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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Leucemia mieloide crônica (LMC) ........................ 8 3. Leucemia mieloide aguda (LMA) .......................15 4. Leucemia linfoide crônica (LLC) ..........................22 5. Leucemia linfoide aguda (LLA) ..........................28 Referências bibliográficas ........................................33 3LEUCEMIAS 1. INTRODUÇÃO Cânceres do sangue (leucemias e linfomas, às vezes chamados de tu- mores líquidos) são derivados de células formadoras de sangue que normalmente possuem a capacidade de entrar na corrente sanguínea e se deslocar para áreas distantes; como resultado, são frequentemente consi- deradas malignas. O termo leucemia designa um con- junto de cânceres que atingem as células brancas do sangue, que são produzidas pela medula óssea. Osso compacto Osso compacto Vasos sanguíneos Linha epifisial Medula óssea Figura 1. A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que preenche a cavidade interna de vários ossos e é responsável pela produção de células que compõem o sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas). Fonte: saberatualizadonews.com/ HORA DA REVISÃO! A hematopoiese é o processo pelo qual são formadas as células do san- gue. Envolve todos os fenômenos re- lacionados à origem, multiplicação e maturação das células precursoras das células sanguíneas. No período pós-na- tal, a medula óssea constitui o único local de produção da porção celular do sangue, isto é, de eritrócitos, leucóci- tos e plaquetas. Apesar de essas três li- nhagens celulares serem distintas umas As leucemias são doenças malig- nas que se caracterizam pela que- bra do equilíbrio da produção dos elementos do sangue, causada pela proliferação descontrolada de células. Tendo isso em vista, é fundamental conhecermos como esse processo ocorre normalmente, a fim de enten- dermos as alterações encontradas na leucemia. Uma breve revisão do pro- cesso de hematopoiese encontra-se no box “Hora da Revisão”. 4LEUCEMIAS das outras, elas são oriundas de uma célula-mãe única, chamada cé- lula pluripotente. Na medula óssea, as células pluripotentes proliferam-se e podem ser estimuladas tanto a autorrenovar-se quanto a dar origem a células progenitoras diferenciadas. Essas células, que originam as distintas linhagens de células sanguíneas, são chamadas de células compro- metidas. Elas possuem um maior grau de diferenciação, sendo assim unipotentes, isto é, capazes de originar apenas uma determinada li- nhagem sanguínea. As séries sanguíneas são constituídas pelos eritrócitos (também cha- mados de hemácias ou células vermelhas), células granulocíticas, monócitos, linfócitos, plasmócitos e plaquetas (ou trombócitos). Os glóbulos vermelhos são basicamente responsáveis pelo transporte de oxigênio. Os glóbulos brancos possuem função de defesa do organis- mo. Por fim, as plaquetas são responsáveis pela coagulação sanguí- nea, evitando hemorragias. É importante estar atento ao fato de que os granulócitos, os monóci- tos, os linfócitos e os plasmócitos recebem a denominação geral de leucócitos, os glóbulos brancos do sangue. Além disso, vale lembrar que as células granulocíticas, ou granulócitos, incluem os mastócitos, neutrófilos, basófilos e eosinófilos. Célula-tronco pluripotente Progenitor linfoide Progenitor mieloide Eritrócito Mastócito Megacariócito Mieloblasto Célula NK Linfócito pequeno Linfócito T Linfócito B PlasmócitoMacrófago MonócitoEosinófiloNeutrófiloBasófiloTrombócitos Figura 2. Processo de hematopoiese na medula óssea. 5LEUCEMIAS A leucemia, geralmente, é de origem desconhecida. Sua principal caracte- rística é o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. Nessa condição, uma célula que ainda não atingiu a maturidade sofre uma mu- tação genética que a transforma em uma célula cancerosa ou leucêmica, como pode ser chamada. Essa cé- lula anormal, além de não funcionar de maneira adequada, multiplica-se mais rápido e morre menos do que as células normais, fazendo com que as células saudáveis da medula sejam progressivamente substituídas. Dessa forma, além de perderem a função de defesa do organismo, os leucócitos doentes produzidos des- controladamente reduzem o espaço na medula óssea para a fabricação das outras células que compõem o sangue. Adicionalmente, os glóbu- los brancos não se desenvolvem por completo e caem na corrente sanguí- nea antes de estarem preparados, não exercendo assim as suas funções corretamente. Esses leucócitos anor- mais que atingem a corrente sanguí- nea podem também invadir outros órgãos, tais como fígado, baço, linfo- nodos, rins e cérebro. Resumidamente, nas leucemias há uma produção inadequada das cé- lulas de defesa, o que predispõe o organismo a infecções. Em adição, o acúmulo de células anormais na me- dula óssea prejudica a produção de outros tipos celulares, predispondo o indivíduo a anemia e hemorragias, entre outros sintomas. Neutrófilo Hemácias Monócito Plaquetas Células leucêmicas Sangue normal Leucemia Figura 3. O sangue normal contém células vermelhas, células brancas e plaquetas. Na leucemia, há produção exa- gerada de leucócitos danificados, diminuindo assim a produção de hemácias e plaquetas. Essa proporção pode ser observada no sangue dos pacientes. 6LEUCEMIAS As leucemias são classificadas de acordo com o tipo de leucócitos que afetam. Baseando-se nesse critério, temos dois grandes grupos de leuce- mias, separados segundo a linhagem de células brancas acometida. Uma leucemia é chamada linfocítica, lin- foblástica ou linfoide quando atin- ge as células linfoides, isto é, aquelas derivadas do precursor linfoide (célu- las NK, linfócitos T, linfócitos B e plas- mócitos). Quando uma leucemia é classificada como mieloide ou mio- loblástica, significa que as células al- teradas são as mieloides, derivadas do precursor mieloide (mastócitos, basófilos, neutrófilos, eosinófilos e monócitos). Medula óssea Células-tronco hematopoieticas Célula precursora mieloide Célula precursora linfoide Crescimento anormal de células brancas mieloides Crescimento anormal de células brancas linfoides Figura 4. Em pacientes com leucemia, o crescimento celular ocorre descontroladamente e há um rápido aumento de leucócitos anormais. Além disso, as leucemias podem também se apresentar de duas ou- tras maneiras distintas, diferindo agora em relação não mais ao tipo celular acometido, mas sim quanto a velocidade de reprodução celular e da evolução da doença. Nas leucemias agudas observamos o rápido cresci- mento de células imaturas, que não desempenham seu papel como de- veriam e que se multiplicam acele- radamente. Nas leucemias crônicas há um aumento de células maduras, porém anormais. Elas se reproduzem 7LEUCEMIAS de forma um pouco mais lenta e po- dem ter mantidas algumas de suas funções. Existem mais de 12 tipos de leuce- mias, mas que podem ser agrupados em quatro grupos primários, conforme a classificação discutida: leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (CLL). Eles serão discutidos de forma mais detalhada adiante. Leucemia Linfoide crônica (LLC) Leucemias Leucemia Mieloide Crônica (LMC) Leucemia Mieloide Aguda (LMA) Leucemia Linfoide Aguda (LLA) CLASSIFICAÇÃO DAS LEUCEMIAS. No Brasil, atualmente a leucemia é o 9º câncer mais comum entre os homens e o 11º entre as mulheres. Segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer de 2015, houve 6.837 mor- tes por leucemias, sendo 3.692 de homens e 3.145 de mulheres. Em 2020, o Instituto Nacional de Cân- cer (INCA) estima o surgimento de 10.810 novos casos, sendo dentre eles de 5.920 do sexo masculino e 4.980 do sexo feminino. 8LEUCEMIAS 2. LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA (LMC) A leucemia mieloide crônica é uma doença clonal da célulaprogenitora hematopoiética. Nessa doença, há a multiplicação excessiva de células precursoras da linhagem mieloide sanguínea, sendo que a transfor- mação maligna ocorre nas células mais maduras. O cromossomo Ph Diferentemente dos outros tipos de leucemias, em que a etiologia cos- tuma ser desconhecida, nos pacien- tes com LMC é possível identificar a presença de uma mutação genética bem definida, conhecida como cro- mossomo Philadelphia (Ph). Trata- -se de uma translocação entre os cromossomos 9 e 22, nas localiza- ções q34 e p11, representada por t(9;22) (q34; p11). Essa fusão de genes dá origem a um gene híbrido, chamado BCR-ABL, que irá definir a transcrição de uma proteína com alta atividade de tirosina quinase. Essa atividade enzimática está envol- vida com a regulação da prolifera- ção celular. Dessa forma, quando há essa mutação genética, observamos a alteração nessa regulação, fazen- do com que as células se proliferem desgovernadamente. CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS LEUCEMIAS. Podem ser agudas ou crônicas LEUCEMIAS Podem ser mieloides ou linfoides Origem desconhecida Acúmulo de células doentes na medula óssea Prejuízo ao sistema de defesa do organismo Prejuízo à produção e substituição das células sanguíneas normais Cânceres que atingem os leucócitos 9LEUCEMIAS Figura 5. A translocação cromossômica e oncogenes associados na leucemia mieloide crônica. Fonte: Robbins e Co- tran. Bases Patológicas das Doenças, 8. ed. ionizante (raios X e gama). Normal- mente ela é proveniente de procedi- mentos médicos e o risco oferecido depende da dose, da exposição e da idade do paciente. Quadro clínico O quadro clínico da LMC é caracteri- zado por uma hiperplasia mieloide acompanhada de leucocitose, neutro- filia e basofilia. É muito comum tam- bém a presença de esplenomegalia, observada em mais de 80% dos casos. A história natural da doença é dividida em três fases: fase crônica, fase ace- lerada e crise blástica. A fase crônica Epidemiologia A ocorrência de LMC corresponde à 14% da ocorrência de todas as leu- cemias. No Brasil, observa-se a inci- dência de 1,6 casos a cada 100 mil habitantes, por ano. É uma doença que costuma acometer adultos mais velhos, por volta dos 50 ou 60 anos, sendo apenas 4% dos pacientes crianças. É observada uma discreta predominância de casos no sexo masculino. O único fator de risco bem conheci- do para o aparecimento da mutação –cromossomo Ph –, e portanto, da doença é a exposição à radiação 10LEUCEMIAS costuma ser pouco sintomática e ge- ralmente tem duração de 3 a 5 anos. Na fase acelerada, há o aparecimen- to de mais sintomas e observa-se a duração de alguns meses. Por fim, na crise blástica a doença passa a se comportar como uma leucemia agu- da, porém com quadro clínico mais grave do que o observado quando a doença já tem início agudamente, como é o caso da LMA. Essa fase é considerada fatal e, algumas vezes, pode ser alcançada sem que o pa- ciente passe pela fase acelerada. Na fase crônica, o paciente pode es- tar assintomático ou apresentar pou- cos sintomas. Quando os sintomas se manifestam, eles costumam apa- recer sob a forma de fadiga, perda de peso, sudorese, febre e palidez, devido à anemia associada. Além dis- so, a maioria dos pacientes apresenta esplenomegalia importante. A inten- sidade dos sintomas está relacionada ao grau de leucocitose no sangue pe- riférico, observado no hemograma, e à presença de organomegalias. SE LIGA! A esplenomegalia é um sinal encontrado em mais de 80% dos pa- cientes com LMC. Ela geralmente cursa com desconforto abdominal, além de poder causar compressão das vísceras ocas. Nestes casos, são observados dis- túrbios digestivos, tais como um quadro de plenitude pós-prandial. Em casos mais graves, pode ocorrer até mesmo infarto esplênico. Alguns pacientes tam- bém podem apresentar hepatomegalia discreta a moderada. Na fase acelerada, observamos au- mento da esplenomegalia e também da basofilia e da quantidade de blas- tos circulantes. Além disso, um fato muito importante que é observado e que marca a transição da fase crô- nica para a fase acelerada é o sur- gimento de resistência à terapêuti- ca citorredutora, que é o tratamento utilizado inicialmente, como veremos à frente. Nessa fase, os pacientes ainda podem estar assintomáticos ou então começar a apresentar febre, sudorese noturna, perda ponderal e dores ósseas. Na crise blástica, observamos blas- tos maiores que 20% na medula ós- sea ou no sangue periférico. Nesse momento, é comum que o paciente manifeste febre, sudorese noturna, anorexia, perda ponderal acentuada e dores ósseas. Além disso, há pio- ra na esplenomegalia e pode haver infiltração extramedular dos blastos, podendo acometer a pele, linfonodos, os ossos e o sistema nervoso central, causando sintomas. Uma vez atingi- da essa fase, a sobrevida sem trata- mento adequado costuma ser de 3 a 6 meses. Diagnóstico Muitas vezes o diagnóstico da LMC é feito em pacientes assintomáticos, na fase crônica da doença, por meio da realização de exames de rotina. Nesses casos, costuma-se encontrar 11LEUCEMIAS no hemograma uma leucocitose com presença de células em todas as fa- ses de maturação. O hemograma dos pacientes na fase crônica da doença costuma mostrar leucocitose, de normalmente 25.000 a 400.000 células por microlitro, po- dendo ser maior em alguns casos. O hemograma também descreve a presença de todas as células do pro- cesso da formação celular, ou seja, há granulócitos em todas as fases de maturação. Há um predomínio de mielócitos e pode também haver uma basofilia associada. SE LIGA! Raramente, os pacientes po- dem apresentar uma síndrome de hi- perviscosidade. Isso ocorre quando o número de leucócitos no sangue está demasiadamente aumentado. Quando presente, os pacientes podem sofrer de priapismo, zumbido inespecífico e alte- rações visuais. Também na fase crônica, é comum observar a existência de anemia normocítica e normocrômica, assim como na maioria das doenças hema- tológicas malignas. As plaquetas po- dem estar normais ou aumentadas. Por fim, também há aumento da de- sidrogenase láctica (DHL) e do ácido úrico. Quando realizado o mielograma para confirmação do diagnósti- co, observamos na medula óssea de um paciente em fase crônica uma hiperplasia granulocítica de morfo- logia normal. Há presença de blastos, porém menor que 10% (encontramos mais de 20% de blastos na leucemia mieloide aguda). Por fim, pode tam- bém ser observada, em alguns casos, uma monocitose absoluta. Na fase acelerada, podemos encon- trar no hemograma uma trombocito- se, que pode evoluir para uma trom- bocitopenia. Também pode haver evolução da doença com um quadro de mielofibrose. É importante lem- brar que as células mudam conforme o avanço da doença, havendo uma evolução clonal genética. Na crise blástica, encontramos no he- mograma uma leucocitose neutrofí- lica, com presença de células mieloi- des em várias fases de maturação. Também há, principalmente, basofilia. Além disso, é necessário realizar tes- tes citogenéticos para pesquisar a presença do cromossomo Philadel- phia que, além de ser um marcador da doença, é um marcador prognóstico da evolução do tratamento da doença. Fora isso, pode ser feita a pesquisa do gene BCR-ABL por meio de PCR. Tratamento Todos os pacientes diagnosticados com LMC podem fazer uso de agen- tes citostáticos, como a hidroxiureia ou o bussulfano. Esse é um trata- mento paliativo para a doença, uma vez que proporciona apenas uma 12LEUCEMIAS resposta hematológica de melhora do hemograma e diminuição de sinto- mas, mas que não apresenta benefí- cios para a sobrevida do paciente. O alfa-interferon era a medicação mais utilizada antigamente. Ele pro- move uma remissão hematológica completa em até 90% dos pacientes, melhorando a LMC por um mecanis- mo ainda desconhecido. Contudo, ele deve ser aplicado por via subcutânea e ocasionafrequentes efeitos cola- terais e, por isso, atualmente é rara- mente usado. Dessa forma, as drogas de escolha mais atuais para o tratamento da LMC são os inibidores de tirosina-quinases. Essas medicações agem justamente onde a LMC causa mais problemas, uma vez que a doença é caracterizada pela multiplicação celular alterada por uma proteína tirosina quinase, codifica- da pelo gene BCR-ABL. A medicação de primeira escolha é o mesilato de imatinibe, um inibidor específico da fosforilação da tirosina- -quinase produzida pelo BCR-ABL. Ele induz uma resposta hematológica de maneira rápida e completa, sendo o tratamento inicial de escolha para LMC recém-diagnosticada. Como efeitos colaterais, essa droga pode ocasionar náuseas, diarreia, erupções cutâneas, câimbras e alterações tran- sitórias das transaminases. Na fase crônica, o mesilato de iman- tinibe é administrado por via oral, na dose de 400mg/dia. Caso o paciente esteja na fase acelerada da doença, administra-se a dose de 600mg/dia, sendo possível alcançar respostas em 25% dos casos, porém os resultados são inferiores aos encontrados quan- do a droga é utilizada em pacientes na fase crônica. Por fim, se o paciente já se encontra na fase blástica, a admi- nistração do medicamento apresenta somente resultados parciais e de cur- ta duração. Nesse estágio, o medica- mento costuma ser utilizado antes de o paciente receber um transplante de medula óssea, que será o que de fato irá ajudar nessa fase. SE LIGA! Para avaliarmos se um pa- ciente está respondendo ao tratamento, é de suma importância a avaliação das respostas hematológica, citogenética e molecular. • Resposta hematológica completa: menos de 10.000 leucócitos por mi- crolitro, basófilos abaixo de 6%, au- sência de mieloblastos, promielóci- tos e mielócitos no sangue periférico, plaquetas abaixo de 450.000 e baço de tamanho normal. • Resposta citogenética completa: ausência do cromossomo Ph. • Resposta menor: cromossomo Ph entre 95% e 36% das células. • Resposta maior: valores entre 35% e 0. • Resposta molecular completa: quando não são mais encontrados genes BCR-ABL na PCR. • Resposta maior: redução de 0,1% do valor inicial. 13LEUCEMIAS Caso o mesilato de imatinibe falhe, temos outras opções de medicamen- tos, chamadas de inibidores de tiro- sina-quinase de 2ª geração. Entre eles temos o desatinibe e o nilotini- be. O desatinibe é utilizado pela via oral, com administração de 100mg/ dia na fase crônica e de 140mg/dia na fase avançada. Como efeitos co- laterais, podemos observar retenção de fluidos, derrame pleural, diarreia, sangramentos, prolongamento do intervalo QT e toxicidade hematoló- gica. O nilotinibe é administrado por via oral, em forma de comprimido de 400mg, que deve ser tomado de 12 em 12 horas, próximo às refeições. Seus principais efeitos colaterais são toxicidade hematológica, apareci- mento de rash cutâneo, náuseas, pru- rido, prolongamento do intervalo QT e hiperglicemia. SE LIGA! Critérios de falha de acordo com o tempo de tratamento: Se aos 3 meses de tratamento o pacien- te não apresentar resposta hematológica ou se o cromossomo Ph estiver presente em mais de 95% das células, podemos afirmar que o tratamento falhou. Aos 6 meses, há falha do tratamento se a avalia- ção da PCR demonstrar mais de 10% do gene BCR-ABL ou se o cromossomo Ph se manifestar em mais de 35% das célu- las. Quando o paciente já realiza tratamen- to há um ano, ele não deve possuir o gene BCR-ABL em mais de 1% e não deve ser detectada a presença do cromossomo Ph. Caso contrário, há falha de tratamento. Além desses critérios, relacionados ao tempo de tratamento, podemos dizer que há falha se, a qualquer momento a partir dos 3 meses, houver perda da resposta hematológica. Isso porque, se o tratamento estiver funcionando ade- quadamente, um paciente que faz uso de inibidores da tirosina quinase precisa apresentar hemograma e baço normais. Caso nenhum dos medicamentos fun- cione, é necessário realizar o trans- plante de medula óssea alogênico. Esse é o método mais eficaz na indução das remissões citogenética e molecular completas, além de ser a única for- ma curativa do tratamento da doença, curando 70% dos pacientes. Entretan- to, apesar disso, a realização do trans- plante apresenta uma alta taxa de mor- talidade, de cerca de 15 a 20%. Frente a isso, a realização de transplantes é reservada apenas aos pacientes que apresentam falha no tratamento com uso dos inibidores da tirosina quinase. 14LEUCEMIAS Presença do cromossomo Ph Epidemiologia Fator de risco Quadro clínico Fase crônica Fase acelerada Fase blástica Tratamento Gene BCR-ABL 14% de todas as leucemias Exposição à radiação ionizante Hiperplasia mieloide com leucocitose, neutrofilia e basofilia Assintomática ou oligossintomática Duração de alguns meses Comportamento de doença aguda Agentes citostáticos Tirosina quinase envolvida na regulação da proliferação celular Incidência de 1,6 caso/100 mil habitantes/ano Esplenomegalia Duração de 3 a 5 anos Resistência à terapêutica citorredutora Fatal (sobrevida de 3 a 6 meses sem tratamento) Inibidores de tirosina-quinase: mesilato de imatinibe, desatinibe ou nilotinibe Testes genéticos usados como marcadores do prognóstico Discreta predominância no sexo masculino Diagnóstico por exames de rotina Febre, sudorese noturna, perda de peso e dores ósseas Pode haver infiltração extramedular de blastos Transplante de medula óssea alogênico Acomete adultos mais velhos (entre 50 e 60 anos) Leucocitose com granulócitos em todas as fases de maturação e predomínio de mielócitos Aumento da quantidade de blastos circulantes Leucocitose neutrofilica Anemia normocítica e normocrômica Trombocitose, trombocitopenia e mielofibrose Plaquetas normais ou aumentadas LMC Acometimento das células mieloides Transformação maligna nas células maduras 15LEUCEMIAS 3. LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA (LMA) As leucemias mieloides agudas são um grupo heterogêneo de doenças clonais, em que há proliferação anor- mal de progenitores hematopoiéticos da linhagem mieloide. Essas células produzidas excessivamente, além de se acumularem na medula óssea pre- judicando a produção normal dos ou- tros tipos celulares, podem se infiltrar em outros tecidos, comprometendo assim a função de alguns órgãos. Por se tratar de uma leucemia aguda, sabemos que as células alteradas são ainda muito imaturas e, portan- to, incapazes de realizarem a sua função de defesa do organismo. Epidemiologia A LMA é o tipo leucêmico mais co- mum do adulto, correspondendo a 90% dos casos de leucemia. Pode acometer também crianças, repre- sentando 15% das leucemias em crianças menores de 10 anos. No Brasil, tem-se uma estimativa de incidência de 1,11 caso de LMA a cada 100 mil habitantes. Etiologia A causa da LMA não é conhecida, mas sabe-se de alguns fatores pre- disponentes a uma chance mais ele- vada do desenvolvimento da doença. Entre eles, temos a exposição à ra- diação ionizante e a derivados de benzeno. A radiação ionizante a que se pode ser exposto costuma ser pro- veniente de procedimentos médicos, sob a forma de raios X e raios gama. Já os derivados de benzeno são en- contrados na gasolina, além de serem amplamente utilizados na indústria química. SAIBA MAIS! A LMA é considerada um câncer ocupacional em virtude da exposição ao benzeno. Esse agente é o componente principal do óleo leve; apesar do risco conhecido, existem muitas apli- cações em impressão e litografia, pintura, borracha, limpeza a seco, adesivos e revestimentos e detergentes; anteriormente utilizado amplamente como solvente e fumigante. SAIBA MAIS! A incidência de leucemia mieloide aguda é 1,3 a 2 vezes maior nos fumantes, provavelmente por causa da exposição aos agentes carcinogênicos, como, por exemplo, o benzeno presente no tabaco do cigarro. 16LEUCEMIASSabe-se que a LMA é resultado de inúmeras alterações genéticas que se relacionam de forma acumulati- va. Quando as mutações acabam por afetar genes que codificam fatores de transcrição importantes para a he- matopoiese, pode haver descontrole desse processo, gerando uma LMA. Quadro clínico O quadro clínico da LMA incluirá sin- tomas decorrentes da falência da medula óssea em produzir os ele- mentos sanguíneos. Assim, é comum observar quadros típicos de anemia, que incluem fadiga, palidez cutâ- neo-mucosa e fraqueza. O paciente também pode apresentar leucope- nia, que faz com que haja predisposi- ção a infecções e a quadros de febre, tanto pela própria leucemia ou em decorrência dos quadros infecciosos. Por fim, os pacientes podem sofrer de sangramentos, com a ocorrência de hemorragias, epistaxe e o apareci- mento de petéquias. Esses sintomas se relacionam à gravidade da trom- bocitopenia encontrada no pacien- te. Além disso, os pacientes podem apresentar quadro de coagulação intravascular disseminado, sobre- tudo aqueles que possuem o subtipo M3 de LMA (leucemia promielocítica), que será descrita à frente. Pela infiltração de células anor- mais em tecidos, podemos encon- trar nos pacientes com LMA casos de hepatomegalia, esplenomega- lia, linfadenopatia, de hipertrofia de gengiva e de dor óssea, além da presença eventual de sarcomas gra- nulocíticos (tumores extramedulares, localizados em ossos, no periósteo, em linfonodos, na pele e em tecidos moles). Alguns sintomas indicam o acome- timento do sistema nervoso central. Entre eles, podemos observar a ocor- rência de cefaleia, de convulsões e de alterações visuais. Diagnóstico Nos exames laboratoriais de um pa- ciente com LMA, podemos encontrar contagens hematológicas muito va- riadas. Na maioria dos casos, cerca de 50%, o paciente apresenta leu- cocitose com frequente presença de mieloblastos. Em adição, encon- tra-se uma anemia normocítica e normocrômica. Além disso, pode haver alterações da homeostasia, principalmente na leucemia promielocítica (subtipo M3). Nesses casos, há consumo de fato- res plasmáticos (podendo resultar em quadro de coagulação intravascu- lar disseminada), aumento do tempo nas provas de coagulação (TT, TP e TTPa), hipofibrinogenemia, aumen- to dos produtos de degradação da fibrina e aumento de D-dímero. 17LEUCEMIAS No mielograma, encontra-se mais de 20% de mieloblastos e diminui- ção de células das outras linhagens (menor número de hemácias, plaque- tas e leucócitos normais sendo pro- duzidos). Em alguns casos, há atipias e displasias das células. De forma simplificada, o diagnóstico de LMA é dado quando é encontrado mais de 20% de mieloblastos leu- cêmicos no sangue periférico ou no mielograma, A definição desses blastos como blastos da LMA pode ser feita de várias formas. Uma delas é pela análise da morfologia celular ao microscópio, método que depende da análise de um examinador compe- tente e que, portanto, está sujeito a erro. Um achado patognomônico da LMA é a visualização de Bastones de Auer, vistos como pequenas linhas dentro do citoplasma celular. Bastonetes de Auer Figura 6. Bastonetes de Auer visualizados no citoplasma de mieloblastos.Fonte: www.pathologystudent.com/ where-do-you-see-auer-rods/ Outros métodos, mais modernos, uti- lizados para a definição dos tipos de leucemias mieloides agudas são a imunofenotipagem e a citogenética. A imunofenotipagem é um teste sen- sível, que possibilita a determinação do tipo e da origem celular, através de marcadores. A citogenética é usada não somente com fins diagnósticos, mas também como forma de defini- ção de prognóstico. Por meio desta técnica, a depender das alterações celulares encontradas, é possível sa- ber se a doença tende a evoluir de for- ma mais ou menos agressiva e, com essa informação, pode-se optar por tratamentos diferenciados quando a forma da doença é mais propensa 18LEUCEMIAS a recidivas ou quando costuma não responder ao tratamento padrão. Classificação As leucemias mieloides agudas podem ser classificadas pela FAB, a classifi- cação Franco-Américo-Britânica, que foi criada em 1976. Ela leva em conta a morfologia celular, a histoquímica e a imunofenotipagem, mas não incorpora achados citogenéticos e moleculares. Nessa classificação, as leucemias são divididas em subtipos de M0 até M7: • M0: Leucemia mieloide aguda indiferenciada • M1: Leucemia mieloide aguda com maturação celular mínima • M2: Leucemia mieloide aguda com maturação • M3: Leucemia promielocítica agu- da (LPA) • M4: Leucemia mielomonocítica aguda (LMMA) ◊ M4 eos: Leucemia mielomo- nocítica aguda com eosinofilia • M5: Leucemia monocítica aguda • M6: Leucemia eritroide aguda • M7: Leucemia megacarioblástica aguda Em 2016, a OMS fez uma nova clas- sificação, incluindo as alterações ci- togenéticas e moleculares. Nessa atualização, há divisão das leucemias em sete categorias principais – lista- das a seguir –, com subcategorias: • Leucemia mieloide aguda com anormalidades genéticas • Leucemia mieloide aguda com alterações relacionadas à mielodisplasia • Leucemia mieloide aguda relacio- nada à quimioterapia ou radiotera- pia prévia • Leucemia mieloide aguda não especificada • Sarcoma mieloide ou sarcoma gra- nulocítico ou cloroma • Proliferações mieloides relaciona- das com a síndrome de Down • Leucemias agudas indiferenciadas e bifenotípica É importante conhecer as alterações genéticas mais frequentes que in- fluenciam as classificações. Entre elas temos as mutações NPM1 e CEBPA, as duplicações internas em Tandem do gene FLT3, duplicações parciais em Tandem do gene MLL e a hipe- rextensão do gene BAALC. Fatores prognósticos As LMA são doenças multifatoriais, isto é, tanto fatores ambientais quan- to fatores genéticos influenciam no seu desenvolvimento. Frente a isso, 19LEUCEMIAS diversos fatores precisam ser levados em conta para a análise do provável prognóstico de cada manifestação da doença, além de serem importantes no momento de escolha da melhor terapêutica para cada caso. Características do paciente, tais com a sua condição de saúde, devem ser levadas em conta na escolha do tra- tamento, analisando, por exemplo, se o paciente pode ser submetido a uma quimioterapia ou a um transplante de medula óssea. Características genéti- cas na doença precisam também ser analisadas, principalmente no que diz respeito à resistência à terapia. A idade avançada, acima de 60 anos, é um fator de mau prognóstico. Ela se relaciona de maneira inversa à so- brevida global, isto é, quando maior a idade, menor é o tempo de sobrevida esperado para o paciente. Isso está intimamente relacionado ao maior número de comorbidades existentes na velhice, além de mais mutações terem sido acumuladas ao longo do tempo de vida do paciente. A baixa contagem de leucócitos ao diagnóstico é um outro fator prog- nóstico importante. Quanto maior é o número de leucócitos acima do ní- vel normal, pior é o prognóstico do paciente. Em adição, o prognóstico também é mais negativo quando a doença evoluiu a partir de uma sín- drome mielodisplásica preexistente e quando o paciente já fez uso de te- rapia citotóxica anteriormente. Alteração cariotípica é um sinal de mau prognóstico independente, isto é, independentemente da existência de outras comorbidades, da idade e das condições de saúde do paciente, a pre- sença de alterações do cariótipo é por si só um mau sinal. A partir da análise do cariótipo do paciente é possível prever a sobrevida global, o risco de recaída e a resposta ao tratamento, por exemplo: frente a um cariótipo favorável, pode-se definir que o paciente pode ser subme- tido à quimioterapia, sabendo que em 60% dos casos a sobrevida global é de 5 anos e que há remissão completa da doença em 90% das vezes. Por outro lado, se o cariótipo for sugestivo de um prognóstico adverso, recomenda-se o transplante de medula óssea alogênicofrente à primeira remissão do pacien- te e, mesmo assim, a sobrevida global estimada atinge os 5 anos em apenas 12% dos casos. Tratamento O tratamento da LMA é feito pelo uso de quimioterapias. Primeiramente, é realizada a indução da remissão. Essa etapa é feita em um ou dois ci- clos de um esquema quimioterápico chamado de 3+7, isto é, por 3 dias é usado um agente antracíclico, se- guido por 7 dias de uso de citarabina. Posteriormente, é feita a etapa de consolidação da remissão. Ela é composta por 2 a 4 ciclos de citara- bina em altas doses ou pelo trans- plante de medula óssea alogênico 20LEUCEMIAS caso haja fatores de mau prognóstico, falha na indução, fator de risco inter- mediário ou cariótipo adverso. É preciso cuidado em pacientes ido- sos, uma vez que possuem mais complicações clínicas e sofrem maio- res efeitos da toxicidade do trata- mento, Nesses casos, a fase de con- solidação da remissão deve ser feita com intensidade reduzida, a fim de manter uma qualidade de vida para o paciente. Também para os pacien- tes idosos, a indicação de transplante de medula óssea é controversa, uma vez que os resultados para esse gru- po são inferiores aos observados nos mais jovens. Leucemia promielocítica aguda (LPA) A leucemia promielocítica aguda, subtipo M3, é o subtipo mais curá- vel das leucemias mieloides agudas. Nesse tipo da doença é marcado pela presença do gene PML-RARα, for- mado pela translocação entre os cro- mossomos 5 e 17. Para a LPA, há a possibilidade de uti- lização de duas drogas específicas: o ácido all-trans retinóico (ATRA) e o trióxido arsênico (ATO). Esses medicamentos agem promovendo a diferenciação dos mieloblastos em células mieloides maduras. Dessa forma, as células imaturas responsá- veis pela doença voltam a se compor- tar de forma normal. Para o tratamento, portanto, é ne- cessário iniciar o uso do ATRA no momento da suspeita diagnóstica mesmo que ainda não haja confirma- ção, pois essa medida se mostrou re- lacionada a uma melhora de prognós- tico. Além disso, é necessário prover suporte hemoterápido, dado que es- ses pacientes apresentam disfunções de coagulação. A quimioterapia para esses casos é feita com a daunorru- bicina ou com a idarrubicina nos dias 2, 4, 6 e 8 do tratamento. É esperada uma remissão hematológica em 30 dias com o uso dessas medicações. A seguir, há também fase de consoli- dação e uma manutenção, feitas com a associação do ATRA com a mer- captopurina e o metotrexato. Além disso, pode-se monitorar a respos- ta molecular pela realização de PCR para pesquisa do gene PML-RARα. Como efeito colateral do ATRA, pode ocorrer uma síndrome de diferen- ciação ou síndrome retinoide em 6 a 27% dos casos. Isso leva o paciente a um quadro de leucocitose, febre, in- filtração pulmonar, aumento de peso por retenção hídrica, falência renal, dispneia, hipotensão, efusão pleural e efusão pericárdica. Quando esses sintomas começam a aparecer, a con- duta adequada é a suspensão do me- dicamento até a melhora, introdução de corticoides (dexametasona, 10mg, 2 vezes/dia) e então avaliar a retoma- da ou não do uso do medicamento, lembrando que ele é muito importan- te para os pacientes com LPA. 21LEUCEMIAS Epidemiologia Fatores de risco Quadro clínico Diagnóstico Classificação Fatores prognósticos Tratamento É o tipo leucêmico mais comum no adulto Exposição à radiação ionizante Leucopenia e predisposição a infecções Leucocitose com presença de mieloblastos Condição de saúde do paciente Indução da remissão: agente antracíclico + citarabina LMA Grupo heterogêneo de doenças Acometimento das células mieloides imaturas 90% dos casos de leucemia Exposição a derivados de benzeno Anemia: fadiga, palidez e fraqueza Anemia normocítica e normocrômica Classificação FAB Nova classificação da OMS Características genéticas da doença Consolidação da remissão: citarabina em altas doses ou transplante de medula óssea Representa 15% das leucemias em crianças menores de 10 anos É o resultado cumulativo de alterações genéticas Hemorragias, epistaxe e petéquias Mais de 20% de mieloblastos e diminuição de outras linhagens De M0 a M7 Divisão em 7 categorias principais e subcategorias Idade Incidência de 1,11 caso/100 mil habitantes Hepatomegalia, esplenomegalia e linfadenopatia Bastonetes de Auer Considera aspectos morfológicos, de histoquímica e de imunofenotipagem Incorpora parâmetros citogenéticos e moleculares Contagem de leucócitos ao diagnóstico Hipertrofia de gengiva, dor óssea e sarcomas granulocíticos Testes de imunofenotipagem e citogenética Evolução a partir de síndrome mielodisplásica Sintomas de acometimento do SNC: cefaleia, convulsões e alterações visuais Uso anterior de terapia citotóxica Alterações cariotípicas 22LEUCEMIAS 4. LEUCEMIA LINFOIDE CRÔNICA (LLC) A LLC tem origem nas células linfoi- des maduras, que passam a se multi- plicar descontroladamente. Essas cé- lulas linfoides alteradas em excesso ocupam a medula óssea, prejudican- do a produção de tipos celulares nor- mais e, além disso, podem se infiltrar em órgãos linfoides, como o baço e os linfonodos. Epidemiologia A LLC é a mais comum dentre as doenças linfoproliferativas crôni- cas. Ela corresponde a 30% dos ca- sos de leucemias. Anualmente, a in- cidência é de 2 a 6 casos a cada 100 mil habitantes, sendo que a in- cidência é mais alta quando maior a faixa etária analisada. Costuma acometer pacientes idosos, por volta da faixa etária dos 65 anos, sendo que somente 10% dos casos são de pacientes com menos de 50 anos. A doença é mais prevalente no sexo masculino, em uma proporção de dois homens afetados a cada pa- ciente mulher. Apesar da etiologia da doença ser desconhecida, supõe-se, pela obser- vação de casos familiares de LLC, que exista algum tipo de predisposição genética para o seu desenvolvimen- to. Além disso, é sabido que a expo- sição a agentes químicos e derivados do petróleo, como o benzeno e seus derivados, é um fator de risco para o desenvolvimento da doença. Quadro clínico A maioria dos pacientes com LLC é totalmente assintomática, sendo a doença eventualmente descoberta em exames de rotina, por achado de linfocitose importante em hemogra- ma de rotina, o que leva a uma inves- tigação mais apurada. Quando o paciente apresenta sinto- mas, os mais comuns de serem en- contrados são: linfadenopatia gene- ralizada, perda de peso e queixas de cansaço decorrente de anemia. A linfadenopatia caracteriza-se pela presença de pequenos linfonodos palpáveis (em alguns casos podem ser maiores), de consistência fibro- elástica, móveis e indolores, sem si- nais flogísticos. A presença de hepatomegalia é ob- servada em cerca de 50% dos pa- cientes, assim como esplenomegalia não volumosa, isto é, o baço encon- tra-se apenas discretamente aumen- tado. Pode haver também infiltração leucêmica em outros órgãos, como nas tonsilas, nas meninges e na pele. Os pacientes com LLC cursam com anemia, porém raramente de grande intensidade. Pode haver quadro de surgimento de petéquias e equimo- ses devido à plaquetopenia, apesar 23LEUCEMIAS de ser um cenário mais raro. Por fim, as infecções bacterianas, como pneumonias, são frequentes de- vido ao desequilíbrio da imunidade provocado pela produção de linfócitos anormais e à neutropenia frequente- mente observada. SAIBA MAIS! Em 3 a 15% dos casos, os pacientes com LLC evoluem com o desenvolvimento de Síndrome de Richter, na qual observa-se a evolução da doença para um linfoma difuso de grandes cé- lulas B, o que apresenta prognóstico muito ruim. Desconfia-se de Síndrome de Richter quan- do um paciente com LLC começa a apresentar febre, emagrecimento, sudorese principalmen- te noturna, aumento da linfadenopatia, anemia sintomática, trombocitopenia (surgimento ou agravamento da preexistente) e gamopatia monoclonal. Os pacientescom LLC frequente- mente apresentam quadros autoimu- nes associados. Cerca de 10 a 25% cursam com anemia hemolítica au- toimune, 2% estão associados a quadros de trombocitopenia imune, 60% dos pacientes apresentam hi- pogamaglobulinemia e em 5% dos casos há hipergamaglobulinemia monoclonal. Diagnóstico No hemograma de um paciente com LLC encontramos linfocitose per- sistente, com mais de 5.000 células por microlitro por mais de três meses (exclui-se a possibilidade de quadro infeccioso). Além disso, aproximada- mente 20% dos pacientes também apresentam quadro de anemia ou de trombocitopenia. O diagnóstico é feito pela análise das características morfológicas das células presentes no sangue perifé- rico e pela realização de mielograma, para análise das células em esfregaço da medula óssea. Em alguns casos, pode ser necessária a análise histo- lógica da medula óssea, dos gânglios linfáticos ou do baço. Além disso, po- de-se fazer a complementação do diagnóstico com estudos citogenéti- cos e de biologia molecular que, além da função diagnóstica, auxiliam na definição do prognóstico da doença. Para a definição do diagnóstico de LLC são verificados alguns critérios. O paciente deve possuir leucocito- se acima de 5.000 linfócitos B por microlitro, deve haver predomínio de linfócitos pequenos e maduros e a imunofenotipagem deve ser ca- racterística de LLC. Em alguns casos, quando é realizado o mielograma, de- ve-se encontrar infiltração de medula óssea por linfócitos maduros maior que 30%. 24LEUCEMIAS Em 80% dos pacientes com LLC es- tão presentes anormalidades citoge- néticas. Para avaliá-las, realiza-se um exame chamado FISH. Nele, pode- mos encontrar a deleção do 13q em 50% dos pacientes, a deleção do 11q em 23%, a trissomia do cromossomo 12 em 20%, a deleção do 17p em 14% e o 14q32 em 28% dos casos. Estadiamento Para realizar o estadiamento da do- ença, leva-se em conta característi- cas clínicas e hematológicas. Existem dois sistemas principais que são utili- zados para a classificação: o sistema de Rai e o sistema de Binet. O sistema de Rai, desenvolvido em 1975, divide o estadiamento em 5 categorias, de 0 a 4: • Estágio 0: Observa-se linfocitose no sangue e medula óssea com 40% ou mais de células infiltradas. Há sobrevida mediana de mais de 150 meses. • Estágio I: Há linfocitose com lin- fadenopatia localizada ou genera- lizada. A sobrevida mediana é de aproximadamente 101 meses. • Estágio II: Além da linfocitose, há esplenomegalia e/ou hepatomega- lia. A sobrevida costuma ser de 71 meses. • Estágio III: Há linfocitose e ane- mia (hemoglobina abaixo de 11g/ dL independentemente do sexo). Sobrevida de 19 meses. • Estágio IV: Há linfocitose com trombocitopenia. A sobrevida me- diana também é de 19 meses. • Em 1987 a classificação de Rai foi modificada, dividindo os estágios em três níveis de risco: • Risco baixo: Quando há somente linfocitose no sangue e na medu- la óssea. A sobrevida é de mais de 10 anos. • Risco intermediário: A linfocitose é acompanhada por linfadenome- galia e por esplenomegalia, com ou sem hepatomegalia. A sobrevi- da mediana é de aproximadamen- te 7 anos. • Risco alto: Há linfocitose, anemia e trombocitopenia. A sobrevida costuma ser de 2 anos. • O estadiamento de Binet, criado em 1981, divide as categorias em três estágios, A, B e C: • Estágio A: Quando o paciente possui menos de 3 áreas de en- volvimento linfoide, na ausência de anemia ou trombocitopenia. A sobrevida mediana costuma ser maior de 10 anos. • Estágio B: Quando há 3 ou mais áreas de envolvimento linfoide, porém na ausência de anemia ou trombocitopenia. A sobrevida é de aproximadamente 7 anos. 25LEUCEMIAS • Estágio C: Quando os níveis de hemoglobina estão menores que 10g/dL ou as plaquetas estão abaixo de 100.000 por microlitro. A sobrevida mediana é de 2 anos. Fatores prognósticos O prognóstico da LLC pode ser dividi- do em dois principais grupos: pacien- tes de baixo risco, quando a sobre- vida mediana é maior que 15 anos, e paciente de alto risco, nos casos em que a sobrevida costuma ser menor que 5 anos. Vários são os cri- térios utilizados para esta definição do prognóstico, tais como o estadiamen- to, a contagem de linfócitos, o grau de infiltração na medula e morfologia celular, entre outros. Esses critérios e a classificação do prognóstico com base neles estão na tabela a seguir: BAIXO RISCO (>15 ANOS) ALTO RISCO (<5 ANOS) Estadio clínico A, 0 ou I B, C, II, III ou IV Contagem de linfócitos ao diagnóstico Baixa (dentro do limite de normalidade) Alta (acima do limite de normalidade) Infiltração leucêmica na medula óssea Baixa Difusa Morfologia dos linfócitos Típica Atípica Tempo de duplicação dos linfócitos Maior que 12 meses Menor ou igual a 12 meses Marcadores séricos (B2-M, CD23, DHL) Normal Elevados Citogenética Normal ou deleção do 13q Deleção 17p, deleção 11q ou tris- somia do cromossomo 12 Mutação IgV Mutado Não mutado Presença de CD38 < 30% > 30% Presença do ZAP-70 < 20% > 20% Tabela 1. Critérios de classificação de prognóstico na LLC. Tratamento A LLC é uma doença incurável por quimioterapia, dessa forma, na maio- ria das vezes esse tratamento será realizado como forma de suporte. Para curar a doença, é necessária a realização de transplante de medu- la óssea alogênico, porém esse é um procedimento de alta mortalidade. Em pacientes no estadiamento A, RAI 0 ou então com prognóstico de baixo risco realiza-se, inicialmente, 26LEUCEMIAS um período de observação clínica. O paciente deve ser acompanha- do, com realização de hemogramas e exames laboratoriais gerais, por 3 a 6 meses. Nesse período, deve-se avaliar se a doença é estável ou se há piora progressiva do quadro. Se a do- ença permanecer estável nesse perí- odo, não se deve realizar tratamentos, mas apenas continuar monitorando o paciente. Caso seja observada piora, inicia-se então o tratamento. Entre os pacientes de estadiamen- to intermediário, isto é, RAI I ou II ou Binet B, cerca de 1/3 possui doença estável. Nesses casos, também vale a conduta de observação e acom- panhamento, sem nenhuma tera- pêutica. Em 2/3 desses pacientes, há progressão da doença nos primeiros 2 anos, sendo observado rápido au- mento de gânglios, do baço ou dos linfócitos. Nessas situações, opta-se pelo tratamento a fim de melhorar a qualidade de vida do paciente. Nos pacientes de Binet C, RAI III ou IV ou que possuem fatores prognósticos de alto risco, é sempre necessário o tratamento. Ele consiste na realização de quimioterapia, em 6 ciclos, com três drogas: fludarabina, cliclofosfamida e rituximabe. Em 95% dos casos há resposta global e remissão completa em 52% dos pacientes. Contudo, antes de iniciar o tratamen- to, é necessário avaliar as condições clínicas do paciente. Muitas vezes, os pacientes mais idosos não aguen- tam esse esquema de quimioterapia. Nesses casos, esses pacientes mais frágeis podem receber um tratamen- to com intensidade reduzida, com administração de clorambucil, as- sociado ou não ao rituximabe. Caso o paciente possua muitas comorbi- dades e não houver condições de se realizar quimioterapia, são instituídos os cuidados paliativos. A não ser que seja realizado trans- plante, a recaída da doença é muitas vezes inevitável. Se a remissão tiver sido prolongada, ou seja, o paciente ficou mais de dois anos sem neces- sitar de tratamento, a terapia feita ini- cialmente pode ser repetida. Caso a remissão tenha sido curta, é melhor optar pelo uso de outras drogas, além de considerar a realização de trans- plante de medula óssea não-mie- loablativo, isto é, um transplante em que não há a destruição completa da medula óssea do paciente. 27LEUCEMIAS Epidemiologia Fatores de risco Quadro clínico Diagnóstico Estadiamento Fatores prognósticos Tratamento Corresponde a 30% dos casos de leucemias Supõe-se a existência de predisposiçãogenética Na maioria das vezes, é assintomático Linfocitose persistente, acima de 5.000 Leva-se em conta características clínicas e hematológicas Estadiamento Estadiamento A, RAI 0 ou baixo risco Estadiamento intermediário (RAI I ou II ou Binet B) Estadiamento Binet C, RAI III ou IV ou prognóstico de alto risco Quando há remissão curta, considerar transplante de medula óssea não- mieloablativo É a mais comum dentre as doenças linfoproliferativas crônicas Exposição a agentes químicos Linfadenopatia generalizada, perda de peso e cansaço Predomínio de linfócitos pequenos e maduros Sistema de Rai Contagem de linfócitos Período de observação clínica (3 a 6 meses) Em 1/3 dos casos, segue- se o protocolo de observação Quimioterapia com fludarabina, ciclofosfamida e rituximabeIncidência de 2 a 6 casos/100 mil habitantes, aumentando conforma a faixa etária Exposição a derivados do benzeno Hepatomegalia e espleno- megalia não volumosa Análise das características morfológicas das células sanguíneas Sistema de Rai modificado Grau de infiltração na medula Se a doença estiver estável, não tratar Quando há rápido aumento de linfonodos, baço ou linfócitos, tratarAcomete pacientes idosos, na faixa dos 65 anos Pode haver infiltração leucêmica em outros órgãos Mielograma com esfregaço Sistema de Binet Morfologia celular Se a doença estiver progredindo, inicia-se a quimioterapia Apenas 10% dos casos são de menores de 50 anos Anemia, petéquias e equimoses Análise histológica da medula, do baço e de linfonodos Tempo de duplicação dos linfócitos Proporção de dois homens afetados a cada mulher doente Infecções bacterianas frequentes Estudos citogenéticos e de biologia molecular Marcadores séricos Quadros autoimunes associados Citogenética LLC Acometimento das células linfoides maduras 28LEUCEMIAS 5. LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA (LLA) A leucemia linfoide aguda é uma do- ença que decorre da proliferação clo- nal de precursores linfoides anormais na medula óssea. Sua etiologia é des- conhecida, apesar de haver suspeitas de que fatores genéticos influenciam no seu desenvolvimento. Na LLA, são os linfoblastos (células muito jovens da linhagem linfoide) que param de funcionar corretamen- te e começam a multiplicar-se des- controladamente na medula óssea. A evolução da doença ocorre de manei- ra bastante rápida. Epidemiologia Diferentemente dos outros tipos de leucemias, a LLA afeta principal- mente crianças, sendo a doença maligna mais comum na infância. Apesar disso, ela pode também aco- meter adultos, principalmente entre os 25 e 37 anos de idade, sendo que nesse grupo, o prognóstico da doen- ça é pior em relação ao acometimento pediátrico. No Brasil, a LLA tem inci- dência de 6,5 casos a cada um milhão de pessoas, por ano. Quadro clínico O quadro clínico é aquele observado em situações de supressão da medu- la óssea, dessa vez, pela infiltração pelas células leucêmicas. Os pacien- tes possuirão anemia, apresentando palidez, fraqueza e cansaço, e po- dem apresentar hemorragias, princi- palmente na pele e em mucosas. Em 1/3 dos casos, há febre e sudorese noturna, associados ao não a quadro infeccioso. Além disso, os pacientes, sobretu- do crianças, apresentam quadro de artralgia e dores ósseas, devido à distensão do periósteo sob a ação do infiltrado leucêmica. Em decor- rência de infiltração ou de hemorra- gias no sistema nervoso central, o paciente pode ter confusão mental, cefaleia e compressão de nervos cra- nianos, sobretudo dos pares VI e VII. Esses sintomas também podem ser decorrentes da presença exagerada de blastos na circulação, chamada de síndrome de leucostase. Fora isso, podemos observar ade- nomegalias (presentes em 49% dos casos), hepatomegalia (em 35% das vezes), esplenomegalia (44%), pre- sença de massa mediastinal, normal- mente associada à proliferação de células T (15%) e leucemia testicular (em 0,3% dos pacientes). Diagnóstico No hemograma desses pacientes, normalmente encontramos leuco- citose com presença de blastos. Contudo, em alguns pacientes ob- servamos leucopenia, isto é, ausência 29LEUCEMIAS de blastos na circulação, estando as células leucêmicas somente na me- dula óssea e o hemograma indica pancitopenia. Quando realizado o mielograma, ob- serva-se a presença de mais de 20% de blastos. Faz-se também a fenoti- pagem e a citogenética do material de medula óssea coletado para a de- finição do diagnóstico. Classificação A LLA é classificada de acordo com a morfologia das células leucêmicas, além da fenotipagem e da citoge- nética. A classificação da doença é indicativa de fatores prognósticos e também ajuda na detecção de reca- ídas precoces. Antigamente, era utilizada a classi- ficação Franco-Américo-Britânica (FAB), que levava em conta apenas características morfológicas. Atual- mente, utiliza-se também os parâ- metros de citogenética e imunofeno- tipagem. Pela imunofenotipagem, é possível identificar o tipo de linfócito afetado, B ou T, através dos marca- dores celulares, e também o estágio de maturação em que as células se encontram, informação muito impor- tante da definição do prognóstico do paciente. Pela citogenética, identifica-se alte- rações genéticas presentes espe- cificamente nas células alteradas, o que também auxilia no prognóstico. Na LLA, anormalidades cromossômi- cas são encontradas em 60 a 80% dos adultos e em cerca de 90% das crianças. SE LIGA! Em alguns casos da doença o paciente pode apresentar, assim como na LMC, a translocação entre os cro- mossomos 9 e 22, conhecida como cro- mossomo Philadelphia (Ph+). Ela é mais comum nos adultos, estando presente em 15 a 30% dos casos. A presença do gene BCR-ABL é um si- nal citogenético indicativo de prognós- tico desfavorável. Apesar disso, nessas situações, pode ser utilizada a terapia- -alvo para o tratamento, por meio dos inibidores da tirosina quinase. Fatores prognósticos A idade avançada, superior aos 60 anos, é um fator de mau prognóstico, sendo que quanto maior a faixa etá- ria, pior é o prognóstico. No outro ex- tremo, pacientes menores de um ano também possuem prognóstico pior. Outro fator indicativo de prognóstico ruim é o achado de leucócitos acima de 30.000 por microlitro ao momento do diagnóstico. Outros fatores analisados são: tem- po até remissão completa, linha- gem, cariótipo e envolvimento do sistema nervoso central. Estão en- tre o grupo de maior risco os pacien- tes que demoram mais de um ciclo de quimioterapia ou mais de quatro semanas para atingir o estado de 30LEUCEMIAS remissão completa da doença, os pacientes que têm alteradas células pré-B, células T maduras ou células de linhagem precoce, pacientes com o cromossomo Philadelphia e aqueles que apresentam sintomas de envolvi- mento do sistema nervoso central ao diagnóstico. Por fim, se o paciente apresentar do- ença residual mínima persistente te- mos também um prognóstico pior. A doença residual mínima é pesquisada logo após o fim da quimioterapia, ou mesmo no meio dela, pela realização do mielograma para testes de imu- nofenotipagem e/ou análise mole- cular por PCR. Nesses testes, serão buscados marcadores definidos ao diagnóstico para detectar a presen- ça do clone neoplásico. É um método de alta sensibilidade que possibilita a detecção precoce de recidivas ou mesmo do risco de recidivas. Tratamento O primeiro objetivo do tratamento será a eliminação do clone leucêmi- co, levando assim à cura do pacien- te. É sabido que nos adultos, tem-se resultados inferiores aos observados em crianças, havendo remissão com- pleta de 70 a 90% dos casos, porém com melhora da sobrevida a longo prazo observada somente em 25 a 50% das vezes, devido ao maior nú- mero de recaídas. O tratamento inclui a prevenção de lise tumoral (síndrome composta por hiperuricemia,hiperpotassemia, hi- perfosfatemia e hipocalcemia), atra- vés do uso de quimioterápicos. É fei- to o uso de alopurinol, em doses de 200 a 300mg por metro quadrado de área corpórea do paciente. Além disso, deve ser feita a hidratação do paciente, a fim de manter a diurese a 100mL por hora. Além disso, será fornecido supor- te hemodinâmico ao paciente. Se há trombocitopenia, com sangramentos ou plaquetas abaixo de 20.000 por microlitro, deve ser feita a transfusão de plaquetas. Quando o paciente está com anemia, é importante manter o hematócrito próximo a 30%. Fora isso, faz parte do tratamento a prevenção de infecções, uma vez que o sistema imune do paciente en- contra-se duplamente comprometi- do, tanto pela leucemia quanto pela quimioterapia, o que irá induzir uma neutropenia. Portanto, é feito o uso profilático de antibióticos, tais como sulfametoxazol-trimetopima e le- vofloxacina. Podem ser usados tam- bém o fluconazol, em casos de infec- ções fúngicas e antivirais. 31LEUCEMIAS SE LIGA! Quando o paciente apresenta febre durante a realização da quimiote- rapia, deve-se considerar a existência de um quadro infeccioso que está ge- rando uma leucopenia febril. Dessa for- ma, quando há febre, deve ser colhido material para a realização de culturas e deve ser iniciada a antibioticoterapia de amplo espectro até que os resulta- dos sejam confirmados, para que então a antibioticoterapia seja feita de forma orientada. A quimioterapia é feita em fase de indução de resposta, de profilaxia do sistema nervoso central (SNC) e de consolidação e manutenção. A remis- são é atingida na maioria dos casos, porém nos adultos costuma durar apenas de 15 a 32 meses. Após o terceiro ano, somente 30 a 45% dos pacientes costumam manter a remis- são. Há diversas opções de protoco- los quimioterápicos a serem seguidos, que utilizam drogas semelhantes. Na fase de indução, utiliza-se pred- nisona, vincristina e antraciclina. Al- guns protocolos adicionam também a asparaginase e alguns preconizam a realização de uma intensificação precoce, com o uso de ciclofosfamida, metotrexato e arabinosídeo-C. Poste- riormente, é feita a consolidação pós- -remissão, que pode ser com ou sem a realização de transplante de medula óssea, a depender do prognóstico do paciente. Normalmente são utilizadas as mesmas drogas administradas na fase de indução. A profilaxia do SNC é necessária uma vez que ele muitas vezes não é atingido pelas drogas, devido à bar- reira hemato-encefálica. Dessa for- ma, o SNC pode se constituir como um local de abrigo para os blastos leucêmicos, havendo recaídas mais rápidas quando essa fase de profila- xia não é realizada. Ela pode ser feita por meio de radioterapia, de quimio- terapia intratecal (injeção do medica- mento no líquor) ou por altas doses de quimioterapia sistêmica. A manutenção do tratamento va- ria conforma o subtipo de LLA, mas costuma ter duração média de 2 ou 3 anos. Os resultados finais dos di- ferentes protocolos que podem ser adotados são similares. Pacientes que tiveram recaídas ou que foram refratários ao tratamento possuem um prognóstico ruim. Me- nos de 50% dos pacientes atingem novamente uma remissão comple- ta da doença, sempre havendo uma doença residual mínima mesmo após novos tratamentos. Nesses casos, a realização de transplante de medula óssea alogênico apresenta resulta- dos melhores do que a utilização de novas quimioterapias. 32LEUCEMIAS Epidemiologia Quadro clínico Diagnóstico Classificação Fatores prognósticos Tratamento Afeta principalmente crianças Sintomas decorrentes da supressão da medula óssea: anemia, hemorragias e infecções Leucocitose com presença de blastos Leva em conta a morfologia celular, a fenotipagem e a citogenética Idade Resultados são melhores em crianças do que em adultos Inclui hidratação, suporte hemodinâmico e prevenção de infecções Quimioterapia LLA Acometimento das células linfoides imaturas Doença maligna mais comum da infância Artralgia e dores ósseas Mielograma demonstrando blastos > 20% É indicativa dos fatores prognósticos e ajuda na detecção precoce de recaídas Contagem de leucócitos ao diagnóstico Fase de indução de resposta: prednisona, vincristina e antraciclinaTambém pode acometer adultos, principalmente entre 25 e 37 anos Confusão mental, cefaleia e compressão de nervos cranianos Fenotipagem e citogenética em amostra de medula óssea A fenotipagem indica o tipo de linfócitos afetados e o estágio de maturação celular Tempo até remissão completa Consolidação pós-remissão: drogas utilizadas na fase de indução + pode ou não incluir transplante de medula ósseaIncidência de 6,5 casos a cada um milhão de pessoas/ano Adenomegalia, hepatomegalia e esplenomegalia A citogenética identifica alterações genéticas, pre- sentes em 90% das crianças Linhagem celular Profilaxia do SNC: radioterapia, quimioterapia intratecal ou quimioterapia sistêmica em altas doses Presença de massa mediastinal Cariótipo Manutenção do tratamento Leucemia testicular Envolvimento do SNC Em casos de recaídas, opta-se pelo transplante de medula óssea Presença de doença residual mínima persistente 33LEUCEMIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HOFFBRAND, A. VICTOR; MOSS, PAUL A. H. Fundamentos em Hematologia de Hof- fbrand. 7 ed. – Porto Alegre: Editora Artmed, 2018. ZAGO, MARCO ANTÔNIO; PASQUINI, RICARDO; FALCÃO, ROBERTO PASSETTO. Trata- do de Hematologia. 1 ed – Rio de Janeiro: Editoria Atheneu, 2013. MELO, MÁRCIO. Leucemias e Linfomas. 1 ed – São Paulo: Livraria Médica Paulista Editora, 2008. KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia –. Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010 INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA), Ministério da Saúde. Leucemia. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/leucemia. Acesso em 04/06/2020. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINFOMA E LEUCEMIA. Guia das Leucemias. Disponível em: https://www.abrale.org.br/revista-online/guia-das-leucemias/. Acesso em 04/06/2020. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINFOMA E LEUCEMIA. O que é Leucemia? Disponível em: http://abrale.org.br/doencas/leucemia. Acesso em 08/06/2020. Acesso em 08/06/2020. INSTITUTO ONCOGUIA. Estadiamento da Leucemia Mieloide Aguda (LMA). Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/estadiamento-da-leucemia-mieloide-aguda-l- ma/1603/332/. Acesso em 09/06/2020. 34LEUCEMIAS
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