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Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia As lipoproteínas permitem a solubilização e o transporte dos lipídeos, que são substâncias geralmente hidrofóbicas, no meio aquoso plasmático. São compostas por lípides e proteínas denominadas apolipoproteínas (apos). As apos têm diversas funções no metabolismo das lipoproteínas, como a formação intracelular das partículas lipoproteicas, caso das apos B100 e B48, e a atuação como ligantes a receptores de membrana, como as apos B100 e E, ou cofatores enzimáticos, como as apos CII, CIII e AI. Existem quatro grandes classes de lipoproteínas separadas em dois grupos: (1) as ricas em TG, maiores e menos densas, representadas pelos quilomícrons, de origem intestinal, e pelas lipoproteínas de densidade muito baixa ou very low density lipoprotein (VLDL), de origem hepática; e (2) as ricas em colesterol, incluindo as de densidade baixa ou low density lipoprotein (LDL) e as de densidade alta ou high density lipoprotein (HDL). Existe ainda uma classe de lipoproteínas de densidade intermediária ou intermediary density lipoprotein (IDL) e a lipoproteína. Os TGs representam a maior parte das gorduras ingeridas. Após a ingestão, as lipases pancreáticas hidrolisam os TGs em AGs livres, monoglicerídeos e diglicerídeos. Sais biliares liberados na luz intestinal emulsificam esses e outros lípides oriundos da dieta e circulação entero-hepática, com formação de micelas. A solubilização dos lípides sob a forma de micelas facilita sua movimentação pela borda em escova das células intestinais e facilita a absorção intestinal do colesterol. Após serem absorvidas pelas células intestinais, as diversas partículas lipídicas, particularmente os AGs, são utilizadas na produção de quilomícrons, que também contêm apo B48, o componente aminoterminal da apo B100. Os quilomícrons são em seguida secretados pelas células intestinais para o interior do sistema linfático, de onde alcançam a circulação pelo ducto torácico. Enquanto circulam, os quilomícrons sofrem hidrólise pela lipase lipoproteica, enzima localizada na superfície endotelial de capilares do tecido adiposo e músculos, com a liberação de AG e glicerol, e de colesterol não esterificado da superfície dessas partículas. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia Após esse processo de lipólise, AGs são capturados por células musculares e também adipócitos, esses últimos importantes reservatórios de TG elaborados a partir de AG. Remanescentes de quilomícrons e AG também são capturados pelo fígado, onde são utilizados na formação de VLDL. O transporte de lípides de origem hepática ocorre por meio das VLDL, IDL e LDL. As VLDL são lipoproteínas ricas em TG e contêm a apo B100 como sua apolipoproteína principal. As VLDLs são montadas e secretadas pelo fígado e liberadas na circulação periférica. Na circulação, os TGs das VLDL, assim como no caso dos quilomícrons, são então hidrolisados pela lipase lipoproteica, enzima estimulada pela apo CII e inibida pela apo CIII. Os AGs assim liberados são redistribuídos para os tecidos, onde podem ser armazenados, como no tecido adiposo, ou prontamente utilizados, como nos músculos esqueléticos. Por ação da lipase lipoproteica, as VLDLs, progressivamente depletadas de TG, transformam-se em remanescentes, também removidos pelo fígado por receptores específicos. Uma parte das VLDLs dá origem às IDLs, que são removidas rapidamente do plasma. O processo de catabolismo continua, envolvendo a ação da lipase hepática e resultando na formação das LDLs. A LDL tem conteúdo apenas residual de TG e é composta principalmente de colesterol e uma única apolipoproteína, a apo B100. As LDLs são capturadas por células hepáticas ou periféricas por meio dos receptores de LDL (LDL-R). No interior das células, o colesterol livre pode ser esterificado para depósito por ação da enzima acil-CoA:colesteril aciltransferase (ACAT). A expressão dos LDL-Rs nos Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia hepatócitos é a principal responsável pelo nível de colesterol no sangue e depende da atividade da enzima hidroximetilglutaril (HMG) CoA redutase, enzima-chave para a síntese intracelular do colesterol hepático. A inibição da HMG-CoA redutase e, portanto, da síntese intracelular do colesterol, é importante alvo terapêutico no tratamento da hipercolesterolemia. Com a queda do conteúdo intracelular do colesterol, ocorre aumento da expressão de LDL-R nos hepatócitos, e, assim, maior captura de LDL, IDL e VLDL circulantes por essas células. O colesterol, uma vez transferido ao fígado pelo processo de transporte reverso do colesterol, é eliminado por secreção biliar. Ocorre uma etapa essencial quando uma fração do colesterol é convertida em ácidos biliares. A enzima colesterol 7α- hidroxilase (CYP7A1), expressa apenas nos hepatócitos, catalisa a etapa limitadora de velocidade no catabolismo do colesterol a ácidos biliares. Diferentemente do colesterol, os ácidos biliares são altamente hidrossolúveis, além de serem detergentes biológicos que promovem a formação de micelas. Esses agregados macromoleculares, ricos em fosfolipídios derivados das membranas dos hepatócitos, solubilizam o colesterol na bile para seu transporte do fígado até o intestino delgado. Dessa maneira, as micelas atuam como contraparte funcional para as partículas de HDL no plasma. A formação da bile começa quando os ácidos biliares são bombeados na bile pela ação de uma bomba de transporte de membrana canalicular, conhecida como ABCB11. Por sua vez, esses ácidos biliares estimulam a secreção biliar de fosfolipídios e de colesterol. A secreção de fosfolipídios e de colesterol é mediada por dois transportadores adicionais: a ABCB4 para Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia os fosfolipídios e um heterodímero de ABCG5 e ABCG8 para o colesterol. São secretadas grandes quantidades de ácidos biliares, fosfolipídios e colesterol na bile, em taxas aproximadas de 24, 11 e 1,2 gramas por dia, respectivamente. Os lipídios biliares são armazenados na vesícula biliar duranteo jejum. O estímulo de uma refeição gordurosa determina a contração da vesícula biliar, que libera seu conteúdo no intestino delgado. Conforme descrito, a bile facilita a digestão e a absorção das gorduras, além de promover a eliminação do colesterol endógeno. Inibidores da HMG-CoA redutase; Resinas de ligação aos ácidos biliares; Niacina (ácido nicotínico); Derivados do ácido fíbrico; Inibidor da absorção de colesterol. Os inibidores da HMG-CoA redutase, comumente conhecidos como estatinas, inibem competitivamente a atividade dessa enzima, que limita a velocidade na síntese de colesterol. A inibição competitiva dessa enzima resulta inibição da síntese hepática de colesterol. A diminuição da concentração de colesterol ativa uma cascata de sinalização celular, que culmina em: Aumento da expressão do gene do receptor de LDL (para colocar mais colesterol para dentro dos hepatócitos, tirando-os da corrente sanguínea e consequentemente, diminuindo seus níveis plasmáticos). OBS: esses fármacos devem ser administrados durante a noite, tendo em vista que síntese máxima de colesterol se dá entre 00h e 2h da manhã. Entre os efeitos adversos das estatinas, destacam-se: Hepatotoxicidade; Miopatia (mialgia e rabdomiólise). Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia Os sequestradores de ácidos biliares são resinas poliméricas (grandes) catiônicas (com cargas positivas), que se ligam de modo não covalente a ácidos biliares de carga negativa no intestino delgado. O complexo resina-ácidobiliar não pode ser reabsorvido no íleo distal, sendo, portanto, excretado nas fezes. A reabsorção diminuída de ácidos biliares pelo íleo interrompe parcialmente a circulação êntero-hepática de ácidos biliares, de modo que os hepatócitos passam a suprarregular a 7α-hidroxilase, a enzima que limita a velocidade de síntese de ácidos biliares. O aumento na síntese de ácidos biliares diminui a concentração de colesterol dos hepatócitos, resultando em expressão elevada do receptor de LDL e aumento da depuração das LDL da circulação. A eficiência dos sequestradores de ácidos biliares na depuração de LDL do plasma é parcialmente compensada pela suprarregulação concomitante da síntese hepática de colesterol e triglicerídios, que estimula a produção de partículas de VLDL pelo fígado. Colestiramina; Colestipol; Colesevelam. Esses fármacos devem ser administrados antes do desjejum e antes do jantar. Além disso, podem causar distensão abdominal, constipação e dispepsia. A completa dissolução do fármaco em líquidos horas antes da administração, leva a melhora nos sintomas. A niacina (ácido nicotínico) diminui os níveis de triglicerídios e LDL, enquanto aumenta os níveis de HDL. A ativação de um receptor acoplado à proteína G nos adipócitos pela niacina resulta em atividade diminuída da lipase sensível a hormônio no tecido adiposo, com consequente redução do fluxo de ácidos graxos livres para o fígado. Essa diminuição do fluxo de ácidos graxos livres reduz a síntese hepática de triglicerídios e limita a síntese de VLDL. Como as LDL derivam das VLDL, a síntese diminuída de VLDL diminui as concentrações plasmáticas de colesterol LDL. A niacina também aumenta a meia-vida da apoAI, uma importante apolipoproteína nas HDL. Os níveis aumentados de apoAI elevam diretamente os níveis plasmáticos de HDL e também podem aumentar o transporte reverso de colesterol, o aporte de colesterol das HDL ao fígado e a excreção de colesterol na bile. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia Entre os efeitos adversos da niacina, destacam-se: Associação com estatina levando ao maior risco de miopatia; Comprometimento da sensibilidade a insulina; Hiperuricemia e hepatotoxicidade; Rubor e prurido; Exantema cutâneo e acantose nigricans. Os fibratos exercem vários efeitos benéficos sobre o metabolismo dos lipídios, os quais parecem ser secundários à ativação do fator de transcrição, PPARα. A ativação do PPARα pelos fibratos aumenta a síntese hepática de apoAI e apoAII, resultando em elevação das concentrações plasmáticas de colesterol HDL. A ativação do PPARα também infrarregula a síntese hepática de apoCIII e aumenta a expressão da lipoproteína lipase nos leitos vasculares dos músculos. A diminuição da apoCIII, um inibidor da lipoproteína lipase, combina-se com a expressão aumentada da lipoproteína lipasepara elevar a captação e a oxidação dos ácidos graxos nas células musculares. O PPARα também aumenta a oxidação dos ácidos graxos nos hepatócitos. Os efeitos combinados dessas alterações metabólicas consistem em redução das concentrações plasmáticas de triglicerídios e elevação dos níveis plasmáticos de colesterol HDL. Em decorrência da síntese hepática diminuída de ácidos graxos e triglicerídios as concentrações de colesterol LDL também se reduzem modestamente. Efeitos adversos: pode ser encontrado desconforto gastrointestinal e miopatia. A ezetimiba diminui o transporte de colesterol das micelas para os enterócitos por meio da inibição seletiva da captação de colesterol por uma proteína da borda em escova, denominada NPC1 L1. Em concentrações terapêuticas, a ezetimiba diminui aproximadamente pela metade a absorção intestinal de colesterol, sem reduzir a absorção de triglicerídios ou de vitaminas lipossolúveis. O resultado final da absorção diminuída de colesterol, obtida por essas substâncias, consiste na redução das concentrações plasmáticas de colesterol LDL. A redução na absorção de colesterol diminui presumivelmente o conteúdo de colesterol dos quilomícrons e reduz, portanto, o movimento do colesterol do intestino para o fígado. No interior do fígado, o colesterol derivado dos remanescentes de quilomícrons contribui para o colesterol acondicionado nas partículas de VLDL. Por conseguinte, a inibição de absorção de colesterol pode reduzir sua incorporação em VLDL e diminuir as concentrações plasmáticas de colesterol LDL. É importante ressaltar que a redução do conteúdo Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia hepático de colesterol também leva à suprarregulação do receptor de LDL, que contribui para o mecanismo de redução das LDL por inibidores da absorção de colesterol.
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