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Universidade Tiradentes - Medicina P4 Trabalho de parto CLÍNICAS ● O estudo do parto analisa três fases principais (dilatação, expulsão e secundamento), precedidas de estágio preliminar, o período premunitório (pré-parto). ● Há tendência a se considerar um 4º período, que compreenderia a hora imediata à saída da placenta; ● Esses episódios constituem os fenômenos passivos do parto, que se completam com o mecanismo do parto. ● Na realidade, os fenômenos clínicos e mecânicos do parto ocorrem no ritmo comandado pela contratilidade uterina. ● Resumem-se na abertura de dois diafragmas, o cervicossegmentário (colo do útero) e o vulvoperineal, através dos quais o feto passa. ● Do ponto de vista clínico, a ampliação do diafragma cervicossegmentário corresponde ao 1º período do parto (fase de dilatação), e a passagem do feto pelo diafragma vulvoperineal corresponde ao 2º período (fase de expulsão). ● Os autores latinos não englobam a expulsão dos anexos fetais (placenta, membranas e cordão umbilical), que constitui o secundamento (dequitadura, delivramento ou dequitação); ● Nos livros de língua inglesa, as fases clínicas do parto, divididas em 1º, 2º e 3º período, abrangem-no. Após o secundamento (ou 3º período), nomeia-se 4º período a primeira hora do pós-parto, por apresentar muitos riscos para a paciente. PERÍODO PREMUNITÓRIO (PRÉ-PARTO): ● O período premunitório é caracterizado principalmente pela descida do fundo uterino. ● A cúpula do útero gravídico, localizada nas proximidades do apêndice xifóide, baixa de 2 a 4 cm, condicionando maior amplitude à ventilação pulmonar. ● A adaptação do polo proximal do feto ao estreito superior traz consigo, no entanto, a incidência de dores lombares, o estiramento das articulações da cintura pélvica e distúrbios circulatórios decorrentes dos novos contatos. ● Há grande quantidade de secreções das glândulas cervicais, com eliminação de muco e, eventualmente, mesclado de sangue; encurta-se a porção vaginal do colo; inicia-se a percepção das metrossístoles intermitentes do útero, com espaços que passam a ser frequentes e contrações que se intensificam, prenunciando a deflagração do parto (dolores praeparantes). ● A atividade uterina se mantém reduzida até 30 semanas, 1 2 ficando, sobretudo, limitada a pequenas áreas da matriz. ● Especialmente após 36 semanas, as contrações vão crescendo com aumento gradual, como consequência do incremento na intensidade e na frequência das contrações de Braxton-Hicks, apresentando melhor coordenação e envolvendo áreas cada vez maiores. ● No pré-parto, acentua-se o amolecimento do colo, combinado ao apagamento, que anuncia a incorporação da cérvice ao segmento inferior. ● É importante ressaltar a orientação e o abaixamento do colo, posto que o parto só tem início com essa porção da matriz posicionada no centro do eixo vaginal. ● O falso trabalho de parto e as contrações dolorosas do pré-parto são quadros clínicos frequentes no final da gravidez; Apresentam em comum as metrossístoles, de ritmo irregular e sem coordenação, mas não produzirem modificações do colo, o que é um diferencial no diagnóstico. ● Fase latente: o final do pré-parto ou o início do trabalho, quando as contrações uterinas, embora rítmicas, não determinam ainda a dilatação progressiva do colo. DIAGNÓSTICO DO TRABALHO DE PARTO: ● O diagnóstico do início real do parto nem sempre será estabelecido facilmente. ● É necessário considerar o trabalho parturiente como síndrome: os elementos que a compõem não têm, isoladamente, valor absoluto, e somente o conjunto deles é fiador da precisão. ● Podem ser consideradas: ○ Contrações dolorosas, rítmicas (no mínimo, 2 em 10 min), que se estendem a todo o útero e têm duração de 50 a 60 s. Doze contrações por hora é sinal importante. ○ A fase ativa do parto pode não ter se iniciado com 5 cm de dilatação em multíparas e até com dilatação maior em nulíparas; ○ Formação da bolsa das águas; ○ Perda do tampão mucoso, denunciando o apagamento do colo; FASE DE DILATAÇÃO OU 1º PERÍODO: ● Inicia-se com as contrações uterinas dolorosas (que modificam ativamente a cérvice) e termina na sua ampliação completa (10 cm); ● Cerca de 70% das parturientes referem dor da contração uterina no hipogástrio, 20% na região sacra e 10% em ambos os lugares. ● O colo dilata-se graças ao efeito de tração das fibras longitudinais do corpo, que se encurta durante as contrações uterinas, e de outros fatores convergentes; Dilatação do colo. Representou-se, esquematicamente, a convergência dos fatores 2 3 que a condicionam: tracionamento do segmento inferior e do colo pela contração do corpo do útero; ação direta da apresentação, recoberta ou não pela bolsa das águas. ● As dores praeparantes (dores preparatórias) do período premunitório sucedem-se as dores praesagiantes (dores de presságio ou sinalização) da fase de dilatação. ● Durante o 1º período, abre-se o diafragma cervicossegmentário e o canal do parto se forma, isto é, a continuidade do trajeto uterovaginal, com dois fenômenos a predominar: ○ O apagamento do colo, incorporado à cavidade uterina; ○ A dilatação da cérvice, ao fim da qual as suas bordas limitantes ficam reduzidas a simples relevos, aplicados às paredes vaginais. ● O apagamento e a dilatação são fenômenos distintos, que, nas primíparas, se processam nessa ordem sucessiva; ● Nas multíparas, ocorre a simultaneidade dos dois: o colo se desmancha em sincronismo com a dilatação. ● O orifício externo do colo vai se ampliando pouco a pouco, de modo a criar espaço em que o líquido amniótico será coletado. ● A bolsa das águas é o polo inferior do óvulo; ● Ao iniciar-se o 1º período, passa a ter contato cada vez mais direto com a cérvice. ● Em 80% dos casos, a ruptura (amniotomia), com evasão parcial do conteúdo líquido do óvulo, ocorre no final da dilatação ou no início da expulsão. Apagamento do colo em primíparas nas proximidades do parto (1 a 4) e apagamento e dilatação do colo em multíparas em pleno trabalho de parto (5 a 8). B. Apagamento e dilatação do colo em multíparas durante o trabalho de parto. ● Com relação à cronologia, as rupturas âmnicas são consideradas: ○ Prematuras: quando não há trabalho de parto; ○ Precoces: no início do parto; ○ Oportunas: quando ocorrem ao final da dilatação; ○ Tardias: quando sobrevêm concomitantes à expulsão do feto, que, ao nascer envolto é chamado feto empelicado. ● Ainda com relação às rupturas, é possível classificá-las como: espontâneas, quando ocorrem sem envolvimento médico; provocadas ou artificiais, quando decorrem da ação direta do parteiro; e intempestivas, quando acarretam prolapsos, 3 4 procidências ou escape quase total do líquido amniótico. ● A ruptura das membranas que ocorre no parto pode ser atribuída ao enfraquecimento generalizado, atuando as contrações uterinas e o repetido estiramento. FASE DE EXPULSÃO OU 2º PERÍODO: ● Inicia-se quando a dilatação está completa e se encerra com a saída do feto. ● Caracteriza-se, fundamentalmente, pela associação sincrônica às metrossístoles da força contrátil do diafragma e da parede abdominal, cujas formações musculoaponeuróticas, ao se retesarem, formam cinta muscular forte, que comprime o útero de cima para baixo e de frente para trás. ● No curso do 2º período, ocorre a sucessão das contrações uterinas, cada vez mais intensas e frequentes, com intervalos progressivamente menores, até cinco contrações em cada 10 min. ● Por efeito das metrossístoles, o feto é propelido através do canal do parto, franqueia o colo dilatado e passa a distender lenta e progressivamente a parede inferior do diafragma vulvoperineal. ● Ao comprimir as paredes vaginais, o reto e a bexiga, o polo inferior do feto provoca, por via reflexa, o aparecimento das contrações voluntárias da prensa abdominal. Assim, origina-se a “vontade de espremer”. ● Para maior eficiência do período expulsivo, é necessário que dois fatores estejam presentes e somados: sístole involuntária do útero e contração voluntária da prensaabdominal. ● A parturiente imobiliza o tórax, firmando os braços em pontos de apoio no leito; interrompe a respiração e abaixa o diafragma como nos movimentos expiratórios violentos, executando forte contração da musculatura abdominal. ● Por efeito de tal esforço, a apresentação desce pelo canal do parto, passa a pressionar o períneo, que se deixa distender, encosta-se às paredes do reto, elimina o conteúdo ocasional e turgesce o ânus. ● Além disso, a urina flui, aos jatos, pelo meato. ● Aos poucos, a vulva se entreabre, dilata-se lentamente e se deixa penetrar pela apresentação; após muito esforço, o feto se desprende do leito materno, ao qual fica ligado unicamente pelo cordão umbilical. ● Ocorre a eliminação do líquido amniótico remanescente, mesclado a uma quantidade pequena de sangue decorrente do parto. ● Em seguida, o útero se retrai, ficando o seu fundo na cicatriz umbilical. ● A parturiente, após o parto continua com contrações uterinas, que persistem com a mesma intensidade e frequência, mas indolores. Expulsão 4 5 DURAÇÃO NORMAL DO TRABALHO DE PARTO: ● Nas primíparas, a fase latente dura, em média, 20 h; nas multíparas, 14 h. ● O parto propriamente dito (fase ativa) tem o período de dilatação completo em torno de 12 h, nas primíparas, e de 7 h nas multíparas; ● A expulsão leva, respectivamente, 50 e 20 min. ● Sem analgesia é normal considerar a duração do período expulsivo de até 2 h em primíparas e 1 h em multíparas. ● Sob anestesia peridural, essa duração se eleva para 3 h em primíparas e 2 h em multíparas. ASSISTÊNCIA À DILATAÇÃO: ▶ Cuidados iniciais: ● Serão dispensados cuidados imediatos à parturiente, incluindo higiene corporal e fornecimento de vestuário apropriado. ● Durante o trabalho de parto, o parto e o puerpério, a presença de um acompanhante à escolha da parturiente oferece conforto psíquico, segurança e estímulo. ▶ Toque vaginal: ● Trata-se do toque vaginal uni ou bidigital. ● Afastam-se as ninfas e introduzem-se na vagina os dedos indicador e médio, ou apenas o primeiro, untados em vaselina. ● O exame procurará explorar sucessivamente: o colo (apagamento, dilatação, orientação e consistência), a bolsa das águas e a apresentação (posição, variedade, altura e proporcionalidade à bacia). ● Ao toque, as diversas partes fetais apresentam caracteres específicos, o que possibilita sua identificação. ● No decurso do trabalho de parto, os ossos da abóbada craniana se sobrepõem, uns acavalando os outros, as suturas não são percebidas como espaço membranoso, mas se exibem como cristas ósseas; das fontanelas, apenas a bregmática tem essas características de espaço membranoso, sentindo-se o lambda como superfície angular. ● O dedo explorador percorre a área ocupada pela região fetal que se apresenta até encontrar a linha de orientação. Em seguida, procura-se reconhecer o ponto de referência fetal, que, nas cefálicas fletidas, é o lambda ou pequena fontanela. ● O número de toques deve ser reduzido ao mínimo necessário. ▶ Altura da apresentação: ● É importante observar, juntamente com a dilatação cervical, a altura da apresentação. ● Nas primíparas, ao início do trabalho, a apresentação está no nível das espinhas ciáticas (nível “0”) e diz-se que está insinuada. ● Nas multíparas, a insinuação ocorre somente no fim da dilatação ou no começo da expulsão; durante a maior parte do trabalho, a apresentação permanece alta; e está baixa quando, após ter sofrido a rotação interna. ● Após o toque, retirados os dedos, é sempre recomendável verificar as secreções que tingem a luva. 5 6 A altura da apresentação. A primeira cabeça não está insinuada (alta), a segunda está insinuada e a terceira é considerada baixa. ▶ Bolsa das águas: ● Em geral, é fácil diagnosticar a ruptura das membranas. ● A gestante, nesse caso, percebe a perda líquida pela vagina, acusando-a, de maneira incisiva, quando surge antes do início do trabalho de parto. ● Empurrando-se levemente a apresentação para cima, durante o toque, jorra o líquido amniótico nas amniorrexes consumadas; se as membranas estiverem intactas, ele se acumulará entre estas e o polo fetal, ficando mais tensas durante as contrações uterinas. ● Por meio do tato, é possível distinguir a superfície do couro cabeludo ou as pregas genitais. ● O obstetra deve certificar a integridade das membranas, examinando-as durante as metrossístoles, antes de praticar a amniotomia. ● A ruptura das membranas deve ser realizada apenas quando houver alguma indicação formal, como: na necessidade de finalizar o parto; nas distocias funcionais; ao avaliar o líquido amniótico e a variedade de posição; ou programando-se parto operatório. ● A ruptura artificial não deve ser realizada de rotina. ● Indicada a amniotomia, será realizada durante a contração uterina. ● O líquido amniótico que escoa deve ser convenientemente examinado. Corado por mecônio, esverdeado, indica sofrimento do feto, presente ou já ocorrido. ▶ Vitabilidade fetal: ● A auscultação dos batimentos cardiofetais (BCF) é um procedimento indispensável para examinar a vitabilidade durante o trabalho de parto. ● Os ruídos do coração constituem a única manifestação clínica objetiva de funcionamento do sistema circulatório do concepto. ● Em geral, para a percepção e a contagem das revoluções cardíacas do concepto, empregava-se o estetoscópio de Pinard, atualmente em desuso, substituído pelo sonar-Doppler. ● A ausculta é feita na fase de dilatação, 30 s após o término da contração, a cada 30 min. ● Na pausa intercontrátil, o número de ruídos mantém-se, em geral, entre 110 e 160 bpm, em média 140 bpm. ▶ Alimentação: ● No momento do trabalho de parto, os alimentos sólidos ficam proibidos, devido aos riscos inerentes às anestesias em tais condições. ● Nas gestantes de baixo risco, poderá ser permitida a ingesta de pequenas quantidades de líquidos claros, em comum acordo entre o obstetra e o anestesista. 6 7 ● Se houver necessidade de hidratação (dias quentes, muitas horas de trabalho de parto), são utilizadas soluções glicosadas a 5 ou 10%, por via venosa. ▶ Deambulação: ● A parturiente poderá locomover-se durante o período de dilatação, até a ruptura das membranas, e desde que não esteja sob analgotocia. ● Depois, será mais prudente permanecer no leito, em decúbito lateral, para melhoria das contrações uterinas e da oxigenação fetal. ▶ Cateterismo vesical: ● Impossível a micção espontânea e se houver presunção de bexiga repleta. ● A bexiga cheia, que aumenta a dor durante as contrações, ocasiona distocias e várias dificuldades. ▶ Ocitocina: ● Embora acelere o trabalho de parto, aumentando a intensidade e a frequência das contrações uterinas, seu uso deve ser limitado aos casos em que está hipoativa a dinâmica da matriz; ● A perfusão venosa é a única a ser utilizada. ● Qualquer perfusão venosa deve ser iniciada com 1 mU/min, passando-se, decorrido algum tempo e se necessário, para 2 mU/min (20 gotas), 4 (40 gotas) e até 8 mU/min (80 gotas); doses maiores são consideradas imprudentes. ● A resposta do útero à ocitocina, no período de dilatação, é quase imediata. ● Necessidade imprescindível de observação atenta da perfusão, repetindo-se periodicamente a contagem do gotejo; é fundamental averiguar, repetidamente, a frequência das contrações e sua duração, bem como auscultar, cuidadosamente, os BCF. ● Pode-se inferir da contratilidade, anotando o número e a duração das contrações. ● Elevação superior a 5/10 min (taquissistolia). ● Pela duração da metrossístole, avalia-se, indiretamente, a intensidade contratural (normal: 50 a 60 s). ▶ Meperidina: ● Utilizada preferentemente pela via intramuscular (IM), na dose de 50 mg, com um intervalo de, no mínimo, 2 h. ● As repercussões ominosas no recém-nascido constituem motivo para o ACOG contraindicá-la. ▶ Bloqueio combinado raquidiano-peridural (BCRP): ● Consiste na injeção de opioide subaracnóideo com a passagem de cateter peridural no mesmo procedimento e, de preferência, por uma única punção. ● Emgeral, inicia-se com 4 a 5 cm de dilatação. ● O BCRP reúne o início rápido da raquidiana com a extensão e a duração do bloqueio por intermédio do cateter peridural. ● Classificam-se como complicações do BCRP: vômito, prurido, hipotensão, retenção urinária e o período expulsivo prolongado, exigindo maior emprego do fórceps. 7 8 Vias nervosas da dor no parto e as anestesias de condução. ASSISTÊNCIA À EXPULSÃO: ● Ao iniciar o 2º período, a parturiente, em geral, fica agitada e a maioria delas apresenta o desejo de defecar; ● Quando a mulher se esforça espontaneamente, a dilatação se completa e a apresentação fica bem penetrada na escavação. ● Como se originam de músculos estriados da parede do abdome, as contrações expulsivas estão, em parte, submetidas à vontade; assim, no começo do 2º período, a parturiente é capaz de comandá-las, intensificando ou abrandando-as. ● No 2º período, a paciente não pode assumir a posição que melhor lhe convier, deambular, sentar-se ou recostar-se. ● Por ocasião da expulsão, a paciente deverá ser colocada na posição de dar à luz; decúbito dorsal com flexão máxima das coxas sobre o abdome e abdução dos joelhos. ● Trata-se da postura de Laborie-Duncan, que objetiva ampliar o estreito inferior e, escancarando o períneo e a vulva, vai favorecer a libertação do concepto e as intervenções obstétricas vaginais. ● Nas bordas laterais, as mesas de parto contêm braçadeiras, para apoio das mãos, e perneiras metálicas, providas de estribos. ● A vitabilidade do concepto será acompanhada auscultando-lhe a cada 10 min. ● Com a parturiente em posição, é feita a antissepsia da região perineal; a seguir, colocam-se os campos esterilizados de maneira a isolar, cobrindo todas as partes maternas, exceto a vulva. ▶ Anestesia locorregional: ● Muito usada para a realização da episiotomia; ● Atualmente está reservada ao reparo de eventuais lacerações ocorridas durante o parto; ● Procede-se ao bloqueio troncular do nervo pudendo interno, na extremidade da espinha ciática; realiza-se a deposição de 10 mℓ do anestésico; no lado oposto, procede-se da mesma maneira. ● A substância anestésica será distribuída nessa zona, com movimentos de avanço e recuo, rigorosamente em leque. ● Em geral, o emprego de 40 a 50 mℓ de solução de lidocaína (xilocaína) a 1% ou de cloridrato de procaína (novocaína), também a 1%, em cada lado do períneo proporciona bloqueio anestésico satisfatório com 8 9 relaxamento do assoalho pélvico. Anestesia locorregional ▶ BCRP: ● Utilizado já no período de dilatação, serve para a anestesia do período expulsivo. ▶ Episiotomia. Proteção ao períneo: ● A passagem do feto pelo anel vulvoperineal poderá lesionar a integridade dos tecidos maternos, com lacerações e rupturas das mais variadas a condicionarem frouxidão do assoalho pélvico. ● Na proteção do períneo, não se deve prolongar por tempo excessivo a contrapressão sobre o polo apresentado do feto; assim, evita-se lesão aparente, mas pode-se determinar outra, oculta, igualmente grave; ● Ficam comprometidos não apenas os músculos da região, como também o tecido conjuntivo do aparelho intrafascicular e intramuscular, parte fundamental da sustentação do sistema genital feminino. ● A episiotomia é uma incisão cirúrgica vulvoperineal que tenciona impedir ou diminuir o trauma dos tecidos do canal do parto, favorecendo a descida e a liberação do feto. ● O momento adequado depende de prever-se, com segurança, o fim da expulsão; o início de sua execução ocorre antes que a apresentação esteja a distender acentuadamente o períneo; ● A episiotomia, quase sempre, é indispensável nas primiparturientes e nas multíparas nas quais tenha sido anteriormente praticada. ● Feita com tesoura ou bisturi, poderá ser mediana (perineotomia) e mediolateral, sendo esta a de nossa preferência; Episiotomia em suas principais modalidades: mediana (perineotomia) e mediolateral (que tem a nossa preferência). ● Caso a previsão esteja correta, o parto deve ser feito logo após a episiotomia. ● Durante a espera, é necessário comprimir as bordas da ferida para evitar perdas sanguíneas; ● Manobra de Ritgen: consiste na aplicação de pressão moderada ao queixo fetal (nas apresentações em posição occipitopúbica), enquanto a região suboccipital da cabeça fetal é segurada contra a sínfise pela mão direita, a fim de evitar movimento abrupto de 9 10 desprendimento cefálico e lesão nos órgãos maternos. Proteção ao períneo. ● Estudos norte-americanos recentes mostraram que a episiotomia não diminui o risco de incontinência urinária nem assegura efeito protetor ao recém-nascido. ● A episiotomia mediana eleva o risco de extensão para o reto e de comprometimento do esfíncter externo do ânus e, portanto, de incontinência fecal tardia. ● Tanto a episiotomia mediana quanto a mediolateral aumentam a dispareunia quando comparadas a lacerações espontâneas. ● A episiotomia mediolateral pode diminuir o risco de lacerações perineais graves. ● A episiotomia está indicada por motivos maternos ou fetais, para evitar lacerações do trajeto e facilitar ou agilizar o parto difícil; ▶ Manobra de Kristeller: ● Por vezes, a expressão do fundo do útero poderá ser efetuada por ajudante qualificado. ● Não é um procedimento inofensivo e não é por nós recomendado, pois desarranja a contratilidade uterina, produz hipertonia, repercutindo ominosamente na vitabilidade fetal; ● Pode culminar com descolamento prematuro de placenta e embolia amniótica. ▶ Fórceps de alívio: ● Havendo o menor impedimento à progressão da cabeça, é aconselhável terminar o parto a fórceps. ▶ Assistência ao desprendimento dos ombros: ● Após o nascimento do polo cefálico, explora-se a região cervical do concepto em busca de circulares do cordão, que se presentes, serão desfeitas ou seccionadas. ● Finalizada a rotação externa da cabeça, o parteiro apreende com ambas as mãos a apresentação, traciona para baixo – com objetivo de liberar o ombro anterior e depois para cima, auxiliando a saída do posterior. Assistência ao desprendimento dos ombros. Libertação do ombro anterior (A) e do ombro posterior (B). Não é necessário acentuar que as trações devem ser delicadas para não traumatizar o nascituro. 10 11 ▶ Revisão da vagina e do colo: ● Deve ser sistemática e não apenas quando o parto for cirúrgico ou ocorrer sangramento anormal. ● Em geral, a revisão é realizada quando o secundamento é finalizado. ● Se não houver hemorragia ou ruptura de extensão considerável, rasgaduras pequenas não requerem maiores cuidados. ▶ Episiorrafia: ● Em geral, o reparo da episiotomia é feito após o secundamento, evitando que os pontos sejam rompidos durante o parto da placenta, especialmente ao utilizar a extração manual. ● A sutura inicia pelo ângulo superior da ferida, na vagina; ● A pele é aproximada por pontos simples ou de Donati, do mesmo fio, que se soltam espontaneamente em alguns dias. Episiorrafia. A. Incisão entreaberta, mostrando os diversos planos a suturar. B. Sutura da mucosa vaginal, em pontos separados, principiando pelo ângulo superior. C. É o tempo seguinte à síntese muscular, não representada, e ao fechamento do tecido subcutâneo, também em pontos separados. D. Sutura da pele com pontos simples ou de Donati. ● Secundamento, ou 3º período do parto, também chamado decedura e delivramento; ● É o estágio da parturição que se processa após o nascimento do feto e se caracteriza por descolamento (dequitação ou dequitadura), descida e expulsão ou desprendimento da placenta e de seus anexos para fora das vias genitais. ● Quando as três fases que o constituem se processam de modo regular, é bem característico seu mecanismo. FISIOLOGIA: ● O secundamento consta de três tempos fundamentais: ▶ Descolamento: ● Decorre, essencialmente, da retração do músculo uterino após o parto fetal e em consequência de suas contrações. ● Reduz-se de maneira acentuada a superfície interna do útero, preguendo-se a zona de inserção da placenta e ocasionando seu descolamento. 1112 Redução do local placentário após o parto do concepto. Em cima, relações da placenta antes do parto fetal. Em baixo, depois da saída do concepto. ● A separação da placenta nos limites da esponjosa se explica por esse mecanismo e também pela existência de processos degenerativos e necróticos que se iniciaram nas últimas semanas da gravidez. ● No ponto em que se iniciou o descolamento, forma-se o hematoma retroplacentário. ● Expande-se por entre as paredes do útero e os cotilédones, e pode, em certas circunstâncias, favorecer a dequitadura da placenta a cada onda contrátil. ● O descolamento da placenta ocorre de acordo com dois tipos de mecanismos: ○ Mecanismo de Baudelocque-Schultze: frequência é de 75%, ocorre quando a placenta inserida na parte superior do útero inverte-se e se desprende pela face fetal, em formato de guarda-chuva; o hematoma retroplacentário inicia-se no centro da inserção e fica prisioneiro da massa placentária ○ Mecanismo de Baudelocque-Duncan: (25% dos casos), se a placenta estiver localizada na parede lateral do útero, a desinserção começa pela borda inferior. Aqui, o sangue se exterioriza antes da placenta; Mecanismo da dequitação, de acordo com Baudelocque-Schultze. Mecanismo da dequitação, de acordo com Baudelocque-Duncan. ● Dessa maneira, a placenta se separa e cai no segmento inferior, sequência que se completa com a descida. ● O descolamento das membranas ocorre, também, por contrações e pregueamento do útero e, subsequentemente, pela queda e descida da placenta. 12 13 ▶ Descida: ● As contrações uterinas, que não cessam, e a possível ação da gravidade condicionam a migração da placenta. ● Do corpo uterino, a placenta passa ao segmento inferior, que então se distende, percorre a cérvice e cai na vagina. ▶ Expulsão ou desprendimento: ● No canal vaginal, a placenta provoca nova sensação de puxo, determinando esforços abdominais semelhantes aos do 2º período do parto, responsáveis pela expulsão do órgão para o exterior. ● Se o descolamento da placenta for fenômeno normal e ativo, nem sempre a sua expulsão será pela vagina na mulher que dá à luz em decúbito dorsal. Nessas condições, ela permanecerá retida, sendo necessária, quase sempre, a intervenção do obstetra. ● No antigo local de inserção da placenta, forma-se ferida viva, com os seus vasos abertos, dando saída a certa quantidade de sangue, até que se obliterem, subsecutivo à retração uterina. 4º PERÍODO: ● É também chamado de período de Greenberg, que considera a primeira hora após a saída da placenta; ● Riscos de hemorragia. ● Fases típicas que caracterizam o 4º período: ▶ Miotamponagem: Imediatamente após a expulsão da placenta, o útero se contrai e é palpável em um ponto intermediário entre o púbis e o umbigo. Primeira linha de defesa contra a hemorragia. ▶ Trombotamponagem: Trata-se da formação de trombos nos grandes vasos uteroplacentários, constituindo hematoma intrauterino que recobre, de modo contínuo, a ferida aberta no local placentário. É a segunda linha de defesa contra a hemorragia. ▶ Indiferença miouterina: O útero se torna “apático” e, do ponto de vista dinâmico, apresenta fases de contração e de relaxamento, com o perigo de encher-se progressivamente de sangue. ▶ Contração uterina fixa: Normalmente, após 1 h, o útero adquire maior tônus e assim se mantém. ESTUDO CLÍNICO: ● Após a expulsão do feto, a mulher experimenta período de euforia e bem-estar, que é atribuído ao desaparecimento das contrações uterinas e conhecido como repouso fisiológico do útero. ● A víscera continua a se contrair após a expulsão do concepto, a fim de dar prosseguimento à terceira fase do parto. São contrações de baixa frequência e alta intensidade, embora indolores. ● O fundo uterino, que atinge a cicatriz umbilical após a expulsão do feto, baixa durante as contrações, voltando à altura anterior no intervalo entre elas. ● Abandonando a cavidade do útero, a placenta cai na vagina, determinando a sensação de “puxo” na parturiente. ● A saída da placenta ocasionará nova descida do fundo, agora definitiva, pois o órgão está vazio. ASSISTÊNCIA/ CONDUTA ATIVA DO SECUNDAMENTO: 13 14 ● Normalmente, o secundamento dura entre 5 e 10 min. ● Se a duração exceder 30 min, considera-se secundamento prolongado. ● A conduta ativa no secundamento é a maneira efetiva de prevenir a hemorragia pós-parto. Ela propõe a administração de ocitocina após o desprendimento do ombro anterior. ● Alternativamente ao emprego da ocitocina IM, pode-se administrar 5 UI de ocitocina lentamente por injeção intravenosa como agente uterotônico em mulheres submetidas à operação cesariana. ● Como 2ª linha, ainda temos as seguintes opções: metilergonovina 0,2 mg IM, em mulheres não hipertensas, ou misoprostol 400 a 800 μg oral. ● Em seguida, executa-se a tração controlada do cordão, a extração da placenta e, finalmente, a massagem do útero. ● Esse conjunto de ações reduz em até 2/3 a ocorrência da hemorragia pós-parto. ● A ligadura precoce do cordão não mais faz parte da conduta ativa no secundamento. ● Manobra de Jacob-Dublin: Para a recepção da placenta, com o cuidado de não romper as membranas, geralmente exerce-se movimento de torção das páreas Manobra de Jacob-Dublin para a recepção da placenta. Tração leve da placenta para descolar as membranas, seguida de sua torção, o que as engrossa e fortifica. ● Expelida a placenta, deve-se fazer a antissepsia dos genitais externos, inspecionando-se cuidadosamente a vulva, a vagina e o colo. ● A inspeção da placenta deve ser feita após o secundamento, colocando-a sobre a mesa; com face materna voltada para cima, afastam-se as membranas que podem mascarar o exame e removem-se todos os coágulos de sua superfície. ▶ Face materna: ● Apresenta-se com aspecto brilhante, corresponde à decídua compacta que saiu aderida aos cotilédones; ● A retenção de um ou mais cotilédones traduz-se por falha na massa placentária, com nítida depressão. ▶ Face fetal: ● É necessário verificar o ponto de inserção do cordão e a integridade do âmnio, que, quando desprendido, deve ser reconstituído até cobrir totalmente a massa placentária. ASSISTÊNCIA AO RECÉM-NASCIDO NA SALA DE PARTO: ● A assistência imediata ao recém-nascido começa com o desprendimento da cabeça, 14 15 quando se procede à limpeza da face. ● A primeira atenção após o nascimento é o estabelecimento da respiração; normalmente respira e chora logo após o parto. ▶ Aspiração das mucosidades: ● Com gaze esterilizada, completa-se a limpeza do rosto da criança, e, se houver secreções, a boca e as narinas são cuidadosamente aspiradas com sonda. ● O recém-nascido será colocado com a cabeça mais baixa para facilitar o escoamento das secreções. ▶ Índice de Apgar: ● O índice de Apgar comporta cinco variáveis: frequência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor; ● Cada variável acaba recebendo nota 0, 1 e 2. ● O índice de Apgar é computado no 1º e no 5º minuto após o nascimento. ● O índice de Apgar de 5 min de 7 a 10 é normal; o ≤ 3 foi considerado indicador de asfixia intraparto. ● O índice de Apgar de 5 min isoladamente não é preditivo de comprometimento neurológico. ● Não se há de esperar 1 min para o início da reanimação cardiopulmonar quando indicada, certamente, por outros sinais. ▶ Ligadura do cordão: ● Faz-se o esmagamento do cordão com duas pinças, em torno de 4 cm de distância do abdome. ● Antes do pinçamento, deve-se proceder ao exame do funículo, para que se não esmague parte do conteúdo abdominal caso esteja ali localizada (hérnias). ● O cordão é seccionado entre as duas pinças. Clamp de plástico constringindo o coto umbilical. ▶ Ligadura tardia do cordão: ● Em virtude dos benefícios para a maioria dos recém-nascidos (aumento do nível de hemoglobina e melhora das reservas de ferro nos primeiros meses de vida) agora recomenda uma demora na ligadura do cordão de no mínimo 30 a 60 segundos após o parto nos infantes vigorosos de termo e de pré-termo. ● Nos recém-nascidosde pré-termo, os benefícios da ligadura tardia do cordão são mais significativos. ● No infante de termo, a ligadura tardia do cordão pode levar a um pequeno aumento na incidência de recém-nascidos que necessitam de fototerapia. ▶ Profilaxia da oftalmia gonocócica: ● Contraída durante o parto é atualmente ocorrência rara, 15 16 graças à profilaxia sistemática com colírio. ● O método com nitrato de prata está obsoleto. Recomenda a instilação de solução aquosa de iodopovidona a 2,5% no olho do recém-nascido. ▶ Identificação: ● A identificação será realizada na sala de parto, quando mãe e filho ainda estiverem nela. ● Será utilizado bracelete nos punhos ou tornozelos, confeccionado com material à prova de água ou de óleos. ● No bracelete, será escrito, com tinta indelével, o nome completo da mãe, o sexo da criança, a data e a hora de nascimento. ● É aconselhável que a maternidade colete também as impressões plantares da criança e digitais da mãe. ▶ Fenômenos plásticos no concepto: ● Sofre a apresentação, com frequência, e para melhor se adaptar ao canal do parto, as mais variadas deformações e moldagens,. ● As transformações da estrutura tegumentar surgem nos vários segmentos do feto: cabeça, nádegas, ombros etc. ● A infiltração dos tegumentos do polo apresentado, invadido o tecido conjuntivo difuso por serosidade e sangue, chama-se bossa serossanguínea. ● A pele é rósea ou violácea e limitada por tecido anormal; forma-se pelas diferenças de pressão ocorridas, com dificuldades opostas à circulação de retorno nos tecidos que a compõem. ● As bossas são: saliência mole, pastosa, algumas vezes mais consistente, quase dura; quando cefálicas, seus limites não se detêm nas fontanelas ou suturas, invadindo inteiramente a apresentação. ● Os infiltrados serossanguíneos, independentemente de sua localização, reabsorvem-se, em geral, 48 h após o parto. Bossa serossanguínea na apresentação cefálica fletida (caput succedaneum). ▶ Céfalo-hematoma: ● Trata-se do acúmulo de sangue entre a superfície dos ossos do crânio e o periósteo, causado pelas rupturas vasculares em consequência de fricções da cabeça do feto contra as proeminências da pelve materna. ● Têm consistência mole no centro, endurecida nas bordas, e contornos nítidos; ● Não excederem os limites do osso craniano. 16
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