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GESTÃO DE PESSOAS AULA 5 Profª Erika Gisele Lotz 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos conhecer a relação entre os processos de motivação e as políticas e práticas voltadas ao reconhecimento e recompensa do profissional. Esses fatores impactam diretamente na atração e, sobretudo, na retenção de pessoas de grande importância para a organização. Para cumprir esse propósito, vamos apresentar algumas das teorias de conteúdo, processo e reforço da motivação, com impacto direto no mundo do trabalho: hierarquia das necessidades de Maslow; teoria dos dois fatores de Herzberg; e a teoria do reforço. Cumprida essa etapa, vamos nos dedicar aos processos de reconhecimento e recompensa. Para tanto, é fundamental olhar para a política e gestão salarial da organização, para a composição da remuneração, para o desenho de Plano de Cargos, Carreiras e Salários, assim como para a oferta de plano de benefícios. Com isso, construiremos uma visão acerca do importante subsistema de gestão de pessoas que tem por objetivo cuidar da satisfação, da manutenção e da retenção de talentos nas organizações. TEMA 1 – CONSIDERAÇÕES SOBRE MOTIVAÇÃO Ajude as pessoas a se tornarem mais motivadas guiando-as à fonte de seu próprio poder. (Paul G. Thomas, citado em Ribas, 2018, p. 35) Uma recorrente preocupação de organizações e gestores é: O que podemos fazer para manter o time motivado? Qual o papel do dinheiro na motivação? Será que esse fator isoladamente pode assegurar a retenção dos talentos-chave da organização? Ou será que o dinheiro pode estimular a performance até certo ponto, mas daí para diante são necessários outros fatores? Investigar o que provoca, canaliza e sustenta o comportamento humano é essencial para compreender o papel das políticas, práticas, programas de remuneração, reconhecimento e recompensa que de fato tenham significado para as pessoas nas organizações. Por esse motivo, vamos iniciar nossos estudos com um breve olhar sobre a motivação. 3 1.1 O que é motivação? Figura 1 – Motivação Créditos: 3d factory/Shutterstock. Stoner e Freeman (1985, p. 322) sustentam que motivação “são os fatores que provocam, canalizam e sustentam o comportamento”. Maximiano (2004, p. 275) corrobora com a ideia apresentada ao afirmar que motivação “é a energia ou força que movimenta o comportamento”. Para Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 196), motivação é o processo responsável pela intensidade, direção e persistência de esforços de uma pessoa para o alcance de determinada meta”. Segundo os autores, esse conceito-chave apresenta três elementos estruturantes, a saber: • Intensidade: refere-se a quanto esforço o indivíduo despende, sendo o elemento ao qual o senso comum se refere ao tratar de motivação. • Direção: refere-se à canalização do esforço e energia na direção certa para produzir o resultado desejado. • Persistência: refere-se à medida de tempo pelo qual um indivíduo consegue manter seus esforços e à capacidade de ir adiante apesar das restrições de contexto e obstáculos. Exemplo: João passa noites e noites (intensidade) debruçado sobre o projeto de desenvolvimento do novo produto (direção) e está focado em aprimorar os protótipos, não importa quantas vezes tenha que fazê-lo 4 (persistência). João é um exemplo de uma pessoa motivada, dado que se mantém firme na tarefa até que seu propósito seja atingido. 1.2 Teorias de conteúdo, processo e reforço Ao estudarmos motivação, encontramos duas linhas bastantes distintas de investigação sobre o tema, uma que investiga a motivação à luz do conteúdo desta, as teorias de conteúdo da motivação; outra que se debruça sobre o processo motivacional, as teorias de processo da motivação; e uma terceira que se concentra nas formas pelas quais se aprende o comportamento, a teoria de reforço da motivação. As teorias de conteúdo da motivação têm por foco de estudo as necessidades internas que motivam o comportamento. Sendo que o indivíduo age no sentido de satisfazer ou reduzir suas necessidades. As teorias de conteúdo da motivação estão associadas a Maslow, Alderfer, Mc Gregor, Herzberg, Atkinson e MacClellnad. Neste estudo, vamos destacar a Hierarquia das Necessidades de Maslow e a Teoria dos dois fatores de Herzberg. As teorias de processo da motivação consideram que as necessidades são apenas mais um elemento no processo por meio do qual as pessoas decidem se comportar, somando a elas outros elementos, tais como: capacidades, percepção de papel, compreensão a respeito de comportamentos que podem levar a alcançar objetivos, expectativas, identificação de consequências positivas ou não de determinados comportamentos, entre outros. Desta forma, as teorias de processo se debruçam sobre o estudo dos processos de pensamento por meio dos quais as pessoas decidem agir (Stoner; Freeman, 1985). A teoria de reforço da motivação busca compreender a forma pela qual a pessoa aprende determinado comportamento. Trata-se de uma abordagem com base na motivação alicerçada na lei do efeito, “a ideia de que o comportamento com consequências positivas tende a ser repetido, enquanto o comportamento com consequências negativas tende a não ser repetido” (Stoner; Freeman, 1985, p. 332). 5 Figura 2 – Teorias da motivação Fonte: elaborado por Lotz, 2021. Inegavelmente, o estudo de todas as teorias da motivação fornece aos gestores insights relevantes sobre os aspectos que mobilizam, sustentam e modificam o comportamento. E com o objetivo de estimular insights sobre o tema, traremos duas teorias de conteúdo, uma de processo e uma de reforço da motivação nas sessões a seguir. TEORIAS DA MOTIVAÇÃO TEORIAS DE CONTEÚDO Enfatizam o "o que" da motivação Conteúdo dos objetivos e aspirações do indivíduo 1. Hierarquia das necessidades de Maslow 2. Teoria dos Dois Fatores de Herzberg 3. Teoria X e Y de Mc Gregor 4. Teoria ERC de Alderfer 5. Teoria da Motivação pela busca pelo prazer ou fuga da dor TEORIAS DE PROCESSO Enfatizam o "como" da motivação Processos de pensamento que transformam em motivação Descrevem o comportamento baseado em crenças e valores 1. Abordagem da Expectativa de Vroom 2. Abordagem da Equidade de Adams 3. Teoria do Estabelecimento de Objetivos TEORIA DO REFORÇO Trabalha com a modificação do comportamento 6 1.2.1 Teorias de conteúdo da motivação Nesta sessão, você vai conhecer duas das mais destacadas teorias da motivação, a hierarquia das necessidades de Maslow e a teoria dos dois fatores de Herzberg. 1.2.1.1 Hierarquia das necessidades de Maslow No início da década de 1940, Abraham Maslow, psicólogo norte americano, nascido no Brooklyn, Nova York, em 1908, desenvolveu a teoria da hierarquia das necessidades humanas, com base na qual é possível criar inferências sobre o que motiva cada pessoa. De acordo com es estudos de Maslow, o princípio basilar da motivação é que uma necessidade satisfeita não é “motivador” de comportamento. Segundo essa abordagem, o que de fato motiva as pessoas são as necessidades insatisfeitas. Emprestamos de Lacombe e Heilborn (2003, p. 312) as seguintes palavras: O que motiva as pessoas são as necessidades insatisfeitas. O progresso é causado pelo esforço das pessoas para satisfazer as suas necessidades. As pessoas sempre têm necessidades insatisfeitas. Quando uma necessidade prioritária é satisfeita, ainda que não o seja à saciedade, outras emergem e ocupam o primeiro lugar na lista de prioridades. Ao definir a hierarquia das necessidades, Maslow chegou à conclusão apresentada na figura a seguir. Figura 3 – Hierarquia das necessidades de Maslow 7 Fonte: elaborado por Lotz com base em Lacombe; Heilborn, 2003, p. 313. O autor postula que existe a tendência, na maior parte das pessoas, em buscara satisfação primeiro das necessidades básicas, dado que essas são imperativas à biologia e sobrevivência. Quando estas são atendidas, ruma-se para o atendimento das outras. É essencial que dois pontos sejam aclarados em relação a esta teoria. O primeiro é que as necessidades de cada indivíduo variam com o tempo, não apenas em razão da sua satisfação, mas em função das alterações na hierarquia dos valores de cada um. O segundo ponto é que o que foi apresentado por Maslow é uma tendência média e, portanto, não pode ser encarada como escala rígida. À luz da hierarquia das necessidades, Morgan, em seu trabalho intitulado Imagens da Organização, citado por Lacombe e Heilborn (2003, p. 316), sugere as seguintes medidas a serem acolhidas pelas organizações: Figura 4 – Sugestões de Morgan AUTORREALIZAÇÃO Utilizar o potencial de aptdões e habilidades , autodesenvolvimento e realização pessoal Provar a si próprio a necessidade de trabalho desafiante e criativo QUERO CONTRIBUIR COM VALOR ESTIMA - STATUS Autoestima e estima por parte dos outros Desejo de sobressair socialmente; oportunidade de progresso; reconhecimento e mérito QUERO SER RECONEHCIDO SOCIAIS - ASSOCIAÇÃO Amizade, afeto, interação e aceitação dentro do grupo e da sociedade Filiação e aceitação por grupos; amizade com colegas; relações interpessoais harmoniosas e acolhedoras QUERO SER ACEITO PELO GRUPO SEGURANÇA Proteção contra ameaças e riscos à integridade física e à sobrevivência Ordem e segurança públicas, previdência social; planos de aposentadoria; planos de assitência médica; seguros; poupança; investimentos QUERO CONTINUAR EXISTINDO NO FUTURO BÁSICAS Alimento , abrigo, proteção contra a natureza , repouso, exercício, sexo e outras necessidades orgânicas Melhor remuneração imediata; melhores condições de trabalho QUERO EXISTIR 8 Fonte: elaborado por Lotz com base em Lacombe e Heilborn, 2003, p. 313. Cumpre salientar que as necessidades, privações e descontentamento têm papel importante para desencadear o processo criativo e motivar descobertas e, por consequência, inovações, dado que “é a insatisfação que impulsiona o progresso”, enfatizam Lacombe e Heilborn ( 2003, p. 317). 1.2.1.2 Teoria dos dois fatores de Herzberg A teoria bifatorial, ou teoria da higiene e motivação foi desenvolvida por Frederick Herzberg, que sugeriu que: o oposto da satisfação não é a insatisfação, como normalmente se acreditava. A eliminação das características de insatisfação de um trabalho não necessariamente o torna satisfatório [...] suas descobertas indicavam a existência de um todo continuum: o oposto de satisfação é a não satisfação e o oposto da insatisfação é a não insatisfação. (Robbins; Judge; Sobral, 2010, p. 281) Para Herzberg, os fatores que levam a satisfação no trabalho são bastante diferentes dos que levam à insatisfação. E o que isso significa? Que ao eliminar os fatores que promovem insatisfação, os gestores podem produzir um ambiente NECESSIDADES DE AUTORREALIZAÇÃO Estímulo ao comprometimento; trabalho com dimensão importante ao colaborador e que venha ao encontro de seus propósitos NECESSIDADES DE ESTIMA cargos que possibilitem a realização, autonomia e responsabilidade; trabalho que valorize a identidade NECESSIDADES SOCIAIS Estímulo a interações saudáveis no ambiente de trabalho; atividades sociais e esportivas NECESSIDADES DE SEGURANÇA Seguro saúde; planos de aposentadoria; segurança no emprego; plano de carreira NECESSIDADES BÁSICAS salário; benefícios; segurança e condições agradáveis de trabalho 9 mais tranquilo, mas não necessariamente produzirão motivação. Em outros termos, apaziguam, mas não motivam os colaboradores. Desta forma, os fatores relativos ao trabalho, tais como remuneração, qualidade da supervisão, segurança, entre outros, foram classificados como fatores higiênicos. Ao passo que o crescimento pessoal, responsabilidade e potencial para realização são, sim, fatores que incidem diretamente na motivação e, portanto, classificados como fatores motivacionais, como ilustra a figura a seguir. Figura 5 – Fatores motivacionais e fatores higiênicos Fonte: elaborado por Lotz com base em Stoner; Freeman, 1985, p. 326 -327, e Portal Educação, [S.d.]. Como podemos observar, os fatores higiênicos estão diretamente relacionados ao caráter preventivo. Atuam de modo a evitar possíveis fontes de insatisfação. Quando esses fatores higiênicos são ótimos, evitam a insatisfação, mas não garantem a motivação. Contudo, quando não presentes, precários ou insipientes, provocam insatisfação e, por esse motivo, são denominados de fatores insatisfacientes. Os fatores motivacionais, por outro lado, são aqueles que impactam na satisfação da pessoa para com o trabalho. E, quando não presentes ou precários, desvitalizam as relações de comprometimento e satisfação para com o exercício das atividades, por esse motivo, são denominados de fatores satisfacientes. FATORES MOTIVACIONAIS INTRÍNSECOS Realização Reconhecimento Responsabilidade Progresso Oportunidade de desenvolvimento FATORES HIGIÊNICOS EXTRÍNSECOS Salário Benefícios Condições físicas e ambientais da empresa Tipo de supervisão recebida Politica da empresa Preparo técnico do gestor 10 Apesar de o modelo de Herzberg ser bastante criticado em virtude dos aspectos metodológicos utilizados para sua construção, ele tem sido amplamente divulgado nos meios empresariais dado as significativas reflexões que pode provocar não a respeito do que motiva as pessoas nas organizações. Mas mudando a pergunta para: o que acontece aqui que gera insatisfação e desmotivação? A resposta a essa questão pode dar luz a estratégias bastante inteligentes para a gestão de pessoas. 1.2.2 Teoria de processo da motivação Também denominada abordagem expectativa/valência, é o modelo que especifica que o esforço para atingir um alto desempenho é resultante de se perceber a possibilidade de que o alto desempenho pode ser alcançado e recompensado se alcançado e que a recompensa valerá o esforço dispendido” (Stonner; Freeman; 1985, p. 238). A teoria da expectativa está construída sobre quatro pressupostos, a saber: Figura 6 – Postulados da teoria da expectativa Fonte: elaborado por Lotz com base em Nadler; Lawer, 1979, citados em Stonner, Freeman, 1985, p. 328. O comportamento é deternimado por uma combinação de fatores do indivíduo e do ambiente Os indivíduos tomam decisões conscientes sobre seu comportamento na organização Os indivíduos têm necessidades, desejos e objetivos diferentes Os indivíduos decidem entre alternativas de comportamentos baseados em suas expectativas de que determinado comportamento levará a um resultado desejado 11 Esta abordagem de motivação sustenta-se sobre três importantes pilares, conforme o Quadro 1. Quadro 1 – Pilares da teoria da expectativa EXPECTATIVA DE RESULTADO DO DESEMPENHO Os indivíduos esperam certas consequências de seus comportamentos. Tais expectativas afetam as decisões sobre como se comportar. Se eu fizer isso, qual será o resultado? VALÊNCIA O resultado de um comportamento específico tem uma valência, ou seja, poder de motivar. A valência varia de indivíduo para indivíduo. O resultado vale o meu esforço? EXPECTATIVA ESFORÇO DESEMPENHO A expectativa sobre a dificuldade de ter um desempenho bem-sucedido irá afetar as decisões sobre o comportamento Quais minhas chances de chegar a um resultado que valha a pena para mim? Fonte: elaborado por Lotz com base em Stoner; Freeman, 1985, p. 328. Ainda que, ao analisarmos o quadro, possamos identificar claramente os elementos constituintes das recompensas intrínsecas – aquelas experimentadas diretamente pelo indivíduo, tais como satisfação por desenvolver novas competências,satisfação com o trabalho, sentimento de realização –, identificamos também recompensas extrínsecas, como remuneração, bonificações, promoções entre outros. As recompensas extrínsecas “juntam as pontas” de todos os outros aspectos sobre retenção trazidos nesta disciplina. À luz da teoria da expectativa da motivação, podemos refletir a respeito do grau de valência da remuneração, benefícios sociais, escalonamento de cargos, entre outros. Entra em cena a importância de projetar sistemas de 12 recompensas capazes de fortalecer o comprometimento dos talentos com a organização. As recompensas têm por objetivo estimular determinados comportamentos. A palavra “recompensa” significa retribuição, prêmio ou reconhecimento pelos serviços de alguém. A recompensa é o elemento fundamental na condução das pessoas em termos de retribuição, retroação ou reconhecimento do seu desempenho na organização. Deve funcionar como um reforço positivo ao elevado desempenho e sustentar, na medida do possível, a permanência e o engajamento das pessoas na organização. (Chiavenato, 2014, p. 237) E quais as implicações para os gestores? O modelo da expectativa, segundo Nadler e Lawer, citados por Stoner e Freeman (1985, p. 329), oferece pressupostos interessantes para que os gestores possam pensar os sistemas de estímulo e recompensa, conforme Quadro 2. Quadro 2 – Implicações para as organizações Fonte: elaborada por Lotz com base em Stoner; Freeman, 1985, p. 329-330. •Para que as recompensas tenham valência, elas devem ser adequadas aos indivíduos. Uma pesquisa pode revelar o perfil do pessoal e por consequência as recompensas que mais fazem sentido Identificar as recompensas mais valorizadas pelos colaboradores •Clareza a respeito de desempenho, entregas, métricas e comportamentos para que possam saber inequivocamente o que devem fazer para que possam ser recompensados (engenharia de cargos) Determinar com clareza o desempenho que a organização deseja •Se acreditar que o nível de desempenho é alto demais e que a organização não oferece condições para que seja alcançado, certamente resultará em baixa motivação por parte do colaborador Estabelecer patamares de desempenho desafiadores, porém, alcançáveis •Para manter a motivação, a recompensa adequada deve ser clarametne associada ao desempenho bem-sucedido, em um curto período de tempo Atrelar recompensas ao desempenho •Conflitos entre sistemas de recompensas e outras influências na situação de trabalho podem demandar que o gestor faça ajustes, de modo a manter a valência da recompensa para o indivíduo ou grupo Identificar os fatores que podem influenciar na eficácia da recompensa •" Recompensas pequenas, motivaçaões pequenas" Certirficar-se de que a recompensa é adequada 13 Ainda que o trabalho possa ser uma fonte de prazer e de expressão dos talentos e da construção de um papel junto a sociedade, é importante considerar que as pessoas trabalham movidas por expectativas de resultados. Assim, estão dispostas a investir sua energia, tempo, inteligência e dedicação desde que isso lhes traga algum retorno significativo. Sob pena de ir aos poucos desvitalizando, enfraquecendo o engajamento e a dedicação, ao perceber que o investimento realizado é muito menor que o retorno percebido (Lotz, 2021). 1.2.3 Teoria do reforço da motivação A teoria do reforço, associada a B. F. Skinner, investiga como as consequências dos comportamentos anteriores afetam as futuras ações num processo de aprendizado cíclico, que se dá como ilustra a figura a seguir. Figura 7 – Processo do comportamento Fonte: elaborado por Lotz, 2021. E como podemos interpretar esta sequência? O comportamento voluntário de um indivíduo (resposta) a uma situação ou evento (estímulo) é a causa de consequências específicas. Se essas consequências forem positivas, o indivíduo, tenderá no futuro, a dar respostas semelhantes em situações semelhantes; se as consequências forem desagradáveis, o indivíduo tenderá a mudar o seu comportamento com o objetivo de evitá-las. (Stoner; Freeman, 1985, p. 332) Existem quatro métodos utilizados para a modificação do comportamento, que nada mais é do que a utilização da teoria do reforço para mudar o comportamento, são estes: o reforço positivo; o aprendizado da abstenção; a extinção e a punição, a saber: Quadro 3 – Estratégias de modificação do comportamento ESTÍMULO RESPOSTA CONSEQUÊNCIAS RESPOSTA FUTURA 14 Fonte: elaborado por Lotz com base em Stoner; Freeman, 1985, p. 333. Ao observarmos as estratégias de modificação e comportamento, imediatamente nos remetemos aos estudos de Hammer para o uso dessas referidas estratégias, conforme o Quadro 4. Quadro 4 – Estratégias de Hammer Regra 1 NÃO RECOMPENSAR IGUALMENTE TODOS OS INDIVÍDUOS Para serem fatores eficazes de reforço de comportamento, as recompensas devem se basear no desempenho. Recompensar a todos de forma igual acaba reforçando o desempenho fraco ou mediano e ignora o alto desempenho. Regra 2 ESTAR CONSCIENTE DE QUE DEIXAR DE RESPONDER TAMBÉM PODE MODIFICAR O COMPORTAMENTO Os gestores influenciam os membros do time tanto pelo que fazem quanto pelo que não fazem. Por exemplo, deixar de reconhecer e tecer um elogio a um colaborador que o mereça pode influenciar e enfraquecer o empenho deste em uma próxima vez. Regra 3 CERTIFICAR-SE DE DIZER AOS INDIVÍDUOS O QUE ELES PODEM FAZER PARA CONSEGUIR O REFORÇO O estabelecimento de um padrão de desempenho permite que os indivíduos saibam o que deveriam fazer para ser recompensados, então eles podem ajustar seu padrão de trabalho de acordo com isso. Regra 4 CERTIFICAR-SE DE DIZER AOS INDIVÍDUOS O QUE ELES ESTÃO FAZENDO DE ERRADO Se um gestor deixa de recompensar um colaborador sem indicar por que ele não está sendo recompensado, o profissional pode ficar REFORÇO POSITIVO •Uso de consequências positivas para encorajar o comportamento desejado. APRENDIZADO DA ABSTENÇÃO •Aprendizado que ocorre quando os indivíduos mudam o comportamento para escapar de circunstâncias desagradáveis. EXTINÇÃO •A ausência de reforço ao comportamento não desejado, de modo que ele eventualmente pare de ser repetido PUNIÇÃO •Aplicação de consequências negativas para interromper ou impedir o comportamento inadequado. 15 confuso sobre qual comportamento o gestor considera indesejável ou se sentir manipulado. Regra 5 NÃO PUNIR NA FRENTE DOS OUTROS Repreender um profissional pode, às vezes, ser um meio útil de eliminar um comportamento não desejado. Entretanto, a repreensão pública humilha o colaborador e pode fazer com que todos os membros do grupo se ressintam com o gestor. Regra 6 SER JUSTO As consequências de um comportamento devem ser adequadas. Os colaboradores devem receber as recompensas que merecem. Não recompensar adequadamente, ou recompensar demais colaboradores que não o mereçam reduz o efeito do reforço de recompensas. Fonte: Stoner; Freeman, 1985, p. 333. Agora que olhamos para os aspectos relativos à motivação, vamos nos debruçar sobre o estudo dos programas de reconhecimento e recompensas. TEMA 2 – POLÍTICA SALARIAL E SISTEMAS DE RECONHECIMENTO E RECOMPENSAS Qual a questão mais vital para as empresas hoje? Capital? Estratégia? Produtos inovadores? Tecnologia de ponta? São todos eles itens poderosos. Mas subitamente perdem a intensidade e força quando confrontados com outro tópicos: o talento. Nada é tão vital na agenda das empresas hoje, como o talento. Por que sem talento, o resto – capital, estratégia, produtos inovadores e o que mais se queira – simplesmente não se consegue. Ou se consegue apenas em doses insuficientes para estes ásperos e perigosos tempos de competição exacerbada (Nelson Blecher citado por Pontes, 2015, p. 25) O sistema de recompensas incluiaspectos financeiros e não financeiros. Os financeiros podem ser diretos e indiretos, como apresenta a figura a seguir. Figura 8 – Sistemas de recompensas 16 Sistemas de recompensas Financeira Não financeira Direta Indireta Relativa ao cargo Relativa ao ambiente de trabalho Salários Prêmios Comissões Bônus Legal Horas extras Adicionais Descanso Semanal Remunerado Férias 13º salário Seguro- desemprego Entre outros Voluntária Benefícios sociais Seguro saúde Seguro de vida Prêmios por produção Entre outros Variedade Identidade Significado Autonomia Feedback Oportunidades de desenvolvimento Políticas de Gestão de Pessoas Reconhecimento Símbolos de status Saúde e qualidade de vida no trabalho Fonte: Chiavenato, 2014, p. 300. Assim, há que se considerar que o engajamento do profissional está fortemente relacionado ao grau de reciprocidade entre os resultados que produz para a organização e os benefícios que recebe em virtude destes. Temos aqui uma forte referência ao reforço positivo, que postula que o indivíduo desempenha suas atividades da forma pela qual obtém maiores recompensas; e as recompensas auferidas reforçam e fortalecem cada vez mais a melhoria do desempenho (Lotz, 2021). 17 2.1 Política salarial As organizações esperam de seus colaboradores resultados constantes e, por outro lado, os colaboradores esperam das organizações crescimento profissional e financeiro de acordo com seus resultados (Roberto Pierre Rigaud, consultor de RH). (Endeavor Brasil, [S.d.]) Figura 9 – Salário Créditos: Andrey_Popov/Shutterstock. O que é política salarial? Emprestamos de Chiavenato (2014, p. 261) o conceito a seguir: É o conjunto de decisões organizacionais tomadas a respeito de assuntos relacionados com remuneração e benefícios concedidos aos colaboradores. Na verdade, é um conjunto de normas e diretrizes que orienta a administração dos salários na organização e define uma estrutura salarial. Constitui a trilha sobre a qual correrão as decisões sobre salários. O objetivo de uma política salarial é indicar um sistema de recompensas justo, apropriado e equitativo para os colaboradores e para a organização. E, de acordo com o autor supracitado, é essencial que uma política salarial atenda aos seguintes critérios: Quadro 5 – Critérios da política salarial Critérios Especificações 1 Adequada A compensação deve se distanciar dos padrões mínimos estabelecidos pelo governo ou pelo acordo sindical 2 Equitativa Cada pessoa deve ser remunerada proporcionalmente de acordo com seu esforço, habilidades e capacitação profissional 18 3 Balanceada Salário, benefícios e outras recompensas devem proporcionar um pacote total de recompensas que seja razoável 4 Eficácia quanto a custos Os salários não podem ser excessivos, em função do que a organização pode pagar 5 Segura Os salários devem ser suficientes para ajudar os empregados a se sentir seguros e ajudá-los a satisfazer suas necessidades básicas 6 Incentivadora Os salários devem incentivar eficazmente o trabalho produtivo 7 Aceitável para os funcionários As pessoas devem compreender o sistema de salários e sentir que representa um sistema razoável para eles e para a organização Fonte: Chiavenato, 2014, p. 261. Vale alertar para o fato de que a política salarial não é o único fator, mas exerce forte influência na atração e retenção de talentos; no engajamento destes com a organização; no estímulo ao desenvolvimento e a produtividade. Esses fatores produzem efeitos na qualidade do clima organizacional, no comprometimento e engajamento em relação ao alcance das metas e objetivos organizacionais, assim como na imagem da empresa no mercado. E, por tais motivos, tem papel de destaque no estudo da gestão de pessoas. 2.2 Gestão salarial Gestão salarial é a “definição clara e objetiva dos valores salariais a serem pagos aos colaboradores de uma organização, incluindo remunerações fixas e variáveis além do pacote de benefícios” (Salário BR, 2014). A gestão de salários é: O conjunto de normas e procedimentos utilizado para estabelecer e/ou manter estruturas de salários equitativas e justas na organização. Como a organização é um conjunto integrado de cargos em diferentes níveis hierárquicos e em diferentes setores de atividades, a administração salarial é um assunto que envolve a organização como um todo e que repercute em todos os níveis e setores. Uma estrutura salarial é um conjunto de faixas salariais relacionada com os diferentes cargos existentes na organização. (Chiavenato, 2014, p. 247) E como são definidos os valores atribuídos aos cargos? 19 Os valores são definidos com base em uma mescla equilibrada entre “bom senso”, que requer a participação e o envolvimento do quadro funcional da companhia, e aspectos chamados “científicos”, ou seja, valores calculados matemática e estatisticamente. Os valores assim definidos funcionam como parâmetros usados em uma ferramenta de movimentação salarial consistente e, de maneira simultânea e permite a vinculação dos resultados do trabalho à produtividade organizacional. A equidade salarial também será buscada para evitar as insatisfações individuais, muitas vezes fruto da falta de critérios claros e precisos. (Salário BR, 2014) Compete, portanto, à gestão salarial, harmonizar o montante da folha de pagamento ao faturamento da organização, olhando tanto para os aspectos internos, quanto externos, como apresenta a figura a seguir. Figura 10 – Aspectos que influenciam na composição e gestão de salários Fonte: elaborado pela autora com base em Chiavenato, 2014. A gestão de cargos e salários deve primar pelo equilíbrio entre os fatores internos e externos: • Equilíbrio interno: acontece por meio da correta avaliação de cargos na estrutura hierárquica. Os colaboradores julgam a equidade de suas remunerações, comparando-a à dos demais. Para banir o fantasma da insatisfação pelo efeito de comparação, é fundamental ter clareza a respeito da complexidade, responsabilidade, conhecimento, nível de expertise e pressão por produtividade. É aí que é importante verificar 20 como o organograma está construído. A ausência dele impacta diretamente nesta clareza. • Equilíbrio externo: obtido por meio da adequação salarial da empresa em relação ao que é praticado pelo mercado. Os profissionais julgam a equidade de suas remunerações de acordo com o que é praticado por outras organizações. Quando esse equilíbrio externo não é mantido, certamente a organização encontrará dificuldades em atrair e reter seus talentos. Sobre a remuneração fixa, é importante: definir e descrever bem os cargos com base em escopo e responsabilidade, realizar um estudo de mercado, construir faixas salariais alinhadas ao peso interno e externo (valor de mercado) dos cargos, e estabelecer uma regra de movimentação salarial vinculada com a performance individual e a capacidade financeira da empresa (orçamento) (Paulo Saliby, Sócio da Saliby RH e mentor da Endeavor). (Endeavor Brasil, [S.d.]) TEMA 3 – REMUNERAÇÃO Não basta remunerar as pessoas pelo seu tempo dedicado à organização. Isso é necessário, mas insuficiente. É preciso incentivá- las continuamente a fazer o melhor possível, a ultrapassar o desempenho atual e alcançar metas e resultados desafiantes. (Chiavenato, 2014) Remuneração “é a soma de tudo o que é pago aos empregadospelos serviços prestados: salários, gratificações, adicionais (periculosidade, insalubridade, tempo de serviço, trabalho noturno, horas extras) e benefícios financeiros”, conforme definem Lacombe e Heilborn (2003, p. 275). Lembrando que, se o benefício é obrigatório por lei, temos os encargos sociais, nos quais estão incluídos: repouso semanal remunerado, seguro de acidente de trabalho, décimo terceiro salário, férias remuneradas, abono de férias, vale transporte, contribuição para a previdência, contribuições para associações, salário família, salário maternidade, salário-educação, entre outros. Quando se trata de remuneração, temos a remuneração funcional e a remuneração estratégia. Sobre a remuneração funcional destacamos: A remuneração funcional – por funções, também de denominada e remuneração por cargos e salários “é realizada a partir dos cargos que todos os colaboradores assumem na empresa, tendo base nas descrições das suas tarefas e responsabilidades. Esse sistema é considerado um dos mais burocráticos [...] É classificado como um programa fixo e prático, que realiza os pagamentos dos funcionários conforme sua função, estabelece a cultura da disciplina e hierárquica, promovendo o equilíbrio e o sentimento 21 de justiça para os colaboradores que possuem os mesmos cargos. (Mereo, 2020) Já a remuneração por competências tem caráter fortemente estratégico, possibilita que o profissional seja reconhecido por sua performance, dedicação e engajamento E como parte da gestão estratégica de pessoas, tem por objetivo reconhecer o talento, incentivar o desenvolvimento de competências de modo a trazer tanto mais satisfação pessoa e resultados para a organização. Abraça a prática de oferecer outros incentivos ao desempenho tais como participação de lucros, gratificações e bônus. O quadro a seguir oferece maiores informações. Figura 11 – Remuneração funcional e remuneração estratégica Fonte: Chiavenato, 2014, p. 249. Remunerar de acordo com a avaliação do cargo ocupado Justiça equitativa e manutenção do equilíbrio interno e externo dos salários Adequação da remuneração ao cargo Percepção dos ocupantes quanto à adequação de sua remuneração em relação ao cargo ocupado Cargos adequadamente remunerados Desempenho da força de trabalho e custos da remuneração Baseada na competência Remunerar segundo as avaliações das competências individuais e/ou grupais Justiça equitativa e dinâmica do equilíbrio interno e externo da organização Adequação da remuneração às competências individuais ou grupais Percepção das pessoas quanto à adequação da remuneração em relação às competências Competências adequadamente remuneradas Contribuição individual e/ou grupal e custos de remuneração Objetivo primário Remuneração Baseada no cargo Baseada na competência Retorno sobre o investimento Objetivo final Eficiência Eficácia Indicador 22 Na remuneração funcional, o salário é fixo, independentemente da produtividade do profissional, dado que o numerário é definido pelo cargo. O acompanhamento de performance e a avaliação de desempenho não incidem sobre os valores recebidos pelo profissional. Ao passo que, na remuneração estratégica por competências, a remuneração é variável, sendo que todos os profissionais podem receber adicionais por alto desempenho, fato este que estimula o engajamento às metas e objetivos da área e da organização (Lotz, 2021). 3.1 Composição da remuneração A remuneração total pode ser constituída por remuneração básica, incentivos salariais, incentivos não financeiros e benefícios, como apresenta a figura a seguir. Figura 12 – Composição da remuneração total Fonte: elaborado por Lotz com base em Chiavenato, 2014, p. 241. A adoção, a proporção e a ênfase relativa de cada um dos componentes acima apresentados variam muito de uma empresa para outra, tendo em vista a política de remuneração adotada por cada organização. Assim temos o caráter multivariado da remuneração. Ainda que frequentemente as organizações pratiquem a remuneração básica, os incentivos salariais são programas adotados para recompensar R RA AL 23 profissionais que alcançam resultados significativos para a organização e que apresentam elevada performance. Remuneração variável, premiações, participações nos lucros e bonificações são alguns exemplos de incentivos salariais que podem ser considerados e incorporados à política salarial praticada pela empresa. Também os incentivos não financeiros, a exemplo das distribuições de ações ou opções de compra de ações da companhia, recebem destaque na composição da remuneração. Assim como os pacotes de benefícios flexíveis, aqueles que se ajustam às necessidades do profissional e, portanto, tendem a ter maior valência do que a oferta de benefícios sobre os quais o profissional não enxerga vantagem (Lotz, 2021). Saiba mais Plano de bonificação anual; opção de compras de ações; remuneração variável; participação nos resultados; remuneração por competências e distribuição de lucros são práticas que têm sido cada vez mais adotadas por organizações que de fato desejam atrair e reter seus melhores talentos. 3.2 Remuneração variável Figura 13 – Remuneração variável 24 Créditos: Andrey_Popov/Shutterstock. O modelo de remuneração variável não pode ser subjetivo. Tem que ser muito objetivo, quantitativo e mensurável (Melissa Werneck, vice- presidente sênior de Recursos Humanos da Heinz). (Endeavor Brasil, [S.d.]) Uma das fortes tendências para recompensar talentos é a remuneração variável, que recompensa o profissional por resultado alcançado ou competência oferecida. O que é a remuneração variável? É aquela que sofre alterações segundo o desempenho de cada profissional, equipe e organização como um todo. Assim, é imprescindível que esteja atrelada a metas, ou seja, aos resultados de um determinado período que podem ser aferidos por meio dos Key Performance Indicators (KPI). Para atrelar o desempenho à recompensa, a remuneração variável pode ser realizada com base em metas e pagamentos de curto ou longo prazo. • Curto prazo: pagamentos com horizonte até um ano. PLR – Participação nos Lucros e Resultados. Bônus ou Gratificação. • Longo prazo: pagamentos com horizonte maior que 1 ano. Stock Options, Phantom Stock Option (Endeavor Brasil, [S.d.]). A remuneração pode ser paga em dinheiro ou transferência de propriedade. Os tipos mais utilizados são: Participação nos Lucros e Resultados (PLR), bônus, participação acionária ou stock options e phanton stock options, como ilustra o quadro a seguir: Quadro 6 – Tipos de remuneração variável PLR BÔNUS STOCK OPTIONS PHANTON OPTIONS Nome legal Participação em lucros e resultados Gratificação Stock options Phanton Stock Options Base legal Constituição e lei 10.101 de 19.12.2000 CLT Não é tratado pela legislação trabalhista como relação de emprego Não é tratado pela legislação trabalhista como relação de emprego 25 Base de cálculo Lucro ou resultados (vendas, absenteísmos etc.) Metas são definidas pela gestão Metas são definidas pela gestão Metas são definidas pela gestão Periodicidade de pagamento Máximo de 2 vezes anuais com período mínimo de 3 meses entre pagamentos Sem restrições Sem restrições Sem restrições Quem tem direitoDeve abranger 100% dos funcionários A critério da gestão A critério da gestão A critério da gestão Encargos Não há incidências de encargos trabalhistas e previdenciários Há incidência Há incidência Há incidência Como oficializar Acordo coletivo com funcionários e sindicatos Contrato Contrato Social Contrato Fonte: Endeavor, 2021. A remuneração variável oferece ganhos a todos os atores envolvidos. A organização ganha ao estimular o esforço individual e coletivo por desempenho de alto nível, busca pela qualidade, redução de desperdício, reforça valores da cultura da organização e, por consequência, obtém mais altos patamares de resultados desejados. Impacta diretamente no employee experience e no employer branding, atuando como poderoso elemento para a atração e retenção de talentos na organização. Função basilar da gestão de pessoas. 26 TEMA 4 – PLANO DE CARGOS, CARREIRAS E SALÁRIOS Figura 14 – Plano de cargos, carreiras e salários Créditos: Viktoria Kurpas/Shutterstock. O que é um Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS)? É um “descritivo detalhado de todos os cargos da companhia, assim como suas atribuições e responsabilidades — e do salário correspondente a cada uma dessas posições. Garantindo a igualdade e a padronização justa entre os colaboradores” (Kenoby, [S.d.]). Por meio do PCCS, a organização indica a estrutura de cargos e funções; define critérios e regras claras de progressão de níveis para a gestão salarial e fundamenta os critérios em parâmetros técnicos e justos. Assim, a organização define e distingue a remuneração “entre os colaboradores e os cargos, bem como critérios para promoção, progressão, mapa de carreira e benefícios. Tudo isso ajustado aos objetivos estratégicos da empresa, possibilitando equilíbrio com o mercado e com o seu segmento de atuação” (Leme Consultoria, [S.d.]). No sentido do que foi apresentado, cabe destacar alguns elementos: • A clareza sobre todos os cargos da organização (daí a importância de se olhar para o organograma) • Os níveis de progressão horizontais e verticais • As chaves de progressão para a escalada de um nível a outro • Os percentuais que incidirão na remuneração de cada nível • A política de progressão e atualização dos níveis 27 O Quadro 7 apresenta um exemplo das chaves e níveis de progressão para o cargo de gerente administrativo. Quadro 7 – Exemplo de níveis e chaves de progressão Chaves Nível I Critérios Nível II Critérios Nível III Critérios Tempo Tempo de casa Até 3 anos Tempo de casa 3 a 6 anos Tempo de casa 6 a 9 anos AVD Avaliação de desempenho 90% Avaliação de desempenho 95% Avaliação de desempenho 95% Adesão à cultura Participação em cursos e treinamentos 90% ao ano Participação em cursos e treinamentos 90% ao ano Participação em cursos e treinamentos 90% ao ano Pós- graduação Pós- graduação na área de atuação Não requerido Pós- graduação na área de atuação Cursando Pós- graduação na área de atuação Concluído Cursos de extensão Cursos de extensão 10 horas/ano Cursos de extensão 20 horas/ano Cursos de extensão 30 horas/ano Fonte: elaborado por Lotz, 2021. Ao estabelecer os níveis e as chaves de progressão, a organização deve considerar os objetivos estratégicos, a cultura da empresa, o equilíbrio em relação ao que é praticado no mercado, entre outros. Em síntese, ao definir critérios e níveis de progressão, a empresa deve olhar para o mercado, ser congruente com sua cultura e que faça as devidas projeções financeiras, de modo a exercer a política de progressão ofertada de modo sustentável. O que é preciso considerar para elaborar e implementar um PCCS? O quadro a seguir elenca os principais aspectos e etapas para a criação e implementação do referido plano. 28 Quadro 8 – Criação e implementação do PCCS Etapas Fases Planejamento e elaboração do plano • Elaboração do plano • Discussão do plano com as gerências • Aprovação do plano • Divulgação do plano aos colaboradores Análise dos cargos • Coleta de dados • Descrição dos cargos • Especificação dos cargos • Titulação dos cargos • Classificação dos cargos conforme grupos ocupacionais • Catálogo dos cargos Avaliação de cargos • Escolha de cargos-chave • Formação do comitê de avaliação • Escolha do método de avaliação • Avaliação dos cargos-chave • Avaliação dos demais cargos Pesquisa salarial • Escolha dos cargos • Escolha das empresas • Elaboração do manual de coleta de dados • Coleta de dados • Tabulação de dados • Análise de resultados • Relato às empresas participantes Estrutura salarial1 • Salário de admissão • Promoção horizontal e vertical • Reavaliação de cargos • Reajustes salariais • Nível hierárquico das aprovações Políticas de remuneração • Definição dos critérios de progressão • Definição de adicionais salariais • Definição do pacote de benefícios 1 “A Estrutura Salarial define a faixa salarial prevista para remunerar os ocupantes de um cargo. Esta faixa é dividida em estágios que permitem diferenciar as pessoas dependendo de sua performance. De maneira orgânica, os valores desses níveis ou sites são vinculados ao Programa de Avaliação do Desempenho Funcional”. (Salário BR, [S.d.]) 29 • Composição da remuneração (salário + benefícios) Carreiras profissionais • Sucessão de cargos • Divulgação das carreiras aos colaboradores • Definição do planejamento de Recursos Humanos • Programa de desempenho • Programa de t • reinamento e desenvolvimento Participação nos lucros ou resultados • Definição da estrutura do programa Fonte: Pontes, 2015, p. 34-35. O PCCS deve ser implementado com a colaboração das gerências e ser pautado na transparência e clareza de critérios de progressão. Sob pena de ter o efeito contrário ao que se propõe que é de promover engajamento e gerar satisfação aos talentos da organização. O fator crítico de sucesso de um plano de progressão é o estímulo que oferece para que os colaboradores olhem para o futuro, e abracem o desenvolvimento pessoal, profissional e na carreira. Ao estabelecer critérios de progressão de níveis tanto horizontais quanto verticais, é importante que a organização desafie o profissional com metas estimulantes e que observe o atendimento de fatores higiênicos e motivacionais. TEMA 5 – PROGRAMA DE BENEFÍCIOS Uma das práticas que as organizações utilizam para elevar o fator atratividade e a retenção de talentos é a oferta de benefícios sociais, definidos por Chiavenato (2014, p. 290) como: Benefícios sociais são facilidades, conveniências, vantagens e serviços sociais que as empresas oferecem aos seus funcionários, no sentido de lhes poupar esforços e preocupações. Constituem a remuneração indireta concedida a todos os funcionários, como uma condição de emprego, independentemente do cargo ocupado, em conjunto com a chamada remuneração direta, que é o salário específico para o cargo ocupado, em função da avaliação do cargo ou do desempenho do ocupante. Os benefícios contribuem para o atendimento das necessidades dos trabalhadores, deixando-os livres de um conjunto de preocupações 30 potencialmente promotoras de ansiedade. Como efeito, observa-se, assim, a liberação da energia para o comprometimento com o trabalho e a produtividade. Os benefícios são considerados remuneração indireta, concedida e extensiva a todos os colaboradores. Figura 15 – Programa de benefícios Créditos: Panchenko Vladimir/Shutterstock. Os benefícios sociais auxiliam de maneira significativa na qualidade de vida do trabalhador, quando faz boa utilização dos benefícios sociais, oferececondições para proporcionar a seus dependentes legais oportunidades para desenvolvimento cultural, intelectual. Devido algumas de suas obrigações que seriam pagas com salários específicos, passam a serem pagas pelos benefícios oferecidos pelas organizações, com isso às economias geradas em função do benefício recebido, proporciona aumento do poder econômico do empregado, oferecendo oportunidade utilizar esta economia, para investir em seu desenvolvimento pessoal e familiar. (Santos, 2020) Portanto, é imprescindível que o pacote de benefícios ofertado venha ao encontro do atendimento das necessidades do profissional. É importante observar que o que atende à necessidade de um grupo de profissionais pode não fazer o menor sentido para outro grupo. É o caso de oferta de creches para trabalhadores que não têm filhos ou ao menos não nesta referida idade escolar. Então, oferecemos destaque aos benefícios flexíveis, que: Consistem em um programa básico de cobertura com vários benefícios ao redor. O programa básico é fixo e representa a proteção que não pode ser mudada, enquanto os demais benefícios são flexíveis e opcionais, dependendo da necessidade de utilização de cada pessoa. Se a pessoa não utilizar os benefícios flexíveis, eles serão acumulados em sua conta pessoal, para gastá-los em situações contingenciais. A quantidade de benefícios flexíveis pode variar de um ano para outro. Chiavenato. (2014, p. 293) 31 Ainda que os benefícios constituam uma das formas pelas quais as organizações buscam atrair e reter seus talentos, vale destacar que alguns deles são fruto de exigências da legislação trabalhista e previdenciária, sindicatos e acordos coletivos de trabalho. Outros se configuram como meios lícitos de realizar deduções em obrigações tributárias e impostos. O quadro a seguir oferece um panorama a respeito dos tipos de benefícios quanto à exigibilidade legal; quanto à natureza e quanto aos objetivos (Lotz, 2021). Quadro 9 – Tipos de benefícios QUANTO A EXIGIBILIDADE LEGAL LEGAIS ESPONTÂNEOS • Fundo de Garantia por Tempo de Serviço-FGTS • Férias (acrescidas de 1/3) • Décimo Terceiro Salário • Aposentadoria • Seguro acidente de trabalho • Salário família • Auxílio-doença • Salário maternidade • Seguro-desemprego • Gratificações • Refeições subsidiárias • ransporte subsidiário • Seguro de vida em grupo • mpréstimos para funcionários • Assistência médico-hospitalar • Complementação da aposentadoria • Planos de seguridade social QUANTO À NATUREZA MONETÁRIOS NÃO MONETÁRIOS • Férias • 13º salário • Gratificações • Complementação do salário • Seguro-acidente de trabalho • Reembolso ou descontos para formações acadêmicas e idiomas • Auxílio-creche • Refeitório • Assistência médico-hospitalar • Assistência odontológica • Serviço social e aconselhamento • Clube esportivo ou grêmio • ransporte • Horário móvel ou flexível • Home office QUANTO AO OBJETIVO ASSISTENCIAIS RECREATIVOS SUPLETIVOS • Assistência médico- hospitalar • Assistência odontológica • Clube esportivo ou grêmio • Áreas de lazer • Atividades esportivas • ransporte • Refeitório • stacionamento privativo 32 • Assistência financeira • Serviço social • Complementação da aposentadoria • Seguro de vida • Atividades comunitárias • Passeios e excursões • Vale cultura • Horário flexível de trabalho • Cooperativa • Convênios diversos (farmácia, supermercados, academias, salão de beleza entre outros) • Agência bancária no local Fonte: elaborado por Lotzcom base em Chiavenato, 2014, p. 304; My Work, [S.d.]. Outro aspecto a considerarmos é o de que, ao elaborar o pacote de benefícios a ser ofertado, é fundamental que a empresa tenha a clareza sobre o real propósito da oferta. Por esse motivo, vale investir um tempo para realizar as seguintes reflexões: • O pacote será elaborado à luz das necessidades e expectativas dos profissionais que aqui atuam? • O pacote será composto de modo a equiparar a organização com o que já existe no mercado? • O pacote será composto olhando para os benefícios legais e os de menor custo? Observe que as respostas conduzirão a uma investigação sobre o perfil dos colaboradores, sobre as práticas adotadas pelo mercado e por organizações que possam vir a disputar os talentos da empresa; sobre os aspectos financeiros internos; e sobre a estratégia a ser escolhida pela organização. Ao refletir sobre essas perguntas, a empresa pode tornar claro o seu propósito e desenhar a oferta à luz da estratégia a ser adotada, que pode ser: • De pacificação: vai ao encontro das necessidades e expectativas do corpo funcional da empresa. • Comparativa: tem por propósito equiparar a empresa ao mercado. • De benefícios mínimos: oferta apenas o que é exigido por lei. • Benefícios espontâneos: regida pelo critério do menor custo. É essencial para a manutenção da oferta de benefícios que a empresa adote, de forma muito consciente e planejada, sob pena de não conseguir fazer a sustentação dessa prática ao longo do tempo. 33 5.1 Etapas para a definição de plano de benefícios A definição do plano de benefícios segue um conjunto de etapas, apresentados a seguir. Figura 16 – Etapas para composição do plano de benefícios Fonte: elaborado por Lotz, 2021. Assim, os benefícios podem ir ao encontro da Teoria da Expectativa que postula que as recompensas organizacionais devem estar atreladas às expectativas e objetivos individuais. Os benefícios flexíveis cumprem esse ENVOLVER PARTICIPANTES E SINDICATOS Promover consulta e participação Identificar necessidades Realizar pesquisas internas Levantar sugestões de planos de benefícios DEFINIR CONTEÚDO DO PLANO Consolidar o que será ofertado CONSTITUIR A PLATAFORMA BÁSICA DE BENEFÍCIOS Negociar com instituições e envolvidos na oferta dos benefícios – Instituições de saúde, instituições educacionais, lojas, supermercados, entre outros COMUNICAR AOS COLABORADORES SOBRE O PACOTE DE BENEFÍCIOS Oportunizar que o corpo funcional tenha a clareza sobre o que é ofertado, a quem é ofertado e como é ofertado (dado que alguns benefícios monetários possam requerer coparticipação) MONITORAR CUSTOS E SATISFAÇÃO Custo total dos benefícios mensal e anual para os funcionários e por funcionário; porcentagem em relação à folha de pagamento, mensal e anual; custo por colaborador por hora; participação percentual da organização e do trabalhador no programa; retorno do investimento para a organização (ROI) e para o funcionário e nível de satisfação do corpo funcional da empresa AVALIAR O PLANO DE BENEFÍCIOS Identificar a eficiência, a eficácia do pacote de benefícios e oportunidades de modificações e melhorias. 34 propósito “individualizando” as recompensas e permitindo ao colaborador escolher o seu pacote de acordo com suas necessidades. Portanto, os fatores críticos de sucesso estão em conhecer necessidades individuais e considerar o impacto financeiro de tal oferta para a empresa, para que possa, de fato, manter a oferta dos benefícios, sejam estes flexíveis ou não. Ao considerarmos as implicações para os gestores, temos que é essencial: Figura 17 – Orientações para os gestores Fonte: elaborado por Lotz com base em Robbins; Judge; Sobral, 2010, p. 196. Independentemente de o pacote de benefícios promover ganhos à imagem e produtividade da organização, trata-se também de um olhar humanizado, que faz toda a diferença na gestão do capital humano e consolida a parceria entre o talento e a organização que nela atua (Lotz, 2021). FINALIZANDO Nesta aula, você aprendeu importantes abordagens sobre a motivação, o que permitiu compreender o conteúdo da motivação, o processo e estratégias de reforço e modificação de comportamento.Teve a oportunidade de refletir sobre a relevância da política salarial da empresa e o quanto a saúde desta está atrelada ao programa de gestão de política salarial. Avaliou a composição da remuneração, conheceu as implicações na composição de um Plano de Cargo, RECONHECER AS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS RECONHECER QUE AS PESSOAS TÊM NECESSIDADES DIFERENTES PERMITIR QUE OS COLABORADORES PARTICIPEM DE DECISÕES QUE OS AFETAM VINCULAR RECOMPENSAS AO DESEMPENHO VERIFICAR CONSTANTEMENTE A EQUIDADE DO SISTEMA 35 carreiras e salários, assim como os trâmites para a escolha de um pacote de benefícios, tudo isso à luz da valência para o profissional e o equilíbrio de fatores internos da empresa. 36 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri: Manole, 2014. ENDEAVOR. Remuneração variável: como recompensar seu time pelo resultado. Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/remunera%C3% A7%C3%A3o_variavel.pdf>. Acesso em: 17 set. 2021. KENOBY. Plano de cargos e salários: O que é, para que serve e como fazer. [S.d.]. Disponível em: <https://kenoby.com/blog/plano-de-cargos-e-salarios/>. Acesso em: 17 set. 2021. LACOMBE, F.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2003. LEME CONSULTORIA. Planos de Cargos, Carreiras e Salários. [S.d.]. Disponível em: <https://www.lemeconsultoria.com.br/gestao-e- estrategia/remuneracao-cargos-e-salarios/>. Acesso em: 17 set. 2021. LOTZ, E. Retenção de talentos. Curitiba: InterSaberes, 2021. MEREO. Remuneração funcional: como funciona o plano de cargos e salários. 2020. Disponível em: <https://mereo.com/blog/remuneracao-funcional/>. Acesso em: 17 set. 2021. MY WORK. Disponível em: <https://www.mywork.com.br/>. Acesso em: 17 set. 2021. PONTES, B. R. Administração de cargos e salários carreiras e remuneração. São Paulo: LTr, 2015. PORTAL EDUCAÇÃO. Teoria dos dois fatores de Herzberg. [S.d.]. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/pedagogia/teoria- dos-dois-fatores-de-herzberg/35555>. Acesso em: 17 set. 2021. ROBBINS, S; JUDGE, T.; SOBRAL, F. Comportamento organizacional, teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010 SALÁRIO BR. Você sabe o que é gestão salarial?. 2014. Disponível em: <https://salariobr.com/Artigos/Voce-sabe-o-que-e-gestao- salarial/2603#:~:text=Ela%20consiste%20na%20defini%C3%A7%C3%A3o%20 37 clara,al%C3%A9m%20do%20pacote%20de%20benef%C3%ADcios.>. Acesso em: 17 set. 2021. SANTOS, V. A. A importância dos benefícios sociais nas organizações e seus impactos na qualidade de vida do trabalhador e as estratégias organizacionais em reter e atrair talentos. 2020. 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