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Autor: Prof. Livaldo dos Santos Colaboradoras: Profa. Cláudia Roberta Carneiro Leão Profa. Christiane Mazur Doi Profa. Teresa Dias de Toledo Pitombo Fundamentos da Administração Professor conteudista: Livaldo dos Santos Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Guarulhos (2000). Foi coordenador do curso de Administração presencial nos campi Cidade Universitária e Pinheiros e professor adjunto da UNIP em cursos de graduação. Administrador profissional pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis Tibiriçá (1993). Professor há mais de 25 anos em cursos de graduação, tendo atuado em cursos de pós-graduação por oito anos em instituições de primeira linha. Consultor de empresas há 27 anos, atuando em assessorias nas áreas organizacionais, gestão de processos, gestão estratégica e sistemas de informação em empresas diversas e instituições financeiras. Foi professor supervisor/orientador de estágios do curso de administração da UNIP, campus Cidade Universitária. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. U514.19 – 22 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S237 Santos, Livaldo dos Fundamentos da Administração. / Livaldo dos Santos - São Paulo: Editora Sol, 2022. 108 p. il. Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Administração 2. Administrador 3. Teorias I. Título CDU 658.01 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Alessandro de Paula Sumário Fundamentos da Administração APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 ADMINISTRAÇÃO: CONCEITOS E IMPORTÂNCIA ................................................................................ 11 1.1 Definição .................................................................................................................................................. 11 2 O PROCESSO EMPRESARIAL ....................................................................................................................... 12 2.1 A empresa ................................................................................................................................................ 13 2.2 História das organizações ................................................................................................................. 14 2.3 Os níveis organizacionais .................................................................................................................. 16 2.4 As grandes áreas funcionais da empresa .................................................................................... 17 2.5 Organização, direção e controle ..................................................................................................... 18 2.6 Papel social das organizações ......................................................................................................... 19 2.6.1 Empresas para um mundo futuro .................................................................................................... 20 2.6.2 Sustentabilidade, responsabilidade corporativa e responsabilidade social ..................... 23 Unidade II 3 O ADMINISTRADOR ........................................................................................................................................ 30 3.1 Conceituação e caracterização do agente da ação administrativa ................................. 30 3.2 Perfil do administrador ...................................................................................................................... 32 3.3 Competências pessoais do administrador .................................................................................. 34 4 OS DEZ PAPÉIS DO ADMINISTRADOR SEGUNDO HENRY MINTZBERG ..................................... 35 4.1 Papéis interpessoais ............................................................................................................................. 36 4.2 Papéis informacionais......................................................................................................................... 37 4.3 Papéis decisoriais .................................................................................................................................. 38 4.4 O futuro do administrador ............................................................................................................... 39 Unidade III 5 A ABORDAGEM CLÁSSICA E A HUMANÍSTICA .................................................................................... 46 5.1 Teoria científica da administração ................................................................................................ 46 5.1.1 O primeiro período de pesquisas de Taylor .................................................................................. 48 5.1.2 O segundo período de pesquisas de Taylor .................................................................................. 49 5.1.3 Os quatro princípios da administração científica ...................................................................... 52 5.2 Teoria clássica da administração .................................................................................................... 53 5.2.1 Os quatorze princípios gerais da administração ........................................................................ 54 5.2.2 Funções da organização ....................................................................................................................... 55 5.2.3 Funções administrativas....................................................................................................................... 56 5.3 Teoria das relações humanas ........................................................................................................... 56 5.3.1 Fases da análise do caso Hawthorne .............................................................................................. 57 5.3.2 Organização informal............................................................................................................................ 60 5.3.3 Estilos de liderança ................................................................................................................................. 61 5.3.4 Considerações e críticas à escola das relações humanas ....................................................... 62 6 DA TEORIA BUROCRÁTICA À TEORIA NEOCLÁSSICA ......................................................................... 63 6.1 Teoria burocrática ................................................................................................................................ 63 6.1.1 Característicasda burocracia ............................................................................................................. 64 6.1.2 Os tipos de poder .................................................................................................................................... 66 6.1.3 Pecado pelo excesso ou pela falta – disfunções burocráticas .............................................. 67 6.2 Teoria de sistemas ................................................................................................................................ 68 6.2.1 O sistema e seus elementos ................................................................................................................ 70 6.2.2 Dimensões dos sistemas....................................................................................................................... 71 6.2.3 Propriedades dos sistemas .................................................................................................................. 71 6.2.4 Sistema de informações gerenciais ................................................................................................. 72 6.3 Teoria neoclássica ................................................................................................................................. 73 6.3.1 Características da teoria neoclássica .............................................................................................. 74 Unidade IV 7 ADMINISTRAÇÃO POR OBJETIVOS E TEORIA COMPORTAMENTAL .............................................. 79 7.1 Administração por objetivos (APO) ............................................................................................... 79 7.2 Teoria comportamental ..................................................................................................................... 81 7.2.1 A motivação .............................................................................................................................................. 82 7.2.2 Teoria da hierarquia das necessidades de Maslow .................................................................... 83 7.2.3 Teorias motivacionais ............................................................................................................................ 85 7.2.4 Teoria dos dois fatores de Herzberg ................................................................................................ 88 7.2.5 Teorias X e Y de McGregor .................................................................................................................. 89 8 A ORGANIZAÇÃO – PARTE 1 ....................................................................................................................... 91 8.1 Projeto organizacional ....................................................................................................................... 91 8.1.1 Configuração organizacional ............................................................................................................. 92 8.1.2 Dimensões do projeto organizacional ............................................................................................ 92 8.2 Elaboração da estrutura organizacional ..................................................................................... 94 8.2.1 Fatores condicionantes da estrutura .............................................................................................. 95 8.2.2 Componentes da estrutura – sistema de responsabilidade ................................................... 98 7 APRESENTAÇÃO Olá, caros alunos! Esta disciplina lança a vocês, futuros profissionais, um desafio: o de apoderar-se, no que se refere ao ato de administrar, de suas bases histórica, teórica e prática. Pode soar aparentemente simples, mas se trata de tarefa que traz em si a complexidade de todo um universo de conhecimentos e posturas em cultura administrativa. Para possibilitar a vocês a apreensão bem-sucedida dos conteúdos, o curso se dispõe a tornar viável o entendimento do papel da administração e do profissional no contexto organizacional. Além disso, o curso busca suscitar a discussão, entre os alunos, da evolução do pensamento administrativo e suas características dentro de um contexto histórico social e econômico. O processo de ensino-aprendizagem é conduzido de forma que os alunos compreendam os diversos tipos de organizações existentes – organizações estas que são desenvolvidas para atender às necessidades organizacionais no decorrer do tempo. O curso possibilita a aquisição de uma visão mais integrada do processo gerencial e do papel dos dirigentes dentro do contexto das organizações, assim como é importante que haja o debate sobre cada prática administrativa descrita neste curso, de forma que os futuros profissionais estejam municiados de instrumentos para a prática administrativa. Destacam-se a seguir os principais objetivos desta disciplina: • Viabilizar o entendimento da função e do papel da administração e do administrador no contexto das organizações. • Levar os alunos a abordar e discutir a evolução do pensamento administrativo, suas características e contexto histórico, social e econômico. • Conduzir o processo de ensino-aprendizagem de modo que o aluno entenda os diferentes tipos de organizações existentes e desenvolvidas para atender às necessidades organizacionais no decorrer do tempo. • Possibilitar a aquisição de uma visão integrada do processo gerencial e do papel dos dirigentes dentro do contexto organizacional. • Permitir a discussão de práticas administrativas, visando instrumentalizar os futuros gestores de empresas. 8 INTRODUÇÃO Esta disciplina estabelecerá uma parceria entre o seu intelecto e as descobertas históricas sobre este fenômeno, que se iniciou quando o homem teve a necessidade de organizar o trabalho para lascar a pedra e construir uma “machadinha de pedra lascada”. Dizem que deve ter sido um pouco antes da elaboração da primeira organização, mas será que isso importa? Neste livro-texto, pretende-se que o futuro gestor, independentemente de sua área específica de atuação, tenha assimilado os conhecimentos que viabilizem o entendimento da função da administração, seus conceitos e definições. Vamos estudar como se dá o processo empresarial, bem como os tipos de empresas, a composição das áreas funcionais, a estrutura e seu papel social, sinalizando a perspectiva de liderança para os próximos anos e as políticas de sustentabilidade empresarial. Desde os primórdios da humanidade, existe a necessidade de planejar e alocar os recursos necessários para a realização de um trabalho e a consecução de objetivos humanos, por meio da liderança de pessoas que realizam os trabalhos necessários para alcançar aqueles resultados comuns. Acredita-se que os fundamentos da administração começaram a ser elaborados nesses tempos de trabalhos simples, recursos rudimentares e objetivos de curtíssimo prazo. Hoje, tais atividades atingiram uma complexidade incomensurável para poder atender às demandas das grandes corporações supranacionais, das redes flexíveis de empresas, bem como das grandes fusões e incorporações empresariais. Todos aqueles que necessitam atuar e interferir na condução dos trabalhos em uma organização, seja ela uma empresa privada ou pública, pequena ou grande, comercial ou religiosa, entre uma imensa gama de tipos existentes, deverão ser considerados gestores. Os gestores necessitam dos conhecimentos fundamentais para identificar, analisar e realizar os objetivos humanos que só são atingidos por meio de uma organização. Esta disciplina apresentará os seguintes fundamentos: A organização Fenômeno administrativo Planejamento empresarial Abordagens teóricas Ferramentas de gestão Figura 1 – Os fundamentos da administração 9 Ao estudar o conteúdo deste livro-texto, você poderá assimilar os principais conceitos do fenômeno administrativo – o perfil e as características determinantes do administrador – onteme hoje. Da mesma forma, permitirá obter uma visão completa da evolução das abordagens teóricas da administração que, juntamente com o entendimento do processo do planejamento empresarial e de ferramentas de gestão, irão permitir que você entenda e interfira de forma racional e objetiva na organização. Os gestores, sejam eles focados em logística, marketing, processos gerenciais, gestão de recursos humanos, da tecnologia da informação ou mesmo gestão financeira, necessitam desenvolver habilidades para enfrentar, segundo o Plano Pedagógico do curso, os grandes desafios dos países, que hoje estão intimamente relacionados com as contínuas e profundas transformações sociais ocasionadas pela velocidade com que têm sido gerados novos conhecimentos científicos e tecnológicos, sua rápida difusão e uso pelo setor produtivo e pela sociedade em geral. Verifica-se que as organizações produtivas têm sofrido impactos provocados pelo frequente emprego de novas tecnologias que, geralmente, alteram hábitos, valores e tradições que pareciam imutáveis. Os grandes avanços de produtividade são impulsionados pela melhoria da gestão empresarial, assim como pelo progresso científico e tecnológico. Aqui se encaixa a contribuição desta disciplina, que tem a importante missão de fornecer, para o seu curso, as bases para o entendimento do perfil ideal de um gestor, as teorias e técnicas administrativas para lidar de forma efetiva com os desafios empresariais enfrentados pelos gestores tecnólogos, bem como uma visão da organização: seu ambiente interno e o ambiente externo, com suas oportunidades e ameaças. Embora os cursos tendam a formar profissionais especializados em segmentos (áreas), tendo como foco um ramo específico, disciplinas como esta irão nivelar os profissionais das diversas áreas em sua capacitação para entender a organização como um todo e desenvolver o pensamento estratégico para conduzir os seus rumos e operacionalizar suas estratégias. Conheça-te a ti mesmo, ao terreno da batalha e aos seus oponentes, e não temerás por nenhuma batalha! (Sun Tzu) 11 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO Unidade I 1 ADMINISTRAÇÃO: CONCEITOS E IMPORTÂNCIA 1.1 Definição Administrar vem do latim: ad significa “tendência para”, “direção para”; minister significa “subordinação ou obediência”, “aquele que realiza uma função sob o comando de outrem”, isto é, aquele que cumpre uma obrigação de trabalho a outro (CHIAVENATO, 2014). O conceito geral de administrar consiste em versões diversas, cada uma com um viés diferente, porém de forma convergente e complementar. São várias as definições de administração. Há quem a julgue uma ciência e quem a defina como arte. De modo geral, todas giram em torno do mesmo tema. Quadro 1 – Os conceitos de administração Autores Conceito Crounel Marins (2010) Administração é um conjunto de atividades organizacionais que têm como funções principais: a tomada de decisões baseada em técnicas específicas e interpretação pessoal das situações interiores e exteriores à organização; e a manipulação de conflitos de forma produtiva Jules Henri Fayol (1981); Ramos (2010) Administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar Antonio César Amaru e Maximiano (1997); Ramos (2010) A administração é o processo de tomar e colocar em prática decisões sobre objetivos e utilização de recursos Peter Ferdinand Drucker (1989); Ramos (2010) Administração é simplesmente o processo de tomada de decisão e o controle sobre as ações dos indivíduos para o expresso propósito de alcance de metas predeterminadas Idalberto Chiavenato (2021) Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso dos recursos e competências organizacionais para alcançar determinados objetivos de maneira eficiente e eficaz. Sem ela, as organizações jamais conseguiriam funcionar a contento Com base nos conceitos apresentados, pode-se perceber que eles convergem entre si, admitindo ser um processo para planejar, organizar, controlar. Nesse contexto, a administração pode ser simultaneamente uma ciência, uma tecnologia e uma arte. Ela é uma ciência com princípios bem definidos e um corpo de conhecimentos científicos e devidamente codificados; uma tecnologia que produz ferramentas de utilização para obter resultados; e uma arte em lidar com situações concretas e abstratas (CHIAVENATO, 2014, p. 4). 12 Unidade I A administração passa a ser considerada como uma ciência universal, pois todas as áreas do conhecimento fazem uso de conceitos para atingirem seus objetivos. Na figura a seguir encontramos a rosácea da administração, que ilustra a reunião das competências necessárias para o entendimento e a aplicação da gestão administrativa. Planejamento Organização Controle Direção – Proatividade e visão antecipatória – Foco em objetivos e estratégias – Visão de futuro – Visão sistêmica e holística – Convergência – Networking – Foco em resultados – Desempenho – Eficiência e eficácia – Liderança – Comunicação – Missão e valores Figura 2 – Rosácea da administração Fonte: Chiavenato (2014, p. 8). 2 O PROCESSO EMPRESARIAL Organização é um grupo de pessoas que trabalham em busca de objetivos comuns, e não necessariamente são empresas. Pode ser um time de futebol, um coral, uma equipe de voluntários, um grupo de jovens da igreja ou de uma empresa, enfim, são pessoas que trabalham em conjunto, todas focando o mesmo resultado. Então, quer dizer que toda empresa é uma organização, mas nem toda organização é uma empresa. Para compreendermos melhor o que são as organizações e em qual setor as empresas estão inseridas, precisamos entender que a sociedade civil é dividida em setores, os quais são: • 1° setor: é o que chamamos de iniciativa pública, caracterizada pelos governos municipais, estaduais e federais. Este setor é responsável por proporcionar às pessoas os serviços básicos e elementares para a vida em sociedade, como saúde, educação, transporte, segurança, habitação etc. A função primordial do Estado é promover o Welfare State – Estado do Bem-Estar Social. 13 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO • 2° setor: também chamado de iniciativa privada, representado pelas empresas que possuem fins lucrativos, podendo ser do setor agropecuário, industrial, comercial ou de serviços. Devemos compreender que as empresas podem ser: — Empresa individual: é aquela constituída por apenas um empreendedor; essa é uma forma de organização utilizada em pequenos negócios. — Sociedades anônimas: são empresas com capital aberto, ou seja, com a possibilidade de negociação de suas ações em bolsas de valores. — Sociedade limitada: também chamada de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, sendo utilizada quando a empresa é constituída por um número reduzido de sócios. • 3° setor: Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), conhecidas popularmente como ONGs (Organizações Não Governamentais), são entidades que defendem os interesses comuns, da sociedade ou de grupos sociais. As OSCIPs não são parte do governo e não possuem fins lucrativos. Por isso, chamamos de 3° setor da sociedade civil. Alguns exemplos são fundações, associações, cooperativas, igrejas, sindicatos e demais entidades filantrópicas. A Pastoral da Criança é uma das mais respeitadas organizações do 3° setor do Brasil. Lembrete Organização é um grupo de pessoas que trabalham em busca de objetivos comuns, e não necessariamente são empresas. 2.1 A empresa As empresas podem ser representadas como uma organização que foca o lucro. Elas podem ser semelhantes, mas nunca iguais, possuem suas características, diversidades, tamanho e estrutura. São dos mais diversos ramos de atividade e fazem uso de diversas tecnologias para produzir bens ou serviços dos mais variados tipos e são conduzidos e distribuídos aos diversos mercados (CHIAVENATO, 2014). Uma empresa, independentemente de seu porte, pode ser de um homem só, de várias pessoas, de um conjunto de empresas oude acionistas nominais ou anônimos, sem necessariamente ter um dono envolvido. Nesse caso, temos apenas o domínio, com maior ou menor participação societária (KWASNICKA, 2006). Observação Existem outros tipos de empresas, principalmente as não lucrativas, como ONGs, cooperativas, fundações, cujo regime jurídico difere do das demais, porém devem ser legalizadas e administradas segundo as regras específicas de cada uma. 14 Unidade I As formas de propriedade e de associação entre empresas podem ser consideradas de algumas maneiras. O significado de propriedade legal consiste no direito, instituído pela lei, de possuir um conjunto de bens que compõem a empresa. Dentro dos desígnios da lei, há um conjunto de direitos e um de deveres para a criação de uma empresa, os quais devem ser respeitados por todos os proprietários da empresa. Já a participação é o modo de envolvimento de cada indivíduo na forma de propriedade. Poderá ser uma única pessoa, ser um sócio majoritário e outros com participações menores, ou ainda ser uma participação igualitária. Dependerá do tamanho da participação, do poder de opinar e de influenciar nas decisões e na vida da empresa. A sociedade anônima é uma forma de associação particular que dispõe de uma lei própria que rege sua constituição. Essa forma de associação tem vida própria, independentemente de seus acionistas, pois eles podem ser muito pulverizados e anônimos. Em alguns casos, pode existir um sócio nominal majoritário e/ou existirem vários acionistas desconhecidos. Envolve principalmente as empresas de capital aberto, cujas ações são vendidas na Bolsa de Valores. 2.2 História das organizações Dos primórdios até meados do século XVII, as organizações cresceram lentamente, mas isso não significa que o trabalho não era organizado. Chiavenato (2014) aponta que a divisão da história das organizações acontece em seis fases: • Fase artesanal: origina-se na Antiguidade e sobrevive até 1780, início da Revolução Industrial; produção no artesanato rudimentar das pequenas oficinas e da mão de obra não qualificada na agricultura; resquício do feudalismo e o sistema comercial – troca de mercadorias. • Fase de transição do artesanato a industrialização: ocorreu entre 1780 e 1860. Marca o início da Era Industrial, com mecanização e industrialização das oficinas e da agricultura, com destaque para o carvão e para o ferro. Desenvolvimento do tear hidráulico, tear mecânico. Máquina a vapor tanto na área fabril como nos transportes (navio e locomotiva) e a comunicação com o surgimento do telégrafo elétrico e o selo postal. • Fase do desenvolvimento industrial: período de 1860 a 1914, com destaque para o aço e para a eletricidade. Grande desenvolvimento da maquinaria e a substituição do ferro pelo aço e do vapor pela eletricidade. O capitalismo industrial é substituído pelo capitalismo financeiro, com o aparecimento de grandes bancos e instituições financeiras. Crescimento das empresas bem-sucedidas. • Fase do gigantismo industrial: fase situada entre as duas Guerras Mundiais (1914 e 1945), cujo desenvolvimento industrial foi pautado em objetivos bélicos. Neste período temos também a Grande Depressão (crise em 1929 do sistema financeiro dos EUA, o que gerou uma crise 15 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO mundial). As empresas nesta fase atingem proporções enormes, atuando no âmbito internacional e multinacional. Expansão nos transportes (aéreo, terrestre e marítimo) e a comunicação torna-se mais rápida com o telégrafo sem fio, o telefone, o rádio e a televisão. • Fase moderna: período que compreende o pós-Guerra (1945) até 1980, quando se percebe uma cisão entre os países desenvolvidos (industrializados) e os subdesenvolvidos (não industrializados) e dos países em desenvolvimento. Grande avanço tecnológico. Novos materiais básicos (plástico, alumínio, novas fibras têxteis sintéticas), novas fontes de energia (nuclear, solar, eólica). Aparecem novas tecnologias como: TV em cores, som de alta definição, computador, comunicação telefônica e transmissão de TV por satélite, popularização do automóvel. Surgem problemas como escassez de recursos, inflação, juros e custos altos. Todas essas maravilhas trazem complexidade e a imprevisibilidade do que poderá acontecer. • Fase da globalização: é a fase após 1980, cheia de desafios, dificuldade e ameaças. As empresas lutam e enfrentam a grande concorrência e o desafio para entender o mercado. Esta fase é marcada pela revolução do computador, a internet, ou seja, pode-se denominar como a Era da Informação, que veio substituir a Era Industrial. Transição para a industrialização Crescimento industrial Gigantismo industrial Fase moderna Globalização Fase artesanal 1780 1914 Era da Agricultura Era Industrial Era da Informação 19801860 1945 1990 Figura 3 – As fases da história das empresas Fonte: Chiavenato (2014, p. 43). Tanto a Era Industrial como a Era da Informação tiveram importância significativa no desenvolvimento das empresas. 16 Unidade I Quadro 2 – Características da Era Industrial e da Era da Informação Era Industrial Era da Informação Fábrica – empresa física e tangível Empresa virtual e em rede Empresa de cimento e concreto Empresa de bits e bytes Máquinas e equipamentos Computadores e terminais Estabilidade e permanência Mudança e instabilidade Manter o status quo Mudar e inovar Mão de obra braçal – trabalho muscular Conhecimento – trabalho cerebral Emprego único, tradicional e presencial Atividade compartilhada, engajada e virtual Trabalho individual, isolado e solitário Trabalho em equipe, participativo e solidário Gerência tradicional Liderança, coaching e mentoring Impor ordens e comandos Conquista e colaboração Obediência cega às regras e aos regulamentos Empreendedorismo e intraempreendedorismo Especialização e foco em uma única atividade Flexibilidade, multifuncionalidade e polivalência Capital financeiro Capital intelectual Fonte: Chiavenato (2014, p. 44). 2.3 Os níveis organizacionais Na visão de Chiavenato (2014), as empresas podem ser inseridas em três tipos de níveis: • Nível institucional: nível estratégico composto pelos diretores, proprietários ou acionistas. Neste nível são decididos os objetivos e as estratégias empresariais e globais. • Nível intermediário: está entre o institucional e o operacional, por isso também é chamado de mediador ou gerencial. Cuida da articulação interna entre os dois níveis e lida com os problemas de adequação das decisões tomadas. Envolve a média administração, ramo em que as estratégias são transformadas em ação. • Nível operacional: conhecido também como nível técnico. É nele que as tarefas e operações realizadas, com destaque para os maquinários e equipamentos em geral. 17 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO – Estabelece objetivos empresarias – Verifica e analisa alternativas estratégicas – Toma decisões globais – Elabora planejamento estratégico e políticos – Avalia resultados globais – Estabelece objetivos departamentais – Verifca e analisa alternativas básicas – Toma decisões departamentais – Elabora e implementa planejamento tático – Avalia resultados táticos – Estabelece objetivos operacionais – Verifica e analisa alternativas operacionais – Toma decisões operacionais – Avalia, planeja e replaneja a operação do dia a dia – Avalia resultados cotidianos Nível institucional Nível intermediário Nível operacional Compara com objetivos empresariais Compara com objetivos departamentais Compara com objetivos operacionais Figura 4 – A atuação nos níveis organizacionais Fonte: Chiavenato (2014, p. 56). 2.4 As grandes áreas funcionais da empresa Ao analisar uma organização e suas principais funções, iremos utilizar a teoria de sistemas. Essa teoria permite um melhor entendimento das várias funções da empresa, bem como dá uma visão global da organização e suas inter-relações com o ambiente externo. Para entender o funcionamento de cada área, devemos identificar queexiste uma hierarquia a que cada uma está ligada. O nível de decisão define as prioridades e as ênfases nas atividades decorrentes da decisão, bem como cada atividade será efetuada e a execução da tarefa sem si. Cada um desses níveis poderá ser estudado isoladamente, porém não sobrevive sem os demais, pois existe uma relação muito estreita entre eles. Os ambientes organizacionais, que se dividem em internos e externos, são vitais no processo organizacional. Eles exercem uma influência muito grande, com o poder de alterar as ações já definidas para que haja uma adaptação às mudanças do ambiente. Alguns fatores do ambiente externo não podem ser controlados pela empresa, restando apenas se adaptar a eles. Estar atento ao que ocorre fora das paredes da empresa pode dar vantagens competitivas sobre seus competidores (KWASNICKA, 2006). Observe com atenção as funções destacadas a seguir. 18 Unidade I Função produção Produzir é transformar insumos disponíveis em insumos desejáveis: matéria-prima em bens finais ou semifinais, ou ainda prestar serviços a partir do conhecimento de uma técnica ou do desenvolvimento de uma tecnologia. Essa função foi a que mais sofreu modificação ao longo dos anos, talvez influenciada pela evolução da ciência e pela busca de métodos melhores de desempenho operacional. Função financeira Sempre foi e será a mais delicada no cenário dos negócios. As atividades mais importantes dessa função são a captação e a aplicação de recursos financeiros, que exigem atenção constante. Função marketing Consumir, consumismo e consumidor são as “palavras mágicas” de qualquer empresa produtora de bens e serviços. O maior objetivo do marketing e vendas é conquistar a maior fatia de mercado e superar a concorrência. No marketing, o planejamento estratégico torna-se muito importante, pois planeja a função em si, sabe quais as atividades terão mais ênfase dentro da função e como ocorre o planejamento de cada produto em si. Função recursos humanos/administração de pessoas As pessoas sempre foram muito importantes na empresa. Desde Taylor a preocupação era com os operários, e hoje a questão se ampliou e o foco também. As decisões de RH devem ser dirigidas aos negócios para tornar a empresa mais competitiva. É impossível renovar uma empresa sem revitalizar as pessoas, reconhecer e aperfeiçoar suas capacidades e habilidades. Essa área dá suporte a todas as demais áreas da organização, funcionando, executando e aconselhando nos problemas relacionados ao quadro de pessoal (KWASNICKA, 2003). 2.5 Organização, direção e controle A menos que você seja o criador da empresa, dificilmente terá oportunidade de propor uma estrutura desde o início. Em geral, você deve adaptar-se a uma estrutura existente ou adaptar a estrutura que traga o melhor resultado para a empresa. Organizar é coordenar diferentes atividades de pessoas com a finalidade de executar tarefas planejadas. Essa organização consiste em uma rede de relacionamentos específicos entre indivíduos, posições e tarefas. Existem muitas formas de agrupamentos de tarefas e posições, dando diferentes formatos ao desenho estrutural. Não existe uma forma correta ou errada, depende das características e das necessidades da empresa, entretanto alguns conceitos devem ser observados: autoridade, responsabilidade, amplitude de controle e unidade de comando. 19 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO Dirigir uma organização é conduzi-la ao cumprimento dos objetivos estabelecidos, para a finalidade para a qual ela foi criada, ao sucesso. Esse ato está diluído em toda a empresa, em qualquer nível hierárquico. Dentro do conceito de direção estão inseridos outros, como: poder, autoridade, liderança, responsabilidade, delegação, enfim, tudo que se relaciona com a interação entre pessoas e entre atividades funcionais. O ato de controlar tem vários significados, tanto quantos forem seus objetivos. Na empresa significa saber se o que foi planejado foi obtido com qualidade e custo desejável. Falando dessa forma parece simples, mas não é, há uma forte conotação comportamental inserida nos atos de controlar, pois o ato em si está sempre envolvendo alguém ou um grupo. A questão da qualidade já teve uma ênfase muito grande na década de 1980, com o surgimento dos modelos japoneses de eficiência na produção; hoje, o controle está mais para resultado global da organização do que limitado a subsistemas como fianças e produção. 2.6 Papel social das organizações A inter-relação da empresa com o seu ambiente nunca foi tão intensa como hoje. A questão social, não só internamente, como também com a sociedade na qual a empresa está inserida, deve fazer parte dos objetivos da organização. A sociedade tem ficado atenta às ações de empresas e como isso pode afetar a vida de cada um, seja em poluição de ar e água, seja na questão de esgoto, lixo e crescimento desordenado. As empresas podem envolver-se em quase todos os tipos atividades sociais: educação, moradia, lazer e saúde, podendo contribuir direta ou indiretamente. Elas podem participar ativamente em ações que venham a ajudar o setor público ou ajudando ONGs, financiando projetos sociais. Isso traz uma imagem muito positiva para a empresa e influência em sua posição favorável de mercado. Observação Algumas empresas não têm preocupação com a poluição do ar, do solo e da água, emitindo poluentes sem controle. Não seria necessário o Protocolo de Kyoto se houvesse mais consciência das empresas com isso. A saúde da população também é afetada pela falta de cuidado de algumas empresas com essa questão. Hoje o setor social está atuante e organizado para cobrar posições das empresas. As ONGS ajudam muito nessa questão, principalmente as ambientalistas. As associações de classe, de bairro e outras entidades de classe são as mais ativas no processo. 20 Unidade I 2.6.1 Empresas para um mundo futuro O cenário no século XXI tem exigido a reflexão e a discussão sobre como se pretende minimizar os impactos produzidos pelos negócios para que as próximas gerações não tenham ônus. Recentes proposições de alguns estudiosos e empresários trouxeram o tema “capitalismo consciente”. Os autores Mackey e Sisoda (2013) apontam a importância de se pensar em uma maneira de conduzir o lucro das organizações com uma visão mais holística, e não apenas na única proposição da organização, que era gerar lucro, defendida por Milton Friedman. Mota (2013) afirma que existem vários tipos de capitalismo e que este dependerá da dinâmica própria desse sistema econômico no tempo e no espaço. O capitalismo do século XIX era caracterizado pela lógica de exploração e de inexistência, de certa forma, de proteção social. Já na Era do Estado do Bem-Estar Social, o capitalismo vai adquirir uma face mais humana, quando adota a política do Welfare State. Mudanças significativas ocorreram desde o fordismo até aos dias de hoje. O capitalismo consciente, na percepção de Mackey e Sisoda (2013), consiste em romper com paradigmas existentes e propor novas maneirar de desenvolver um negócio em que este poderá criar vários tipos de valor e de bem-estar para todas as partes envolvidas, como: financeiro, intelectual, físico, ecológico, social, cultural, emocional, ético. Trata-se de uma maneira mais completa de pensar o negócio. Os autores ainda asseveram que o capitalismo consciente está sustentado em quatro princípios: propósito maior; integração com os stakeholders; liderança consciente; e cultura e gestão consciente. Não são princípios isolados, mas sim interligados, eles se reforçam mutuamente, como mostrado na figura a seguir. Liderança consciente Cultura e gestão consciente Integração com os stakeholders Propósito maior e valores centrais Figura 5 – Os quatro princípios do capitalismo consciente Fonte: Mackey e Sisoda (2013, p. 36). 21 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO Propósito maior Ser mobilizador, proporcionando um grau de engajamento entre todos os públicos de interesses e catalisara criatividade, a inovação e o comprometimento organizacional. Tal quesito está no centro da figura 5 porque é nesse aspecto que as organizações devem estar centradas. Integração de stakeholders São as entidades, ou seja, os públicos de interesse das organizações que de uma maneira ou outra serão ou terão grandes efeitos nos relacionamentos, compondo uma rede de criação de valor. Liderança consciente O comando das organizações é imprescindível para que o negócio seja consciente, ou seja, com uma liderança visionária e apurada em que esteja sustentada na inteligência analítica, emocional e espiritual, compreendendo e analisando a teia de relacionamentos entre todos os stakeholders. Cultura e gestão consciente Tais aspectos garantem a sustentação dos valores e propósitos de uma organização consciente. Se perdurarem, vão suportar as adversidades de liderança e os problemas que poderão surgir ao longo do tempo. Empresas com esses propósitos possuem uma gestão compatível com a cultura, baseando-se na descentralização, na autonomia e na colaboração, ampliando a capacidade de inovação e criando vários tipos de valores para os stakeholders internos. As organizações que adotam tais proposições creem que o sucesso dos negócios está atrelado à criação de valor para todos os stakeholders, entre eles a sociedade e o meio ambiente. Gerar valor para a sociedade e para o meio ambiente está diretamente relacionado à política e à cultura de qualquer empresa consciente. Em contraponto às proposições apontadas, Mackey e Sisoda, (2013 p. 41) acentuam que “companhias prioritariamente orientadas para o lucro tendem a enxergar programas sociais e ambientais em seu modelo de negócio tradicional no intuito de melhorar sua reputação ou defender-se das críticas”. Na verdade, o que se propõe é uma abordagem ampla, que contemple o comportamento responsável de todas as partes interessadas, que esse seja o elemento central da filosofia e da estratégia da empresa. Lembrete Os autores Mackey e Sisoda (2013) apontam a importância de se pensar em uma maneira de conduzir o lucro das organizações com uma visão mais holística, e não apenas na única proposição da organização, que era gerar lucro, defendida por Milton Friedman. 22 Unidade I E como seria essa empresa para as próximas décadas? Pensando nessa questão, Sukhdev (2013) aponta alguns aspectos que precedem as empresas para as próximas décadas. Ele destaca que existem três motivos: o primeiro é de que as coisas não acontecerão de modo simples ou repentinamente; o segundo é que não há soluções elegantes ou fáceis; e o terceiro é apresentado como sendo um desafio de natureza ambiental ou de justiça social, ou até mesmo de ambas. O grande desafio está centrado na mudança, na transformação para a própria sobrevivência das organizações. Sukhdev (2013) ainda acentua que a empresa para as próximas décadas deverá sustentar-se nos seguintes elementos: • Metas alinhadas aos objetivos da sociedade: sinergia com os propósitos da empresa aos da comunidade, levando ao aumento de bem-estar, diminuição na escassez de recursos naturais e de riscos ambientais. Neste elemento, percebe-se uma parte da essência do que a responsabilidade social corporativa propõe. • Visão da organização como uma fábrica de capital: a organização não é somente uma empresa geradora de produtos e serviços. Percebe-se que na composição dessa organização alguns paradigmas necessitam ser modificados, no sentido de a organização ser vista de maneira holística, no aspecto econômico e social, ou seja, nas palavras de Sukhdev (2013, p. 288), “reconhece-se que o capital humano, o capital social e o natural conseguem produzir da mesma forma que o capital financeiro”. Esse tipo de organização não considera que o capital humano e o natural são acessórios do capital financeiro. • Entendimento do papel da organização como uma comunidade: a organização pode ser vista como uma comunidade, unida pela cultura compartilhada, criada pelos valores, missão, visão, metas, objetivos e governança. A organização direcionada para o futuro reconhece a comunidade como fonte de criação das redes de relacionamentos, reforçando a natureza comunitária. A procura por modificações empresariais criará as circunstâncias para o desenvolvimento de um novo tipo de organização. Para essa “nova organização”, pode-se apontar que uma das propostas de modificação consiste que a organização esteja alicerçada na política de sustentabilidade. Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento, leia: BEGNINI, S. et al. Capitalismo consciente: uma análise netnográfica em grupos da rede social LinkedIn. Cad. EBAPE.BR, v. 17, n. 2, abr./jun. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3oYQEWE. Acesso em: 26 nov. 2021. 23 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO 2.6.2 Sustentabilidade, responsabilidade corporativa e responsabilidade social Foi necessário adotar uma corrente de pensamento em função da imprecisão e confusão que cercam os conceitos de sustentabilidade. Assim, será utilizada a que é pautada no desenvolvimento sustentável, a qual procura se relacionar por meio do equilíbrio entre as três dimensões: econômica, social e ambiental. Sachs (2009) aponta que a sustentabilidade não dever se resumir à questão ambiental ou ecológica, mas sim levar em conta os aspectos éticos, ambientais, econômicos etc. A proposta básica do desenvolvimento sustentável coloca a responsabilidade em cada membro da sociedade, que deve adotar práticas que venham a contribuir significativamente em suas áreas de atuação. O mesmo ocorre com outros conceitos relacionados à sustentabilidade, como a filantropia e a responsabilidade corporativa. A filantropia está sustentada em ações assistencialistas que objetivam contribuir para a sobrevivência de grupos sociais desfavorecidos assumidos pelas empresas por meio de ações de doação a grupos e entidades. É possível afirmar que a filantropia é apenas um tipo de ação ou até um estágio preparatório para o contexto mais amplo da responsabilidade social. Dessa forma, percebe-se que o fato de a empresa realizar ações sociais não a caracteriza como uma organização socialmente responsável (PITOMBO; PIZZINATTO; GIULIANI, 2014). Muitas vezes, esse tipo de ação é confundido com a responsabilidade social. Por sua vez, a responsabilidade corporativa é o envolvimento permanente das organizações com a qualidade ética nas relações da empresa com os seus stakeholders. Trata-se de um processo contínuo que visa alcançar um desenvolvimento socialmente responsável, econômica e ambientalmente sustentável, denominado triple botton line. Isso significa trabalhar com ética nos negócios, responsabilidade social e responsabilidade ambiental. A figura a seguir ilustra essas dimensões. Responsabilidade corporativa Responsabilidade social Responsabilidade econômica Responsabilidade ambiental Triple Botton LineTriple Botton Line Figura 6 – Dimensões da responsabilidade corporativa Fonte: Pitombo, Pizzinatto e Giuliani (2014, p. 344). 24 Unidade I A avaliação da responsabilidade corporativa embasa-se em três dimensões: • Dimensão ética: é a análise referente ao comportamento da empresa (quais valores adota e como os promove e os difunde perante seus vários públicos). • Dimensão pragmática: como a empresa desenvolve suas ações sociais (qual é o foco, seus beneficiários, total de investimentos, retorno obtido e resultados alcançados). • Dimensão político-institucional: é a análise de como a empresa se relaciona com os seus diversos públicos-alvo (empregados e dependentes, fornecedores, distribuidores, acionistas, comunidade e sociedade). Em suma, quanto maior for a participação da empresa nessas três dimensões, maior e melhor será a sua gestão de responsabilidade corporativa. Pode-se dizer que uma empresa é socialmente responsável pela análise holística do padrão de comportamento social, econômico, cultural e político adotado. A sustentabilidade é vista como uma abordagemde negócios. Como tal, assume sua condição de fator estratégico na condução de negócios empresariais. Daí ser possível falar em estratégias empresariais sustentáveis no contexto atual das empresas. A sustentabilidade está alicerçada na corrente de pensamento do desenvolvimento sustentável em que se procura relacionar por meio do equilíbrio entre as dimensões econômica, social e ambiental. Barbieri e Cajazeira (2009, p. 24) definem empresa sustentável como aquela “que procura incorporar os conceitos e objetivos relacionados com o desenvolvimento sustentável em suas políticas e práticas de modo consciente”. Para a empresa, a incorporação dos objetivos relacionados ao desenvolvimento sustentável significa adotar estratégias de negócios e atividades que atendam às necessidades das empresas e de seus stakeholders enquanto protegem, sustentam e aumentam os recursos humanos e naturais. Ou seja, a empresa torna-se responsável por essas dimensões organizacionais, como mostrado na figura a seguir. Responsabilidade corporativa Sustentabilidade organizacional Responsabilidade social Responsabilidade econômica Responsabilidade ambiental Triple Botton LineTriple Botton Line Figura 7 – Dimensão da sustentabilidade organizacional Fonte: Barbieri e Cajazeira (2009, p. 71). 25 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO Na proposição da gestão da sustentabilidade empresarial, a gestão das empresas deve também estar direcionada para a forma pela qual estabelece seus relacionamentos com as organizações. Empresas sustentáveis são reconhecidas por seus valores, materializados em ações, projetos e proposições evidenciados por meio de estratégias de comunicação e marketing, com o objetivo de proporcionar visibilidade, credibilidade e, consequentemente, uma boa reputação na percepção de seus públicos de interesse, sejam eles consumidores ou não dessa empresa. Pode-se dizer que, se as empresas não buscarem as três responsabilidades como base da sustentabilidade em uma maneira operativa, poderá, como consequência, comprometer o negócio, afetando sua capacidade para: • Manter a sua reputação. • Atrair e reter os colaboradores e clientes. • Manter o trabalhador e a produtividade dos recursos. • Atrair investimentos e outros recursos para melhorar a vantagem competitiva. • Lidar eficazmente com os reguladores e com as companhias de seguros. A sustentabilidade organizacional é o equilíbrio entre a orientação interna por resultados e a pressão externa por minimização dos impactos sociais e ambientais e por um comportamento ético, estabelecendo fronteiras para a atuação da organização, definindo princípios e gerando padrões de estruturação, processos e gestão, todos orientados para a perenidade dos relacionamentos, a harmonia, a justiça social e para a preservação do ecossistema. Ou seja, as respostas serão voltadas para as ações estratégicas em direção ao mercado. As organizações sustentáveis devem orientar suas ações para alcançar os objetivos atendendo simultaneamente aos critérios da equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica. Em outras palavras, tanto as ações das organizações sustentáveis quanto as dos agrupamentos sociais e dos projetos sociais da economia solidária devem convergir para o tripé do desenvolvimento sustentável. Saiba mais Assista ao vídeo indicado a seguir para entender melhor o exposto. PAINEL de cases – sustentabilidade organizacional. 2020. 1 vídeo. (1:51:40). Publicado por Aberje. Disponível em: https://bit.ly/3FJjpxw. Acesso em: 7 jan. 2021. 26 Unidade I Resumo Iniciamos nosso estudo acentuando que o conceito geral de administrar consiste em versões diversas, cada uma com um viés diferente, porém de forma convergente e complementar. Vimos nesta unidade que a administração passa a ser considerada como uma ciência universal, pois todas as áreas do conhecimento fazem uso de conceitos para atingirem seus objetivos. Em seguida, ao destacar o processo empresarial, entendemos que organização é um grupo de pessoas que trabalham em busca de objetivos comuns, e não necessariamente são empresas. Também foi apresentado um panorama com a história das organizações. Nesse contexto, foi ilustrado um quadro comparativo entre a Era Industrial e a Era da Informação. Outro tema relevante desta unidade foi o papel social das organizações. A questão social e a inter-relação da empresa com o seu ambiente nunca foi tão intensa como hoje. As empresas podem envolver-se em quase todos os tipos de atividades sociais: educação, moradia, lazer e saúde, podendo contribuir direta ou indiretamente. Elas podem participar ativamente em ações que venham a ajudar o setor público ou ajudando ONGs, financiando projetos sociais. Isso traz uma imagem muito positiva para a empresa e influência em sua posição favorável de mercado. 27 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO Exercícios Questão 1. Leia o texto a seguir. Planejar, organizar, dirigir e controlar O planejamento é considerado o alicerce da atividade empresarial. É por intermédio do planejamento que são estabelecidos os objetivos a serem atingidos e as ações que serão essenciais para alcançá-los. Em outras palavras, ao planejar, a empresa define o que tem como propósito e por quais meios se chegará até eles, com o intuito de diminuir as incertezas e guiar as decisões corporativas. Além do planejamento, a organização, a direção e o controle formam o processo administrativo, sendo que cada função compreende um conjunto de ações que se destinam a conduzir a empresa para o alcance de seus objetivos. Disponível em: https://bit.ly/3GHBrk8. Acesso em: 11 dez. 2021 (com adaptações). Conforme o texto, além do planejamento, existem as funções administrativas: • organização; • direção; • controle. Em relação a essas funções administrativas, avalie as descrições a seguir. Descrição I. Implica saber se o que foi planejado foi alcançado com qualidade e custo desejáveis. Descrição II. Implica coordenar atividades de pessoas e alocar recursos para a consecução das tarefas planejadas. Descrição III. Implica conduzir a organização para a finalidade para a qual ela foi criada, com o cumprimento dos objetivos definidos. As descrições I, II e III referem-se, respectivamente, às funções administrativas: A) Organização, direção e controle. B) Direção, organização e controle. C) Organização, controle e direção. D) Controle, organização e direção. E) Controle, direção e organização. Resposta correta: alternativa D. 28 Unidade I Análise da questão A função controle tem a finalidade de garantir e assegurar que as ações e tarefas sejam executadas conforme os padrões e princípios estabelecidos. É a função responsável por identificar desvios em relação ao que foi planejado. Para isso, compara o resultado obtido com os padrões convencionados e sugere ações corretivas, se necessário. A função organização propõe-se a colocar em prática o resultado do planejamento, mediante a alocação de recursos humanos, materiais e financeiros. Para isso, define como as atividades e tarefas devem ser realizadas, de acordo com as características e necessidades da empresa. A função direção está relacionada à liderança, à interação entre pessoas, sendo que essa função se dilui em toda a empresa, nos diversos níveis hierárquicos. Baseia-se também na capacidade de influenciar os funcionários de modo positivo, de maneira a coordenar as ações e os esforços para a realização das atividades e das tarefas empresariais. Em suma, trata-se da condução da empresa para o cumprimento dos objetivos estabelecidos. Questão 2. Leia a declaração de Visão do Instituto Ethos. As empresas são importantes agentes de promoção do desenvolvimento econômico e do avanço tecnológico e têm importante influência nas transformações do planeta. Por isso, sua participação e engajamento são cruciais para a construção de um mundo melhor, ao lado dos esforços do Estado e da sociedade civil. As ações cooperativas – tanto em âmbito local quantoregional, nacional ou internacional – são cada vez mais necessárias para a manutenção do bem-estar da humanidade. A consciência global é fundamental no processo de preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural, na promoção dos direitos humanos e na construção de uma sociedade economicamente próspera e socialmente justa. As empresas, adotando um comportamento socialmente responsável, são poderosos agentes de mudança para, juntamente com os Estados e a sociedade civil, construir um mundo melhor. Ao adicionar às suas competências o comportamento ético e socialmente responsável, a iniciativa privada conquista o respeito das pessoas e das comunidades que são impactadas por suas atividades, e o resultado é o reconhecimento da sociedade às suas atitudes. A responsabilidade social está se tornando cada vez mais fator de sucesso empresarial, o que cria novas perspectivas para a construção de um mundo economicamente mais próspero e socialmente mais justo. Disponível em: https://bit.ly/3yqCVMK. Acesso em: 11 dez. 2021 (com adaptações). Considerando o exposto e seus conhecimentos, avalie as afirmativas. 29 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO I – A ética, uma das três dimensões da responsabilidade corporativa, tem como foco o relacionamento da empresa com os seus vários públicos-alvo, como funcionários, fornecedores, acionistas, comunidade, entre outros. II – A dimensão político-institucional na análise da responsabilidade corporativa avalia o comportamento da empresa e seus valores. III – O desenvolvimento das ações sociais da empresa é analisado pela dimensão pragmática da responsabilidade corporativa: são avaliados o foco, os beneficiários, os investimentos e os resultados alcançados. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) III, apenas. C) I e II, apenas. D) II e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: a dimensão ética da responsabilidade corporativa se refere ao comportamento da empresa propriamente dito; ela compreende os valores adotados pela corporação e sua promoção e difusão perante seus diferentes públicos. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: a dimensão político-institucional analisa como a empresa se relaciona com seus diversos públicos-alvo: funcionários, clientes, acionistas, distribuidores e comunidade. III – Afirmativa correta. Justificativa: a dimensão pragmática da responsabilidade corporativa tem como objeto avaliar o desempenho das ações sociais realizadas pela empresa no que se refere ao seu desenvolvimento e à obtenção de resultados.