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Abordagem do paciente com monoartrite Artrocentese Técnica 1. Escolher o local da punção articular; 2. Realizar assepsia e antissepsia (Clorexidina); 3. Anestesia local (Lidocaína 2%); 4. Realizar artrocentese com agulha 25x0,7mm; 5. Enviar material para estudo laboratorial dos seguintes aspectos: a. Citologia global e diferencial; b. Bioquímica: proteínas, glicose, DHL; c. Gram e Cultura; d. Pesquisa de cristais. 6. Realizar curativo. ● Contraindicações de artrocentese: ○ INR > 4,5; ○ Infecção local. Características do fluído sinovial Artrite séptica Introdução A artrite séptica representa uma infecção na articulação, ocorrendo um processo inflamatório sinovial de caráter supurativo que é causa, inclusive, de artrite aguda destrutiva. Geralmente, é causada por bactéria, mas pode ser decorrente de infecção por qualquer micro-organismo. ● A artrite séptica é uma emergência ortopédica; ● 40% dos casos evoluem com perda da função articular; ● Mortalidade: 10-20%. Etiologias ● GRAM + ○ S. aureus (60%); ○ Streptococcus beta-hemolítico (30%). ● GRAM - ○ N. gonorrhoeae* ○ Bacilos Gram negativos (10%) ○ Relação com: ■ Trauma ■ Drogas IV* ■ Imunossuprimidos* ● ANAERÓBIOS ○ Pós-mordedura de animais: Pasteurella multocida. OBS.: Pós próteses intra-articulares: 1. < 3 meses a. S. aureus b. Pseudomonas 2. > 3 meses a. S. aureus; b. Estreptococos c. Estafilococos coagulase negativos d. Anaeróbios Fisiopatologia DISSEMINAÇÃO DO AGENTE INFECCIOSO 1) Hematogênico, devido a uma infecção distante (70%); 2) Disseminação devido à osteomielite adjacente (especialmente em crianças); 3) Disseminação linfática, por conta de infecção de um tecido mole perto da articulação; 4) Infecções iatrogênicas por artrocentese ou artroscopia (20%); e 5) Trauma penetrante por objetos contaminados. Quadro clínico ● Instalação súbita de febre, geralmente > 38 ºC; ● Calafrios; ● Queda do estado geral; ● Na articulação: ○ Sinais flogísticos: dor, calor, rubor e edema; ○ Bloqueio articular. Exames complementares O exame complementar mais importante é a análise do líquido sinovial, que deve ser aspirado da articulação afetada, preferencialmente antes do início da antibioticoterapia. Toda monoartrite deve ser puncionada devido à possibilidade de artrite séptica. ● Laboratorial ○ Leucocitose; ○ Desvio à esquerda; ○ VHS/PCR elevados; ○ Hemoculturas positivas em 50%. ● Imagem ○ RX e RM: ■ Osteomielite periarticular! ○ USG: ■ Avaliar derrame e guiar artrocentese! ● Fluído sinovial - Rever tópico de artrocentese contendo características! Tratamento antimicrobiano Após realizar a punção e receber os resultados com o Gram/Cultura, devemos escolher uma antibioticoterapia baseada nesses resultados! Resultado do Gram Primeira escolha Observações Gram + Oxacilina ou vancomicina Linezolida ou clindamicina podem ser alternativas. Gram - Ceftriaxona, cefotaxima ou ceftazidima Se suspeita de Pseudomonas, usar ceftazidima ou cefepime + ciprofloxacino ou aminoglicosídeo. Não determinado Vancomicina empírica Ceftazidima ou cefepime, se suspeita de pseudomonas. OBS.: Imunossuprimidos, usuários de drogas endovenosas e pacientes hospitalares possuem risco para pseudomonas! Além da terapia com antimicrobianos, podemos realizar artrocentese seriada ou drenagem via artroscopia ou artrotomia. Artrite séptica gonocóccica Introdução A artrite séptica gonocócica é a mais comum de indivíduos sexualmente ativos! (< 40 anos). A proporção geral de casos de artrite séptica causada por essa bactéria é baixa, ocorre apenas em 0,5 a 3% dos pacientes infectados pelo gonococo. Antigamente, havia uma leve tendência de predomínio no sexo feminino; porém, na atualidade, essa diferença está reduzindo, uma vez que sua frequência vem aumentando entre os homens. Disseminação A disseminação é hematogênica, após contato sexual, e pode acompanhar, inclusive, infecção sexualmente transmissível, que nem sempre será detectada clinicamente. Na história clínica aqui, há alguns fatores de risco aos quais devemos ficar atentos para identificar o provável diagnóstico: ● Adulto jovem e saudável; ● Menstruação recente; ● Gravidez ou pós-parto; ● Prostituição; ● Baixo nível socioeconômico; ● Infecção gonocócica prévia; ● Deficiência congênita ou adquirida do complemento; ● Lúpus eritematoso sistêmico; e ● Uso de eculizumab. Fases clínicas 1. FASE BACTERIÊMICA - Tenossinovite: ocorre em 67% dos casos e é definida como inflamação da bainha do tendão. - Dermatite: ocorre em 75% dos casos. As lesões são indolores, não pruriginosas, ocorrendo em tronco e extremidades e, geralmente, poupam a face. - Poliartralgia: pode afetar grandes ou pequenas articulações e pode ser aditiva ou migratória. 2. ARTRITE SUPURATIVA - Os pacientes que apresentam essa forma de artrite, na maioria das vezes, apresentam início súbito de mono ou oligoartrite, sendo mais comum acometer grandes articulações periféricas, como joelhos. Diagnóstico 1. HEMOCULTURA - 50% (Fase bacteriêmica). 2. ARTROCENTESE - Gram: apenas 25% de positividade; - Cultura: < 50% positivo nos testes! OBS.: O centro de laboratório deve ser avisado da suspeita de infecção gonocócica para que as culturas sejam processadas adequadamente, devendo idealmente ser semeadas à beira do leito em ágar-chocolate ou Thayer-Martin. As colônias de N. gonorrhoeae podem precisar de mais de 48 horas de incubação para crescer. 3. PESQUISA EM MUCOSAS - Secreção faríngea, uretral, vaginal e retal; - NAAT: 80-90%; - Culturas: 80% Tratamento ● Drogas de escolha: Ceftriaxona 1 g, EV, 1x ao dia + azitromicina 1g, VO, em dose única. ● Duração do tratamento: 7 a 14 dias. ● Artrocentese seriada ou drenagem cirúrgica. ● Tratar parceiro. ● Pesquisar ISTs. Gota Introdução Gota é a artropatia inflamatória causada pela formação de cristais de monourato de sódio nos tecidos articulares. A hiperuricemia é necessária para o desenvolvimento da doença, porém, não é suficiente para causar gota. Epidemiologia Dentre as artropatias inflamatórias, a gota é considerada a mais comum da espécie humana.! Prevalência oscilando na faixa de 0,5 a 1%. Predomina no sexo masculino, em uma proporção de 8:1, que diminui com a idade. Após os 65 anos, a distribuição pode chegar a 3:1. A maior incidência ocorre dos 30 a 50 anos. No sexo feminino, a maior incidência ocorre na faixa dos 55 e 70 anos, coincidindo, inclusive, com o período climatérico, uma vez que o estrógeno tem efeito uricosúrico. Fatores de risco 1. Carnes vermelhas; 2. Crustáceos; 3. Álcool; 4. Frutose; 5. Diuréticos tiazídicos/alça; 6. Inibidores da Calcineurina; 7. AAS em baixa dose; 8. Pirazinamida; 9. DRC; 10. Síndrome metabólica; 11. Doenças linfoproliferativas. Etiologia O limite de solubilidade do urato em fluidos corporais no pH de 7,4 e temperatura de 37°C é de 7mg/dL, correspondendo à definição físico-química de hiperuricemia. Algumas condições podem alterar esse equilíbrio de saturação, como as variações de pH e temperatura, componentes específicos da cartilagem e do líquido sinovial (polissacarídeos ou proteoglicanos) e produção celular de ácido úrico. Os mecanismos renais justificam a hiperuricemia em cerca de 90% dos indivíduos, uma vez que os rins constituem a principal via de excreção. Cerca de 90% da carga diária de urato filtrado pelos rins é reabsorvida, via transportadores específicos de ânions. Então, qualquer coisa que aumente essa reabsorção vai gerar aumento do ácido úrico. O principal mecanismo envolvido na hiperuricemia é a hipoexcreção. O rim normal consegue excretar diariamente cerca de 300-800 mg, correspondendo à uma taxa de clareamento normal de 6 a 7 mL/min. Com isso, conseguimos definir dois grupos de pacientes: os hiperprodutores, nos quais essa taxa é maior que 800-1000 mg/dia na urina de 24h, ou os hipoexcretores, nos quais a taxa de clareamento é menor que 7 mL/min/1,73m². Fisiopatologia 1. Saturação sérica dos níveis de Ácido Úrico (> 7 mg/dL com pH 7,4 e Temp 37°C); 2. Precipita em locais frios e de pouca vascularização, como articulaçõese túbulos renais; 3. O ácido úrico perde um próton em pH de 7,4 e torna-se um íon, o urato; 4. O urato se liga ao sódio, formando cristais: os cristais de urato monossódico; 5. Esses cristais se depositam nas articulações, ativando o sistema imune (neutrófilos e macrófago); 6. Depois disso, ocorre a ativação do sistema imune inato, que ativa NLRP3 + caspase, liberando IL-1β; 7. Toda essa cascata leva a uma inflamação local, causando podagra e artrite. Quadro clínico 1. Hiperuricemia assintomática - Nefrolitíase; - Nefrocalcinose. 2. Crise de gota aguda - 3ª - 4ª década de vida; - Podagra; - “Gota serena”; - Autolimitada. 3. Período intercrítico - Passa por um período assintomático; e - Período de crises mais frequentes e duradouras. Gota tofácea crônica - A gota crônica pode eventualmente levar a depósitos permanentes de cristais de urato, chamados tofos, que se formam ao longo dos ossos logo abaixo da pele. - Essa condição ocorre mais frequente em superfícies frias; - Aumenta predisposição para infecção secundária; - Diagnóstico diferencial com AR. Exames complementares 1. Laboratorial ● Leucocitose; ● VHS/PCR elevados; ● Ácido úrico sérico: ○ Insuficiente para realizar o diagnóstico; ○ Pode estar normal no período de crise. 2. Artrocentese ● O diagnóstico de certeza da gota é dado pelo exame a fresco do líquido sinovial; TIPO DE LÍQUIDO APARÊNCIA CONTAGEM CELULAR/MM³ % DE PMN Inflamatório Amarelo, discretamente turvo, com redução da viscosidade 2.000-50.000 20-75 3. Microscopia ● A utilização de microscópio equipado com filtros polarizadores, facilita a detecção dos cristais e sua diferenciação de outros materiais, por sua forte birrefringência negativa. CRISTAL MORFOLOGIA BIRREFRINGÊNCIA LUZ PARALELA Monourato de sódio Agulha Forte negativo Amarelo 4. Imagem ● Raio-X ○ A radiografia simples ajuda apenas na fase crônica da doença. Com o passar do tempo, podem aparecer cistos subcondrais e erosões bem definidas na proximidade dos tofos. A lesão típica de saca-bocado pode ser vista e é marcada por bordas escleróticas e apiculadas em formato de concha. ● USG ○ Na ultrassonografia, podemos encontrar o “sinal do duplo contorno”, que consiste em uma linha hiperecóica detectada na superfície da cartilagem, apresenta boa especificidade para depósito de cristais com até 95% de precisão. ● TC de dupla energia ○ São utilizadas imagens reconstruídas a partir da atenuação de feixes de radiografia de intensidade baixa (80 kV) e alta (140 kV), permitindo detectar depósitos incipientes de cristais e até diferenciar os cristais de urato dos cristais de cálcio. Crise aguda ● AINEs ○ Com ou sem colchicina; ○ Ibuprofeno ou naproxeno sódico. ● Colchicina ○ 1,0 mg + 0,5 mg em 1h; ○ Após, 0,5 mg 1-3x/dia conforme tolerabilidade; ○ Terapia profilática por 3-6 meses; ○ Evitar ClCr < 30. ● Glicocorticóides ○ Terapia de escolha quando contraindicações a AINE e Colchicina (Ex.: ClCr < 30); ○ Terapia profilática por 3-6 meses. Terapia Hipouricemiante 1. MEV: Evitar hiperuricemiantes; 2. Controle de comorbidades; 3. HAS: Losartana; 4. DLP: Atorvastatina. QUEM DEVE RECEBER TRATAMENTO MEDICAMENTO? ● Hiperuricemia assintomática APENAS SE > 13mg/dL; ● pelo menos 2 crises agudas de gota por ano; ● Imagem com dano articular; ● Tofos gotosos; ● ALVO: AUr < 6 mg/dL (sem tofos) ou < 5 mg/dL (com tofos). MEDICAMENTOS 1. Alopurinol - Inibidor da Xantina Oxidase; - Evitar se ClCr < 30; - Síndrome de Hipersensibilidade ao Alopurinol - HLA*B5801 (Países asiáticos) 2. Benzbromarona - Inibidor da URAT1 (uricosúrico); - Evitar se: ClCr < 30, Nefrolitíase ou Uricosúria > 700 mg/24h. Doença por deposição de pirofosfato de cálcio - DPFC (Pseudogota) Conceito A doença por deposição de cristais de pirofosfato de cálcio (DPFC) é desencadeada pela precipitação desse sal nos tecidos conjuntivos, podendo ser assintomática ou associada a várias síndromes clínicas relacionadas à artrite aguda e crônica. Estes distúrbios compreendem o espectro da doença de deposição de cristal de pirofosfato de cálcio (CPPD). Epidemiologia ● Idade: Rara abaixo de 60 anos, média de 72 anos; ● Sexo: ○ Padrão de artrite aguda é mais comum em homens; ○ Padrão de osteoartrite é mais comum em mulheres. ● Prevalência: 4% a 7% em idosos. Etiologia A forma mais comum de apresentação da doença é a idiopática ou esporádica, sendo vista na maioria dos pacientes, mas alguns têm história familiar positiva cuja herança parece ser autossômica dominante, com penetrância variável. Condições associadas à deposição de pirofosfato de cálcio Definidas: hipomagnesemia, hipofosfatasia, hemocromatose, hiperparatireoidismo, idade acima de 60 anos. Prováveis: osteoartrite, trauma articular, gota, hipotireoidismo, gravidez (2º e 3º trimestres), amiloidose, hipercalcemia familiar. Pouco prováveis: ocronose, doença de Wilson, diabetes, acromegalia e doença de Paget. Doença dos 4H: ● Hipomagnesemia; ● Hipofosfatasia; ● Hiperparatireoidismo; ● Hemocromatose. Fisiopatogenia A matriz cartilaginosa é um gel que facilita a reação de íons pirofosfato e cálcio. Uma vez formados e depositados nas estruturas fibrocartilaginosas, no líquido sinovial e na sinóvia, os cristais podem ativar os mediadores da inflamação de forma semelhante à gota, com a diferença de que os cristais de DPFC não são membranolíticos. Além disso, eles podem desencadear processos degenerativos na matriz e proliferação celular focal na sinóvia. Quadro clínico 1. Assintomático: É a forma mais comum. Do ponto de vista clínico, o paciente é assintomático e observa-se de forma isolada condrocalcinose na radiografia da articulação. É mais prevalente na oitava e na nona décadas de vida; 2. Pseudogota: A sinovite aguda pode ser a única manifestação da deposição de PFC. Ao contrário da gota, é mais comum em pacientes acima dos 60 anos, sendo também raro o acometimento da primeira metatarsofalangeana; 3. Pseudo-osteoartrite: o envolvimento de joelhos, quadris, punhos, metacarpofalangeanas (segunda e terceira, principalmente), ombros e cotovelos sugere essa forma da doença, especialmente se associada com contraturas em flexão de cotovelos e punhos, além de deformidades em joelhos 4. Pseudoartrite reumatoide: É a forma menos frequente. Ocorre sinovite crônica com acometimento de pequenas articulações acompanhado de rigidez matinal, fadiga e hiperplasia sinovial evidentes. Diagnóstico O diagnóstico baseia-se nos achados clínicos, radiológicos e laboratoriais. QUANDO PENSAR EM DPFC? Idade maior que 65 anos. Monoartrite de mão ou punho. Padrão de oligoartrite com punhos e glenoumeral. Poliartrite mais assimétrica que a artrite reumatoide. Osteoartrite em locais atípicos. Achado de cristais no líquido sinovial. Achado de condrocalcinose à radiografia. 1. Radiografia: O depósito de pirofosfato de cálcio aparece na radiografia convencional como uma coalescência de linhas na cartilagem hialina e fibrosa ou bandas paralelas ao osso subcondral; 2. Artrocentese CRISTAIS MORFOLOGIA BIRREFRINGÊNCIA LUZ PARALELA Pirofosfato de cálcio Romboide Fraca positiva Azul Tratamento 1. Identificar e tratar causa-base; 2. Se crise aguda: seguir tratamento de crise aguda de gota; 3. Se pseudo-OA: seguir tratamento de OA; 4. Quadros recorrentes: Colchicina / Hidroxicloroquina. Gota vs Pseudogota Características Gota Pseudogota Cristal Monourato de sódio Pirofosfato de cálcio Aspecto Agulha BF neg Rombóide BF positiva Idade 30-50 > 60 Local preferencial 1ª MTF Joelhos Duração da crise 5-7 dias 1-4 semanas Radiografias Saca-bocado Condrocalcinose
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