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Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique Discentes: Anaís Cumbe Cameela Issufo Leonilde Moniz Lídia Murenwa Nilam Lucas Sthephany Guilaze Shelsea Raquel Tema: Aborto, reflexão ética e legal Docente: Nércia Monjane Maputo, ao 23 de Janeiro de 2023 Índice 1. Introdução 2 1.1. Objectivo geral 2 1.1.1. Objectivos específicos 2 2. Bioética e o aborto 3 As diferentes percepções do aborto 3 Visão religiosa 3 Visão psicológica 3 Visão sociocultural 4 3. Aborto 4 4. Reflexões éticas e legais sobre o aborto 4 4.1. Realizar o aborto é crime? 4 4.1.1. Em que situações se pode realizar o aborto? 5 4.1.2. Quem tem o poder de decidir a realização do aborto? 5 4.1.3. O médico sempre é obrigado a realizar o aborto? 5 4.1.4. Em caso de tratamento de alto risco de aborto, o que o médico deve fazer? 5 4.1.5. O médico mesmo sem concordar com a pratica do aborto induzido tem direito de desrespeitar a sua paciente? 6 4.1.6. Se na religião da paciente apos um aborto espontâneo, esta solicitar algum tipo de ritual o que o médico deve fazer? 6 5. Conclusão 7 6. Bibliografia 7 1. Introdução O aborto é uma prática bastante comum, e realizada no mundo em todo, entre as mulheres que possuem uma gravidez indesejada e que não pretendem dá continuidade à gestação. Tal prática nem sempre foi objecto de reprovação, sendo o aborto uma prática estimulada nas civilizações da antiguidade, funcionando como um método de controlo de natalidade. Com o passar dos séculos e, especialmente, a partir do surgimento do cristianismo, o aborto passou a ser reprimido, tornando-se fato criminoso em alguns países Esse trabalho busca acrescentar conhecimento académico e profissional, visando uma análise da legislação Moçambicana sobre o tema, bem como um apanhado histórico acerca do aborto e da sua prática no mundo. Portanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, onde fora feita o levantamento das referências teóricas já escritos, como livros, artigos científicos, páginas na web site sobre o tema. Aborto: é a interrupção da gestação antes de 20–22 semanas ou com peso fetal inferior a 500g. É dito precoce quando ocorre até 12 semanas e tardio entre 13 e 20 – 22 semanas de gestação (Organização Mundial da Saúde). 1.1. Objectivo geral · Conhecer as diferentes condutas a adoptar em torno do aborto tendo em conta a profissão de médico. 1.1.1. Objectivos específicos · Compreender o impacto que as diversas interpretações; · Compreender a visão da Organização Mundial da Saúde em relação ao aborto legal; · Compreender o que está descrito nas diferentes legislações; Numa visão bioética o aborto pode ser classificado de duas formas, respectivamente: · Interrupção voluntária da gravidez: realizada em nome da autonomia reprodutiva da grávida. · Interrupção terapêutica da gravidez: praticada com o intuito último de salvar a mãe gravemente enferma. · Interrupção eugénica da gravidez: executada com base em princípios da eugenia, tais como valores racistas, sexistas e étnicos. · Interrupção selectiva da gravidez: motivada pela existência de graves lesões fetais, muitas das quais incompatíveis com a vida. (Diniz e Almeida, 1998). Visão biológica: · Espontâneo: quando ocorre por causas da ordem biológica (muitas vezes genéticas ou placentárias). · Provocado ou Induzido: quando oriundo da ação humana, independentemente de sua motivação (Rego,2009). 2. Bioética e o aborto As diferentes percepções do aborto Visão religiosa A Doutrina da Igreja esclarece que quanto ao aborto espontâneo, isto é, aquele por causas naturais, não existe aí problemas morais, pois não há ato positivo e livre da pessoa. Contudo, quando há aborto provocado, a Igreja faz alguns apontamentos com base numa antropologia-teológica. Somente Deus é Senhor da vida, desde seu início até seu fim, por isso, ninguém, em nenhuma circunstância, pode reivindicar para si o direito de destruir directamente um ser humano inocente. (COELHO,2007) Visão psicológica O aborto provocado é, sem dúvida, o mais prejudicial para a saúde da mulher, tanto física como mental. Seja qual for a situação a mulher sofreu uma perda. E se ela não se permitir vivenciar essa perda passando pelas fases da negação, da perda, da raiva, da culpa, do medo e do ressentimento e perceber que é normal passar por todos estes estádios, poderá desencadear prejuízos psíquicos dificilmente reversíveis. O que acontece é que como o aborto provocado é muitas vezes negado, todos estes sentimentos serão como que camuflados e a restauração não acontecerão. Visão sociocultural Em primeiro lugar, há uma discussão sobre se o feto tem direito à vida e a partir de que momento. Nesse caso, alguns defendem a ideia de que o feto tem direito à vida a partir do momento em que nasce. Já outros argumentam que esse direito só passa a existir depois de um certo tempo da concepção, dependendo das características do feto. Em segundo lugar, há aqueles que concordam que o feto possui direito à vida, mas argumentam que mesmo assim a mulher tem o direito a fazer um aborto, pois ela deve ter liberdade de escolher o que acontece com seu corpo e sua vida. Por outro lado, alguns negam que mulher deva ter o direito de fazer um aborto, já que (a não ser em caso de estupro) ela ficou grávida porque quis ou por descuido. 3. A posição da OMS A legalização do aborto diminui a insegurança no procedimento e, consequentemente, diminui o número de mortes e problemas físicos e mentais que as mulheres correm devido à ilegalidade e, consequentemente, a insegurança do aborto.(Organização Mundial da Saúde) Argumentos param a legalização do Aborto · Gravidez de menores; · Em vítimas de estupro e incesto; · Em mães solteiras provavelmente incapazes de tomar conta do filho; · Em situações patológicas do feto, reconhecidas medicamente; · Em situações patológicas da mãe em que a gravidez ou o parto põem seriamente em risco a sua vida. A restrição legal do aborto não reduz necessariamente o número de abortos que acontecem num país. Leva simplesmente a que eles sejam feitos às escondidas e de forma insegura e as mulheres que recorrem a estes serviços pagam muito caro por eles, incluindo ao arriscar a sua própria vida! Onde o aborto é legal e existem serviços seguros, a morte e a incapacidade devidas ao aborto são consideravelmente reduzidas. 4. Reflexões éticas e legais sobre o aborto 4.1. Realizar o aborto é crime? · Boletim da Republica de Moçambique ARTIGO 168 (Aborto não punível) Não é punível o aborto efectuado por médico ou outro profissional de saúde habilitado para o efeito, ou sob a sua direcção, em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido e com o consentimento da mulher grávida.” 4.1.1. Em que situações se pode realizar o aborto? · Boletim da Republica de Moçambique ARTIGO 3 Constituem requisitos para a realização do Aborto, os seguintes: · Idade gestacional máxima de 12 semanas; · Em caso de doença crónica degenerativa ou malformação congénita, clinicamente comprovada, ou por doença infecto-contagiosa no período referido no n.º 1, estendido até 16 a 24 semanas; · Fetos inviáveis, cuja interrupção da gravidez pode ocorrer em qualquer momento de gestação; · Violação sexual ou incesto directamente confirmada pela mulher ou rapariga, ou comprovada através de denúncia ou por queixa policial. 4.1.2. Quem tem o poder de decidir a realização do aborto? · Boletim da Republica de Moçambique Artigo 4º 1. O Aborto só se pode realizar com o consentimento informado da mulher grávida, excepto quando a mulher não seja capaz de dar este consentimento. 4.1.3. O médico sempre é obrigado a realizar o aborto? · Código Deontológico de Moçambique Artigo 30° (Objecção de consciência) O médico tem o direito de recusar a prática de acto da sua profissão quando tal prática entre em conflito com a sua consciência moral, religiosa ou humanitária, ou contradiga o disposto neste Código, excepto em situações de emergência em que haja perigo de vida para o doente. 4.1.4. Em caso de tratamento de alto riscode aborto, o que o médico deve fazer? Artigo 48° (Terapêutica que implique risco de interrupção da gravidez) 1. Quando a única forma de preservar a vida da doente implique o risco de interrupção da gravidez, Deve o médico assistente, salvo em caso de inadiável urgência, convocar para uma conferência dois médicos da especialidade, sem prejuízo da consulta a outros colegas cujo parecer se possa considerar necessário. 2. A conferência referida no número anterior deve traduzir-se em protocolo circunstanciado, em quatro exemplares, do qual constem o diagnóstico, o prognóstico e as razões científicas que os determinam. 4.1.5. O médico mesmo sem concordar com a pratica do aborto induzido tem direito de desrespeitar a sua paciente? 4.1.6. Se na religião da paciente apos um aborto espontâneo, esta solicitar algum tipo de ritual o que o médico deve fazer? Artigo 41° (Respeito pelas crenças e interesses do doente) 1.O médico deve respeitar as opções religiosas, filosóficas ou ideológicas e os interesses legítimos do doente. 2.Todo o doente tem o direito a receber ou a recusar conforto moral e espiritual e nomeadamente o auxílio de um membro qualificado da sua própria religião. Se o doente, ou na incapacidade deste, os seus familiares ou representantes legais, quiserem chamar um ministro de qualquer culto. 5. Conclusão A questão do aborto talvez seja o campo da bioética no qual as disputas argumentativas são mais acirradas. Esse aspecto e a constatação de que milhares de mulheres sofrem e morrem, todos os anos, vítimas dos procedimentos utilizados em abortos clandestinos, tornam ainda mais imperioso a discussão, honesta e racional acerca da sua ‘bioeticidade’ e dos seus aspectos legais. Sem desconsiderar, todavia, que o debate se dá em um contexto essencialmente dominado por uma visão masculina, segundo a qual o controle da sexualidade feminina está intimamente ligado às ações contrárias a qualquer medida de interrupção da gravidez e ao uso de métodos seguros de contracepção. 6. Bibliografia · ESTRADE, Maira, QUESTÕES LEGAIS E ÉTICAS DO ABORTO: quais são as opiniões e o conhecimento dos discentes da Uni pampa?, 2020 · USTA, Moma de Bay, O problema do aborto inseguro, 2011 · REGO, S., PALÁCIOS, M., and SIQUEIRA-BATISTA, R. A Bioética, o Início e o Fim da Vida o aborto e a eutanásia. In: Bioética para profissionais da saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009. · CÓDIGO ÉTICO-DEONTOLÓGICO E CÓDIGO DE PROCESSO, 2017 · BOLETIM DA REPUBLICA DIPLOMA MINISTERIAL N.60/2017 1