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Clínica Médica II - Aula 01 - 01/03/2018 Reumatologia Dra. Juliana de Andrade Introdução à Reumatologia Reumatologia – Introdução à Reumatologia 1 As doenças reumatológicas são figuras ilustrativas, por isso não conseguimos ver com detalhes as alterações. Existem fósseis pré-históricos mostrando que as doenças reumatológicas acompanham o ser humano desde o surgimento de sua espécie. Aqui é um quadril de artrose e osteoartrite, e nesta outra imagem mostra um hálux valgo que se for analisado com detalhe tem sinais de erosão, ou seja, é um hálux valgo que tem artrose associado a uma “ gota” por cima. Quadril com osteoartrose (coxartrose). (imagem está no slide) Hipócrates percebeu em sua época que apesar de ter dez pessoas em sua frente com calor, rubor, dor e edema na articulação, tratavam-se de doenças diferentes com comportamentos distintos. No século XVI ocorreu a primeira descrição moderna do que seria o reumatismo, feita por Guillelmus Balonius: ele percebeu que as doenças que inchavam as juntas, sendo chamadas em sua maior parte de gota, algumas se distinguiam, e afetavam de forma mais impactante o doente, emagreciam, matavam mais precocemente, além de ter outros sinais e sintomas diferentes. Para essas doenças, ele denominou rheuma= que flui, + tismo. Doença que flui pelo corpo inteiro e que possuiam um impacto sistêmico. A reumatologia ainda é jovem dentro da medicina. No final do século XIX, Frederich S. disse: “A especialidade é o resultado natural e necessário do crescimento do conhecimento preciso, inseparavelmente conectado com a multiplicação e a perfeição dos instrumentos de precisão, tem contudo seus incovenientes e até absurdos. A alguns anos atrás um ex-interno chegou à ele e pediu, 1. A diminuição articular é marca registrada do desgaste articular, mas nem sempre é possível ver em exame de raio-x simples. 2 e 3. Osteófitos são proeminências ósseas que vão se formando em torno da articulação. Aumentam muito o atrito e diminuem o movimento articular Hálux valgo com sinais de erosão em saca bocado, então é um hálux que tem artorse e que teve uma gota por cima. (imagem está no slide) 2 Reumatologia – Introdução à Reumatologia aparentemente cego, que lhe desse o nome de um especialista em reumatismo, e nós permitimo-nos dar risadas dessas coisas”. O reumatismo é um grupo de mais de 100 tipos de doenças. Quando alguem diz que a mãe e/ou a avó tem reumatismo, isso não quer dizer muita coisa devido aos vários tipos da doença. A doença acomete uma boa parte da população em geral. O reumatismo pode ser classificado em 03 grupos principais (existem outras formas de classificação): Doenças Articulares Inflamatórias Doenças Articulares não-Inflamatórias e um terceiro grupo que não é inflamatória nem não-inflamatória (osteoporose, síndrome de Marfan e doenças que atuam na desregulação da dor). Deve-se sempre saber: Esse paciente tem uma doença inflamatória ou não inflamatória? E o que há diferente entre esses dois grupos? Significa que o primeiro tem inflamação e o segundo não tem? Em ambos grupos de doenças articulares não-inflamatórias e as inflamatórias haverá processo inflamatório, a diferença entre eles é que no primeiro grupo o processo inflamatório se estabelecerá devido à uma lesão prévia no local (artrose, tendinite) com o objetivo de fazer o reparo da lesão e reestabelecer a estrutura, resultando normalmente em processo inflamatório restrito ao local acometido. No segundo grupo ocorre o oposto, uma desregulação acontece e o paciente inflama sem razão aparente (sem lesão prévia), e o processo inflatório que se estabelece é o que resulta a lesão, então normalmente nesse grupo o paciente estará inflamado de forma sistêmica, e nesse grupo entra, como agente etiológico, tudo que pode dar inflamação sistêmica: Bactéria Vírus Fungo Cristais de ácido úrico Cristais de cálcio Cristais de colesterol Neoplasia (a poliartrite ou oligoartrite pode ser consequência de um processo inflamatório gerado por uma síndrome paraneoplásica). Então, primeira grande divisão frente ao paciente é dizer se ele tem uma doença articular inflamatória ou não-inflamatória ou se ele se encaixa no terceiro grupo. Auto-imunidade é a resposta imune atacando o próprio organismo. Em um sistema imune normal, por exemplo, teria uma célula apresentadora, que possui vários receptores que recohecem padrões moleculares associados à patógenos ou danos, etc. A célula então reconhece, ativa, fagocita o agente, fragmenta tudo, junta com uma molécula de MHC, e apresenta à uma outra célula (linfócito normalmente) na presença de coestímulo, e isso tudo além do que está acontecendo ao redor (microambiente do local). Então isso vai fazer com que se estabeleça uma resposta contra o patógeno. O indivíduo que possui esse sistema dentro da normalidade é imunocompetente, e quem o possui de forma deficiente será imunodeprimido. Esse sistema também pode ser reativo a antígenos próprios (auto-imunidade). O FAN é um exame que detecta a presença de auto-anticorpos circulantes contra antígenos de células epiteliais no ser humano. Se for feito o FAN de todos o indivíduos da turma, em princípio não se deveria ter autoestímulo, mas 30% dos indivíduos vai ter, no entanto, terá em título baixo e serão anticorpos de baixa afinidade. Então todos nós temos clones de céluas que são autorreativos. Mas quando há uma quantidade grande de clone autorreativos, ou a resposta gerada por eles é tão grande a ponto de gerar processo inflamatório e dano tecidual, é quando isso sai do normal e gera o que chamamos de doença autoimune. Reumatologia – Introdução à Reumatologia 3 A pneumonite intersticial, que culmina com fibrose pulmonar, e a febre reumática são exemplos de doenças autoimunes. O paciente que tem “só isso”, apresenta uma doneça autoimune provavelmente órgão específica, mas pode também ser sistêmica. Então quando isso gera dano, significa que virou uma autoimunidade patológica, ou seja, uma doença auto-imune. As doenças auto imunes podem ser: Órgão específicas Sistêmicas Hepatite autoimune Diabetes melitos I Tireoidite de Hashimoto Esclerose múltipla Lúpus Artrite reumatóide Espondiloartrite Psoríase Doenças inflamatórias intestinais De um ponto de vista bem prático, para dar o diagnóstico, primeiramente deve-se procurar sinais e sintomas para classificar a doença do paciente como doença articular inflamatória ou não-inflamatória. A primeira pista que ajuda bastante é a presença de sintomas constitucionais (febre, hiporexia ou anorexia, perda ponderal, astenia, mal estar geral, fatigabilidade). Em discuções de caso clínico é comum o termo síndromes consuptivas, síndrome febril, que são outras formas de se referir aos sintomas constitucionais, os quais não podem deixar de ser notados. Quando há um processo inflamatóprio sistêmico, ele geralmente se apresenta com um ou mais sintomas constitucionais, na gripe por exemplo, há presença de inflamação sistêmica acompanhada de mal estar, astenia, hiporexia. Um paciente, por exemplo, no primeiro DPO (dia pós-operatório) de uma colecistectomia teve febre, aí então há presença de resposta inflamatória sistêmica. Um paciente com câncer tem perda ponderal, hiporexia, febre baixa, astenia devido à inflamação sistêmica. Um paciente com tuberculose também apresenta sintomas constitucionais devido à inflamação sistêmica. Então nesse momento, não se faz uma pesquisa no paciente para saber se ele tem uma doença autoimune ou não, mas sim, se o paciente está inflamado ou não. Isso deve ser feito para que se compreenda a forma de como a doença está se comportando, para organizar os sinais e sintomas associados à história clínica e exame físico, e então poder definir se o paciente poderá estar inflamado ou não. Existe alguma doença não-inflamatóriaque pode causar hiporexia, anorexia e perda ponderal, por exemplo? Sim, Depressão. O paciente pode se apresentar com uma síndrome consuptiva no consultório e não estar inflamado, mas sim deprimido. Mas para definir a depressão como a causa dessa síndrome, primeiramente deve-se considerar a possibilidade de haver uma doença causando inflamação sistêmica, e somente após excluir tal possibilidade, e considerar os demais sinais e sintomas associando-os à história clínica pode-se então definir a depressão como causa dos sintomas constitucionais, lembrando que em medicina trabalha-se com as probabilidades. Se na consulta percebe-se que o paciente apresenta sintomas constitucionais, então provavelmente ele se encaixa no grupo de doenças articulares inflamatórias, então deve-se observar e questionar se ele tem outro sinal e sintoma associado aos sintomas constitucionais e ao comprometimento articular como: olho vermelho, disúria, sopro cardíaco, tosse seca, dispnéia aos esforços, estertores finos em bases pulmonares, etc. Deve-se procurar por outros comprometimentos porque isso faz com que se reconheça o padrão da doença e onde ela esta se manifestando, sendo então possível reconhecer as síndromes. Essa é uma das partes mais importantes após a coleta da história clínica e exame físico, sendo organizandos os sinais e sintomas em síndromes para compreenção da doença. Considerando-se um paciente que está evoluindo há uma semana com febre diária contínua, astenia, hiporexia, tosse com espectoração esverdeada, ao exame físico apresenta crepitação em base pulmonar direita com pectorilóquia afônica. Esse paciente apresenta uma síndrome de consolidação na vigência de sintomas constitucionais que remetem inflamação sistêmica, ou seja há presença de uma doença que causa inflamação sistêmica e uma consolidação pulmonar. Um bom diagnóstico para esse paciente é pneumonia, e se não houver história de contato prévio com ambiente hospitalar, trata-se de uma pneumonia adquirida na comunidade (PAC). 4 Reumatologia – Introdução à Reumatologia A abordagem sindrômica nada mais é do que a leitura dos sinais e sintomas que o paciente apresenta. Se o mesmo paciente, ao invés de uma semana de evolução, tivesse 03 meses de evolução e perda ponderal, seria possível pensar em neoplasia ou ainda mais comum, tuberculose. A respeito do sistema musculo-esquelético, como poderemos interpretar o que o paciente sente nesse sistema? Um paciente que chega ao consultório com dor no joelho, por exemplo. O paciente e o médico têm definições diferentes a respeito da região denominada joelho, então a primeira coisa a se fazer é definir se essa dor é realmente no joelho, ao redor do joelho, ou se é uma dor referida para o joelho. Então uma conduta que pode ser tomada é pedir para que o paciente aponte onde é a dor. “Se o paciente aponta assim” (aponta um único ponto), então a dor é periarticular. É uma coisa simples mas muito importante, e que pode passar despercebida no dia-dia. A dor periarticular normalmente é localizada em um ponto e a dor articular causada por artrite, seja de causa mecânica ou inflamatória, é global ou de difícil localização, e nesses casos aumentam as chances de ser uma dor articular. Em processos inflamatórios podem haver dúvidas, por exemplo quando há acometimento na região do joelho, poder haver dúvida se a dor é realmente do joelho ou se é periarticular. Assim como a dor se apresenta de forma global em processos inflamatórios sistêmicos, quando a dor é da articulação, ela não será assimétrica mas sim global. Quando há presença de edema, eritema ou calor assimétrico, é mais provavel que seja resultado de acometimento de estruturas ao redor da determinada articulação. Há exceções como a região coxofemoral, onde não é possivel ver edema, eritema ou calor porque são estruturas muito profundas, sendo então necessário o uso de manobras. A articulação glenoumeral também é profunda e não é possivel ver edema, calor ou rubor na região do ombro. Artralgia é definida como dor articular e artrite é definida como inflamação na articulação, então o paciente pode se apresentar com artralgia, mas sem inflamação articular. O que fará a diferença entre artrite e artralgia será a presença de sinais flogísticos (edema, calor, rubor, dor, perda de função), sendo artrite na presença de pelo menos 02 desses sinais, exceto quando apresenta apenas edema, nesse caso já é considerado artrite (mesmo na ausência de dor), e é apenas artralgia quando não há presença de sinais flogísticos. Quando há presença de dor acompanhada de edema e/ou calor, é mais fácil definir que há processo inflamatório (artrite). Mas quando há apenas dor, medir dor é subjetivo, então pode haver artralgia resultante de uma doença inflamatória ou de uma doença não-inflamatória (mecânica). Quando é definido que a artralgia do paciente é realmente uma dor articular, em seguida deve-se definir o ritmo da dor, se é um ritmo inflamatório ou mecânico. Quando o paciente tem uma doença que causa processo inflamatório, e o processo inflamatório é o que causa a lesão, esse paciente geralmente tem mais inflamação do que um paciente que tem uma doença mecânica, a qual tem apenas inflamação reacional à lesão (lesão causa processo inflamatório para reparo estrutural). Um paciente com artrite reumatóide , por exemplo, quando acorda de manhã, ele estará com mais dor porque ele acumulou mais líquido ao longo da noite dentro daquela articulação, então ele tem mais dor Bursite olecraniana, acometimento periarticular apresentando dor na ponta do cotovelo (fora da articulação do cotovelo), e edema também na ponta do cotovelo. Reumatologia – Introdução à Reumatologia 5 porque ele distende a cápsula articular, e está tudo inflamado, a sinóvia ta inflamada e ele tem dificuldade de movimentar. Então ele acorda pior em relação à dor, com rigidez articular e ele vai melhorando ao longo do dia com o uso da articulação. O ritmo mecânico é o oposto, se a articulação está quieta sem ficar gerando aquela lesão (acúmulo de líquido), ele acorda melhor e ao longo do dia conforme ele vai se movimentando, a sua dorm vai piorando, então esse paciente não possui rigidez matinal. Rigidez matinal é a rigidez articular de no mínimo 30 min logo que o paciente acorda ou após o período de repouso prolongado. Os grandes parâmetros para os pacientes com artralgia são: Como o paciente fica depois de um repouso prolongado? Quando faz esforço melhora ou piora? Quando acorda de manhã está melhor ou pior? Quando aconda de manhã acorda com as articulações travadas? Quanto tempo se passa entre a hora que acorda até o momento que tem o melhor movimento? (30 – 40 min, possui rigidez matinal relevante) Existe um ritmo de dor chamado protocinético, que é a dor no início do movimento. Então essa dor se parece no primeiro momento com o ritmo inflamatório mas não é, essa dor é de doença mecânica, especificamente da osteoartrite. No ritmo protocinético o paciente, por exemplo, está assistindo aula por uma hora e quando faz o movimento para levantar ele sente dor no joelho, e conforme vai se movimentando, em 05 minutos a dor melhora, e se ele sentir o joelho travado na hora de levantar, com 05 ou 10 min a rigidez melhora. Então a dor protocinética, apesar de parecer um pouco o com o ritimo inflamatório ela é mecânica. Terceira pergunta a respeito do aparelho musculo-equelético, qual o padrâo de instalação dessa doença articular? De todas essas doenças, gravem essa (imagem no slide), essa doença ela é recorrente, ou seja ela se manifesta durante um periodo, melhora e o paciente fica sem sintoma nenhum, e então ela volta e depois melhora. Ou ela pode ser uma doença progressiva e não possui preríodo assintomático. Ou pode ser persistente e até progride mais rapidamente e tem um impacto maior sobre a articulação. Esses são os três principaispadrões. A doença que normalmente se manifesta assim é a gota, ou seja, são crises de artrite, o paciente faz atrite toma anti-inflamatório e melhora e depois de determinado tempo tem nova crise. A osteoartrite também se manifesta desse jeito, artrite reumatóide também ou lúpus. Existe uma outra divisão importante, que á a classificação das artrites ou artralgias, sejam elas mecânicas ou inflamatórias, em: crônicas ou agudas. As doenças agudas são aquelas que não ultrapassam 06 semanas de evolução, as crônicas são aquelas que vão além de 06 semanas de evolução. Por exemplo, a gota, ela é uma crise de artrite aguda; a artrite pelo dengue é uma artrite aguda; a artrite pela rubéola é uma artrite aguda, a artrite séptica é uma artrite aguda; a artrite reumatóide é normalmente uma artrite crônica, pois ultrapassa 06 semanas de evolução; a artrite do lúpus é crônica também; a artrite do vírus da hepatite c é crônica. Outra divisão que existe é a respeito do número de acometimentos. Monoartralgia ou Monoartrite – apenas uma articulação Oligoartralgia ou oligoartrite – duas a quatro articulações Poliartralgia ou poliartrite – cinco ou mais articulações Lembrando que toda vez que for dito que o paciente possui uma artralgia, deve-se classificá-la se é de ritmo inflamatório ou mecânico. Em seguida, se o paciente possui uma poliartralgia, oligoartrite, etc, devemos classificá-la por simetria, quando se apresenta de um lado e do outro é simétrica (mão esquerda e mão direita), e quando se manifesta em locais diferentes é assimétrica (pé direito e ombro direito), no caso da monoartralgia e monoartrite não haverá classificação por simetria. 6 Reumatologia – Introdução à Reumatologia Essas divisões têm como objetivo facilitar o diagnóstico diferencial; por exemplo, se um paciente ultrapassou 06 semanas de evolução (artrite crônica), as doenças autolimitadas que causam artrite aguda já são discartadas do diagnóstico diferencial. Em alguns casos essas classificações não são perfeitas, mas nos ajudam a raciocinar, por exemplo quando um paciente tem um uma poliartrite simétrica crônica, a artrite reumatóide é uma forte possibilidade como diagnóstico. Se um paciente apresenta uma oligoartrite assimétrica crônica, a espondiloartrite é uma possibilidade como diagnóstico. No entando haverá situações em que o paciente apresentá dor apresentará simetria em determinadas articulações e em outras não, nesses casos não importará se a dor é simétrica ou assimétrica, pois a tal definição não será de grande ajuda para o diagnóstico, sendo necessária melhor pesquisa nos sinais, sintomas e história do paciente. Outro parâmetro que se deve observar no padrão de comprometimento articular é se a artrite ou artralgia é migratória ou aditiva. Na migratória, por exemplo, uma paciente começa com uma artrite de ombro, e quando está melhorando ele começa com uma artrite em outro local, como o cotovelo por exemplo, lembrando que entre o período de resolução de uma e o aparecimento de outra, não há período de assintomatologia, ou seja, o paciente melhora de uma dor e em seguida aparece outra em outro local, mas ainda está inflamado sistêmicamente, diferente do paciente que tem crise de gota, por exemplo, onde o paciente apresenta uma artrite de joelho e que depois de uma semana melhora e fica muito tempo bem, e somente depois de muito tempo o paciente volta a ter crise de artrite seja no mesmo joelho ou não, ou seja, isso não é migratório, mas sim recorrente porque o paciente ficou um tempo assintomático, diferente da artrite migratória. Artrite cumulativa ou aditiva é quando tem mais de uma ao mesmo tempo, ou seja quando há artrite em mais de um local ao mesmo tempo, não importando se apareceram juntas ou de forma subsequente, esse tipo de artrite será aditiva ou cumulativa. Monoartralgia ou monoartrite Poliartralgia ou poliartrite simétrica Oligotralgia ou oligoartrite assimétrica. Oligoartrite ou oligoartralgia, simétrica, aditiva ou cumulativa. Reumatologia – Introdução à Reumatologia 7 A maioria das doenças articulares inflamatórias são aditivas, então saber que se trata de uma doença aditiva não ajuda muito e deve-se sempre questionar o paciente para saber se a dor é migratória ou não. A artrite apresentada pela febre reumática, por exemplo, é migratória mas também pode ser aditivia, quando a doença apresenta artrite migratória o raciocínio clínico é bastante facilitado, e essa informação só será adiquirida se for perguntada do paciente. O lúpus também pode ser aditivo ou migratório, mas quando é migratório, se torna mais característico de lúpus, então se uma mulher se apresenta artrite migratória, uma das primeiras hipóteses é lupus. História familiar Não se pode deixar de perguntar a um paciente que pode ter reumatismo, que é um doença articular inflamatória, a respeito de outras doenças autoimunes na família, sejam sistêmicas ou órgão específicas. O paciente que tem doenças autoimunes sistêmicas ou órgão especificas na família, tem um background genético propício para doenças autoimunes. Lembrar que a herança para desenvolver essas doenças não é mendeliana, mas sim poligênica, então isso vai se acumulando ao longo da história familiar daquela pessoa, por exemplo, quando se tem um tio com DM tipo1, uma tia com esclerose múltipla, pai com psoríase, ou seja, história de doença autoimune na família é muito relevante para aquele paciente que tem doença articular, história de neoplasia também, pois a artrite pode ser resultade de síndrome paraneoplásica. História gestacional É possivel que haja um paciente em que não se consegue definir o ritimo da artralgia, então fica como artralgia de ritmo inespecífico. Em uma paciente que tem somente uma artralgia/artrite com uma febrícula, a história gestacional ja se torna muito relevante. Uma paciente que teve três abortos no primeiro trimestre, dois ou até apenas um aborto acima do primeiro trimestre. Essas situações aumentam a chance de lúpus, aumentam a chance de ser SAF (síndrome do anticorpo antifosfolipídeo), que é uma doença autoimune e sistêmica também. A história de doença hipertensiva específica da gravidez, a paciente teve as suas gestações e teve os filhos, mas durante os dois últimos ou o útimo fez pré eclampsia ou eclampsia, isso é relevante, pois está relacionado com lúpus e SAF. O concepto nasceu adequado para a idade gestacional, pequeno ou grande? No caso de grande, a causa principala é o diabetes; e tem várias causas de RN (recém-nascido) pequeno para a idade gestacional dele e dentre elas, lúpus e SFF são exemplos de causas autoimunes. Hábitos de vida O tabagismo está associado a maior chance de desenvolver artrite reumatóide, psoríase, e quando tratadas pode apresentar uma má resposta ao tratamento, pois o o tabaco inflama a pessoa e tem efeitos diretos sobre o endotélio e consequentemente sobre o sistema imunológico. Existe uma artrite que está muito relacionada com o etilismo, que é a gota, e também o comportamento sexual de risco, pois doenças sexualmente transmissíveis podem causar artrite ou artralgia inflamatória, tais como: sífilis, HIV, HCV, HPV e gonorréia. Então um paciente com múltiplas parceiras ou parceiros, ou sem proteção de barreira, ou que tem história de alguma DST prévia, isso denota que ele tem comportamento sexual de risco ou que tem contato com alguem que tem comportamento sexual de risco, isso está associado a alguns reumatismos. O fato de ter doenças autoimunes (como a de Hashimoto) aumenta a chance de ela ter outras doenças autoimunes inclusive lúpus. Então, a presença de outros diagnósticos de autoimunidade aumenta a chance de doenças reumatológias. O diabetes e hipertensão arterial (a síndrome metabólica em si) é bastante atrelada com psoríase e gota, e litíase renal (o paciente que tem artrite recorrente tem cálculo). Um paciente com oligoartritee fenômeno de Raynaud (hiperreatividade vascular), onde: na primeira fase o vaso faz constrição, onde o dedo fica pálido na segunda fase há a cianose 8 Reumatologia – Introdução à Reumatologia e depois o vaso abre e o local fica vermelho (eritema) caracterizando a terceira fase Para se dizer que o paciente tem fenõmeno de Raynaud, ele deve ter tido pelo menos duas fases. Supondo que um paciente possui uma oligoartrite e durante a estrevista percebeu-se que ele tem fenômeno de Raynaud e que o nariz e os lábios do mesmo são afilados, e ao questionar o paciente, ele se queixa de afilamento do nariz e dos lábios, e percebe também que nas mãos do paciente existem lesões denominadas leucomelanodermias que são alterações cutâneas específicas de esclerose sistêmica, e além disso o paciente também tem telangiectasia. Logo, tem-se Comprometimento de médios vasos e grandes vasos Comprometimento cutâneo além do quadro articular. Então, provavelmente trata-se de uma esclerose sistêmica. Se o paciente tem uma oligoartrite, mas também tem uma foto sensibilidade e ele tem uma lesão que ele nem sabia que tinha e ao exame viu-se uma úlcera que não dói no céu da boca e tem umas lesões que achava-se que era fungo mas que pioram quando o paciente se expõe ao sol (fica mais corado), ou está desenvolvendo uma alpécia difusa, isso junto com a oligoartrite pode ser lúpus. Outra situação: paciente com oligoartrite apresenta dor na barriga em cerca de 30 min a 01 hora após a refeição. A dor é difusa, mal localizada e consegue-se identificar que se trata de uma claudicação abdominal (insuficiência de circulação arterial) com comprometimento de artéria mesentérica. Além disso, esse paciente tem insuficiência venosa reticular fez lesões purpúricas que se tratam da expressão clínica de vasculite cutânea de pequenos vasos, nesse caso já seriam também de médio calibre podendo ser uma poliartrite nodosa. Em outro caso, há um paciente com oligoartrite que tem dificuldade de levantar da cadeira ou uma escada necessitando de apoio, pois está apresentando uma fraqueza simétrica proximal da cintura pélvica, ou então com dificuldade de pegar coisas pesadas em uma estante, por fraqueza na cintura escapular. Logo, ele tem um comprometimento muscular, possui pequenas lesões na região cotovelo as quais não deu importância e tem queixa de tosse seca, que à ausculta percebeu-se estertores em velcro (finos) nos 2/3 inferiores de ambos os pulmões, podendo ser uma miopatia inflamatória autoimune, como a dermatomiosite. Então a abordagem sindrômica é extremamente importante, pois ajuda a reconhecer padrão de comprometimento junto com a epidemiologia. Por exemplo, a oligoartrite relacionada à sintomas constitucionais e perda da acuidade visual: Em uma criança de 07 anos poderia ser artrite idiopática juvenil Em uma mulher de 20 anos mais provável que fosse lúpus eritematoso sistêmico Em um idoso de 70 anos considera-se primeiro uma vasculite de grandes vasos chamada de arterite temporal (arterite de células gigantes) Critérios de classificação Praticamente todas as doenças na reuamto tem esses critérios de classificação e que são importantes na prática clínica, porém não são absolutos, pois serão aplicados, por exemplo, apenas a partir do momento em que se percebe que aquela é uma doença inflamatória de provável etiologia Reumatologia – Introdução à Reumatologia 9 autoimune, nesse caso, por exemplo, poderiam ser aplicados os critérios de classificação de lúpus, que seria uma das hipóteses diagnósticas. Exemplo 1: “Menino de 19 anos que evoluiu como uma oligoartrite simétrica de joelhos crônica e posteriormente com edema progressivo até anasarca, lesões cutâneas na região palmar e plantar. Chegou no hospital com FAN positivo, e se fóssemos olhar por isso, uma síndrome nefrótica com oligoartrite e FAN positivo poderíamos considerar lúpus. Para afirmamos o lúpus, deveremos aplicar os critérios de classificação, mas precisamos excluir as outras possibilidades diagnósticas através da aboragem sindrômica, e neste caso, uma das hipóteses era sífilis. E esse paciente posteriormente foi confirmado com sífilis secundária associada à infecção por HIV, por isso a sífilis primária não foi detectada, pois o paciente desenvolveu precocemente sífilis secundária. Tratou-se a sífilis secundária com melhora do quadro de síndrome nefrótica e o paciente seguiu em acompanhamento com a infectologia no ambultório de retrovirose. O FAN até poderia ser positivo sem ter nada, mas era um título alto, então provavelmente era reacional ao agente etiológico (Treponema pallidum).” Exemplo 2: “Senhor com 68 anos que evoluiu com poliartrite e febre intermitente noturrna, acompanhado de sudorese noturna, um fator reumatóide positivo (esse exame ajuda mas não é específico), e na investigação, a artrite reumatóide era uma forte hipótese, mas a idade não era compatível e para dar o diagnóstico de artrite reumatóide deve-se que excluir outras doenças e aplicar os critérios para artrite reumatóide. Na investigação havia muitos linfonodos na região mediastino, onde a biópsia deu o diagnóstico de linfoma, e a artrite era uma síndrome praneoplásica, e o paciente seguiu em tratamento com a hematologia.“ Lembrem-se: Os critérios de classificação, são importantes e ajudam muito, mas devem ser aplicados após excluirmos os outros diagnósticos diferenciais.
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