Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 6ª FASE TUT 9 – CA Pulmão e Síndromes Paraneoplásicas CA Pulmão - 90% de neoplasias malignas de origem no epitélio do trato respiratório inferior: carcinoma broncogênico. Linfomas, sarcomas, mesoteliomas e carcinoides não se enquadram nesse termo. EPIDEMIOLOGIA: é a que mais mata homens no Brasil, 2° mulheres pelo ca de mama. Pico de incidência 55-65 anos. - Baixa sobrevida em 5 anos, a maioria já em estágio avançado no diagnóstico. Incidência diminuindo em homens pelas campanhas contra o tabagismo, mas as mulheres ainda sem essa queda, por aumento do tabagismo décadas atras. ETIOLOGIA: Principal causa de ca de pulmão é o tabagismo, principalmente cigarros: combustão de tabaco libera substancias carcinogênicas como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, nitrosaminas tabaco específicas e aldeídos voláteis. Nicotina inibe apoptose de cels neoplásicas. - Tabagismo passivo também aumento risco de câncer de pulmão. - Carga tabágica: parâmetro relacionado ao risco, precisa quantificar. Maços/dia x duração do hábito em anos, considera alto risco quando >20 maços/ano. - Cânceres relacionados ao tabagismo: pulmão, boca, esôfago, cabeça e pescoço, bexiga, pâncreas. - Cessação do tabagismo reduz risco com o tempo, significativo 15-20 anos. - Outras etiologias: DPOC, pneumopatias fibrosantes, agentes ambientais (radônio e asbesto principalmente). - Predisposição genética: HF aumenta risco em pctes de 1° grau. Dieta e poluição ambiental. TIPOS HISTOLÓGICOS: 2 principais grupos de carcinoma broncogênico. PEQUENAS CÉLULAS: oat cell ou avenocelular: pior prognostico e agressividade entre os broncogenicos. Localização central. - 70% metástase a distância no diagnóstico, maioria das vezes cursa com invasão do mediastino. Oat cell pelas cels parecerem com grãos de aveia: um pouco maiores que linfócitos, origem no tecido neuroendócrino argentafim. NÃO PEQUENAS CÉLULAS: Carcinoma Epidermoide (Escamoso): tipo + comum no Brasil, + em homens, localização central, tumoração brônquica exofítica facilmente vista em broncoscopia. Tipo com maior chance de ser diagnosticado pela citologia de escarro. Causa mais comum de hipercalcemia paraneoplasica. Adenocarcinoma: tipo + comum em países desenvolvidos, + feminino, <45 anos, não fumantes. Localização periférica. Causa mais comum de osteoartropatia hipertrófica paraneoplasica. - Pior prognostico que escamoso. Carcinoma bronquíolo alveolar é um subtipo, se espalha pelos espaços alveolares, sem invadir os septos, dividido em mucinoso (cels caliciformes) e não mucinoso (pneumócitos tipo II). Carcinoma De Grandes Cels Anaplásico: carcinoma epidermoide ou adenocarcinoma tão indiferenciado (anaplásico) que não pode ser classificado dentro de nenhum desses subtipos. - Subtipo menos frequente. Pior prognostico entre os não pequenas cels. + periférico, comumente cavitário. APRESENTAÇÃO CLÍNICA: câncer de pulmão não dá sintomas até a doença estar avançada. Quando assintomático acha nódulo em Rx de tórax 15%. - Tosse é o sintoma mais comum, por invasão da mucosa brônquica, pneumonite pós-obstrutiva, atelectasia, derrame pleural e/ou cavitação da lesão. - Dispneia acontece por obstrução de grandes vias aéreas, além de disseminação linfangítica e o derrame pleural. - Hemoptise por necrose tumoral, ulceração mucosa, erosão de vasos intratorácicos, pneumonia pós-obstrutiva e tromboembolismo pulmonar. - Dor torácica por invasão da pleura parietal, parede torácica ou mediastino. - Sintomas de lesões nas vias aéreas: tosse, dispneia, hemoptise, chiado localizado. - Invasão intratorácica: dor torácica, rouquidão, síndrome da veia cava superior (carcinoma brongenico no lobo superior do pulmão direito, + carcinoma de pequenas cels, com edema e congestão da face e extremidades superiores, circulação colateral proeminente e turgência jugular), síndrome de Pancoast (tumor no sulco superior do pulmão, da dor no ombro e/ou escapula ipsilateral e dor na distribuição do nervo ulnar, + carcinoma epidermoide). - O surgimento de turgência jugular, pulso paradoxal e alargamento da silhueta cardíaca denota acometimento pericárdico com tamponamento. - Metástase a distância dor óssea, cefaleia, náuseas, vômitos, déficit neurológico focal. COMPLICAÇÕES LOCAIS: derrame pleural (exsudato com predominância linfocítica), cavitação, atelectasia, pneumonia pós obstrutiva. O que mais cavita é o carcinoma epidermoide. DOENÇA METASTÁTICA: locais + frequentemente envolvidos são adrenais (unilateral, assintomático, visualizado na TC), fígado, ossos e cérebro. DIAGNÓSTICO: Screening: todos os seguintes têm que ter: 55-80 anos, carga tabágica ≥30 maços/ano, tabagismo atual ou interrupção nos últimos 15 anos, boa saúde geral, por TC helicoidal com baixa dose de radiação, anual. - Exames: Rx de tórax (não muito sensível) quando suspeito (nódulo pulmonar solitário, atelectasia) pede uma TC de tórax. Quando suspeita de Ca de pulmão pela imagem faz confirmação histopatológica por citologia do escarro (mais sensível para tumores centrais), broncofibroscopia, biopsia transtoracica por agulha guiada por TC, biopsia guiada por videotoracoscopia, biopsia a ceu aberto. Identificação de células neoplásicas na citologia do líquido pleural. ESTADIAMENTO - TC de tórax útil no estadiamento anatômico, PET-scan faz avaliação não invasiva da extensão da doença. Mas é importante análise histopatológica. No caso do mediastino o padrão ouro é mediastinoscopia. - Anatômico: determina ressecabilidade do tumor (se pode ser totalmente removido). - Fisiológico determina operabilidade do pcte (se aguenta cirurgia), cirurgia contraindicada se IAM nos últimos 3m, IAM nos últimos 6m (relativo), volume expiratório forçado no 1° segundo <1L, retenção de CO2 (PCO2 >45), hipertensão pulmonar grave. T0: sem evidência de TU primário T1: tumor <3, envolto por parênquima ou pleura, sem evidência broncocópica de invasão mais proximal do que um brônquio lobar. • T1a ≤ 1cm; T1b: >1 e ≤ 2cm; T1c: >2 e ≤ 3cm. T2: TU > 3 e ≤ 5cm, ou que tenha: • Envolve bronquio independente da distância da carina, mas sem envolver a carina. • Invade pleura visceral • Associado a atelectasia ou pneumonite obstrutitva que se estende até região hilar, envolve parte ou todo o pulmão. • T2a: >3 e ≤ 4cm; T2b >4 e ≤5cm T3: tumor >5cm e ≤7cm ou: • Invasão direta da pleura parietal, parede torácica, nervo frênico e/ou pericárdio parietal. • Presença de nódulo separado, mas localizado no mesmo lobo que TU primário T4: TU >7cm ou qlqr tamanho com invasão de um ou mais dos: • Diafragma, mediastino, coração, grandes vasos, traqueia, nervo laríngeo recorrente, esôfago, corpo vertebral ou carina. • Presença de nódulo separado, no lobo ipslateral diferente do TU primário. N0: ñ acomete linfonodo N1: linfonodo ipslateral peribrôquico. Hilares e nódulos intra- pulmonares, incluindo envolvimento por extensão direta. N2: acomete linfonodo ipslateral mediastinais ou subcarinais. N3: acomete linfonodos contralaterais em mediastino, hilo, escaleno ou supraclavicular. M0: sem met M1a: nódulo pulmonar separado, no lobo contralateral, TU com nódulos pleurais ou pericárdicos ou efusão maligna pericárdica ou pleural; M1b: met extratorácica única (envolve 1 órgão); M1c: met extratorácica em 1 ou mais órgãos, diferentes. TRATAMENTO CARCINOMA NÃO PEQUENAS CELS: Estágio I: não tem metástase linfonodal nem metástases a distância. TTO cirúrgico é a melhor chance de cura: lobectomia ou pneumectomia + ressecção linfonodal do mediastino. RT e QT adjuvantes sem benefício nesse estágio. Nos inoperáveis faz RT curativa. Estágio II: acometimento linfonodal, tto cirúrgico complementado com QT adjuvante. Estágio III: IIIA: varia com TNM: T3N1M0 cirurgia+ QT adjuvante, N2 QT isolada, T4N0-1M0 QT neoadjuvante + cirurgia. IIIB: QT isolada. Estágio IV: quimioterapia: cisplatina ou a carboplatina, faz QT em 4 ciclos. RT pode ser utilizada no tratamento paliativo. CARCINOMA DE PEQUENAS CELS: - Doença Limitada: tumor confinado a um hemitórax e aos linfonodos mediastinais e/ou supraclaviculares ipsilaterais. 4-6 ciclos de QT-RT (cisplatina e etoposídeo). Raramente diagnostico de doença localizada e ressecável como nódulo pulmonar solitário sem linfonodos acometidos, nesses casos faz cirurgia + QT adjuvante. - Doença Avançada: extensão do tumor além dos marcos acima. Somente QT. NÓDULO PULMONAR SOLITÁRIO - Densidade radiológica circunscrita cercada por parênquima pulmonar aerado normal. 0,8-3cm (>4 geralmente maligno e chama de massa pulmonar). Quando ca de pulmão se apresenta assim a sobrevida de pctes operados é 50- 70%. - Causas: carcinoma broncogênico, granulomas infecciosos ou não infecciosos, hamartomas, adenomas brônquicos, metástases... A mais comum de nódulo benigno é granuloma pós infeccioso. Parâmetros analisados: idade do pcte, história de tabagismo, tamanho do nódulo, velocidade de crescimento do nódulo. Importante analisar radiografias dos últimos 2 anos. Sugestivos de malignidade: >50 anos, história de tabagismo, diâmetro >2cm, crescimento ou surgimento nos últimos 2 anos. Sugestivos de benignidade: 185, áreas com densidade de gordura, sem reforço de contraste na TC. CONDUTA: - Critérios altamente sugestivos de benignidade (não crescimento em 2 anos, idade <35 anos, não fumante ativo nem passivo, padrões de calcificações característicos, densidade muito elevada na TC, não reforço do contraste na TC dinâmica) só observa e acompanha, com RX ou TC a cada 3m por 1 ano, depois anual, SE tem crescimento significativo, ai faz dx histol. - Se não preenche critérios acima ou sugestão de malignidade (>3cm, idade >65 anos, bordos espiculados, sinal do cometa) faz abordagem invasiva por biopsia guiada por broncofibroscopia (central >2cm), biopsia aspirativa transtoracica com agulha fina (+ periférico se boa reserva pulmonar) ou biopsia guiada por videotoracoscopia ou toracotomia aberta (muito sugestivos de malignidade ou grandes massas pulmonares). EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 6ª FASE Síndromes Paraneoplásicas - Distúrbios sistêmicos ocasionados por tumor, podendo se manifestar até antes mesmo do câncer. Dentre os de pulmão o carcinoma de pequenas cels é o subtipo mais relacionado. HIPERCALCEMIA é uma das síndromes paraneoplásicas mais comuns no câncer de pulmão, comumente associada ao carcinoma epidermoide, por produção de PTH-rp que tem mesmo efeito do PTH, mas tem níveis de PTH sérico suprimidos. - Trata com expansão volêmica (desidratados por reabsorção de sal e água pela hipercalcemia), diuréticos de alça (aumenta excreção urinaria de cálcio) e infusão de bifosfonato. SIADH: síndrome da antidiurese inapropriada, + relacionada ao carcinoma de pequenas cels, ADH produzido pelo tumor promove retenção renal de água livre e hiponatremia, pode comprometer nível de consciência. Diagnóstico com hiponatremia hipotônica (osmolaridade <270) e urina inapropriadamente concentrada (>100) em pcte euvolêmico e sem edemas. Afasta hipotireoidismo, insuficiência adrenal e renal. - Trata com restrição hídrica com ou sem demeclociclina ou vaptanos, se sintomas neurológicos dá diuréticos de alça + infusão salina a 3%. SÍNDROME DE CUSHING: produção tumoral de ACTH ou CRH. Relacionado ao carcinoma de pequenas cels. Apresentam hipertensão arterial, hiperglicemia e alcalose metabólica hipocalêmica, sendo menos frequente o aspecto cushingoide (facies de lua cheia, giba, obesidade). Elevação do cortisol livre urinário e não supressão com baixas doses de dexametasona, com ACTH no soro elevado, pede TC de tórax pelo tumor de pulmão ser a causa + comum da síndrome. OSTEOARTROPATIA PULMONAR HIPERTRÓFICA: baqueteamento digital por aumento dos tecidos moles nas extremidades e sinovite geralmente simétrica de grandes articulações periféricas. Sinal radiológico de periostite da tíbia. + relacionado ao adenocarcinoma. - Manifestações neurológicas geralmente são secundárias a fenômenos autoimunes: antígenos compartilhados entre cels tumorais e componentes do tecido nervoso. - TTO: ressecção completa do tumor, que costuma resolver o quadro. Se inoperável faz AINEs e atualmente estudos com bifosfonato. SÍNDROME MIASTENICA DE EATON LAMBERT: + no carcinoma de pequenas cels, mecanismo é autoanticorpos contra canais de Ca sensíveis a voltagem anti-VGCC, que tem nos neurônios pré-sinápticos da placa motora (terminação neuromuscular). Faz então bloqueio da liberação de acetilcolina na fenda sináptica, impedindo transmissão do impulso. - Manifestações: fraqueza muscular proximal, hiporreflexia e disfunção autonômica. Na eletroneuromiografia tem padrão incremental: potencial de ação com baixa amplitude no repouso, que aumenta após estimulação elétrica do nervo ou exercício. DEGENERAÇÃO CEREBELAR AGUDA: ataxia de evolução lenta, por degeneração das cels de Purkinje no córtex do cerebelo. Manifestações: vertigem, nistagmo, ataxia, disartria e diplopia. Associado ao carcinoma de pequenas cels, doença de Hodgkin e carcinomas de mama e ovário. ANTI-HU: autoanticorpo paraneoplasico que dá manifestações neurológicas no ca de pulmão, geralmente oat cell, podendo ter encefalite límbica, polirradiculopatia, mielopatia, miopatia, neuropatia motora (ex.: plexo braquial), afasia e dismotilidade gastrointestinal. DISTÚRBIOS HEMATOLÓGICOS: síndromes de hipercoagulabilidade, manifestas como tromboflebite migratória (sind de Trousseau) e endocardite marantina (não bacteriana). Outras alterações são anemia, leucocitose, leucoeritroblastose, CIVD. SÍNDROMES DERMATOLÓGICAS: dermatomiosite e a acantose nigricans são as principais.
Compartilhar