície) positivo persistente por mais de 6 meses + TGP pouco elevada. - Hepatite C: sorologia específica positiva + PCR positivo. • Pode dar falso positivo ou faldo negativo, por isso pedir PCR. Hepatite A: - Quadro clínico: • Período de incubação de 2 a 6 semanas. • Icterícia só ocorre em < 5% dos casos. - Complicações: • Forma fulminante em < 0,1% das que evoluem com icterícia. - Períodos de incubação: decorar!! • Hepatite A: 2 a 6 semanas. • Hepatite B: 2 a 6 meses. • Hepatite C: 50 dias em média. - Importante na anamnese para descartar os tipos de hepatite. Hepatite B: - Transmissão: • Alta: sangue e sêmen. • Moderada: secreção vaginal e saliva. • Muito baixa: urina, fezes, suor, lágrima, leite materno. • Os fluídos orgânicos se distribuem pelo organismo, mas os mais importantes são o sangue e o sêmem (homen transmite 20x mais para mulher do que a mulher transmite para o homem). - Vale para HIV também. • Leite materno: conduta do SP - individualiza caso a caso. - Pois o bebê precisa do aleitamento materno, mas há esse pequeno risco de transmissão. - Avaliar condição socio-econômica (se tem a possibilidade de substituir o leite materno), religiosas… - Formas de contágio: • Sangue/ derivados. • Sexo (principalmente via anal e oral-anal). • Mãe-filho. - Vírus da hepatite B: • Tem um Ag (Ag HBs) de superfície produzido em grande quantidade e circula pelo sangue (permite diagnóstico). • Ag nucleico (AgHBc). • Ag HBe (surge em momento de intensa replicação viral) = pior prognóstico. - Anticorpos específicos e interpretação: organismo forma Ac específicos. • AgHBs —> anti HBs. • AgHBc —> anti Hbc (IgG e IgM). • AgHBe —> anti Hbe. 37 Infectologia Catarina Alipio XXIIB - Qual a utilidade clínica em pesquisar esses marcadores da hepatite B? • Indivíduos vacinados e imunes (protegidos): a vacina é o AgHBs e o organismo forma o anti HBs. Prova: perfil sorológico da hepatite B no indivíduo vacinado? só o anti HBs +. ‣ AgHBs negativo. ‣ Anti HBs positivo (> 10.000 UI/mL = proteção, abaixo disso = está imune mas não protegido). ‣ Anti HBc negativo (não teve ctt com o vírus). - Como saber se a hepatite B teve uma remissão clínica? • A hepatite não tem cura virológica. • Padrão de marcadores sorológicos na remissão clínica (estado de portador assintomático): prova!! - AgHBs negativo (não tem o vírus no fígado, mas está em algum outro local, por isso portador assintomático). - Anti-HBs positivo. - Anti-HBc positivo. - ALT normal. - Carga viral negativo. • Risco do portador assintomático é mínimo, a menos que ele entre em imunossupressão (CA, HIV, corticoide, desnutrição…), aí o vírus pode reativar. Tratamento das hepatites virais: - Hepatite A: • Formas agudas benignas: somente sintomáticos + repouso relativo (não precisa ficar preso na cama, recomenda-se é manter o repouso após o almoço e jantar por umas 2 horas, para fazer a digestão pelo TGI e não sobrecarregar a falta de sangue do fígado). • Formas agudas fulminantes: UTI e transplante hepático se disponível. - Hepatite B: • Entecavir (Baraclude®) ou Tenofovir alafenamida (Vemlidy®) - 1 comp./dia resto da vida ou raramente após 8 anos se AgHBs negativar. - Se o paciente tem cirrose ou seja de alto risco, mantemos a medicação para o resto da vida. - Paciente não evolui para complicações. • Indicação de tratamento: - AgHbS positivo por mais de 6 meses e + 2 dos 3 parâmetros: 1. AgHBs > 2.000 cópias/ mL. 2. TGP elevada. 3. Lesão hepática/ fibrose (biópsia ou elastrografia). - Outras situações clínicas: • Recorrência pós transplante (pois paciente fica imunossuprimido, sempre tem recorrência/ reativação). • Hepatite aguda grave. • Profilaxia antes de tratamento clínico ou cirúrgico (imunossupressor). - Hepatite C: tratamento de 4ª geração. • Esquema introduzido SUS desde fev/2022. • 98% de cura. • Cura com a droga de ação antiviral aguda: associa Velpatavir + Sofosbuvir. - Muda apenas o tempo de tratamento. - Forma grave de cirrose, associa ribavirina. • Hepatite C tem vários genotipos e antigamente tratávamos de acordo com cada genótipo, mas isso foi abolido. 38 Infectologia Catarina Alipio XXIIB Hepatite C: - Problema de saúde pública mundial. - Hepatite C no mundo: • Doença hepática silenciosa e com alta cronificação. • 30% portadores crônicos desenvolvem cirrose. ‣ HCV é a principal causa de transplante de fígado. ‣ HCV é a principal causa de câncer hepático no Oriente. • Não tem vacina disponível, mas tem cura. • HCV: maior mortalidade que HIV atualmente apesar de 98% de cura infectológica nos dias atuais. - O problema é identificar o indivíduo em uma fase inicial, por isso sugere pesquisa de sorologia de hepatite em todos pacientes. - O que acontece com quem se infecta pelo vírus da hepatite C sem tratamento? • Forma aguda difícil de detectar. • 20% cura espontânea. • 80% evolui p/ forma crônica. - Onde as pessoasse contaminam com o vírus da hepatite C? Fatores de risco associados à transmissão: • Transfusão de sangue ou derivados (<0,01% a <6%). • Transplante de órgãos ou células. • Uso de drogas ilícitas. • Hemodiálise ( 0,5 a 1% ao ano). • Acidentes percutâneos com agulhas contaminadas ou material cortante de uso coletivo (acupuntura, piercing, tatuagem, manicure, dentista, barbeiro, etc.). • Sexo não-seguro. • Nascidos de mães HCV + (<3%). • Ausência de fatores de risco conhecido (50-60% no Brasil x 10% EUA/ Europa/ Japão). - Maioria no BRA se contamina com agulhas contaminadas ou material cortante de uso coletivo. - Quais as manifestações extra hepáticas da hepatite C? • Hepatite C é doença sistêmica e pode desencadear: - Hipertensão portal (varizes de esôfago, ascite, pancitopenia, encefalopatia). - Doença de Hashimoto (tireoidopatias). - Insuficiência hepática. - Resistência insulínica e diabetes. - Elevação da ferritina (hemocromatose). - Doenças de pele: porfiria cutânea tarda, líquen plano, psoríase, prurigo. - Comprometimento do SNC: depressão mental, insônia, deficit cognitivo, cansaço intenso. - Outras doenças autoimunes: serosites, síndrome de Sjogren, artroses. - 39
Compartilhar