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Obstruça ̃o intestinal é uma condiça ̃o em que ha ́ falha na progressão normal do conteu ́do intestinal. Obstruça ̃o intestinal estara ́ presente a partir do momento em que qualquer obsta ́culo impeça esta progressão, seja por uma barreira física ou por distúrbio funcional da força propulsora da musculatura intestinal. É uma das causas mais frequentes de emergência. Aproximadamente 20% das internações por doença abdominal aguda ocorrem por obstruça ̃o intestinal. A desatença ̃o ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado ocasiona o fato de a mortalidade ainda permanecer acima do deseja ́vel, embora ja ́ tenha declinado de 60%, que prevalecia em meados do século passado, para os atuais 6 a 8% OBSTRUÇÃO MECÂNICA ha ́ uma barreira física com manutença ̃o da força propulsora da musculatura intestinal. Isto significa que o peristaltismo estara ́ presente e que, auscultando o abdome, poderemos não só ouvir os ruídos perista ́lticos como também perceber os detalhes dos sons, que poderão ser fortes, exacerbados, de luta, com timbre meta ́lico.. O obsta ́culo pode estar na luz intestinal, como no íleo biliar; pode acontecer na parede intestinal, como no carcinoma obstrutivo da sigmoide, ou, ainda, fora da parede intestinal, como nas grandes massas abdominais, nas bridas e hérnias. Na investigaça ̃o de um paciente com quadro clínico sugestivo de obstruça ̃o intestinal, temos que responder a ̀s seguintes perguntas: • HÁ OBSTRUÇÃO? fazer o diagnóstico diferencial entre as causas de dor abdominal em cólica. Somente as estruturas de musculatura lisa produzem dor em cólica: estômago, intestinos, ureter, trompas, útero. A partir do momento em que se identifica a dor tipo cólica, imediatamente a investigaça ̃o deve concentrar-se nestes órga ̃os. • HÁ ESTRANGULAMENTO? história e o exame físico colhidos com detalhes. A constataça ̃o da mudança das características da dor, que passa de dor em cólica para dor contínua; o aumento da sensibilidade cuta ̂nea e a dor localizada; uma leucocitose acima de 15.000, com desvio importante para a esquerda, principalmente com o aparecimento de formas jovens, e o agravamento do estado geral. Os exames de imagem poderão mostrar fixaça ̃o da alça comprometida, modificaça ̃o do arcabouço anatômico, modificaça ̃o do padrão da mucosa, alterac ̧a ̃o da estrutura tecidual. • HÁ DESIDRATAÇÃO IMPORTANTE? Todo paciente obstruído perde líquido/perde volemia. E perde líquido porque na ̃o ingere, vomita, sequestra dentro da luz, com infiltraça ̃o e edema da parede intestinal. A perda volêmica pode ser avaliada verificando-se a pressa ̃o arterial, pulso e volume urina ́rio; quanto maior a desidrataça ̃o, maior será a repercussão na volemia e pior o estado geral. • QUAL A CAUSA DA OBSTRUÇÃO? na ̃o é o alvo principal da investigaça ̃o inicial. O diagnóstico da obstruça ̃o é mais importante que o diagnóstico da causa da obstruça ̃o. As causas mais frequentes de sa ̃o: hérnia externa, bridas, ca ̂ncer, invaginação e hérnia interna. • QUAL O NÍVEL DA OBSTRUÇÃO? Com a ajuda dos métodos de imagem, podemos obter informações sobre o tipo de alça envolvida, a extensa ̃o do comprometimento, assim como o melhor acesso para uma abordagem cirúrgica conforta ́vel do ponto de obstruça ̃o OBSTRUÇÃO REFLEXA/ÍLEO PARALÍTICO na ̃o ha ́ barreira física. O que ha ́ é um distúrbio da força propulsora da musculatura intestinal. Podemos encontrar duas situações: íleo adina ̂mico, em que a ineficiência é resultante do relaxamento da musculatura, e íleo dinâmico, em que a ineficiência é resultante de espasmo da musculatura. Isto significa que, auscultando o abdome, ha ́ silêncio abdominal porque o peristaltismo estara ́ ausente ou é ineficiente. Vale assinalar que o íleo dina ̂mico é raro. Classificação relacionada com à existência ou na ̃o de comprometimento da irrigac ̧a ̃o sanguínea do segmento intestinal comprometido: OBSTRUÇÃO SIMPLES: não apresenta risco a ̀ vitalidade da alça envolvida porque na ̃o ha ́ restrição do fluxo sanguíneo. OBSTRUÇÃO COM ESTRANGULAMENTO: representa risco para a vitalidade da alça porque há restriça ̃o do fluxo sanguíneo. Sera ́ de maior ou menor gravidade, dependendo da extensa ̃o de meso e da alça envolvidos. OBSTRUÇÃO EM ALÇA FECHADA: quando o mesmo segmento intestinal esta ́ obstruído em dois pontos. Exemplos sa ̃o o tumor obstrutivo da sigmoide com va ́lvula ileocecal competente, a torça ̃o do delgado e a torça ̃o de alça aferente num paciente gastrectomizado com anastomose a Billroth II. Nesta situaça ̃o, ha ́ grande proli- feraça ̃o bacteriana e aumento da virulência, grande produção de toxinas e comprometimento da irrigaça ̃o sanguínea. Sa ̃o estes fatos que tornam esse tipo de obstruça ̃o grave, porque o segmento envolvido rapidamente caminha para necrose e esfacelamento, rotura e peritonite. Classificação de acordo com o ponto em que se estabeleceu a barreira física: OBSTRUÇÃO ALTA: quando ocorre próximo ao a ̂ngulo de Treitz OBSTRUÇÃO BAIXA: quando ocorre no cólon. clinicamente, é possível dividir o quadro obstrutivo em três grupos: obstruça ̃o alta do delgado, obstruça ̃o baixa do delgado e obstruça ̃o do cólon. É importante frisar que o delgado esta ́ envolvido em aproximada- mente 60 a 80% dos casos de obstruça ̃o intestinal e a obstruça ̃o meca ̂nica é a mais frequente. Os efeitos principais dos dois tipos de obstrução intestinal são distensão abdominal e perdas de líquidos e eletrólitos. Gases e líquidos acumulam-se no segmento afetado e, se o problema não for sanado, a distensão causada pela obstrução intestinal tende a perfurar e causar atonia intestinal com distensão adicional. A distensão é agravada ainda mais pela acumulação de gases. À medida que o processo avança, a distensão estende- se aos segmentos mais proximais (i. e., na direção da boca) e envolve outros segmentos intestinais. Por fim, as duas formas de obstrução podem causar estrangulamento (i. e., interrupção da irrigação sanguínea), gangrena e finalmente perfuração intestinal. A pressão alta dentro do intestino tende a reduzir o fluxo sanguíneo da mucosa, resultando em necrose e passagem de sangue para os líquidos luminais. Isso favorece a proliferação rápida das bactérias no intestino obstruído, que podem passar para o sistema linfático e os órgãos adjacentes. A passagem das bactérias para fora do sistema digestório agrava a inflamação e pode acentuar a isquemia e causar falência dos órgãos OBSTRUÇÃO DO DELGADO Os sinais e sintomas cla ́ssicos de dor, vômito, parada de eliminaça ̃o de gases e fezes e distensa ̃o correspondem a ̀ obstruça ̃o do meio do delgado e sa ̃o influenciados pelo ponto de obstruça ̃o e tempo de doenc ̧a. A dor é a cla ́ssica, em cólica, representando o esforço do intestino para vencer a barreira f ísica. O período de exacerbaça ̃o dolorosa é o melhor momento para auscultar o abdome e perceber o peristaltismo com suas características especiais. Os vômitos sa ̃o inicialmente reflexos, consequentes a ̀ in- tensidade da dor. Posteriormente, representam o mecanismo pelo qual o organismo tenta se livrar da sobrecarga de conteúdo intestinal que na ̃o consegue progredir. O material eliminado do estômago inicialmente é claro; quando reflui do duodeno para o estômago e e ́ eliminado, apresenta-se bilioso; quanto mais tempo durar a obstruça ̃o e mais baixo for, no tubo digestivo, o material eliminado, mais se aproximará do aspecto fecaloide: marrom, espesso e fétido, observado na obstruça ̃o baixa do delgado. A distensa ̃o é o resultado do acúmulo de líquido e ga ́s dentro das alças acima do ponto de obstrução. Os líquidos ficam retidos na luz intestinal, sem nenhuma utilidade para o meio interno, perdidos no chamado terceiro espaço. A parada da eliminação de gases e fezes é resultado da interrupção da progressão do conteúdo intestinal e, dependen- do do ponto de obstruça ̃o, podera ́ levar algum tempo para se tornar evidente • OBSTRUÇÃO ALTA DO DELGADO: a dor na ̃o é ta ̃o intensa, porque, estando próxima ao a ̂ngulo de Treitz, ao menor esforço o conteu ́do facilmente reflui para o estômago e é eliminado. Os vômitos sa ̃o incoercíveis e biliosos. A distensa ̃o é insignificante, porque há poucas alc ̧as envolvidas e sa ̃o facilmente esvaziadas com o vômito. A proximidade do Treitz deixa grande extensa ̃o do tubo digestivo com gases e fezes, e o paciente podera ́ eliminar gases e fezes mesmo ja ́ estando obstruído. Na obstruça ̃o alta, os vômitos sa ̃o o sintoma predominante e poderá levar 48 horas para ser completa e evidente. • OBSTRUÇÃO BAIXA DO DELGADO: a dor é típica. Pelo vômito, o paciente elimina conteu ́do das partes mais baixas do delgado, podendo chegar ao vômito fecaloide. O fato de o local da obstruça ̃o situar-se na parte distal do intestino delgado faz com que o aparecimento dos episódios de vômito leve algum tempo para acontecer. O intervalo entre o início da dor e o aparecimento do vômito orienta o diagnóstico do ponto de obstruça ̃o. O doente pode apresentar grande distensa ̃o abdominal, que em certos casos chega a criar dificuldade respiratória. Note- se que, a ̀ medida que a obstruça ̃o é de localizaça ̃o mais distal no delgado, mais se aproxima do quadro da obstrução do cólon. EXAME FÍSICO Antes de iniciar o exame, é importante que o paciente informe o lugar exato do início da dor, seu deslocamento, sua intensidade, irradiação característica e se existe um lugar onde é mais intensa. • INSPEÇÃO: observar a presença de distensa ̃o, tipo de respiraça ̃o, abaulamento da parede, deformidade, peristaltismo visível, cicatrizes cirúrgicas. Os orifícios hernia ́rios devem ser cuidadosamente examinados. • Palpação: Apoiar a mão espalmada e aquecida sobre o abdome e procurar perceber a movimentaça ̃o das alças, sentir o borborigmo produzido pelo peristaltismo exacerbado, assinalar pontos dolorosos e a presença de peritonite. • Percussa ̃o: usada para verificar o timpanismo das alças distendidas, a macicez de declive, a bexiga cheia e para substituir a descompressão dolorosa na pesquisa de peritonite. • Ausculta: no momento de exacerbaça ̃o dolorosa para perceber o peristaltismo com suas nuanças. Assinale-se que a presença de peritonite significa doenc ̧a avançada, grave, e certamente havera ́ silêncio abdominal. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM Iniciar com radiografia (RX) simples do abdome. O objetivo de todos os exames é procurar evidenciar o ponto de obstruça ̃o, que é o alvo da intervença ̃o cirúrgica. A presença de pneumoperitônio confirma a existência de perfuraça ̃o, que dispensa o exame contrastado tomografia computadorizada (TC) é um exame que não é acessível a todos, mas, quando disponível, deve ser usado nos casos em que a radiologia convencional na ̃o forneça as informações desejadas. É capaz de mostrar detalhes como aqueles da estrutura da parede intestinal, tanto do lado da luz, quanto da parte externa da parede, o que o torna de grande utilidade para o diagnóstico de obstruça ̃o por torça ̃o do meso e de estrangulamento. A chave para o diagnóstico de obstruça ̃o continua sendo a observaça ̃o da mudança de calibre das alças: alças distendidas acima e vazias abaixo do ponto de obstruça ̃o e, na ausência de outra causa que seja responsa ́vel pelo quadro obstrutivo, podemos deduzir que se trata de uma brida. OBSTRUÇÃO DO CÓLON O cólon esta ́ preparado para reter gases e fezes, esta ́ distante do estômago e muito próximo do orifício de esvaziamento, o a ̂nus. A complacência do cólon, a ausência de dor forte, que poderia desencadear vômitos reflexos, e a distância do estômago fazem com que a ocorrência de vômito seja rara. A distensa ̃o pode assumir grandes proporções. A parada de gases e fezes podera ́ ser o primeiro sintoma, desde que interpretada corretamente, porque, na maioria dos casos, ocorre em pacientes idosos com história de constipaça ̃o crônica. Na obstruça ̃o do cólon, a grande distensa ̃o abdominal é o sinal predominante. EXAME FÍSICO A grande distensa ̃o sera ́ evidente, com timpanismo aumentado, dor fraca referida ao hipoga ́strio, ceco facilmente palpável EXAMES LABORATORIAIS desidrataça ̃o é a complicação habitual, consequentemente os exames estarão alterados e poderão dar informaça ̃o da gravidade da desidratac ̧a ̃o. Leucocitose associada a modificaça ̃o do quadro clínico pode revelar a presença de estrangulamento. DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo F. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2011. E-book. ISBN 978-85-277- 1970-4. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85- 277-1970-4/. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 2021. 9788527737876. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978852 7737876/. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-277-1970-4/ https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-277-1970-4/
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