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Abscesso e Flegmão Introdução Diversas condições podem ser resultadas de aumentos de volume, como os tumores, abscessos, cistos, hematomas, seromas (líquido extravasado em um processo inflamatório), granulomas, cicatrizes, hipertróficas. Abscesso X Flegmão Abscesso é um conjunto de pus (neutrófilos degenerados em líquido inflamatório) causado por inflamação supurativa num tecido, geralmente em resposta às bactérias patogênicas. Flegmão refere-se à inflamação supurativa difusa (inflamação se apresenta espalhada) presente no tecido conjuntivo frouxo. Suas margens são mal definidas. A diferença é que o abscesso é aumento de volume circunscrito e o flegmão é difuso. No entanto, ambos podem levar o animal a sepse e morte, principalmente em animais jovens e idosos. Abscesso Abscesso é um aumento de volume localizado com pus, sendo circunscrito por tecido fibroso. Pode ser imaturo e maduro, podendo apenas ser drenado quando for maduro. Pode ser formado devido a penetração de microrganismos por traumas, levando ao encapsulamento do mesmo. Um cisto é diferente de abscesso, sendo o cisto uma saculação com parede distinta que contém líquido, ar, saliva ou sangue. A palpação também é distinta de um abscesso. Histórico clínico Abscessos surgem rapidamente, então deve questionar quando apareceu. Além disso, deve analisar se é realmente um abscesso através da investigação de se há mordedura, acidentes perfurocortantes, picadas de artrópodes (principalmente da aranha marrom, que pode desenvolver também flegmão – o veneno com ação proteolítica inicia uma solução de continuidade, predispondo a penetração de microrganismo), reação granulomatosa por corpo estranho (espinhos). Gatos imunossuprimidos (FIV e FeLV) podem desenvolver abscessos espontâneos. Aspectos clínicos O abscesso possui uma parede de tecido fibroso circunscrevendo o processo inflamatório, o que leva a um aumento de volume associado aos sinais cardeais da inflamação (rubor, tumor, calor). Além disso, há alopecia perto do abscesso. Quando é imaturo, é caracterizado por ser firme no centro e flutuante na periferia contendo eritema e alopecia, enquanto maduro é firme na periferia e flutuante no centro. A diferenciação é necessária para firmar o diagnóstico e orientar o tratamento. Exame físico Inspeção Alopecia, inflamação (tumor, rubor, calor), pele arroxeada, dor local, adelgaçamento cutâneo (astenia cutânea – pele fina ao ponto de conseguir observar os vasos sanguíneos na pele, como no hiperadrenocorticismo) e fistulas. Palpação Nota-se a diferença de abscesso maduro e imaturo Punção É uma forma de diagnostico, podendo coletar líquido purulento ou piosanguinolento. Para firmar o diagnóstico precisa maturar o abscesso, pois só é possível puncionar quando o centro estiver flutuante. Agentes envolvidos Em cães, Estafilococos aureus e Estafilocococs epidermidis, que fazem parte da flora normal da pele do animal, então por meio da perfuração da pele, elas entram no organismo e se tornam patogênicas. Em gatos, Pasteurella multocidam (mais comum) Fusobacterium spp., Bacteroides spp., Prevotella oralis, Estreptococos Beta hemolytico, Estreptococos pseudointermedius e Estafilococos pseudintermedius. Em caso de mordedura, na boca há bactérias anaeróbicas e aeróbicas, sendo a bactéria anaeróbica principal presente na boca o Clostridum spp. É importante saber, pois a antibioticoterapia é diferente, com o uso de metronidazol, por exemplo. Tratamento Tricotomia extensa (envolvendo toda a periferia do abscesso), compressas de água morna/pomadas canforadas ou mentoladas (em caso de abscessos imaturos, deve maturar aplicando essas pomadas e compressas para firmar o diagnóstico e realizar o tratamento), abertura (“lancetar”) do abscesso para drenagem do conteúdo, drenagem de todo o conteúdo, lavagem exaustiva com solução fisiológica ou solução de PVPI 0,1 a 0,2%. Em caso de mordedura, pode ter Clostridum, então pode injetar água oxigenada apenas uma única vez, para que a bactéria morra devido a presença de oxigênio. Pode também utilizar soluções de permanganato de potássio. São todos curativos diários aguardando a formação do tecido de granulação (apenas se forma em baixa inflamação ou nenhuma, ou seja, quanto mais o abscesso regredir, mais tecido de granulação se forma) que irá fechar a ferida sendo então tratamento de segunda intenção. Antibioticoterapia A antibioticoterapia sistêmica seria mais recomendada para filhotes e idosos, a fim de evitar sepse. Deve evitar ATBs tópicos, pois o tratamento com antisséptico já é suficiente, e quando os antibióticos são utilizados, eles têm efeito sistêmico. O tempo de administração do medicamento depende do tamanho do abscesso. Os fármacos de eleição são amoxacilina, cefalosporina, vancomicina (última escolha, pois ele é muito específico para algumas bactérias), penicilina benzatina (somente para abscessos em gatos, pois somente age contra a Pasteurella). Protetores de mucosa gástrica. Pode também usar enrofloxacina associado ao metronidazol (apenas em bactérias anaeróbicas, e em filhotes pode levar a lesão nas epífises e alteração na placa de crescimento ósseo). Em caso de mordedura, água oxigenada após a primeira lavagem em anaeróbicos. Flegmão É uma coleção difusa de pus no subcutâneo, não circunscrito e comum nos membros torácicos e pélvicos. A inflamação do tecido conjuntivo que acarreta a formação de um abscesso difuso. Histórico clínico Mordeduras que não cicatrizam, acidentes perfurocortantes ínfimos, traumas, picadas de aranhas, insetos que geram proteólise (destruição do tecido celular subcutâneo que leva a um processo inflamatório que acaba se infectando). Sinais clínicos Edema com sinal de “godet” positivo (aperta e demora para retornar), aumento de temperatura local, rubor, pele adelgaçada, pele arroxeada, hipertermia sistêmica (não há hipertermia no abscesso, pois é algo circunscrito e no flegmão é extenso), dor local, dependendo da extensão há sinais sistêmicos podendo causar choque em caso de alta extensão. O exame radiográfico demonstra aumento de tecidos moles ao redor das estruturas ósseas, podendo ser observado sinais de osteomielite em certos casos. Tratamento Antibioticoterapia sistêmica é obrigatória por 15-30 dias, sendo os mesmos medicamentos que no abscesso. O tratamento tópico das possíveis ulcerações é recomendado. Protetores de mucosa. O flegmão não é para ser puncionado, uma vez que ao observar os sinais clínicos já é possível ter o diagnostico e realizar a antibioticoterapia sistêmica. Em casos de feridas com necrose deve ser feita debridação e posterior cicatrização por segunda intenção. Apenas quando abrir uma fistula e observar saída de líquido sanguinolento, o qual é um excelente meio de cultura para bactérias, pode drenar esse líquido para evitar essa proliferação. Em caso de fistulas com outro tipo de líquido, NÃO DEVE drenar. Existe pus séptico e pus asséptico (não tem bactérias envolvidas, mas tem neutrófilo degenerado em líquido inflamatório). Hipópio: pus na câmara interior do olho, sendo um tipo de pus asséptico Fístulas O que é? É um trajeto acidental com secreções fisiológicas ou patológicas, ou seja, é a tentativa de expulsar algo estranho do organismo. Podem ser classificadas em fistulas fisiológicas (drenagem da secreção do próprio tecido – exemplo é a drenagem de leite de fistulas de mastite) ou fistulas patológicas (tentativa do organismo em reagir a algo estranho - espinhos, pregos, quarto pré-molar e perineal). É constituídapor um fundo que forma um trajeto fistuloso e termina no orifício por onde tem a saída de secreções. A borda do orifício é normalmente ovalada com eritema. A maioria das fistulas são externas, vindo do fundo e exteriorizando para a pele. A fístula pode ser única ou múltipla, sempre forma uma fistula única (trajeto único) e a partir do momento que se tornar um processo crônico forma vários trajetos, mas é apenas UMA abertura. Sinais Clínicos Ocorre prurido, aumento de volume, drenagem, lambedura. Observação do orifício ovalado com eritema e é visível, e o trajeto pode ser explorado através de uma sonda. Diagnóstico Realizado através da inspeção e fistulografia (injeção de contraste a base de iodo e é possível marcar os trajetos, mas não é feito na rotina). Pode também ser realizado o diagnóstico ambulatorial através do orifício da fístula, com o auxílio de uma sonda, tentar avançá-la dentro dos trajetos para chegar no fundo de saco (CE). Evolução Sem tratamento Ocorre o aumento no número de trajetos Fístula fisiológica Desbridamento químico através de substâncias revulsivantes (permanganato de potássio, iodo 2%) em que injeta essas substâncias dentro do trajeto fistuloso, ou por exploração cirúrgica com remoção do processo fistuloso (prego, projetil balístico). Fístula patológica Curetagem mecânica (desbridamento cirúrgico), ablação do trajeto fistuloso e termocoagulação (mais eficiente, utiliza o bisturi elétrico queimando todo o trajeto fistuloso). O quarto pré-molar é o que mais forma abscesso e fístulas na região nasal (fístula do carniceiro). O tratamento é a exodontia do quarto molar.