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Tutoria S7 - caso 9 Sepse Objetivos de aprendizagem 1. Discutir os diagnósticos diferenciais do caso em questão 2. Discutir a abordagem inicial e o plano terapêutico do paciente com sepse e choque séptico. Objetivo 1 Delirium ● Delirium é uma síndrome clínica caracterizada por alteração aguda da consciência com um caráter flutuante. ● Acomete principalmente indivíduos que já possuem comprometimento da reserva cognitiva, sendo o diagnóstico prévio de demência o fator de risco mais comum, acompanhado por fatores como idade acima de 70 anos e polifarmácia. ● A alteração cognitiva angular do delirium é a desatenção, habitualmente acompanhada por desorientação, desorganização do pensamento e por vezes quadros alucinatórios e delusionais. ● Comprometimento do nível de consciência evidenciado por sonolência e torpor é comum, entretanto estados de hipervigilância e agitação são mais comuns. ● Em 98% dos casos, o delirium é uma manifestação neuropsiquiátrica de um insulto orgânico subjacente, sendo quadros infecciosos os mais comuns. Etiologias ● A etiologia do delirium está principalmente relacionada a quadros infecciosos, dos quais a pneumonia e a infecção do trato urinário são os principais desencadeantes. ● Fatores predisponentes (fatores já presentes à admissão): ○ Idade > 70 anos ○ Diagnóstico prévio de demência ○ Perda prévia de funcionalidade ○ Imobilidade 1 ○ Múltiplas comorbidades ○ Polifarmácia ○ Déficits sensoriais (auditivo, visual) ○ Acidente vascular cerebral (AVC) prévio ○ Depressão ○ Etilismo ○ Episódio prévio de delirium ● Fatores precipitantes (fatores diversos que contribuem para o desenvolvimento de delirium) ○ Infecções: Infecção do trato urinário, pneumonia, infecção do sistema nervoso central, infecção de pele e partes moles ou abdominais. ○ Distúrbios metabólicos: Distúrbios hidroeletrolíticos, disglicemias, hipoxemia, distúrbios tireoidianos, encefalopatia hepática, uremia. ○ Neurológico: AVC, crise convulsiva, TCE, encefalopatia hipertensiva. ○ Cardiovascular: IAM, IC, arritmias. ○ Medicações/intoxicações: Psicotrópicos, suspensão abrupta de medicamentos, introdução de novos medicamentos, intoxicação crônica por medicamentos de uso regular, intoxicação ou abstinência a álcool e a drogas de abuso. ○ Outros: Contenção física, dispositivos invasivos (sonda vesical, sonda nasoenteral), privação de sono, mudança de ambiente. Ob�.: Fisiopatologia do delirium ➔ Acometimento do sistema ativador reticular ascendente e comprometimento global da função cerebral cortical. ➔ Acometimento de estruturas subcorticais, notadamente nos lobos frontais. ➔ Disfunção de neurotransmissores, com maior destaque para a acetilcolina. ➔ Presença de uma resposta inflamatória sistêmica → aumento da quantidade circulante de citocinas e ativação endotelial → alteração do fluxo sanguíneo cerebral e sobre a atividade neuronal Investigação etiológica ● É importante estar atento à presença de sinais e sintomas que indiquem acometimento neurológico com sinais localizatórios a fim de indicar exame de imagem (tomografia de crânio) precocemente. 2 ● Na ausência de suspeição clínica da doença subjacente, deve ser realizado rastreio infeccioso e metabólico: ○ Hemograma, hemocultura, gasometria arterial, creatinina, ureia. ○ Eletrólitos: sódio, cálcio, magnésio e fósforo. ○ Urina 1, urocultura. ○ Raio X de tórax. ○ Eletrocardiograma. ○ Estudo toxicológico deve ser realizado em pacientes em uso de drogas com considerável potencial tóxico (benzodiazepínicos, antipsicóticos, lítio, digoxina). ○ Avaliação de função hepática, tireoidiana e adrenal pode ser útil. ● Tomografia de crânio: para pacientes em que a causa precipitante do delirium não for identificada com o rastreio inicial. ● Eletroencefalograma: na suspeita de estado de mal epiléptico não convulsivo. ● Punção lombar: suspeita de meningismo e encefalite e quando nenhuma outra causa for identificada. ● Pacientes com delirium que não tiverem o fator precipitante identificado devem ser mantidos em observação para avaliação do curso clínico. Outros diagnósticos diferenciais Lembrar que pacientes com suspeita de delirium podem ter como diagnósticos possíveis também doenças psiquiátricas e demência. 3 Objetivo 2 Introdução ● Sepse é uma síndrome definida como resposta inflamatória desregulada a uma infecção, levando a disfunção no funcionamento de órgãos e sistemas. ● Sepse ocorre quando a liberação de mediadores pró-inflamatórios em resposta a uma infecção excede os limites do local da infecção, levando a uma resposta inflamatória sistêmica e generalizada, que acarreta lesão celular e disfunção orgânica. ● A sepse tem taxa de mortalidade de 55% nos pacientes acometidos pela síndrome em unidades de terapia intensiva no Brasil. ● Cerca de 80% dos casos de sepse são da comunidade. ● O diagnóstico de sepse é feito quando há infecção presumida ou confirmada e aumento de 2 ou mais pontos no escore SOFA (Sequential Sepsis-related Organ Failure Assessment). Vamos relembrar os escores? SIRS A definição de resposta inflamatória sistêmica exigia a presença de 2 ou mais dos critérios abaixo. Temperatura > 38 ou < 36°C Frequência cardíaca > 90 bpm Frequência respiratória > 20 irpm (ou PaCO2 < 32 mmHg) Leucócitos > 12.000, < 4.000 ou > 10% de formas jovens Q-SOFA Positivo quando há a presença de 2 ou mais critérios abaixo. Frequência respiratória > 22 irpm Estado mental Alterado PA sistólica ≤ 100 mmHg 4 ● Possui alto valor preditivo para mortalidade hospitalar para pacientes fora da UTI, sendo também estatisticamente mais significativo que o critério SIRS. ● Deve ser utilizado como critério de triagem clínica para se diagnosticar sepse → não faz diagnóstico de sepse! SOFA ● O diagnóstico de sepse é feito quando há aumento de 2 ou mais pontos no escore SOFA. Sistema Escore 0 1 2 3 4 Respiratório PaO2/FiO2 mmHg ≥ 400 < 400 < 300 < 200 < 100 Hematológico Plaquetas/uL ≥ 150.000 < 150.000 < 100.000 < 50.000 < 20.000 Hepático Bilirrubinas mg/dL < 1,2 1,2-1,9 2,0-5,9 6,0-11,9 > 12 Cardiovascular µg/kg/min PAM ≥ 70 PAM < 70 Dopamina < 5 ou dobutamina Dopamina 5,1-15 ou noradrenalina ou adrenalina ≤ 0,1 Dopamina > 15 ou noradrenalina ou adrenalina > 0,1 Sistema nervoso central Escala de coma de Glasgow 15 13-14 10-12 6-9 < 6 Renal Creatinina mg/dL Débito urinário mL/dia < 1,2 1,2-1,9 2,0-3,4 3,5-4,9 < 500 > 5,0 < 200 Critérios Diagnósticos ● Sepse: Infecção suspeita ou confirmada + aumento ≥ 2 pontos no SOFA 5 ● Choque séptico: Necessidade de vasopressor para PAM ≥ 65 mmHg + lactato > 2 mmol/L (18 mg/dL) na ausência de hipovolemia ● As principais etiologias da sepse e suas apresentações são: ○ Infecção de vias aéreas superiores: odinofagia, hiperemia faríngea com exsudato purulento, linfadenomegalia, tosse com expectoração purulenta, dor torácica ventilatório-dependente (pleurítica) e crepitação localizada ○ Pneumonia: tosse, dispneia, expectoração purulenta ○ Infecção de trato gastrointestinal: dor abdominal, diarreia, presença de sangue e pus nas fezes, distensão abdominal, vômitos ○ Infecção de cateteres e dispositivos: tunelite, saída de secreção purulenta ostial ○ Infecção de trato urinário: disúria, urgência miccional, dor suprapúbica, dor em flancos ○ Infecção de pele e partes moles: hiperemia e dor local, saída de secreção purulenta, linfadenomegalia ○ Infecção de articulações: hiperemia e dor local, bloqueio articular ○ Infecção de sítio cirúrgico: hiperemia de ferida operatória, saída de secreção purulenta ○ Meningite: sinais de irritação meníngea. ● Achados clínicos ○ O paciente séptico pode se apresentar no departamento de emergência (DE) com sinais e sintomas relacionados à infecção, à resposta inflamatória sistêmica ou à disfunção ou falência orgânica. ○ Ao exame físico, pode se encontrar febre, taquicardia e taquipneia. ○ Hipotensão, diminuição do tempo de enchimento capilar, livedo ou cianose podem indicar choque. ○ Sinais de disfunção orgânica (insuficiênciarespiratória, renal e hepática), assim como o choque, são indicativos de maior gravidade. ○ Achados adicionais como estado mental alterado (rebaixamento ou agitação) e íleo metabólico também podem estar presentes. ○ Em alguns pacientes, tais achados podem ser modificados por doenças ou medicações preexistentes, por exemplo, pacientes idosos e usuários de betabloqueadores podem não exibir taquicardia. 6 Abordagem ao paciente ● A segurança da via aérea (se indicada) e a correção da hipoxemia e o estabelecimento de acesso venoso para administração precoce de fluidos e antibióticos são prioridades no manejo de pacientes com sepse e choque séptico. ● Estabilizar a respiração ○ O oxigênio suplementar deve ser fornecido a todos os pacientes com sepse que tenham indicação de oxigenação, e a oxigenação deve ser monitorada continuamente com oximetria de pulso. ○ Os valores-alvo ideais para a saturação periférica são desconhecidos, mas normalmente visamos valores entre 90 e 96 por cento. ○ Intubação e ventilação mecânica podem ser necessárias para suportar o aumento do trabalho respiratório que frequentemente acompanha a sepse ou para proteção das vias aéreas, uma vez que a encefalopatia e um nível de consciência deprimido frequentemente complicam a sepse. ● Estabelecer acesso venoso ○ O acesso venoso deve ser estabelecido o mais rápido possível em pacientes com suspeita de sepse. Embora o acesso venoso periférico possa ser suficiente em alguns pacientes, particularmente para reanimação inicial, a maioria necessitará de acesso venoso central em algum momento durante o curso. ○ No entanto, a inserção de uma linha central não deve atrasar a administração de fluidos de ressuscitação e antibióticos. ● Investigações iniciais ○ Uma breve história inicial e exame, bem como exames laboratoriais, microbiológicos (incluindo hemoculturas) e exames de imagem são frequentemente obtidos simultaneamente enquanto o acesso está sendo estabelecido e a via aérea estabilizada. ○ Essa breve avaliação fornece pistas sobre a fonte suspeita e as complicações da sepse e, portanto, ajuda a orientar a terapia empírica e testes adicionais. ○ É preferível obter rapidamente o seguinte (dentro de 45 minutos da apresentação), mas não deve atrasar a administração de fluidos e antibióticos: ■ Hemogramas completos com diferencial, química, testes de função hepática e estudos de coagulação, incluindo nível de dímero D. Os resultados desses estudos podem apoiar o diagnóstico, indicar a gravidade da sepse e fornecer linha de base para acompanhar a resposta terapêutica. 7 ■ Lactato sérico: Um lactato sérico elevado (por exemplo, >2 mmol/L ou maior que o limite superior normal do laboratório) pode indicar a gravidade da sepse e é usado para acompanhar a resposta terapêutica. ■ Hemoculturas periféricas (culturas aeróbicas e anaeróbicas de pelo menos dois locais diferentes), urinálise e culturas microbiológicas de fontes suspeitas (por exemplo, escarro, urina, cateter intravascular, ferida ou local cirúrgico, fluidos corporais) de locais facilmente acessíveis. ■ Gasometria arterial (GAG): pode revelar acidose, hipoxemia ou hipercapnia. ■ É necessário obter imagens direcionadas ao local suspeito de infecção (por exemplo, radiografia de tórax, tomografia computadorizada de tórax e/ou abdome). A ultrassonografia point-of-care (USPOC) tem ganhado importância na sepse, pois pode indicar o diagnóstico etiológico (pneumonia, pielonefrite, apendicite etc.), presença de complicações (disfunção miocárdica) e orientar o tratamento (reposição volêmica). ■ Procalcitonina: medição da procalcitonina para guiar a duração do uso de antibióticos é apropriada naquelas populações com sepse. Exames diagnósticos para elucidação de foco infeccioso de acordo com suspeita clínica Todos Hemocultura Pneumonia Radiografia de tórax PA e perfil, tomografia de tórax sem contaste Abdome agudo inflamatório Ultrassonografia de abdome, tomografia de abdome (preferencialmente com contraste) e pelve Infecção de trato urinário Urina 1 e urocultura Infecção de cateteres Cultura de ponta de cateter Meningite Celularidade e cultura do liquor Artrite séptica Celularidade e cultura de material de artrocentese Endocardite 3 pares de hemoculturas/ecocardiograma (critérios de Duke modificados) 8 Exames laboratoriais para avaliação de disfunções orgânicas Respiratória Gasometria arterial Hepática Bilirrubinas total e frações Renal Creatinina Hematológica Contagem de plaquetas Metabólica Lactato Para uma investigação microbiológica adicional, considerar: Sítio suspeito Sinais e sintomas Avaliação microbiológica inicial Vias respiratórias superiores Inflamação faríngea mais exsudato ± edema e linfadenopatia Swab de garganta para cultura aeróbica Trato respiratório inferior Tosse produtiva, dor torácica pleurítica, achados auscultatórios consolidativos Escarro de boa qualidade, teste rápido de influenza, teste de antígeno urinário Trato urinário Urgência, disúria, lombo ou dor nas costas Cultura de urina e microscopia mostrando piúria Cateteres vasculares: arteriais, venosos centrais Vermelhidão ou drenagem no local de inserção Cultura de sangue (do cateter e de um local periférico), ponta do cateter de cultura (se removida) Cateter pleural de demora Vermelhidão ou drenagem no local de inserção Cultura do líquido pleural (através de cateter) Ferida ou queimadura Inflamação, edema, eritema, secreção de pus Coloração de Gram e cultura de pus drenante, cultura da ferida não confiável Pele/tecido mole Eritema, edema, linfangite Cultura de líquido da bolha ou drenagem de pus; papel dos aspirados de tecido não comprovado Sistema nervoso central Sinais de irritação meníngea Contagem de células do LCR, proteína, glicose, coloração de Gram e cultura Gastrointestinal Dor abdominal, distensão, diarreia e vômitos Cultura de fezes para Salmonella, Shigella ou Campylobacter; detecção de 9 toxina de Clostridium difficile Intra-abdominal Sintomas/sinais abdominais específicos Cultura aeróbica e anaeróbica de coleções de fluido abdominal drenadas por via percutânea ou cirúrgica Cateter de diálise peritoneal (PD) Líquido de DP turvo, dor abdominal Contagem de células e cultura de fluido de DP Trato Genital Mulheres: dor abdominal baixa, corrimento vaginal Homens: disúria, frequência, urgência, incontinência, urina turva, sensibilidade prostática Mulheres:esfregaços endocervicais e vaginais altos em meio seletivo Homens: coloração de Gram de urina e cultura Osso Dor, calor, inchaço, diminuição do uso Hemoculturas, ressonância magnética, culturas ósseas na cirurgia ou por radiologia intervencionista Articulação Dor, calor, inchaço, diminuição da amplitude de movimento Artrocentese com contagem de células, coloração de Gram e cultura Terapia de Ressuscitação Inicial Objetivos ● Estabilização do paciente crítico ● Identificação de pacientes com sepse possível ● Diagnóstico precoce da sepse ● Coleta de culturas ● Antibioticoterapia precoce e adequada ● Suporte às disfunções orgânicas ● Transferência para unidade de internação ou unidade de terapia intensiva ● A pedra angular da ressuscitação inicial é a rápida restauração da perfusão e a administração precoce de antibióticos. ● A perfusão tecidual é predominantemente alcançada pela administração agressiva de fluidos intravenosos (FIV), geralmente cristaloides (cristaloides balanceados ou solução salina normal ) administrados a 30 mL/kg (peso corporal real), iniciado em uma hora e concluído nas primeiras três horas após a apresentação. 10 https://www.uptodate.com/contents/sodium-chloride-preparations-saline-and-oral-salt-tablets-drug-information?topicRef=1613&source=see_link https://www.uptodate.com/contents/sodium-chloride-preparations-saline-and-oral-salt-tablets-drug-information?topicRef=1613&source=see_link ○ Os bolus de fluidos são o método de administração preferido e devem ser repetidos até que a pressão arterial e a perfusão tecidual sejam aceitáveis,ocorra edema pulmonar ou não haja mais resposta. ○ Soluções cristalóides (por exemplo, solução salina normal ou Ringer lactato) são o fluido de ressuscitação preferido. Os cristalóides balanceados podem ser preferidos se houver uma necessidade percebida de evitar ou tratar a hipercloremia que ocorre quando grandes volumes de cristaloides não tamponados (por exemplo, solução salina normal) são administrados. ○ Alvos clínicos: pressão arterial média de 60 a 70 mmHg e débito urinário ≥0,5 mL/kg/hora. ○ Idealmente, a responsividade do paciente à terapia fluida deveria ser avaliada antes de cada infusão. Assumimos como fluidorrespondedor o paciente que apresenta aumento de 15% do débito cardíaco (medido ao ecocardiograma, p. ex.) com a manobra de elevação passiva das pernas. ○ Para avaliar fluidorresposividade, também pode-se utilizar medidas dinâmicas de resposta a fluidos (por exemplo, alterações respiratórias na pressão de pulso da artéria radial), que são preferidas, ou medidas estáticas (por exemplo, pressão venosa central de 8 a 12 mmHg ou saturação venosa central de oxigênio ≥ 70 %). ○ Na impossibilidade de avaliação de fluidorresponsividade, sugerimos que a resposta clínico-hemodinâmica e a presença ou ausência de congestão pulmonar sejam avaliadas antes e após cada bolus. ○ Avaliar lactato: quando maior do que 2 mmol/L (> 18 mg/dL) na admissão do paciente, sugerimos uma segunda dosagem 2-4 h após o início da ressuscitação volêmica, como avaliador de medidas já implantadas e indicador prognóstico. O lactato sérico deve ser acompanhado (por exemplo, a cada seis horas) até que haja uma resposta clínica definitiva. ● Antibióticos: Para pacientes com sepse, recomendamos que as doses ideais de terapia intravenosa empírica de amplo espectro com um ou mais antimicrobianos sejam administradas imediatamente (por exemplo, dentro de uma hora) após a apresentação. ○ Para pacientes com choque séptico associado a provável sepse gram-negativa, sugerimos considerar o uso de dois antibióticos de classes diferentes para garantir o tratamento eficaz de organismos resistentes. ○ A seleção do agente depende da história do paciente, comorbidades, defeitos imunológicos, contexto clínico, local suspeito de infecção, presença de dispositivos invasivos, dados de coloração de Gram e padrões locais de prevalência e resistência. 11 https://www.uptodate.com/contents/sodium-chloride-preparations-saline-and-oral-salt-tablets-drug-information?topicRef=1613&source=see_link ○ A antibioticoterapia empírica é direcionada ao(s) organismo(s) suspeito(s) e local(is) de infecção e preferencialmente administrada na primeira hora. ○ O espectro de antibióticos deve sempre ser reduzido quando os patógenos tiverem sido isolados e as sensibilidades estabelecidas. ○ Há recomendação de que a escolha inicial seja por droga ou associação de amplo espectro. Considerando os agentes mais comumente causadores de sepse, são: Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Streptococcus pneumoniae. ○ A administração rotineira de terapia antifúngica não é justificada em pacientes não neutropênicos. ○ Os principais fatores de risco para infecção fúngica são cirurgia recente, nutrição parenteral, tratamento antimicrobiano ou hospitalização prolongados, quimioterapia, transplante, insuficiência renal ou hepática crônica, diabetes, dispositivos vasculares, choque séptico ou colonização prévia por Candida spp. Antibióticos de escolha em pacientes sépticos com infecção de comunidade Foco da infecção Microrganismo suspeito Esquema sugerido Duração Pneumonia adquirida na comunidade Streptococcus pneumoniae, atípicos Ceftriaxona 2 g IV 1x/dia + azitromicina 500 mg IV 1x/dia 5-7 dias. Novos estudos têm demonstrado eficácia com apenas 3-5 dias de tratamento Abdome agudo inflamatório E. coli, enterobactérias Piperacilina + tazobactam 4,5 g IV dose de ataque; após 4 h da primeira dose, 3,375 mg 8/8 h Regime alternativo: ceftriaxone 2 g IV 1x/dia + metronidazol 1 g dose de ataque e após 1 g IV 12/12 h Avaliar necessidade de intervenção cirúrgica Infecção de trato urinário E. coli, K. pneumoniae Ciprofloxacino 500 mg IV 12/12 h 5-7 dias Meningite N. meningitidis, S. pneumoniae Ceftriaxona 2 g IV 12/12 h +/– ampicilina 2 g IV 4/4 h 7-14 dias Fasceíte necrotizante Polimicrobiana Meropenem 2 g IV 12/12 h + vancomicina 1 g IV 12/12 h Avaliar necessidade de intervenção cirúrgica Infecção de cateter de S. aureus, P. aeruginosa Ceftazidima 2 g IV + vancomicina 1 g IV após sessão de hemodiálise 7-21 dias a depender da etiologia e do quadro 12 diálise clínico (infecção do orifício de saída/tunelite) ● Drogas vasoativas ○ O alvo de pressão arterial média (PAM) em pacientes em choque séptico é de 65 mmHg; se necessário, drogas vasoativas estão indicadas. ○ Pacientes hipertensos crônicos possivelmente se beneficiam de manter PAM entre 80-85 mmHg. ○ A droga vasopressora preferencial é a noradrenalina. ○ Essa terapia recomendada para pacientes que permanecem hipotensos apesar da ressuscitação volêmica adequada (por exemplo, 3 L nas primeiras três horas). ○ A instituição de noradrenalina precoce, assim que diagnosticada a síndrome de choque, ainda durante a ressuscitação volêmica, demonstrou controle mais rápido do choque. ○ A adição de uma segunda ou terceira droga à norepinefrina pode ser necessária (p. ex., epinefrina, dobutamina ou vasopressina), com dados controversos para auxiliar na seleção do agente - as principais diretrizes sugerem vasopressina (até 0,04 unidade/minuto para reduzir a dose de norepinefrina). ○ Para pacientes refratários a fluidos intravenosos e terapia vasopressora, terapias adicionais, como glicocorticoides, terapia inotrópica e transfusões de sangue (ver abaixo), podem ser administradas individualmente. Drogas vasoativas no choque séptico Noradrenalina Dose: 0,05-2 µg/kg/min Diluição sugerida: bitartarato de norepinefrina (1 ampola = 4 mg/4 mL) ou hemitartarato de norepinefrina (1 ampola = 8 mg/4 mL) 4 ampolas + 234 mL SF ou SG 5% – 1 mL/h corresponde a aproximadamente 1 µg/min Adrenalina Dose: 1-20 µg/min Diluição sugerida: adrenalina (1 ampola = 1 mg/1mL) 6 ampolas + 94 mL SF – 1 mL/h corresponde a aproximadamente 1 µg/min Vasopressina Dose: 0,01-0,04 U/min 13 Diluição sugerida: vasopressina (1 ampola: 20 U/1 mL) + 100 mL SF – vazão 3-12 mL/h Dobutamina Dose: 2-20 µg/kg/min Diluição sugerida: dobutamina (1 ampola = 250 mg/20 mL) 4 ampolas + 170 mL SF – 1 mL/h corresponde a aproximadamente 1 µg/kg/min em paciente de 60 kg Ob�.: Embora controversa, a infusão de bicarbonato de sódio em pacientes com acidose láctica não é isenta de riscos, e só deve ser realizada em pacientes com acidose metabólica grave (pH < 7,1 e BIC < 7 mEq/L). ● Suporte adicional: ○ O uso de corticosteroides em pacientes com choque séptico permanece controverso e não há dados convincentes para indicar ou contraindicar o uso. ○ Transfusões de hemácias devem ser reservadas para pacientes com nível de hemoglobina ≤ 7 g/dL. As exceções incluem choque hemorrágico concomitante ou isquemia miocárdica ativa, que têm indicações específicas de hemotransfusão. ○ Caso seja necessário realizar intubação traqueal em paciente em choque séptico, evitar drogas cardiodepressoras ou hipotensoras como o midazolam, o fentanil e o propofol para indução em sequência rápida. Quetamina e etomidato são boas opções. ○ Em pacientes em ventilação mecânica, considera-se ventilação protetora. ○ Em pacientes com injúria renal induzida pela sepse, o início do suporte renal agudo (SRA) deve ser discutido com o nefrologista. ○ O controle glicêmico deve manter glicemia sérica < 180 mg/dL, se necessário com insulina de ação rápida. ○ Profilaxia de tromboembolismo venoso (TEV) em pacientes com mobilidade reduzida com enoxaparina 40 mg SC 1x/dia ou heparina 5.000 U SC 3x/dia. ○ Profilaxia de úlcera gástrica somente pela sepse: tem sido desencorajada, pois os estudos não demonstrambenefício (não reduziu sangramentos de trato gastrointestinal com indicação de terapia endoscópica, ao passo que aumentou a incidência de pneumonia hospitalar). ○ Em pacientes que evoluem com síndrome de disfunção de múltiplos órgãos e refratariedade ao tratamento, deve ser feita a reavaliação de hipótese diagnóstica e plano terapêutico, além de se discutir terminalidade e cuidados paliativos. 14 ○ Pacientes com choque séptico ou em insuficiência respiratória com necessidade de vasopressores ou de ventilação mecânica necessitam de internação em UTI. ○ Já pacientes sem choque e que respondem rapidamente à antibioticoterapia podem ser transferidos com segurança para leito de internação. Pacientes limítrofes devem ter avaliação cuidadosa e o limiar para escolha de UTI deve ser baixo. ● Pacientes que falham à terapia: Para aqueles que falham apesar da terapia ou aqueles que falham por terem respondido inicialmente à terapia, devem ser consideradas investigações adicionais visando a remoção de dispositivos suspeitos de infecção, adequação do regime antimicrobiano ou superinfecção nosocomial. ● Pacientes que respondem à terapia: Para pacientes com sepse que demonstraram uma resposta à terapia, sugere-se que a taxa de administração de fluidos seja reduzida ou interrompida, o suporte vasopressor desmamado e, se necessário, diuréticos administrados. Também recomendamos que a terapia antimicrobiana seja reduzida assim que os dados de identificação e suscetibilidade do patógeno retornarem. A terapia antimicrobiana deve ser direcionada ao patógeno e à suscetibilidade por uma duração total de 7 a 10 dias, embora cursos mais curtos ou mais longos sejam apropriados para pacientes selecionados. 15
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