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30/11/2022 19:56 Fundamentos filosóficos e sociológicos da educação
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FUNDAMENTOS	FILOSÓFICOS	E
SOCIOLÓGICOS	DA	EDUCAÇÃO
CAPI�TULO 1 - FILOSOFIA, SOCIOLOGIA E SUAS
INTERFACES COM A EDUCAÇA� O
Marcone Costa Cerqueira
30/11/2022 19:56 Fundamentos filosóficos e sociológicos da educação
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Introdução
O processo educacional é composto não só pelo aspecto pedagógico, próprio da prática escolar, mas se
constitui, também, de aspectos sociais, culturais e polı́ticos. Nesse sentido, como convergir tais aspectos, tão
difusos na sociedade, em um processo educacional? Esse é um desa�io que precisa ser enfrentado, em vista de
se pensar uma interface entre a Filoso�ia e Sociologia no processo educacional.
Essas ciências tratam diretamente dos aspectos indicados, tanto a formação social quanto as expressões
culturais e arranjos polı́ticos são fartamente discutidos nos temas propostos pela Filoso�ia e Sociologia. No
entanto, como articular essas discussões e construir um diálogo profı́cuo com a pedagogia? Para responder a
essa questão, precisamos compreender como se dá a relação entre Filoso�ia, Sociologia e Pedagogia no espaço
escolar, abordando o âmbito social e racional do processo de aprendizado. Mais ainda, é necessário interligar
os diversos aspectos formadores da sociedade com o papel mediador da realidade escolar.
Seria o caso de pensarmos, então, em uma discussão apenas teórica, pautada nos pressupostos conceituais da
�iloso�ia e da sociologia, em vista da premência do processo educacional? Certamente não é esse o caminho. A
relação entre essas ciências, a �iloso�ia, a sociologia e a pedagogia, não pode se limitar a uma discussão
teórica, puramente conceitual, faz-se necessário partir da prática, da realidade social e polı́tica vivenciada
pelos indivı́duos que participam do processo. Sendo assim, é necessário compreender o lugar do indivı́duo e
da coletividade no processo educacional, tendo como suporte os conceitos que podemos extrair da �iloso�ia e
da sociologia nessa construção de uma interface com a pedagogia.
Esperamos que ao �inal deste capı́tulo você possa construir sua própria opinião sobre os temas e ser capaz de
aplicá-la em sua prática pro�issional.
Vamos começar nossos estudos? Vejamos!
1.1 Relação entre Filosofia da Educação, Ciências Sociais,
Pedagogia e escola
Buscar uma relação entre a Filoso�ia da Educação, as Ciências Sociais — em especial a Sociologia — e a
Pedagogia a partir do espaço escolar, é um intricado processo que só pode ser executado se compreendido
desde sua base. Nesse sentido, a base seria a constituição de uma interface entre o âmbito racional e o âmbito
social no processo de aprendizagem.
Tanto a Filoso�ia quanto a Sociologia e a Pedagogia são ciências compostas por um aporte teórico e um
profundo conhecimento prático, o que nos possibilita estabelecer uma discussão que se valha desses dois
substratos.
Sendo assim, estabeleceremos neste tópico a busca de uma compreensão da relação entre os âmbitos racional
e social que constituem o processo educacional, tendo como substrato os aportes teórico e prático, comuns à
�iloso�ia, sociologia e pedagogia.
1.1.1 Aprendizado enquanto processo racional e social
Se pensarmos a educação a partir de um contexto histórico, teremos a percepção de que a compreensão de um
lugar de aprendizado, voltado para a transmissão de conhecimento e formação social dos indivı́duos, é
comum a quase todas as culturas, mas se instituem de formas distintas. Assim, ao pensarmos a realidade da
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escola, seu papel no processo de aprendizado, devemos levar em consideração os âmbitos que constituem
sua base, a saber, um racional e outro social.
Durante grande parte da história, como nos aponta Marrou (1966), a transmissão de conhecimento entre os
indivı́duos, dentro das organizações sociais, não se deu a partir de uma instituição estabelecida unicamente
para essa �inalidade. A ideia de um lugar próprio para tal �im, uma instituição, surge em culturas que gozavam
de grande riqueza e tempo para o ócio, sendo esse, por exemplo, o caso dos gregos. As “academias” ou “liceus”
eram lugares para onde os jovens de famı́lias ricas eram enviados para adquirir conhecimento e cultura. Pode-
se dizer que tais instituições são o que chamamos hoje de escolas, faculdades etc., ou seja, lugar ao qual os
indivı́duos vão para adquirir conhecimento e formação.
Todavia, ainda por esse prisma, o conhecimento deveria ter uma ligação direta com a realidade social dos
indivı́duos. Nas culturas antigas, o que determinava a utilidade de um conhecimento era aquilo que ele
signi�icava para o bem-estar da coletividade e para a manutenção dos costumes e expressões culturais dos
povos nos quais ele surgia.
Ao se voltar para a realidade do processo educacional moderno, principalmente em vista de se compreender
seu papel no atual modelo de sociedade, faz-se necessário levar em consideração esses aspectos que sempre
marcaram sua constituição. Os aportes teóricos, de praticamente todas as ciências, têm sofrido um gigantesco
salto, por conta das novas formas de condução da busca de conhecimentos cada vez mais amplos. As relações
sociais, polı́ticas e culturais também têm se tornado cada vez mais difusas, amplas e, até, em alguns casos,
con�lituosas.
Para ajudar a direcionar a compreensão desse complexo cenário, a Filoso�ia e a Sociologia podem contribuir
no processo pedagógico de organização do conhecimento, surgido principalmente de uma construção
racional, frente às demandas sociais impostas pelo moderno modelo de sociedade, o que se dá
principalmente nas interações dos indivı́duos. O processo educacional nessa sociedade moderna começa
ainda na infância, impondo de forma direta um condicionamento ao qual os indivı́duos devem se adequar.
Diversas correntes da Filoso�ia e Sociologia têm discutido essa interface entre o conhecimento que se
estabelece enquanto racional, predominantemente abstrato; e o conhecimento social, aquele que se baseia na
signi�icação do sujeito dentro de sua realidade.
Figura 1 - A modelagem moderna que temos de escola, enquanto lugar próprio para o ensino e aprendizado,
foi uma construção paulatina por toda a história
Fonte: joyfuldesigns (https://www.shutterstock.com/pt/g/joyfuldesigns), Shutterstock, 2020.
https://www.shutterstock.com/pt/g/joyfuldesigns
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Porém, para começarmos a discutir tais correntes, suas relações e, principalmente, seus impactos na
construção de um conhecimento próprio da Pedagogia; é necessário discorrermos um pouco mais sobre o
papel da escola nesse processo. No próximo item, nos ocuparemos dessa questão, buscando discutir de forma
sucinta o papel da escola e sua base pedagógica.
1.1.2 A pedagogia e o papel mediador da escola
Partindo do entendimento expresso no item anterior, podemos a�irmar que a instituição da escola enquanto
lugar próprio de transmissão e aquisição de conhecimento é algo que ocorre de forma gradual e diversa nas
inúmeras culturas. Sendo assim, ela pode ser compreendida como uma instituição social que evolui junto às
mudanças no cenário amplo da sociedade. Contudo, tal evolução — que ocorre em paralelo — não se dá de
maneira despregada. Nesse sentido, todas as mudanças vividas pelo corpo social e polı́tico são reverberadas
nas diversas formas deensino. A própria percepção social e intelectual dos indivı́duos, frente a essas
alterações, impacta a maneira como buscam, assimilam e utilizam o conhecimento.
A Pedagogia é a ciência que estabelece o parâmetro e direcionamento para que o processo de aprendizado seja
coadunado com as necessidades dos indivı́duos e sua sincronização com as diversas mudanças sociais. Não
se trata de um ajustamento social efetivado pelo processo educacional, muito menos da formação de
indivı́duos que correspondam apenas a parâmetros sociais tidos como aceitos.
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O que se indica, aqui, é o papel preponderante da pedagogia dentro do processo educacional, sendo ela a
ciência que melhor comporta os termos dessa discussão. Na opinião de Rodrigues (1987), o processo
educacional não deve partir de uma ótica individualista, ao contrário, precisa privilegiar o aspecto social,
tendo assim uma ampla compreensão da relação entre indivı́duo e sociedade. Dessa forma, a escola exerce um
papel mediador em que o processo educacional ocorre, a �im de direcionar o indivı́duo no desenvolvimento
de todas as suas capacidades intelectuais e, por conseguinte, possibilitar sua inserção nas diversas esferas da
sociedade. Ao mesmo tempo, a escola interage com as diversas mudanças sociais.
Se a escola tem um papel mediador, estabelecendo-se como lugar próprio de interação entre indivı́duo e
sociedade, como dito, não de simples condicionamento social; a Pedagogia, então, tem um papel de
direcionadora desse processo. Os dois âmbitos do processo de aprendizado (racional e social) se convergem
Figura 2 - O ambiente escolar deve proporcionar os meios necessários para uma formação crı́tica do
indivı́duo, contribuindo para sua inserção ativa na sociedade
Fonte: michaeljung (https://www.shutterstock.com/pt/g/michaeljung), Shutterstock, 2020.
https://www.shutterstock.com/pt/g/michaeljung
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no ambiente escolar por meio da �ina sintonia estabelecida pelos métodos pedagógicos. Por esse prisma, vê-
se que a Pedagogia não pode se tornar uma ciência engessada, despregada da realidade, das mudanças sociais,
muito menos fechada em uma perspectiva puramente “intelectualista” que privilegia o conteúdo em
detrimento da prática.
Se o ambiente escolar for direcionado por uma prática pedagógica puramente “intelectualista”, pautada em um
“conteudismo” exacerbado, tem-se uma fratura do papel mediador que ela deve exercer. Como bem aponta
Gadotti (1981, p. 25, grifos do autor), “[…] na educação não há não há somente um cogito que se interroga, há
um ato a produzir”. Não se trata apenas de construir um conhecimento racional, mas, antes, de direcionar esse
conhecimento racional para uma prática social. Para que os indivı́duos exercitem suas capacidades
intelectuais e inquisitórias, é necessária a interpelação por meio de temas concretos que possam instigar esse
processo.
No próximo tópico, ampliaremos essa discussão e nos voltaremos para o aprofundamento na relação entre
educação e sociedade, principalmente, em vista de se apontar tendências pedagógicas e as contribuições da
�iloso�ia e da sociologia nessa questão.
1.2 Educação e sociedade: tendências pedagógicas na
prática escolar
O direcionamento pedagógico do processo de aprendizado pode se dar em vista de um movimento crı́tico às
diversas mudanças sociais, tendo como ponto central de diálogo a própria construção da sociedade; ou se
tornar primordialmente formal, estando mais próximo de um idealismo educacional e de princı́pios �ixos.
Buscar classi�icar o que se poderia denominar de tendências pedagógicas é um exercı́cio demorado e que, no
�im, pode se mostrar insu�iciente se não forem percebidos os desa�ios apontados para a construção de um
direcionamento pedagógico. Os dois principais grupos, nos quais podemos centrar nossa discussão, são as
tendências liberais e as progressistas.
Sendo assim, neste tópico, nos deteremos na análise dos pressupostos teóricos e práticos que sustentam a
construção dessas tendências. Acompanhe!
1.2.1 Da prática à teoria: o processo educacional a partir da realidade
social
Os dois principais grupos indicados na introdução do tópico, aquele de tendência liberal e o de tendência
progressista, partem da construção social para postulação de suas práticas pedagógicas. Todavia, a
perspectiva que cada um deles assume é o que os diferencia em vista de re�letir um processo educacional que
se volte para a realidade social.
Basicamente, as tendências	liberais se constituem como promulgadoras de uma continuidade do chamado
status	quo, ou seja, a formatação sectária do tecido social, dividido em classes bem de�inidas e socialmente
�ixas.
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Essa tendência liberal abarca correntes como a tecnicista e a renovadora, mas seu cerne está expresso,
principalmente, na corrente tradicional, a qual se pauta pela autoridade de conhecimento do docente e pela
extrema conceitualização do conhecimento. Sua perspectiva social é que as classes sociais devem ser
mantidas no sentido tradicional, tendo como fundamento a educação moral do indivı́duo e sua inserção na
estrutura social. Por esse viés, é possı́vel perceber que as tendências liberais não propõem uma leitura de
ruptura com as estruturas sociais �ixas, nesse sentido, não consideram de forma crı́tica as diversas mudanças
sociais.
Dessa forma, não há uma análise crı́tica das desigualdades estruturais da sociedade, o que se colocaria como
uma crı́tica da própria divisão existente na construção social. Antes, há uma centralidade na �igura do
indivı́duo. Assim, é necessário, apenas, segundo tal entendimento, um foco na formação do indivı́duo e na sua
preparação para se tornar bem-sucedido.
Figura 3 - E� necessário romper com uma visão pedagógica tradicional que limita e, às vezes, inviabiliza a
crı́tica da desigualdade social
Fonte: Komar (https://www.shutterstock.com/pt/g/Komar), Shutterstock, 2020.
https://www.shutterstock.com/pt/g/Komar
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Por sua vez, a tendência	 progressista sustenta uma visão mais crı́tica das próprias estruturas sociais,
re�letindo em suas principais correntes uma ideia de ruptura com os moldes tradicionais, principalmente
aqueles que isolam o indivı́duo da realidade social. Dessa forma, correntes como a educação libertadora e a
libertária tomam um direcionamento distanciado dos moldes �ixos de construção da divisão social,
principalmente em vista das condições dos indivı́duos alcançarem sua própria emancipação.
Ao contrário das correntes presentes na tendência liberal; nas correntes progressistas, o próprio processo de
aprendizado é levado a romper com uma separação academicista entre a construção racional do
conhecimento e a prática social dos próprios sujeitos envolvidos no processo. Nesse sentido,o processo de
aprendizado deve partir da prática social dos indivı́duos, privilegiar o conhecimento que eles trazem de suas
vivências dentro do arranjo social. Mais ainda, esse movimento visa romper com o engessamento de uma
visão conteudista na qual o docente é a autoridade máxima, detentora de um conhecimento, enquanto o aluno
é um “absorvedor” desse conhecimento transmitido pela autoridade.
VOCÊ SABIA?
O termo “liberalismo” remete a uma ampla corrente de pensamento que se
estende tanto para uma vertente �ilosó�ica quanto para uma vertente econômica.
A base dessa corrente é a ideia de centralidade do indivıd́uo, suas
potencialidades, seus interesses e a possibilidade de seu desenvolvimento
particular, sem amarras sociais, religiosas e econômicas. Por esse viés, sua
conotação é sempre direcionada para uma compreensão nucleada,
individualizada, das relações sociais (REALE; ANTISERI, 1990).
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A prática pedagógica pautada em uma tendência liberal se mostrará mais próxima de um idealismo
educacional, menos crı́tica e mais centrada no indivı́duo, em sua adequação à ordenação tradicional da
sociedade e em sua preparação para assumir um posto nessa ordenação.
Por sua vez, a prática pedagógica desenvolvida em uma tendência progressista se pautará mais por um
realismo educacional, ancorado na crı́tica da ordenação social, na construção de uma autonomia do indivı́duo
e na emancipação de suas potencialidades.
VOCÊ O CONHECE?
Paulo Freire (1921 - 1997) foi um pensador, �ilósofo e educador. Sua obra gira em
torno da questão da educação como propulsora da emancipação, libertação e
autonomia dos indivıd́uos. Uma de suas principais teses foi a que criticava de forma
direta o que ele chamou de “educação bancária”, presente na educação tradicional,
que se limitava a transmitir o conhecimento do professor para o aluno (FREIRE, 2017).
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Com essa sucinta diferenciação, podemos compreender que tanto a tendência liberal quanto a tendência
progressista comportam uma leitura da realidade, mas a primeira tem uma perspectiva de manutenção da
ordem vigente, já a segunda uma visão de mudança e progresso, que responde às diversas alternâncias
sociais. No que se refere às correntes �ilosó�icas e sociológicas, será fácil, também, perceber que essa
diferenciação pode ser observada.
Para empreendermos essa análise, no próximo item, nos ateremos à discussão sobre as re�lexões �ilosó�icas e
sociológicas na prática escolar.
1.2.2 Da teoria à prática: reflexões filosóficas e sociológicas na prática
escolar
As perspectivas sustentadas tanto por correntes liberais quanto por correntes progressistas encontram ampla
fundamentação teórica na Filoso�ia e na Sociologia. Os temas da educação, da construção social, do indivı́duo
e da formação racional do conhecimento são fartamente discutidos nessas ciências, tendo como lastro
primordial a sólida postulação teórica de seus princı́pios.
No tópico anterior, apontamos que a escola, enquanto instituição própria para transmissão e construção do
conhecimento, surge de forma paulatina durante toda a história, porém a preocupação com a prática do
processo de ensino e aprendizado sempre margeou a construção intelectual e social. Em vista disso, ao
discutirmos a prática escolar a partir das tendências pedagógicas atuais, tendo em conta as re�lexões
�ilosó�icas e sociológicas, é preciso levar em consideração a longa tradição teórica dessas ciências.
CASO
A Escola da Ponte é uma experiência educacional bem-sucedida em Portugal. Sua
organização pode ser classi�icada como in�luenciada pela corrente libertária,
constante na tendência pedagógica progressista, que visa compartilhar o espaço
escolar de forma que acaba por anular as separações de turmas, horários e
conteúdos �ixos. O projeto pedagógico aplicado visa criar um ambiente de ajuda
mútua na busca do conhecimento, aproveitando a vivência de todos, sem dividir
aqueles que têm a autoridade do conhecimento e aqueles que precisam aprender
algo. Assim, todos precisam e podem aprender alguma coisa.
No entanto, esse direcionamento pedagógico não anula as regras de convivência, troca
mútua de conhecimento e respeito ao próximo, mas são os próprios indivıd́uos,
incluindo as crianças, que estabelecem essa convivência e as regras para o respeito e
a valorização da contribuição de cada um. Além de questionar o próprio modelo
tradicional de educação escolar, a Escola da Ponte nos leva a pensar sobre as
arti�iciais divisões sociais, sua perpetuação e falta de crıt́ica (ALVES, 2001).
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Estabelecemos que tanto a tendência liberal quanto a progressista se voltam para a realidade social, mas a
distinção existente na forma como cada uma trata essa realidade é que as torna praticamente antagônicas. As
re�lexões teóricas que sustentam esse tratamento diferenciado da realidade social podem ser tidas como fruto
não só de uma preocupação com a busca do conhecimento, mas, antes, como condição da própria
predominância, em algumas correntes, do formal sobre o concreto.
Pode-se a�irmar que essa predominância do formal é claramente vista em autores clássicos e medievais da
Filoso�ia, tendo in�luenciado as práticas pedagógicas das escolas tradicionais. Temos desde o idealismo
platônico, passando pela �iloso�ia medieval — predominantemente teológica — até chegarmos ao
racionalismo moderno de Descartes.
Por outro lado, uma extrema valorização da prática sobre o formalismo também pode direcionar uma prática
pedagógica deslocada da realidade social. Não necessariamente se pode dizer que a construção teórica que
valorize o aporte prático, empı́rico, vá fundamentar tão somente uma prática pedagógica pautada na realidade
social. Tomando como exemplo as correntes tecnicistas, que podem ser alinhadas à tendência liberal, vemos
que uma extrema valorização do conhecimento experimental pode deixar em segundo plano o conhecimento
social.
Pode-se elencar nesse grupo o empirismo, o tecnicismo e o próprio positivismo como correntes que
supervalorizavam as construções teóricas pautadas na prática experimental, mas que mantinham uma visão
tradicional sobre a ordenação social. No entanto, se nos voltarmos para correntes �ilosó�icas como o
realismo, o materialismo dialético, a teoria crı́tica e outras correntes crı́ticas da ordenação social, podemos
perceber uma visão distinta daquela defendida pelas construções teóricas mais alinhadas à tendência liberal.
Interessa-nos, então, compreender que as tendências pedagógicas — seja liberal, seja progressista —, além de
terem uma perspectiva própria sobre a realidade social, ou seja, da prática para a teoria; têm também uma
fundamentação teórica. Nesse contexto, o movimento que vai da teoria à prática é complementar aquele que
vai da prática à teoria. Trata-se, portanto, de um movimento contı́nuo, sendo primordial compreendermos que
as práticas pedagógicas escolares que surgem desse movimento são re�lexos das tendências que as sustentam.
VOCÊ QUER VER?
O documentário “A educação proibida” (2012), dirigido por German Doin e Verónica
Guzzo, é uma instigante obra que aborda as perspectivas da educação moderna em
mais de oito paıśes da América Latina, por meio da opinião de diversos pensadores. A
interessante abordagem dessa obra é a troca de ideias, visões e construçõesteóricas e
práticas em torno da questão da escola frente às mudanças sociais. Vale a pena ver!
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No próximo tópico, nos debruçaremos mais detidamente sobre os pressupostos �ilosó�icos nas diversas
teorias da educação, esperamos poder ampliar a discussão iniciada neste tópico.
1.3 Pressupostos filosóficos nas teorias da educação
Os diversos temas tratados pela Filoso�ia são sempre fundamentados em sólida conceitualização e
sistematização. Esse caráter torna mais fácil a percepção de in�luências e divergências entre as várias
correntes dessa ciência. Dentro da discussão pedagógica, a gama de temas tangenciados por correntes
�ilosó�icas é imensa, tornando bastante amplo o campo de análise.
Dessa forma, parece mais produtivo abordar essa discussão a partir de dois temas bem debatidos tanto na
Pedagogia quanto na Filoso�ia: a educação do indivı́duo e sua formação, bem como a educação em vista da
organização social e do coletivo.
Sendo assim, ao longo deste tópico, abordaremos esses dois pontos buscando aprofundar as noções
�ilosó�icas contidas neles. Acompanhe com atenção!
1.3.1 Indivíduo, liberdade e autonomia: educação do “eu”
Os temas da liberdade e autonomia estão, hoje, atrelados à ideia de que é necessário respeitar a
individualidade de cada sujeito. Sendo assim, tais prerrogativas são associadas à possibilidade de
desprendimento das diversas amarras sociais. Todavia, na antiguidade, a liberdade e autonomia dos
indivı́duos eram entendidas como possibilidades intrinsecamente dependentes da participação social, ou seja,
da inclusão e dependência do indivı́duo para com o arranjo da sociedade.
Como nos indica Vasconcelos (2017 p. 26),
As teorias e as práticas pedagógicas, é claro, têm variado enormemente ao longo da história, pois
o modo como um grego antigo ou um camponês medieval aprendiam ou mesmo o conteúdo de
sua aprendizagem estavam relacionados às condições sociais, polı́ticas, econômicas e culturais
da época.
Essa assertiva nos serve para começarmos a compreender a relação entre educação, liberdade e autonomia.
Aristóteles (1997) indica que os indivı́duos que não vivem em sociedade, ou são deuses ou animais, pois não
precisariam de ninguém e não teriam a necessidade de exercitar sua liberdade, o que só pode ser concretizado
na vida polı́tica. Essa visão aristotélica é compartilhada por praticamente todos os pensadores gregos de sua
época, na realidade, a educação grega é basicamente pautada na formação do indivı́duo para exercer sua
liberdade na sociedade.
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A educação no perı́odo da Idade Média é direcionada por uma interiorização do conhecimento e da prática
ética. O conhecimento é tido como algo que �lui da alma, principalmente em vista da iluminação divina. Com
a ideia de que a polı́tica é uma área deturpada da realidade humana, a educação se centra na evolução moral,
ética e espiritual, tendo no conhecimento a base para tal evolução.
Nesse perı́odo medieval, como nos instrui Marrou (1966), as escolas surgem nos entornos das igrejas, assim
como as academias e liceus gregos se alocavam ao lado dos templos. Para a doutrina cristã, predominante
nesse perı́odo, a autonomia do indivı́duo só é alcançada a partir de sua completa libertação das necessidades
materiais.
Entretanto, já no alvorecer da modernidade, correntes surgidas dentro da Filoso�ia, tal como o Iluminismo,
classi�icam esse perı́odo medieval como “perı́odo das trevas” e promulgam a liberdade do indivı́duo humano
a partir do uso completo de sua racionalidade. Esses �ilósofos iluministas propõem que a liberdade só é
conquistada a partir da razão humana e de sua superioridade sobre a natureza, para compreendê-la e dominá-
la.
A proposta de educação feita por esses pensadores é totalmente direcionada para a evolução da racionalidade,
das artes e das ciências naturais. Porém, a temática da liberdade e da autonomia continuam, assim como no
medievo, centradas no “eu”, na potencialidade intelectual de cada indivı́duo.
1.3.2 Sociabilidade, tolerância e direitos: educação do “nós”
Como tratado no item anterior, é possı́vel apresentar um processo histórico e �ilosó�ico de discussão sobre as
noções de liberdade e autonomia dos indivı́duos, oscilando entre a maior ou menor dependência desse
indivı́duo para a coletividade social. Em geral, as correntes �ilosó�icas que viam na racionalidade o meio para
se garantir a liberdade e a autonomia dos indivı́duos estavam centradas na educação do “eu”.
Na modernidade, mesmo dentro da corrente do Iluminismo, que privilegiava a individualidade intelectual e a
liberdade proporcionada pela razão; surgiram alguns pensadores que buscavam retomar e aprimorar os
princı́pios clássicos.
Figura 4 - Basicamente, a educação dos gregos clássicos era direcionada para a vida pública
Fonte: ESB Professional (https://www.shutterstock.com/pt/g/ESB+Professional), Shutterstock, 2020.
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E� bastante plausı́vel a�irmar que a educação do “nós” estabelece que os indivı́duos devem desenvolver suas
potencialidades intelectuais, mas que a liberdade alcançada por essas potencialidades só tem sentido se
compartilhada com os demais indivı́duos em sociedade. Noções como autonomia, liberdade, tolerância e,
principalmente, direitos, só fazem sentidos se percebidas a partir da perspectiva da coletividade.
No próximo tópico nos debruçaremos sobre as principais contribuições de autores clássicos da sociologia
para essa discussão das tendências educacionais e práticas escolares.
1.4 Principais percursos da Sociologia da Educação: Weber,
Marx e Durkheim
Ao tratarmos da in�luência teórica e prática da Sociologia na Pedagogia, faz-se necessário compreender a
importância dos autores clássicos para a construção e consolidação dessa ciência social. Tais autores
clássicos, como Karl Marx, Max Weber e E�mile Durkheim, trataram de diversos assuntos tangenciais às
questões sociais, econômicas, �ilosó�icas, polı́ticas e educacionais, de forma direta ou indireta.
Para termos uma satisfatória visão da contribuição desses autores para a discussão pedagógica, buscaremos
tratar cada um de forma sucinta, mas apontando os pontos essenciais que de�inem e sustentam suas
construções teóricas.
1.4.1 Max Weber: educação e capitalismo
Para Weber, a Sociologia está direcionada pela ideia de ciência que, por sua vez, estabelece-se por uma
demonstrabilidade empı́rica, tendo sempre a realidade como base. Esse caráter de demonstrabilidade
empı́rica abarca uma compreensão das leis sociais próprias da organização social, em detrimento das leis
puramente transcendentais ou abstratas. Tais leis sociais podem ser apreendidas por meio das próprias
relações das ações dos indivı́duos na sociedade e o signi�icado de suas ações sociais.
Essa percepção proposta por Weber leva a uma ideia do tipo ideal, o qual pode ser uma espécie de
“parâmetro”, um medidor para se aferir a realidade social de determinada sociedade ou cultura. Como bem
indica Trigo (2013), os homens modernos viram na compreensão das leis da natureza e, por conseguinte das
leis sociais na sociologia, uma forte sensação de controle do mundo.
Weber propõe a existência de quatro tipos de ações bem de�inidas na organização dos indivı́duos em
sociedade.
A primeira é a ação racional em relação a um objetivo,sendo
iniciativas propostas a fim de se alcançar um objetivo
determinado, tanto na construção de algo físico como na
produção econômica ou em qualquer outra área que tenha uma
finalidade empírica para sua atividade;
já o segundo tipo, ainda racional, é a ação com relação a um
valor, a finalidade proposta não é empírica ou objetiva, mas o
simples fato de permanecer fiel a uma ideia que lhe impõe um
dever;
um terceiro tipo é a ação afetivo-emocional, que se constitui da
reação do indivíduo partindo apenas de seus impulsos emocionais
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no momento da tomada de decisão, como defesa ou como ataque
a alguma situação desconfortável;
o quarto tipo é a ação tradicional, em que o ator social age de
acordo com os hábitos adquiridos por ele no convívio social, por
costumes, crenças e práticas culturais. Pode-se compreender que
essas postulações efetuadas por Weber direcionam para uma
visão funcionalista da sociedade, na qual os indivíduos exercem
ações condicionadas pela organização social.
 
No entanto, é em relação à questão da educação, em vista da construção da ética e da prática econômica, que
Weber tem uma in�luência mais abrangente. Em sua obra mais famosa, “a ética protestante e o espı́rito do
capitalismo”, Weber (2004) parte do interesse em determinar a possibilidade de se entender o capitalismo
como fenômeno ocidental e a educação desenvolvida pelos protestantes como pilares do sucesso obtido
pelos indivı́duos dessa vertente cristã no cenário capitalista.
Sua pesquisa está direcionada a compreender em que ponto uma visão em relação ao trabalho — con�igurada
por crenças religiosas — e uma educação especı́�ica teriam sido fatores preponderantes para a singularidade
do fenômeno histórico do capitalismo e do destaque da doutrina protestante. Contudo, sua visão não se
coaduna com uma visão orgânica expressa por outros autores, como Augusto Comte e o próprio Durkheim.
Falta-nos, agora, buscar compreender as construções teóricas dos dois outros clássicos da sociologia, Karl
Marx e E�mile Durkheim, o que faremos nos próximos itens.
1.4.2 Karl Marx: educação e luta de classes
Karl Marx foi um pensador de difusas preocupações, suas obras englobam desde a Filoso�ia até a Economia
Polı́tica, mas todos os assuntos são perpassados por arguta compreensão da organização social.
E� necessário pontuar que Marx teve em seu amigo Friedrich Engels um enorme ajudador na construção de
toda a sua obra. Ambos propuseram juntos as bases para o comunismo moderno, chamado de cientı́�ico, bem
como uma leitura mais contundente da organização social, de suas desigualdades e constantes processos de
mudanças.
Por essa perspectiva, pode-se a�irmar que Marx destoa das posturas de autores como Comte e Durkheim sobre
a organização social, apesar de se voltarem para o mesmo objeto: a sociedade capitalista moderna. A teoria
marxista, então, enxerga um cenário de constante luta social. No cenário no qual autores como Comte e
Durkheim veem uma necessária organização social “funcional”, baseada na ordem e no arranjo orgânico dos
indivı́duos; Marx e Engels veem a extinção de uma das classes sociais antagônicas, a classe dominante
capitalista, como única forma de superação das lutas sociais.
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Segundo Marx (2013), nesse cenário de luta de classes e exploração produtiva, o trabalhador não se identi�ica
com seu trabalho, exatamente por não possuir aquilo que produz, não tem uma relação com o objeto
produzido. Esse é um dos fatores que causam a submissão do trabalhador, aquele que tem que vender sua
força de trabalho, em relação ao capitalista, proprietário dos meios de produção. Todavia, esse é apenas o
ponto central da teoria proposta por Marx e Engels em vista de explicar a gritante desigualdade social, mas ao
se voltarem para a questão da educação, eles postulam que o modelo tradicional apenas reproduz uma divisão
que começa na esfera produtiva.
Por esse prisma, as classes dominantes têm interesse em manter a tradicional ordenação social para
manterem, desta forma, seus próprios privilégios, tanto produtivos quanto sociais e polı́ticos. Para Marx, é
essencial que o trabalhador tenha consciência de sua condição de explorado, o que se dá, via de regra, por uma
educação que o leve a questionar sua própria inserção no processo produtivo (MARX, 2013).
A visão de análise �ilosó�ica e sociológica proposta por Marx baseia de forma ampla uma tendência mais
progressista de prática educacional, não só por privilegiar uma visão de revolução social, mas por atrelar a
questão social e econômica à construção do processo educacional dentro de uma sociedade tradicional
(MARX, 2013).
Para continuarmos em nosso propósito de apresentar de forma sucinta os pressupostos centrais dos autores
clássicos da sociologia, nos voltaremos para o pensamento de E�mile Durkheim no próximo item.
1.4.3 Émile Durkheim: educação como processo “geracional” da
sociedade
Para Durkheim (1934), a Sociologia pode ser dividida do seguinte modo: a chamada morfologia social,
ocupando-se do substrato material da sociedade; e a �isiologia, tendo como �inalidade e objeto a ligação
funcional da sociedade. Por essa divisão, �ica clara a predileção de Durkheim pela �isiologia, para a qual ele dá
mais relevo e com a qual ele se detém mais, em vista de sua centralidade das funções sociais.
A complexa e rápida industrialização ocorrida nos paı́ses europeus causou uma espécie de ruptura com os
modelos produtivos anteriores, alterando também a forma como a própria realidade do trabalho afetava a
relação entre os indivı́duos. Essa realidade se torna para Durkheim um fato social com inúmeras implicações,
Figura 5 - A luta de classes é caracterizada pela extrema diferença nas condições sociais, polı́ticas e
econômicas entre dominante e dominada
Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2020.
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principalmente a di�iculdade de inserção que os indivı́duos encontram dentro da nova dinâmica do trabalho e
sua função social.
A partir dessa centralidade dos fatos sociais, Durkheim constrói sua teorização tendo como pontos
primordiais de discussão a observação desses fatos ligados aos meios produtivos e a questão moral-religiosa,
como pode ser visto em suas principais obras: “Da divisão do trabalho social”, “O suicı́dio” e “As formas
elementares da vida religiosa”. Nelas, o autor traça fundamental análise dos processos que proporcionaram e
sustentaram a formação da moderna sociedade industrial.
No entanto, é em outra obra que ele trata de forma direta da questão educacional e de seu caráter geracional,
tendo como base principalmente a construção de parâmetros sociais que demonstram uma ordenação
orgânica da sociedade. Em “Educação e Sociologia”, Durkheim (1934, p. 45) a�irma que “[…] a educação é a
ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida
social, tem por objeto suscitar e desenvolver na criança, certo número de estados fı́sicos, intelectuais e morais
[...]”.
Por esse ângulo, �ica evidente que a percepção durkheimiana é pautada por uma visão orgânica da sociedade
que estabelece uma ordenação funcional, tradicional, na qual os papéis sociais são “ensinados” aos
indivı́duos mais jovens pelos indivı́duos mais velhos. Esse processo claramente di�iculta uma mudança
drástica, uma ruptura na organização tradicionalde tal sociedade. Os fatos sociais podem demonstrar,
segundo o autor, o processo dessa construção social, bem como seus pontos de trauma, o que ocasiona, como
foi o caso do trauma causado pelo modo de produção capitalista, sequelas sociais profundas (DURKHEIM,
1934).
Conclusão
Este é o momento �inal de nosso estudo, em que sintetizaremos o que foi estudado sobre a temática de
interfaces entre Filoso�ia, Sociologia e educação. A partir da discussão feita neste capı́tulo, tendo como base
sua opinião a respeito dessa temática, esperamos que você esteja apto a re�letir sobre sua prática pro�issional,
emprenhando-se na aplicação dos conceitos aqui abordados em sua área de atuação.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
compreender a constituição racional e social dos processos de
aprendizado, tendo como base a noção de integração do
conhecimento, não apenas enquanto construção intelectual, mas
como prática social e política;
entender a relação entre as tendências pedagógicas e seus
reflexos na prática escolar, tendo em vista a forma distinta com
que cada tendência, bem como suas respectivas correntes, que
lidam com a realidade social e a inserção do indivíduo nelas;
analisar e compreender os pressupostos filosóficos na
constituição das principais noções de educação, tendo em conta
os temas de liberdade, autonomia, sociabilidade, direitos e
tolerância;
compreender as contribuições dos autores clássicos da Sociologia
para uma ampla discussão acerca do processo educacional, em
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vista da organização da sociedade e de suas diversas
interpretações.
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TRIGO, L. G. G. Pensamento	�ilosó�ico: um enfoque educacional. Curitiba: InterSaberes, 2013.
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