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Brasília-DF. Difusão e Consumo De Arte e entretenimento nAs míDiAs DigitAis Elaboração Rafaela Goltara Souza Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA .................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 CULTURA DA CONVERGÊNCIA ............................................................................................... 11 CAPÍTULO 2 COMUNICAÇÃO E TEORIAS DAS MÍDIAS DIGITAIS ................................................................... 21 CAPÍTULO 3 LINGUAGENS, ESTÉTICAS E ALGORITMOS ................................................................................ 29 UNIDADE II ARTE E ENTRETENIMENTO ..................................................................................................................... 36 CAPÍTULO 1 ARTE, ENTRETENIMENTO E AUDIÊNCIA ..................................................................................... 36 CAPÍTULO 2 ARTES VISUAIS E FORMAS DE CONSUMO ................................................................................ 43 CAPÍTULO 3 AUDIOVISUAL E SUAS PLATAFORMAS DE DISTRIBUIÇÃO ............................................................ 48 UNIDADE III CONSUMO E DIFUSÃO ........................................................................................................................ 54 CAPÍTULO 1 STREAMING: O QUE É E COMO FUNCIONA? .......................................................................... 54 CAPÍTULO 2 SITES DE HOSPEDAGEM PARA AUDIOVISUAL ........................................................................... 62 CAPÍTULO 3 REDES SOCIAIS, DIREITOS AUTORAIS E COMPARTILHAMENTO ................................................... 68 UNIDADE IV COLOCANDO EM PRÁTICA ................................................................................................................. 74 CAPÍTULO 1 MONTANDO UM PROJETO DE DIFUSÃO .................................................................................. 74 CAPÍTULO 2 TIRANDO A IDEIA DO PAPEL .................................................................................................... 83 CAPÍTULO 3 ANALISANDO OS RESULTADOS ................................................................................................ 90 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 93 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Olá! Bem-vindo(a) à disciplina “Difusão e consumo de arte e entretenimento nas mídias digitais”. Nesta disciplina, vamos compreender melhor sobre como a interação mediada por computadores e celulares conectados impactam os processos culturais na sociedade contemporânea, bem como na difusão e no consumo de arte e entretenimento nas mídias digitais. Sempre que quero entender sobre as mudanças que acontecem globalmente, penso nas mudanças que aconteceram nos meus próprios hábitos localmente. Quando eu era adolescente, tinha uma coleção de fotos e reportagens sobre Sandy e Junior, meus ídolos musicais, guardados em uma pasta. A forma de ter notícias sobre a vida deles, ter conhecimento da agenda de shows e me sentir uma fã de verdade era acompanhando tudo que saía em revistas e jornais. Toda semana eu ia à banca do bairro para procurar alguma edição nova que atualizasse minha coleção. Além disso, tinha sempre uma fita cassete para gravar as músicas que eu mais gostava nas rádios e também uma fita VHS que deixava sempre “no ponto” para gravar qualquer participação nos programas de televisão. Dessa forma, poderia ouvir e assistir de novo sempre que quisesse. Era uma tarefa bem exigente acompanhar a vida deles, mas a maior emoção era quando as rádios anunciavam que iria ter show na minha cidade. Lembro de precisar ligar nas rádios para descobrir o valor dos ingressos e o endereço dos postos de venda. Além de ficar na fila horas para comprar os ingressos, ainda tinha que chegar bem mais cedo na data do evento para conseguir um bom lugar na fila e tentar encontrar um lugar mais próximo do palco para ver a performance. Minha vida de fã era emocionante, mas também era exaustiva e cara. Eu também gostava de outros programas culturais, como ir ao teatro, ao cinema, a exposições. No entanto, essas atividades também eram planejadas antecipadamente, pois precisava de uma série de informações prévias, como quais peças ou filmes estariam em cartaz, onde comprar ingressos, local e forma de deslocamento, custos com alimentação etc. Para visitar cidades e museus históricos, por exemplo, era preciso ir até a rodoviária para comprar passagensde ônibus, encontrar empresas especializadas em hospedagem na região e outros serviços. Também me lembro de chorar quando minha mãe me mudou de escola e precisei estudar no turno da manhã, o que significaria perder o desenho do 9 Tarzan que só passava às 11h, e de quando ela ficava presa no trânsito e chegava em casa triste por ter perdido o capítulo da novela das 19h, de que ela tanto gostava. Até a primeira década dos anos 2000, as mídias tradicionais de comunicação, como jornais, televisão e rádio, eram as que decidiam o que ia ao ar na programação e qual tipo de arte e entretenimento poderia ser consumido por esse ou aquele público. Essas decisões geralmente eram pautadas no estudo sobre audiência dos programas, que indicava os que atraiam o maior número de telespectadores ou ouvintes, e no patrocínio e publicidade das empresas que anunciavam seus produtos e serviços ao longo da programação, de acordo com o perfil de consumidor que gostariam de atingir. Hoje, a forma de consumir arte e entretenimento mudou consideravelmente graças às tecnologias de informação, ao advento da internet e à globalização. O acesso à internet e a popularização dos computadores e aparelhos celulares possibilitaram uma mudança na forma como as pessoas consomem informação, o que trouxe mudanças tanto culturais como socioeconômicas. Artistas e músicos mostram seu dia a dia e conversam diretamente com seus fãs em redes sociais e sites próprios; compartilham seus trabalhos em aplicativos de música e plataformas streaming; tudo pode ser negociado e pago com cartões de crédito por meio de transições bancárias on-line; programas de televisão, novelas e séries são distribuídos na internet, permitindo que as pessoas assistam em qualquer lugar e horário desde que tenham uma conexão com a internet. As mídias tradicionais não deixaram de existir, mas precisaram migrar seu conteúdo e adaptá-lo às novas formas de difusão digitais. Para atuar no segmento de produção cultural, é muito importante estar atualizado sobre as novas formas de consumo e difusão de arte e entretenimento nas mídias digitais, a fim de criar propostas e desenvolver projetos que realmente atendam às necessidades dos clientes e atendam às expectativas do público desejado. Portanto, o propósito da disciplina é apresentar os principais conceitos e as estratégias relacionadas à cultura e à comunicação em meio digital e apresentar as principais plataformas de compartilhamento de conteúdo, a fim de preparar os profissionais para atuarem nesse mercado. Espera-se que, ao final do curso, você seja capaz de compreender os impactos das mídias digitais contemporâneas 10 na difusão e no consumo de arte e entretenimento a partir de um olhar contemporâneo crítico. Compreender as dinâmicas das redes nos possibilita olhar as diferentes dinâmicas de relação entre cultura, consumo e circulação de saberes. Objetivos » Compreender aspectos da cultura da convergência e conexão. » Contextualizar o mercado de arte e entretenimento contemporâneo. » Conhecer as formas de consumo e difusão de conteúdo on-line. » Colocar em prática os conhecimentos adquiridos. 11 UNIDADE I CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA Vamos começar? Nesta unidade, iremos conhecer mais sobre os conceitos de cultura e comunicação aplicados à lógica de convergência e conexão na sociedade contemporânea. No capítulo 1, apresentamos os estudos do autor que é referência no tema por ter difundido as expressões “cultura da convergência”, “cultura da conexão” e “sociedade mediada”: Henry Jenkins. Em seguida, vamos nos aprofundar no tema conhecendo as principais teorias da comunicação e das mídias digitais que norteiam o trabalho dos comunicadores. Já no terceiro capítulo, discutiremos sobre as linguagens e estéticas próprias das redes sociais e da interação mediada. CAPÍTULO 1 Cultura da convergência Para entender sobre difusão de arte e entretenimento nas mídias digitais, é preciso compreender como essas mídias funcionam, quais são os seus paradigmas e qual a melhor maneira de utilizar seus recursos para alcançar objetivos profissionais. Ao atuarmos como produtores culturais, é importante termos clareza sobre esses conceitos, pois são eles que indicam as possibilidades de atuação que poderão ser exploradas em nossa atividade. Cultura Vamos retomar o significado de cultura. Pare um instante e relembre tudo que já leu e ouviu sobre cultura. » O que é cultura pra você? 12 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA » Já ouviu frases como “fulano não tem cultura”, “aquelas pessoas precisam de cultura”, “o governo precisa investir em cultura”? O que pensa sobre isso? » O que faz uma pessoa que trabalha com cultura? Com certeza, você já deve ter encontrado várias definições distintas para o que é cultura. Nesta disciplina, vamos considerar como cultura o complexo sistema simbólico que rege uma sociedade. Toda sociedade possui símbolos e recursos tanto materiais como imateriais. Esses símbolos são codificados por meio da linguagem e interpretados pelos sujeitos por meio das trocas de informação simbólica, a comunicação. Os sujeitos produzem discursos que atribuem sentidos e significados a esses símbolos, delimitando a conduta, as ações e identidades possíveis aos integrantes daquela sociedade. A cultura não é fixa nem imutável. Como é resultado da ação interpretativa e das negociações simbólicas entre os sujeitos, está sempre em transformação. Ninguém nasce com uma cultura, mas vai aprendendo, com seu crescimento e desenvolvimento humano, uma série de códigos comportamentais e marcadores de diferenças entre uns e outros que estabelecem as possibilidades de existência social. Quem você é, quem pode ser, como se comporta, o que acredita, o que desacredita, o que come, o que escuta, como se expressa, como ama, como se relaciona com outras pessoas, com animais e com a natureza, são exemplos de como a cultura se manifesta na sua própria vida. Você também pode perceber a cultura na forma como a comunidade à qual pertence se organiza para viver em grupo. Para que as pessoas se mantenham vivas e seguras, é estabelecida uma série de normas que regem esse grupo. Por exemplo, o código de linguagem utilizado para que as pessoas se comuniquem umas com as outras; como as decisões que afetam a vida de todos são tomadas e por quem (política); as práticas de subsistência e economia; o cuidado e a defesa do território; as práticas esportivas, de diversão e de lazer etc. A cultura é resultado das trocas e negociações simbólicas realizadas entre pessoas dentro de uma sociedade. É o que define a forma de ver e pensar o mundo. A cultura é a vida em sociedade acontecendo e, por isso mesmo, está intrinsecamente ligada ao fazer humano, à linguagem e ao discurso. O ato de nomear e atribuir significado às coisas é uma ação discursiva, ou seja, atribuímos sentidos por meio do discurso, do que pensamos e falamos sobre algo ou alguém. Essa é uma ação política que envolve disputa de poder, pois os sujeitos vivendo em grupo negociam e disputam o direito, ou poder, de nomear e atribuir significados e ditar as normas que regem aquela sociedade. 13 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I No dicionário etimológico, veremos que a palavra cultura é derivada da palavra em latim colere, que significava “cultivar as plantas”. Estava relacionada à ação de plantar e cultivar a terra. Com o passar do tempo, a palavra foi ganhando outros sentidos e utilizações. A professora Vanessa Rocha (2018) relembra que a palavra cultura passou a ser usada com mais frequência na Europa durante o século XIX, com as grandes navegações. Naquela época, o termo foi ganhando o sentido atribuído pelos antropólogos, que eram pesquisadores europeus viajando para os lugares que estavam sendo descobertos. Eles desenvolviam um método de pesquisa conhecido como “etnografia”, que consistia emviver durante um tempo próximo a determinados grupos observando suas interações e organização da vida. A partir daí, eles passavam a relatar o modo de vida daquelas pessoas que consideravam como “selvagens”, como “outros”, a fim de destacar as diferenças entre o modo de viver desses grupos recém-descobertos e o modo de viver dos europeus, considerados os “normais”. Godoy e Santos (2014, p. 22) fizeram um levantamento sobre os principais autores que conceituam cultura e destacaram que o primeiro entendimento sobre esse termo foi uma evolução do pensamento de Tylor, Boas e Malinowski. Essa conceituação foi organizada pelo pesquisador Thompson na seguinte frase: “A cultura de um grupo ou sociedade é o conjunto de crenças, costumes, ideias e valores, bem como os artefatos, objetos e instrumentos materiais, que são adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de um grupo ou sociedade”. Depois de analisar vários estudos, Godoy e Santos (2014) chegaram à conclusão de que a cultura é resultado da ação humana de atribuir significado aos símbolos que regem a sociedade, e que tem como função fornecer aos homens recursos para que a vida seja mais duradoura e segura. Stuart Hall (1997), pesquisador mais contemporâneo dos estudos culturais, trata a cultura como resultado de um complexo sistema de significações simbólicas que compõe a vida social. Por meio da linguagem e do discurso produzido sobre o mundo, a cultura de uma sociedade fornece as bases para transformar e interpretar as ações dos indivíduos. Por essa razão, as perguntas que fizemos no início dessa discussão não têm uma resposta certa, são apenas provocações. Os significados que você atribui aos 14 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA símbolos, a sua forma de ver e sentir no mundo não é a única possível, mas é aquela que fez sentido no seu processo de identificação cultural. Todos nós temos cultura, porque ela é resultado desse complexo sistema simbólico que vamos apreendendo ao longo da vida, e a cultura só faz sentido dentro daquele sistema próprio de determinado grupo. As manifestações artísticas como textos, obras de artes, fotografias, vídeos, peças artesanais, pinturas, músicas, games são formas de expressão da cultura de um povo. É por meio dessas atividades que os sistemas simbólicos são produzidos, transmitidos e recebidos pelos sujeitos dentro de uma sociedade. Assim, quando falamos em investimento em cultura ou trabalhadores da cultura, estamos falando sobre essas atividades humanas associadas à expressão simbólica da cultura de uma sociedade. O que as pessoas compreendem como sendo arte e entretenimento e a maneira como consomem essas informações é resultado de um processo cultural. Os recursos materiais e imateriais, até então disponíveis na minha adolescência, estabeleciam a forma de organização e comunicação da sociedade à qual pertenço. Naquela época, a cultura definia a forma como consumíamos informação por meio das tecnologias disponíveis. O conhecimento compartilhado até aquele momento apresentava a televisão, o rádio e os impressos, por exemplo, como canais de comunicação de massa, o cinema como espaço para ver filmes em estreia, os teatros como locais de apresentação lúdica de histórias, as escolas físicas como lugares de construção dos saberes etc. Chamamos de meios de comunicação esses canais que são mediadores da interação entre grupos de pessoas. No entanto, os saberes e as tecnologias foram evoluindo e, consequentemente, os códigos e processos culturais mudaram também. A forma de consumir informação, de se relacionar uns com os outros e de compartilhar conhecimento não é mais a mesma de antes, pois os canais de mediação dessa interação humana se transformaram. Hoje, os processos de interação já são mediados por máquinas e aparelhos que reproduzem um ambiente virtual, e é essa mudança cultural o foco do nosso estudo neste capítulo. 15 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I Cultura da convergência O principal autor sobre esse tema se chama Henry Jenkins. Ele é um dos pesquisadores mais influentes na atualidade, e seus estudos são sempre lembrados em provas de concurso e textos acadêmicos. Henry Jenkins nasceu em Atlanta, nos EUA, tem 62 anos de idade e é professor de Comunicação, Jornalismo e Artes Cinematográficas na Universidade do Sul da Califórnia desde 2009. Durante os anos de 1993 e 2009, ele foi diretor do Programa de Estudos de Mídia Comparada do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e já tem 14 livros publicados. Um deles se tornou best-seller nos estudos de comunicação: “Cultura da Convergência” (2006). A inovação desse livro se deve ao termo, cunhado pelo autor, que dá nome ao livro. Durante a época histórica de avanços tecnológicos, Jenkins começou a refletir sobre como essas mudanças impactariam nos processos culturais e nas formas de produção dos canais de comunicação da mídia tradicional e das mídias corporativas. Ele previu uma transformação midiática baseada na convergência, em que as várias formas midiáticas antigas colidiriam umas com as outras em uma nova forma de relacionamento entre produtores de informação e consumidores de informação, negociando de maneiras imprevisíveis. Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. [...] No mundo das convergências das mídias, toda história importante é contada, toda marca é vendida e todo consumidor é cortejado por múltiplas plataformas de mídia (JENKINS, 2009, p. 29). Ao abordar a questão da convergência, Jenkins não se referia às mudanças tecnológicas que permitiram agrupar várias funções em um único aparelho. É comum pensarmos logo no celular e em sua capacidade de armazenar várias funcionalidades, tais como a capacidade de fazer ligações, enviar mensagens off-line e on-line, fotografar e filmar, editar vídeos etc., porém ele vai além desse senso comum, propondo que a convergência significa, na verdade, uma transformação cultural na forma como as pessoas consomem informações e estabelecem conexões entre conteúdos difundidos em mídias de naturezas distintas. “A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros” (JENKINS, 2009, p. 30). 16 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA Para entender a cultura da convergência, Jenkins sugeriu o estudo de três termos-chaves: convergência, inteligência coletiva e participação. Vamos explicar cada uma delas, de acordo com o autor. Convergência Na convergência, o conteúdo é compartilhado por meio de múltiplas plataformas midiáticas. Para exemplificar, Jenkins (2009) relembra o caso de uma imagem editada no Photoshop com a fotografia de Bin Laden e de um personagem de um desenho de animação. Ele apresenta o circuito de compartilhamento que a imagem percorreu. Primeiro, foi publicada em um site da internet como uma brincadeira; depois, em um país do Oriente Médio, uma pessoa fez uma busca por imagens do Bin Laden para imprimir em camisetas, cartazes e pôsteres durante manifestação contra ação dos EUA; pessoas que não conheciam o personagem compram porque acham interessante e passam a usar; repórteres da CNN filmam protestos em que pessoas levantam essas imagens em cartazes; pessoas em diversos países assistem na televisão as matérias jornalísticas e veem a imagem. Com isso, ele quer dizer que um conteúdo que antes seria transmitido apenas por uma determinada mídia, agora tem a possibilidade de fluir, de ser distribuído em diversos canais distintos. Se fosse, por exemplo, exibido em um jornal na televisão, esse conteúdo ficaria restrito ao alcance daquele sinal e aos telespectadores que estivessemassistindo no momento. Com a convergência, o conteúdo pode ser replicado de inúmeras formas nos mais variados meios de comunicação (no exemplo do autor: site, gráfica, cartazes, camisetas, pôsteres, jornais de alcance global etc.), que podem ser acessados por um número infinitamente maior de pessoas, de múltiplas formas, em diversos lugares e tempos distintos. Esse termo revela um aspecto da comunicação que entra em transformação, pois o público passa a poder se apropriar do conteúdo, modificá-lo e redistribuí-lo de várias maneiras. É o que os estudiosos indicam como um processo de democratização da comunicação, em que mais pessoas têm acesso a mais informações e tornam-se também produtoras de conteúdo, porém Jenkins observa essa democratização com crítica, pois o que ele vê na prática é que essas mudanças não são conduzidas pelo público, e, sim, pelos grupos detentores de poder econômico. 17 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I A indústria midiática está adotando a cultura da convergência por várias razões: estratégias baseadas na convergência exploram as vantagens dos conglomerados; a convergência cria múltiplas formas de vender conteúdos aos consumidores; a convergência consolida a fidelidade do consumidor, numa época em que a fragmentação do mercado e o aumento da troca de arquivos ameaçam os modos antigos de fazer negócios. Em alguns casos, a convergência está sendo estimulada pelas corporações como um modo de moldar o comportamento do consumidor. Em outros, a convergência está sendo estimulada pelos consumidores, que exigem que as empresas de mídia sejam mais sensíveis a seus gostos e interesses (JENKINS, 2009, p. 326). A convergência, portanto, é uma nova forma de distribuição e compartilhamento de conteúdos. Essa mudança cultural desencadeia uma série de mudanças na forma como a indústria da mídia atua e vende seus produtos e na forma como as pessoas pensam e se relacionam com os canais de comunicação. Inteligência coletiva A cultura da convergência também criou uma nova maneira de compreender os acontecimentos da vida e a construção de conhecimento. Segundo Jenkins (2009), com esse novo modelo midiático, as pessoas recebem mais informações do que são capazes de memorizar, acessam informações fragmentadas em mídias diversas e, a partir disso, constroem sua opinião e seu próprio sistema simbólico de significação. Para o autor, esse movimento promove maior interação interpessoal em que uns conversam com outros sobre os assuntos midiáticos. Dessa forma, os saberes são compartilhados e torna-se possível unir habilidades e conhecimentos para propósitos em comum. Essa construção conjunta é o que ele chama de inteligência coletiva, uma forma de poder midiático alternativo. “Nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades” (JENKINS, 2009, p. 30). Como exemplo, o autor cita um reality show americano chamado Surivor, em que 16 participantes precisam duelar para sobreviver na competição e concorrer ao prêmio de 1 milhão de dólares. O programa tem um alto índice de audiência e repercussão, os fãs ficam alertas e buscam todo tipo de informação a fim de tentar descobrir antecipadamente o que acontece com os participantes. Eles analisam cada imagem, 18 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA buscam informações de satélites que fotografam o lugar onde os participantes estão confinados e trocam informações para desvendar mais informações que ainda não foram reveladas ao público, os chamados spoilers. Individualmente, os fãs não têm acesso ao quadro todo. Mas, reunindo as habilidades e talentos de cada um, eles conseguem um número maior de dados e análises e constroem juntos uma “comunidade de conhecimento”, como denomina Pierre Levy (citado em JENKINS, 2009, p. 58). Somando os saberes, as pessoas acessam uma inteligência coletiva que ajuda na resolução de problemas. Nesse caso, eles queriam desvendar o mistério do reality show, mas quantas outras soluções podem ser criadas de forma coletiva para problemas sociais? Participação Na era da convergência, também surge outro aspecto relacional: a cultura participativa. Henri Jenkins destaca aqui as possibilidades de participação que as novas mídias digitais oferecem ao público consumidor. Primeiramente, ele faz uma diferenciação entre os termos “interação” e “participação”. Chamamos de interatividade a forma como nos relacionamos com o conteúdo por meio dos aparelhos tecnológicos. Por exemplo, usando o computador, é possível interagir com os dados e informações recebendo feedbacks que moldam a experiência do usuário a cada clique. Já a participação é mais do que interagir com o conteúdo pronto disponibilizado pelos canais midiáticos, é tornar-se o próprio produtor desse conteúdo. O pesquisador cita as fanfics, que são histórias escritas por leitores fãs de determinadas séries de livros e que não ficam satisfeitos com os finais das tramas. Eles se reúnem em fandons e passam a escrever, de forma amadora, um novo final, uma nova história para aqueles personagens, ou ainda os fãs de filmes e programas televisivos que se tornam os próprios cineastas e produtores, filmando e editando novas cenas, criando outros roteiros e compartilhando nas mídias digitais. A diferença é que esse modo de participação faz com que o público consumidor crie suas próprias regras e não fique mais sob domínio do que é imposto pelas mídias tradicionais. Porém, essa participação ainda revela um traço de exclusão social porque existem condições de produção e participação diferentes para cada grupo social. “Corporações ainda exercem maior poder do que qualquer consumidor individual, ou mesmo um conjunto de consumidores. E alguns consumidores têm mais habilidades para participar dessa cultura emergente do que outros” (JENKINS, 2009, p. 30). 19 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I Outros conceitos propostos por Jenkins » Economia afetiva – Mudança dos investimentos com publicidade e propaganda. As marcas começam a deixar de lado os comerciais pagos de 30 segundos na programação da TV e passam a criar estratégias de relacionamento com seus consumidores, que passam a ser chamados lovemarks. Nessa lógica, a comunicação é voltada para as redes sociais numa perspectiva mais afetiva e de proximidade com seus consumidores, que são participativos e comprometem-se de maneira emocional com a marca escolhida. Os conteúdos publicitários assumem linguagens mais fluidas, de forma que não é mais possível diferenciar os limites entre o que pode ser considerado entretenimento ou publicidade. » Narrativa transmídia – É uma história contada por diferentes plataformas midiáticas, sendo que o conteúdo nunca é igual, mas oferece uma continuidade da história principal. Com suas potencialidades específicas, cada meio conta essa história usando o melhor de seus recursos para atrair públicos distintos, revelando informações atraentes e compõem o todo da narrativa. Essa é uma forma de oferecer experiências diferenciadas da mesma história em formatos e acessos distintos, fazendo com que as mídias diferentes atraiam grupos de consumidores diferentes. Como exemplo, o autor cita o filme Matrix, que foi exibido no cinema no primeiro momento, mas depois passou a expandir a narrativa para quadrinhos, games e outras mídias, alcançando números inéditos de bilheteria e lucro. A cultura da convergência é uma nova forma de atribuição simbólica de sentidos, que influencia o modo como interpretamos os acontecimentos no mundo, o modo como nos relacionamos e nos conectamos uns com os outros e com o ambiente em que vivemos, a forma como construímos e compartilhamos saberes, como produzimos e distribuímos arte e entretenimento etc. É uma nova forma de ser e estar no mundo. Henry Jenkins, referência nos estudos sobre convergência midiática, defineque a convergência representa uma transformação no modo como percebemos nosso relacionamento com as mídias. Por meio da cultura da convergência, desenvolvemos novos conhecimentos e habilidades que alteram a lógica da indústria midiática e conferem poder aos consumidores (inteligência coletiva e cultura participativa). 20 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA Além disso, a indústria midiática passa por uma transformação na forma como produz e compartilha conteúdos, com a mudança no formato do que era considerado como publicidade e na forma como as histórias são contadas para o público. O livro Cultura da Convergência foi publicado em 2009 e ainda é referência nos estudos culturais sobre mídias, porque apresenta conceitos que dialogam com a realidade atual. Recentemente, Henry Jenkins (2016) colaborou na publicação “Cultura da conexão”, que acrescenta um novo conceito a ser estudado, a noção de mídia propagável. Os conteúdos midiáticos podem ser propagados com a participação significativa do público consumidor, que faz o papel de produtor, promotor e distribuidor desse conteúdo nas diversas mídias existentes. O autor também publicou o livro By Any Media Necessary (2016) que aborda a participação política de pessoas comuns por meio das redes sociais, bem como a mobilização coletiva por questões de ordem popular. Vale a pena conferir! » Como você se relaciona com as mídias? » A cultura da convergência se aplica ao seu contexto cultural? » Os exemplos citados pelo autor aconteceram nos EUA. Que casos poderíamos citar no Brasil? » As transformações midiáticas trouxeram melhorias para a vida dos brasileiros ou oferecem mais complicações? ROCHA, Vanessa. Introdução à produção cultural. 2018. JENKINS, Henry. Cultura da convergência (2009). Rio de Janeiro: Editora Aleph. JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Cultura da conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável. Aleph, 2015. GODOY, Elenilton Vieira; SANTOS, Vinício de Macedo. Um olhar sobre a cultura. Educação em Revista, 2014, vol. 30, no 3, pp. 15-41. JENKINS, Henry; KALINKE, Priscila; ROCHA, Anderson. Convergência e conexão são o que impulsiona a mídia agora. Intercom-Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, 2016, vol. 39, no 1. 21 CAPÍTULO 2 Comunicação e teorias das mídias digitais Uma teoria é um conhecimento que permite analisar e compreender algum fenômeno por meio da observação no método científico. A comunicação, como campo de conhecimento e pesquisa, foi se desenvolvendo e mudando suas práticas ao longo do tempo graças à observação de estudiosos que indicavam criticamente as possíveis causas e desdobramentos dos fenômenos sociais. Assim também acontece no campo da comunicação no meio virtual, com a ascensão das mídias digitais e os avanços tecnológicos que mudaram a forma como as pessoas se relacionam. Neste capítulo, vamos conhecer as principais teorias e pesquisas realizadas sobre as mídias digitais para que possamos analisar criticamente nosso trabalho e posicionamento como profissionais. Comunicação é processo A melhor e mais bonita habilidade do ser humano é, sem dúvida, a comunicação. Ter a capacidade de interagir com os outros homo sapiens, com os animais, com a natureza, com os objetos e equipamentos tecnológicos é genial demais. Podemos fazer tudo, expressar qualquer coisa, entender o outro e nos fazer entender, crescer, aprender, evoluir, apenas utilizando o hábito de nos comunicar. Quando um bebê nasce, ele não sabe a linguagem de códigos que os pais utilizam para se comunicar. Aos poucos, ele descobre que, quando chora, alguém o coloca no colo, ou tentam colocar comida em sua boca. Então começa a desenvolver um repertório de ações para manipular a ação do outro, a fim de sobreviver. Ele se comunica por necessidade de que façam algo que ele não consegue fazer por si mesmo, e nós crescemos com esse aprendizado. É a lógica da ação e reação, estímulo e resposta tão bem apresentada pelo pesquisador David K. Berlo (1972). Mas, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, comunicar não é apenas sair por aí falando. Ser uma pessoa que fala em público sem medo, que gosta de expressar a própria opinião nos canais de comunicação, não a torna uma boa comunicadora. Comunicar é diferente de informar. 22 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA Informar é apenas transmitir um determinado conteúdo a alguém. Informar-se sobre algo é apenas absorver o conteúdo interessado. Informar não significa transmitir sentido e compreensão do conteúdo ao destinatário. Quem recebe uma informação pode simplesmente descartá-la do cérebro sem que esta faça nenhuma alteração; é algo rápido. Comunicar, por sua vez, é dar sentido ao conteúdo absorvido e interagir ativamente com a mensagem e seu emissor. Após receber uma informação é que o processo de significação pode se iniciar. Vejamos um modelo antigo proposto por Shannon e Weaver em 1949, que tentava explicar o processo de comunicação na Teoria da Informação: Emissor >> codifica >> mensagem>> canal >> decodifica >> receptor Esse modelo foi utilizado pelos veículos de comunicação de massa durante muito tempo, pois se acreditava que bastava o emissor codificar a mensagem que queria transmitir a alguém em uma linguagem (por exemplo, na língua portuguesa), escolher um canal para transmitir (ex.: rádio), e enviar para o receptor, que, por sua vez, recebe a mensagem e a decodifica, ou seja, entende o que o emissor quis dizer. Muita gente acreditava, por exemplo, que bastava uma informação ser transmitida no programa de rádio ou na televisão que todos (a massa) receberiam e agiriam exatamente de acordo com o esperado por quem enviou a mensagem. Vamos lembrar das propagandas mais famosas: “Compre batom, compre batom!”; “Hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelim”. Apesar de muito persuasivas, essas mensagens fizeram com que todos sem exceção comprassem batom ou um sanduíche do McDonalds? No entanto, com mais pesquisadores observando os processos comunicacionais e a ação das pessoas em uma interação, esse modelo foi se tornando obsoleto. Outras teorias foram criadas para ajudar os profissionais de comunicação e publicidade a se comunicarem melhor com seus públicos e alcançarem seus objetivos. Por isso, quando eu digo que, ao receber uma informação, o receptor pode dar significado e sentido à mensagem, é porque as pessoas em um processo de interação escolhem se estão abertas a participar ou não. A comunicação sempre é um processo. Para que um emissor envie uma mensagem a alguém, ele precisa ter claro qual é a sua intenção. É como se ele fizesse algumas perguntas antes de formular o conteúdo de sua mensagem: » Por que estou dizendo isso? 23 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I » Para quem estou dizendo isso? » Com qual objetivo? » O que eu quero que o outro faça com essa informação? Com a clareza do objetivo de enviar uma mensagem a alguém é que se torna possível codificar a informação (ou seja, escolher a linguagem adequada para que o emissor compreenda o seu conteúdo) e definir o melhor canal (o meio que será utilizado para transmitir o conteúdo ao receptor) a fim de iniciar o processo de interação. E isso reflete na postura do emissor também, pois ele não só envia uma mensagem, como também fica atento aos sinais de que o receptor assimilou o conteúdo, entendeu sua intenção e respondeu com a ação esperada, pois só dessa maneira será possível identificar se algo atrapalhou a compreensão e se o receptor realizou ou não a ação esperada. Aqui é que a mágica da comunicação acontece. As pessoas não são obrigadas a reagir da maneira esperada, a resposta delas é que provoca o emissor a pensar como se expressar melhor, ou ampliar o seu repertório de informações com algo inesperado que recebeu de volta. É enriquecedor. Ninguém assimila a mesmainformação da mesma maneira, porque nossos organismos biológicos são diferentes, nossas histórias de vida são distintas, nosso mapa mental e a forma como interpretamos e significamos as coisas são singulares, a cultura é diversa. E isso basta para provocar um caos total em qualquer sistema de comunicação. Porém, o ser humano tem a capacidade de ter empatia pelos demais, curiosidade sobre o diferente e desconhecido, interesse pelo comportamento e pensamento alheio. Nós temos essa capacidade, nós podemos abrir a nossa caixinha de informações armazenadas até agora e compartilhar com as caixinhas dos outros, e ganhar novas informações para colocar em nossa própria caixinha também. O melhor disso tudo é que você não perde nada ao compartilhar conteúdo com alguém. E sempre há espaço em sua caixa para receber algo novo. O receptor tem seu próprio sistema de significação e, quando receber sua mensagem, vai decodificá-la ao seu modo, vai interpretar e dar sentido a partir das coisas que tem, das experiências que viveu, das pessoas que conheceu, do contexto histórico, econômico, cultural e social em que cresceu e dos valores que concebeu, e vai te devolver essa compreensão em forma de reação, que os estudiosos chamam de feedback. 24 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA Feedback é a mensagem enviada de volta ao emissor, contendo a forma como foi afetado pela informação, a maneira como pretende agir a partir dessa compreensão, e algo a mais que deverá ser decodificado e significado de novo pelo emissor. Magicamente, o emissor se transforma em receptor dessa nova mensagem. É um ciclo que não tem fim. Hora você vai estar no lugar de emissor de uma mensagem, hora vai estar no lugar de receptor, e é importante ter consciência desse processo, para que possa ser um bom emissor ou um bom receptor, dependendo da necessidade. Acredito que agora ficou mais fácil perceber que comunicar é um processo, que exige disponibilidade de todos os envolvidos, desejo e abertura de coração. Se você não está interessado na resposta do outro, no que ele tem a acrescentar à sua informação primária, não vai haver comunicação. Você quer que ele entenda sua intenção e aja como espera, e ponto final. Não há discussão, mas também não há comunicação. Com a falta de tempo para interagir integralmente com o outro, acabamos nos tornando ditadores informacionais. Ditamos ordens, ditamos sentimentos, ditamos a maneira como queremos que o outro pense, fale e aja. Uma vez li uma frase, que não me lembro de quem era, mas que nunca esqueci: “O verdadeiro problema da comunicação é que não escutamos para compreender, e sim para responder”. E eu acredito que é mesmo isso. Estamos tão preocupados em responder, em nos posicionar, em garantir que nossa opinião seja aceita e seja certa, em manter a razão e a perfeição, que não prestamos a devida atenção ao que o outro tem a nos dizer. Gosto de pensar que, quando o assunto é comunicação (interagir com as pessoas), não existe certo ou errado. Ninguém nunca vai estar com a razão durante uma conversa ou discussão. Todos têm pontos de vista, e, se você prestou atenção nos parágrafos anteriores, já sabe disso. Nunca vamos ter o mesmo ponto de vista, pois se trata de física: dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço; é impossível. A minha visão está condicionada ao lugar que eu ocupo no espaço. Para ver como o outro, eu preciso sair do meu lugar e ir para o lugar do outro, que por sua vez, precisa sair do lugar dele para ceder-me aquele espaço, e consequentemente, ocupar outro espaço também. Percebe como é complexo? Por isso, não basta acreditar que o problema é do outro, que ele é burro, ou que não faz esforço para me entender. Precisamos estar abertos um ao outro, comunicar é transformar-se o tempo inteiro. Então é necessário ter interesse de 25 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I verdade no que o outro tem para nos acrescentar. Se realmente nos colocarmos no lugar de comunicadores, assumindo nossa capacidade natural e linda, vamos receber o tempo inteiro peças que podemos escolher onde vamos colocar para compor o nosso cenário particular. Em contrapartida, vamos oferecer peças para que o outro também decida o que fazer com elas. A comunicação, por ser um processo social humano, muda o tempo todo. Existem milhares de formas de se comunicar e diversos canais para transmitir mensagens uns aos outros. O processo de comunicação muda conforme os seres humanos mudam e suas tecnologias mudam. Por isso, os profissionais que atuam com comunicação precisam estar atentos e desenvolvendo novas pesquisas para acompanhar a evolução da sociedade e da forma de se comunicarem. Existem diversas linhas de pensamento e teorias que buscam explicar o processo de comunicação, e é sempre bom buscar ler e conhecer o que os pesquisadores têm observado cientificamente. A nós, agora interessa saber o que há de mais atual nas pesquisas, que são os estudos sobre comunicação em mídias digitais. » Você se considera um bom comunicador? » O que você costuma divulgar para um grande número de pessoas? Elas reagem da maneira esperada? » As pessoas com quem você convive diariamente entendem o que você sente e fala? Elas colocam em prática o que você pede? » Você viveu alguma situação em que não conseguiu se fazer entender com alguém que era muito importante e isso gerou um desentendimento? Como entender o processo de comunicação poderia facilitar a resolução desse conflito? Mídias digitais Atualmente, é comum ouvir pessoas falarem em grande mídia e mídias digitais. O que isso significa? Grande mídia ou mídias tradicionais são aqueles veículos de comunicação de massa de origem analógica que precisam de um material para existir. Exemplo: televisão, rádio, jornal impresso, revista, fotografia, cinema etc. Quando nos referimos às mídias digitais, estamos falando nos novos meios de comunicação que não precisam de material para existir. Eles são chamados digitais 26 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA porque existem na realidade virtual, feita por programação de computador, que transforma as informações (sejam elas texto, áudio, imagem, audiovisual etc.) em dígitos 0 ou 1, os chamados bits. Quando lemos um texto no computador, estamos lendo uma informação que foi codificada em dígitos 0 e 1 e decodificada para que o usuário consiga compreendê-la por meio de aparelhos eletrônicos digitais (computador, celular, tablets etc.). O pesquisador Luís Mauro Sá Martino (2015, p. 11) selecionou alguns termos característicos que ajudam a compreender o que são as mídias digitais. Observe: Quadro 1. Conceitos-chave para entender as mídias digitais. Conceito Definição inicial Barreira digital Diferenças de acesso às tecnologias e mídias digitais, bem como à cultura desenvolvida nesses ambientes, vinculadas a problemas sociais e econômicos. Ciberespaço Espaço de interação criado no fluxo de dados digitais em redes de computadores; virtual por não ser localizável no espaço, mas real em suas ações e efeitos. Convergência Integração entre computadores, meios de comunicação e redes digitais, bem como de produtos, serviços e meios na internet. Cultura participativa Potencialidade de qualquer indivíduo se tornar se tornar um produtor de cultura, seja recriando conteúdos já existentes, seja produzindo conteúdos inéditos. Inteligência coletiva Possibilidade aberta pelas tecnologias de rede de aumentar o conhecimento produzido de maneira social e coletiva. Interatividade Interferência e interação entre usuários, ou usuários, programas e conteúdo, em diferentes níveis e formas, nos sistemas de comunicação digital em rede. Interface A operação das mídias digitais acontece a partir de pontos de contato “amigáveis” entre dispositivos e usuários, moldados a partir de referências culturais anteriores. Segurança e vigilância Possibilidade de identificação de dados gerados nas mídias digitais em rede,ultrapassando os limites público/particular e redefinindo a noção de “privacidade”. Ubiquidade Presença, em todos os lugares, de mídias digitais conectadas em rede, estabelecendo conexões em qualquer espaço e tempo. Velocidade A rapidez de conexão de dados nas mídias digitais se articula com a aceleração de inúmeras atividades, processos e acontecimentos na vida cotidiana. Virtualidade Dados das mídias digitais existem de maneira independente de ambientes físicos, podendo se desenvolver livres, a princípio, de qualquer barreira desse tipo. Fonte: Martino, 2015. As pessoas que começaram a usar e dominar a linguagem das mídias digitais de forma profissional acabaram criando novas profissões. Você deve conhecer ou já ter ouvido falar em youtuber, influenciador digital, blogueira, ou ainda em termos como Adwords, SEO, palavras-chave, impulsionamento e publi. Todos esses termos fazem parte do universo digital, e existem diversos estudos sobre cada um deles. Vamos nos aprofundar no tema Redes Sociais, que são as principais mídias utilizadas hoje para divulgação. Luís Martino (2015) realizou um levantamento sobre os principais conceitos estudados em torno do tema Redes Sociais que nos ajudam a compreender a lógica 27 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I de funcionamento dessas redes. O primeiro ponto destacado por esse pesquisador é a conexão. Os laços criados entre pessoas são chamados de conexão. Essas conexões são fluidas. Pessoas se conectam e se desconectam a todo instante, sem que haja nenhum problema. Na família, você não consegue romper o vínculo com os pais facilmente, mas, na rede social, você pode seguir, deixar de seguir ou até mesmo bloquear e desbloquear instantaneamente quem quer que seja (flexibilidade). O relacionamento entre duas pessoas influencia na conexão de outras pessoas. Se você se conecta comigo, as redes sociais começaram a sugerir outros pontos de conexão com meus amigos, páginas do meu interesse, conteúdos que eu curto etc. É o que o autor chama de “uma relação entre relações” (articulação). Martino (2015) também destaca: » Redes Distributivas de comunicação – Paul Baran (1962): a rede é feita de múltiplas conexões. Cada ponto de conexão é considerado um nó. Cada nó está conectado a vários outros nós. Isso quer dizer que as redes sociais permitem a criação de vários caminhos para que uma mesma informação circule. Se um caminho for inutilizado, os outros ainda continuam funcionando. Por isso, é mais fácil uma informação chegar a milhares de pessoas ao mesmo tempo, e é mais difícil localizar a fonte da informação. » A força dos laços fracos – Mark Granovetter (1973): a conexão entre os indivíduos se chama “laço social”. Existem três tipos de laços: 1) fortes (o que estabelecemos com as pessoas mais próximas e com as quais mais convivemos); 2) fracos (geralmente são os de maior quantidade, representam os conhecidos e pessoas que estão mais distantes de nós); e 3) ausentes. As informações circulam com maior facilidade entre laços fracos, porque o número é bem maior do que os laços fortes. Os memes e virais existem por essa característica de circulação entre laços fracos, que propagam os dados mesmo que eles sejam antigos, porque não estão tão próximos da fonte, e o assunto ganha ares de novidade. » Capital social e poder – Pierre Mercklé (2011): capital social representa a rede de relações sociais que uma pessoa possui. Uma pessoa tem mais poder na medida em que se conecta com mais pessoas e que estejam mais longe umas das outras, ou seja, quanto mais e mais longe suas conexões, mais poder. Além disso, essas 28 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA conexões são combinatórias, ou seja, quando você se conecta com uma pessoa, não está somando 1 ponto de conexão, mas está criando uma multiplicação de possíveis novas conexões. O poder das redes sociais está na possibilidade infinita de estabelecer conexões. » Difusão – Sacks e Graves (2012): o potencial de difusão de uma mensagem está associado à velocidade com que se propaga e ao alcance dentro das redes. As mensagens com conteúdo complexo, que levam mais tempo para serem entendidas, tem uma difusão menor entre as que levam mais tempo para obterem resposta. Mensagens de rápido entendimento e com menos informações tendem a serem difundidas com mais velocidade e para um número maior de pessoas. BERLO, David K. O processo da comunicação: teoria e prática. São Paulo, 1972. HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. In: SILVA, Juremir Machado da; RÜDIGER, Francisco; FERREIRA, Giovandro Marcus. Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 2008. pp. 309-309. MARTINO, Luís. Teoria das Mídias Digitais: linguagens, ambientes; redes. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2015. MERCKLÉ, Pierre. Sociologie ês réseaux sociaux. La découverte, 2011. SACKS, Michael Alan; GRAVES, Nikki. How many “friends” do you need? Teaching students how to network using social media. Business Communication Quarterly, 2012, vol. 75, no 1, pp. 80-88. 29 CAPÍTULO 3 Linguagens, estéticas e algoritmos Os primeiros capítulos desta unidade nos ajudaram a compreender o contexto teórico que envolve a discussão sobre cultura, comunicação e convergência nas mídias digitais. Agora, vamos entender sobre as características de linguagem e estética das informações, algumas funcionalidades e a lógica dos algoritmos, para que se torne mais fácil colocar em prática depois. Linguagens e estéticas A primeira coisa que devemos ter em mente ao lidar com mídias digitais é que cada mídia tem uma lógica própria de funcionamento. A linguagem e a estética mudam de acordo com a mídia que se está usando, bem como com o público que está participando das interações. De maneira geral, todas as mídias digitais oferecem a possibilidade de utilização múltipla de recursos em texto e audiovisual, mas a forma estética de apresentação também difere. O que isso quer dizer na prática? Quer dizer que, antes de pensar em uma publicação em qualquer plataforma digital, é necessário compreender como esta funciona; qual o perfil do público que participa; quais as melhores formas de envolver as pessoas com sua mensagem; como adequar sua linguagem e estética para que se tornem atrativas o máximo possível. Por exemplo, vamos nos lembrar das mídias digitais mais utilizadas na atualidade: Twitter, Facebook, Instagram, blogs, sites de notícias, Youtube, games on-line, Spotify, WhatsApp, Netflix. Você deve ter usado todas ou, pelo menos, a maioria delas. A forma como interage nessas plataformas digitais é a mesma? Imagine que você vai fazer a divulgação de um show da dupla “Felipe e Mariano” e deve utilizar as mídias digitais. Como você faria? Se pensou em criar uma arte com a foto da dupla e informações do show, e compartilhar essa mesma imagem em todas as redes sociais e mídias disponíveis, pare e pense outra vez. O Twitter é uma rede social mais utilizada para discussões e atualizações sobre o que acontece no mundo. Ficou conhecida por sua característica de textos curtos, no máximo 140 caracteres (hoje em dia esse número aumentou para 30 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA 280), e também por ser a rede de maior disseminação dos “memes”. Memes são imagens, textos ou vídeos editados por usuários da internet, geralmente com tom de humor, e propagados milhares de vezes. Cada vez que um meme é compartilhado, ele pode ser editado e reeditado ganhando novos sentidos. Vejamos um exemplo. Esta imagem foi tirada pelo fotógrafo Antonio Guillem em 2015 e compartilhada num site de imagens para download. A figura do “namorado distraído” foi editada e reeditada várias vezes com legendas curtas com o intuito de representar situações de indecisão na vida das pessoas desde então. Até hoje ela é compartilhada. Figura 1. Fotografia original “Namorado Distraído”. Fonte: Guillem, 2015.Figura 2. Meme “Namorado Distraído” 1. Fonte: https://www.imagemwhats.com.br/meme-namorado-distraido-agindo-por-impulso/. 31 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I Figura 3. Meme “Namorado Distraído” 2. Fonte: Estadão, 2019. Semelhante ao meme também existem os virais. A diferença é que um viral geralmente é compartilhado milhares de vezes em seu formato original, mas nada impede que um viral possa ser editado após o compartilhamento e acabar virando um meme. Esse tipo de linguagem é popular entre os adeptos da rede social, mas é importante se atentar para o conteúdo. Um meme só faz sentido para determinados públicos que tenham as referências culturais prévias para compreender a “piada”. Já o Facebook se tornou popular por ser uma espécie de álbum pessoal, em que os usuários podem compartilhar suas experiências, fotos e vídeos, e estabelecer diversos tipos de conexão. Atuando como produtores culturais, é importante conhecer alguns recursos que o Facebook oferece que são muito úteis na divulgação de conteúdos. Essa mídia digital permite a criação de eventos, que são úteis para que as pessoas tenham informações mais detalhadas sobre as atividades, informem seu interesse em participar, convidem outros amigos ajudando a informação a se propagar e ainda compartilhem imagens e experiências. Os usuários também podem criar grupos privados de discussão, em que, para participar, é preciso que a pessoa receba um convite ou autorização dos administradores para entrar. Também é possível criar Fanpages, que são páginas profissionais voltadas para negócios que oferecem uma série de dados para análise sobre os seguidores, como idade, gênero, localidade, tipo de interação com o conteúdo etc. No geral, as pessoas seguem as páginas que tenham a ver com seus valores e gostos pessoais, serviços ou produtos que sejam de seu interesse, influencers digitais, celebridades e artistas. 32 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA Nessa mídia, as pessoas também conseguem publicar textos maiores, sem limite de caracteres como no Twitter. Essa funcionalidade ficou muito famosa porque democratizou a opinião, qualquer pessoa com uma conta no Facebook pode publicar um “textão” posicionando-se sobre algum fato ou tema que esteja em discussão pública, contribuindo para a problematização e busca de solução. Além disso, o Facebook se tornou uma ferramenta política, pois muitas manifestações e atividades de movimentos sociais passaram a ser agendados por meio dos “Eventos”, ajudando a mobilizar e reunir milhares de pessoas pelo país em datas e horários marcados para realização de protestos ou reivindicações ao poder público. Por falar nisso, uma das funcionalidades adotadas pelo Facebook, o stories, se popularizou e é mais utilizada no Instagram. O stories é uma ferramenta que permite a postagem de pequenas histórias que são exibidas num período de 24 horas, desaparecendo depois. O Instagram é uma mídia voltada para a publicação de fotografias e legendas curtas, mas suas atualizações já permitem a publicação de vídeos com duração de até 1 minuto no feed e com maior tempo no IGTV. Todas essas mídias digitais estão de algum modo conectadas. A principal característica da comunicação por meio digital é a criação multimídia, que envolve hiperlinks, imagens, audiovisual, texto, que podem ser editados, reeditados, compartilhados e lidos de forma como o usuário desejar. O tipo de código de linguagem é definido pela especificidade da mídia digital que está sendo utilizada. Uma fotografia na horizontal é ideal para o feed do Instagram, mas, se for postada nos stories, ela deve estar na vertical. Os áudios são bem aceitos no WhatsApp, assim como entrevistas e programas de rádio podem ser convertidas em podcasts compartilhados on-line. Um vídeo para o IGTV é diferente de um vídeo para o Youtube, pois mudam as plataformas, o público e suas expectativas. A linguagem dos games e dos jogadores on-line é diferente da linguagem do usuário do Pinterest. Um site de notícias tem uma estética de apresentação do conteúdo diferente da estética de um blog no Wordpress. As mídias digitais são muito importantes para quem trabalha com difusão de arte e entretenimento, mas a estratégia de comunicação nunca é igual em nenhuma delas. O que define o sucesso de uma estratégica de divulgação nas mídias digitais é a adequação: de linguagem e visual-estética. Não existem manuais prontos nem fórmulas de copiar 33 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I e colar. A linguagem digital é dinâmica, muda o tempo todo. É preciso constantemente pesquisar, fazer imersão, conversar, observar, planejar e se adequar a ela. Algoritmos Somados à adequação de linguagem e estética nas mídias digitais, a lógica dos algoritmos na criação do conteúdo é essencial para o sucesso da estratégia de divulgação. Você deve se lembrar dos algoritmos nas aulas de matemática do Ensino Médio, mas talvez ainda tenha dúvidas sobre como esse conhecimento se aplica na comunicação digital. Vamos facilitar. Os algoritmos são como uma sequência lógica de instruções, que define como os comandos devem ser executados para chegar a um objetivo. Uma informação entra (input) no algoritmo, que a desenvolve baseado nas instruções em seu código de informática, e sai (input) com o resultado, ou seja, o algoritmo lê todas as possibilidades que foram determinadas em seu código e apresenta uma solução para a ação executada pelo usuário. Existem vários algoritmos nas mídias digitais que ajudam a moldar a experiência do usuário na hora da navegação. Como isso se aplica na prática? Vejamos alguns exemplos: » PageRank (algoritmo de pesquisa do Google) – Você digita uma palavra-chave no campo de pesquisa do Google para obter informações que já foram publicadas na internet sobre determinado assunto. O algoritmo reage a esse comando que entrou (input) fazendo uma busca das publicações em que a palavra-chave aparece e os organiza em um ranking, que é exibido (output) listando nas primeiras posições de visualização as publicações em que a palavra-chave aparece com mais destaque, privilegiando fatores como seu histórico de navegações na internet, o aparelho que está usando para realizar a busca, a qualidade do conteúdo informativo, o local que foi produzida a informação e onde você se encontra naquele momento, entre outros. » Instagram – O algoritmo organiza as postagens que serão exibidas para o usuário orientando-se por vários elementos, privilegiando entre eles os mais recentes, que possuem maior engajamento (ou seja, recebeu mais comentários e curtidas especialmente no 34 UNIDADE I │ CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA momento em que foi publicado); e os que são postados por pessoas mais próximas a você, com quem mais interage, troca mensagens inbox etc. » Spotify – O algoritmo entende o que você mais gosta de ouvir a partir das músicas e dos gêneros que escutou recentemente, interpreta se são tristes, alegres, empolgantes, verifica as combinações e playlists de outros usuários e sugere pra você uma lista de canções. É importante ressaltar que esse conteúdo que será rankeado pelos algoritmos para serem exibidos primeiro são os que chamamos de “orgânicos”. Existem também os conteúdos patrocinados, que são exibidos em formato de anúncio, que varia de mídia para mídia. Em todas as mídias digitais, existe a possibilidade de promover seu conteúdo para que mais pessoas o visualizem. Na hora de criar os “anúncios”, “impulsionamentos” ou “patrocínios”, você define o valor que pretende investir, o segmento do público que quer alcançar, as palavras-chaves relacionadas às buscas, o tempo de duração etc. Esses anúncios ficaram famosos no Google como adwords, hoje em dia são chamados de Google Ads (links patrocinados que são exibidos primeiro quando o usuário faz uma pesquisa sobre aquele assunto). Assim como o Google oferece a ferramenta GoogleAnalytics, que contém os relatórios de acesso para que você possa melhorar seus resultados, as outras plataformas digitais também têm seus próprios relatórios, e essa ferramenta é importantíssima para monitorar o engajamento do seu público e a relevância do conteúdo que está sendo ofertado. Nesta unidade, aprendemos que a globalização e os avanços tecnológicos provocaram uma mudança cultural na forma como nos relacionamos uns com os outros e como consumimos informação. Aparelhos como celulares, tablets e notebooks apresentam conteúdos de forma digital, na linguagem informática dos Bits. As mídias digitais oferecem espaços de interação e conteúdos multimídias, que permitem novas formas de comunicação, de relacionamento e de propagação de informações. Músicas, textos, vídeos, fotografias, pinturas, jogos, programas de televisão, filmes, séries e tantas outras formas de expressão cultural e artística podem ser encontradas hoje, a qualquer momento, em qualquer lugar, num aparelho conectado à internet. 35 CULTURA, COMUNICAÇÃO E CONVERGÊNCIA │ UNIDADE I Essa mudança cultural que converge todas as linguagens estéticas para o meio virtual também trouxe convergências para os relacionamentos interpessoais e, especialmente, para a forma como são estabelecidas relações comerciais. A publicidade, as redes sociais, as transações bancárias virtuais trouxeram múltiplas possibilidades de consumo de arte e entretenimento, e é nesse tema que iremos nos aprofundar na próxima unidade. » Faça uma lista de todas as redes sociais que você conhece e escolha um recurso que você mais usa para cada uma delas. Quantos recursos e funcionalidades você deixou de fora? Por quê? » Descubra novas redes sociais e plataformas de compartilhamento de conteúdo on-line que você ainda não utiliza. Tente descobrir qual o perfil do público que mais utiliza cada uma delas e quais recursos são mais populares. » Seu universo digital é amplo ou restrito? Quais são suas referências culturais? Que tipo de conteúdo recebe seu engajamento e quais os que você desconsidera? Por quê? BRASIL, André et al. Cultura em fluxo: novas mediações em rede. Editora PUC Minas, 2004. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Sulina, 2011. SODRÉ, Muniz. Reinventando a cultura: a comunicação e seus produtos. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. CORRÊA, Elizabeth Saad; BERTOCCHI, Daniela. O algoritmo curador: o papel do comunicador num cenário de curadoria algorítmica de informação. [S.l.], 2012. 36 UNIDADE IIARTE E ENTRETENIMENTO Existem várias manifestações artísticas e culturais circulando em nossa sociedade, e nós criamos e participamos o tempo todo delas. No entanto, quando a arte e o entretenimento viram negócios, outros aspectos surgem e influenciam as próprias produções culturais. O principal agente influenciador desse negócio é o público. A arte vira um produto, e o público seu consumidor. O que vai determinar o sucesso de vendas desse produto é a quantidade de plateia que ele atrai. Nos tempos das mídias tradicionais, o medidor para esse sucesso era o índice de audiência. Na era das mídias digitais, avalia-se o índice de engajamento. No primeiro capítulo, vamos entender um pouco mais sobre Arte e Entretenimento como um produto e a avaliação de audiência e engajamento. No segundo capítulo, exploraremos as artes visuais, as transformações tecnológicas e as possibilidades de consumo pelo público. Já no terceiro capítulo, vamos ver os produtos audiovisuais e as transformações na forma de distribuição. CAPÍTULO 1 Arte, entretenimento e audiência Como você diferencia o que é arte de entretenimento? Conceitualmente, existem várias definições e linhas de pensamentos sobre o que é arte, e se arte também pode ser considerada entretenimento. Anelise Witt (2013) acredita que a arte é um sistema complexo de linguagens codificadas que mistura todas as formas de expressão humana e também as formas tecnológicas na tentativa de exprimir um discurso sobre o mundo. Para justificar sua teoria, ela destaca o pensamento de Lev Manovich (2001, apud Witt, 2013, p. 214): Os artistas desenvolveram novas técnicas de codificar a informação enquanto o público leitor, observador e ouvinte, desenvolveram suas próprias técnicas cognitivas próprias para 37 ARTE E ENTRETENIMENTO │ UNIDADE II extrair a informação. A história da arte não é apenas sobre inovações estilísticas ou a luta para representar a realidade, o destino da humanidade, as relações entre o ser humano e a sociedade e etc. – é também a história de novas interfaces de informação desenvolvidas por artistas e novas informações de comportamento desenvolvidas por parte do público. Almandrade (2014), no editorial publicado no portal Art/Ref, caracterizou a arte como o potencial de afirmar conhecimentos, seduzir a inteligência, inventar novas linguagens. Não temos a capacidade de destilar em palavras as experiências visuais que fazem o belo repousar naquilo que é apreendido pelo olhar. Uma obra de arte é tudo que ela contém: forma, textura, cor, linhas, conceitos, relações etc. É aquilo que se vê, e o que se diz não corresponde exatamente ao que se vê. Não representa nada como imagem de outra coisa. Para ler um trabalho de arte, é necessário se partir de um modelo (referências, informações). Existem códigos a priori (aqueles utilizados pelo artista) e códigos a posteriori (aqueles utilizados pelo espectador). Somando essas duas definições, podemos dizer que a arte é uma obra constituída de experimentações diversas em um complexo sistema simbólico e linguístico com o intuito de produzir conhecimento e discursos sobre a vida, sobre o mundo. E o entretenimento? Para Almandrade, o entretenimento é uma expressão artística que está mais voltada para a experiência do lazer e da diversão, uma forma de entreter as pessoas, ou seja, distrair, divertir. Os artistas são aqueles que produzem a arte, mas essa palavra acabou se misturando um pouco com o termo celebridade, que é utilizado para caracterizar aqueles profissionais da arte que atuam em veículos de comunicação de massa alcançando grande visibilidade pessoal, pois trabalham com a indústria do entretenimento. O entretenimento virou um negócio lucrativo, e até os artistas clássicos precisaram se adequar às exigências do mercado. Empresários e instituições financeiras patrocinam atividades artísticas esperando receber os lucros de participação da população, que compra ingressos, entradas, produtos. As mídias tradicionais, como já vimos, dominavam a produção e divulgação desses conteúdos: novelas, filmes, séries, programas de rádio, de auditório, peças de teatro, shows e apresentações musicais. 38 UNIDADE II │ ARTE E ENTRETENIMENTO Porém, o que definia a continuidade ou exibição de uma obra nas exposições e programação das mídias tradicionais era a audiência. O conteúdo está recebendo a atenção desejada do público? Como as pessoas estão recebendo e reagindo ao conteúdo compartilhado pelos meios de comunicação, nas obras de arte e entretenimento? Compreender como é composta a audiência e como ela se comporta é fundamental para que os patrocinadores desejem continuar financiando as obras ou desistam, por exemplo, à medida que vão obtendo retorno sobre seu investimento. O professor Antônio Carlos Ruótolo (1998) explica que estudar a audiência de um veículo de comunicação não é apenas dizer o perfil do público e a quantidade de pessoas, mas é qualificar esses dados apresentando “as respostas que os indivíduos dão aos conteúdos da comunicação”. Ele classifica essas respostas do público em quatro categorias: a) respostas de exposição; b) respostas de recepção; c) respostas atitudinais; e d) respostas comportamentais. Vamos entender melhor cada uma delas: a. Exposição De acordo com Ruótulo (1998), essa categoria enfatiza a escolha individual dos sujeitos de consumirem aquele conteúdo. Quantas pessoas decidiramcomprar aquele jornal ou revista; ou quantas pessoas decidiram ir ao cinema assistir àquele filme; quantas pessoas estão assistindo à novela nesse momento; por exemplo. Ele explica que, nos estudos sobre a resposta de exposição, analisa-se a composição estrutural da audiência (indicadores do tamanho da audiência – quantidade de pessoas – e a localização sociodemográfica) e a aplicação da teoria de comunicação social dos “usos e gratificações” (os motivos por trás da decisão do indivíduo de consumir aquele conteúdo). Essa teoria é bem interessante. Vejamos no quadro abaixo os principais fundamentos que o autor destaca: Quadro 2. Fundamentos da Teoria de Usos e Gratificações. FUNDAMENTOS DA TEORIA DOS USOS E GRATIFICAÇÕES 1 O receptor é ativo e busca os meios de comunicação e os conteúdos que melhor atendam às suas necessidades e desejos. 2 Os motivos que levam à escolha de meios e conteúdos estão sujeitos a inúmeras influências psicológicas, sociais, ambientais e conjunturais. 3 A exposição aos meios compete com outras formas potencialmente capazes de satisfazer (gratificar) os mesmos motivos. O indivíduo poderá escolher expor-se aos meios ou procurar outras formas de gratificação não relacionadas aos meios de comunicação. Ou seja, a exposição aos meios é um ato intencional, não casual. Fonte: Ruótolo, 1998. 39 ARTE E ENTRETENIMENTO │ UNIDADE II b. Recepção Nessa perspectiva, Ruótulo (1998, pp. 162-165) destaca que o foco da análise é na interpretação do conteúdo, ou seja, como a audiência recebe o conteúdo e dá sentido a ele, a partir de seu contexto sociocultural. O professor ressalta três linhas de pesquisa sobre a recepção da mensagem: » Estudos críticos: partem do pressuposto de que os meios de comunicação produzem conteúdo baseado no posicionamento político e ideológico das classes dominantes. Então, estudam como a audiência recebe esse conteúdo, avaliando se há um movimento de resistência ao que está sendo transmitido, de ressignificação ou de aceitação daquela ideologia. » Interacionismo simbólico: acreditam que há “comunidades interpretativas”, que são grupos em que as pessoas interagem sobre assuntos tanto pessoais quanto profissionais, e em conjunto trocam, interpretam o conteúdo e dão significado a ele. Também estudam sobre a realidade simbólica dos receptores, que é o sistema cultural e simbólico que o indivíduo constrói e cria sua própria visão de mundo, e como os meios de comunicação influenciam essa construção simbólica. » Construção cultural: indicam que o mesmo conteúdo é interpretado de formas muito diversas por cada receptor, isso porque cada um interpreta as informações a partir dos conhecimentos que constrói na comunidade em que está inserido e sua cultura. c. Atitudinais Essa categoria reúne os estudos focados na influência que os meios de comunicação exercem sobre a atitude dos receptores. Ruótulo (1998) destaca: » Persuasão: voltados para a área de publicidade, buscavam compreender se e como os meios de comunicação influenciavam a mudança de opinião do público. » Agenda setting: teoria mais recente que atualiza os estudos de persuasão, indicando que os meios de comunicação não influenciam diretamente a mudança de atitude dos indivíduos, mas tem poder para pautar os assuntos que serão discutidos pelas pessoas no dia a dia. 40 UNIDADE II │ ARTE E ENTRETENIMENTO É importante ressaltar que o professor chama de atitudinais a perspectiva da influência da mídia na atitude, na predisposição a fazer algo ou mudar de opinião. Atitude, aqui, é tida como uma predisposição. O comportamento, a ação concreta, entra na próxima categoria. d. Comportamentais De acordo com Ruótolo (1998, p. 168), essa categoria explora os efeitos da comunicação midiática no comportamento dos sujeitos, ou seja, “os conteúdos são vistos com causas de mudança no comportamento”. Ele destaca: » Condicionamento: analisam as condições que precisam existir para que os receptores se comportem de acordo com os interesses dos produtores do conteúdo. » Modelos: os meios de comunicação apresentam modelos de comportamento, estabelecem padrões que as pessoas aprendem e acrescentam ao seu repertório, colocando o comportamento em prática no momento oportuno. Diante do que foi exposto, você consegue perceber porque é importante conhecer a audiência das mídias digitais? Recapitulando... Audiência é o termo utilizado para definir o público consumidor do conteúdo que está sendo divulgado. Representa o Receptor, aquele que recebe a mensagem. Quando somos produtores de conteúdo e, especialmente, quando trabalhamos na divulgação de produções culturais artísticas e de entretenimento, devemos estar atentos ao nosso público. Quem são as pessoas que queremos atingir? Qual é a nossa audiência? Como o conteúdo está sendo recebido por esse público? Que efeitos está produzindo sobre a audiência? Dessa relação, surgem todos os outros aspectos que envolvem a distribuição do conteúdo, como, por exemplo, o retorno financeiro dos investimentos iniciais. Engajamento Associado ao termo audiência, um novo conceito surge no campo das mídias digitais: o engajamento. A palavra engajamento significa participação ou colaboração. Aplicada ao contexto virtual, chamamos de engajamento todas as formas utilizadas pelos usuários para interagir com os perfis e marcas que segue. Como assim? 41 ARTE E ENTRETENIMENTO │ UNIDADE II Você já deve ter escutado expressões associando essa palavra ao contexto político, por exemplo, quando dizem que a peça de teatro X é engajada, querem dizer que o conteúdo revela um posicionamento político. É uma expressão que indica que as pessoas estão envolvidas com uma causa sociopolítica, para a qual se dedicam participando e colaborando com ações. Essa compreensão de que você se interessa pelo tema e se compromete com ele, realizando ações como forma de colaboração, é o que chamamos de engajamento. Quando a minha banda de música preferida publica um vídeo no Instagram com o novo hit e eu clico para assistir, estou realizando uma ação de engajamento com aquela publicação. Se eu curtir, comentar ou compartilhar aquele conteúdo, estarei participando ativamente e colaborando para que ele seja visto por mais pessoas. Você já deve ter ouvido algum youtuber pedindo no final de um vídeo “Galera, engaja aí!” ou frases como “Pessoal, se você gostou desse conteúdo curta, comente, compartilhe com os amigos e se inscreva no canal”. São frases típicas para solicitar que as pessoas interajam, colaborem com o produtor do conteúdo. Por quê? Porque, mais do que ter audiência, ou seja, ter visibilidade, em tempos de mídias digitais é essencial ter engajamento; que a sua audiência goste e revele por meio das ações de interação que o seu conteúdo é relevante. Essa é a única maneira de conquistar o sucesso na difusão em mídias digitais. Publicações sem engajamento não recebem investimento de nenhum aspecto e tendem a cair no esquecimento facilmente. Toda estratégia de comunicação nas mídias digitais deve considerar as formas de monitoramento e métricas dos resultados de engajamento da audiência. Por isso, na Unidade anterior falamos sobre os algoritmos. O nível de engajamento que o conteúdo recebe nas mídias digitais indica o nível de sua relevância para a comunidade virtual. A professora Ana Carvalho (2019) criou um método de trabalho criativo para quem desenvolve ações de marketing em mídias sociais: o “Social Media Thinking”. Esse método tem sete passos: » Entender o que são e como funcionam os algoritmos. » Pesquisar sobre a audiência, quem é seu público alvo e como funciona o mercado no qual você vai atuar para ter insights (ideias do que fazer). 42 UNIDADE II │ ARTE E ENTRETENIMENTO » Avaliar e organizar os insights e traçar um planejamento estratégico de ações. » Buscar desenvolver ideias criativas. » Realizar a distribuição do conteúdo nos quatro tipos de mídia digital