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Thais Alves Fagundes PRINCÍPIOS DA CIRURGIA ONCOLÓGICA CIRURGIA ONCOLÓGICA Tratamento primário de 60% dos casos. 90% dos pacientes oncológicos serão submetidos a algum procedimento cirúrgico. • Valor subestimado, praticamente todos passam por algum procedimento cirúrgico de pequeno porte. • Cirurgias de pequeno porte: exérese de lesão semiaberta, punção de acesso venoso, punção de veia. CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS Diagnóstico: • Biópsia com agulha: agulha aspira fragmentos no interior da lesão. • Biópsia incisional: retirada de parte da lesão. • Biópsia excisional: retirada de toda a lesão. Diagnóstica e terapêutica: retirada de foco de disseminação metastática. Estadiamento: depende da localização da lesão e da técnica utilizada (mediastinoscopia, laparoscopia, laparotomia). Curativa: • Excisão local com margem adequada. o Ressecção completa marginal: ▪ Retirada de toda a lesão e uma margem de tecido normal. ▪ Para evitar que fiquem resquícios da lesão no paciente. o Ressecção ampliada: ▪ Retirada de maior parte da lesão em um segundo momento. ▪ Garantindo uma excisão local com margem adequada. • Ressecção com linfadenectomia: o Retirada da lesão e dos linfonodos próximos, se houverem sinais de malignidade ou em caso de dúvida. o Linfonodo com sinais de malignidade (tamanho aumentado, indolor, endurecido, aderido aos planos profundos, indolor, coalescente). ▪ Exemplo: disseminação de um câncer de mama para linfonodo axilar. • Amputações e desarticulações. o Amputação: retirada de parte do membro, deixando outra parte (coto), preservando a articulação proximal. ▪ Na amputação, é mais fácil se adaptar a prótese, que será acoplada / encaixada no coto. • Exemplo: lesão restrita ao tornozelo e amputação no nível do terço médio distal. o Desarticulação: retirada da articulação mais próxima, retirando completamente o membro. ▪ Na desarticulação, é mais difícil se adaptar a prótese, que será acoplada por cinto ou colete • Exemplo: feixe vásculo-nervoso acometido • Exemplo: lesão no tornozelo com focos isolados de metástase no osso da perna. Paliativa: cirurgia paliativa não almeja a cura, mas tem o objetivo de aumentar a qualidade de vida do paciente. • Citorredução: em caso de tumor que está muito grande, objetiva sua diminuição. • Higiênica: em caso de tumor que está drenando secreção e virou foco de infecção. • Hemostática: em caso de tumor que está sangrando. • Desobstrutiva: em caso de tumor que está comprimindo via aérea. • Antiálgica: em caso de tumor que está comprimindo nervo. Outras: • Cirurgias de metástases: linfadenectomia. • Cirurgias reconstrutoras: reconstrução da mama, por exemplo, após lesão maligna. • Obtenção de acessos vasculares: pequeno porte, implanta dispositivo subcutâneo facilitando o acesso venoso central. Thais Alves Fagundes PRINCÍPIOS DA RADIOTERAPIA Agente terapêutico: • Radiação ionizante. • Ação sobre o DNA nuclear: morte celular ou perda da capacidade de divisão Mecanismo de ação da radioterapia: • Direto: radiação diretamente atinge componentes celulares. • Indireto: radiação forma radicais livres a partir da água intracelular, que danifica as estruturas celulares. o Ambos ocorrem simultaneamente. o Por haver mais água na célula, estima-se que 70% do efeito biológico da radioterapia decorre do efeito indireto. Mecanismo de dano - capacidade de promover o dano: • Dano subletal: desejável que ocorra na célula sadia o Quebra em apenas um dos lados da cadeia (quebra simples – quebra de apenas uma hélice do DNA). o Passível de reparo (base do fracionamento). • Dano letal: desejável que ocorra na célula tumoral o Quebra das duas cadeias (quebra dupla – quebra das duas hélices do DNA). o Irreparável. Objetivo: liberar ao tumor uma dose de radiação que seja tumoricida, SEM AFETAR os tecidos vizinhos (desejo utópico). Finalidades: • Curativa: radioterapia é o tratamento • Adjuvante/Neoadjuvante: radioterapia faz parte do tratamento. o Neoadjuvante: ocorre antes do tratamento definitivo (pré-operatório). ▪ Radioterapia (1º) neoadjuvante à cirurgia (definitivo) ▪ Cirurgia (1º) neoadjuvante à radioterapia (definitivo) o Adjuvante: ocorre após o tratamento definitivo (pós-operatório). ▪ Radioterapia (2º) adjuvante à cirurgia (definitivo). ▪ Cirurgia (2º) adjuvante à radioterapia (definitivo). • Paliativa: radioterapia não almeja a cura, mas tem o objetivo de aumentar a qualidade de vida do paciente. Modalidades: • Teleterapia: o Fonte radioativa é colocada à distância do paciente. o Emprega feixes externos de radiação. o 90% dos tratamentos radioterápicos. • Braquiterapia: do grego braqui (curto) e terapia (tratamento). o Fonte radioativa é colocada em contato direto ou muito próxima ao tecido tumoral. ▪ Permite elevada dose de radiação ao tumor. ▪ Proteção das estruturas vizinhas. o Absorção da dose é o inverso do quadrado da distância. o 10 a 15% dos tratamentos radioterápicos. o Desvantagens: ▪ Alto custo, exige maior suporte (necessita armazenar sementes radioativas, cirurgião, anestesista) ▪ Indicações específicas. Thais Alves Fagundes QUIMIOTERAPIA (QT) Agentes quimioterápicos: utilizar quimioterápicos que atuem em fases diferentes do ciclo celular, atuando em células que estão em diferentes fases do ciclo, havendo maior chance de inibir a divisão celular. Fase S Fase M Fase G1 Fase G2 Antimetabólitos Citarabina Doxorrubicina Mercaptopurina Metotrexate Prednisona Alcalóides da vinca Epipodofilotoxinas Taxóides Asparaginase Bleomicina Topotecan Mitoxantrone Modalidades de quimioterapia: • Neoadjuvante: ocorre antes do tratamento definitivo o Pacientes “menos comprometidos”, não submetidos a outro tratamento. o Diminuição dos campos para cirurgia ou radioterapia (quimioterapia neoadjuvante à cirurgia ou Rxt). • Adjuvante: ocorre após o tratamento definitivo o Tumor primário controlado por cirurgia ou radioterapia. o Consolidação do tratamento, controle do resquício do tumor por quimioterapia. • Paliativa: o Impossibilidade de cura. o Melhora da qualidade de vida. o Possível aumento na sobrevida global. Efeitos colaterais: • Toxicidade: o Aguda: náuseas, vômitos, alopécia, mielossupressão, mucosite, disfunção hepática, reação cutânea. o Tardia: cardiotoxicidade, nefrotoxicidade, neurotoxicidade, toxicidade pulmonar, ototoxicidade. • Mielossupressão: medicamento sistêmico, que afeta a medula óssea, comprometendo sua função. Aguda, a partir do 4º ou 5º dia ocorre a citopenia. o Anemia o Neutropenia (grau/duração) o Trombocitopenia • Náuseas e vômitos: o Tipo de quimioterapia (medicamento e dosagem) determina ocorrência e grau. o Mecanismos: central, periférico, psicogênico, vestibulares, alteração paladar e olfato. o Pode haver vômitos antecipatórios, devido a ansiedade, lembrança do hospital, cheiro de medicamentos. o Não limitar tratamento (múltiplos agentes), não interrompe quimioterapia. o Tratamento sintomático: soro, antiemético. • Mucosite: o Mucosa possui alta taxa de proliferação celular. ▪ Quanto mais passa pelas fases do ciclo celular, mais efeito dos quimioterápicos. ▪ Alta capacidade dessas células inflamarem. o Início em 3-7 dias e duração de 7-14 dias. • Cistite: desconforto suprapúbico, disúria, frequência ou urgência miccional ou hematúria. o Gerada por ciclofosfamida e derivados. o Prevenção: mesna. ▪ Adere ao epitélio da bexiga e impede que sofra reações de inflamação causado pela ciclofosfamida. Thais Alves Fagundes CUIDADOS PALIATIVOS Tratamento paliativo: abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida (indicação), por meio da prevenção e do alívio do sofrimento. Observações: • Acionado desde o momento do diagnóstico de uma doença que podeameaçar a continuidade de vida do paciente. • Não se fala mais em terminalidade, mas em doença que ameaça a vida. • Indica-se o cuidado desde o diagnóstico, expandindo o campo de atuação. • Cuidado paliativo não ocorre apenas quando não tem mais cura, isso é a definição de tratamento paliativo. • Aborda o paciente e seus familiares. Princípios: iniciar o mais precocemente possível o cuidado paliativo, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida, como quimioterapia e radioterapia Objetivos: • Promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis. • Afirmar a vida e considerar a morte um processo normal da vida. • Não acelerar nem adiar a morte. • Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente. • Oferecer abordagem multiprofissional para as necessidades dos pacientes e seus familiares, acompanhamento no luto. • Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença. CASO CLÍNICO Check-list • Linguagem adequada no prontuário • Terminologia (neoadjuvante/adjuvante) • Manifestações clínicas (queixa principal/sintomas coadjuvantes) • Toxicidade/efeitos colaterais • Cuidados paliativos: iniciado no diagnóstico da doença • Cuidado integral: o Outras especialidades médicas e outros profissionais da área de saúde acompanhando o paciente. o Serviço social: direitos financeiros, trabalhistas (aposentadoria, troca de cargo no trabalho sem redução salarial, isenção do imposto de renda). • Outro tópico: o Ciclofosfamida gera cistite poderia sugerir mesna. o Questões emocionais. Caso clínico 1: Paciente do sexo feminino, 56 anos, previamente hígida, internada no CTI da Santa Casa de Misericórdia de BH com quadro de confusão mental, paraplegia súbita associada a retenção urinária e fecal. Segundo a irmã o quadro se iniciou há cerca de 15 dias com dificuldade progressiva para deambulação associada a fraqueza de membros inferiores. Há 3 dias começou a se queixar de parestesias em ambas as pernas. Exames laboratoriais iniciais na urgência evidenciam quadro de insuficiência renal aguda com hipercalcemia grave, hiperglobulinemia monoclonal e anemia (Hb 9,0 g/dL). Solicitada avaliação do caso pelas equipes de nefrologia e hematologia. Iniciadas sessões de hemodiálise e realizado mielograma com diagnóstico de mieloma múltiplo, com ressonância magnética de coluna evidenciando lesão expansiva em nível de T7 a T9, associada a lesões líticas em praticamente todas as vértebras. Iniciado tratamento quimioterápico com dexametasona, ciclofosfamida e bortezomibe associados ao uso de bifosfonados sob orientação da hematologia. Solicitado parecer da neurocirurgia em relação à possibilidade de realização de laminectomia para descompressão medular ou mesmo radioterapia. Após melhora da confusão mental paciente queixa-se de dor intensa em região dorsal além de sentir-se muito deprimida frente a sua situação. Familiares além de estarem aflitos em relação ao quadro da paciente mostram-se apreensivos em relação aos direitos da paciente uma vez que a mesma trabalha em uma mesma empresa há muitos anos e já estaria quase se aposentando. Thais Alves Fagundes • Linguagem adequada no prontuário • Terminologia (neoadjuvante/adjuvante): quimioterapia neoadjuvante ao tratamento (cirurgia? radioterapia?). • Manifestações clínicas (queixa principal/sintomas coadjuvantes): o QP: confusão mental, paraplegia súbita associada a retenção urinária e fecal o Coadjuvantes: ▪ Dificuldade progressiva para deambulação associada a fraqueza de membros inferiores há 15 dias. ▪ Parestesias em ambas as pernas há 3 dias. • Toxicidade/efeitos colaterais • Cuidados paliativos: não foi mencionado. Deveria ter sido iniciado no diagnóstico da doença • Cuidado integral: outras especialidades médicas e outros profissionais da saúde. Serviço social. Caso clínico 2: Paciente do sexo masculino, 65 anos, portador de carcinoma de estômago em estádio avançado (T4N2M1). Diagnóstico há 3 anos, inicialmente submetido a tratamento cirúrgico, sendo iniciado logo a seguir tratamento quimioterápico com duração de 4 meses. Durante este período, mesmo em vigência do tratamento evoluiu com metástases hepáticas e ósseas quando então seu oncologista optou por início de tratamento paliativo após conversar com os familiares. Desde então o paciente permanece a maior parte do tempo em casa comparecendo ao hospital a cada 3 semanas apenas para receber o medicamento venoso, receber orientações da nutricionista e do fisioterapeuta e conversar com a psicóloga. Emagreceu muito (15 Kg) desde o diagnóstico, mas está feliz por estar em casa aproveitando o convívio com seus netos. Chegou ao hospital hoje relatando que há 2 dias iniciou quadro de dor abdominal de forte intensidade e vômitos pouco frequentes, mas acha que não é nada grave. Está empolgado pois soube através de um amigo que poderia comprar um carro zero mais barato por ter câncer. A filha que o acompanha a maior parte do tempo está muito tranquila e relata que se não for nada mais grave, prefere cuidar do pai em casa mesmo que tenha que trazê-lo diariamente ao hospital. • Linguagem adequada no prontuário • Terminologia (neoadjuvante/adjuvante): quimioterapia adjuvante à cirurgia ou cirurgia neoadjuvante à quimioterapia. • Manifestações clínicas (queixa principal/sintomas coadjuvantes): manifestações do câncer de estômago • Toxicidade/efeitos colaterais • Cuidados paliativos: não foi iniciado no momento correto. Deveria ter sido iniciado no diagnóstico da doença. • Cuidado integral: outras especialidades médicas e outros profissionais da saúde. Serviço social. Caso clínico 3: Paciente do sexo feminino, 46 anos, com diagnóstico de câncer de mama. Tratamento inicial cirúrgico com reconstrução e colocação de prótese mamária. Em seguida iniciou tratamento quimioterápico e atualmente está no quarto, de seis ciclos previstos. Confia muito no seu oncologista pois o tratamento está acontecendo como ele havia explicado desde o diagnóstico mas, embora ele a tivesse orientado em relação a possíveis complicações durante o tratamento, não esperava que fossem tão intensas. Seu cabelo já caiu totalmente e ela faz uso de lenços ou de peruca quando vai sair de casa e, após as sessões de quimioterapia, não consegue ir para o trabalho por um ou dois dias, devido a náuseas e vômitos. Precisou ser remanejada dentro da empresa por apresentar edema moderado no braço ipsilateral à mama acometida e faz drenagem linfática uma vez por semana desde que teve um episódio de erisipela. Mantém controle regular quinzenal com o oncologista. Apesar das mudanças e dos efeitos colaterais do tratamento está feliz, pois no último retorno seu oncologista estava otimista com a possibilidade de cura.
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