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APG 03 - Intolerâncias e alergias alimentares 1. Revisar a resposta imunológica às alergias. 2. Compreender as principais intolerâncias e alergias alimentares. (fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico, epidemiologia e etiologia) 3. Listar os principais alimentos que desencadeiam intolerâncias e alergias. Revisão de hipersensibilidade do tipo I ➔ A hipersensibilidade imediata trata-se de uma reação mediada pelo anticorpo IgE e por mastócitos a determinados antígenos, que causa um rápido vazamento vascular e secreções mucosas, geralmente acompanhados por inflamação. Em um indivíduo atópico, os mastócitos são revestidos com anticorpo IgE específico do(s) antígeno(s) ao(s) qual(is) o indivíduo é alérgico. Esse processo de revestimento dos mastócitos com IgE é denominado sensibilização, porque o revestimento com IgE específico de um antígeno torna os mastócitos sensíveis à ativação pela exposição subsequente àquele antígeno. Quando mastócitos sensibilizados por IgE são expostos ao alérgeno, as células são ativadas para secretar os seus mediadores Os sinais levam a três tipos de respostas no mastócito: liberação rápida de conteúdos granulosos (degranulação), síntese e secreção de mediadores lipídicos e síntese e secreção de citocinas. Diferença entre intolerância e alergia As intolerâncias alimentares não são alérgicas imunológicas e não apresentam o mesmo risco, embora os pacientes possam não apreciar essa distinção. Uma maneira simples de explicar a diferença é que a intolerância alimentar geralmente envolve o sistema digestivo, a quantidade de alimento ingerido está diretamente relacionada à gravidade dos sintomas, e o alimento causa sintomas semelhantes a cada exposição. Em contraste, as alergias alimentares envolvem o sistema imunológico e, com alergias alimentares mediadas por imunoglobulina E (IgE), mesmo pequenas quantidades de alimentos podem causar reações graves. Finalmente, as reações alérgicas alimentares mediadas por IgE são imprevisíveis e têm o potencial de progredir para uma reação grave ou com risco de vida chamada anafilaxia. Intolerância alimentar Refere-se à dificuldade de digerir ou metabolizar um determinado alimento Intolerância à lactose A intolerância à lactose é condição comum, decorrente da incapacidade de digestão de seus constituintes, glicose e galactose, pela baixa produção da enzima lactase presente nas bordas em escova das células duodenais. Fisiopatologia Presente no leite e em alimentos processados, a lactose é um dissacarídeo que necessita de hidrólise a monossacarídeos para que possa ser absorvida pela mucosa do intestino delgado. Redução da hidrólise por deficiência da enzima ocasiona efeito osmótico pela lactose na luz intestinal e, consequentemente, secreção de fluidos e eletrólitos. Esse conteúdo secretório proporciona efeito mecânico, por distensão das alças, e aumento da motilidade, aceleração de trânsito e redução da digestão adequada de lactose. Nos cólons, as bactérias colônicas promovem sua fermentação para liberação de hidrogênio e formação de ácidos graxos de cadeia curta. Secreção inadequada, aumento de motilidade e produção de gases são fatores provocantes de sintomas, com intensidades variadas e suas consequentes repercussões no paciente Existem três grandes tipos de deficiência em lactase: A deficiência em lactase primária é o tipo mais comum em adultos, as concentrações de lactase no corpo são normais no nascimento e declinam com o decorrer do tempo, principalmente após alcançarem a maioridade, esse declínio ocorre por causa genética e é determinada individualmente e entre grupos étnicos. A deficiência em lactase secundária/adquirida é causada por desordens gastrointestinais que causam danos a borda de escova, o que aumenta significantemente o tempo do trânsito intestinal no jejuno. A deficiência em lactase congênita é uma desordem rara que possui apresentação clínica severa, principalmente em neonatos. Essa condição é resultado de mutações no gene da Lactase-Florizina Hidrolase o que causa deficiência na atividade da lactase no intestino. Manifestações clínicas As características clínicas das intolerâncias alimentares atravessam um espectro de sistemas orgânicos e variam entre os diferentes distúrbios, embora a maioria envolva sintomas gastrointestinais proeminentes. Gases intestinais excessivas, inchaço, dor abdominal e diarreia são sintomas comuns. Dor e distensão abdominal, flatulência, diarreia e vômito após o consumo de leite e laticínios são os sintomas mais comuns, autolimitados e restritos a repercussões intestinais. Maiores repercussões são observadas em crianças, com intolerância a lactose congênita: desidratação, hipernatremia, com repercussões renais como litíase e nefrocalcinose Diagnóstico No geral, o diagnóstico envolve a avaliação da história clinica do paciente, o exame físico e a busca completa da história do paciente como análise do seu histórico gestacional, alimentar bem como fatores desencadeantes, podendo ser sugerida a restrição de lactose da dieta para avaliação dos sintomas, servindo como diagnóstico terapêutico. Existem muitos métodos de diagnóstico específicos e muito sensíveis, entretanto a maioria é invasivo e caro, sendo pouco acessível para a população geral. Vários métodos diretos e indiretos são utilizados, dentre os principais métodos estão: teste do pH fecal; pesquisa de substâncias redutoras nas fezes; teste de tolerância à lactose; teste de tolerância à lactose com etanol; teste respiratório com 14C-lactose; teste respiratório com 13C-lactose; teste de hidrogênio expirado e a Biópsia intestinal Teste de tolerância a lactose Envolve a administração oral de lactose pura na concentração de 2g/kg sem exceder a dose de 50 gramas, seguida pela dosagem das concentrações de glicose no sangue de pacientes em jejum de 8 a 10 horas. Este teste tem uma sensibilidade de 94% e uma especificidade de 96%. A interpretação do teste é baseada na diferença entre a glicemia de jejum e o pico da curva, se menor que 20mg% a curva é chamada de plana representando má absorção da lactose. Biópsia jejunal Tal teste baseia-se numa reação colorimétrica, gerada quando uma amostra obtida de uma biópsia endoscópica do duodeno postular é incubada com lactose em uma placa de testes, sendo um diagnóstico de fácil interpretação visual. Oferece uma sensibilidade de 95% e especificidade de 90%. Após 20 minutos de incubação o teste mostra se existe ou não a presença de lactose pela coloração na amostra da biópsia. Caso não haja reação, ou seja, não apresentar coloração, o teste confirma a intolerância a lactose assim como a intensidade da coloração informa o grau de produção da enzima lactase. Genotipagem Os testes genéticos estão sendo utilizados mediante técnicas de biologia molecular, embora o alto custo, apresentam uma sensibilidade de 68,5% e especificidade de 92,5% principalmente pelas descobertas de polimorfismos relacionados à intolerância á lactose como LCT-13910C>TA. Teste de hidrogênio expirado É considerado o padrão ouro e é o teste mais comumente usado, pois se trata de uma metodologia não invasiva, totalmente confiável e específica. Tem uma sensibilidade de 90-100% e uma especificidade de 70-100%. O teste é baseado na produção de hidrogênio através da lactose não absorvida pela flora intestinal, parte desse hidrogênio é eliminada pelos pulmões e pode ser detectado no ar expirado Alguns tipos de intolerância Deficiência de lactase (também conhecida como intolerância à lactose) – A intolerância à lactose apresenta-se como inchaço, flatulência, cólicas abdominais e/ou diarreia após o consumo de lactose em produtos lácteos. Má absorção de frutose (ou intolerância à frutose) – A intolerância à frutose apresenta-se com inchaço, flatulência ou diarreia após a ingestão de frutas e adoçantes à base de frutas (incluindo xarope de milho rico em frutose). Deficiência de aldeído desidrogenase – A deficiência de aldeído desidrogenase se apresenta como rubor após o álcool e é mais prevalente em pessoas de ascendênciaasiática. Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) - A deficiência de G6PD apresenta hemólise (geralmente em homens) após a ingestão de favas, vinho tinto, legumes, mirtilos, soja, água tônica ou certos medicamentos (por exemplo, nitrofurantoína, dapsona) Intolerância a carboidratos fermentáveis de cadeia curta - Flatulência, dor abdominal, inchaço ou diarreia após alimentos contendo oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis (FODMAPs) Doença celíaca - ver palestra 02 Epidemiologia Os distúrbios de intolerância alimentar são um subconjunto de todas as reações adversas a alimentos e são relatados por 15 a 20 por cento da população. As intolerâncias alimentares são ainda mais comuns entre pacientes com síndrome do intestino irritável e outros distúrbios gastrointestinais funcionais, com 50 a 80% relatando problemas consistentes com certos alimentos A intolerância a lactose está presente em 65% da população mundial apresentando uma prevalência diferenciada entre as populações: 80 a 100% dos índios americanos e asiáticos, 60 a 80% dos negros e latinos e 2 a 15% dos descentes de norte europeus. Já um estudo realizado no Brasil com uma amostra de 567 indivíduos, acerca da prevalência da intolerância a lactose no adulto demonstrou 57% em brancos e mulatos, 80% em negros e 100% em japoneses. Outros estudos ratificam ainda a elevada prevalência na população brasileira, os quais apontam um maior número nas regiões sudeste e sul do pais respectivamente. A persistência da lactase ou tolerância nas diferentes populações pode estar associada com a domesticação de gado leiteiro e com o hábito do consumo de leite após o desmame e, nesse contexto a prevalência da intolerância à lactose parece varia de acordo com a região geográfica e os hábitos a população. Alergias alimentares Uma alergia alimentar pode ser definida como uma reação adversa a um alimento devido a uma resposta imunológica anormal após a exposição (geralmente ingestão). Fisiopatologia e manifestações clínicas Existem vários tipos de alergia alimentar, cada um com características clínicas e fisiopatológicas distintas. As alergias alimentares são amplamente categorizadas em processos mediados por IgE ou não mediados por IgE (por exemplo, enterocolite induzida por proteína alimentar, dermatite de contato mediada por células a alimentos). Alguns distúrbios, como os distúrbios gastrointestinais eosinofílicos, têm características de ambos os mecanismos Mediadas por IgE Decorrem de sensibilização a alérgenos alimentares com formação de anticorpos específicos da classe IgE, que se fixam a receptores de mastócitos e basófilos. Contatos subsequentes com este mesmo alimento e sua ligação a duas moléculas de IgE próximas determinam a liberação de mediadores vasoativos e citocinas Th2, que induzem às manifestações clínicas de hipersensibilidade imediata. São exemplos de manifestações mais comuns que surgem logo após a exposição ao alimento: reações cutâneas (urticária, angioedema), gastrintestinais (edema e prurido de lábios, língua ou palato, vômitos e diarreia), respiratórias (broncoespasmo, coriza) e reações sistêmicas (anafilaxia e choque anafilático) Reações mistas (mediadas por IgE e hipersensibilidade celular) Neste grupo estão incluídas as manifestações decorrentes de mecanismos mediados por IgE associados à participação de linfócitos T e de citocinas pró-inflamatórias. São exemplos clínicos deste grupo a esofagite eosinofílica, a gastrite eosinofílica, a gastrenterite eosinofílica, a dermatite atópica e a asma Reações não mediadas por IgE As manifestações não mediadas por IgE não são de apresentação imediata e caracterizam-se basicamente pela hipersensibilidade mediada por células. Embora pareçam ser mediadas por linfócitos T, há muitos pontos que necessitam ser mais estudados nesse tipo de reações. Existem vários fatores que podem levar ao desenvolvimento de sensibilização (ou seja, a formação de IgE a uma substância específica) e subsequente alergia alimentar em um adulto, embora em muitos casos, nenhuma exposição predisponente possa ser identificada: A exposição e sensibilização ao pólen está presente na maioria dos pacientes com síndrome de alergia oral (SAO), e a maioria tem doença alérgica concomitante das vias aéreas (rinite ou asma). Exposições ocupacionais (por exemplo, inalação ou contato) podem causar sensibilização e reações subsequentes aos alimentos. As repetidas picadas de carrapatos ou picadas de água-viva podem causar sensibilização a carnes vermelhas e certos produtos de soja, respectivamente. Exposições cutâneas à proteína hidrolisada do trigo em sabonetes faciais têm sido associadas à anafilaxia induzida pelo exercício dependente do trigo em mulheres japonesas. Mudanças repentinas na dieta para perda de peso ou suplementação de proteína em conjunto com um novo regime de exercícios foram notadas de forma anedótica nos meses anteriores ao início da alergia alimentar, particularmente trigo e leite de vaca O uso de medicamentos supressores de ácido tem sido sugerido para predispor à sensibilização alimentar Epidemiologia Estima-se que a alergia alimentar afeta até 5% dos adultos, em comparação com 8% das crianças. As teorias sobre por que a alergia alimentar pode estar aumentando em adultos incluem o envelhecimento da geração de crianças em que a incidência de alergia alimentar aumentou ou a presença de fatores que predispõem crianças e adultos ao desenvolvimento de alergia alimentar. Os dados sobre a prevalência de alergia alimentar, ao redor do mundo, são conflitantes e variáveis a depender de: idade e características da população avaliada (cultura, hábitos alimentares, clima), mecanismo imunológico envolvido, método de diagnóstico (autorreferido, questionário escrito, testes cutâneos, determinação de IgE sérica específica ou testes de provocação oral), tipo de alimento, regiões geográficas, entre outros É mais comum em crianças e a sua prevalência parece ter aumentado nas últimas décadas em todo o mundo. Estima-se que a prevalência seja aproximadamente de 6% em menores de três anos, e de 3,5% em adultos Os principais alérgenos identificados foram frutos do mar (0,9%), fruta ou vegetal (0,5%), leite e derivados (0,5%), e amendoim (0,5%) Alguns tipos de alergia Síndrome de alergia oral – A síndrome de alergia oral (OAS), ou síndrome de alergia alimentar ao pólen (PFAS ou PFS), é a forma mais comum de alergia alimentar em adultos, afetando até 5% da população geral em alguns estudos. É uma forma geralmente leve de alergia alimentar causada pelo contato da boca e da garganta com frutas e vegetais crus e, às vezes, nozes. Os sintomas mais frequentes da OEA são coceira ou leve inchaço da boca, face, lábios, língua e garganta, geralmente se desenvolvendo minutos após a ingestão de frutas ou vegetais crus. Alergias a frutos do mar – Das alergias alimentares relatadas entre adultos, a alergia a frutos do mar (ou seja, peixes, mariscos e moluscos) é a segunda mais comum, com uma prevalência estimada de 1 a 2 por cento nos Estados Unidos e internacionalmente. Um estudo sugeriu que 40 a 60 por cento das alergias a frutos do mar se desenvolveram na idade adulta, e não na infância A maioria dos pacientes alérgicos a frutos do mar são alérgicos a um ou mais peixes com barbatanas ou a um ou mais mariscos/moluscos. Apenas 10 por cento dos pacientes alérgicos são reativos aos alimentos em ambos os grupos. Assim, uma pessoa com alergia a um tipo específico (por exemplo, camarão) pode continuar a comer com segurança outros tipos de frutos do mar (por exemplo, peixe e possivelmente alguns moluscos) Alergias a amendoim e nozes – Amendoins e nozes também são comumente implicados em adultos com alergia alimentar, embora na maioria dos casos, a alergia a nozes tenha se desenvolvido na infância e persistido na idade adulta, ao contrário da situação com alergias a frutos do mar. Como as alergias a amendoim e nozes podem variar de leves a graves e podem ser difíceis de categorizar, sugerimosencaminhar todos os pacientes alérgicos a nozes a um especialista em alergia para avaliação. Alergias ao leite de vaca e 'laticínios' — A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma doença inflamatória, mediada imunologicamente que acomete preferencialmente o trato gastrointestinal e pele. Ocorre uma reação imunológica contra algumas proteínas presentes no leite de vaca, principalmente a beta-lactoglobulina, alfalactoalbumina e a caseína – alérgenos alimentares mais frequentes no grupo etário até os dois anos de idade. Devido a isso, as manifestações clínicas da APLV iniciam geralmente nos primeiros seis meses de vida, afetando cerca de 2 a 5% das crianças com até um ano de idade, diferentemente da intolerância a lactose que pode acometer qualquer faixa etária, além que não manifestar reações alérgicas severas como na APLV e sim desencadear alterações metabólicas na absorção da lactose Principais alimentos que desencadeiam intolerância e alergias De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) já foram descritos mais de 170 alimentos causadores de reações alérgicas. Por outro lado, os alimentos que apresentam mais reações adversas são ovos, leite, castanhas, peixe, crustáceos, amendoim, trigo e soja, o que representa 90% dos casos
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