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Andragogia e Educação Profissional Lisiane Lucena Bezerra Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor LISIANE LUCENA BEZERRA A AUTORA Lisiane Lucena Bezerra Olá! Meu nome é Lisiane Lucena Bezerra. Sou Licenciada em Ciências Agrarias, mestre em Fitotecnia e doutora em Agronomia/ Fitotecnia, com experiência técnico-profissional na área de licenciatura há mais de nove anos. Passei por empresas como a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Desigualdade Social ...................................................................................12 O processo de civilização ......................................................................................................... 12 Desigualdade social no Brasil ................................................................................................ 17 Influência da Desigualdade Social no Contexto Educacional 22 Desigualdade educacional nos PNEs e nos PPAs ..................................................24 Reflexões sobre o enfrentamento da pobreza e desigualdades educacionais presentes nos PNEs e PPAs ................................................25 Desigualdade social e as estudantes da EJA .............................................................25 Desigualdade social e os afrodescendentes na EJA ............................................27 Desigualdade social e pessoas com necessidades educacionais específicas na EJA ..........................................................................................................................28 Didática ............................................................................................................31 Didática e o tempo ......................................................................................................................... 31 Projetos referentes ao trabalho .........................................................................32 Atividades consideradas permanentes ....................................33 Sequência para a realização de atividades ...........................34 Situações que são independentes .............................................34 Compartilhamento de responsabilidades na leitura e escrita .......................34 Orientações direcionadas à avaliação ............................................................................ 36 Objetivos com comprovação das representações construídos pelos alunos .....................................................................................................................37 Exercício de ações definidas de maneira antecipada e planificada ........................................................................................................................37 Os alunos devem ter a possibilidade de apropriar-se dos instrumentos e critérios de avaliação .......................................................... 38 Utilização de instrumentos e estratégias que podem ser utilizados durante a avaliação da aprendizagem dos alunos .... 39 Uso de portfólio como uma estratégia utilizada para avaliar ........................ 39 Importância da Didática, Interdisciplinaridade e Transversalidade .........................................................................................41 Importância da utilização de recursos didáticos e tecnológicos na andragogia ...........................................................................................................................................42 Interdisciplinaridade e sua importância na educação de jovens e adultos .....................................................................................................................................................44 Desafios da interdisciplinaridade em âmbito andragógico ..............................45 Transversalidade na andragogia ..........................................................................................47 9 UNIDADE 03 Andragogia e Educação Profissional 10 INTRODUÇÃO Você sabe como surgiu a desigualdade social e como ela pode interferir no meio educacional? E de que forma a didática pode melhorar a aprendizagem de jovens e adultos? Então, a desigualdade social é vista desde a época da colonização em que algumas pessoas se sobressaíram uma das outras com o surgimento da sociedade capitalista. Com isso, a concentração de riquezas se deu apenas para uma parcela populacional, enquanto a outra permaneceu sem poder aquisitivo e sem atendimento às necessidades básicas. Um dos resultados a essa desigualdade social reflete na educação, em que pessoas com menor renda monetária também apresentam dificuldades tanto no acesso à educação como na sua permanência, tendo que adiar sua qualificação educacional. Na Educação de Jovens e Adultos o acesso e a permanência dessas pessoas que não tiveram oportunidade de aperfeiçoamento educacional são garantidos, e a didática a ser utilizada deve levá-los a se sentirem estimulados a aprimorar seus conhecimentos. Assim, dentro dessa didática é recomendado o trabalho a partir da interdisciplinaridade e transversalidade que, por sua vez, tende a impulsionar o desenvolvimento educacional dos alunos que fazem parte do EJA. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Vamos lá! Andragogia e Educação Profissional 11 OBJETIVOS Olá! Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Entender o surgimento da desigualdade social; 2. Avaliar como a desigualdade social interfere na educação; 3. Explanar sobre o que é a didática direcionada a andragogia; 4. Identificar as melhores formas de aplicação da didática direcionada a Educação de Jovens e Adultos. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! “Sucesso é o acúmulo de pequenos esforços, repetidos dia e noite” (Robert Collier) Andragogia e Educação Profissional 12 Desigualdade Social INTRODUÇÃO: Ao finalizar o estudo deste capítulo, você será capaz de entender sobre a desigualdade social e como ela é apresentada no Brasil. Isso será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. E aí? Motivado para desenvolver essa competência? Então, vamos lá. Avante! O desenvolver da civilização pode ser entendido como um processo ocorridona sociedade e que se caracteriza como novas formas de relações sociais e artifícios que não se deve ser entendido pela ação do indivíduo, mas como resultado das relações homem e construção da história, corroborando com Elias (1993), quando fala sobre o processo civilizador. [...] planos e ações, impulsos emocionais e racionais de pessoas isoladas constantemente se entrelaçam de modo amistoso ou hostil. Esse tecido básico, resultante de muitos planos e ações isolados, pode dar origem a mudanças e modelos que nenhuma pessoa isolada planejou ou criou. Dessa interdependência de pessoas surge uma ordem sui generis, uma ordem mais irresistível e mais forte do que a vontade e a razão das pessoas isoladas que a compõem. É essa ordem de impulsos e anelos humanos entrelaçados, essa ordem social, que determina o curso da mudança histórica, e que subjaz ao processo civilizador. (ELIAS, 1993, p. 194) O processo de civilização O homem sempre esteve em busca da compreensão e interpretação de sua história, tanto individual como social. Sendo assim, faz-se necessário estudar as relações sociais existentes. Segundo Nascimento (2001), no período do século XVII e XVIII, ao mostrar suas reflexões no que se refere à evolução do homem, bem Andragogia e Educação Profissional 13 como sua relação na sociedade, Rousseau diz que é por meio do trabalho que os homens se tornam seres sociáveis por meio de processos de trabalhos. Portanto, no decorrer do seu desenvolvimento, expande seus instrumentos de trabalho e suas atividades, aumentam suas dificuldades, exigindo uma maior e melhor condição de trabalho para sua sobrevivência. Durante esse processo, o homem obtém consciência de si mesmo e se torna individualista, descobrindo a partir daí a necessidade de se sobressair sobre os demais e de procurar o desenvolvimento de mais habilidades, ou melhor, sofrer um processo de civilização. Conforme Elias (1993, p. 195): Toda essa reorganização dos relacionamentos humanos se fez acompanhar de correspondentes mudanças nas maneiras, na estrutura da personalidade do homem, cujo resultado provi- sório é nossa forma de conduta e de sentimentos ‘civilizados’. No decorrer da história, há um desenvolvimento da complexidade da sociedade, fazendo-se necessária a origem de novas formas de organização entre os homens, sendo que a partir daí passam a se dividir em grupos sociais. Surge, então, a necessidade da regulação de suas ações, por meio de normas e regras, tendo, no entanto, o impedimento de transgressão do homem. De acordo com Elias (1993), ao analisar tais medidas, passa a chamar essas regras de formas de autocontrole: [...] o controle mais complexo e estável da conduta passou a ser cada vez mais instilado no indivíduo desde seus primeiros anos, como uma espécie de automatismo, uma autocompulsão à qual ele não poderia resistir, mesmo que desejasse. A teia de ações tornou-se tão complexa e extensa, o esforço necessário para comportar-se “corretamente” dentro dela ficou tão grande que, além do autocontrole consciente do indivíduo, um cego aparelho automático de autocontrole foi firmemente estabelecido. (ELIAS, 1993, p. 196) Andragogia e Educação Profissional 14 Muitos filósofos e sociólogos estudaram a história do homem no decorrer desse processo e compreenderam dois procedimentos que são fundamentais nas relações instituídas entre os homens, a necessidade e a liberdade. Em suas primeiras relações com a natureza, o homem buscava garantir suas necessidades mais prioritárias, com isso garantido, buscava também a liberdade. No momento em que as relações se tornam mais complicadas e com as relações do meio capitalista buscando a modernização da sociedade, muitos homens não suprem suas necessidades básicas, muito menos conseguem alcançar a sua liberdade, limitando-se a ser leal ao Estado. Assim, é capitalista a ordem social emergente no período da modernidade, tanto no sistema econômico como nas outras instituições. Explicado como um ciclo investimento-lucro-investimento, o caráter móvel inquieto da modernidade, quando combinado com a referência de que a tendência geral da taxa nos lucros vem declinando, tem por ocasião um arranjo para o sistema se expandir (GIDDENS, 1991). O moderno sistema organizacional não se resume somente ao sistema capitalista, mas em decorrência das mudanças ocasionadas busca garantir seu desenvolvimento, a industrialização e a divisão social do trabalho. A explicação sobre a desigualdade de maior conhecimento é a da aglomeração de renda apurada pelo Coeficiente de Gini, o qual explana sobre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Os estudos a esse respeito expõem as faces de maior estrutura do fenômeno, como a distribuição desigual de renda. Contudo, mostra alguns limites, como olhar apenas um único aspecto problemático: a renda monetária. De acordo com Campello, Gentilli, Rodrigues e Hoewell (2018): Os dados do Coeficiente de Gini, todavia, são claros ao evidenciar uma queda na desigualdade de renda no período de 2002 a 2015, em patamares e com uma qualidade como não Andragogia e Educação Profissional 15 havia ocorrido na história brasileira. Durante o período, a riqueza acumulada no país aumentou e, ainda que a renda de todos os quintis tenha se ampliado significativamente, a renda dos mais pobres (primeiro e segundo quintis) aumentou mais do que a do resto da população. O processo reverteu uma tendência à concentração de renda que vivia o Brasil desde a ditadura militar e que ficou estagnada no início do período democrático. Entre 1980 e 2001, o Coeficiente de Gini ficou congelado no elevado patamar de 0,59, caindo, em 2015, ao seu nível mais baixo, 0,49. O aumento real do salário mínimo, a crescente formalização do mercado de trabalho, a incorporação dos mais pobres ao orçamento federal, por meio de políticas de inclusão social e distribuição efetiva de renda, e a promoção de uma política social integrada explicam, em boa medida, essa transformação. (CAMPELLO; GENTILLI; RODRIGUES; HOEWELL, 2018, p. 55) Com relação ao caso brasileiro e ao caso de países com uma considerável parcela da população pobre, contudo, mostrou-se insuficiente essa metodologia para explicar o que acontece de fato com a camada de maior vulnerabilidade na população, pelos seguintes motivos: 1. Quase que totalmente esses instrumentos não capturam a realidade nas mais baixas faixas de renda, sendo que os pobres continuam excluídos estatisticamente em decorrência da desigualdade ou diluídos sob abordagem geral. 2. Eles ficam submetidos à exclusão não apenas da acumulação de riquezas, mas de praticamente tudo, tais como o acesso a direitos, bens e serviços os quais são produzidos pela sociedade. Nas pesquisas de levantamento realizadas pelos países que buscam ampliar a oferta pública de alimentação escolar, saúde, assistência social e educação, deve-se considerar a “gratuidade” de sua promoção relacionada a sua necessidade de comprar serviços nos demais países, onde não se generaliza essa oferta. Andragogia e Educação Profissional 16 Dessa forma, quando se analisa a desigualdade de renda, não se incorpora de forma expressiva o bem-estar, o qual não se compra no mercado, mas é promovido pelo Estado. De acordo com Campello, Gentilli, Rodrigues e Hoewell (2018): É absolutamente importante discutir a desigualdade do ponto de vista da renda, olhando o estoque de capital e o patrimônio acumulado pelos ricos. No entanto, o olhar sobre a desigualdade não pode ignorar a necessidade de superar a assimetria de acesso a bens e serviços. Uma parcela expressiva da população vem vivendo à margem de condições mínimas de vida. Elevá-las a um patamar de dignidade não pode ser considerado um valor secundário no debate sobre desigualdade. Esse tema é, sem dúvida, um dos mais relevantes aprendizados e evidênciasdo período de conquistas sociais que o Brasil viveu recentemente. (CAMPELLO; GENTILLI; RODRIGUES; HOEWELL, 2018, p. 56) Dessa forma, quando adicionamos como alvo da análise econômica uma forma mais humanizada sobre as faces que apresentam desigualdades, pode ser adicionada empatia ao debate e assumir a visão de forma crítica, apoiando a compreensão sobre diversos momentos de privação do direito e a política pela qual pode contribuir de forma estratégica para mitigar as desigualdades. Existem questões determinantes nesse momento. O acesso, ou o não acesso, à água, à energia, à saúde, à educação, ao saneamento básico, à moradia e aos bens de consumo, como telefone, geladeira, televisão, entre outros, não são dimensões periféricas da desigualdade. A urgência e a prioridade a esses direitos aos mais pobres ocorrem concomitantemente às diversas mudanças de forma estrutural, que demandam tempo para implementação, ou melhor, são a longo prazo. No que diz respeito a alguns bens de consumo, para a parte da população do mais pobre é um “não direito” e um produto limitante, de forma estrutural para as suas oportunidades ao desenvolvimento e por possibilitar uma vida digna e segura. Andragogia e Educação Profissional 17 Ainda, de acordo com Campello; Gentilli; Rodrigues e Hoewell (2018), ao ter a visão da desigualdade de forma reduzida, a liberdade humana como sua emancipação, também estará envolta por essa visão. A busca para que a desigualdade seja desnaturalizada pode ser por meio da conscientização de que essa desigualdade é resultante de um aglomerado de injustiças. Contudo, pode ocorrer enfrentamento a essa desigualdade social por meio de ações promovidas pelo Estado, como também pela coletividade no que se refere à luta pelos seus direitos, em que os privilégios são reproduzidos de forma histórica pelas elites e podem ser desestabilizados pelo efeito da democracia. Desigualdade social no Brasil Ao iniciar o desenvolvimento e ao explorar o território, o planejamento realizado não foi voltado ao melhoramento do país, bem como melhores condições para os que aqui viviam. Assim afirma Júnior (2004, p. 23): “[...] A ideia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum. É o comércio que os interessa, e daí o relativo desprezo por este território primitivo e vazio que é a América [...]”. Em afirmação feita pelo mesmo autor, o desenvolvimento da ocupação do território brasileiro ocorreria para demandar os interesses do mercado do exterior. A produção era realizada de acordo com o absorvido pelo mercado, explorando mais e mais o território ainda desconhecido, à procura por terras férteis. Já a mão de obra existente no local, mudava- se de um lugar para outro, levando-se em conta o planejamento prévio, mesmo notando estranhezas em um primeiro momento. A forma adotada para o desenvolvimento era desigual e precária, favorecendo o enriquecimento apenas de quem estava no comando. A desigualdade e por consequência a pobreza estão sempre presentes no processo da história, tornando-se mais grave e apresentando novas características no momento do surgimento da indústria e com o aparecimento do capitalismo. A distribuição de renda de forma incorreta é um dos principais fatores responsáveis pela desigualdade social no país, retratando de Andragogia e Educação Profissional 18 forma evidente que a população é separada por classes, e de forma geral apresentam duas categorias, os considerados ricos e os pobres. Observando os fatos dessa forma, entendemos que a pobreza decorre da ação realizada pelos próprios homens, pois o resultado do que temos hoje em dia são as ações do cotidiano decorridas em situações concretas. O destino não estava traçado e o caminho não era único, ainda que o passado tenha o seu peso no presente. O Brasil foi fundado sobre o signo da desigualdade, da injustiça, da exclusão: capitanias hereditárias, sesmarias, latifúndio, Lei de Terras de 1850 (proibia o acesso à terra por aqueles que não detinham grandes quantias de dinheiro), escravidão, genocídio de índios, importação subsidiada de trabalhadores europeus miseráveis, autoritarismo e ideologia antipopular e racista das elites nacionais. Nenhuma preocupação com a democracia social, econômica e política. Toda resistência ao reconhecimento de direitos individuais e coletivos (GARCIA, 2003, p. 9) O que se apresenta hoje como resultado nada mais é do que um reflexo da forma do homem que pensavam e pensam o Brasil, ou melhor, concordado com suas vontades e representações. Se constrói uma realidade partindo-se do que representa uma sociedade. Ao fazer uma análise de forma social sobre esse processo, ressalta- se que esse papel é ocupado pela sociologia, de maneira que ocorre uma derivação sobre as representações no que se refere ao significado do comportamento por meio da ação que é reproduzida (PETERM; LUCKMAN, 1976). A desigualdade social está relacionada a algumas vertentes que existem na sociedade e que estão intrinsecamente ligadas, ao que a sua possibilidade de acesso representa, de forma mais clara, o termo desigualdade social. Andragogia e Educação Profissional 19 Figura 1: Pontos que destacam a desigualdade social Educação Infraestrutura Habitação Bens de consumo Saúde Fonte: Elaborada pela autora, 2021. • Educação Se existe uma concordância em estratégia no que se refere ao desenvolvimento de um país, este é sem dúvida um investimento em educação. O custeamento da não desigualdade em educação é fator que determina a dinâmica de exclusão e a perpetuação da pobreza. • Infraestrutura De acordo com Campello; Gentilli; Rodrigues e Hoewell (2018): Em 2002, o acesso à água de qualidade chegava a quase 90% do total da população brasileira. Considerando que a água é um bem escasso no mundo, poderíamos supor que o Brasil estava em uma posição de ampla cobertura. Ao colocarmos a lente nos mais pobres, o quadro muda drasticamente: menos da metade (49,6%) dos 5% mais pobres tinham garantia de acesso à água de qualidade. No ano de 2015, o percentual entre os 5% mais pobres progredira para 76%. A ampliação beneficiou o conjunto dos brasileiros e foi 7 vezes mais rápida entre os 5% mais pobres, ou seja, enquanto para o total da população aumentou 7%, para os mais pobres foi ampliado em 53%. (CAMPELLO; GENTILLI; RODRIGUES; HOEWELL, 2018, p. 59) • Habitação A exclusão do processo de urbanização acirra a desigualdade e, dessa forma, muitos brasileiros são privados de ter um digno lar e por consequência uma vida com segurança. O fenômeno de domicílio precário é o indicador que apoia essa compreensão, o que está sob as parcelas da população mais pobre. Essa falta de acesso a habitações dignas está diretamente ligada à renda desigual existente na sociedade e consequentemente é gerada a desigualdade social, e de forma geral, essas famílias que detêm menor Andragogia e Educação Profissional 20 poder aquisitivo vivem na maioria das vezes em ambientes com menor acesso a serviços básicos que são considerados essenciais. • Bens de consumo Os bens de consumo representam o poder econômico e de acessibilidade de um ser ou uma família sobre a condição social que está ocupando em meio à sociedade. A desigualdade social alarmante no Brasil restringe esse acesso à grande parte populacional, que apesar de ter evoluído nos últimos anos, ainda está longe de obter resultados reais sobre a diminuição da desigualdade existente na sociedade. Alguns bens duráveis como máquina de lavar, fogão e geladeira, se constituem como utensílios básicos para o funcionamento da casa em qualquer lugar. Boa parcela das famílias pobres brasileiras só conseguiu usufruir dessas comodidades somente na última década. Para Campello; Gentilli; Rodrigues e Hoewell (2018): É notável o crescimento de acesso a esses bens no período de 2002 a 2015, que, distante de constituirum comportamento consumista, representa melhorias objetivas, liberação de tem- po gasto em tarefas domésticas, melhoria na autoestima das famílias e ampliação das possibilidades de acesso a outras oportunidades. É o caso do telefone celular e do computador com acesso à internet, que deixam de ser privilégio de uma parte do Brasil e passam a compor o dia a dia das famílias ne- gras e dos mais pobres. (CAMPELLO, GENTILLI, RODRIGUES, & HOEWELL, 2018, p. 60) • Saúde Observando a saúde como um determinante direto às condições socioeconômicas da população, pode-se dizer que o rápido e desorganizado crescimento da cidade ocasiona a falta de saneamento básico, bem como fatores como alimentação, condições de moradia, condições de trabalho, educação e questões étnicas/raciais, os quais são vistos como dimensões de desigualdade, são fortes determinantes sociais de saúde. Andragogia e Educação Profissional 21 SAIBA MAIS: Você quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendamos a leitura do livro: As consequências da modernidade (GIDDENS, 1991). Disponível em: https://bit.ly/3ciXQYy. Acesso em: 02 mar. 2021. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido os motivos do surgimento da desigualdade social de forma geral e no Brasil. Os processos de desenvolvimento social desde os primórdios foram realizados de forma que alguns enriqueceram enquanto outros passaram por um processo exploratório e permaneceram mais vulneráveis economicamente, e com o tempo essa diferenciação social se agrava a cada dia até a atualidade. A desigualdade social está relacionada a algumas vertentes, como educação, infraestrutura, saúde, habitação e bens de consumo, que existem na sociedade e que estão intrinsecamente ligadas ao que a sua possibilidade de acesso representa, de forma mais clara, ao termo desigualdade social. Andragogia e Educação Profissional 22 Influência da Desigualdade Social no Contexto Educacional INTRODUÇÃO: Ao finalizar este capítulo você será capaz de entender como a desigualdade social está intrinsecamente ligada ao desempenho educacional. Isso será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. E aí? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A relação que existe entre a escola e a pobreza é íntima. A aprendizagem dos alunos na escola é claramente interferida devido às suas condições sociais. De forma geral, essas desigualdades sociais são refletidas também dentro da sala como desigualdade escolar. É real a influência da pobreza na aprendizagem, no entanto, outros fatores também são responsáveis, de maneira que ela é interferida por problemas repletos de complexidade, tanto direta quanto indiretamente. Na maioria das escolas, as necessidades consideradas básicas não são atendidas de forma satisfatória pelas políticas direcionadas a educação e comumente a pobreza é relacionada a determinadas caraterísticas. Figura 2: Algumas características que determinam a pobreza Fome Miséria Necessidade Falta de recursos financeiros Falta de vontade para os estudos Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Porém, essas características vistas de forma isolada não representam o conceito da pobreza. Não é uma tarefa simples definir esse tema cheio de complexidade. Assim, a pobreza é representada pelas relações ligadas aos temas referentes: • Aos recursos materiais; • Às políticas adotadas; Andragogia e Educação Profissional 23 • Ao desenvolvimento social; • Ao desenvolvimento produtivo. E essas diferenças dentro do meio educacional, entre os indivíduos que o compõem, resultam também em oportunidades desiguais no mercado de trabalho e, consequentemente, a renda dessas pessoas tornam-se desiguais. Dessa forma, a pobreza persiste em um ciclo vicioso da qual a sociedade faz parte. De modo explícito, há uma proximidade muito grande entre a desigualdade social e a escolaridade baixa ou ausente, indicando um obstáculo para que a cidadania seja construída. Tanto a pobreza quanto a educação retratam temas bastante discutidos por órgãos dos governos e pela sociedade civil. A pobreza por um lado é um obstáculo para uma educação de qualidade, por outro a educação ocupa papel principal para que o país tenha um futuro com melhores perspectivas. As diferenças existentes nas rendas das pessoas podem ser explicadas pelas diferenças educacionais, visto que a acessibilidade a trabalhos bem remunerados depende do nível educacional. As desigualdades referentes à educação apresentam um papel importante no que se inclui a política educacional, principalmente por retratar as desigualdades sociais. De forma geral, são tidas como referência pelo fato de dimensionar: • O número de analfabetos; • O abandono da escola; • Os índices de repetência; • Os anos de estudo; • A qualidade de ensino; • As estruturas escolares consideradas boas; • A formação de profissionais da educação. Andragogia e Educação Profissional 24 Desigualdade educacional nos PNEs e nos PPAs Dentro dos Planos Nacionais da Educação (PNEs) e dos Planos Plurianuais Federais (PPAs), a desigualdade social e a pobreza são tratadas como “problemas” centrais que devem ser atacados. No entanto, não são apresentados nos documentos um conceito específico que tenha sido elaborado sobre essas categorias, como também não são desenvolvidas reflexões no que indicam estruturalmente os determinantes da pobreza e da desigualdade em meio à sociedade. Para Garcia e Hillesheim (2017): À medida que a educação é vislumbrada como meio para a superação das condições de pobreza, sua articulação com outras políticas sociais, como saúde, assistência social, moradia, trabalho e emprego etc. é reforçada. Essa tentativa de integração de ações envolvendo todos os entes da federação e a sociedade civil organizada não é algo novo quando se pensa nos desenhos e no conteúdo das políticas públicas, o que indica que as estratégias adotadas, com base na intersetorialidade, não têm alcançado resultados suficientes para alterar a fragmentação e, por vezes, a duplicidade de ações, cujo produto final é a manutenção da realidade que se tenta alterar. (GARCIA; HILLESHEIM, 2017, p. 135) Pode-se observar no PNE 2014-2024 a presença dessa articulação, de forma a considerar uma estratégia de extrema importância para que a pobreza possa ser enfrentada. É destacado em suas informações as ações que objetivam a garantia e que os estudantes que fazem parte das famílias que recebem benefícios de programas que agem transferindo rendas tenham acesso e permanência à educação (BRASIL, 2014). Andragogia e Educação Profissional 25 Reflexões sobre o enfrentamento da pobreza e desigualdades educacionais presentes nos PNEs e PPAs A respeito dos temas pobreza e desigualdades educacionais em uma análise realizada nos PNEs e PPAs e o tratamento que é dado a esses temas, destacam-se: o primeiro refere-se o estabelecimento do chamado “círculo virtuoso da economia”, intrinsecamente ligada aos programas direcionados para transferir rendas e educação. O segundo refere-se ao Estado e o seu papel para se obter o modelo proposto de desenvolvimento, em que as políticas de transferência de renda e educação sejam vistas de forma especial (GARCIA; HILLESHEIM, 2017). Para que possamos compreender as relações existentes entre a pobreza e a educação, precisamos destacar os dois pontos citados acima, que por sua vez são fundamentais. Desigualdade social e as estudantes da EJA No que se refere às estudantes que fazem parte da educação de jovens e adultos, são marcadas na maioria das vezes por exploração, em que a violência doméstica faz ou já fez parte um dia de sua vida. Outra realidade que vem se tornando bastantecomum é a posição que elas ocupam de chefes de família, as quais também cuidam dos filhos sem obter ajuda, além de serem responsáveis pelas ocupações domésticas dentro da própria casa, fazendo com que mais comumente sejam vinculadas a trabalhos que oferecem má remuneração, além de muitas vezes estarem inseridos dentro da informalidade. Os papéis sobrecarregados que elas assumem muitas vezes favorecem as suas dificuldades socioeconômicas. Com isso, a atribulação existente em seu cotidiano juntamente com as várias tarefas das quais são responsáveis favorecem para que elas se tornem vulneráveis socialmente, dessa forma podem se tornar fragilizadas emocionalmente. Andragogia e Educação Profissional 26 Outro ponto relevante é a precocidade com que elas engravidam e muitas vezes de forma indesejada, tornando-se um grande obstáculo pelo fato de que a maioria das famílias não dão a devida assistência e apoio a essas adolescentes, agravando ainda mais sua fragilidade financeira. Com a falta de planejamento pela elevação do número de pessoas no núcleo familiar, as dificuldades enfrentadas por elas são potencializadas e, como resultado, torna-se um grande obstáculo continuar ou recomeçar os estudos paralisados ou até se qualificarem profissionalmente. Já aquelas que já ingressaram em algum curso acabam desistindo devido às grandes responsabilidades que agora terão que assumir. Em contrapartida, Springer, Cunha e Pagel (2020) diz que: A mulher que acessa esse programa busca a realização do sonho de concluir os seus estudos e também a oportunidade de ocupação e renda, por meio de uma qualificação profissional que facilite seu ingresso ao mundo produtivo do trabalho formal, pois compreende que sua sobrevivência no dia a dia é o mais importante para a melhoria de sua qualidade de vida e de sua família. (SPRINGER, CUNHA, & PAGEL, 2020, p. 2) Com o objetivo de que o público feminino, que faz parte da EJA, tenha sua autoestima levantada e valorizada, há sempre uma busca para que os horizontes referentes às expectativas das alunas, como também aos entendimentos, sejam ampliados. Porém, essa tarefa não é fácil de se realizar, por se tratar de temas como o gênero e sua diversidade e que novas expectativas sociais podem ser construídas, ao tratar de assuntos como esses, as certezas que elas já carregam são alteradas. No entanto, a EJA tem por objetivo, ao tratar desses assuntos, explicar como o gênero se retrata na sociedade, ao buscar o entendimento sobre o papel que o homem e a mulher exercem na nossa sociedade e, quanto essa relação de entendimento é propícia ao aprisionamento. O público que indica as mulheres que estão inclusas no campo de desigualdade social, significa que as relações em grupo devem ser retomadas, de forma que essa retomada se torna conflituosa, pelo fato de que as estudantes apresentam um perfil mostrando um comportamento Andragogia e Educação Profissional 27 defensivo, mesmo que o ataque não exista, havendo dificuldades para que possam aceitar diferentes opiniões além de entenderem como críticas alguns comentários realizados. Para que esse tipo de comportamento e entendimento possa ser modificado, são realizadas atividades direcionadas a um público feminino, por meio de palestras, seções de cinema, oficinas e comentários sobre literatura, onde o personagem feminino está sendo figurado no papel principal, além das práticas pedagógicas utilizadas. Desigualdade social e os afrodescendentes na EJA Esse grupo de estudantes que fazem parte da diversidade relacionada a questões socioculturais, de forma histórica vem sofrendo preconceitos, além de serem discriminados e excluídos. O que podemos observar em uma gama dominante da sociedade é que tudo referente aos negros é observado como ruim, não tem valorização ou é visto como negativo. Com isso, os negros podem vir sofrendo nos últimos anos no Brasil com altíssimos índices de criminalidades cometidos contra eles. No intuito de levar o conhecimento histórico sobre a afrodescendência no Brasil, é trabalhada em sala de aula, em diversas disciplinas, a abordagem africana. Os africanos vieram para o Brasil de forma escravizada, retratando o lugar que era ocupado pelos negros na sociedade, literatura e cultura dos séculos XIX e XX e, por conseguinte, são estudadas as conquistas e mudanças obtidas por meio do movimento negro, sendo representados por atores negros atuais, poetas, escritores e depoimentos feitos por sociólogos. Dessa forma, tem-se como objetivo que os estudantes, tanto negros como não negros, tenham conhecimento e passem a valorizar a história e a cultura relacionada à afrodescendência brasileira, e que possam se reconhecer ao fazer parte dela. Ao partir dessas atividades, eles têm a percepção de que várias palavras utilizadas por eles, crenças, costumes e hábitos são provindos dessa cultura, como também percebem que a miscigenação afro- brasileira engloba nossa identidade. Dessa forma, passam a entender o Andragogia e Educação Profissional 28 quanto é importante a defesa de direitos de oportunidades igualitárias para todos, de forma que passam a respeitar a sua história e cultura, como também ter outra visão no que se refere aos cidadãos afro-brasileiros (SPRINGER; CUNHA; PAGEL, 2020). Com isso, é fundamental ressaltar que não há necessidade de criação de um núcleo destinado exclusivamente a estudos afro-brasileiros, para que as atividades inclusivas, como também a cultura de raiz africana, sejam reconhecidas e valorizadas, sejam realizadas. É claramente possível o desenvolvimento desse trabalho em qualquer instituição. Desigualdade social e pessoas com necessidades educacionais específicas na EJA Esse público representa uma fração em que está presente a desigualdade sociocultural, no entanto apresenta mais um agravante, pelo fato de parecerem invisíveis. Para Springer, Cunha e Pagel (2020): [...] Em uma pesquisa empírica realizada com uma comunidade surda, foi perguntado o porquê de eles não procurarem o PROEJA para seguir os estudos. A resposta foi: porque já estamos acostumados a não estudar, pois somos excluídos mesmo; é muito difícil as escolas terem intérpretes e isso torna o acesso impossível. Problema semelhante é enfrentado por cegos e cadeirantes que não alimentam o sonho de seguir os estudos, pois não há espaço real para eles nas instituições, ainda que nos 5 documentos as escolas falem em inclusão das pessoas com necessidades educacionais específicas [...]. (SPRINGER; CUNHA; PAGEL, 2020, p. 5) No entanto, para que esse quadro possa ser alterado e reconstruído, faz-se necessária a união de todos, tanto coordenadores, monitores, professores, como também colegas, alicerçando para que esses alunos que apresentam necessidades específicas educacionais alcancem a compreensão, pois a capacidade para aprender pertence a todos. Mas é de extrema importância que essa base seja formada por todos, e um dos pontos mais importantes a ser tratado é referente à avaliação. Andragogia e Educação Profissional 29 Para que possibilidades de melhoramento nessas vertentes abordadas possam ser alcançadas, de acordo com Springer, Cunha e Pagel (2020) observamos que: Podemos afirmar que a EJA é o espaço perfeito e adequado para tratar as questões de políticas de promoção da igualdade não apenas racial, mas de todo o público da desigualdade social devido ao seu histórico de enfrentamento com relação às situações de exclusão social, discriminação e injustiça presentes nas trajetórias socioculturais, ambientais e de escolarização. (SPRINGER; CUNHA; PAGEL, 2020, p. 8) Assim, deve-se considerar três características essenciais para que o aluno que tem necessidades educacionais específicas seja incluído no meio educacional. Figura 3: Características para inclusão de alunos com necessidades educacionais específicas Presençana escola Participação Construção de seu conhecimento Fonte: Elaborada pela autora, 2021. A presença desse aluno na escola tem significado, pois vai existir sua atuação em um espaço destinado à aprendizagem e socialização, que é obtido pela participação no que se refere às atividades, como também a interação. Com isso, haverá contribuição para que ele possa se desenvolver, com o objetivo de que o saber possa ser construído. Na EJA, a inclusão acontece de acordo com o recebimento de alunos que apresentam essas necessidades especiais. É vista com um desafio, pois precisa repensar e assumir uma nova postura, pois são revistos os conceitos e as práticas utilizadas pelo professor, no intuito de atendimento desse público, que por lei tem seus direitos educacionais garantidos. Além disso, o atendimento desses alunos é de muita necessidade. Andragogia e Educação Profissional 30 INTRODUÇÃO: Você quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendamos, a leitura do artigo: ”Pobreza e desigualdades educacionais: uma análise com base nos Planos Nacionais de Educação e nos Planos plurianuais Federais” (GARCIA & HILLESHEIM, 2017). Disponível em: https://bit.ly/3uOS2NZ. Acesso em: 02 mar. 2021. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido o histórico da desigualdade social no Brasil e suas mais variadas formas de expressividade na sociedade, também pudemos observar a relação existente entre essa desigualdade social e a educação. Dentro desse contexto, damos ênfase aos PNEs e PPAs e suas propostas para o melhoramento desse entrave. Observamos também as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em relação à desigualdade social, a qual reflete na desigualdade educacional, bem como de negros e pessoas com necessidades educacionais especiais que fazem parte da EJA. Andragogia e Educação Profissional 31 Didática INTRODUÇÃO: Ao finalizar este capítulo, você será capaz de entender como pode ser aplicada a didática no contexto andragógico de ensino. Isso será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. E aí? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Na educação de jovens e adultos, os objetivos que foram propostos, bem como o desenvolvimento que será realizado das capacidades, é dependente de uma prática educativa que deve ter como fundamento a autonomia e participação para a formação do cidadão. Como pressuposto nessa prática, os alunos são dependentes de seu processo no que se refere à aprendizagem, pois devem construir os seus significados para os conhecimentos que aprenderam, por meio de interações que apresentam complexidade e são repassadas de forma múltipla, onde se tem o conhecimento como objetivo, e dentro desse contexto o professor tem o papel de mediador. Outro aspecto essencial nesse processo de aprendizagem é a interação entre os alunos. Na EJA, sobre as áreas de conhecimento de forma individual, as orientações relacionadas à didática envolvem as explicações direcionadas ao aprender e ao ensinar, como também no que se refere aos blocos de conteúdo, observando a seleção de conteúdos é determinado pelo enfoque didático, para que seja gerada uma situação de ensino- aprendizagem. Didática e o tempo O tempo educativo refere-se ao tempo em que se realiza o trabalho com os alunos, pois não existe aleatoriedade nas escolhas dos conteúdos, como também eles não surgem de forma espontânea, ao contrário, ocorre a seleção e a eleição de acordo como vão ser desenvolvidas as competências, como também os objetivos que são definidos no planejamento feito pelo professor e no projeto educativo elaborado pela escola. Andragogia e Educação Profissional 32 Dessa forma, as diferentes e variadas formas de organizar o tempo definem-se como modalidades organizativas. Projetos referentes ao trabalho Os projetos de trabalho são uma modalidade organizativa dentro da didática, sendo que esse assunto é tratado por vários autores, de forma que são propostas por eles diferentes maneiras de como tratar os projetos de trabalho. É direcionado por alguns autores para a definição e o compartilhamento do tema que vai se trabalhar com os alunos, enquanto outros autores focam na língua escrita para ser trabalhada, além de poder se trabalhar com a interdisciplinaridade. No entanto, existe semelhança entre alguns pontos e, com isso, a aprendizagem no que se refere a conteúdos sobre conceitos, procedimentos e atitudes é auxiliada. As perspectivas sobre um conhecimento sem compartimentos, vincula-se na inspiração de projetos de trabalho fornecidos pela organização dos conteúdos. As situações contextualizadas de maneira sequenciada caracterizam os projetos de trabalho, onde a conquista de um objetivo norteia a articulação, além das estruturas internas no que se refere ao conteúdo que deve ser compreendido, indicando o que se pretende ensinar intencionalmente. A organização desse conteúdo pode ser realizada por um tema determinado, um conceito a ser definido, um tema que mereça tratamento especial, um problema particular e ainda a inter-relação de perguntas em conjunto. O que se dá mais importância é o processo no qual se tomam as decisões, sobre o que está se passando em sala e o trabalho e a atuação dos alunos de forma individual devem passar por uma reflexão. A organização do conhecimento escolar em modelo de projeto é uma ideia que tem objetivo, além de outros pontos, pois o aluno iniciará em uma aprendizagem procedimental, de forma que lhe seja permitido: • Organizar informações; • Realizar pesquisas; • Fazer documentação sobre o que já foi construído, entre outras coisas. Andragogia e Educação Profissional 33 Ao selecionar informações, o enriquecimento pode ser feito por meio de situações que podem ser trabalhadas tanto dentro quanto fora das escolas, podendo ser realizado também em horários alternativos ou no período da escola, com possibilidade de serem feitas atividades individuais ou coletivamente, com a contribuição de outros profissionais. No dia a dia dos projetos em espaços favoráveis, podem ser criados projetos de modo que os alunos interajam uns com os outros. Assim, esses trabalhos são proporcionados em todas as etapas de desenvolvimento com sua participação permitida, objetivando a consciência do trabalho em grupo. Dessa forma, o MEC (BRASIL, 2002) fala que: Muitos professores interpretam a proposta do trabalho com projetos como a escolha de um tema, cujo intuito é motivar o aluno para a realização de um conjunto de atividades nas diversas áreas do conhecimento, sem ligação entre si e sem considerar o conhecimento epistemológico de cada área, o que pode esvaziar e empobrecer o conteúdo [...] (BRASIL, 2002, p. 130) Sendo assim, o projeto é tido como uma modalidade organizativa que proporciona aos alunos o sentido que seu esforço merece ao estar aprendendo algo novo. Dessa forma, a interdisciplinaridade é determinada pelos conhecimentos que se constroem no decorrer do tempo em que o projeto é desenvolvido. Atividades consideradas permanentes As atividades consideradas permanentes referem-se a situações didáticas, podendo ser repetidas previsivelmente ou de forma sistemática: Figura 4: Repetição de atividades permanentes Diariamente Quinzenalmente Semanalmente Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Andragogia e Educação Profissional 34 Elas são apropriadas de forma particular para a construção de atitudes, hábitos, valores e posturas. Sequência para a realização de atividades Nessa sequência de atividades, a aproximação de forma sucessiva do conhecimento é promovida pela articulação de situações didáticas. As atividades têm funcionamento semelhante aos projetos, tendo a possibilidade de seremintegradas. Situações que são independentes As situações independentes podem se apresentar em duas formas: • Ocasionais; • Sistematização. Indica-se as situações ocasionais como aquelas em que se trabalha algum conteúdo que apresenta significância, sem demonstrar relação direta com o que está em desenvolvimento. Já as situações referentes à sistematização, apesar de não serem decorridas de propósitos ditos imediatos, é intrinsecamente ligado com os conteúdos e objetivos didáticos. Compartilhamento de responsabilidades na leitura e escrita Os benefícios trazidos pelo domínio da escrita são inúmeros, dentre eles podemos identificar: Figura 5: Alguns benefícios resultantes do domínio da escrita Ajuda a articular e organizar pensamentos. Aperfeiçoamento da forma do discurso. Abre novas possibilidades de acesso ao lazer e aos bens culturais. Formas mais efetivas de participação social e política. Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Andragogia e Educação Profissional 35 De maneira geral, o domínio da escrita possibilita a convivência, pois ao desenvolver essa prática o cidadão terá alcançado condições socialmente iguais com as pessoas que já adquiriram tal prática. Em relação à metacognição, o domínio da escrita e da leitura representa um dos mais elevados graus. Normalmente, os alunos da EJA apresentam um baixo domínio da leitura e da escrita ao ingressarem no Ensino Fundamental. Devido ao tipo de trabalho ou ainda às situações sociais nas quais esses alunos estão inseridos, não é promovido nenhum favorecimento para que as atividades possam ser desenvolvidas. Isso significa que essa é uma característica que determina a exclusão sociocultural do aluno, e que para a aprendizagem isso se torna um grande obstáculo (BRASIL, 2002). É necessário que procedimentos e estratégias sejam definidas, que por sua vez devem envolver a escrita e a leitura, para que o aluno se torne um leitor com autonomia e competência, com capacidade para reconhecimento como também fazer utilização de textos de gêneros diferentes, além de estimular o desenvolvimento da sua capacidade para que ele exponha seus pensamentos ao escrever. Para a realização dessas tarefas, os professores de todas as áreas devem se empenhar, não se limitando apenas aos professores da Língua Portuguesa. Dessa forma, e de acordo com o exposto no livro do MEC (BRASIL, 2002): [...] é fundamental a integração de todas as áreas em projetos comuns de leitura e produção de textos. A escola como um todo deve se preocupar com as principais questões da língua escrita; deve estimular os alunos a ler e a produzir textos de diversos gêneros, respondendo às diversas situações comunicativas; deve orientá-los nessas atividades, fazendo com que leiam, falem e registrem suas ideias [...]. (BRASIL, 2002, p. 131) Em relação à Língua Portuguesa, algumas questões não podem se restringir apenas a essa área, e sim para as demais disciplinas, sendo elas: Andragogia e Educação Profissional 36 Figura 6: Questionamentos a serem feitos em todas as disciplinas Qual a importância do registro escrito? Em que esse registro pode favorecer a aprendizagem do aluno? Que gêneros textuais podem ser utilizados? Com quais deles os alunos devem aprender a ler e a redigir? Fonte: Elaborada pela autora, 2021. A mudança relacionada à postura do aluno ao se deparar com as dificuldades que ele encontra na escrita, é um ponto de extrema importância que deve ser trabalhado. Com isso, surge a necessidade de fazê-lo incorporar numa visão diferenciada da palavra, de maneira que a leitura e a escrita devem estar inseridas em sua vida, não podendo representar um fator que proporcione exclusão ou uma barreira. Sendo assim, cabe ao professor, seja qual for sua área, fazer a administração e o confronto existente entre a “língua” praticada por cada aluno e a língua que tem a valoração da escola e da sociedade. Para alcançar esse patamar, é fundamental que se adote princípios comuns para auxiliar os alunos, que aos poucos passam a dominar a leitura e a escrita. Orientações direcionadas à avaliação Para que o processo de autor-regulação da aprendizagem seja promovido, diversas estratégias podem ser propostas pelo professor, como podemos observar a seguir: • Os objetivos devem ser comunicados, além de haver comprovação das representações que foram construídas pelos alunos. • Deve ser propiciado aos alunos o exercício em que as ações definidas são de forma antecipada e planificada. • Os alunos devem ter a possibilidade de apropriar-se dos instrumentos e critérios de avaliação. Andragogia e Educação Profissional 37 • Deve ser feita a utilização de instrumentos e estratégias durante a avaliação da aprendizagem dos alunos. • Deve ser feito o uso de portfólio como uma estratégia para avaliar. Objetivos com comprovação das representações construídos pelos alunos Ao serem realizadas experiências em sala de aula, o aprendizado do aluno é evidenciado de forma mais significativa, assim, há o reconhecimento do ensinamento do professor e a maneira objetiva de se fazer. Deve-se informar aos alunos sobre o que eles vão aprender e porque estão sendo propostas determinadas atividades. É necessária a construção da apresentação de um produto final em cada atividade, juntamente com a pretensão de alcance de resultados. Uma função dupla está presente nessa estratégia, sendo elas: 1. Diz respeito à pretensão de que eles aprendam os conteúdos que são determinados, por onde os estudos terão início e como isso ocorre. Essas ações têm como objetivo situá-los. 2. Refere-se à permissão para que cada um faça uma construção de uma representação inicial do que se pretende atingir, com referência à proposta didática de forma sequenciada. A comunicação é a base desse processo, pois nele ocorre uma condução por meio de negociações feitas constantemente entre professores e alunos, usando acordos com o objetivo de aprimorar a aprendizagem. Exercício de ações definidas de maneira antecipada e planificada A antecipação mostra-se nesse caso como um indicador relacionado aos resultados que se espera, dependentes de caminhos e ações supostos para alcançar os objetivos que foram propostos. Andragogia e Educação Profissional 38 Já a planificação indica a ideia de um plano de trabalho que, com base nos resultados que forem alcançados gradativamente no seu desenvolvimento, poderá ser modificado. Para se realizar esse planejamento, o professor deve se atentar que as lógicas existentes do aprendiz e do especialista são diferentes. Para quem está aprendendo, há uma necessidade de construção de uma representação da ação que deverá ser executada, e que para ter alcance ao resultado pretendido, também deve ter incluído todas as ações ditas intermediárias, as quais são necessárias. Os alunos devem ter a possibilidade de apropriar- se dos instrumentos e critérios de avaliação Não é comum que os professores deixem explícito para os seus alunos os critérios e instrumentos que serão utilizados para identificar o aprendizado sobre um determinado conteúdo. No entanto, deixar os critérios explícitos parece se adequar mais para o entendimento referente a um conceito, uma atitude que é esperada para realizar um trabalho ou ainda um procedimento. No intuito de estimular a auto regulação de aprendizagem dos alunos, faz-se necessária a criação de dispositivos pedagógicos que agem como facilitadores, podemos citar como exemplo: • Unidades didáticas sequenciadas e estruturadas inseridas nas etapas em que os alunos vão aprender, em que eles terão a possibilidade de um bom domínio nos conteúdos que devem ser propostos. • Uma representação que mostre adequação deve ser construída para cumprir os objetivos que a planificação e antecipação das ações sejam realizadas de forma segura. De acordo com a introdução dos aspectos relacionados àcomunicação, são indicadas duas dimensões que são primordiais para avaliar, assim o MEC (BRASIL, 2002) as define como: Andragogia e Educação Profissional 39 [...] A dimensão social, de fornecer aos alunos informações so- bre o desenvolvimento das capacidades e competências exi- gidas socialmente e auxiliar os professores a identificarem os objetivos atingidos. [...]. A dimensão pedagógica, de fornecer aos professores e alunos informações sobre como está ocor- rendo a aprendizagem, sobre os conhecimentos prévios e os conhecimentos adquiridos, os raciocínios desenvolvidos e as representações construídas, os valores e hábitos dos alunos. (BRASIL, 2002, p. 134) Para que esse processo ocorra, é fundamental se fazer a verbalização e os diálogos que proporcionem facilidade ao explicitar e fazer análise sobre as representações pertencentes ao aluno e seu aprimoramento consequente. Utilização de instrumentos e estratégias que podem ser utilizados durante a avaliação da aprendizagem dos alunos Algumas estratégias e instrumentos podem e devem ser utilizados para que a avaliação da aprendizagem dos alunos seja feita de forma mais eficaz. São elas: registrar o controle didático, observação do professor, questões ou situações-problema, atividades que exigem justificativa, mapas conceituais, atividades que apresentem linguagem escrita ou oral, atividades de culminância de uma unidade didática (BRASIL, 2002). Uso de portfólio como uma estratégia utilizada para avaliar O portfólio é um recurso no qual informações são processadas por meio de expressão escrita e oral. É uma ferramenta primordial para que seja realizada uma boa aprendizagem. Refere-se à junção de trabalhos que foram realizados pelo aluno, construído no dia a dia da unidade didática, nele são evidenciadas suas habilidades, melhores ideias, esforços, interesses, acertos, áreas fortes e vulneráveis, entre outros. Andragogia e Educação Profissional 40 SAIBA MAIS: Você quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendamos a leitura do livro: Educação de jovens e adultos: Ensino Fundamental e Ensino Médio. (RONDÔNIA, 2013). Disponível em: https://bit.ly/2MHTpNa. Acesso em: 02 mar. 2021. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre formas de utilização da didática na educação de jovens e adultos, a forma como os conteúdos são elaborados e como devem ser passados para o aluno para que ele alcance uma aprendizagem que corresponda suas expectativas. Pudemos observar também algumas metodologias e estratégias relacionadas a como deve ocorrer a avaliação desses alunos. Andragogia e Educação Profissional 41 Importância da Didática, Interdisciplinaridade e Transversalidade INTRODUÇÃO: Ao finalizar este capítulo, você será capaz de entender a importância da didática, da interdisciplinaridade e da transversalidade no contexto direcionado à educação de jovens e adultos. Isso será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. E aí? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá! A didática e sua aplicação na educação de jovens e adultos e no seu processo de aprendizagem deve assumir grande importância, pois é por meio dela que se define se o ensino-aprendizagem alcançou os objetivos propostos. Além disso, favorece ao docente o desenvolvimento de métodos que estimulam o aluno para que suas habilidades cognitivas sejam desenvolvidas. Com isso acaba melhorando a acessibilidade do aluno no que se refere ao seu processo de aprendizagem. É por meio da idealização de uma didática feita pelo professor que os discentes são preparados para serem inseridos na sociedade, sendo formados cidadãos reflexivos, ativos, participativos e críticos dentro da sociedade da qual fazem parte. Com isso, para Santos, Andrade e Queiroz (2018): A didática é um ramo da ciência pedagógica que tem como objetivo ensinar métodos e técnicas que possibilitam a aprendizagem do aluno por parte do professor ou instrutor. É uma disciplina prática, ainda que tenha como base as teorias pedagógicas que analisam os métodos mais convenientes a aplicar-se. A didática concretiza estes métodos em situações específicas, escolhendo os melhores caminhos em cada caso para chegar a uma determinada meta. (SANTOS; ANDRADE; QUEIROZ, 2018, p. 2) Andragogia e Educação Profissional 42 Seguindo essa ideia, podemos entender que diversas metodologias de ensino podem e devem ser utilizadas pelo professor, podendo ser introduzidas em suas aulas, de forma que os conteúdos, do concreto ao abstrato, possam ser trabalhados. Dessa forma, percebe-se que para os alunos é de extrema importância, pois um vínculo é criando entre o que eles estão estudando e os problemas enfrentados no seu cotidiano, além da contribuição proporcionada a sua vida no decorrer do curso. Importância da utilização de recursos didáticos e tecnológicos na andragogia Os recursos didáticos e tecnológicos representam grande importância para o processo tanto de ensino quanto de aprendizagem, porém para a sua utilização é fundamental ter a clareza das possibilidades que podem ser alcançadas e os limites apresentados por cada um dos alunos, e de que forma uma proposta de trabalho baseada na globalidade pode ser introduzida. Quando a equipe de professores da escola seleciona uma gama de recursos didáticos, é criada a oportunidade de potencialização para realizar sua escolha, como também seu uso em meio à vasta quantidade de recursos que existem, e quais os que se adequam mais ao trabalho que está sendo proposto. Na atualidade, a tecnologia deixa a dispor da escola uma boa quantidade de recursos considerados valiosos e que contribuem para o aprendizado dos alunos da EJA. Figura 7: Recursos tecnológicos que podem ser utilizados na EJA Computador Gravadores Televisão Celulares Filmadoras Tablets Fonte: Elaborada pela autora, 2021. No entanto, é de muita importância questionar sobre o objetivo da utilização e as características das tecnologias usadas, bem como analisar Andragogia e Educação Profissional 43 quais são as vantagens e desvantagens desse uso, além de realizar a avaliação da aplicabilidade verdadeira no contexto pedagógico da mídia, que vai passar pelo processo exploratório dentro da sala de aula. Existem também outros recursos didáticos que podem ser selecionados e trabalhados pelo professor em sua metodologia de ensino, os quais também proporcionam o aprendizado para os seus alunos da educação de jovens e adultos. Figura 8: Alguns recursos não tecnológicos que podem ser utilizados em aula Ilustrações Quadro-negro Mapas Globo terrestre Livros Dicionário Discos Cartazes Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Estes são considerados ótimos recursos para trabalhar a didática dos materiais sociais, de forma que os alunos podem aprender sobre algo que exerce uma função social dentro da realidade, mantendo-se atualizados sobre o que está acontecendo no mundo. Assim, é estabelecido um vínculo que liga o aprendizado da escola ao conhecimento adquirido fora dela. Em meio a esses recursos existentes, um dos que exerce forte influência relacionado à prática de ensino no país é o livro didático. No entanto, é necessário que os professores estejam atentos à sua qualidade, se estão coerentes e a possíveis restrições que podem apresentar sobre objetivos educacionais sugeridos. Como também não se deve utilizá- lo apenas como material didático, devido à existência de uma grande variedade de fontes de informação, isso proporcionará uma ampla visão de conhecimento ao aluno. Na EJA, percebe-se que o uso de livros didáticos que são direcionados para a educação de crianças é muito utilizado pelos professores, como também a organização de materiais eformato de apostila. Isso decorre da carência de materiais elaborados com a finalidade da educação de jovens e adultos, mas, de forma geral, a organização dos conteúdos é que pautam as práticas utilizadas na EJA e que, por sua vez, Andragogia e Educação Profissional 44 as necessidades reais para a realização da aprendizagem dos alunos são excluídas. ACESSE: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos assistir ao vídeo: “Práticas pedagógicas para a EJA”. Disponível em: https://bit.ly/3qdTsxQ. Acesso em: 02 mar. 2021. Interdisciplinaridade e sua importância na educação de jovens e adultos Diversas mudanças são percebidas na educação, sendo identificadas em todos os níveis, pois elas estão intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento direcionado à ciência e tecnologia, como também a movimentos políticos, sociais e econômicos que estão em curso e presentes na sociedade inserida na pós-modernidade. A partir disso, pode-se vislumbrar um ensino com os conceitos diferentes que podem ser conciliados, além de abranger áreas diferentes, de forma que várias disciplinas fossem integradas e tivessem a capacidade para a substituição da fragmentação por meios mais interativos. Isso proporcionaria ao aluno a oportunidade de aprendizagem e ele conseguiria relacionar os conceitos que, por consequência, pode haver a construção de conhecimentos novos, com mais criatividade e mais autonomia. Dentro desse contexto, para conforme o Referencial Curricular de Rondônia (2013): A interdisciplinaridade está relacionada ao conceito de contex- tualização sócio-histórico como princípio integrador do currí- culo. Indissociável da interdisciplinaridade, a transversalidade estrutura, complementa e insere a educação no contexto social e histórico [...]. Ao contrário, elas reforçam essas disciplinas ao se fundamentarem em aproximações conceituais coerentes e nos contextos sócio-históricos, possibilitando as condições de existências e constituição dos objetos dos conhecimentos dis- ciplinares. (RONDÔNIA, 2013, p. 21) Andragogia e Educação Profissional 45 É de fundamental importância destacar que esse pensamento inovador proporciona incentivo à disposição para que sejam buscadas parcerias, como também a complementaridade. No entanto, na convivência com os demais por obrigação é imposta a necessidade de se realizar a administração de conflitos que venham a surgir, como também os desentendimentos que são resultados das diferenças existentes, na compreensão de que é importante a consideração de todas as possíveis colaborações; o respeito e a valorização de todos os campos direcionados ao conhecimento, mesmo sendo divergentes. Com isso, falar que as disciplinas postas em convivência podem tornar-se uma estratégia para o desenvolvimento de noção relacionada a tolerância, não é uma afirmação exagerada. Desafios da interdisciplinaridade em âmbito andragógico O uso da interdisciplinaridade pode ser considerado uma nova forma para que a produção de conhecimento dentro das escolas, nos espaços direcionados à pesquisa e nos currículos sejam institucionalizados. Nos tempos de globalização, parece que os saberes trabalhados de forma plural pressupõem um caminho mais adequado para que o mundo seja pensado, sentido e compreendido. Porém, o desafio torna-se muito grande além de exigir um esforço enorme. É perceptível, ao realizar uma observação, a forma como as escolas trabalham a interdisciplinaridade, ela permanece representando uma exceção em meio ao universo das escolas, suas formas de organizar mantêm sua fundação direcionada ao processo de conhecimento fragmentado. Nesse sentido, a organização, no que se refere à burocracia e aos mecanismos avaliativos, está incluída nessa fragmentação. Isso representa dizer que um dos desafios primordiais pode ser visto concretamente e nele está o de conseguir uma construção que torne possível a organização cotidiana, viabilizando a interação entre os docentes que trabalham com diferentes disciplinas. Andragogia e Educação Profissional 46 Por conseguinte, faz-se necessário refletir que é um grande desafio também para os professores, pois toda a sociedade trabalha por meio de uma educação compartimentada, com isso eles atuam como desbravadores diante do uso da interdisciplinaridade. No entanto, existe uma grande vantagem, a de que nessa forma cooperativa de trabalhar há o compartilhamento desse desafio entre todos os professores das diferentes disciplinas. Diante disso, para o MEC (BRASIL, 2007): [...] a interdisciplinaridade também exige que o território de cada campo do conhecimento – suas particularidades e especialidades – seja compreendido e respeitado. A ideia não é procurar um caminho para homogeneizar todas as ciências ou restringi-las a um enfoque. Pelo contrário. Para que haja a junção das partes, é fundamental que a objetividade de cada uma seja plenamente reconhecida e respeitada. Não é possível combater abordagem que restringe os conhecimentos a campos fechados e mundos particulares nem criar uma posição unificadora, sem que antes as diferenças sejam reconhecidas, compreendidas e, sobretudo, respeitadas. Além disso, um dos pontos que mostram mais dificuldade para haver o acerto é o reconhecimento das zonas das intersecções existentes em meio às áreas. A realização da identificação dos pontos similares existentes entre as áreas é de grande importância. Para que se realize essa localização, os especialistas dentro de sua singularidade, precisam exercer um movimento duplo, em que além de desenvolver sua disciplina, e dentro dela intencionando a abertura de espaço para dialogar com as demais disciplinas, deve-se também fazer a identificação dentro do campo ao qual ele pertence, onde as aberturas podem ser encontradas para que possa haver incorporação de contribuições existentes nas demais disciplinas (BRASIL, 2007). Dessa forma, para que as diferentes áreas se articulem, e possam ser concretizadas no ensino regular e inseridas nessa prática pedagógica, é fundamental definir um campo comum de atuação. Andragogia e Educação Profissional 47 Transversalidade na andragogia Ao selecionar temas transversais para que sejam um ponto de referência no intuído de que a prática pedagógica na EJA se desenvolva, resulta em possibilidade de que o aluno se posicione mediante as questões sociais e possa realizar interpretações usando sua criticidade diante do que estão em sua volta, o que representa sua realidade sobre algumas dimensões. Figura 9: Dimensões que representam a realidade do aluno Histórica Política Cultural Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Ao se realizar algumas reflexões no que se refere aos temas que representam a transversalidade, podemos observar que eles buscam envolver questões que mostram relevância dentro do processo de ensino- aprendizagem, em que os aspectos múltiplos são envolvidos como os da vida social do estudante, como também no intuito de exercer auxílio sobre a cidadania a ser construída, assim, uma maior expressão no âmbito social deve ser possibilitada. Com isso, dentro da transversalidade o Referencial Curricular de Rondônia (2013) afirma que: Os temas transversais ‘tratam de processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, famílias, alunos e educadores em seu cotidiano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos, tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo quanto à atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo construída e que demandam transformações macrossociais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões. (RONDÔNIA, 2013, p. 21) Andragogia e Educação Profissional 48 A interdisciplinaridadee a transversalidade são tratadas de forma diferente pelos PCNs, no entanto ao serem inseridas na prática pedagógica elas são alimentadas por meio da mutualidade. Com isso, a estrutura do currículo é consolidada, além de priorizar que as habilidades e competências sejam desenvolvidas. Alguns temas transversais/sociais presentes na andragogia: • Educação ambiental. • Educação para o trânsito. • Educação em direitos humanos. • Ética e cidadania. • Orientação sexual/prevenção e promoção à saúde. • Pluralidade cultural. • Educação fiscal. Dessa forma, podemos observar que as disciplinas transversais se inserem nos mais variados campos de conhecimento, por estarem relacionadas às questões sociais, de forma que, ao fazer parte da prática da docência, é permitido ao professor superar as limitações existentes no âmbito educacional. A transversalidade tem capacidade para promover de forma mais abrangente uma compreensão direcionada aos objetos diferentes de conhecimento, pelo fato de a abertura de espaços, para que saberes de fora da escola que são construídos permeando a realidade da vida dos alunos, sejam incluídos. Andragogia e Educação Profissional 49 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre a importância da didática a ser utilizada em sala de aula no que se refere à andragogia, como também as melhores formas para se obter sucesso na sua utilização. Vimos também a importância e os desafios sobre a interdisciplinaridade e transversalidade que, por sua vez, fazem parte da andragogia para se obter sucesso no ensino dos discentes, além de serem identificados algumas disciplinas transversais. Andragogia e Educação Profissional 50 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília. 2014. Disponível em: https://bit.ly/303Zwyv. Acesso em: 02 mar. 2021. BRASIL. Proposta curricular para a educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5ª a 8ª série. Brasília, 2002. Disponível em: https://bit.ly/380y1u3. Acesso em: 02 mar. 2021. BRASIL. Caderno Metodológico para o Professor. 2007. Disponível em: https://bit.ly/3qbIBEu. Acesso em: 02 mar. 2021. 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