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Autor: Prof. Sérgio Leite Colaboradores: Prof. Rodrigo Romano Mechereffe Stolf Prof. Welliton Donizeti Popolim Cozinha Fria Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Professor conteudista: Sérgio Leite O chef Sérgio Leite é paulistano e iniciou sua carreira, em 1996, na rede Viena. Foi conquistando experiência ao longo dos anos, passando por restaurantes como Jean Saques (franco-suíço), Café Antique (francês), Chef Du Jour (franco-italiano), Giorno e Baebec (contemporânea internacional), comandou a cozinha do restaurante Inconfidência Mineira e passou também pelo Hotel Renaissance, onde foi cozinheiro de banquetes, eventos e garde manger. Graduado em Gestão de Recursos Humanos e pós-graduado em Gastronomia, com experiência em docência em outras instituições, hoje atua como docente no curso de Gastronomia da UNIP, na área de educação em gastronomia e produção de livros-textos. É especialista em cozinha brasileira, garde manger, cortes de aves, carnes, pescados e técnicas básicas de cozinha, além de executar eventos e prestar consultorias para bares e restaurantes. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) L533c Leite, Sérgio. Cozinha Fria. / Sérgio Leite. – São Paulo: Editora Sol, 2017. 64 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-070/16, ISSN 1517-9230. 1. Sopas frias. 2. Condimentos e conservas. 3. Sanduíches. I. Título. CDU 641.52 U501.26 – 19 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Rose Castilho Lucas Ricardi Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 Sumário Cozinha Fria APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 TECNICAS BÁSICAS DE GARDE MANGER .................................................................................................9 1.1 Molhos frios ...............................................................................................................................................9 1.1.1 A maionese ................................................................................................................................................ 10 1.1.2 Coulis ........................................................................................................................................................... 13 1.2 Vinagretes e citronetes ...................................................................................................................... 14 1.3 Aromatização ......................................................................................................................................... 17 1.4 Saladas ...................................................................................................................................................... 18 1.4.1 Higienização .............................................................................................................................................. 21 1.4.2 Cortes ........................................................................................................................................................... 22 1.4.3 Refrigeração .............................................................................................................................................. 22 1.5 Antepastos/Entradas/Couvert ......................................................................................................... 23 1.5.1 Hors d’oeuvre ............................................................................................................................................ 23 1.6 Finger food .............................................................................................................................................. 24 2 SOPAS FRIAS ..................................................................................................................................................... 25 3 TORTAS E QUICHES ......................................................................................................................................... 27 3.1 Patê brisée, patê brisée sucrée e patê brisée salée ................................................................. 27 3.2 Pâte a choux ........................................................................................................................................... 29 3.3 Crepes ........................................................................................................................................................ 29 3.4 Terrines ..................................................................................................................................................... 30 4 CONDIMENTOS E CONSERVAS ................................................................................................................... 31 4.1 O sal ........................................................................................................................................................... 33 4.2 Picles .......................................................................................................................................................... 34 4.3 Relish ......................................................................................................................................................... 34 4.4 Chutneys .................................................................................................................................................. 34 4.5 Condimentos .......................................................................................................................................... 35 Unidade II 5 SANDUÍCHES ..................................................................................................................................................... 42 6 MOUSSES E MOUSSELINES ......................................................................................................................... 44 6.1 Mousse ....................................................................................................................................................44 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 6.1.1 A base ......................................................................................................................................................... 44 6.1.2 A liga ........................................................................................................................................................... 45 6.1.3 O aerador .................................................................................................................................................. 45 6.1.4 A formula básica da mousse .............................................................................................................. 45 6.2 Mousseline .............................................................................................................................................. 46 6.3 Gelatina .................................................................................................................................................... 48 7 TÉCNICAS AVANÇADAS ................................................................................................................................ 50 7.1 Confit ......................................................................................................................................................... 50 7.2 Defumação .............................................................................................................................................. 51 8 CURAS, SALMOURAS E MARINADAS ...................................................................................................... 52 8.1 Curas .......................................................................................................................................................... 53 8.2 Salmouras ................................................................................................................................................ 53 8.3 Marinadas ................................................................................................................................................ 54 8.3.1 Gravlax ........................................................................................................................................................ 55 7 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 APRESENTAÇÃO Este material tem como objetivo apresentar as bases da cozinha fria, que, apesar do nome, vai muito além disso. Conhecida também como garde manger, essa divisão da cozinha é muito mais ampla, e suas técnicas são muito avançadas e diversificadas. Com este livro-texto você poderá entender e aplicar as técnicas de molhos frios, aromatizações, saladas e antepastos, entradas e couvert, sopas frias, tortas e quiches, crepes, terrines, condimentos e conservas, sanduíches, mousses e mousselines, confit, curas e marinadas, entre outras. Você também poderá identificar os diversos tipos de ingredientes essenciais e temperos diversos, bem como manipular, comprar e utilizar esses ingredientes. Este material oferece o embasamento para a execução das principais técnicas de cocção de cozinha fria. É importante ressaltar que a cozinha fria não trabalha apenas com comida fria. Este é um nome adquirido pelo fato de servir também as preparações frias. Para o aprendizado e aprimoramento do aluno, apresentamos aqui os principais temas clássicos da gastronomia. INTRODUÇÃO No Brasil, genericamente, a cozinha fria é o nome dado ao setor de produção e armazenamento de comida fria, a cozinha fria de um restaurante. Essa mesma área de armazenamento transformou-se em uma das praças mais importantes de uma cozinha profissional. No entanto, o termo “cozinha fria” é utilizado como a denominação francesa garde manger. O garde manger é um termo francês que significa “guardião da comida”, ou “guarda-comida”. Esse termo surgiu antes da Revolução Francesa, pois naquele tempo era considerado um símbolo de poder e prestígio manter um setor de estoque de comida. Era o setor responsável por manter e produzir alimentos salgados, charcutaria, curados, defumados etc. Nos castelos, os locais escolhidos para ser o garde manger eram em locais mais frios, geralmente nos níveis inferiores (andares mais baixos). O setor era dividido por grupos e cada grupo preparava um tipo de alimento, um grupo preparava os embutidos, o outro, os defumados, um terceiro, os queijos e assim por diante. Certamente o garde manger é o setor mais importante da maioria das cozinhas, pois além da cozinha fria, com o tempo ficou responsável também pela decoração e arranjos dos banquetes e eventos. O cozinheiro desse setor também desenvolve um lado artístico, pois é dele a responsabilidade de elaborar as esculturas em gelo, legumes e frutas, por exemplo. Com tantas habilidades requeridas, o chef de garde manger é um profissional diferenciado, pois conhece todas as técnicas de uma cozinha, ao passo em que os demais cozinheiros de outros setores não possuem os mesmos conhecimentos técnicos de um garde manger. Por isso, geralmente, quando alguém se inicia em uma cozinha, deve passar por esse setor. Além das habilidades técnicas e conhecimentos artísticos, o pessoal de garde manger deve se preocupar também com a higiene e a manipulação de alimentos. Esse ponto é importante pelo fato de se trabalhar com alimentos que podem ser servidos crus, por isso, é necessário ter um rigoroso controle com as boas práticas em alimentos, temperaturas e desinfecção, além de uma preocupação com a qualidade. 8 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Outro fator importante é a apresentação e os sabores das preparações. Na cozinha fria, a aparência é fundamental, pois na montagem das mesas dos banquetes e eventos o que conta é o visual. Devemos aliar a beleza ao sabor, e o chefe que conseguir manter esse perfil será bem-sucedido. 9 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA Unidade I 1 TECNICAS BÁSICAS DE GARDE MANGER 1.1 Molhos frios Um item importante em garde manger é a elaboração de molhos e emulsões frias. Uma combinação bem-elaborada de um molho em qualquer ocasião, por exemplo, torna a refeição requintada e demonstra a habilidade do profissional da área, bem como a capacidade de escolher, avaliar e julgar sabores, texturas e cores de um prato. Os molhos podem ser definidos como líquidos frios ou quentes. São chamados de “frios” devido à maioria ser servida fria e para não confundir com os molhos de cozinha quente, ou seja, os molhos “mães”, por exemplo, porém, alguns podem ser apresentados e servidos quentes. A sua função é adicionar ou combinar sabor aos pratos, respeitando e procurando harmonizar os seus ingredientes. No garde manger, as técnicas mais importantes de preparo dos molhos são as emulsões frias, incluindo os vinagretes e as maioneses. Essas variedades clássicas francesas atualmente são modificadas por outras culturas e profissionais, que utilizam novas técnicas e ingredientes. Como exemplo, podemos citar: molhos à base de laticínios (queijos e iogurtes), salsas, coulis, molhos de cobertura etc. Os molhos frios são muito variados e podem ser diluídos ou espessos, bem como podem conter ingredientes visíveis ou ser peneirados de acordo com a preferência ou necessidade. São utilizados em diversos pratos frios em geral. Os molhos frios são mais utilizados em saladas e normalmente são derivados de duasemulsões básicas: vinagre e azeite. Para saladas, finalização de pratos e acompanhamento de pães, são considerados os melhores. O azeite é considerado o melhor óleo para ser consumido por humanos e na cozinha é um item essencial. Em sua versão extra virgem, acentua sabores como nenhum outro, além de ter em sua constituição alto teor de ácidos monoinsaturados que ajudam a regular os níveis de colesterol bom e ruim do sangue. Outros óleos, que também podem ser utilizados em saladas e molhos, são os de nozes, milho, amendoim, sementes de uvas, amêndoas, papoula, girassol e avelãs. O vinagre também é muito importante. É um produto obtido da fermentação do vinho, consumido há muitos séculos. É o principal meio ácido para as emulsões a frio. Mas o que é emulsão? Podemos dizer que é uma forma de misturar ou combinar mecanicamente elementos líquidos que não se misturam naturalmente, como água e óleo. Misturando essas 10 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I partes mecanicamente, quebramos as partículas de gordura do óleo, fazendo com que eles se dissolvam um no outro. Existem três formas de emulsões frias: • Temporária. Exemplo: os vinagretes. • Semitemporária. Exemplo: molho hollandaise ou béarnaise. • Permanente. Exemplo: maionese. 1.1.1 A maionese No século XVIII, surgiu um molho inteiramente novo: a maionese. Sua criação é atribuída ao Duque de Richelieu, que, depois de conquistar Mahon, na Ilha de Minorca, em 1756, teria dado o nome de mahonnaise ao molho de sua invenção. Segundo outros, Richelieu teria simplesmente trazido de Mahon a receita do molho que lá provara (FRANCO, 2001, p. 194). Entretanto, a maionese é um molho mãe e é a base para outros molhos. Os derivados dela podem ser usados em diversas produções: acompanhamentos, aves, carnes, molhos, lanches, saladas, sanduíches, peixes, vegetais etc. A maionese é uma emulsão mais estável e é considerada uma emulsão permanente. Essa estabilidade só é possível devido a uma proteína encontrada na gema do ovo, denominada lecitina. Devido à mistura de gema e óleo, ela deve ter a textura cremosa, cor amarelo bem claro e opaco, porém brilhante e de sabor neutro. A consistência deve ficar firme e leve; na boca, derrete com facilidade e possui um toque aveludado. Para uma receita clássica, a proporção recomendada de gema e óleo deve ser: 1 gema para 150 a 240 ml de óleo. No entanto, pode haver variações de acordo com a qualidade e/ou o tamanho do ovo. A utilização de um elemento ácido para a maionese tem como objetivo realçar o sabor e auxiliar na consistência, podendo ser incorporados os seguintes: mostarda, suco de limão, vinho branco ou tinto, vinagre (todos os tipos), entre outros. A mostarda agrega sabor e auxilia na estabilização da emulsão, e a mistura entre eles também é utilizada. O grande truque de uma maionese correta está em bater bem os componentes da receita e tomar alguns cuidados importantes. Recomenda-se que os ingredientes estejam em temperaturas iguais, inclusive os utensílios. Bata as gemas primeiro e incorpore os temperos e o ácido, somente depois disso é que se agrega o óleo ou azeite aos poucos, em gotas, e aumentando até formar um fio, sem parar de bater. Não coloque muito de uma só vez, pois a mistura pode desandar ou ficar desequilibrada. 11 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA Observação Por que a maionese desanda? Os molhos emulsionados de preparo semelhante à maionese podem desandar por várias razões: se adicionar o óleo rápido demais, não dá tempo para a gema absorvê-lo. Também porque não há espaço para as gotículas de óleo se dispersarem na mistura e elas começam a se chocar. Nesse caso, não coloque mais óleo, coloque um pouco de água para aumentar o espaço. Ou podemos recuperá-la acrescentando outra gema, batida separadamente num outro recipiente e, em seguida, despeje gradualmente, batendo sempre, a maionese desandada. Não é recomendado o uso do liquidificador para essa receita, apesar de o tempo de preparo ser maior: o resultado não é muito satisfatório, pois perderá uma parcela de sabor. Segundo o Instituto Americano de Culinária (IAC, 2014), é possível ajustar a textura e o sabor do molho acrescentando um pouco mais de ácido ou de água ao incorporar o óleo. Uma vez que os ovos tenham absorvido óleo suficiente para a mistura engrossar bem, acrescente mais suco de limão, vinagre ou um pouco de água. Se isso não for feito, o molho ficará grosso demais e não absorverá mais óleo. Feito isso, continue adicionando óleo até completar a quantia especificada na receita. A maionese pronta deve ser suficientemente espessa para manter picos moles; contudo, dependendo do uso a que se destina, ela pode ser afinada com um pouco mais de água para se tornar mais fácil de despejar. De acordo com a Resolução CNNPA nº 12, de 1978, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), existem algumas normas que devem ser respeitadas para se produzir e classificar uma maionese. Segue a resolução: Resolução CNNPA nº 12, de 1978 A Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos, em conformidade com o artigo nº 64, do Decreto-lei nº 986, de 21 de outubro de 1969 e de acordo com o que foi estabelecido na 410ª. Sessão Plenária, realizada em 30/03/78, resolve aprovar as seguintes NORMAS TÉCNICAS ESPECIAIS, do Estado de São Paulo, revistas pela CNNPA, relativas a alimentos (e bebidas), para efeito em todo território brasileiro. À medida que a CNNPA for fixando os padrões de identidade e qualidade para os alimentos (e bebidas) constantes desta Resolução, estas prevalecerão sobre as NORMAS TÉCNICAS ESPECIAIS ora adotadas. Condimentos ou temperos 1. Definição 12 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I Condimentos ou temperos são produtos constituídos de uma ou diversas substancias sápidas, de origem natural, com ou sem valor nutritivo, empregado nos alimentos com o fim de modificar ou exaltar o seu sabor. 2. Designação Os condimentos são designados de acordo com a sua natureza com nomes de fantasia ou nomes tradicionais. [...] IV – Condimento preparado: produto obtido pela simples mistura de condimentos naturais ou elaborados, com adição de outras substâncias alimentícias aprovadas e apresentadas sob a forma de pós, pastas, molhos, em emulsão ou suspensão. Entre os condimentos preparados incluem-se: [...] c) Maionese – emulsão cremosa obtida com ovos e óleos vegetais, adicionada de condimentos e outras substâncias comestíveis aprovadas. Não poderá ser adicionada de corantes. Deve ter, no mínimo, três gemas de ovos por litro e, no mínimo, 65% de óleo vegetal comestível. Pode ter, no máximo, 0,5% de amido. d) Mostarda de mesa ou Mostarda preparada – produto cremoso obtido de mostarda em pó, vinagre e óleo, podendo conter outras especiarias, açúcar e sal. [...] 4. Características gerais O condimento vegetal deve ser constituído de especiarias genuínas e puras, sãs e limpas, que devem corresponder às suas características botânicas normais e estar isento de substâncias estranhas, elementos vegetais estranhos à espécie de partes da planta de origem, que não possuam as características de condimento vegetal. Os condimentos preparados devem ser obtidos de especiarias genuínas. Podem ser adicionados de óleos comestíveis, ovos, sal, açúcar, limão, vinagre e de outras substâncias alimentícias aprovadas. Todos os ingredientes empregados devem estar em perfeito estado de conservação. É permitidaa adição de amido na quantidade máxima de 10%, nos casos previstos. Os molhos podem apresentar-se sob a forma líquida ou cremosa, podendo conter elementos constitutivos em suspensão. É permitido, aos condimentos líquidos, a coloração com caramelo. 7. Características microbiológicas Os condimentos e temperos devem obedecer ao seguinte padrão: Bactérias do grupo coliforme de origem fecal: ausência em 1g. 13 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA Salmonelas: ausência em 25 g. Deverão ser efetuadas determinações de outros microrganismos e/ou de substâncias tóxicas de origem microbiana, sempre que se tornar necessária a obtenção de dados adicionais sobre o estado higiênico-sanitário dessa classe de alimento ou quando ocorrerem toxinfecções alimentares. 8. Características microscópicas Ausência de sujidades, parasitos e larvas. 9. Rotulagem O rótulo do condimento vegetal em espécie deve trazer a denominação da especiaria, seguida da forma de apresentação. O rótulo do condimento preparado deve trazer a denominação “Condimento preparado”, podendo acrescentar nome de fantasia, seguido das especiarias empregadas. Os rótulos dos condimentos mistos devem trazer os nomes das especiarias empregadas. É obrigatória a declaração do teor de amido adicionado. Adaptado de: Anvisa (1978). Dicas para um bom preparo: • O ácido (limão ou vinagre) funciona como aglutinador, quebra o sabor dos ovos crus. Deixa a maionese pálida, porém, mais cremosa. • Utilize um óleo de sabor neutro para que o sabor da maionese fique neutra, podendo ser utilizada em qualquer receita. • Para evitar os riscos de contaminação, como a salmonelose (causada pela bactéria salmonela), os estabelecimentos comerciais utilizam as gemas pasteurizadas ou cozidas no preparo de maionese. • Os ingredientes utilizados para o preparo da receita devem estar em temperaturas semelhantes. • Adicione um pouco de água e misture com a gema para facilitar a emulsificação. • Adicione o óleo lentamente, pois, se for muito rápido, o molho pode desandar. • Mantenha sob refrigeração e evite variações de temperatura. Consuma em, no máximo, três dias. 1.1.2 Coulis Segundo o Instituto Americano de Culinária (IAC, 2014, p. 21), a definição clássica, dada por Escoffier em seu livro Le Guide Culinaire, afirma que um coulis consiste dos “sabores essenciais bem reduzidos e altamente concentrados de um alimento na forma de um purê ou de liquido”. 14 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I Na cozinha fria moderna, os coulis são feitos amassando-se frutas e vegetais crus e cozidos até que adquiram uma consistência próxima à de um molho. Os termos “purê” e “coulis” são frequentemente usados sem distinção entre si. A textura desses molhos vai de leve e macia a áspera. Eles são servidos puros ou elaborados por meio da adição de caldo, vinho, óleo, creme de leite ou uma infusão. Embora o nome coulis não seja muito conhecido no Brasil, essa técnica sempre foi utilizada nas cozinhas. No entanto, muitos cozinheiros não o chamam pelo nome original, sendo mais conhecido como purê ou creme com pedaços dos componentes do preparo. Independentemente do nome, os coulis sempre tiveram um espaço muito importante nas cozinhas modernas, pois são molhos apetitosos, de aparência consistente e servem para as produções salgadas e doces, trazendo cor, textura e sabores, e são especiais quando servidos em forma de acompanhamento de saladas simples e compostas e até de sobremesas. 1.2 Vinagretes e citronetes O vinagre é obtido através da fermentação principalmente de vinho (tinto ou branco) e também de outros ingredientes. No processo de fermentação acética, o álcool do vinho se transforma em ácido acético e se torna um condimento muito especial para temperar saladas e confeccionar molhos, conservas e marinadas. Antes de ser importante na cozinha, o vinagre teve uma função ainda mais essencial na relação com a saúde do ser humano por seu efeito antisséptico e cicatrizante. Antigamente era adicionado à água para matar a sede dos soldados e viajantes e, principalmente, como higienizante para ferimentos. Alguns acreditam que podem até combater radicais livres e evitar alguns tipos de câncer, entre outros benefícios ao ser humano. Ninguém sabe ao certo a origem do vinagre. Existem registros da existência do vinagre no Egito Antigo, onde era usado como medicamento. Na Europa, nas longas viagens do século XIV, as barcas que transitavam pelo Vale do Rio Loire, na França, traziam vinhos de Anjou ou Touraine para Orléans e Paris. Devido as longas e lentas viagens de barco, os barris de vinho transportados muitas vezes chegavam ao seu destino já estragados, o que resultava num vinho azedo, ou vinaigre. Com esse problema, deu-se por uma nova utilização para o “vinho estragado”. Um novo produto, o vinaigre, foi reconhecido pelo Rei Carlos VI e Orléans e logo se tornou a capital francesa do vinagre. Outro registro é datado do tempo do Império Romano, pois o termo “vinagre” significa “vinho acre”, do latim vinumacer. As variações de vinagre dependem da matéria-prima que sofre a fermentação. Além dos vinagres clássicos de vinhos tintos e brancos, existem muitos outros tipos diferentes de vinho, como o de Jerez (vinho fortificado da Espanha) e de outros ingredientes, como álcool, arroz e maçã. O vinagre pode ser feito com qualquer fruta que contenha açúcar, como maçã, framboesa, caqui, laranja, jabuticaba, mexerica, kiwi e outros. Para os molhos emulsionados, o vinagre de vinho tinto, branco ou de maçã são os mais utilizados em picles e para amaciar carnes vermelhas. Os de frutas também fazem sucesso para vinagretes. Na cozinha fria também são elaborados vinagres aromatizados com pimentas, alecrim, tomilho, sálvia, manjericão, estragão e muitas outras ervas. As indústrias utilizam etanol para a produção de vinagre. O resultado é o 15 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA agrin, um produto muito pobre, que não acrescenta nenhum sabor. Por isso, deve-se preferir os vinagres de vinho tinto. No Brasil, a produção e variedade dos vinagres ainda é tímida. No Japão e na Europa, o produto é muito valorizado. Outros tipos de vinagres recomendados para uso em saladas e molhos são: • Sabores neutros: vinho branco, vinho tinto, álcool, arroz, cereais, maçã, pera, sidra e outros. • Sabores acentuados: aceto balsâmico, amora, caqui, estragão, morango, tangerina. Os mais utilizados nas emulsões frias temporárias, os vinagretes são resultado da mistura de vinagre (ácidos) com óleo. Hoje em dia, podem ter inúmeras combinações, da imensa variedade de ácidos, óleos e condimentos. Existem os molhos vinagretes clássicos e definidos, ou os clássicos com nomes específicos, e além da criatividade, não há limites para inovações e invenções. Para a elaboração, é aconselhado seguir as corretas proporções entre ácido e óleo, com a finalidade de obter um molho harmônico, sem que nenhum elemento se sobressaia. A proporção pode variar de acordo com a acidez do vinagre ou o tipo de óleo utilizado. Uma fórmula padrão bem-definida e preferida por muitos chefs é uma proporção de 3 partes de óleo para 1 parte de ácido. Além dessa combinação, é preciso temperar essa mistura; não há um registro oficial para a receita, portanto, a maioria dos chefes utiliza essa base e acrescenta sal e pimenta-do-reino. Portanto, a receita do vinagrete básico é composta por: óleo + ácido + sal + pimenta-do-reino Algumasvariações de vinagrete: • Vinagrete de ervas aromáticas. • Vinagrete de alho. • Vinagrete balsâmico. • Vinagrete de curry. • Vinagrete de mel e mostarda. • Vinagrete de anchovas. • Vinagrete de mostarda de Dijon. • Vinagrete de frutas frescas, entre outros. A composição é predominantemente de óleo, mas seu nome é batizado de vinagrete devido ao tipo de ácido ou tempero utilizado. Sua utilização é na maioria das vezes em saladas, no entanto, podem ser usados em outros preparos, como marinadas, molhos, grãos, vegetais, conservas etc. 16 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I É importante lembrar que o tipo de óleo e ácido usados na produção pode ter variações de densidade, sabor e acidez, e terá influência direta no molho desejado. Portanto, a composição escolhida desses ingredientes deve ser criteriosa e harmoniosa. No caso do vinagre, por exemplo, que tem variação de acidez, podemos acrescentar mais óleo ou um pouco de água para diluir e amenizar a acidez. O tipo de óleo mais recomendado é o azeite de oliva, devido ao seu sabor característico e aromático e também por ter vantagens nutricionais. O azeite possui um alto teor de ácidos monoinsaturados, que ajudam a regular os níveis de colesterol no organismo. Outros tipos de óleos recomendados para uso em saladas e molhos são: • Sabores neutros: amêndoas, amendoim, algodão, arroz, avelã, gergelim, girassol, oliva (comum), linhaça, nozes, sementes de papoula, semente de uva e outros. • Sabores acentuados: canola, coco, milho, oliva virgem e extra virgem, pequi, soja e outros. Existem os óleos aromatizados, que combinam sucos de vegetais, ervas, oleaginosas, raízes e outras especiarias. Podem ser utilizados como molho, por si só, decorando e finalizando produções ou ainda na composição de outros molhos. Os vinagres, como os óleos, podem variar de acordo com a adição de ingredientes – para tal, utiliza-se o método de infusão. O vinagre é aquecido e o ingrediente desejado é adicionado, como vegetais, ervas, raízes etc. Essa variante auxilia ainda mais para que se obtenha uma gama maior de combinações no momento de definição e execução do vinagrete ou de um molho em geral. Outro produto é o aceto balsâmico, que é considerado a elite dos vinagres. Com sabor agridoce, acidez incomparável, cor castanho escuro e um aroma complexo, não podem ser comparados aos vinagres comuns. Seu sabor é meio doce e ácido e seu tempero balsâmico é inimitável. É obtido a partir da fermentação alcoólica e acética que ocorrem simultaneamente no mosto da uva e não no vinho (como é o vinagre comum), fervido até aproximadamente 80 0C para elevar o teor de açúcar a 30% e então se transformar em álcool e depois vinagre. O mosto concentrado é colocado em barris de amoreira, castanheira, carvalho ou cerejeira. O processo pode levar anos até que fique pronto o aceto. Elaborado com a uva trebbiano, o Aceto Balsamico Tradizionale di Modena é o mais famoso. Podem ser envelhecidos de 12 a 25 anos, o que dá direito ao selo de garantia, e custam muito caro, pois a cada 100 kg de uva rendem apenas dois litros de balsâmico. A designação Aceto Balsamico Tradizionale di Modena está legalmente protegida desde 1983. No Brasil, a maioria dos similares não segue esses critérios de produção e infelizmente utiliza caramelo e corantes na produção. Outra combinação de ácido com óleo é a substituição do vinagre pelo ácido cítrico, obtido pelo suco de frutas cítricas, como amora, carambola, grapefruit, laranja, limão, maracujá, morango, tangerina e outros. Essa substituição deve ser criteriosa, pois as frutas possuem teor de acidez e sabores diferentes, permitindo diversas combinações específicas. Portanto, quando substituímos o vinagre por alguma fruta cítrica, chamamos de citronete. 17 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA Algumas dicas para o método de preparo do vinagrete: • Misture o vinagre com os condimentos e/ou ervas. • Bata rapidamente com o auxílio de um fouet, adicione o óleo aos poucos (em fios), até formar uma mistura homogênea e levemente cremosa. • Sirva imediatamente ou reserve; nesse caso, bata novamente ao servir. Alguns cuidados importantes no preparo do vinagrete: • Dependendo do grau de acidez do vinagre, as proporções de ácido e óleo podem mudar. • Para que o vinagrete não fique muito forte, misture um pouco de água ou óleo. • Cuidado para que os ácidos não se sobressaiam sobre os azeites, como o extra virgem, por exemplo, que possui sabor e aroma marcantes. • No caso das emulsões temporárias, é recomendado bater sempre antes de servir, para que não perca a textura. • Quando misturados às saladas, coloque apenas no momento de servir e cuide para que cada folha esteja uniformemente coberta com o molho. • Adicione um pouco de água para aumentar o grau de estabilidade da emulsão. • Pode se obter um melhor resultado preparando o vinagrete com os ingredientes em temperatura ambiente, isso facilita a emulsão. Lembrete Existem três formas de emulsões frias: temporária, como os vinagretes; semitemporária, como os molhos hollandaise ou béarnaise; e permanente, como o molho maionese. 1.3 Aromatização Azeites e vinagres são ótimos como temperos para saladas, molhos, conservas etc. Os aromatizados dão um toque especial às preparações. Existe uma infinidade de condimentos e ervas capazes de fornecer sabor – são os ingredientes aromáticos –, e saber combinar e dosar esses ingredientes é fundamental. Existem algumas maneiras de se extrair sabores dos aromáticos: 18 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I • Maceração: coloque os aromáticos (lavados e secos) em um recipiente e encha-o com vinagre, azeite ou óleo, tampe e deixe alguns dias (de três a quinze) para impregnar os sabores (macerar). Após esse período, o líquido pode ser coado e guardado por período indeterminado. • Infusão: na infusão, o processo é parecido com a maceração, porém, os aromáticos são aquecidos a uma temperatura de no máximo 49 ºC no líquido escolhido, antes de serem colocados num recipiente. • Batido: escalde as ervas (para ervas frescas) por aproximadamente 15-25 segundos em água com sal. Dê um choque térmico com água gelada e em seguida seque-as bem. Bata as ervas com azeite, óleo ou vinagre num liquidificador e coe. Guarde num recipiente bem tampado. Dicas para um bom preparo: • Na maceração, não é recomendado deixar as ervas por mais de 20 dias quando o clima estiver quente. • Em todas as técnicas, é importante higienizar os ingredientes e utensílios corretamente. • Também é importante guardar em recipientes bem tampados e estocar sob refrigeração. • Em alguns casos, é melhor utilizar óleo e vinagre neutros ou com sabor suave para não influenciar demais no sabor. Saiba mais Saiba mais sobre azeites no livro: PERCUSSI, L. Azeite: história, produtores, receitas. São Paulo: Senac, 2006. 1.4 Saladas Quando o assunto é salada, não dá para imaginar quantas existem, certamente as variedades são inúmeras, conforme a criatividade do profissional. Elas são classificadas em simples ou compostas. As saladas simples não precisam de muita técnica ou criatividade, pois basta ralar, cortar ou picar e misturar alguns ingredientes. Já as compostas, por vezes, acabam até substituindo um prato principal em refeições mais rápidas ou em ocasiões especiais, devido à sua complexidade na composição. Atualmente, no mundo inteiro,conta-se com ofertas cada vez mais variadas de verduras, legumes e ingredientes como azeites, óleos, vinagres, ervas e especiarias para os molhos, além de técnicas cada vez mais avançadas e elaboradas. Certamente as saladas fazem parte de um item importante do cardápio de um restaurante ou em casa, principalmente em uma dieta, e, na verdade, muitas vezes podem substituir uma refeição. Em muitas ocasiões são consideradas a porta de entrada para os grandes pratos e podem 19 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA ser muito atraentes, basta ousar e usar a criatividade e as técnicas corretamente. Elas podem ser cruas ou cozidas e quase sempre são servidas frias e temperadas com molhos frios, como entrada ou acompanhamento. Não se sabe ao certo como foi criada a primeira salada, mas o termo “salada” deriva do latim herbasalata, e significa “erva salgada”. É possível que tenha sido preparada apenas com ervas, verduras e vegetais temperados com sal, utilizando justamente o que havia disponível no frescor das estações, a “sazonalidade”. Atualmente, o profissional de garde manger precisa de maior conhecimento estético e precisão técnica num setor que antes era considerado como algo fácil, mas, com o avanço da tecnologia e de conhecimentos técnicos, exige-se muito mais de suas capacidades. Quando, na época da Nouvelle Cuisine, no final da década de 1960, o francês Michel Guérard ousou servir suas saladas em pratos unitários, o que era considerado muito moderno para a época, causou uma grande mudança na maneira de os cozinheiros interpretarem as saladas. E foi além: ele resolveu mudar toda essa etapa da refeição, remodelando conceitos e menus inteiros. Ele sabia que os legumes e vegetais podiam e deviam ser escolhidos com rigor, ter bom senso em seu preparo, delicadeza nos molhos e excelência na apresentação. Afinal, uma salada deve ser gostosa, instigante e elegante! Atualmente, a salada pode conter diversos ingredientes e variedades de temperos. Com as técnicas de molhos emulsionados de vinagretes, citronetes e molhos frios, podemos obter belíssimas montagens, sabores marcantes e consistências curiosas. Na classificação geral, a composição de uma salada pode ser: • Simples: folhas diversas ou legumes crus ou cozidos. • Compostas: são mais complexas e existem diversas combinações de ingredientes, permitindo uma variedade maior de contraste de sabores, cores e texturas. Sua preparação é mais detalhada, pois os ingredientes não são apenas misturados no prato, mas são saladas elaboradas com mais técnica e arrumadas cuidadosamente. Os ingredientes podem ser de todo tipo, como embutidos, defumados, grãos, massas, frutas, gelatinas, queijos, carnes, frutos do mar, peixes e outros. Existe uma grande e variada categoria de folhas, ervas e flores. Segundo o IAC (2014), o garde manger pode classificar essas categorias em: • Verduras leves. • Verduras amargas e chicórias. • Verduras picantes. • Misturas de folhas. 20 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I • Ervas e flores. • Miniverduras. As alfaces fazem parte da categoria de verduras leves. São classificadas da seguinte forma: lisa, crespa ou folha. Para selecionar a alface, escolha a que esteja crocante e firme (nunca murcha). Para guardar, coloque em um recipiente coberto com tampa ou cubra com pano ou papel umedecido e filme de PVC. Nunca deixe as folhas imersas na água por um longo período. Retire o excesso de umidade ou seque- as depois de lavadas. Quadro 1 – Alfaces Tipo Descrição Utilização Lisas Alface lisa Folhas macias e delicadas, com nervuras pouco salientes; sabor suave e aspecto oleoso. Saladas. Crespas Americana Folhas crespas, sobrepostas e compactas, consistentes e crocantes; sabor muito suave. Saladas e sanduíches. Crespa Folhas crespas e sobrepostas, delicadas e crocantes; sabor suave. Saladas. Roxa Folhas crespas e delicadas, com nervuras salientes; sabor suave e crocante. Saladas. Romana Folhas tipicamente alongadas e cilíndricas, em formato de cone, firmes, com nervuras claras no centro e escuras nas extremidades; sabor adocicado. Saladas e sanduiches. Folhas Folhas verdes ou vermelhas Algumas derivações de alfaces com colorações avermelhadas ou verdes. Saladas. Chicória Folhas recortadas e crocantes; sabor amendoado. Saladas. Quadro 2 – Chicórias e verduras amargas Tipo Descrição Utilização Agrião Folhas pequenas e recortadas, verde escuras; sabor forte. Saladas e sanduíches. Alface frisée Folhas finas e recortadas, é quase branca no centro e vai ficando verde nas extremidades; possui sabor ligeiramente amargo. Saladas, misto de folhas e decoração de pratos. Almeirão Possui folhas verdes e em formato de lança, cobertas por micropelos; é bastante amarga. Saladas, sopas e refogada. Chicória crespa Possui folhas estreitas e cerradas, semelhantes à alface frisée. Saladas, misto de folhas e decoração de pratos. Couve chinesa (Tatsoi) Possui folhas redondas e escuras e sabor leve. É melhor consumir ainda jovem. Saladas, sanduíches, sopas e refogada. 21 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA Dente de leão Folhas longas e estreitas, verde escuras; sabor amargo. Saladas, misto de folhas, gratinada, grelhada, assada e decoração de pratos. Endívia Folhas brancas com pontas amarelas ou verde claras; amargor médio. Saladas, misto de folhas, gratinada, grelhada, assada e na decoração de pratos. Escarola Folhas grandes e recortadas, amarelas no meio e verde escuras nas extremidades; amargor médio. Saladas, sopas e refogada. Radicchio Folhas redondas e vermelhas com veias brancas; amargor médio. Saladas, misto de folhas, gratinada, grelhada, assada e na decoração de pratos. Rúcula Folhas recortadas e de cor verde escuro; amargor médio e picante. Saladas e sanduíches. Quadro 3 – Verduras picantes Tipo Descrição Utilização Agrião Folhas pequenas e recortadas, verde escuras; sabor forte e picante. Também conhecido como agrião da Europa ou do brejo. Saladas e sanduíches. Caruru roxo (crista de galo) Folha parecida com o manjericão, cor verde ou roxo; sabor semelhante ao espinafre. Saladas, sopas e refogada. Mizuna (mostarda chinesa) Conhecida como mostarda, levemente picante, melhor consumir enquanto jovem. Saladas, sanduíches, sopas e refogada. Couve chinesa (Tatsoi) Possui folhas redondas e escuras; sabor leve e semelhante ao repolho. Melhor consumir ainda jovem. Saladas, sanduíches, sopas e refogada. Rúcula Folhas recortadas e verde escuras; quando grandes possuem amargor médio e as folhas pequenas são, em geral, mais picantes. Saladas e sanduíches. Como podemos ver, existe uma grande variedade de sabores, crocâncias, cores e tamanhos (alface crespa verde ou roxa, radicchio, endívias, minirrúcula, mache, mimosa, frisée, acelga, agrião, alface americana, alface grega, alface romana, escarola, espinafre, mostarda, catalônia, erva-doce), e também de utilizações, cada espécie com uma característica específica para cozinha. Há também vegetais, cereais e lácteos: tomatinho-cereja, rabanete, pepino, cenoura, pimentão, brócolis, couve-flor, aspargo, granola salgada, coração de alcachofra, cebola roxa, muçarela de búfala e várias outras que a criatividade permitir. 1.4.1 Higienização É de extrema importância a realização da higienização dos legumes e verduras, principalmente itens consumidos“crus”. A higienização pode ser feita com produtos industrias, como o hipoclorito de sódio, ou caseiros, como o vinagre. 22 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I 1.4.2 Cortes Recomenda-se que as folhas sejam rasgadas com as mãos sempre que possível, pois algumas verduras e frutas oxidam ao serem cortadas com a faca. Faça cortes de acordo com a receita, de modo a facilitar o consumo do cliente com pedaços uniformes e pequenos. Cortar corretamente é importante, pois facilita a montagem e a decoração do prato. 1.4.3 Refrigeração As folhas e legumes não podem ficar em temperatura ambiente ou quente, portanto, devem ser mantidos sob refrigeração. Após higienizados, devem ser guardados com filme plástico, para que não “queimem” devido à baixa temperatura. Para as folhas, a temperatura deve ficar entre 4 e 7 °C. Cuidados no preparo: Devemos tomar alguns cuidados essenciais na elaboração de saladas. O resultado do trabalho final da produção depende essencialmente dos seguintes fatores: • Após a higienização correta das folhas, é importante centrifugá-las ou secá-las e armazená-las sob refrigeração, isso ajuda a prolongar a validade e a crocância. • Cortar as folhas com as mãos, “rasgar”, é a técnica mais indicada, e no tamanho adequado a uma mordida. • Evite cortar as folhas com a faca, pois elas podem oxidar. • As saladas frias devem ser mantidas sob refrigeração até o momento de servir. • A decoração deve ser um complemento e estar de acordo e/ou harmonizando com os ingredientes da salada. Cuidado para que a decoração não entre em conflito com os demais ingredientes da receita. • Cuidado com excessos ao temperar e adicionar molho às saladas. Os ingredientes devem harmonizar entre si. O contraste e diferença de sabores é recomendável, e nunca devem ser conflitantes. Observação Uma medida clássica e recomendada de porção para saladas é de aproximadamente 60 a 180 g e de 10 a 25 ml de molho. Essa variação de quantidades está relacionada ao tipo de salada e de molho utilizados na produção. Para saladas mais suaves, recomenda-se molhos mais suaves ou em menor quantidade, por exemplo. 23 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA 1.5 Antepastos/Entradas/Couvert “A primeira impressão é a que fica”, esse talvez seja o objetivo de uma entrada e um couvert num restaurante ou qualquer evento gastronômico. Por isso, ambos devem criar uma perspectiva para o porvir. Originalmente, eram apenas petiscos servidos antes ou durante as refeições e tinham o objetivo de distrair os comensais durante os eventos ou nos intervalos entre um prato e outro, ou ainda na chegada dos convidados, antes de se sentarem à mesa. As entradas se tornaram tão importantes para os restaurantes e também em eventos que normalmente os chefs a utilizam para causar uma boa impressão. São consideradas pequenas refeições para abrir o apetite, podendo ser servido todo e qualquer tipo de comida em versões pequenas, ou seja, o que o restaurante puder fornecer. Devem ser tratadas com delicadeza, sem abusar de grandes confecções, pois não devem interferir na refeição principal. É importante lembrar que as entradas são aperitivos e não podem jamais competir com os pratos principais. Nos Estados Unidos, essas entradas são mais conhecidas como first course (primeira refeição), appetizer ou starter. Nos últimos anos, os restaurantes mais modernos oferecem menus inteiros compostos por pequenos aperitivos ou tapas. Aqui no Brasil chamamos de “menu degustação”, o qual permite ao comensal experimentar uma boa parte do cardápio, inclusive a sobremesa, já que as porções são pequenas. Na gastronomia italiana, há o antpasto, também considerado como entrada, pois são aperitivos, seguido de primo piatto (quase sempre é servido um prato à base de carboidrato, ou seja, pastas italianas) e secondo piatto (sempre uma proteína, que é considerada o prato principal, como carnes, aves ou peixes). Dependendo do serviço, posteriormente virão os queijos e sobremesas. No serviço Francês, inicia-se com os amuse-gueule ou amuse-bouche, que são pequenos aperitivos considerados especiais ou exóticos. Em seguida são servidos os hors d’oeuvres, que são aperitivos e possuem várias interpretações, porém a mais característica é como antepasto, servidos antes ou fora dos pratos principais, por isso o nome hors de (fora de) oeuvre (refeição ou trabalho). Somente em seguida é servido a entrée, que é a entrada propriamente dita. Na sequência, o plat principal e posteriormente os pratos de queijo e sobremesas, assim como na italiana. 1.5.1 Hors d’oeuvre O termo “hors d’oeuvre”, que em francês quer dizer “fora do serviço”, é reconhecido universalmente; tanto em inglês como em português, não há um termo equivalente capaz de expressar tanta informação quanto a curta expressão francesa. Os hors d’oeuvre também têm lugar no menu, sendo apresentados como antepasto ou variedades de hors d’oeuvre. Embora sejam porções individuais, atualmente é muito comum que clientes solicitem o serviço de um menu composto inteiramente de hors d’oeuvre em recepções e coquetéis. Essas “refeições feitas em pé” podem ser bastante extensas, indo desde pequenas porções de sopa fria, carne, peixe, queijo, pratos vegetarianos e massas até sobremesas e confeitos. Quebrando a tradicional noção de que os hors d’oeuvre devem ser pequenos o suficiente para serem consumidos de uma só vez, sem garfo e 24 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I faca, alguns itens especiais demandam o uso de prato. Para que tudo corra bem, é importante que uma equipe qualificada recolha continuamente pratos, copos, palitos e guardanapos usados (IAC, 2014). 1.6 Finger food Outra das responsabilidades do garde manger é a produção de serviço de coquetel em eventos. São de tamanho pequeno, para serem comidos com as mãos, podendo ser comidas frias e quentes. Finger – dedos, em inglês – e food – comida –, as duas palavras juntas significam comer em uma ou duas bocadas, sem a utilização de talheres e em pequenas porções. Os canapés são classificados como minissanduíches e são o melhor exemplo de finger food. São também conhecidos como saltimboca, amuse-gueule, hors d’oeuvre, tapas ou mezzes. Os canapés são de origem russa, conhecidos como zakuskis. A diferença está no fato de serem sempre “descobertos”, ou seja, minissanduíches abertos. Para sua elaboração, é importante manter a uniformidade na espessura e no tamanho, sejam pequenos quadrados, triângulos ou tiras; o essencial é manter a mesma montagem padronizada sobre toda a bandeja, para se ter uma visão limpa e organizada do serviço. As produções elaboradas como finger food servem muito bem em todas as ocasiões, são informais e facilitam o trabalho nos eventos, ao receber amigos ou clientes de empresas, aniversários, casamentos e reuniões. Atualmente, as cozinhas trabalham com o conceito de fusion food, em que há uma grande mistura de influências de sabores e ingredientes do mundo inteiro. Finger food é a opção ideal para quem deseja trabalhar com praticidade e informalidade. É importante ressaltar que, em finger food, é melhor simplificar para servir, sem deixar de ser elegante. Para tanto, é preciso delicadeza na elaboração e execução, e os detalhes e minúcias são fundamentais na apresentação, que chamam muito a atenção, o uso e o equilíbrio de sabores, aliado à criatividade do chef, são essenciais para resultar em trabalhos impecáveis. Dicas para um bom preparo:• Servidos sempre em pequenas porções, de preferência para comer com uma ou duas mordidas ou bocadas. • É aconselhável que tenha tipos diferentes de cocção: assados, grelhados, fritos ou outros. • Cuidado ao usar temperos, que devem ser moderados, exceto quando forem eventos temáticos (brasileiro, coreano, grego, indiano, mexicano, peruano, tailandês etc.). • Caprichar na apresentação e decoração, mas sem exageros. • Preocupar-se com o sabor, a textura e a cor que devem estar equilibrados para que haja uma harmonia. • Utilizar utensílios e louças adequadas com o evento. 25 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA 2 SOPAS FRIAS Acredita-se que os cozidos e ensopados foram, provavelmente, as primeiras preparações elaboradas e criativas da História depois que o homem descobriu o fogo e as panelas, inicialmente as de barro. Essas preparações nasceram quando o homem se deu conta que as carnes de caça, duras por natureza, ficavam mais macias e adquiriam melhor sabor se cozidas com água, ervas, frutas e raízes. Esses cozidos resultam da mistura de ingredientes e estes são quase infinitos. Não exigem tanto conhecimento técnico, mas sim, em muitos casos, apenas a intuição. James (2002), ao escrever sobre Escoffier em seu livro O Rei dos Chefs, diz que os gregos antigos abriram hospedarias, e os romanos as espalharam por todo o seu império. Então, por dois mil anos, o ato de comer fora significou também dormir fora, mas nada de breves paradas, a dois, para uma refeição romântica, à luz de velas. Mais tarde, até a metade do século XVIII, mesmo como hóspedes residentes, provavelmente se conseguiria apenas o cardápio da casa, literalmente, o que o anfitrião (dono do estabelecimento) pusesse na mesa, na cozinha. A sopa como conhecemos hoje é de origem francesa, a soupeé da época do período clássico, dos banquetes franceses nos séculos XVI e XVII. Sua finalidade era “abrir” as refeições. Em todas as grandes casas tradicionais, as sopas estavam presentes em todos os menus e era o primeiro item relacionado. Grimod de La Reynière (1758-1838), um dos primeiros gastrônomos franceses, fez uma analogia à importância da sopa numa refeição, mencionando que a presença dela é tão marcante em uma refeição quanto um lindo vestíbulo é para uma casa. Para os mais desfavorecidos a sopa foi, por muito tempo, a única refeição disponível, pois era essa a melhor forma de cozimento. A panela de ferro era pendurada sobre o fogo e ali se preparavam os cozidos com embutidos, ervas, condimentos, legumes e água. No litoral, por exemplo, a famosa bouillabaisse era o prato diário dos pescadores. No início essas sopas eram consideradas pela burguesia um alimento pobre e de pessoas mais humildes, mas sem deixar de ignorar os seus efeitos benéficos. Classificavam-nas de potages, cujos ingredientes originavam-se do jardin potager, ou seja, uma horta. Com o tempo, ganhou espaço e passou a fazer parte dos cardápios como entrada e logo se tornou símbolo de refeição prática. Atualmente, os restaurantes trabalham frequentemente com versões frias ou quentes. Certamente a Revolução Francesa contribuiu muito para o avanço da gastronomia. Muitos ricos proprietários das melhores casas não puderam manter os seus cozinheiros chefs e estes foram em busca de emprego nos novos restaurantes pela cidade ou então abrir o próprio negócio. Com tantos profissionais qualificados no mercado, não faltou criatividade e inovações. Essa migração de chefs para o mercado trouxe também uma reorganização nos setores das cozinhas, e certamente o garde manger foi muito beneficiado. Sopas também são produzidas no garde manger, geralmente as frias. Podem ser servidas como entrada, couvert, aperitivo e até mesmo prato principal. Dependendo da forma como queira servir, a apresentação pode ser em taças, ramequins, pratos e xícaras de sopa. 26 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I O fator principal para se obter uma boa qualidade de sopa, antes mesmo de começar a cozinhar, é a elaboração de um bom fundo de base, item essencial para compor as exigências de uma sopa memorável, pois essa base fornecerá todos os sabores e aromas de que uma sopa precisa. Uma sopa bem preparada sempre deixa uma impressão memorável. As sopas oferecem uma inteira gama de ingredientes aromáticos e muitas oportunidades para guarnecer. Também permitem ao chef usar as aparas e as sobras com criatividade, consideração importante para qualquer estabelecimento de serviços alimentares, em relação aos lucros (IAC, 2011, p. 411). Outro fator importante é a qualidade dos ingredientes, que devem ser frescos e equilibrados e que consequentemente evidenciam a aparência e os sabores de uma sopa. Em todo o mundo, os chefs são unânimes em dizer que a qualidade é o que faz a diferença no produto final. As sopas podem ter diversas origens diferentes, muitos nomes complicados, ingredientes diversos, mas, sobretudo, quando bem preparada, mostra a capacidade e o conhecimento técnico do cozinheiro e a complexidade e competência de executar grandes pratos. Veja exemplos de algumas sopas frias mais famosas do mundo: • Borsch: de origem ucraniana, é conhecida também como borscht ou borche e é uma sopa muito popular em países do leste europeu e em comunidades judaicas. Sua base é basicamente feita com beterraba e pode ser servida com pão preto ou qualquer outro da região; pode ser servida fria ou quente. Em alguns países, dependendo da receita, é feita com carnes ou frango e pode ser acrescida de outros vegetais, como alho-poró, cebola e repolho. Geralmente, é acompanhada de sour cream (creme azedo) e carnes fatiadas. • Gaspacho: de origem espanhola, essa sopa fria era conhecida como “gazpacho del pobre”. Prato simples, considerado um prato de pobres da região da Andaluzia, que, na falta de outros recursos e para saciar a fome, juntavam pão e água com o que tivesse, como pepino, tomate, cebola e pimentão vermelho, não cozidos, isso é o que marca o frescor desse típico prato de verão. Atualmente, pode ser servido com croûtons, azeitonas e os próprios legumes picados. • Vichyssoise: sua origem é americana e não francesa, como muitos imaginam. Foi criada nos EUA, pelo chef francês Louis Diat, que cresceu em um vilarejo perto da cidade de Vichy. Feita basicamente de batatas, alho-poró e creme de leite, é cremosa. Embora originalmente seja servida fria, alguns preferem servi-la quente. Cuidados no preparo das sopas frias: • Utilize bons fundos de base ao invés da água para valorizar ainda mais o sabor. • Após o preparo, resfrie a sopa e mantenha gelada até o momento de servir. • Utilize um dos ingredientes da receita para a decoração. 27 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA • Em garde manger, as sopas são servidas frias como entrada, couvert e até prato principal e coquetéis, servidas em pequenas xícaras, em uma apresentação mais contemporânea. No caso de sopas cremosas: • Recomenda-se utilizar agentes espessantes da própria receita para se obter uma boa aparência, textura e sabor, por exemplo: a própria batata da sopa vichyssoise. • Não é aconselhável adicionar leite ou creme de leite frio diretamente à sopa quente, pois alguns cremes de leite podem talhar. Aqueça o creme de leite e depois adicione à preparação quente. • Adicione o leite ou creme de leite apenas no final do preparo e deixe apurar. • A consistência deve ser de nappé leve. Alongar, espessar e reduzir sãoas técnicas adequadas ao processo. Lembrete As sopas podem ser servidas frias ou quentes, mas nunca mornas. Saiba mais Essas e outras informações sobre sopas, você pode encontrar no livro: LEWIS, S. 200 receitas de sopas reconfortantes. São Paulo: Publifolha, 2012. 3 TORTAS E QUICHES 3.1 Patê brisée, patê brisée sucrée e patê brisée salée A pâte brisée (massa esfarelada), uma massa de fácil preparo, muito versátil e de receita simples, é saborosa e macia. No garde manger é muito utilizada para a confecção de tortas, quiches e empadões, mas são extremamente utilizadas na confeitaria de base. A receita básica leva farinha de trigo, manteiga, ovo (pode ser apenas a gema) e água, que, depois de misturados e com as devidas proporções, fica equilibrada e em excelente ponto. Podemos usar também alguns ingredientes coadjuvantes, que fornecem muito sabor, como chocolate em pó, essência de baunilha, farinha de amêndoas ou outras castanhas, ervas e especiarias, que são bastante apreciados entre os confeiteiros e cozinheiros. Para trabalhar a massa, os ingredientes devem estar em temperatura ambiente e a manipulação deve ser delicada e a menor possível (não pode sovar a massa), para evitar que ative o glúten, tornando a massa elástica. 28 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I A massa pode ser doce, pâte brisée sucrée (massa esfarelada açucarada), utilizada em sobremesas, ou salgada, pâte brisée salée (massa esfarelada salgada), utilizada para pratos salgados. É a mesma massa e deve ser refrigerada para “descansar”, pois a farinha de trigo precisa de tempo para absorver a umidade. É aconselhável manter a massa sob refrigeração para que a manteiga esteja endurecida e evitar que se encolha ao colocá-la no forno quente e passar pelo choque térmico. A massa inglesa, conhecida como “podre”, é diferente da francesa; embora levem a mesma quantidade de manteiga e banha, a inglesa possui o dobro de farinha de trigo. Outra massa é a pâte sablée (massa arenosa), uma massa que também leva açúcar, porém em menor quantidade. No entanto, o diferencial mais importante é seu teor de manteiga, bem elevado. Essa é uma massa mais gordurosa e, consequentemente, mais pesada. O método de preparo é o que mais influencia no resultado final. É muito comum e usual que a massa brisée e a sablée sejam produzidas pelo método sablage, enquanto a massa sucrée costuma ser produzida pelo método crémage. Método sablage Nesse método, a farinha é misturada com a manteiga fria e fica impermeabilizada, gerando uma textura granulada, parecida com “farofa” ou “areia”. Nesse ponto, quando a farinha ficar impermeabilizada, ao adicionar os ingredientes líquidos e misturar, a massa não desenvolverá o glúten. Assim, a impermeabilização da farinha de trigo com a manteiga deixará a massa mais firme e sequinha, porém arenosa e quebradiça, e se esfarela (desmancha) com facilidade. Método crémage O método crémage é muito diferente da sablage. Consiste em misturar bem os ovos, e agregar a manteiga e o açúcar, formando um creme. Após a formação desse creme é que a farinha de trigo é acrescentada. Dessa maneira, a farinha absorve aos poucos os líquidos, evitando o desenvolvimento do glúten. Essa massa é, consequentemente, mais delicada. Resumindo, o método sablage deixa a massa arenosa e quebradiça e o método crémage forma uma massa mais leve e dissolúvel na boca. Dicas para um bom preparo: • Não é necessário untar a forma antes de assentar a massa. • Sempre que possível, não substitua a manteiga por outra gordura, pois ela agrega textura e sabor à massa. • Ao montar a massa numa forma, deixe pequenas folgas acima para que se encaixe à forma quando for assar. 29 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA • Quando a massa possuir grande quantidade de açúcar, aconselha-se o método crémage. • Caso contenha ingredientes amargos no recheio da torta, utilize a massa doce sucrée. • Se o recheio da torta for muito doce, utilize a massa salgada sablée. 3.2 Pâte a choux Pâte a choux é uma massa básica para bombas (no Brasil), éclairs (relâmpago, devido ao fato de ser rápido o seu preparo e também ao seu formato original) e carolinas. Utilizada na gastronomia francesa e adotada pelas confeitarias em todo o mundo, pode ser produzida doce (mais comum) e salgada (mais utilizada em garde manger). É uma massa muito diferente das outras conhecidas, pois sua principal característica é que ela passa por dupla cocção: o primeiro cozimento acontece direto no fogo e o segundo, no forno. Três etapas importantes da massa choux: • Desidratação ou primeira cocção: nessa primeira etapa, os ingredientes da massa passam por uma desidratação através da cocção direta ao fogo e a farinha desenvolve o glúten. • Reidratação: após o primeiro cozimento, adicionam-se ovos fora do fogo, mas com a massa ainda quente (para cozinhar parcialmente os ovos), batendo para incorporar e dar consistência à massa (uma substituição ao fermento). • Segunda cocção: em uma segunda cocção, são assadas no forno; a umidade da massa vai se evaporar e fazer crescer. A albumina dos ovos e o glúten da farinha de trigo tornam a massa elástica, podendo ser esticada sem que se rompa. Com a coagulação dos ovos e do amido, obtém-se um formado inchado e oco por dentro. 3.3 Crepes A origem do crepe como conhecemos hoje é francesa, porém existem versões muito mais antigas. Eles são consumidos há cerca de 9.000 anos. Há relatos de que povos antigos faziam suas “papas” e as assavam em formato de disco até ficarem douradas e crocantes. Eram feitas de farinha de trigo ou milho e também eram misturadas com outros elementos. No entanto, os crepes, que sempre estiveram presentes em muitos lugares pelo mundo, nasceram na França, em Bretanha, no norte do País. Tem o seu primeiro registro encontrado por volta de 1390 em um livro chamado Manger de Paris (Comida Parisiense). O crepe francês é tradicional da cozinha popular da França e é a comida de rua preferida dos parisisienses. Tão popular em Paris, ganhou o mundo e conquistou espaço em todos os continentes do planeta. Até então, era considerado, sobretudo, rural, presente nas mesas simples dos camponeses. Rústico e simplório, o crepe então evolui para as mesas mais sofisticadas, passou a fazer parte de grandes banquetes e restaurantes. Atualmente, são servidos de diversas maneiras: salgados ou doces; simples 30 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I ou recheados; frios ou quentes; abertos, enrolados, dobrados e/ou empilhados; como entrada, prato principal, finger food, lanche ou sobremesa. Dependendo da forma de apresentação, podem se tornar requintados, e o certo é que atualmente os crepes mantêm, assim como na Idade Média, a simplicidade e a facilidade de preparação. Com uma massa líquida e fina, de textura suave e sabor neutro, serve para crepes e panquecas, sendo uma preparação fácil e muito delicada. A partir do recheio é que se define o sabor. Os recheios, temperos e acompanhamentos são infindáveis, como: açúcar, manteiga, maple syrup, mel, geleias, cremes, doce de leite, frutas e sorvetes. Para os crepes salgados: embutidos, carnes, hortaliças, ovos, pescados, queijos e muito mais. Use a criatividade para criar recheios para os crepes. A diferença entre o crepe (francês) e a panqueca (de origem norte-americana), mais comum no Brasil, está na textura da massa. Ambos são muito parecidos e quase sempre confundidos.Na prática, o que os distingue é o uso da manteiga, que transfere ao crepe uma textura mais fina e delicada que o da panqueca tradicional – esta, por sua vez, é mais espessa e geralmente é mais escura. Dicas para um bom preparo: • É sempre aconselhável utilizar uma frigideira antiaderente. • É importante levar em conta a temperatura da frigideira. • A quantidade da manteiga influencia a consistência da massa. • A quantidade de massa na frigideira influencia a qualidade e espessura da massa. • A presença do glúten gera uma massa mais elástica. • A presença do glúten faz com que a massa cresça mais e a deixa estável. • Misturar água e leite em partes iguais deixa a massa mais leve. • Para obter uma textura mais delicada, depois de preparar a massa, é importante deixá-la em repouso por, no mínimo, uma hora. O motivo é o glúten, proteína da farinha de trigo, que se abranda e hidrata durante o período de repouso. 3.4 Terrines Quando se fala em terrines, logo lembramos dos franceses. Certamente eles têm um apreço especial por patês e terrines, que surgiram na Idade Média. Na realidade, as terrines foram inventadas pelos pâtissiers (confeiteiros), que eram responsáveis por essa função – isso explica por que os patês são feitos e acompanhados por uma massa, do tipo pâté en croûte (espécie de empadão com patê). É considerado o mais sofisticado dos patês, pois exige uma complexa preparação e envolve várias etapas e técnicas de garde manger. A tradução do termo “en croûte” significa “em casca”, em que o recheio (patê) é assado e 31 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s - 1 9/ 01 /2 01 7 COZINHA FRIA envolto em massa; além da massa, é adicionado o aspic gelée, feito à base de consommé, para preencher os vazios deixados pela evaporação dos líquidos e encolhimento do recheio. Ambas as preparações são servidas frias no próprio recipiente ou fatiadas e empratadas, acompanhadas de molho. Foi Taillevent (1326-1395), famoso gastrônomo francês, quem escreveu o primeiro livro sobre gastronomia, o Le Viander. Na obra, ele descreve que recheava esses “empadões em crosta” geralmente com carne de porco, ganso, peixe, pombo, outros animais e vegetais, e uma proporção generosa de gordura. A utilização dessas técnicas no século XIV deixa clara a preocupação com a conservação dos alimentos. As terrines tiveram seu auge até o século XX, sempre presentes nos grandes eventos e banquetes. No entanto, o termo “terrine” surgiu devido a um recipiente de mesmo nome que, na origem, era feito de terracota, no formato retangular. Atualmente são utilizados cerâmica, porcelana ou metal, vidro e silicone, e existem diversos formatos. As terrines originais possuem tampa e são assadas tampadas e em banho-maria. Outra preocupação é com a montagem, que também era uma das prioridades e, por isso, coloca-se numa louça de cerâmica, geralmente em formato retangular, podendo ser oval, de nome terrine. Atualmente, a terrine e o patê em croûte são assados em formas retangulares. Inclusive, existem formas especialmente criadas para estas montagens, e várias dessas peças podem ser desmontáveis, facilitando o trabalho com a massa e o recheio e valorizando um apelo visual maior na montagem da travessa ou da mesa de buffet. A massas e os recheios das terrines podem ser facilmente preparados com antecedência e servidas frias, geralmente acompanhadas de uma salada. É importante ressaltar que esses recheios, de aves, carne de porco e seus miúdos, legumes, peixes e frutas, são normalmente classificados por mousse ou mousseline e podem ou não passar por cocção. Dicas para um bom preparo: • Não deixe o patê ficar seco. • Se for assar em banho-maria, pode utilizar o plástico filme. • Em algumas receitas, pode-se adicionar creme de leite ou ovos ao recheio. • Verifique se os elementos que servem de “liga” podem ser submetidos à alta temperatura, como a gelatina, por exemplo. 4 CONDIMENTOS E CONSERVAS A conservação de alimentos surgiu da necessidade do homem de armazenar alimentos durante um longo período, seja pelo clima, devido às estações do ano, pelas guerras ou pelas longas viagens. 32 Re vi sã o: R os e Ca st ilh o - Di ag ra m aç ão : E ve rt on M ar tin s- 1 9/ 01 /2 01 7 Unidade I Entretanto, todos os processos utilizados até o final do século XVIII foram descobertos ou desenvolvidos baseados na experiência e na observação, metódicas ou não, muitas vezes sem nenhum conhecimento ou embasamento teórico e, quase sempre, utilizando e/ou simulando exemplos e processos existentes na natureza (defumação, congelamento e secagem, por exemplo). A princípio, o sal, as ervas e as especiarias foram utilizados para conservar os alimentos, e já se sabia que algumas frutas e hortaliças podiam ser conservadas em açúcar e que também toleravam o vinagre. Porém, nenhum desses procedimentos conservavam os alimentos com total garantia. No início do século XIX, o confeiteiro francês Nicolas Appert (1749-1841), depois de longos anos de experimentos, já que naquele tempo não havia muitos estudos sobre técnicas de conservação, desenvolveu um processo natural que ainda não era conhecido. O certo é que Nicolas precisava resolver o problema da conservação dos produtos de sua confeitaria. Foi então que ele descobriu que se colocasse os alimentos em garrafas de vidro e as lacrasse com rolha, posteriormente fervendo-os em água por um determinado período, conseguiria uma duração maior da vida desses alimentos. Ele descobriu, talvez como exemplo no vinho, que o contato com o ar estragava os alimentos. Assim, deduziu que se a comida, assim como o vinho, fosse colocada em um recipiente que vedasse a entrada do ar, ficaria conservada e manteria a qualidade. Algumas amostras desenvolvidas por Appert foram enviadas para uma viagem pelo mar e voltaram depois de quatro meses. Carnes e legumes estavam entre os diversos itens em recipientes de vidro; os ingredientes mantiveram seu frescor e não houve mudanças substanciais quando foram examinados. Seu método foi tão aceito comercialmente que foi utilizado por Napoleão Bonaparte no abastecimento da marinha mercante e suas tropas, ajudando-as a se tornarem mais autônomas em suas longas viagens. Em 1809, Appert foi premiado pelo ministro de Administração Interna da França, Conde Mantalivet, pelo grande trabalho realizado em favor dos franceses. A explicação para o sucesso do método de Appert está no resultado da combinação de vários elementos, pois os alimentos podem sofrer alterações químicas, físicas e enzimáticas, gerando a decomposição e contaminação daqueles componentes. As alterações químicas são decorrentes de reações dos elementos em contato com outros, com o oxigênio do ar ou utensílios de cobre, prata e estanho. A física ocorre quando há mudança de cor, aroma e sabor provocada pela exposição à luminosidade, temperatura ambiental e acidez inadequada. Com relação às enzimáticas, são causadas pelas enzimas ou fermentos solúveis contidos nos próprios alimentos. Estas são substâncias produzidas por células vivas e agem sobre os alimentos ou matérias orgânicas, provocando trocas químicas (BIBLIOTECA VIDA, 2002). As enzimas continuam agindo mesmo quando uma fruta ou vegetal é colhido ou quando um animal é morto. Nesse caso, por exemplo, a carne do animal morto, estimulada pela ação enzimática, a princípio, ganha em sabor e, devido à decomposição dos tecidos, torna-se mais macia e depois estraga. Para deter o processo de deterioração enzimática, adicione ao alimento um outro elemento químico, como vinagre ou sal, ou submeta-o a uma rápida fervura (BIBLIOTECA VIDA, 2002). 33 Re vi sã o: R os e Ca
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