Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
W BA 08 09 _V 1. 0 GESTÃO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE 2 Leonardo Ferreira São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 GESTÃO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Talita Helena Landiva Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)______________________________________________________________________________________ __Ferreira, Leonardo F383g Gestão da qualidade e produtividade / Leonardo Ferreira, São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 44 p. ISBN 978-65-89965-33-6 1.Histórico e conceitos de produtividade. 2. Layout. 3. CEP. I. Título. CDD 658.562 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Histórico e conceitos de produtividade _______________________ 05 Layout e o impacto do arranjo físico. ________________________ 19 CEP, MRP, Just in Time, Kanban e Kaizen _____________________ 33 Key performance indicators (KPI) _____________________________ 48 GESTÃO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE 5 Histórico e conceitos de produtividade Autoria: Leonardo Ferreira Leitura crítica: Talita H. Landiva Objetivos • Reconhecer os conceitos de produtividade e a evolução dos processos. • Calcular os índices de produtividade. • Proporcionar melhoria nos processos produtivos. 6 1. Produtividade Nesta aula, você estudará e compreenderá o conceito de produtividade e sua importância no ambiente empresarial. Você provavelmente já ouviu falar sobre produtividade, aliás é possível que seja cobrado por produtividade na empesa em que trabalha. As organizações definem suas metas e objetivos, e posteriormente é realizado um acompanhamento através de indicadores de performance /ou desempenho que permitem identificar avanços, melhorias, correção de problemas, necessidades de mudanças, entre outros, sendo um dos principais indicadores de performance é o de produtividade. Figura 1 – Indicadores de performance Fonte: anyaberkut/iStock.com.com. Vale lembrar que um dos índices de produtividade de um país utiliza- se o PIB (Produto Interno Bruto) confrontado com o número de 7 profissionais ativos (trabalhando). E infelizmente nossos resultados (Brasil), não são muito bons. Trabalhar a produtividade de um pais é essencial para crescimento, mas vamos aqui focar no nosso negócio, pois se cada indústria e negócio melhorar seus resultados, consequentemente estamos melhorando uma nação (pode parecer poético, mas é uma verdade). Vale recorder o conceito de produção, que é a transformação de entradas (inputs) em saídas (outputs). Dessa forma, podem ser consideradas como principais entradas a serem transformadas: materiais e produtos; informações, pessoas (em caso de serviços); e entradas transformadoras: máquinas e equipamentos, recursos humanos. As saídas são os produtos e serviços resultantes do processo de transformação. Figura 2 – Sistema de produção Fonte: adaptado de Martins e Laugeni (2010). Vamos exemplificar: uma indústria manufatureira que produz suco em embalagens longa vida, necessita de frutas, corantes, aromatizantes, água, embalagem, entre outros ingredientes da receita. Além disso, necessitam de máquinas e equipamentos, espaço físico (fábrica), 8 pessoas, informações (referentes a demanda, boas práticas de fabricação, legislação etc.). A empresa utilizará todas estas de entradas e realizará a transformação através de suas atividades produtivas, tais como o processamento das frutas, preparação do suco e envase nas embalagens. Como resultado (output), temos o produto pronto para ser comercializado. O desafio da organização é conseguir melhores resultados, utilizando de melhor forma seus recursos (entradas). Onde entra o indicador de produtividade? Com base na exemplificação, podemos considerar o resultado final de suco, em relação aos recursos disponibilizados, como uma consequência da efetividade de um processo produtivo, isso quer dizer que à medida que a produção é eficaz (resultado) e eficiente (método – como), maiores níveis de produtividade serão alcançados. A produtividade pode ser considerada a relação entre o produzido (saídas–output) e os recursos utilizados para produzir (entradas–input). E pode ser representado pela formula (LEONARDO, 2016). Proditividade = Vamos compreender melhor o que são os termos output e input: Inputs (entradas) = recursos necessários para a realização da produção (transformação), podendo ser transformáveis (exemplo: materiais e informações) ou de transformação (exemplo: máquinas e equipamentos, estrutura física e mão de obra). Outputs (saídas) = saídas (resultados) do processo produtivo, sendo os principais: bens e/ou serviços, informações e financeiro. Produtividade é minimizar cientificamente o uso de recursos materiais, mão de obra, máquinas, equipamentos etc., para reduzir custos de produção, expandir mercados, aumentar o número de empregados, lutar por aumentos reais de salários e pela melhoria do padrão de vida, no output input 9 interesse comum do capital, do trabalho e dos consumidores. (SANTOS, 2006, p. 1) Por quais motivos as empresas devem medir a produtividade? Algumas razões são apresentadas por Arruda e Gomes (apud KING, 2007 p. 4): • Os indicadores de produtividade apoiam-se no desenvolvimento do planejamento da empresa, não somente porque exercem o papel de um instrumento de medida para mostrar se os objetivos estratégicos estão sendo atingidos ou não, mas porque mostram de uma maneira mais segura, onde a empresa deve concentrar esforços para se tornar mais produtiva. • Com um correto sistema de indicadores, os colaboradores tornam- se mais conscientes sobre o que é produtividade. Ao invés de um conceito abstrato, a produtividade ganha uma dimensão mais concreta. • Utilizando os indicadores de produtividade como uma ferramenta de diagnóstico, será possível identificar áreas problemáticas que requerem atenção imediata e então implementar melhorias. • Em programas de incentivo ou de distribuição dos resultados é mais eficiente interligar melhorias ou crescimento da produtividade com aumento de salários. • Um sistema de indicadores de produtividade devidamente integrado com a distribuição dos resultados financeiros irá contribuir na melhoria do padrão de vida das pessoas. (ARRUDA; GOMES apud KING, 2007 p. 4) 10 Para aumentar a produtividade é preciso inserir tecnologias junto aos processos produtivos, criando competências adequadas as organizações. Pensando em nível amplo e sua respectiva aplicação e impactos em um país, é importante entender que a produtividade da economia não depende dos indivíduos, é algo sistêmico; e que trabalhadores inseridos em ambientes tecnológicosserão mais produtivos pois as características intrínsecas da indústria sobressairá. O estabelecimento de processos, melhores e mais tecnológicos, possibilita uma visão para a eliminação de desperdício e foco na qualidade. Conforme informações da Forbes (2019), em muitos países, uma longa semana de trabalho não significa, necessariamente, níveis mais altos de produtividade. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), trabalhadores do México, Coreia do Sul e Grécia tem as mais altas cargas horárias do mundo, com médias de 2.257, 2.024 e 2.018 horas trabalhadas por ano, respectivamente, em 2015. No entanto, quando se trata de produtividade do trabalho nos três países, a história é muito diferente. Em 2017, o PIB por hora trabalhada em relação ao total da economia foi de apenas US$ 21,6 no México, US$ 37 na Coreia do Sul e US$ 38,9 na Grécia. E no Brasil? Levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do O GLOBO(2018), um empregado brasileiro gera, em média, US$ 16,80 (ou R$ 78,12) por hora trabalhada. Em comparação, na Alemanha, os empregados são quase quatro vezes mais produtivos do que os brasileiros (produzem US$ 64,40 por hora), e trabalham, em média, 340 horas menos por ano que o trabalhador no Brasil (O GLOBO, 2018) Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil não vai bem há três décadas e as perspectivas para o futuro não são nada favoráveis. A baixa qualificação da mão de obra brasileira, a falta de investimento 11 em inovação, o perfil do setor produtivo, que concentra a maior parte da mão de obra em setores mais informais, como comércio e serviços, e a economia ainda bastante fechada à concorrência estrangeira (O GLOBO, 2018). Voltando ao ambiente empresarial/ gestão da produção, onde podemos subdividir a produtividade em: Produtividade parcial: é umas formas de mensurar a produtividade, como o próprio nome descreve, não considera todas as variáveis, avaliando um percentual do processo produtivo. Normalmente, são avaliadas a produtividade da mão de obra, de uma máquina ou equipamento, do capital financeiro. Vejamos um exemplo: Uma empresa de usinagem produz peças automobilísticas, sendo 4000 unidades em dois turnos diários de oito horas (total de 16 horas), e utilizando duas máquinas. Qual a produtividade das máquinas? Podemos considerar como entrada (input) = 16 horas x 2 máquinas = 32 horas/máquinas Como saída (output) = 4.000 unidades produzidas Produtividade total: este cálculo é mais abrangente, trazendo a somatórias dos resultados parciais. Ou seja, é a relação de todas as entradas com todas as saídas. Voltemos ao exemplo: Calculando todos os custos referentes aos inputs da fabricação de peças usinadas temos um valor de $50.000.000,00. Qual a produtividade total se a produção é de 1.500.000 caixas /ano? 12 Logicamente que as organizações querem melhorar seus índices e consequentemente ser mais competitivas, por isso Martins e Laugeni (2010) descrevem um fluxo (etapas) a serem seguidas, representada na Figura 4. Figura 4 – Ciclo da produtividade Fonte: Martins e Laugeni (2010). O ciclo de gestão da produtividade tem início no processo de medir os resultados de produtividade atual da empresa e/ou processo. Com os números em mãos, a segunda etapa consiste em analisar os dados/ informações e confronta-los com os objetivos organizacionais e também com os concorrentes e práticas de mercado, verificando a 13 competitividade. Com base nestas duas primeiras etapas, é possível realizar um planejamento alinhando os objetivos organizacionais a planos de ações (melhorias), visando, assim, melhorar os resultados da organização e/ou processo. A visão é bem ampla e, geralmente, mais estratégica, deverá ser desdobrada em todos níveis organizacionais (de planejamento: estratégico, tático e operacional), pois cada nível terá contribuições valiosas para o aumento de produtividade. Exemplo disso é que, a nível estratégico, podem haver destino de verbas para a aquisição de novas máquinas e abertura de um novo turno de trabalho, a nível tático um plano de produção que otimize os recursos e, no operacional, uma manutenção preventiva que garanta a disponibilidade do recurso quando necessário. Vejamos um exemplo prático das quatro etapas do ciclo de produtividade. A empresa Máquinas e Moinhos, produz máquinas agrarias e as comercializa por todo Brasil. A média de produção é de 650 unidades/ dia por meio de 1.300 colaboradores. Dessa forma, a produtividade parcial da mão de obra (MO) é de: Para aumentar a produtividade, algumas melhorias foram realizadas pela gestão da empresa, a se destacar: treinamento e capacitação da força de trabalho; ações que focavam a qualidade de vida dos funcionários, melhorando a motivação dos mesmos; investimento em tecnologia, por meio de equipamentos de movimentação e produção, otimizando o tempo e garantindo a saúde e segurança do trabalhador. Após essas melhorias, a produção passou para 770 unidades/ dia com menos colaboradores, apenas de 1.120 trabalhadores, e os demais 14 foram remanejados para outras áreas da empresa. Dessa forma, a produtividade parcial da MO passou a ser: Ao comparar as produtividades, antes das melhorias com a situação atual, podemos perceber um aumento de 37%. Agora, veremos alguns fatores/ variáveis que podem influenciar a produtividade e são apresentados do Quadro 1. Quadro 1–Fatores determinantes na produtividade Relação capital versus trabalho. Investimentos em máquinas, equipamentos e instalações, visando o ganho em produtividade. À medida que um parque industrial envelhece, perde produtividade. Escassez de recursos. A falta ou limitação de recursos produtivos ou associados. Exemplos: energia elétrica em 2001 e 2002, e que gerou muitos problemas na indústria nacional; período com maiores restrições durante a pandemia de 2020 e 2021, faltou materiais como embalagens, metal, vidro e madeira. Mão de obra. É necessário ter mão de obra qualificada e treinada para a realização da atividade. Inovação e tecnologia. É necessário estar atento às inovações e recursos tecnológicos. Estamos passando por uma nova revolução industrial, onde a automação e digitalização ganham força. Restrições legais. As exigências legais referentes ao negócio e região que implicam em adaptações onerosas. No Brasil são inúmeras as legislações e tributações. Fatores gerenciais. Envolve a liderança e a capacidade dos gestores em se empenharem em programas de melhoria de produtividade. 15 Qualidade de vida. Os aspectos afetam a vida do trabalhador não apenas em suas atividades ocupacionais. Este fator, por muitas vezes, é reflexo da cultura do ambiente em que a empresa está inserida. Muitas organizações se preocupam em melhorar a qualidade de vida de seus colaboradores, na certeza de que o retorno em termos de produtividade é imediato. Fonte: adaptado de Martins e Laugeni (2010). É evidente e crucial a busca por maior produtividade nas organizações, onde os resultados são reflexo da eliminação de desperdícios, melhor aproveitamento dos recursos, melhoria da qualidade, entre outros. Consequentemente, essas melhorias gerarão maior satisfação dos clientes, diferencial competitivo, novos mercados e aumento dos lucros. A competitividade de uma organização está atrelada a um conjunto de ações e melhorias (veja a Figura 5). Entretanto, não podemos alterar uma variável sem desconsiderar uma outra, ou seja, buscar a produtividade a qualquer custo, muitas vezes, faz com que gestores e empresas negligenciem alguns fatores produtivos, exemplo: aumentar a velocidade de uma máquina, sem considerar a interferência na qualidade. Figura 5 – Impacto econômico da melhoria da produtividade e qualidade 16 Fonte: adaptado de Martins e Laugeni (2010, apud EVANS, 1997). A busca pela melhoria da produtividade continua sendo fator primordial a ser alcançado, e podem ser decorrentes detrês ações: • Produzir mais outputs (saídas) usando o mesmo nível de inputs (entradas). Exemplo: mais produtos com o mesmo número de operadores (mão de obra). • Produzir a mesma quantia de outputs (saídas) usando menor nível de inputs (entradas). Exemplo: mesma quantidade de produtos com menos operadores (mão de obra). 17 • Produzir mais outputs (saídas) usando menor nível de inputs (entradas). Exemplo: mais produtos com menos operadores (mão de obra). Ainda, é importante entender as organizações sendo sistemas, composta por processos interdependentes e inter-relacionados, e que a produtividade também pode ser resultado deste relacionamento dentro da organização. Por este motivo, é necessária uma visão sistêmica da organização, e não apenas ações locais (departamento ou máquina). Para King (2007), a produtividade deve ser considerada de forma ampla, adaptando a eficiência à humanidade e harmonizá-la com o ambiente. Dentro deste contexto, comumente nos deparamos com o termo gargalo, este se refere a restrição do processo ou organização como um todo, e foi amplamente estudado e inclusive possui uma teoria especifica que é a Teoria das Restrições, em inglês, Theory of Constraints (TOC). Esta teoria é resultado do livro A Meta, do autor Goldratt (1997), onde utiliza a analogia de que as organizações são correntes, compostas de vários elos e que precisam trabalhar juntos para ter resistência. No entanto, a resistência de uma corrente não depende da mesma forma de todos os elos, mas do elo mais fraco, que é a restrição. O termo gargalo é uma analogia a parte de uma garrafa, que determina o volume de liquido que sairá de dentro da garrafa. Dentro das organizações não é diferente, o ritmo da produção depende do gargalo. Isso significa que se um determinado produto, ao ser fabricado, passa por dois recursos (máquinas), sendo que o primeiro processa dez unidades por hora e o segundo, apenas cinco unidades por hora. Dessa forma não importa o quanto a máquina um processará, pois somente sairão cinco unidades por hora (o limite do gargalo). Para melhorar a eficiência do processo, é preciso identificar quais são seus gargalos e melhorá-los e, quando possível, eliminá-los. No livro mencionado, o analogia é feita em uma trilha para o acampamento feitos pelos escoteiros, e o ritmo da caminhada é determinada pelo garoto gordinho: 18 quando ele está atrás, todos devem esperar; no meio da fila, os de frente esperam e os de trás, criticam. Entretanto, o líder coloca o gordinho na frente e todos se mobilizam para auxiliá-lo e, assim, aumentar a velocidade de todos. Com base em tudo que vimos, fica evidente a importância de entender o conceito e métricas de produtividade, como forma de buscar diferenciais competitivos e, consequentemente, alcançar melhores resultados. Referências GAITHER, N.; FRAIZER, G. Administração da produção e operações. São Paulo: Pioneira, 2001. GOLDRATT, E. M.; COX, J. A meta: um processo de aprimoramento contínuo. São Paulo: Educador, 1997. FORBES. Os 15 países com maior produtividade no trabalho. Forbes, sete de fevereiro de dois mil e dezenove. Disponível em: https://forbes.com.br/ listas/2019/02/15-paises-onde-a-produtividade-do-trabalho-e-maior/. Acesso em: 11 ago. 2021. KING, N. C. O. Desenvolvimento de um processo para análise da produtividade sistêmica. Curitiba: PUC/PR, 2007. MARTINS, G. de A.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. 2. ed., rev. aum. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. O GLOBO. Brasil aparece na lanterna em ranking de produtividade. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/brasil-aparece-na-lanterna-em-ranking-de- produtividade-22398977. Acesso em: 11 ago. 2021. SLACK N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. https://forbes.com.br/listas/2019/02/15-paises-onde-a-produtividade-do-trabalho-e-maior/ https://forbes.com.br/listas/2019/02/15-paises-onde-a-produtividade-do-trabalho-e-maior/ https://oglobo.globo.com/economia/brasil-aparece-na-lanterna-em-ranking-de-produtividade-22398977 https://oglobo.globo.com/economia/brasil-aparece-na-lanterna-em-ranking-de-produtividade-22398977 19 Layout e o impacto do arranjo físico Autoria: Leonardo Ferreira Leitura crítica: Talita Helena Landiva Objetivos • Reconhecer os conceitos de layout e arranjo físico. • Entender os tipos de layout. • Proporcionar melhoria nos fluxos produtivos. 20 1. Layout Você sabe o que é layoutlayout? Para iniciar a explicação deste conceito e, consequentemente, sua prática e aplicação, faremos uma analogia com uma situação dentro de um contexto da construção de uma residência. Talvez você já tenha tido a oportunidade de construir ou reformar uma residência, mas, para iniciarmos a obra, é necessário ter as dimensões do terreno e fazer o desenho (planta baixa) das estruturas (parte civil, hidráulica e elétrica), obviamente respeitando a legislação e normas de construção. Neste processo, é necessário tomar decisões a respeito de como será a residência, quantos cômodos e qual a distribuição física dentro do espaço. Essas escolhas (decisões) são fundamentais para atender necessidades dos moradores. Posteriormente à reforma, é hora de decorar e posicionar os móveis dentro da residência. Novamente, exigirá decisões que visam criar um melhor fluxo para circulação e melhor realização das atividades rotineiras da casa e seus moradores. Figura 1 – Desenho–Planta baixa Fonte: Feverpitched/iStock.com. https://www.istockphoto.com/br/portfolio/Feverpitched?mediatype=photography 21 Veremos transportar estas informações da construção residencial para o ambiente empresarial. Da mesma forma em uma empresa, independente do segmento e tamanho, precisa pensar na construção de seu espaço físico e na organização de seus recursos produtivos. Devemos ter as medidas, fazer o desenho e projeto do espaço físico, e depois localizar as máquinas e equipamentos dentro deste espaço. O arranjo físico oulayoutlayout em um ambiente produtivo se refere ao posicionamento dos recursos de transformação, de forma a decidir sobre as instalações, máquinas, equipamentos e postos de trabalho. Um bom estudo e adequação do layoutlayout produtivos irá gerar ganhos em produtividade. Vamos conhecer alguns destes ganhos, apresentados por Martins e Laugeni (2010): • Melhor adaptar as pessoas ao ambiente – ergonomia (conforto e segurança). • Agrupar/ organizar as pessoas segundo a natureza da atividade a ser desempenhada. • Organizar os móveis, máquinas, equipamentos e matérias-primas. • Racionalizar os fluxos de fabricação e dos tramites dos processos. • Racionalizar a disposição física dos postos de trabalho, aproveitando melhor o espaço disponível. • Minimizar a movimentação de pessoas, produtos, materiais e documentos dentro do ambiente organizacional. • Facilitar a supervisão e permitir controle da quantidade e da qualidade. • Flexibilidade, permitindo que a capacidade produtiva possa absorver alterações/ variações, e expansão da capacidade produtiva. 22 • Impressionar, favoravelmente, clientes e visitantes. Outro ponto importante é a relação do layout com a escolha do sistema produtivo, e a quantidade e variedade de produtos/ serviços a ser produzido (fluxo). Usualmente, o tipo de processo produtivo influenciará no tipo de layoutlayout, como, por exemplo, uma produção em massa (grande quantidade) exige uma layout em linha, que garanta que as atividades sejam executadas de forma sequencial. Vamos conhecer os tipos de layout. Tradicionalmente, os layouts produtivos são classificados em três tipos: a) por processo; b) em linha e; c) fixo posicional. Conheceremos mais a respeito no quadro abaixo. Quadro 1 – Tipos de layout Layout Explicação Quem movimenta Aplicabilidade (usuais) Exemplo Orientado por processo (ou funcional ou job shop). • Trata-se de um processo em que os recursos (funcionários e equipamentos) são organizados em torno do processo.• Agrupa postos de trabalho ou departamentos de acordo com a função. • Isto significa que, quando clientes, informações e produtos fluírem através da operação, percorrerão um roteiro de processo a processo, de acordo com suas necessidades. Material/ componente e produto. Produtos e roteiros muito variados; produção intermitente (por lote); equipamentos universais e pesados. Usinagem; fundição; cozinha industrial. 23 Em linha (ou por produto ou flow shop) • Os recursos produtivos transformadores são localizados linearmente, de acordo com a melhor conveniência do recurso que está sendo transformado. • O fluxo de produtos, informações e clientes é muito claro e previsível, sendo assim fácil de controlar. Produto. Produto único ou de pequena variedade; produção em larga escala; equipamentos dedicados posicionados na sequência do processo. Linha de montagem, restaurante self-service. Fixo Posicional (ou de posição fixa) • É o arranjo onde os recursos transformados não se movem entre os recursos transformadores. Equipamentos, maquinários, instalações e mão de obra. Projetos/ sob encomenda. Construção de uma rodovia, estaleiro, aviões, restaurante de alta classe, construção civil. Fonte: adaptado de Slack et al. (2002). Agora, veremos a aplicabilidade de cada tipo dos layouts apresentados, por meio de exemplos. Em indústrias que possuem um número elevado de produtos que passam pelos mesmos recursos, o layout mais utilizado é o orientado por processo, onde são criados pequenos departamentos com recursos similares. O produto circula entre os departamentos, estes são exemplificados na Figura 2. 24 Figura 2 – Layout orientado por processo Fonte: elaborada pelo autor. Já em uma montadora de veículos, o layout mais comum é em linha, onde os recursos são disponibilizados de forma sequencial, e o produto segue esta sequência. Geralmente, são grandes volumes de produtos que circulam nesta linha, limitando suas alterações, sendo, muitas vezes, dedicadas a uma família de produto. Na figura 3, podemos verificar um exemplo desta prática. Figura 3 – Layout em linha Fonte: elaborada pelo autor. 25 Em processos de fabricação mais complexos, e que envolvem grandes produtos, tais como um navio ou um avião, o layout utilizado é o fixo posicional, e as máquinas, equipamentos e operadores se movimentam até o produto a ser montado/ fabricado. Figura 4 – Estaleiro – layout posicional Fonte: nightman1965/iStock.com. Logicamente, que são apenas referências e as escolhas devem ser mais apropriadas às necessidades da organização, e que garantam os melhores resultados. Exemplo disso é a empresa aeroespacial Embraer, que vem modificando seu sistema produtivo e também o layout, onde os aviões são montados em uma sistemática de linha de montagem. Dentro de um pensando de eliminação de desperdícios, é possível visualizarmos uma outra forma de organizar o layout, onde são criadas https://www.istockphoto.com/br/portfolio/nightman1965?mediatype=photography 26 minis fábricas com todos os recursos necessários agrupados em um mesmo local e garantindo que o produto entre e saia pronto desta célula de trabalho, por isso o nome de layout em célula ou celular. Exemplo que podemos citar é a produção de chuveiros e produtos eletroeletrônicos, onde existem alguns postos de trabalhos com todos os recursos necessários, e entram materiais e saem produtos prontos e embalados. Apesar do exemplo, é comum o sistema celular substituir os layouts pro processo, pois minimizam as movimentações e transportes. Dentro de uma organização pode haver a utilização de um ou mais tipo de layout, sistemas mistos ou combinados. Um exemplo é o de vários tipos de layout em um complexo de restaurantes. Figura 5 – Exemplo de layout misto: restaurante Fonte: Slack et al. (2002). Agora que conhecemos os tipos de layout, vamos relacioná-los aos tipos de processos produtivos, que apesar de não ser totalmente determinística, é de forte influência. Vejamos esta relação no quadro abaixo. 27 Quadro 2 – Relação entre sistemas produtivos e arranjos básicos Tipos de sistemas de produção Tipos básicos de layout Processo por projeto. Arranjo posicional fixo. Processo tipo jobbing. Arranjo por processo. Processo em lotes. Arranjo celular. Processo em massa. Arranjo em linha. Processo contínuo. Fonte: adaptado de Slack et al (2002). Após selecionar o sistema produtivo e o tipo de layout, é necessário realizar o detalhamento/ projeto referente ao espaço físico, levando em consideração as áreas de influências apresentadas na Figura 6. Figura 6 – Áreas de influência de um projeto de layout Fonte: elaborada pelo autor. 28 Vale ressaltar que a complexidade do processo produtivo e do produto são fatores importantes a serem considerados no desenvolvimento e melhoria dos arranjos físicos. Até aqui, foram descritos alguns fatores e orientações que devem ser considerados, mas não existe uma única opção e sempre é recomendado testar antes de efetivar a mudança. O filme Fome de poder conta a história da rede fast food Mcdonalds e, entre vários aprendizados, é possível ver no início do filme os fundadores do restaurante utilizarem uma quadra poliesportiva para simular as atividades e organização da cozinha. Eles desenharam no chão as possíveis estações de trabalho, e colocou os funcionários para agirem como se estivessem realmente trabalhando, e de cima de uma escada (para ver de cima) conseguia verificar possíveis melhorias e, assim, iam ajustando seus rabiscos na quadra e encontrando melhores opções. O resultado foi um sistema de atendimento rápido, devido a organização (layout) de seu espaço físico em relação às atividades e recursos produtivos. Com a utilização de tecnologia, é possível fazer desenhos gráficos e simulações eletrônicas, que nos permitem visualizar de forma digital o nosso layout. Alguns exemplos apresentados, demonstram a necessidade de empresas e gestores em inovar seus layouts e sistemas produtivos, como meio de aumentar a produtividade. Outro exemplo que altera o tradicionalismo, foi uma empresa brasileira que alterou a forma de construir casas, usualmente produzidas em um layout fixo posicional, que a casa é posicionada/ construída no terreno e todos os recursos vão até o produto (casa). A inovação foi total, a empresa constrói os módulos da casa em um sistema produtivo literalmente fabril (produção em série) e, depois, a transportada até a localização final. Isso mesmo, uma fábrica de casas, com um layout por processos. Esta mudança gerou ganhos produtivos (construção de uma casa em até 24 horas) e redução de custos. 29 Outro exemplo é relatado por Slack et al. (2002) descrevendo o modelo operacional da clínica Fyodorov, o Henry Ford da oftalmologia. O cirurgião organizava e posicionava, ao mesmo tempo, oito pacientes em uma plataforma circular e móvel, onde simultaneamente seis cirurgiões se posicionavam, em suas próprias estações de trabalho, possibilitando o acesso aos olhos dos pacientes. Neste layout, após determinado cirurgião realizar sua atividade (parte) da operação, o paciente é movimentado para a etapa seguinte, no sentido circular. Pode parecer estranho, mas é um fato histórico e real, uma cirurgia dentro de uma abordagem de produção em massa e com layout específico. Você teria coragem de fazer uma cirurgia nesta clínica? Figura 7 – Representação da clínica Fyodorov Fonte: elaborada pelo autor. Outro ponto a ser considerado como influenciador é a flexibilidade, pois em um ambiente cada vez mais competitivo e inserto, o atendimento do mercado / demanda é um diferencial competitivo. Em alguns segmentos, 30 é possível verificar plataformas “universais” dentro de seu arranjo físico, possibilitando / facilitando a troca de produto (produto A para produto B) através de ajustes mínimos para a nova produção. Para tanto é necessário umprojeto de layout que tenha esta finalidade. Além das plataformas múltiplas, também pode-se utilizar como recurso bancadas e equipamentos com rodas e ajustes que permita esta flexibilização. Também devem ser consideradas questões de ergonomia e de economia de movimento, adequado o ambiente de trabalho e objetivando o encurtamento da distância entre os operários e os recursos a serem utilizados. Gerar melhores condições de trabalho para o colaborador, minimizará a fadiga e os desperdícios de espera, movimentação e transporte. Considerando a mão de obra o ambiente deve ser seguro, confortável e conveniente. Para nossa orientação, podemos considerar as Normas Regulamentadoras (NR´s), destacando a NR 12 que descreve ações a serem tomadas com relação ao arranjo físico e instalações. São tantas as questões a serem observadas/ consideradas, que não podemos esquecer das decisões sobre os equipamentos, entre elas: dimensionamento e possíveis ampliações; fatores estruturais (exemplo energia elétrica); espaços/ dimensões para movimentação e operação do equipamento e de partes sobressalentes/ móveis (exemplo: coletor de sobra de materiais). Entretanto, ainda é comum encontrarmos projetos de layout que não consideraram antecipadamente questões como a capacidade de energia elétrica e ou espaço suficiente para a manutenção da máquina ou equipamento e, no momento da implementação e/ou utilização, estas dificuldades e problemas surgem, provocando transtorno, atrasos e custos teoricamente desnecessários. Considerando o fluxo de materiais os projetos de layouts devem analisar os estoques de matérias-primas, estoques intermediários (em processo), e produto acabado, e suas respectivas movimentações no decorrer da 31 transformação. Um bom layout deverá facilitar o acesso, manuseio e integridade dos materiais. O arranjo físico deverá trazer uma boa combinação entre os vários aspectos aqui apresentados, minimizando o deslocamento e o espaço ocupado, maximizando o espaço disponível, e respeitando a legislação, a segurança, o conforto e a higiene. Para fecharmos este ciclo, em busca do aumento da produtividade, será listada uma sequência de atividades que permitirá desenvolver um projeto mais adequado: • Calcular a área (necessária e/ou existente). • Elaborar a planta baixa (desenho do espaço físico visto de cima – comum na construção civil para o projeto/ planta de residências). • Verificar o fluxo de materiais, pessoas e papéis (informação). • Levantar as necessidades do mobiliário, máquinas, equipamentos e ferramentas. • Identificar a localização das instalações elétricas e hidráulicas (atuais e necessárias). • Sempre que possível, preparar e dispor as miniaturas de móveis e equipamentos (maquetes físicas) e utilizar recursos tecnológicos (maquetes eletrônicas). • Apresentar as alternativas de novo layout a todos os envolvidos. • Implantar, acompanhar e avaliar. Vimos como é importante o processo de desenvolver um layout, gerando ganhos de produtividade, como forma de buscar diferenciais competitivos e consequentemente alcançar melhores resultados. 32 Referências GAITHER, N.; FRAIZER, G. Administração da produção e operações. São Paulo: Pioneira, 2001. GOLDRATT, E. M.; COX, J. A meta: um processo de aprimoramento contínuo. São Paulo: Educador, 1997. KING, N. C. O. Desenvolvimento de um processo para análise da produtividade sistêmica. Curitiba: PUC/PR, 2007. MARTINS, G. de A.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. 2. ed., rev., aum. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. SLACK N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 33 CEP, MRP, Just in Time, Kanban e Kaizen Autoria: Leonardo Ferreira Leitura crítica: Talita Helena Landiva Objetivos • Conhecer os conceitos de CEP, MRP, Just In Time, Kanban E Kaizen. • Conhecer a aplicação prática de cada metodologia estudada. • Proporcionar melhoria produtiva 34 Dentro das formas de controle, destacaremos o Controle Estatístico do Processo (CEP), que vem sendo utilizado desde o início da industrialização, mas o objetivo que era meramente de redução das perdas/ falhas e aumento da lucratividade, atualmente, tem mais características estratégicas. Podemos acompanhar a evolução no Quadro 1. Quadro 1 – Informação, qualidade e trabalho: evolução histórica Fase capitalista Fase da qualidade Objetivos da qualidade Características do trabalho versus qualidade Papel da informação na qualidade Principais atores informacionais Fordista. A solução d: controle estatístico da qualidade; garantia da qualidade. Foco no produto e na quantidade, padronização da produção em massa; redução de perdas; lucratividade. Trabalho industrial, com atividades de contagem, classificação e reparos; quantificação dos cursos; controle total da qualidade; engenharia da confiabilidade; zero defeito. Informações sistematizadas para controle estatístico; gráfico de controle; normalização de atividades. Inspetor; grupo de planejamento do trabalho. Pós- fordista. Gestão da qualidade total (TQM) e gestão estratégica da qualidade. Foco na produtividade; produção just- in-time. Criatividade, gestão participativa e simplicidade. Informação como insumo da produção. Equipe da qualidade. Capitalismo cognitivo. Gestão da qualidade (ISO) e excelência empresarial (prêmios da qualidade). Foco na inovatividade, na rastreabilidade dos processos produtivos e na produção de conhecimento. Trabalho imaterial em que se mobiliza a subjetividade (cérebro, sentimentos, desejos e relações). Informação para avaliação da conformidade, análise crítica, melhoria contínua e gestão do conhecimento institucional. Trabalhadores, fornecedores e consumidores. Fonte: Jorge; Albagli (2015 p. 251). Por que controlar o processo? Recordaremos a definição de processo como o conjunto de atividades que se utiliza de entradas/ inputs 35 (materiais, máquinas, equipamento, local físico, informação, recursos humanos, entre outros.) para gerar saídas/ outputs (bens, serviços e informações). As organizações são compostas de processos interdependentes e inter-relacionados. Entretanto, os processos nem sempre resultam no objetivo esperado, podem gerar itens, produtos, serviços, com não conformidade (ou defeituosos) que podem variar ao longo do tempo (em percentual ou tipo de defeito). Dessa forma, os processos possuem variações, que exigem controles e, sempre que necessário, desenvolver ações corretivas ou preventivas. Em um processo de montagem de um notebook, que em média demora dez minutos, nem todos os aparelhos conseguem atingir esta média, sendo que alguns poderão ser produzidos com tempo menor e outros, maior. O acompanhamento permitirá entender as oscilações e os pontos fora do especificado e, consequentemente, será necessário analisar as causas raiz. Ainda, o produto terá especificações a serem cumpridas, tais como dimensões, cores, configurações entre outros, o que exigira seu atendimento. Para Falconi (1992, p. 208), “a análise do processo é uma sequência de procedimentos lógicos, baseada em fontes e dados, que objetiva localizar a causa fundamental dos problemas”. A solução dos problemas gera melhorias nos processos, sendo que a metodologia é mais importante que as ferramentas, que são recursos para serem utilizados dentro da metodologia. Os produtos e serviços são realizados mediante a uma especificação técnica, que é um breve resumo do processo ou produto, que descreve as características do processo ou produto. Em algumas situações, são normativas, a exemplo de produtos que devem aprovações por órgãos regulamentadores como o Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia (INMETRO). 36 Vamos exemplificar: um trabalho de conclusão de curso, também chamado de TCC, deve seguir as normas ABNT de formatação, onde descreve o tamanho da fonte,espaçamento entre linhas, formas de Citação, referência, entre outros. Considere, como exemplo, uma panela com as especificações de 50 +ou- 1 centímetros de circunferência, e o peso entre 450 e 470 gramas. Quanto menor as variações (medidas constantes e próximas às médias) menor serão as não conformidades. O Controle Estatístico do Processo (CEP) possibilita esta gestão por meio de ferramentas/ técnicas estatísticas, que visam garantir a estabilidade e a melhoria contínua dos processos, sendo considerado como uma abordagem de gerenciamento de processos (CARVALHO; PALADINI, 2012; TOLEDO et al., 2013). 1.1 Ferramentas do CEP Agora, veremos algumas destas ferramentas/ técnicas do controle estatístico do processo. Gráfico ou Carta de Controle: umas das características principais desta técnica é construção gráfica dos resultados, possibilitando melhor visualização das variações do processo. A construção gráfica é composta por dois tipos de limite: a) limites de especificação (LE), que são definidos com base nos requisitos do órgão regulador (exemplo: INMETRO) ou cliente, e visam garantir a consistência e capacidade do processo; b) limites de controle (LC), estabelece o desempenho do processo desejado pela organização (interno). Tanto o limite de especificação como o de controle, devem possuir limites inferiores (mínimo) e superior (máximo), que determinam as tolerâncias do processo e que são calculadas estatisticamente. Os LC devem ser mais rigorosos do que os LE, pois são exigências normativas e/ou de mercado (RODRIGUES, 2014). Vejamos um exemplo do gráfico de controle. 37 Figura 1 – Exemplo de Gráfico de Controle Fonte: http://www.fabiocruz.com.br/wp-content/uploads/2013/05/grafico-controle.gif. Acesso em: 13 ago. 2021. Analisando o Gráfico de Controle, verificamos que o eixo horizontal representa o tempo e, o vertical, o valor da característica. No eixo vertical, existem subdivisões para limite inferior (especificação e controle), limite superior (especificação e controle) e linha média, representadas por linhas horizontais. Ao centro do gráfico, é representado um conjunto de valores (pontos) unidos por segmentos de reta, ou seja, como o processo tem se comportado na linha de tempo dentro dos limites pré-estabelecidos. Os gráficos de controle também podem ser classificados por: ATRIBUTOS – particularidades e características próprias, que visam estudar o comportamento de números e proporções. VARIÁVEIS – estudam aspectos como peso, comprimento, densidade, concentração, entre outros. Após construir o gráfico, é necessário aplicá-lo, para tanto, é preciso executar a coleta de dados e estratificá-los (localizá-los) dentro do gráfico. É comum estes gráficos serem preenchidos pelos próprios 38 operadores por meio do acompanhamento por amostragem. Isso significa que a cada quantidade X de produtos, o operador faz a medição e posiciona o resultado no gráfico, mas também podem ser realizados diretamente no computador, de forma automática ou por inserção manual de dados. A interpretação da carta é relativamente fácil (gestão visual), quando os valores (pontos) estão dentro dos limites de controle (LIC e LSC), o processo está dentro das especificidades, ou seja, está controlado. Agora, quando os pontos estão fora dos limites (vide Figura 2), causas especiais, significa que são necessárias tratativas (analisar e desenvolver ações). Figura 2 – Exemplo de Gráfico de Controle – Pontos fora dos limites Fonte: elaborada pelo auto. Histograma: esta metodologia é composta por diagramas de barras, representando verticalmente a distribuição de frequência de um conjunto de dados numéricos., ou seja, demonstra um conjunto de valores e seu comportamento (concentração ou distribuição) dentro de modelos probabilísticos (exemplo: distribuição normal ou gauss). O objetivo é a visualização da variabilidade dos dados em uma serie temporal (LOBO, 2010; RODRIGUES, 2014). 39 Figura 3 – Histograma Fonte: elaborada pelo autor. Teste de Hipóteses: outra metodologia estatística, que permite verificar se os dados amostrais validam uma hipótese estatística formulada. Diagrama ou análise de dispersão ou diagrama de dispersão- correlação: esta metodologia visa identificar a existência e a intensidade da correlação entre duas variáveis. Vejamos um exemplo na Figura 4. Figura 4 – Diagrama de dispersão Fonte: https://support.minitab.com. Acesso em: 12 ago. 2021. Análise ou Diagrama de Pareto: esta ferramenta tem como base a proporção 80/20 descrita pelo economista italiano de mesmo nome. 40 Em sua aplicação, na qualidade, esta proporção significa que 80% dos efeitos são consequência de apenas 20% das causas. Por isso, este instrumento auxilia, de forma quantitativa, a priorizar os problemas a serem atacados, e utiliza de representação gráfica como meio de expressar os resultados. Figura 5 – Pareto Fonte: Casper1774Studio/iStock.com. Esta metodologia permite a análise, planejamento e implantação de melhorias nos processos, de fácil utilização e aplicação, pode ser utilizada em todos os níveis organizacionais (RODRIGUES, 2014). O pareto pode ser considerado uma metodologia de priorização de ações, pois classifica as ocorrências (problemas) pela ordem de importância (maior recorrência), possibilitando direcionar os esforços e utilização dos recursos para alcançar à melhoria do processo (SELEME; STADLER, 2010). https://www.istockphoto.com/br/portfolio/Casper1774Studio?mediatype=photography 41 2. MRP O MRP pode ser subdividido em duas áreas de atuação de forma complementar, e que surgiram de forma evolutiva e visando a gestão dos recursos produtivos. Primeiramente, vamos falar do MRP I, que consiste no planejamento das necessidades de materiais, do inglês: material requiriment planning. Surgiu na década de 1970, da necessidade de planejar as demandas dependentes, ou seja, calcular a necessidade de compra ou produção dos materiais ou produtos que compõem o produto acabado. Exemplificando, podemos pensar na produção de veículo, em que é necessário calcular todos os componentes necessários para sua montagem. O exemplo é de um produto complexo, justamente para que possamos entender a importância desta metodologia, pois um carro possui mais de dez mil itens diferentes, e em quantidades diferentes, imagine fazer o cálculo destas necessidades sem uma metodologia. Agora, lembre-se que as montadoras automotivas têm mais de um modelo de veículo, e que seus componentes não necessariamente são iguais, ou seja, a dificuldade é ainda maior. Além das quantidades, os prazos (lead time) devem ser considerados, pois os fornecedores (internos ou externos) terão suas especificidades, e será necessário solicitar a compra, ou produção, em tempo hábil para garantir o fluxo produtivo sem interrupção. O MRP responde às perguntas: O que? Quanto? Quando? Esta metodologia ganhou força principalmente com a inserção dos computadores e softwares específicos, pois por meio de uma parametrização do sistema e informação da demanda independente (produto final) os cálculos são automatizados. Quando falamos em parametrização, algumas informações precisam estar cadastradas e atualizadas dentro do sistema, as principais são: 42 estrutura do produto e lista de materiais (como é composto), estrutura de prazos (lead time), políticas de estoque e situação atual do estoque (quanto tem no estoque), demanda (geralmente realizado por meio do PMP – plano mestre de produção). Com base nestas informações, o sistema considera a demanda, subtrai o estoque existente e emite a necessidade líquida por meio de ordens de compra ou produção. Imagine uma demanda de 100 carros, onde, para o componente pneu, há uma demanda bruta de 500 unidades (cinco unidades por carro), mas, no estoque, existem 170 unidades, ou seja, a necessidade de compra é de apenas 330 unidades. Esta informação será informada dentro de um parâmetro que permita a compra dentro da necessidade.Os carros serão produzidos na semana dez, mas o lead time de fornecimento é de duas semanas e, dessa forma, o pedido deverá ser emitido na semana oito. Agora, vamos entender o que é MRP II. O MRP II. Surgiu na década de 1980, como um processo evolutivo do MRP I, agora respondendo à pergunta como, que diz respeito ao processo produtivo. Dessa forma, o método/ sistema agora planeja as necessidades de manufatura (Manufacturing Resource Planning). O MRP I não deixa de existir, pelo contrário, os sistemas apresentam dois módulos interdependente de gestão. Dentro do MRP II podemos destacar duas principais funções: • Planejamento da capacidade produtiva: cruza as informações da demanda versus a capacidade produtiva disponível; oferecendo ao gestor, informações sobre ociosidade e/ou sobre carga dos recursos produtivos. • Sequenciamento: organiza a ordem a ser produzida, de forma a otimizar os recursos produtivos. 43 Usualmente, os módulos MRP I e MRP II são apresentados dentro dos ERP Enterprise Resource Planning (ERP), sistemas de gestão integrados, que as organizações vem aderindo desde os anos 1990. 3. Just in Time (JIT) e Kanban Muito se tem discutido, nas últimas décadas, a respeito do sistema Toyota de produção e também de outras indústrias asiáticas, principalmente as japonesas, devido aos seus diferenciais competitivos. Inclusive, em 1990, foi lançado o livro A Máquina que mudou o Mundo, que trouxe um estudo sobre as empresas japonesas e seus sistemas produtivos, utilizando, pela primeira vez, o termo lean manufacturing, traduzido para manufatura enxuta, é uma metodologia adotada pelo mundo ocidental desde então. O lean tem como princípio a eliminação de desperdício, ou seja, tudo aquilo que consome energia e dinheiro sem agregar valor para o cliente. Este é o desafio que muitas empresas vêm tentando incorporar em suas operações. Dentre as várias ações e práticas realizadas pelas empresas japonesas, neste ambiente enxuto, destaca-se o Just in Time (JIT) que tem como princípio produzir ou comprar somente o necessário. Isso significa que é um processo puxado, em função da demanda, isso significa que a ideia é trabalhar com um estoque baixo tendenciando a zero, com a disposição somente no momento de uso. Muitas montadoras automobilísticas já têm adotado esta prática, com entregas periódicas durante o dia, onde os fornecedores entregam pequenas quantidades diretamente na produção. Exemplo: os pneus são entregues de hora em hora em quantidades apenas para aquele período. 44 Obviamente que diminuir o estoque exige melhorias em todos os processos relacionados, pois o estoque em excesso encoberta falhas no sistema produtivo. Podemos fazer uma analogia com um rio cheio de pedras, quando a água diminui as pedras ficam mais evidentes, e mais difícil navegar, então é preciso estar preparado. Entretanto, é claro que o estoque zero é uma utopia na grande maioria das organizações e produções, por isso, como meio de operacionalizar o JIT usualmente utilizamos o sistema Kanban, palavra japonesa que significa cartão. No Kanban tradicional (atualmente há várias vertentes e adaptações) utiliza-se a gestão visual por meio das cores idêntico ao de um semáforo, onde o verde significa que está ok, o amarelo é atenção e deve se pensar em repor o material, e o vermelho é urgente e se a reposição não for feita imediatamente pode ter impacto na produção. Além da gestão visual, o Kanban é composto pelo cálculo de pequenos lotes de movimentação ou produção, e estes lotes são representados pelos cartões. Para tanto calcula-se a quantidade de peças por cartões ou contenedores e também a quantidade de cartões a serem utilizados (não necessariamente será apenas um de cada cor). Estes lotes ou cartões consideram a demanda do período, o tempo de reposição (produção ou compra), e ainda podem considerar um fator de segurança. Com os cálculos realizados, estes cartões, geralmente, ficam disponíveis junto aos produtos ou materiais e, conforme são consumidos, os cartões vão para um quadro, para que os responsáveis providenciem o abastecimento. Com a digitalização, muitas empresas já estão realizando este processo de forma eletrônica ou por meio de painéis eletrônicos. 45 4. Kaizen Esta filosofia, muitas vezes, se confunde com o próprio pensamento enxuto, pois seu princípio é a melhoria contínua. Kaizen é uma palavra japonesa, que tem justamente este significado, melhoria contínua. Para a implementação deste pensamento, é necessário o envolvimento das pessoas (oposto do desperdício denominado de não aproveitamento de ideia). Para Imai (1994), escritor do KAIZEN: A chave para o sucesso competitivo do Japão e fundador do Instituto Kaizen, existem alguns mandamentos para o desenvolvimento da metodologia na organização: • Eliminar os desperdícios (tudo aquilo que não agrega valor), e buscar a melhoria contínua. • Envolver todos os colaboradores da organização (top down – de cima para baixo). • Pequenas mudanças, sem grandes investimentos (utilizar a cabeça e não o bolso). • Aplicação ampla, para toda e qualquer tipo de organização. • Gestão visual e de transparência (acessibilidade). • Ir ao GEMBA, onde acontece a atividade. • Orientação para os processos. • Valorização das pessoas e trabalho em equipe. • O lema essencial da aprendizagem organizacional é: aprender fazendo. 46 Para que realmente a filosofia permeie pela organização, é necessário o envolvimento das pessoas, em um processo contínuo onde a organização deve atuar em um ambiente que permita esta participação. Não existe regra específica, cada organização deve entender sua cultura e criar meio a incentivar as pessoas a fazerem melhorias contínuas. É notório que os asiáticos já possuem uma pré-disposição para práticas de melhoria, e não necessariamente visão uma premiação. Ao contrário, nos ocidentais, muitas vezes, nos condicionamos a participar a partir de incentivos e premiações. Também vale ressaltar que os programas de sugestões, podem ser considerados um início de kaizen, mas não se limita apenas a esta prática. Por este motivo, reforço a necessidade de um ambiente propício para a participação e envolvimento de toda a força de trabalho. Nesta aula, vimos vários conceitos e metodologias, que possibilitam um melhor desempenho da organização e geram diferenciais competitivos. O processo de melhoria é contínuo, por isso, continue firme nesta jornada, tenho certeza que fará toda a diferença. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Norma NBR ISO 9001: sistemas de gestão da qualidade–requisitos. Brasília: ABNT, 2015. BALESTERO-ALVAREZ, M. E. Gestão da qualidade, produção e operações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. CARVALHO, M. M.; PALADINI, E. P. Gestão da qualidade: teoria e casos. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. DRUCKER, P. F. Introdução à administração. 3 ed. São Paulo: Moderna, 1998. FALCONI, V. TCQ–controle de qualidade total (no estilo japonês). Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, Universidade Federal de Minas Gerais, 1994. FALCONI, V. Gerenciamento da rotina do trabalho dia a dia. Belo Horizonte: Fundação de Desenvolvimento Gerencial, 2002. IMAI, M. Kaizen–A Estratégia para o Sucesso Competitivo. Imam, 1994. 47 JORGE, V. R.; ALBAGLI, S. Papel da informação na área da qualidade: do fordismo ao capitalismo cognitivo. TransInformação, Campinas, 27(3):245-253, 2015. LOBO, R. N. Gestão da qualidade. São Paulo: Érica, 2010. MARTINS, G. de A.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. 2. ed., rev., aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. OLIVEIRA, S. T. de. Ferramentas para o aprimoramento da qualidade. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1996. RODRIGUES, M. V. Ações para a qualidade: gestão estratégica e integrada para a melhoria dos processos na busca da qualidade competitiva. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. SELEME, R.; STADLER, H. Controle da qualidade: as ferramentas essenciais. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2010. TOLEDO,J. C. et al. Qualidade: gestão e métodos. Rio de Janeiro: LTC, 2013. SLACK N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 48 Key performance indicators (KPI) Autoria: Leonardo Ferreira Leitura crítica: Talita Helena Landiva Objetivos • Conhecer os conceitos de Key performance indicators (KPI). • Estruturação dos indicadores de performance. • Desenvolver práticas acompanhamento e controle. 49 1. Acompanhamento e controle Por que é tão importante realizar controle no âmbito de gestão? A resposta dessa pergunta pode ser a celebre frase de Deming, quem não controla, não gerencia. Vamos entender o motivo desta afirmativa, fazendo uma associação a uma rotina diárias nas maiorias das residências brasileiras, que é a de preparar as refeições. Quando você, ou alguém de sua família, está cozinhando só sabe se a comida está pronta ou gostosa se você verificar e/ou provar. Essa atitude pode ser considerando como uma forma de controle e, se não realizado a tempo, pode levar a queimar a comida, ou que a receita não atenda às necessidades e expectativas de quem consumirá. Da mesma forma, na gestão de uma organização, se não existem controles, não é possível entender se as atividades estão atendendo às especificidades, e até mesmo fazer os devidos ajustes quando necessário. Quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve. Essa frase complementa o pensamento de Deming, pois as organizações devem ter seus objetivos claros e bem definidos e, posteriormente, é necessário verificar se estão sendo alcançados. Vamos ressaltar o conceito de processo, tendo que as organizações são sistemas, compostos por conjuntos de processos interligados e independentes que visam agregar valor ao cliente. Sua forma gráfica é similar ao do conceito de produção, pois um processo é um conjunto de atividades que transforma entrada em saídas, de forma a agregar valor os clientes. 50 Figura 1 – Empresa como sistema (conjunto de processos) Fonte: Autor. Ter esta visão holística, entendendo a organização como um sistema, é fundamental para podemos tomar decisões mais assertivas. Aqui, vale uma analogia, a parábola dos cegos e o elefante, com primeira versão do texto budista Udana, que descreve a chegada de um elefante em uma aldeia que não conheciam o animal e os sete sábios, que eram cegos, avaliaram o animal, mas cada um tendo acesso apenas a uma parte dele. Suas percepções eram distintas, quem analisou apenas a orelha, achava que era um animal parecido como arraia, já quem analisou a perna, descreveu o elefante como uma árvore, e, assim, cada um de uma forma. Somente após os sábios solicitarem a um aldeão desenhar o animal na areia, é que foi possível entender o todo. Assim são as organizações, é necessário saber e entender a empresa em sua totalidade, e não tomar decisões isoladas e que podem impactar nas demais. As organizações devem ser gerenciadas por processos e não por departamentos, apesar de muitas empresas ainda fazerem uma 51 estruturação matricial. A ISO 9001:2015, assim como outros sistemas normativos e modelos de gestão, preconizam este gerenciamento por processo. Isso significa que tudo o que acontece dentro de uma organização é efetivado por meio dos processos, sendo eles operacionais diretamente ligado ao produto (aquisição de materiais, produção, distribuição etc.), de apoio (RH, marketing, infraestrutura etc.), ou ainda de gestão (planejamento estratégico, complice etc.). Esta definição, ou subdivisão dos processos, foi apresentada por Porter, em 1985, como cadeia de valor. Em seus estudos, incialmente, dividia os processos das organizações em atividades, base ou primária e de apoio, conforme apresentado na Figura 2. Logicamente que os processos apresentados e separados na matriz são apenas uma referência, e cada organização deve avaliar e criar sua própria cadeia de valor, com base no seu negócio e entrega de valor ao cliente. Lembre-se de que, segundo frase popular, valor é o que se leva, preço é o que se paga. Figura 2 – Cadeia de valor Fonte: adaptado de Porter (1985, apud CHRISTOPHER, 2012). 52 Como dito anteriormente, atualmente, devemos considerar também os processos de gestão, sendo que estes apresentados por Porter consideravam apenas o operacional. Apesar da diferença ser sutil, os processos operacionais transformam insumos em produtos (materiais em produtos, dados em relatórios etc.) e os processos gerenciais transformam informações em decisões empresariais (planejamento estratégico, definições de metas e objetivos etc.) Vale trazer o conceito do ciclo PDCA ou ainda PDCL. O ciclo PDCA, mais comum entre os gestores, é uma metodologia criada na década de 1920, que visa padronizar uma sistemática de gestão dos processos. Infelizmente, muitas vezes, apenas utilizadas para resolver problema. Obviamente que se pode e se deve utilizar a prática também para arrumar a casa, mas é necessário incorporar as práticas da organização. Tendo como base as quatro palavras em inglês P (Plan–Planejar), D (Do – Fazer), C (Check – Checar/ controlar), e A (Action – Agir). Isso significa que um processo deve ser planejado, posteriormente executado, durante e pós-execução, coletar os resultados e, com base neste tomar ações, que podem ser de correção, prevenção ou melhoria. Figura 3 – Ciclo PDCA Fonte: adaptado Falconi (1992). 53 Segundo Falconi (1992), o Ciclo PDCA é um método de gestão que apresenta uma sequência de passos que devem ser percorridos de maneira cíclica, para manter ou melhorar as atividades de uma organização. Na Figura 3, é possível ver detalhes deste passo a passo, onde o planejamento envolve definir a meta e, com base nestas, definir as estratégias e métodos a serem aplicados. No segundo passo, fazer, antes mesmo da execução propriamente dita, é necessário capacitar e prepara as pessoas envolvidas, e somente depois executar, e coletar os dados. Na etapa de checagem, verificar os dados confrontando os resultados com as metas e, no último passo, tomar uma ação com base nos resultados. Começamos a ver a atividade de acompanhamento e controle, com a nomenclatura de check. Perceba que para fazer a roda girar, é necessária esta atividade que confronta o planejado com o realizado, pois as ações não devem ser realizadas de forma aleatória. Vamos pensar em um processo produtivo, em uma fábrica de camisetas, que tem suas metas produtivas, tais como número de unidades produzidas por hora, número de não conformidade (produtos com defeitos), disponibilidade de recursos (manutenção), entre outros. Para isso, é gerado um plano de produção, que deve ser informado aos colaboradores, e estes devem estar capacitados para melhor execução. Durante a produção, serão realizados acompanhamentos ese os índices estiverem abaixo do planejado, ações corretivas serão tomadas. Caso contrário, podem ser realizadas ações de prevenções e melhoria, buscando, assim, maior produtividade. O exemplo foi em um processo base, mas a lógica serve para todos e quaisquer processos operacionais da organização, como processo financeiro e Recursos Humanos (RH). Exemplificando, o processo de RH tem como uma de suas atividades principais a de treinamento e capacitação da força de trabalho, com metas anuais e mensais, para tanto, existem métodos e estratégias para viabilizar este desenvolvimento dos trabalhadores. Entretanto, é preciso fazer um 54 controle para ver ser os treinamentos e capacitações estão sendo realizados conforme planejado e se estão sendo eficazes. Da mesma forma, com base nesta mensuração, ações devem ser realizadas. O que é o ciclo PDCL? Falamos de processo gerenciais, lembra? Para estes processos, que transformam informações em tomadas de decisões, substituímos o A de aprendizado por um L de learning. O que isso significa? Em um processo de gerenciamento, por não ser operacional, não conseguimos simplesmente alterar um parâmetro e rodar novamenteo processo. Entretanto, precisamos ter aprendizado para que os próximos ciclos possam ser ajustados conforme resultados anteriores. Em um processo de planejamento estratégico, muitas são as variáveis e envolvidos, e os resultados não dependem apenas de fatores internos, mas fazer os devidos acompanhamentos e controles é necessário, e o entendimento (aprendizado) dos resultados nos permitirá que em um novo planejamento, considere as informações aprendidas. Da mesma maneira, somente com o controle conseguimos entender o resultado e posteriormente buscar melhores resultados. O que podemos perceber é a importância do controle neste ciclo de gestão, sendo no PDCA ou PDCL. Confirmando a frase inicial desta aula, de quem não controla, não gerencia. Até aqui, vimos explicações para ajudar a compreender melhor a importância do controle. Veremos qual a relação com os indicadores de performance. 2. Indicadores-chaves de performance No tópico anterior, você verificou que o controle é parte de um ciclo de gestão. Como garantir uma prática sistêmica de controle? 55 Dentro desta proposta, veremos sobre o conceito de Indicadores Chaves de Performance, ou KPI–Key Performance Indicators, ou ainda Indicadores de Desempenho. Usualmente, fazemos uma metáfora ao termo indicador, subdividindo a palavra resultado em indica a dor. Esta brincadeira pode ser considerada uma verdade, tendo que nenhuma empresa gosta de ver resultados ruins de sua empresa, e os indicadores tendem a refletir a situação real e atual da organização, ou seja, se tiver maus resultados (dores) os indicadores demonstraram, de forma a deixar evidente a necessidade de uma intervenção (eliminar a dor). Entretanto, não é apenas na dor que deverá ser utilizado, até porque vivemos em ambiente de melhoria contínua e também para melhorar, é preciso acompanhar. “O que nós medimos e como nós medimos determinam o que será considerado relevante, e determinam, consequentemente, não apenas o que nós enxergamos, mas o que nós – e outros – fazemos”, segundo Druker (1974, [n. p.]). De forma bem simples, podemos considerar que os indicadores (são uma forma de confrontar as metas com os resultados dos processos. Conforme Modelo de Excelência em Gestão da FNQ, em sua 20ª edição, os indicadores são informação quantitativa ou fato relevante que expressa o desempenho de um produto ou processo, em termos de eficiência, eficácia ou nível de satisfação, e que, em geral, permite acompanhar sua evolução ao longo do tempo (FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE, 2016). E é muito comum nos depararmos com os indicadores dentro das organizações, mas será que todos entendem qual sua função e importância? Aliás, será que os gestores sabem definir de forma apropriada e priorizada os indicadores? 56 Para iniciarmos estas questões, vamos entender os tipos de indicadores ou a forma de utilizá-los. Podemos subdividir os indicadores em dois tipos: Indicadores outcomes ou resultantes (eficácia): estão diretamente ligados à medição de resultados, e permitem medir se um objetivo foi alcançado após certo tempo e esse tempo deve ser suficiente para confirmar o efeito. De forma resumida, podemos dizer que mede o resultado final (efeito) e sua respectiva eficácia. Indicadores drivers ou direcionadores (eficiência): monitoram preventivamente se a estratégia será cumprida e, normalmente, são avaliados durante a execução de um processo. Este tipo de indicador, geralmente, antecipa ou complementa as informações para os outcomes. Vejamos um exemplo pessoal para assimilar melhor esta diferenciação. Uma pessoa com sobrepeso tem como objetivo emagrecer. Serão indicadores outcomes (resultantes), peso e percentual de gordura, pois demonstrarão se o desafio está sendo atingido. Os resultados, neste caso, normalmente, demoram um pouco para serem verificados. Já os indicadores drivers (direcionadores), serão quilômetros caminhados e calorias consumidas. Irão demonstra os esforços realizados e medem a disciplina em alcançar o resultado. Apresentam o status das ações planejadas no curto prazo. A análise deste exemplo demonstra que se os drives trouxerem bons resultados, no caso, se a pessoa conseguir caminhar os quilômetros planejados e consumir as calorias da meta, consequentemente (pelo menos em tese), os indicadores outcomes também serão alcançados, ou seja, diminuirá o peso e percentual de gordura. Outros exemplos empresariais: 57 • Indicador de satisfação da força de trabalho (trabalhadores) é um driver para o indicador resultante de produtividade. • Indicador de leads (contatos de possíveis consumidores) gerados é um driver para o indicador resultante de volume de vendas. • Indicador de capacitação da equipe é um driver para o indicador resultante de satisfação dos clientes. • Indicador de defeitos de produtos é um driver para o indicador resultante de retenção de clientes. Definir os indicadores não é uma atividade aleatória, pois deve fazer sentido para a organização (por isso, o nome indicadores-chaves) e é preciso medir fatores realmente relevantes. A falta de uma informação importante pode impactar as decisões da organização. O contrário também pode gerar danos à gestão, pois ter controles em excesso pode burocratizar demais as atividades, ou seja, é necessário controlar somente o que é necessário. Esta última afirmativa parece ser uma questão óbvia, mas, infelizmente, ainda é possível verificar em algumas empresas, a geração de dados sem sentidos ou que não são utilizados. Exemplo disto, são indústrias que têm apontamento da produção (às vezes com redundância: papel e eletrônico), e não existe um processo de análise e, consequentemente, aprendizado. Uma recomendação é a de associar os indicadores aos objetivos e metas, tendo que toda organização tem seus objetivos definidos (sendo formalmente ou não) e, consequentemente, seus desdobramentos em metas. Para tanto, é necessário seguir uma regra básica para a definição das metas, a metodologia SMART. Formado por cinco palavras em inglês, vamos conhecer seu significado e aplicação. 58 S (Specific) – Específico: a meta deve ser muito específica (resultado esperado e declarado). Exemplo: se a meta é aumentar a produtividade, defina qual o percentual. M (Measurable) – Mensurável: a meta deve ser mensurável (passível de medição). Exemplo: como você vai medir o aumento da sua produtividade? Pelo número total de tarefas concluídas por dia? A (Achievable) – Atingível: a meta deve ser atingível e realista. Recomendação: cuidado para não pensar grande demais e tornar o objetivo impossível de atingir. R (Relevant) – Relevante: a meta deve ser relevante (importante) para a organização. Evitar metas que contribuirão pouco com o desenvolvimento da organização. T (Time) – Tempo: a meta deve ser temporal, ou seja, ter um tempo previsto de conclusão associado. Voltando ao exemplo anterior, de uma pessoa com sobrepeso e com o objetivo de emagrecer, podemos considerar como meta smart: perder 20 quilos nos próximos seis meses. Quando a meta é definida sem um pensamento smart, é comum ser muito genérica, como aumentar as vendas, dificultando sua gestão. O correto seria: aumentar as vendas em 5%, em dois meses. Perceba que, na declaração da meta, apenas descrevemos o S e o T, mas os demais aspectos são considerados, pois é possível medir (balança e outras formas), é atingível e relevante (melhorará a qualidade de vida). Veja que novamente estamos falando de método, ser atingível e sua importância, ambas necessidades para as metas e indicadores. Para tanto, a formação dos indicadores deve seguir algumas etapas, vejamos: 59 1. Necessidade de observar objeto: definir o que será observado/ acompanhado, e avaliar sua importância. 2. Seleção do Atributo: quais as características devem ser observadas. 3. Definição da métrica: qual será o tipo/ método de medição, e quais as metas. 4. Medição: realizar efetivamente a medição (coleta de dados).5. Dados: são os fatos coletados durante a medição. 6. Informações quantitativas: os dados organizados devem ser transformados em números. 7. Indicadores: é o confronto das informações quantitativas (resultados) versus as metas. 8. Compreensão do comportamento do objeto: é necessário analisar as informações para tomada de decisão. Vejamos ver um exemplo deste fluxo: Um médico deseja observar o sangue (objeto) de um paciente e pede um hemograma (exame específico). O laboratório colhe o sangue para avaliar sua propensão para formar ateromas (atributos), indesejáveis placas de gordura. Para tanto, é utilizado um método padrão (métrica) que permite atribuir um número a essa característica. O laboratório analisa a amostra de sangue (medição), e o médico recebe o dado de volta, chamado de taxa de colesterol total no sangue. Ele consegue interpretá-lo, porque existe tabela de normalidade para colesterol em função da idade e outros fatores. Com base no contexto daquele paciente, é possível traçar uma linha de tratamento ou prevenção. Se o paciente repetir o exame depois de seis meses, o médico será capaz, com as duas informações quantitativas, de avaliar o comportamento do paciente e o impacto do conteúdo de colesterol em seu organismo. A criação de um comparativo na linha do tempo (indicador), permite ter conhecimento suficiente para julgar o comportamento (compreensão). 60 Observe que o indicador possibilita não apenas um comparativo entre a atual situação perante a meta, mas também faz uma comparação ao longo do tempo. Esta análise do decorrer do tempo é fundamental para verificar o comportamento do processo, verificar tendências e alterações, entre outros. A definição desta periodicidade é relativa a cada processo e necessidade de acompanhamento. Exemplo: um indicador relativo à avaliação do clima empresarial, tem menos alteração ao longo do tempo e pode ser analisado anualmente ou ainda mais espaçado. Já um indicador referente a um processo produtivo e a qualidade do produto, muitas vezes, precisa ter um acompanhamento diário ou até mesmo por hora. Este aspecto e definição do tempo para a mensuração, é definido na etapa de relativa a métrica, que deve levar em consideração também questões de como serão coletados os dados (planilhas, cartas de controle, sistema eletrônico etc.), quem fará a coleta (o próprio operador, controle da qualidade, supervisão etc.). Também é necessário deixar claro como serão os cálculos para obter o indicador. Nem sempre conseguimos extrair informações de um único dado, a exemplo de índice de falta de qualidade, que é um percentual resultante da quantidade de peças, não conforme dividido por quantidade de peças produzidas no período. Os indicadores, além de suas metas, devem atender os Referenciais das Partes Interessadas (RPI), isso significa que existem situações em que existem exigências de uma ou mais parte interessada (investidor, fornecedor, força de trabalho, entre outros). Podemos considerar que são “metas à parte. Ainda, buscando a gestão para excelência os indicadores sempre que necessário podem ter Referencias Comparativos (RC), que é se comparar com as principais referências no mercado para aquele processo especifico, desde que sejam equiparáveis. Isso significa que se quero comparar meu índice de reclamações dos clientes, preciso buscar uma 61 empresa com características similares a minha e/ou que eu possa me espelhar e definir como um novo objetivo. Figura 4 – Painel de controle Fonte: SpicyTruffel/iStock.com. Na prática, vemos as empresas criarem painéis de controle (dashboards) para controlar em tempo real seus principais indicadores, e isso é facilitado por recursos eletrônicos dentro de práticas da quarta revolução industrial (digitalização), e isso é muito valido. Entretanto, vamos recordar que as organizações são sistemas e temos que definir https://www.istockphoto.com/br/portfolio/RomanEgorov?mediatype=illustration 62 melhor os processos da nossa cadeia de valor e, sobre eles, definir os meios de controles e indicadores apropriados. Vemos excelentes práticas em algumas organizações de referências, onde conseguem fazer um planejamento estratégico e desdobrar seus objetivos em planos de ações, todos atrelados a indicadores de performance, ficando evidente em todos os níveis quais as ações, metas e controles a serem executados. Uma metodologia que pode ajudar nesta integração é o Balanced Scorecard (BSC). Segundo Kaplan (1996), o BSC permite aos gestores visualizar e desdobrar as estratégias em quatro perspectivas: financeira, clientes externos, processos internos e aprendizado e crescimento. Como metodologia de medição de desempenho do negócio, o BSC é uma ferramenta importante para o controle e o alinhamento estratégico da organização. A busca pela produtividade e qualidade passa pela etapa de controle, que tem como um de seus instrumentos, os indicadores de performance. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Norma NBR ISO 9001: sistemas de gestão da qualidade–requisitos. Brasília: ABNT, 2015. CALDEIRA, J. 100 Indicadores de gestão: Key Performance Indicators (KPI). Coimbra: Conjuntura Actual, 2012. DRUCKER, P. F. Introdução à administração. 3 ed. São Paulo: Moderna, 1998. FALCONI, V. TCQ–Controle de qualidade total (no estilo japonês). Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, Universidade Federal de Minas Gerais, 1994. FALCONI, V. Gerenciamento da rotina do trabalho dia a dia. Belo Horizonte: Fundação de Desenvolvimento Gerencial, 2002. FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE. Novo modelo de excelência da gestão. São Paulo, 2016. 63 FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE. Guia de referência de excelência da gestão. São Paulo, 2016. KAPLAN, R. S. et al. Using the balanced scorccard as strategic management system. Boston: Harvard Business School Press, 1996. KAPLAN, R. S. et al. Organização orientada para a estratégia: como as empresas que adotam o balanced scorecard prosperam no novo ambiente ele negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 64 BONS ESTUDOS! Sumário Histórico e conceitos de produtividade Objetivos 1. Produtividade Referências Layout e o impacto do arranjo físico Objetivos 1. Layout Referências CEP, MRP, Just in Time, Kanban e Kaizen Objetivos 2. MRP 3. Just in Time (JIT) e Kanban 4. Kaizen Referências Key performance indicators (KPI) Objetivos 1. Acompanhamento e controle 2. Indicadores-chaves de performance
Compartilhar