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Autodesenvolvimento Apresentação Você já imaginou que tudo aquilo que está à nossa volta e que a maneira como interpretamos os fatos e situações são determinantes para o nosso modo de agir e pensar? Nesta Unidade de Aprendizagem, vamos saber o que é o autodesenvolvimento, o que é necessário para adquiri-lo, o que dizem os principais autores sobre o assunto e quais resultados podemos obter em nossa vida pessoal e profissional, se o aprimorarmos constantemente. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o que é autodesenvolvimento e sua importância.• Desenvolver um olhar crítico sobre o processo de reflexão na formação do autodesenvolvimento. • Comparar os estudos dos principais autores do assunto, a partir dos anos 70.• Desafio Para realizar este desafio, você precisará pensar em como o autodesenvolvimento pode contribuir para uma tomada de decisão eficaz. Para tal, coloque-se no lugar de observador e, logo em seguida, de alguém capaz de propor e elaborar estratégias versáteis e capazes de mudar todo o cenário crítico que essa empresa está passando. Vamos ao desafio! No departamento de RH da empresa Celulose S.A., todas as atividades são distribuídas entre cinco colaboradoras. Porém, foi percebido, pela direção da empresa, que os processos de recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, ética e saúde do trabalhador, direitos trabalhistas e a própria gestão dos processos mencionados anteriormente estão sendo realizados de maneira "empurrada", sem feedback ou tempo para reuniões, gerando grande sobrecarga de tarefas. Além disso, quando alguém está de férias, a situação é ainda pior, pois o trabalho designado a cada uma fica comprometido, já que uma colaboradora tem de realizar as tarefas da outra. Ainda nesse cenário, a gerente de RH é extremamente resistente e centralizadora; ela não gosta muito de delegar tarefas (essa prática, por si só, já é responsável por causar infinitos tumultos) e muito menos de aceitar as ideias propostas pela equipe (motivo de grande insatisfação). Sempre são propostas melhorias de maneira informal, por exemplo, contratação de estagiários, aumento do quadro de funcionários, instituição de horários de trabalho alternativos, conversão de banco de horas e pagamento em dinheiro por horas extras, mas a história é sempre a mesma: são prometidas várias mudanças que nunca acontecem. A colaboradora mais nova da equipe trabalha na empresa há um ano e meio e já está extremamente desmotivada. Diante dessa realidade, que medidas poderiam ser tomadas como prioridade, pensando em aumentar a produtividade e a motivação dessa equipe? Infográfico O infográfico apresentado a seguir representa, em um ciclo, os valores e as características para que se realize o processo de autodesenvolvimento. Conteúdo do livro Para compreender melhor o autodesenvolvimento, acompanhe um trecho da obra Gestão contemporânea de pessoas: novas práticas, conceitos tradicionais. O livro, de Claudia Bitencourt et al., serve de base teórica para o assunto abordado. Boa leitura. c l a u d i a b i t e n c o u r t e colaboradores gestão contemporânea de pessoas n o v a s p r á t i c a s , c o n c e i t o s t r a d i c i o n a i s 2 ª ed ição C A P ÍT U LO S E E STUDOS D E C A S O G393 Gestão contemporânea de pessoas [recurso eletrônico]: novas práticas, conceitos tradicionais / Claudia Bitencourt e colaboradores. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2010. Editado também como livro impresso em 2010. ISBN 978-85-7780-622-5 1. Organização do trabalho – Administração de recursos humanos. I. Bitencourt, Claudia. CDU 331.101.262 Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 2 o AutoDeseNVoLVimeNto e A perspectiVA DA ApreNDiZAGem orGANiZAcioNAL Claudia Simone Antonello OOOObjetivos deaprendizagem compreender e analisar a noção e o processo de autodesenvolvimento. Abordar algumas das dimensões que constituem o processo de autodesenvolvimentoe sua relação com a aprendizagem organizacional. Analisar a importância do autodesenvolvimento no desenvolvimento de competências. identifi car algumas tendências e iniciativas das organizações para facilitar o autodesenvolvimento. O PaSSadO E O PrESEnTE dO dESEnVOLViMEnTO gErEnCiaL E SUaS rEPErCUSSõES na nOÇãO dE aUTOdESEnVOLViMEnTO Ao retomarmos a história do desenvolvimento gerencial, observamos que até a década de 1960 houve uma aceleração na economia seguida, na década de 1970, de um declínio acentuado. Se antes tudo era crescimento e prospe- ridade, a situação que os gerentes enfrentaram nas décadas de 1970 e 1980, em contrapartida, foi delicada, quando então fez-se presente o desemprego, a competição financeira, as rápidas mudanças tecnológicas, o aumento das divisões sociais, a globalização, etc. O autodesenvolvimento gerencial ganha impulso nestes tempos difíceis, em contraste com duas ideias que cedo domi- naram os anos 1960 e 1970. Os anos 1960 foram a era do treinamento sistemático, marcada pela es- cassez de pessoas capacitadas em uma economia que trabalhava quase a pleno emprego, quando, então, encorajou-se o treinamento industrial. Era um tipo de treinamento dirigido externamente ao indivíduo, pois suas necessidades de treinamento originavam-se de metas organizacionais. Os responsáveis pelo 32 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual treinamento e pelo desenvolvimento diagnosticavam as necessidades indi- viduais, definiam objetivos mensuráveis, programas e assim por diante. Os indivíduos eram treinados em turmas partindo-se do princípio de que todos tinham as mesmas necessidades. O treinamento sistemático fazia-se efetivo para o treinamento de habilidades manuais, mas, quando esta abordagem foi utilizada para o desenvolvimento gerencial, emergiu um problema crítico conhecido como “transferência de treinamento”, ou seja, os programas eram considerados excelentes, aprendia-se muito de acordo com as avaliações após a conclusão do curso, porém as ações e o comportamento dos indivíduos no trabalho não mudavam, não havia transferência do que era aprendido nos cursos para o ambiente de trabalho. Este problema forçou um reposicionamento do foco para a aprendiza- gem. Em vez de concentrar-se no que o treinador faz, começa-se a observar o que acontece quando as pessoas aprendem. Nos anos 1970 e posteriores, inicia-se a ampla utilização do ciclo de aprendizagem de Kolb (1984) – ver Figura 2.2 – e passa-se a perseguir a arte de “aprender com o aprender”. Carl Rogers (1971) forneceu uma inspiração para o movimento da aprendizagem com sua abordagem não diretiva e centrada na pessoa, em observações como: o que pode ser ensinado diretamente ao outro é relativamente trivial, en- quanto coisas significativas apenas podem ser aprendidas. A aprendizagem era direcionada para dentro, coerente com os sentimentos e pensamentos do indivíduo, pouco relacionava-se aos objetivos organizacionais e era tida como bem-sucedida se a pessoa verbalizasse que havia aprendido (Pedler, 1994). Por outro lado, o desenvolvimento de pessoas, como ideia, abarca tanto a realidade do ambiente externo e os objetivos organizacionais quanto a reali- dade interna da pessoa. Cada indivíduo é um ser sem igual no processo de for- mação – como Rogers (1971) e Maslow (2000) propõem –, mas só pode fazer progressos interagindo com outras pessoas e exercitando suas habilidades de fazer escolhas pessoais tão construtivamente quanto possível. Fazendo o me- lhor que puder, o indivíduo pode gerar oportunidades em ambos os aspectos (interagir e fazer escolhas), o que alimenta o ímpeto para o autodesenvolvi- mento (ver Figura 2.1). Métodos como a aprendizagem pela ação (action learning) e a aprendi- zagem autogerenciada (self-managed) reforçam a interação entre o interior e o exterior do indivíduo, onde a aquisição de competências gerenciais requer tantouma escolha e uma transformação interior quanto uma performance ex- terna modificada. O autodesenvolvimento enquanto conceito é, então, uma síntese dessas ideias, em que o desenvolvimento envolve uma contínua pas- sagem de ações externas (experiencial) para processos internos (reflexão), de volta para a ação e assim por diante (Pedler, 1994). O autodesenvolvimento clarifica como as competências individuais e a vontade para aprender podem atuar como capacitadores no contínuo desenvolvimento do indivíduo (Mu- mford, 1993; Pedler, 1994). Para Eric From (1979), o aprendizado do homem, seja ele um estudante de escola formal ou um profissional consciente, é um processo ativo, no sentido 33o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional de receber e reagir de modo produtivo. Desse modo, o ser humano que aprende é aquele que desenvolve a atenção como um processo vivo, quer dizer, aquele exercita plenamente o seu modo de ser. No modo ter, quem aprende conserva o conteúdo do aprendizado na memória e nas anotações. No modo ser, o indiví- duo produz ou cria sempre algo novo, apropriando-se do que é aprendido. A transformação orientada para a aprendizagem organizacional só é possível na medida em que se inicia a transformação contínua do indivíduo, sujeito do processo educativo. O autodesenvolvimento, na aprendizagem or- ganizacional, possibilita ao funcionário da empresa, independente de sua po- sição hierárquica, a conquista de sua autonomia como ser, permitindo-lhe o pleno uso de sua liberdade de escolher alternativas, de fazer opções durante o aprendizado, o qual, na verdade, é constante. Se a autonomia do funcionário na organização for incentivada, necessariamente seu pensamento crítico será estimulado, o que é base da expressão humana. Apesar da diversidade de princípios que embasam o desenvolvimento de gerentes, dois salientam-se entre eles: o autodesenvolvimento e a aprendiza- gem autodirigida. Ambos os princípios enfatizam que o desenvolvimento de gerentes deve ser dirigido por eles mesmos, ao reconhecerem a necessidade de desenvolver a si próprios e ao estarem dispostos a aprender (Antonacopoulou, 2000). Esses princípios também sugerem que os gerentes, enquanto indiví- duos, tenham o “poder” para escolher o que aprender e como se desenvolver. Esta perspectiva é corroborada por pesquisas realizadas já há muito tempo (Boydell, 1982; Sutcliffe, 1988), as quais sugerem que os indivíduos não po- dem ser forçados a aprender ou a se desenvolverem sem seu consentimento. Baseado nos princípios de formação para adultos (Knowles et al., 1984), o autodesenvolvimento enfatiza a escolha e a autodireção, e alinhado a prin- cípios da área de desenvolvimento de pessoas, em um primeiro momento, concentra-se mais no desenvolvimento do indivíduo do que no do coletivo. FigUra 2.1 interação entre o mundo interno e o mundo externo no processo de desenvolvimento do indivíduo. fonte: adaptado de pedler (1994, p. 157). 34 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual Diferente dos métodos tradicionais de desenvolvimento, baseados em instrução e intervenções de treinamento sistemáticas, outros métodos compar- tilham, e muito, a aprendizagem na ação (action learning) e a aprendizagem experiencial, teorias estas que enfatizam reflexão, experimentação e um nível de metacompreensão, incentivando o autodesenvolvimento (Revans, 1983; Mumford, 1993; Garavan; Barnicle; O’Suilleabhain, 1999). Storey, Mabey e Thomson (1997) comentam que o desenvolvimento gerencial está prosperan- do e que muitas organizações investem em atividades projetadas para aumen- tar as competências de seus gerentes em todos os níveis. Assim: o autodesenvolvimento é um processo autoiniciado de aprendizagem, cujos elementos- chave no processo são autoconsciência, reflexão e experimentação, e cujas dimensões são o desenvolvimento, a pessoa vista no seu todo e a responsabilidade pessoal. reflexão e experimentação Todos os seres humanos – não apenas os profissionais – necessitam tor- nar-se competentes em tomar uma ação (agir) e simultaneamente refletir sobre esta ação e aprender a partir dela. (Argyris; Schon, 1974, p. 4) Este pensamento é cada vez mais pertinente se considerarmos as mudanças que estão atingindo grupos profissionais e ambientes de trabalho. As mudanças, tais como o avanço da tecnologia, as novas formas de administração e de estrutu- ras e a competição global, têm um impacto profundo na natureza do conhecimen- to profissional. Exige-se dos trabalhadores que pensem diferentemente e mais profundamente o seu trabalho e a sua relação com a organização. Em termos de aprendizagem no ambiente de trabalho, estas demandas causaram uma troca de “ensinar as pessoas” por uma ênfase em “auxiliar as pessoas a aprender”. Rigano e Edwards (1998) desenvolveram um estudo sobre a incorpora- ção da reflexão na prática do ambiente de trabalho e no desempenho profis- sional. Os resultados do estudo de caso revelaram como a compreensão do trabalhador desenvolveu-se com o tempo, como ele incorporou isto à prática de seu trabalho, como melhorou aspectos do seu desempenho profissional e como aprendeu sobre sua própria aprendizagem. De acordo com esses autores, a reflexão é amplamente reconhecida como um elemento crucial no processo de aprendizagem dos indivíduos (Schön, 1983; Mezirow, 1990). Daudelin (1996) comenta que o indivíduo que utiliza uma hora para refletir sobre um aspecto de uma situação desafiadora pode aumentar a aprendizagem significativamente sobre aquela situação. Algumas empresas empregam esforços, tais como PepsiCo., Motorola e General Motors, para utilizar a reflexão como uma ferramenta deliberada de aprendizagem, tornando a necessidade de práticas reflexivas formais no ambiente de trabalho uma tendência significativa. Diversos programas de aprendizagem em am- biente de trabalho estão emergindo nas empresas, com abordagens variadas e utilização da reflexão para facilitar a aprendizagem dos indivíduos. Assim, 35o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional é necessário que se discuta a natureza e a prática da reflexão no ambiente de trabalho. A evolução de estrutura de aprendizagem do adulto está envolvida pela conexão e pela sobreposição de teorias e práticas. Rigano e Edwards sele- cionaram alguns teóricos que influenciaram e moldaram a compreensão da reflexão e do seu papel na aprendizagem de adultos. O termo reflexão é geral- mente usado como um sinônimo para processos mentais de ordem mais alta (Mezirow, 1990). Os estudos de John Dewey em educação enfatizaram a im- portância do pensamento reflexivo na aprendizagem advinda da experiência. Os conceitos de Dewey sobre pensamento reflexivo embasaram as ideias de muitos teóricos da aprendizagem de adultos. A característica comum da maioria das teorias de aprendizagem de adultos a partir da experiência é o destaque atribuído à integração da nova experiência com a experiência passa- da pelo processo de reflexão. Kolb (1984) utilizou o trabalho de Dewey, como também Lewin e Piaget, desenvolvendo o modelo experiencial de aprendiza- gem (ver Figura 2.2). Kolb sugeriu que os adultos aprendem passando por um ciclo de experiência concreta (fazer), refletir (observar e refletir), conectar (formação de conceitos abstratos e generalizações), testar as implicações dos conceitos em novas situações, e fazer novamente. Quando os adultos estão comprometidos com este ciclo de aprendizagem, a ação sempre será cuidado- sa, porque a reflexão está incorporada. Schön (1983) apresenta uma visão adicional de como os adultos apren- dem pela experiência em sua análise de reflexão-na-ação. Ele identificou o cenário do problema como uma conversação reflexiva na qual o profissional recorre à sua experiência para entender a situação, tenta estruturar o pro- blema, sugere uma ação e, então, reinterpreta a situação levando em conta as consequências da mesma. Reflexão-na-açãoenvolve verificar experiências pessoais passadas para avaliar as práticas e a construção das teorias pessoais de ação. O trabalho de Schön e Argyris no campo de melhorias da prática profis- sional desenvolveu a noção de aprendizagem de single e double-loop (Argyris; Schön, 1974) para explicar o que acontece quando o desempenho desejado não é alcançado. Na aprendizagem de single-loop, uma pessoa continua uti- lizando a mesma estratégia ou variações dela. As falhas em produzir os re- sultados desejados neste modo de trabalhar frequentemente ocorrem porque as soluções são baseadas num conjunto de valores governantes que frustram o sucesso. Já na aprendizagem de double-loop, uma pessoa torna-se extre- mamente reflexiva e busca ir além da superfície para questionar os valores, convicções e comportamentos governantes adotados. Conjuntamente, Argyris e Schön desenvolveram o processo de ciência da ação1 como uma base para a mudança organizacional. Marsick (1988) descreveu um novo paradigma para o entendimento e a facilitação da aprendizagem no ambiente de trabalho baseado na teoria de aprendizagem desenvolvida por Mezirow (1990), com algumas semelhanças em relação ao programa de ciência da ação de Argyris e Schön. Ele descreve três domínios de aprendizagem: instrumental, dialógico e autorreflexivo. A 36 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual aprendizagem instrumental refere-se à solução de problemas orientada para a tarefa. A aprendizagem dialógica refere-se ao modo pelo qual as pessoas entendem as normas consensuais na sociedade. A aprendizagem autorreflexi- va refere-se à forma pela qual nós aprendemos a entender a nós mesmos. Da mesma forma que a aprendizagem de double-loop, sua ênfase é a autorreflexão crítica como meio para alcançar a automudança. Essa mudança normalmente envolve uma transformação nas perspectivas de significado: uma esquemati- zação que fornece os princípios da interpretação. A autorreflexão crítica tem muito em comum com a abordagem de apren- dizagem pela ação de Revans (1983). A aprendizagem pela ação foi projetada para ajudar a gerar soluções aos problemas da vida real com uma ênfase na experiência concreta dos indivíduos que estão tomando parte na atividade de aprendizagem. O trabalho de Revans tem similaridades com a ciência da ação, assim como com o ciclo de aprendizagem vivencial de Kolb. Porém, segundo Marsick (1990), a aprendizagem pela ação é um processo mais flexível, me- nos codificado, deixado para a habilidade do indivíduo se comparado com o método altamente definido e rigoroso da ciência da ação, sendo menos formal do que o ciclo de aprendizagem vivencial Kolb. FigUra 2.2 Ciclo de aprendizagem vivencial. fonte: adaptado de Kolb (1984). 37o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional Essas teorias sobre reflexão-ação perpassam o entendimento do conceito de autodesenvolvimento e aprendizagem nas organizações. Uma das suposi- ções básicas é a de que o autodesenvolvimento baseado no modelo reflexão- ação (Argyris; Schön,1974; Dewey, 1959; Kalb, 1984; Marsick, 1988; Revans, 1983) facilita os processos de aprendizagem organizacional. autoconhecimento e autoconsciência Para Bourner (1996), não é difícil visualizar uma cadeia de causas e efeitos partindo da autoconsciência, passando pela autoaceitação e chegando até o autodesenvolvimento e o crescimento pessoal. Ainda de acordo com este autor, muitas pessoas concordam que o “conhece-te a ti mesmo” da Antiga Grécia é consoante com seus valores e apreciam a visão do filósofo Emanuel Kant de que o autoconhecimento é o início de toda a sabedoria. Para Bourner, desta forma, quando se fala em autodesenvolvimento é impossível dissociar a ideia de autoconhecimento. O indivíduo poderá direcionar seu desenvolvi- mento se, dentre outros aspectos, conhecer a si próprio, suas necessidades, sua forma de ser, identificar habilidades, comportamentos, atitudes e valores. Consequentemente, esse processo repercutirá em seu potencial de aprendiza- gem (Swieringa; Wierdsma, 1995). A aprendizagem nas organizações está orientada para o desenvolvimen- to do potencial para aprender a aprender, o qual Swieringa denomina meta- aprendizagem. A base deste potencial é o autoconhecimento; em particular, o saber como e por que se aprende e se deseja aprender. Para este autor, o fato das pessoas conhecerem muito pouco de si mesmas constitui uma das princi- pais razões pelas quais as organizações, em período de crise, permitem a eva- são dos problemas. As pessoas não se questionam quanto à sua competência ou incompetência coletiva e carecem de valor ou vontade para examiná-la. Para Swieringa e Wierdsma (1995, p. 27) uma organização voltada para os processos de aprendizagem baseia-se numa filosofia em que seus membros consideram que eles mesmos e os demais são adultos: “[...] gente que tem vontade e valor para assumir a responsabilidade de seu próprio funcionamen- to com relação aos outros e que espera o mesmo dos demais.” Ainda conforme os autores, o autoconhecimento é pré-requisito para o desenvolvimento do potencial de aprendizagem. Quanto maior o autoconhe- cimento, maior o potencial de aprendizagem do indivíduo. O incremento do autoconhecimento requer feedback quanto à competência demonstrada pelo indivíduo. A competência é determinada pela imagem que a pessoa tem de si (autoimagem) e pela imagem que os outros formam dela. Assim, a forma como suas ações são percebidas e recebidas pelos outros proporciona um feedback que lhe possibilitará corrigir e complementar sua autoimagem. Portanto, embora paradoxal, assim como o autodesenvolvimento, somente é possível aprender e adquirir autoconhecimento por intermédio da interação. Dentro dessa ideia, os autores propõem três níveis de autoconhecimento (ver Figura 2.3): 38 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual conhecimento do que posso fazer: refere-se ao que o indivíduo sabe que é pos- sível fazer, caso ele queira ter possibilidades razoáveis de êxito, e ao que é melhor evitar. É uma forma de autoconhecimento que impede a sub/superestimação das próprias capacidades. conhecimento do que sei: em particular, do que entendo. conhecimento de quem sou e de quem desejo ser: desenha a base da personalida- de e da identidade do indivíduo. Para Bourner (1996), a autoconsciência, entre outras questões, abrange as forças e as fraquezas do indivíduo. Segundo o autor, esta forma de autoconheci- mento contribui para a eficiência da administração de vários modos. Por exem- plo, gerentes que têm uma percepção de quais são suas fraquezas estão numa posição que lhes possibilita repará-las com forças compensatórias. Quando um gerente compreende suas próprias forças e fraquezas, consegue compreender as dos outros e, consequentemente, escutá-los empaticamente. O gerente com alto grau de autoconsciência, de acordo com Thoreau (1995), conhece a si próprio, seus valores, capacidades e propósito de vida, revela elevada autoestima e auto- confiança e é flexível aos desafios que se apresentam. Bourner ressalta que, se por um lado, em situações onde o gerenciamento é rotineiro e repetitivo, a autoconsciência é menos importante, por outro, em ambientes de mudanças aceleradas, o gerenciamento baseado no desenvolvi- mento pessoal e no incremento do autoconhecimento são fundamentais. Isto ocorre porque quem está impossibilitado de mudar a si mesmo dificilmente conseguirá mudar o que está à sua volta – o princípio do “mandato insuficien- te” de Revans (1983). O indivíduo não muda aquilo do qual não está ciente. Sob uma visão processual, Bourner adiciona à proposta de Revans o princípio do “mandato da consciência insuficiente”: aquele que não se conhece está impossibilitado de mudar a si mesmo. FigUra 2.3 Os três níveis de autoconhecimento. fonte: adaptado de swieringa e Wierdsma (1995, p. 28). 39o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacionalComplementando a ideia de autoconhecimento, Bitencourt e Gonçalo (1999) comentam que [...] apesar da mudança de atitude ser um pressuposto básico que as orga- nizações e as pessoas devem buscar desenvolver e de ser desejável em um ambiente de mudança independente do programa ou “modelo” gerencial adotado, a consciência para essa necessidade é um processo interno ao indivíduo que deve buscar conhecer seus próprios limites, necessidades, formas de contribuição em relação ao processo de mudança individual (ati- tude) e organizacional (atividades desenvolvidas pelas empresas). Portan- to, trata-se de um processo de descoberta, de questionamento, de reflexão, onde o autoconhecimento torna-se ponto central para essa análise. Ainda segundo estes autores, é importante uma reflexão sobre o próprio papel que as pessoas representam na organização e sobre a consciência que deve surgir do próprio indivíduo. Se o indivíduo estiver consciente de seu papel na organização e de sua contribuição no processo de mudança organi- zacional, ele estará mais aberto à aprendizagem, gerando melhores resultados em suas atividades e nos processos da organização. Além disso, a singularidade do autodesenvolvimento como um proces- so de crescimento está na síntese de três dimensões importantes: o conceito de desenvolvimento, a noção da pessoa no seu todo e a de responsabilidade pessoal (Pedler et al., 1990; Pedler, 1986, 1994). Cada uma destas dimensões será discutida brevemente para que se estabeleça o significado do autodesen- volvimento para o indivíduo e para a organização. desenvolvimento A primeira dimensão subjacente ao significado de autodesenvolvimento é a associação com o conceito mais amplo de desenvolvimento das pessoas, isto é, as mudanças nas estruturas sociais que afetam a extensão dos horizontes de vida do indivíduo. Conforme Pedler (1994), pesquisadores que exploram a estrutura do processo de desenvolvimento argumentam que o desenvolvimento é um processo vitalício que envolve aperfeiçoamento gradual, incremental, com etapas revolu- cionárias abruptas, sendo que cada uma influencia o modo como os indivíduos constroem o significado sobre eles e suas experiências. Fisher, Merron e Corlert (1987, p. 259) confirmam essa ideia: “Conforme cada passo é dado, um novo ser emerge com uma nova forma de construir o mundo, e as novas experiências internas do mundo resultam num novo modo de expressar ideias, sentimentos e propósitos. A cada etapa a visão correspondente do mundo influencia profunda- mente o que a pessoa escolhe ver e como ela interpreta e reage ao que é visto.” De acordo com Pedler e colaboradores (1990), se as experiências vão apresentar resultados desenvolventes, o indivíduo deve ser capaz de empregar as habilidades e recursos necessários para buscar tais experiências e transfor- má-las em eventos de aprendizagem significativos (Kolb, 1984). Então, o foco de de senvolvimento dentro do processo de autodesenvolvimento é a mudan- ça, a inovação e a aprendizagem que acontecem, e não só a aquisição quanti- tativa e incremental de conhecimento e habilidades. 40 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual a pessoa no seu todo A segunda dimensão do autodesenvolvimento é, em geral, a ênfase na pessoa em seu todo (por inteiro, total) e sugere que o desenvolvimento é significativo ao indivíduo quando estão sendo almejadas metas pessoalmente importantes. Pedler (1986) sinaliza especificamente que: [...] autodesenvolvimento acontece quando o indivíduo encontra o significado e o sentido pessoal provindos de eventos particulares ou experiências resultantes de sua interação real ou simbólica com alguma parte de seu ambiente. então, quando estabelece metas de autodesenvolvimento, o indivíduo não pode estar divorciado do que ele está fazendo. O autodesenvolvimento é a integração da pessoa com seu papel de traba- lho. O processo de desenvolvimento adquire significado a partir da integração do conhecimento específico e das habilidades pertinentes ao papel particular e aos sentimentos, intenções e ações do indivíduo. Essa perspectiva relaciona-se sobremaneira com a terceira dimensão de autodesenvolvimento, a responsa- bilidade pessoal. responsabilidade pessoal Uma característica central de autodesenvolvimento é a escolha por parte do indivíduo. Diferente do processo de desenvolvimento convencional, que trata os indivíduos como recipientes passivos, o autodesenvolvimento coloca o indivíduo à frente do processo de desenvolvimento. O argumento subjacente é que o desenvolvimento não é apenas um assunto para expert, pois trata-se de uma questão que envolve vontade e determinação pessoal para comprometer a si mesmo com um processo que o indivíduo valoriza e acredita (Burgoyne et al.,1996; Pedler, 1994). O indivíduo é, então, livre para escolher as metas, decidir como alcançá-las, iniciar a ação para realizá-las e avaliar seu sucesso (Megginson, 1993; Pedler et al., 1990 ). Nessa dimensão de desenvolvimento, o lugar do indivíduo é o controle (teoricamente, pelo menos) do processo de autodesenvolvimento. Outras dimensões Outras dimensões importantes da ideia de autodesenvolvimento, de acordo com Pedler (1994), são: a) nós temos que criar condições primeiro em nós mesmos antes que pos- samos fazer isto com os outros – princípios de “gerenciar-me primeiro” e “gerenciar de dentro para fora” (em contradição com o treinamento convencional, que exalta as virtudes e busca passar a ideia de “super- homem”). 41o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional b) desenvolvimento é a transformação da pessoa inteira e não só o treinamen- to do indivíduo como “trabalhador”. Portanto, há muitos pontos a consi- derar no desenvolvimento da pessoa – vida familiar, relações importantes, crises de vida, saúde, idade e assim por diante, como também habilidades gerenciais, estilo e competência. Trabalho e vida dentro da organização são parte importante e crítica da vida do gerente, mas não o seu todo. c) o “auto” (self) em autodesenvolvimento significa duas coisas, pelo menos: primeiro, que este é um processo de “by-self” (por si mesmo), onde o ge- rente é o responsável principal por iniciar e gerenciar seu próprio desen- volvimento; segundo, que este é um processo de “of-self” (de si mesmo), no qual o gerente, como pessoa, cresce em habilidade e vontade para obter controle e responsabilidade a respeito de eventos e particularmente sobre si mesmo e seu próprio desenvolvimento. d) o papel do desenvolvimento gerencial e do treinamento das pessoas torna- se menos provedor, direcionador e iniciador para ser mais facilitador, gera- dor de recursos, conselheiro e de suporte. aUTOdESEnVOLViMEnTO: diFErEnTES PErSPECTiVaS E aBOrdagEnS Além das dimensões até aqui apresentadas, pode-se também inserir a visão de Senge. Este autor propõe cinco disciplinas inter-relacionadas para construir as learning organizations: a visão compartilhada que estimula o compromisso com o longo prazo; os modelos mentais que focam a necessidade de se retirar os bloqueios para a resolução dos problemas correntes; o aprendizado em equipe que permite superar os limites da visão individual; o domínio pessoal que con- fere aos indivíduos a automotivação necessária para aprender continuamente; e o pensamento sistêmico que integra as demais disciplinas. Senge (1990, p. 16) refere-se à disciplina domínio pessoal como o conhecimento de si mesmo “[...] pelo domínio pessoal aprendemos a esclarecer e a aprofundar continuamente nosso objetivo pessoal, a concentrar nossas energias, a desenvolver a paciência e a ver a realidade de maneira objetiva”. Ter domínio pessoal significa ter a capacidade de continuamente tornar mais clara a visão pessoal de futuro e de ver a realidade objetivamente, gerando uma tensão criativa que leva em direção à própria visão. O domínio pessoal é a capacidade fundamental para que um indivíduo possa perseguir seus próprios valores, emvez de ser levado pelas circunstâncias. Os elementos fundamentais do domínio pessoal são a percepção clara da realidade e a consciência firme dos próprios propósitos. Apresentar domínio pessoal é sentir-se parte do processo criativo e ampliar o espaço pessoal de influência, criando um sentido especial de vida. O domínio pessoal cresce a partir da postura inquisitiva, que amplia o autoconhecimento e o estabelecimento de objetivos pessoais. Domínio pessoal significa aprender a expandir as capacidades pessoais para obter os resultados desejados e criar um ambiente empresarial que estimule todos os participantes a alcançar as metas escolhidas (Senge, 1990). O constante aprendizado só é possível por meio do domínio pessoal e está baseado na competência e no crescimento enquanto pessoa. Significa vi- 42 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual ver a vida de um ponto de vista criativo, em vez de reativo. Para desenvolvê-lo, é necessário estabelecer um objetivo de vida importante e aprender continua- mente a enxergar com mais clareza a realidade do momento. A apreensão dos dois fatores gera a tensão criativa, que leva o indivíduo a realizar seu objetivo. A tensão criativa é uma força resultante da tendência natural dos indivíduos de buscar uma solução para as tensões encontradas, as quais surgem em fun- ção da discrepância entre a realidade percebida e a realidade desejada. Neste sentido, o autor acredita que os indivíduos podem escolher dois ca- minhos para resolver a tensão criativa: um deles é reduzir o gap percebido em função da incapacidade dos indivíduos em resolver sua tensão emocional, que normalmente está associada à tensão criativa; o outro é resolver a tensão criativa através da persistência, da paciência, do compromisso com a verdade e da utiliza- ção da força do subconsciente desenvolvida pelo esforço consciente em se visuali- zar e caminhar até o resultado esperado. O segundo caminho é, pois, o que levaria ao aprendizado individual ou, nas palavras de Senge, ao domínio pessoal. De fato, Senge preconiza a manutenção de um permanente estado de tensão criativa como forma de alavancar o crescimento e o aprendizado por meio da criação de um intenso rapport entre o consciente, a intuição e o sub- consciente. Segundo este autor, o aprendizado consciente e intencional re- presenta apenas uma pequena parte do processo de criação e de domínio de coisas complexas. O aprendizado, entretanto, através do subconsciente, só se torna eficaz na medida em que houver uma clara visão de onde se quer chegar e, também, uma real percepção da realidade. A tensão entre a realidade percebida e a visão do ideal desejado é a fonte de energia transformadora que permite à pessoa agir, e não apenas reagir. O domínio pessoal trata de clarear a autopercepção, que é o que gera a tensão criativa, à medida que a pessoa tem clareza sobre a realidade atual e sobre onde deseja chegar. O indivíduo que possui o domínio pessoal assume um profundo compromisso com a verdade, ou seja, elimina mecanismos pelos quais limita ou engana a si mesmo, os quais o impedem de ver as coisas como realmente são, expandir sua consciência e aprofundar seu conhecimento sobre as estruturas que estão por trás dos eventos. Uma capacidade fundamental para o domínio pessoal é a reflexão. As teorias e os modelos das próprias pessoas em relação ao mundo são partes da sua realidade presente. O domínio pessoal dá ao indivíduo uma razão para refletir sobre como seus pressupostos básicos podem lhe bloquear, impedindo que realize sua visão. Ele pode ser capaz de desenvolver e de provar novos modelos mentais, possibilitando direcionar seu próprio aprendizado e desen- volvimento de modo mais eficaz (Senge, 1990). Enfim, o domínio pessoal é uma disciplina de aspiração, que envolve a formulação de uma imagem coerente dos resultados que a pessoa mais deseja alcançar como indivíduo (visão pessoal) juntamente com uma avaliação realista do atual estado de sua vida (sua realidade naquele momento). O indivíduo, ao aprender a cultivar a tensão entre a visão e a realidade, pode ampliar sua capacidade de escolha e alcançar resultados mais próximos aos escolhidos (Senge, 2000). Seagal (1996) pesquisa desde 1979 o tema “dinâmica humana”, que se concentra em averiguar a interação de três princípios universais: o mental, o 43o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional emocional (ou de relacionamento) e o físico (ou prático). Para a pesquisadora, todos os aspectos do estudo da dinâmica humana dizem respeito ao domínio pessoal, o qual Senge aborda nas cinco disciplinas, a começar pelo requisito mais necessário: o conhecimento de si mesmo. Os programas de capacitação sobre a dinâmica humana contêm um percurso de descoberta – de si mesmo, dos outros e dos diferentes processos de comunicação –, solução de problemas, aprendizado e desenvolvimento, além do que pode ser feito à luz dessas desco- bertas para otimizar nosso modo de viver, aprender e trabalhar em conjunto. McGill e Slocum (1995), a exemplo de Senge, atribuem destaque às mu- danças necessárias no comportamento pessoal como premissas para a apren- dizagem nas organizações. Para estes autores, os cinco comportamentos apre- sentados no Quadro 2.1 seriam essenciais. Segundo estes autores, a aprendizagem implica, necessariamente, uma preocupação em melhorar a condição humana ao longo do tempo. Assim, os comportamentos acima estão diretamente relacionados a este esforço perma- nente. Na mesma linha comportamental de Senge e de McGill e Slocum, mas baseando-se em elementos da filosofia existencial, Steiner (1995) associou o processo de inovação à capacidade dos indivíduos serem autênticos. Esta autora relaciona o exercício da individualidade, da mesma forma que Sen- ge relaciona o conceito de domínio pessoal à autencidade, contrapondo-o ao exercício do individualismo. As organizações mais inovadoras seriam, então, aquelas que permitem que as pessoas sejam autênticas. Dessa maneira, as prescrições são aquelas usualmente pertinentes, na literatura, a empresas ino- vadoras: poucos níveis hierárquicos, reduzidos símbolos de poder, integração funcional, estímulo à tomada de riscos, entre outros. Schein (1996), por sua vez, apresenta uma alternativa analítica, seme- lhante à de Steiner, utilizando-se de conceitos antropológicos. Segundo este autor, em concordância com a literatura anteriormente citada, em organiza- ções que estimulam contínuo autodesenvolvimento de seus membros os prin- QUadrO 2.1 Comportamentos essenciais à aprendizagem nas organizações abertura significa que as pessoas têm de ter a capacidade de reexaminar constantemente suas premissas e crenças e, no caso dos gerentes, a consciência de que não precisam saber de tudo e de todas as atividades de seus funcionários. Pensamento traduz-se através da capacidade de ver conexões entre eventos, assuntos e detalhes de sistêmico dados e de pensar no todo ao invés de pensar nas partes de forma isolada. Criatividade trata-se da liberação do medo do fracasso e das consequências organizacionais, assim como da flexibilidade para deixar de lado rotinas e hábitos enraizados, traduzindo um comportamento criativo. Eficácia pessoal estaria associada à capacidade de ver a si próprio com precisão. Empatia traduz-se na capacidade de estabelecer relacionamentos na organização e, com isso, de considerar diferentes dimensões para a mesma questão. 44 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual cipais valores incluiriam: visão para o futuro; comunicação intensa em todas as direções; ser humano proativo e mutável em contato com o ambiente e com o pensamento sistêmico; busca da verdade em diferentes fontes; relações de trabalho pautadas pela participação, qualificação e comprometimento de seus membros. Mais recentemente, Schein (1996) passou a enfatizar o relacionamento entre a capacidade de aprendizadoorganizacional e o conceito e a prática do diálogo. Apenas por meio deste, argumenta o autor, pode haver comunicação entre as diferentes subculturas e culturas dentro de uma organização (por exemplo, finanças versus produção e nível executivo versus nível operacional). O diálogo surgiria apenas a partir do momento em que as pessoas se preocu- passem, antes de se engajarem em qualquer tipo de discussão ou debate, em refletir sobre como seus próprios paradigmas culturais influenciam e distor- cem seus processos cognitivos. Dessa maneira, o foco, diferentemente de Stei- ner, não está na autenticidade, mas no autoconhecimento. O aprendizado or- ganizacional, por sua vez, ocorreria na medida em que diferentes subculturas pudessem se comunicar (dialogar) por meio do estabelecimento de ambientes psicologicamente seguros e de modelos mentais compartilhados. a OrganizaÇãO E O aUTOdESEnVOLViMEnTO: CrÍTiCaS E rEFLExõES Embora os parágrafos anteriores evidenciem que o indivíduo é o prota- gonista no processo de autodesenvolvimento, alguns pesquisadores discuti- ram se este teria aplicabilidade mais ampla no nível coletivo das organizações. Por exemplo, Herriot (1992) indica que o autodesenvolvimento pode envolver todos os funcionários em todos os níveis da organização e que o processo de ajudar um ao outro é uma das estratégias mais significativas que o favorecem. Atividades adicionais, como centros de desenvolvimento, locais de aprendi- zagem aberta, autodesenvolvimento planejado e contratos de aprendizagem, reforçariam o compromisso da organização com o autodesenvolvimento e contribuiriam com o desenvolvimento mútuo do indivíduo e da organização. Como Smith (1993, p. 22) sugere: “Indivíduos precisarão criar e usar oportu- nidades de autodesenvolvimento como um elemento integrante do seu desen- volvimento e da organização.” O autodesenvolvimento é, então, promovido como uma estratégia, a qual é benéfica para o indivíduo e para a organização. Alguns pesquisadores acreditam que muitos dos benefícios percebidos, provindos do autodesenvol- vimento, destacam a integração entre desenvolvimento individual e desenvol- vimento organizacional. Stewart e Hamlin (1994), por exemplo, argumentam que, ao contrário de outros métodos, o autodesenvolvimento permite a flexi- bilidade necessária e facilita uma resposta mais imediata às necessidades de indivíduos e organizações em constante mudança. Então, o autodesenvolvimento e a autodireção em aprendizagem são promovidos como mutuamente benéficos para o indivíduo e para a organi- zação. De acordo com Temporal (apud Antonacopoulou, 2000), do ponto de vista do indivíduo, o autodesenvolvimento pode aumentar a autoconfiança e 45o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional ajudar a desenvolver habilidades latentes, as quais melhorariam a iniciativa e o desempenho de trabalho. Ele poderia auxiliar os indivíduos a estarem mais disponíveis e mais preparados para expressar suas opiniões, e isso poderia de- senvolver suas habilidades para resolver problemas e lhes proporcionar uma perspectiva mais ampla. O autodesenvolvimento pode encorajar os indivíduos a serem mais construtivos em suas relações e motivá-los ao aperfeiçoamento. Desta forma, o autodesenvolvimento pode ser visto pelas empresas como uma estratégia apropriada para o desenvolvimento de pessoas à luz das in- certezas presentes porque permite a flexibilidade necessária e a autodireção no processo de desenvolvimento, facilitando uma resposta mais imediata às variações das necessidades dos indivíduos e das organizações (Pedler, 1986; Stewart; Hamlin, 1994). Quando Moscovici (1995) aborda a questão do desenvolvimento geren- cial, comenta que este é, acima de tudo, autodesenvolvimento. Na sua visão isto significa que o gerente assume a responsabilidade pelo seu próprio desen- volvimento. A organização é responsável pelo provimento de condições que propiciem o desenvolvimento de cada gerente, mas a este cabe o esforço extra pessoal para aproveitar e buscar oportunidades de desenvolvimento. Este en- foque aponta o plano das atitudes como prioritário na competência gerencial: o autodesenvolvimento é uma atitude adquirida, de interesse e de esforço com relação a dificuldades, desafios e oportunidades. Já para Stickland (1996) há duas abordagens para o autodesenvolvi- mento. O argumento empresarial apoia-se na ideia de que a sobrevivência da empresa num ambiente de rápidas mudanças econômicas requer funcionários flexíveis e orientados para a mudança. O processo de autodesenvolvimento gera uma mentalidade de mudança por encorajar os indivíduos a buscarem e a alimentarem mudanças dentro deles mesmos. Isto leva ao hábito de aprender a aprender, e este processo, conduzido no ambiente organizacional, é assimi- lado dentro do papel do trabalho. Assim, as pessoas aprendem a ser flexíveis e adaptáveis ao se depararem com novos desafios nos negócios. Segundo o autor, a outra visão é a de que existe um argumento para o autodesenvolvimento como um conceito puramente de automotivação, dentro ou fora da organização: um grande plano pessoal que se coloca entre o trabalho e a organização, enquanto o indivíduo busca um senso de realização na vida mais do que simplesmente um papel em particular no trabalho. Esta é a visão pessoal. Tal ideia não é fortemente conectada a um papel imediato no trabalho como na visão organizacional, portanto sua força para promover a consciência de mudança não é facilmente reconhecida por gerentes. Infelizmente, de acor- do com Stickland, esta é uma visão que muitos administradores preferem não considerar. Na definição de uma estratégia organizacional para o autodesenvolvi- mento existe, portanto, uma necessidade de se considerar duas abordagens distintas. Uma abordagem que vê o indivíduo como um “recurso” para a orga- nização atingir seus fins, e outra, que vê a organização como um veículo para o crescimento pessoal. Iniciativas individuais precisam ser projetadas e implementadas tendo como referência um plano estratégico. Sem isto, elas podem tornar-se efême- 46 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual ras ou intimidar a busca de uma visão do todo. Cada ação deve ser analisada para estabelecer uma articulação com a visão estratégica, fazendo avançar a visão e se relacionando com outras iniciativas. Esforços e investimentos em autodesenvolvimento não irão progredir se a cultura da organização não per- mitir enganos, não aceitar a necessidade de crescimento e de ascensão do indivíduo profissionalmente e não criar o espaço para iniciativa. Além disso, se há oportunidades limitadas para a promoção e o indivíduo não vê o espaço para crescer na organização, também será provável que isto limite o autode- senvolvimento. (Pedler et al. 1990) Temporal (1984) também comenta que, para a organização, o autode- senvolvimento permite-lhe continuar com a dinâmica de mudança, bem como encoraja os gerentes a pensar positivamente em mudança e melhoria. Além disso, estimula a participação e pode aumentar o compromisso dos indivídu- os para com a organização. Como parte da estratégia de Gestão de Pessoas, pode simplificar o gerenciamento de carreiras e planejamento de sucessão, pois clarifica as forças e fraquezas de indivíduos, expectativas, ambições, pre- ferências e experiências. Os processos de captação e decisões de promoção também podem melhorar e serem mais prontamente compreendidos pelos in- divíduos que contribuíram para avaliar suas próprias realizações. Além disso, autodesenvolvimento para Recursos Humanos pode ser um caminho de maior eficiência com menor custo (cost-effective) em desenvolvimento. Finalmente, de acordo com Antonacopoulou (1999), o autodesenvolvimento proporciona à organização gerentes que aprendem. Os benefícios percebidos pela organização ao introduzir o autodesenvol- vimento são afetados pela forma como ele é implantado e integrado a outras atividades de Gestão de Pessoas.Desta forma, a maneira como o Desenvolvi- mento de Pessoas terá que buscar equilibrar as prioridades organizacionais com o desenvolvimento individual e com a interação entre fatores individuais e organizacionais é questão central no tema autodesenvolvimento. Novas políticas e ações de treinamento, desenvolvimento e educação são orientados para uma abordagem mais centrada no indivíduo, com ênfase na res- ponsabilidade pessoal com seu próprio desenvolvimento (Pedler et al., 1990). É muito comum que as empresas que introduzem o autodesenvolvimento o façam pensando em prioridades adicionais a ele. Por exemplo, a prioridade ao utilizar o autodesenvolvimento poderá estar na redução de custos com treinamento e desenvolvimento ou em querer tornar-se uma organização de aprendizagem ou, ainda, no fornecimento de maior flexibilidade ao processo de desenvolvimento, revelando assim, algumas das características de sua cultura e de sua ética em relação ao desenvolvimento de pessoal. FOrMaS dE PrOPiCiar O aUTOdESEnVOLViMEnTO a importância De acordo com London e Smither (1999), um modelo motivacional de autodesenvolvimento pode ser traçado a partir de algumas considerações. As 47o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional mudanças organizacionais conduzem à necessidade de um ambiente de traba- lho de maior autonomia e delegação – que fornece feedback de informações, oportuniza escolhas com consequências claras, reconhece os problemas que os indivíduos enfrentam e provê uma razão para agir. Características como uma maior autorização, autonomia, e uma cultura de aprendizagem contínua dão suporte ao autodesenvolvimento (busca de feedback, fixação de metas e dire- cionamento ao progresso), especialmente para as pessoas cujas características predispõem à autodeterminação. A receptividade para o autodesenvolvimento é incrementada quando há uma preocupação em ensinar às pessoas processos de pensamento construtivos e valorização do comportamento de autodetermi- nação. Desta forma, o autor propõe um modelo motivacional de autodesenvol- vimento conforme Figura 2.4. Como já mencionado anteriormente, a natureza do trabalho é continu- amente variável. Nos dias de hoje, por exemplo, o trabalho é cada vez mais realizado por equipes/grupos sendo organizado em torno de projetos. Desa- parecem cargos/funções, novas tecnologias são integradas às organizações e são demandados padrões de desempenho mais complexos. O que se tem propagado é que “os indivíduos têm de se preparar hoje para o amanhã”. Isto sugere que os funcionários precisam buscar informação para identificar lacu- nas de competências, reconhecer áreas para melhorar o desempenho atual, manter-se atentos ao ritmo de avanços na sua profissão e antecipar-se a como as mudanças no ambiente e na sua organização podem afetar as demandas de trabalho e as exigências de competências. Em contrapartida, as organizações precisam comunicar as diferentes oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento de carreira; avaliar a mudança de competências requeridas para tipos diferentes de funções e em diferentes níveis da organização; revisar currículos de treinamento, desenvol- vimento e educação, buscando desenhar novos programas de desenvolvimen- to baseados nas mudanças das necessidades organizacionais. Conforme London e Smither (1999) em organizações de pequeno porte e em organizações que necessitam mudar rapidamente em resposta ao am- FigUra 2.4 Modelo motivacional de autodesenvolvimento. fonte: adaptado de London e smither (1999). autodeterminação para aprendizagem Mudanças ambiente de autodesenvolvimento organizacionais autonomia Características individuais 48 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual biente variável, uma superestrutura de funcionários, planos e programas de desenvolvimento gerencial tornam-se caros e quase impraticáveis. Essas or- ganizações podem prover os recursos que propiciam a aprendizagem, mas exige-se dos indivíduos cada vez mais responsabilidade pelo seu próprio de- senvolvimento. Em suma, conforme os autores, o autodesenvolvimento é importante para indivíduos que estão em empresas financeiramente restritas, orientadas para a qualidade e rapidamente mutáveis. Por conseguinte, os funcionários precisam conhecer as metas organizacionais, as exigências de desempenho e as suas competências para satisfazer às expectativas organizacionais de hoje. Também necessitam de informação sobre os possíveis direcionamentos organizacionais, as implicações para exigências futuras de desempenho e o que é necessário fazer para satisfazer a estas expectativas mutáveis. Ne- cessitam considerar se podem ser melhores na sua ou noutra organização, encontrando e preparando-se para outras direções de carreira. Eles precisam engajar-se na aprendizagem contínua para manter-se no mesmo nível e rit- mo das mudanças organizacionais e assegurar seu desenvolvimento e sua contribuição para a organização. Nesta perspectiva, London e Smither pro- põem que os componentes para o autodesenvolvimento sejam os mostrados no Quadro 2.2. No Quadro 2.2 estão resumidos os aspectos fundamentais requeridos para a capacitação via o autodesenvolvimento e aprendizagem contínua. Nas organizações de hoje os funcionários são levados a reconhecer que a apren- dizagem é um processo que ocorre ao longo da carreira. Isto requer que sai- bam buscar feedback, comparar feedback para expectativas de performance presentes e futuras, estabelecendo metas de desenvolvimento e identificando progressos. Para isso, a organização deve provê-los com recursos tais como feedback, coaching e experiências de desenvolvimento para dar suporte ao au- todesenvolvimento e à aprendizagem contínua. Esses mecanismos de apoio precisam ser projetados de forma que encorajem a autodeterminação. Este encorajamento acontece quando o feedback é informativo, e não, ameaçador, quando o contexto e as competências dos funcionários são levados em conta e quando os indivíduos têm escolhas de comportamento e compreendem as consequências destas escolhas. Terra (2000), examinando a vasta literatura existente sobre as principais condições que favorecem o aprendizado organizacional em grupo, identifi- cou que diversos autores apontam como aspectos facilitadores a existência de oportunidades para o autodesenvolvimento e o incentivo à autenticidade e à explicitação de modelos mentais. Os autores são Argyris (1999); McGill e Slo- cum (1995); Nonaka e Takeuchi (1997); Senge (1990); Schein (1986, 1996); Ülrich, Jick e VanClinow (1993); Zarifian (1992). Já Senge sugere outras formas de propiciar domínio pessoal, conforme apresenta o Quadro 2.3 (p. 50). As pessoas envolvidas em relações de tutoriamento aumentam a reflexão e a qualidade das conversas, criando uma cultura de se pensar a respeito de aspectos significativos. Algumas considerações sobre o tutoriamento: 49o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional praticamente qualquer um pode ser um tutor efi caz. uma relação de tutoriamento deve ser voluntária de ambas as partes: um tutoriamento proveitoso requer confi ança e r espeito mútuos. tutores não fornecem soluções, mas facilitam a aprendizagem. tutores só podem existir em uma organização imbuída de integridade: quando se é tutor ou orientador de alguém, dá-se conselhos em relação ao seu futuro e representa-se a empresa para eles. relações de tutoriamento não são permanentes. tutoriamento de pessoas “de rápido crescimento” é uma estratégia de alta alavancagem. Deve-se evitar o pseudotutoriamento: é importante não confundir tutoriamento com contatos políticos, pois esses tipos de relacionamentos podem ser desagradáveis. QUadrO 2.2 COMPOnEnTES dO aUTOdESEnVOLViMEnTO a organização/gerência oportuniza aos funcionários: 1. Feedback informacional (não ameaçador, sem controle) que foca a atenção no funcionário e destaca comportamentos específi cos que precisam ser diferentes. 2.Avaliação 360 graus. 3. clareza das metas organizacionais, prováveis direcionamentos organizacionais e implicações para exi- gências de desempenho futuros. 4. escolhas de comportamento com consequências claras (i.e., os funcionários não são pressionados a pen- sar e a se comportar de certos modos). 5. solicitações que minimizam pressão e permitem autonomia. 6. uma razão para ação que tenha signifi cado pessoal. 7. Autoridade para tomar decisões que afetam resultados importantes. 8. recursos (incluindo treinamento) para possibilitar o desenvolvimento. 9. Autogestão do treinamento e desenvolvimento. 10. pacote de ferramentas de métodos de self-paced (para plano de desenvolvimento). 11. plano de remuneração baseado em competências. 12. um processo de captação que identifi ca os candidatos abertos para experiência, consciência, controle interno, incerteza e autoefi cácia. a organização/gerência cria um clima em que: 1. funcionários podem interagir diretamente com todos os outros (independentemente de nível, função/ cargo ou departamento). 2. objetivos são fi xados pelos indivíduos que têm a responsabilidade de atingi-los. 3. os indivíduos e grupos (equipes) são responsáveis pelas decisões. 4. o uso de novas competências no trabalho é recompensado. 5. espera-se que os gerentes sejam coaches, fomentadores e treinadores. 6. Assegura-se aos gerentes e funcionários aprendizagem contínua (mensurando e recompensando pela aprendizagem). Funcionário: 1. É, em última instância, responsável por reconhecer suas necessidades de desenvolvimento. 2. Assume responsabilidade pela sua própria aprendizagem. 3. Busca ativamente feedback de desempenho. 4. compara competências atuais e futuras a partir da autoavaliação. 5. investiga e busca oportunidades para o desenvolvimento. 6. estabelece e desenvolve metas, avalia seu progresso e ajusta seus objetivos. 50 parte i – estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual Conforme Pedler (1994), existem quatro grandes tendências para a apli- cação do autodesenvolvimento nas organizações, as quais se encontram no Quadro 2.4 (p. 51). Não se tem a pretensão de abranger, aqui, e esgotar todas as práticas ou iniciativas para o autodesenvolvimento existentes nas organizações, mas sim sinalizar algumas direções e abordagens que vêm sendo adotadas, na maioria dos casos, isoladas ou sem intencionalidade. QUadrO 2.3 FOrMaS dE PrOPiCiar dOMÍniO PESSOaL departamento de o “domínio pessoal” não deve ser responsabilidade atribuída ao departamento de “Transformação e descoberta” novos sistemas de avaliação Sistema de informação antecipada Promoção de reuniões regulares Coaching Tutores treinamento e Desenvolvimento de rH da organização. este departamento deve apenas assumir o papel de supridor da aprendizagem para as pessoas que buscam suas visões, oferecendo um suporte através de mais cursos, de treinadores externos, e de aprendizado auxiliado por computador, avaliando seus sucessos na real “transformação” dos aprendizes. Da mesma forma, “descoberta” não significa ensinar as pessoas a descobrir, mas empenhar-se ativamente em descobrir a “si próprio”, antecipando-se continuamente às necessidades e aos interesses das pessoas (senge, 1990). A avaliação de desempenho deve ser um diálogo interativo. A visão pessoal e a realidade presente proporcionam um veículo apropriado para redesenhar as avaliações de desempenho. Disponibilizar um quadro claro do que está ocorrendo na realidade presente aos funcionários, para que possam desenvolver sua visão pessoal (senge, 1990). promover reuniões semanais, por exemplo, para conversar sobre a visão e a realidade presente dá às pessoas uma estrutura na qual elas podem estabelecer e revisitar a tensão criativa. As pessoas podem se utilizar mutuamente como um recurso. elas podem orientar umas às outras na articulação e no enriquecimento da sua visão com base no que lhes importa. elas podem aprender mais acerca de si mesmas e da realidade presente com experiências recentes e desenvolver pequenos projetos experimentais que revelem os pontos fortes e os limites de suas próprias habilidades criativas (senge, 1990). “A essência do coaching é ouvir. um bom orientador faz perguntas. oitenta por cento do trabalho envolve ajudar as pessoas a esclarecer suas mentes a respeito das coisas que devem dizer”. “[...]devem combinar conhecimento em relações humanas (comunicação e trabalho em equipe) e conhecimento técnico e financeiro.”[...] “deve se relacionar às questões práticas do negócio, que estão levando a equipe a aprender. [...] em grupos, atuam mais como facilitadores, ajudando a criar uma atmosfera de segurança”. o coaching bem-conduzido depende de feedback adequado – o orientador coach) dev( e fornecer críticas honestas, sinceras, convincentes e úteis sobre o comportamento das pessoas, avaliando e aprendendo eficazmente com as coisas que as pessoas dizem a seu respeito” (senge, 2000). De acordo com Bill o’Brien, “uma relação de tutoriamento envolve duas pessoas – que podem ou não se reportar uma à outra – que dão atenção especial ao desenvolvimento de ambas. frequentemente alguém com maior experiência incentivará o crescimento de uma pessoa mais jovem, mas as grandes relações de tutoriamento são recíprocas. De qualquer forma, é um ativo de valor extraordinário.” (senge, 2000, p. 159). 51o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional Oriente-se: estudo sobre o tema De acordo com pesquisa desenvolvida por Mayo e Lank (1994), algu- mas empresas implementam grupos de desenvolvimento associado à ideia de autodesenvolvimento. Reúne-se por um período, um grupo de gerentes de distintas áreas da organização (denominado evento de diagnóstico). A direção compartilha os objetivos da empresa, são realizadas sessões de trabalho para o autodiagnóstico de estilos de aprendizagem e competências e os participantes desenvolvem um plano pessoal de desenvolvimento. Após, grupos de quatro a seis gerentes reúnem-se regularmente durante um ano – ou, se desejarem, por mais tempo – para fomentar o desenvolvimento de cada pessoa. As em- presas têm concluído que a pressão dos pares de trabalho é um agente moti- vador eficaz para que se sucedam os planos de desenvolvimento acordados. Os membros dos grupos são selecionados com base em competências com- plementares para desenvolverem-se uns aos outros e contribuir, assim, para a aprendizagem de cada um. Os grupos têm se mostrado uma boa oportunidade para os gerentes aprenderem a ser mais eficazes no trabalho com grupos de homólogos de outros limites funcionais e organizacionais. Estes grupos facilitam o trabalho, fomentam a mentalidade aberta e a franqueza, ajudam a construir a confiança e aconselham acerca das possibi- lidades opcionais de desenvolvimento em vista das necessidades individuais. Nesse enfoque estão presentes tanto benefícios como alguns inconvenientes, conforme o Quadro 2.5. COnSidEraÇõES FinaiS Ao finalizar este capítulo, constata-se na literatura referenciada a exis- tência de, no mínimo, duas grandes abordagens para o autodesenvolvimento. QUadrO 2.4 TEndênCiaS Para a aPLiCaÇãO dO aUTOdESEnVOLViMEnTO gerenciamento da própria aprendizagem igualdade de programas como ensino a distância, aprendendo a aprender, comunidades de aprendizagem e autogerenciamento da aprendizagem. Grupos com mulheres, negros, minorias étnicas. oportunidade no trabalho desenvolvimento sessões de autoavaliação, planejamento de carreira, atividades com biografia, etc. de carreira Learning company expressão que causa polêmicas, mas tenta dar uma noção mais holística ao autodesenvolvimento. utiliza-se de programas tais como Avaliação dos efeitos organizacionais dos Grupos de Autodesenvolvimento, Qualidade na organização, Desenvolvendo pequenos Negócios via Autodesenvolvimento. fonte: pedler (1994). 52 parte i – estratégias para o desenvolvimentoorganizacional e individual QUadrO 2.5 VanTagEnS E BEnEFÍCiOS dE UM PrOgraMa dE aUTOdESEnVOLViMEnTO EM nÍVEL gErEnCiaL POnTOS FOrTES • As pessoas chegam a uma compreensão compartilhada da direção global do negócio. • A responsabilidade de desenvolvimento se situa nos indivíduos com apoio da empresa. • Os planos de desenvolvimento são baseados no alto nível de conhecimento de si mesmo e numa esco- lha própria, aumentando a probabilidade de que sejam implementados com entusiasmo. • O processo ajuda às pessoas a aprenderem a aprender: além do desenvolvimento em curto prazo das competências vai-se construindo, a longo prazo, uma capacidade de adaptação constante. POnTOS FraCOS • O processo é extremamente escasso de recursos, tanto em relação ao tempo da alta direção quanto a facilitadores. • O processo diagnóstico não obtém mudanças de competências por si só; deve-se investir posteriormente em atividades de desenvolvimento para que as competências sejam uma realidade. • Quando é essencial fazê-lo, tem-se pouco tempo e já se tenha identificado relativamente bem a necessidade das competências, um programa de Aprendizagem Autogestionada provavelmente não é a solução adequada. • O custo para programas de um evento de diagnóstico não é necessariamente um investimento provei- toso para cada pessoa; alguns determinados grupos amortizarão o investimento, porém outros poderão utilizar métodos com menos custos, como questionários de autoavaliação baseados em software. • Quando é utilizado apenas para redução de custos em programas de TD&E. fonte: mayo e Lank (1994). Uma abordagem de perspectiva mais processual, cujo eixo de análise é o indi- víduo e seu autodesenvolvimento a partir das dimensões de desenvolvimento, da noção da pessoa no seu todo e de responsabilidade pessoal, considerando ainda como elementos-chave para este processo a autoconsciência, o auto- conhecimento, a reflexão e a experimentação, o que implicaria fundamen- talmente na busca de emancipação do indivíduo. Cabe ainda sinalizar que, resgatando a bagagem de conhecimentos/experiências do indivíduo em seu cotidiano, possibilitando-lhe apropriar-se da mesma, contribui-se para o seu autodesenvolvimento, ou seja, o indivíduo estará ampliando seu repertório de respostas às situações que se apresentam em seu dia a dia. Ao reapropriar sua experiência profissional/pessoal, espera-se que o indivíduo possa redimensio- nar situações com as quais se depara a partir de uma perspectiva diferente. Como se pode observar, trata-se da aplicação da dinâmica abordada no início do capítulo: a relação entre ação-reflexão e aprendizagem. Contudo, é impor- tante que se pense acerca desta noção: as empresas modernas podem tornar- se um espaço para o exercício da emancipação do indivíduo, voltado para a liberdade de escolha do sujeito quanto ao seu processo de aprendizagem? Não seria ingenuidade ter esta expectativa? De acordo com estudo realizado por Antonacopoulou (2006), o contexto organizacional e societal tem significativa importância para os indivíduos, que “procuram ou não” aprender o “o que” e o “como” que são mais valorizados 53o autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional pela organização e pelo mercado de trabalho, seja para manutenção de seu status quo ou para manutenção de uma identidade profissional. Enfim, são limitados pela ideia dominante de aprendizagem para a empresa em que estão inseridos; consequentemente, o impacto da sua aprendizagem na organização também é limitado. A segunda abordagem atribui ao autodesenvolvimento uma perspectiva de estratégia a ser adotada pelas organizações no sentido de alavancar processos de mudança e melhorias organizacionais; simplificar alguns processos de ges- tão de pessoas; obter maior eficiência com um menor custo nos sistemas de gestão de pessoas; desenvolver “gerentes que aprendem”; e “encurtar o tempo” necessário para o desenvolvimento dos sujeitos. Esta vertente é a mais comu- mente utilizada e, habitualmente, sua lógica é a de isenção de responsabilidades e redução de custos na formação e desenvolvimento de seus profissionais. Os estudos e as publicações sobre o tema autodesenvolvimento são es- cassos no Brasil, bem como na literatura internacional. O objetivo deste texto foi despertar o interesse do leitor e subsidiá-lo com algumas informações so- bre a temática a partir da perspectiva da aprendizagem nas organizações – que pode ser visualizada na Figura 2.5 – bem como instigar uma reflexão acerca dos reais objetivos quando da criação e implantação de programas voltados para o autodesenvolvimento. nOTa 1. A ciência da ação assume que há uma teoria-em-uso por trás de toda ação, um processo lógico de argumentação dentro da mente. Esta teoria-em-uso pode ser muito diferente das teorias adotadas por uma organização ou indivíduo. A aprendizagem de double- loop questiona estas teorias-em-uso de forma a melhor articulá-las, entendê-las e, pos- sivelmente, melhorá-las. FigUra 2.5 diagrama: autodesenvolvimento e aprendizagem nas organizações. em que: aprendizagem organizacional: entendida de forma ampla, envolve todas as formas de aprendizagem no contexto da organização. aprendizagem grupal: à medida que os indivíduos compartilham experiências vivenciadas e conhecimentos. aprendizagem individual: ocorre no âmbito das organizações. autodesenvolvimento: um dos sustentáculos da aprendizagem organizacional. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor Nesta videoaula, você conhecerá mais sobre a importância e a formação do autodesenvolvimento. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/c99d599aa4c8de3d35803a9e8ca407ee Exercícios 1) O autodesenvolvimento (aprendizado e desenvolvimento contínuo) é um elemento-chave para a gestão de competências e ganhou mais força a partir dos anos 80, em virtude de crises financeiras e de desemprego, que aconteceram nos anos 60 e 70. Além dessas crises, o mundo corporativo se viu em transição para evoluir juntamente com a tecnologia e o mercado. Esse processo de mudança caracteriza a atualização de valores e/ou conceitos que houve naquela época e que vigoram até hoje. Pensando especificamente num gestor de Recursos Humanos, quais as situações que mais estimulariam o seu desenvolvimento profissional? A) Somente o treinamento com base na aprendizagem. B) Falta de capacitação da sua mão de obra e necessidade de conhecimentos para ocupar o posto de trabalho. C) Ambiente organizacional individualista versus ambiente organizacional interativo. D) O indivíduo (eu) versus coletivo (o outro, a organização e o mercado). E) O cenário de uma administração direcionadora, centralizadora e provedora versus administração facilitadora, "aprender com o aprender" e um suporte para executar os processos. 2) É importante considerar que o ambiente de trabalho vem sofrendo mudanças cada vez mais orientadas para o sucesso e desenvolvimento dos indivíduos. Uma ferramenta de aprendizagem eficaz nesse processo é a reflexão. A partir disso e do conceito de autodesenvolvimento, refletir sobre uma situação, seja ela boa ou ruim, é adequado para: A) O ser humano identificar suas fragilidades, apenas. B) Os indivíduos terem tempo suficiente para pensar em seu modo de agir – é o suficiente. C) A soma indivíduo e organização resulta em uma ação eficiente, independentemente dos objetivos de cada um. D) O autodesenvolvimento ser aprimorado a partir da perspectiva de "aprender com o aprender". E) Identificar oportunidades de crescimento pessoal e profissional, somente. 3) ("Todos os seres humanos - não apenas os profissionais - necessitam tornar-se competentes em tomar uma ação (agir) e simultaneamente refletirsobre esta ação e aprender a partir dela") em Gestão Contemporânea de Pessoas - 2.ed.: Novas Práticas, Conceitos Tradicionais, 1974, p. 34. Talvez seja por isso que exista o ditado que as dificuldades nos tornam melhores, seja no âmbito profissional, seja no pessoal. É importante, também, que os erros e/ou falhas cometidos sejam percebidos pela lente do autodesenvolvimento, considerando o ponto de vista prático nas organizações, porque: A) Podemos amadurecer e utilizar a reflexão para tomarmos atitudes. B) Iremos perceber que os erros cometidos deixam graves lacunas em nosso desenvolvimento. C) Seremos capazes de entender que o mercado é mutante e que o trabalho deve girar para se evitar erros. D) Reconheceremos também nossas fraquezas e iremos saná-las para não mais errarmos. E) Estaremos em sintonia com os processos dentro da organização e perceberemos que determinados erros são atitudinais. 4) As três dimensões trabalhadas no livro Gestão contemporânea de pessoas: novas práticas, conceitos tradicionais, por Pedler, são bastante importantes no processo de autodesenvolvimento, sendo elas: desenvolvimento, a pessoa no seu todo e a responsabilidade pessoal. Esses três conceitos englobam o processo de autodesenvolvimento como um processo de crescimento. A partir deste texto e utilizando o exercício de reflexão, é possível concluir que a teoria mencionada quer transmitir nessas três definições o comportamento do ser humano individualmente e em relação. A partir disso, seriam atitudes práticas: A) Integrar com o meio corporativo, saber o que se quer e ter metas de vida. B) Ter conhecimento do que posso fazer, conhecimento do que sei e conhecimento de quem sou e de quem desejo ser. C) Estar em constante processo de mudança, ter metas pessoais e interesse particular para se desenvolver. D) Ter conhecimentos, habilidades e atitudes coerentes com o trabalho a ser feito. E) Ter conhecimento, autorreflexão e autoconsciência. 5) "O desenvolvimento não é apenas um assunto para expert, pois trata-se de uma questão que envolve vontade e determinação pessoal para comprometer a si mesmo com um processo que o indivíduo valoriza e acredita (Burgoyne et al.,1996; Pedler, 199). O indivíduo é, então, livre para escolher as metas, decidir como alcançá-las, iniciar a ação para realizá-las e avaliar seu sucesso (Megginson, 1993; Pedler et al., 1990). Nessa dimensão de desenvolvimento, o lugar do indivíduo é o controle (teoricamente, pelo menos) do processo de autodesenvolvimento." Gestão Contemporânea de Pessoas - 2.ed.: Novas Práticas, Conceitos Tradicionais, 1974, p. 40. Tendo em vista o exercício do processo da autoconsciência, quando nos referimos aos gerentes, assinale a alternativa que melhor descreve a questão comportamental correlacionada ao texto acima. A) Há muitos pontos a considerar no desenvolvimento da pessoa – vida familiar, relações importantes, crises de vida, saúde, idade e assim por diante, como também habilidades gerenciais, estilo e competência. Trabalho e vida dentro da organização são partes importantes e críticas da vida do gerente, mas não o seu todo. B) Gerenciar-me primeiro antes de fazer gestão. C) O domínio pessoal é a capacidade fundamental para que um indivíduo possa perseguir seus próprios valores, em vez de ser levado pelas circunstâncias. Os elementos fundamentais do domínio pessoal são a percepção clara da realidade e a consciência firme dos próprios propósitos. D) O papel do desenvolvimento gerencial e do treinamento das pessoas torna- se menos provedor, direcionador e iniciador para ser mais facilitador, gerador de recursos, conselheiro e de suporte. E) O autodesenvolvimento acontece quando o indivíduo encontra o significado e o sentido pessoal provindos de eventos particulares ou experiências resultantes de sua interação real ou simbólica com alguma parte de seu ambiente. Então, quando estabelece metas de autodesenvolvimento, o indivíduo não pode estar separado daquilo que faz. Na prática Veja agora uma situação prática de autodesenvolvimento. Soluções diferenciadas como esta só são possíveis a partir da vivência no ramo e experiências adquiridas através do autodesenvolvimento, que pode, em curto prazo, maximizar a lucratividade, reduzir as perdas, otimizar os pedidos, melhorar o atendimento ao cliente e tornar os treinandos futuros multiplicadores no setor. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Vencedores não esperam Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. A maior competência de todas as competências: saber lidar com conflitos! Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. O que é autodesenvolvimento Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.infomoney.com.br/colunistas/sua-carreira-seu-maior-investimento/vencedores-nao-esperam/ https://www.linkedin.com/pulse/maior-compet%C3%AAncia-de-todas-compet%C3%AAncias-saber-lidar-com-andrea-xavier https://www.youtube.com/embed/RG65Wzcx_t8
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