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Benefícios previdenciários Prof. Irapuã Beltrão Descrição Tratamento jurídico do salário-família, salário-maternidade, auxílio-acidente e das pensões. Propósito Compreender os conceitos básicos de proteção social e alguns dos mais importantes benefícios da seguridade social, que não se resumem aos critérios de aposentadorias, mas contemplam auxílios para a família, incluindo a maternidade, para os casos de acidentes e pensões. Preparação Antes de iniciar o conteúdo, tenha em mãos uma versão atualizada da Constituição Federal e das leis matrizes que regem o Direito Previdenciário nacional - a Lei nº 8.212/93, conhecida como Plano de Custeio da Previdência Social, e a Lei nº 8.213/93, conhecida como Plano de Benefícios da Previdência Social. Objetivos Módulo 1 Salário-família e salário-maternidade Identificar as características do salário-família e do salário-maternidade. Módulo 2 Auxílio-acidente Reconhecer os critérios e as formas de aplicação do auxílio-acidente. Módulo 3 Pensão por morte Distinguir as pensões previdenciárias. Introdução Além das análises sobre o tradicional papel do Estado, o tempo demonstrou que seria fundamental também sua atuação em outras áreas, sendo marcada desde o final do século XIX e início do século XX uma ação em diversos campos sociais. Ainda que essas novas atividades não tenham sido organizadas desde sempre do modo que conhecemos hoje, a pressão por novas demandas e a evolução constitucional nos mais diversos países colocaram a temática social e as previsões previdenciárias na realidade das nações organizadas. Em nossa história, a construção brasileira do modelo republicano colocou a função previdenciária como um dos grandes destaques de organização da Carta Política e das demandas sociais, em uma clara evolução do tema ao longo do século XX. Da evolução de vários organismos e institutos tradicionais, tivemos a consolidação da seguridade social na Constituição de 1988, sendo ainda percebido que o ordenamento jurídico nacional consagrou as bases previdenciárias. Sem prejuízo da previsão constitucional e de suas constantes reformas, os benefícios previdenciários estão consagrados na Lei nº 8.213, de 1991, e suas alterações posteriores. Esses benefícios são separados considerando os que podem ser concedidos diretamente ao segurado da Previdência Social e aqueles que serão outorgados aos seus dependentes. Conforme previsto no art. 18 da Lei nº 8.213, os benefícios são assim divididos e distribuídos: Benefícios e serviços ao segurado: Aposentadoria por invalidez; Aposentadoria por idade; Aposentadoria por tempo de contribuição; Aposentadoria especial; Auxílio-doença; Salário-família; Salário-maternidade; Auxílio-acidente. Benefícios e serviços aos dependentes: Pensão por morte; Auxílio-reclusão. Vamos conhecer um pouco sobre os conceitos, requisitos e alguns detalhes dos mais importantes benefícios que não sejam as aposentadorias. 1 - Salário-família e salário-maternidade Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as características do salário-família e do salário-maternidade. Vamos começar! Os benefícios contemplados na estruturação da Previdência Social não se limitam aos casos de aposentadoria e pensão. Ainda que sem muita identidade na adoção da nomenclatura que marca os demais benefícios, teremos as figuras do salário-família e do salário-maternidade. Ambos os benefícios possuem em comum um aspecto: decorrem, em sentido amplo, de relações de familiaridade, seja para reconhecer a condição especial decorrente do nascimento/adoção seja da existência dos filhos em situações especiais que marcam determinado grupamento familiar. Mas os dois benefícios também possuem contornos bem particularidades. Vamos conhecer cada um deles? Salário-família Salário-família: bene�ciários e requisitos Confira agora o salário-família, quem pode ser beneficiário e os requisitos para a sua concessão. A fim de atender ao princípio da universalidade, o sistema jurídico estabeleceu um benefício para as famílias a partir da quantidade de dependentes dos segurados. Para dar cumprimento ao princípio da seletividade, tal benefício não se dará para todas as famílias, apenas para aquelas que realmente precisam desse “plus”. Com a finalidade social de proteção à infância, a Previdência Social paga aos seus segurados o salário-família com o objetivo de auxiliar nas despesas da criança, principalmente na saúde e educação. Apesar de esse benefício já estar previsto desde a versão original do Plano e Benefícios da Previdência, no início da década de 1990, por meio da primeira reforma constitucional previdenciária, passamos a ter a seguinte remissão no art. 201, in verbis: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (..) IV salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Essa determinação passou a constar na redação constante da Lei nº 8.213, de 1991. Ainda que conste na menção à moeda daquela década, tal dimensão é reiteradamente atualizada por normas infralegais. Trata-se, portanto, de um benefício pago: Mensalmente ao segurado. Na proporção do respectivo número de �lhos ou equiparados. Esse direito encontra-se consagrado no art. 65 e seguintes da Lei nº 8.213/91, bem como na regulamentação a partir dali expedida nos art. 81 (e seguintes) do Decreto nº 3.048 e suas alterações posteriores. Como o valor constante da lei encontra-se em moeda da época e desatualizado, é relevante observar os termos do citado decreto para os fins daquele corte constitucional da chamada “baixa renda”: Art. 81. O salário-família é devido, mensalmente, ao segurado empregado, inclusive o doméstico, e ao trabalhador avulso com salário de contribuição inferior ou igual a R$ 1.425,56 (mil quatrocentos e vinte e cinco reais e cinquenta e seis centavos), na proporção do respectivo número de filhos ou de enteados e de menores tutelados, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos nos termos do disposto no art. 16, observado o disposto no art. 83. (DECRETO Nº 3.048/1999) O valor da cota a ser recebida é definido no artigo 83 do mesmo decreto: Art. 83. O valor da cota do salário-família por filho ou por enteado e por menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos, até quatorze anos de idade ou inválido, é de R$ 48,62 (quarenta e oito reais e sessenta e dois centavos) (Redação dada pelo Decreto nº 10.410/2020). (DECRETO Nº 3.048/1999) Bene�ciários do salário-família Inicialmente, a redação legal previa a concessão do benefício para os segurados empregados e aos trabalhadores avulsos. Diante da reforma constitucional que ampliou o direito dos empregados domésticos, houve a atualização legal para que essa categoria fosse também contemplada. Desse modo, assim ficou a atual redação do art. 65 do Plano de Benefícios: Art. 65. O salário-família será devido, mensalmente, ao segurado empregado, inclusive o doméstico, e ao segurado trabalhador avulso, na proporção do respectivo número de filhos ou equiparados nos termos do § 2o do art. 16 desta Lei, observado o disposto no art. 66 (Redação dada pela Lei Complementar nº 150, de 2015). (LEI Nº 8.213/1991) Além desse grupo, o parágrafo do citado artigo ainda menciona o direito aos aposentados (por idade, invalidez e demais formas), em um claro reconhecimento da acumulação dos benefícios da Previdência Social. O Decreto nº 3.048/1999 assim consolida de forma atualizada os beneficiários do salário-família: Art. 82. O salário-família será pago mensalmente: I. ao empregado, inclusive o doméstico, pela empresa ou pelo empregador doméstico, juntamente com o salário, e ao trabalhador avulso, pelo sindicato ou órgão gestorde mão de obra, por meio de convênio; (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020) II. ao empregado, inclusive o doméstico, e ao trabalhador avulso aposentados por incapacidade permanente ou em gozo de auxílio por incapacidade temporária, pelo INSS, juntamente com o benefício; (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020) III. ao trabalhador rural aposentado por idade aos sessenta anos, se do sexo masculino, ou cinquenta e cinco anos, se do sexo feminino, pelo Instituto Nacional do Seguro Social, juntamente com a aposentadoria; e IV. aos demais empregados, inclusive os domésticos, e aos trabalhadores avulsos aposentados aos sessenta e cinco anos de idade, se homem, ou aos sessenta anos, se mulher, pelo INSS, juntamente com a aposentadoria (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020). Comentário Interessante notar que, segundo o parágrafo 3º do art. 82 do mesmo decreto, quando o pai e a mãe são segurados empregados, inclusive domésticos ou trabalhadores avulsos, ambos também têm direito ao salário-família. Ainda com relação aos beneficiários, o art. 87 determina que, havendo divórcio, separação judicial ou de fato dos pais, ou em caso de abandono legalmente caracterizado ou perda do pátrio-poder, o salário-família passará a ser pago diretamente àquele a cujo cargo ficar o sustento do menor, ou a outra pessoa, se houver determinação judicial nesse sentido. Requisitos para a concessão do salário-família O salário-família tem natureza assistencial, sendo pago mensalmente aos segurados da previdência, dentro daqueles parâmetros da baixa renda, na proporção da quantidade de filhos e dependentes. Para ter acesso a esse benefício, o segurado precisa cumprir os seguintes requisitos, especialmente com algumas exigências estabelecidas no art. 84 do Decreto nº 3.048: Importante observar que a invalidez do filho, do enteado ou do menor tutelado maior de quatorze anos de idade, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos, será verificada em exame médico-pericial realizado pela Perícia Médica Federal. Qualidade de segurado Ter �lhos menores ou enteados ou menores tutelados, nesses casos se comprovada a dependência econômica Apresentação da certidão de nascimento do �lho ou da documentação relativa ao enteado e ao menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos Apresentação anual de atestado de vacinação obrigatória dos referidos dependentes, de até seis anos de idade Comprovação semestral de frequência à escola dos referidos dependentes, a partir de quatro anos de idade Dessas exigências, alguns detalhes são ainda postos na norma regulamentar, merecendo a atenção de todos, tais como: Para recebimento do salário-família, o empregado doméstico apresentará ao seu empregador apenas a certidão de nascimento do filho ou a documentação relativa ao enteado e ao menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos (art. 84 §5º do Decreto nº 3.048). A comprovação semestral de frequência escolar será feita por meio da apresentação de documento emitido pela escola, na forma estabelecida na legislação específica, em nome do aluno, de qual conste o registro de frequência regular, ou de atestado do estabelecimento de ensino que comprove a regularidade da matrícula e a frequência escolar do aluno (art. 84 §5º do Decreto nº 3.048). Para efeito de concessão e manutenção do salário-família, o segurado firmará termo de responsabilidade, no qual se comprometerá a comunicar à empresa, ao empregador doméstico ou ao INSS, conforme o caso, qualquer fato ou circunstância que determine a perda do direito ao benefício e ficará sujeito, em caso de descumprimento, às sanções penais e trabalhistas (art. 89 do Decreto nº 3.048). É sempre afirmado nas normas que tratam do benefício que as cotas do salário-família não serão incorporadas, para qualquer efeito, ao salário ou ao benefício. Cessação do salário-família Conforme consolidado no art. 88 do Decreto nº 3.048, o direito ao salário-família cessa automaticamente: Pelo desemprego do segurado. Por morte do filho, do enteado ou do menor tutelado, a contar do mês seguinte ao do óbito. Pela recuperação da capacidade do filho, do enteado ou do menor tutelado inválido, a contar do mês seguinte ao da cessação da incapacidade. Quando o filho, o enteado ou o menor tutelado completar quatorze anos de idade, exceto se inválido, a contar do mês seguinte ao da data do aniversário. Salário-maternidade A fim de atender ao princípio da universalidade, o sistema jurídico fixou o benefício em razão da maternidade, sendo esse o direito historicamente ligado ao direito de licença-maternidade na forma do art. 7º, XVIII da Constituição Federal. O salário-maternidade é o benefício previdenciário pago à segurada gestante durante o período de afastamento de suas atividades. Para que possam ser dispensadas de suas atividades e cuidar de seus bebês nos primeiros meses de vida, amamentando e fortificando as relações de afeto, as trabalhadoras podem requerer, assim, o salário- maternidade. Toda regulamentação desse benefício passou a constar na redação constante da Lei nº 8.213, de 1991, assim sendo estampado no art. 71: Art. 71. O salário-maternidade é devido à segurada da Previdência Social, durante 120 (cento e vinte) dias, com início no período entre 28 (vinte e oito) dias antes do parto e a data de ocorrência deste, observadas as situações e condições previstas na legislação no que concerne à proteção à maternidade. (LEI Nº 8.213/1991) Dessa regulamentação legal, verifica-se que o valor será pago: Durante os 120 (cento e vinte) dias do afastamento. Com início no período entre 28 dias antes do parto e a data de ocorrência deste. Na regulamentação dada pelo Decreto nº 3.048, é trazida a situação extravagante reconhecendo que, em casos excepcionais, os períodos de repouso anterior e posterior ao parto podem ser aumentados de mais duas semanas, por meio de atestado médico específico submetido à avaliação medico-pericial. Igualmente consta a afirmação do direito nas situações de aborto não criminoso, comprovado mediante atestado médico, mantendo, à segurada, o direito ao salário-maternidade correspondente a duas semanas. Bene�ciários do salário-maternidade Inicialmente, a redação legal previa a concessão do benefício apenas para as seguradas gestantes que chegassem à situação de parto, em uma interpretação mais literal do sentido da gestação. Porém, a jurisprudência, especialmente a partir do início deste século, tratou de afastar uma visão mais restritiva, reconhecendo o direito ao benefício para outros casos que não decorressem da gestação convencional. O salário-maternidade atende a todas as categorias de trabalhadores. Vamos conferi-las? Segurado especial O benefício é assegurado para: Adotante Empregado doméstico Contribuinte facultativo Contribuinte individual (incluindo microempreendedor individual) Trabalhador empregado, com contrato de trabalho assinado na CLT (inclusive trabalhadores avulsos) Desempregados com qualidade de segurado (signi�ca que estão em período de graça ou recebendo algum benefício previdenciário do INSS) Gestante Mulher que tenha realizado aborto não criminoso Adotante do sexo masculino, para adoção ou guarda para �ns de adoção O art. 71-A da Lei nº 8.213 disciplina que será devido salário-maternidade pelo período de 120 dias ao segurado ou à segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança. No art. 93-A da atual redação do Decreto nº 3.048, o salário-maternidade será devido ao segurado ou à segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver guarda judicial, para fins de adoção de criança de até doze anos de idade. Nesses casos de adoção, para a concessão do salário-maternidade, são indispensáveis um dos seguintes requisitos: Constar na nova certidão de nascimento da criança o nome do segurado ou da segurada adotante. No caso do termode guarda para fins de adoção, que conste o nome do segurado ou da segurada guardião. Em resumo, podemos afirmar que o salário-maternidade se trata de benefício da Previdência Social devido às seguradas empregadas, trabalhadoras avulsas, empregadas domésticas, contribuintes individuais, facultativas e seguradas especiais, por ocasião do parto, inclusive o natimorto, aborto não criminoso, adoção ou guarda judicial para fins de adoção. Requisitos para a concessão do salário-maternidade O salário-maternidade tem natureza compensatória e substitutiva, sendo pago por período de 120 dias durante o período de afastamento. O requisito essencial para a concessão do benefício é a qualidade de segurada. De acordo com a jurisprudência, não é preciso que a segurada se encontre em atividade laboral ao tempo do parto, desde que conserve a qualidade de segurada, pouco importando eventual situação de desemprego. Além disso, para a segurada empregada, não se exige cumprimento de carência. Porém, há diferenças de acordo com os tipos de segurados, que podemos assim sintetizar: Empregada, doméstica e trabalhadora avulsa Isenta de carência. Entretanto, algumas situações são fundamentais, tais como: Compete à interessada instruir o requerimento do salário-maternidade com os atestados médicos necessários. O início do afastamento do trabalho da segurada empregada, inclusive da doméstica, será determinado com base em atestado médico ou certidão de nascimento do filho. A percepção do salário-maternidade está condicionada ao afastamento do trabalho ou da atividade desempenhada pelo segurado ou pela segurada, sob pena de suspensão do benefício. Importante observar que o salário-maternidade não pode ser acumulado com benefício por incapacidade. Contribuinte individual e facultativa 10 contribuições mensais. Segurada especial 10 meses de efetivo exercício de atividade rural, mesmo de forma descontínua, anteriores ao início do benefício. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre a relação do salário-maternidade e o período de carência, é possível concluir que: Parabéns! A alternativa A está correta. Uma das características do atual regime de previdência é a proteção à família, mas não se dispensou para todos segurados as exigências de carência. A regra é que a empregada doméstica e trabalhadora avulsa estão isentas de carência; mas a contribuinte individual e a facultativa devem respeitar 10 A Empregada doméstica e trabalhadora avulsa estão isentas de carência. B Contribuinte individual e facultativa estão isentas de carência. C Todas as empregadas devem cumprir um período de carência de 300 dias de vínculo empregatício. D A segurada especial deverá cumprir um período de 12 meses de efetivo exercício de atividade rural, mesmo de forma descontínua, anteriores ao início do benefício. E Não há qualquer período de carência para todos os segurados fruírem do salário- maternidade. contribuições mensais. Já a segurada especial deverá ter 10 meses de efetivo exercício de atividade rural, mesmo de forma descontínua, anteriores ao início do benefício. Questão 2 A trabalhadora enquadrada como empregada doméstica, em relação aos benefícios da Previdência Social, Parabéns! A alternativa B está correta. Apesar de não ter todos os direitos reconhecidos inicialmente pela Constituição e pela Lei nº 8.213, de 1991, os empregados domésticos tiveram seus direitos ampliados por meio de emenda constitucional, seguida de alteração normativa no sistema da Previdência Social. A partir disso, hoje é sim assegurado àquela categoria os benefícios do salário-família e do salário-maternidade. A somente tem direito ao sistema de aposentadorias. B tem direito aos benefícios do salário-família e do salário-maternidade. C tem direito aos benefícios do salário-família, mas não do salário-maternidade. D não tem direito aos benefícios do salário-família, mas, sim, do salário-maternidade. E tem direito aos benefícios do salário-família e do salário-maternidade. 2 - Auxílio-acidente Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os critérios e as formas de aplicação do auxílio-acidente. Vamos começar! O que é o auxílio-acidente? Entenda agora o que é o auxílio-acidente, assim como seu cabimento e os requisitos para sua concessão. O auxílio-acidente é um benefício previdenciário indenizatório do INSS. Esse auxílio é devido aos segurados que sofrem qualquer categoria de acidente cujas sequelas podem diminuir sua capacidade para o trabalho. Comentário Importante não o confundir com o auxílio-doença, também conhecido por auxílio por incapacidade temporária, benefício previdenciário concedido pelo INSS ao trabalhador impossibilitado de exercer sua função em razão de doença, recomendação médica ou acidente fora das situações de trabalho. Em caso do auxílio-doença, caso o segurado seja trabalhador de carteira assinada, os primeiros 15 dias de afastamento serão pagos pelo empregador e, a partir do 16º dia, o benefício será pago pela Previdência Social. No caso do contribuinte individual (autônomo), será pago a partir do pedido. Assim, é definido na Lei nº 8.213, de 1991, que: Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. (...) Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz. (LEI Nº 8.213/1991) Enquanto o auxílio-doença é devido em razão da incapacidade temporária, o auxílio-acidente é compreendido como um benefício, de caráter indenizatório, devido ao segurado que não se recupera satisfatoriamente de uma doença ocupacional ou de um acidente decorrente das atividades profissionais e fica com sequelas permanentes que reduzem a sua capacidade para trabalhar. Observando que as sequelas de determinado acidente devem ser permanentes, há um prejuízo na vida profissional do trabalhador. Novamente, são relevantes as definições dadas na Lei nº 8.213: Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. (LEI Nº 8.213/1991) Nesse cenário, podemos inferir que o auxílio-acidente pressupõe os seguintes aspectos: Enquadramento previdenciário como empregado, trabalhador avulso ou segurado especial. Redução da capacidade para o trabalho habitual em razão de acidente de qualquer natureza. Além das determinações do art. 86 da Lei de Benefícios, o tema é tratado no art. 104 do Decreto Regulamentar nº 3.048, de 1999, com sucessivas alterações. Bene�ciários do auxílio-acidente Pela natureza do benefício que decorre de acidentes nas atividades de trabalho, os contribuintes individuais e os facultativos não têm direito ao auxílio-acidente. Por esse motivo, ao contrário da aposentadoria por invalidez e do auxílio-doença, o auxílio-acidente é um benefício de concessão restrita. Segundo o art. 18, § 1º, da Lei nº 8.213/91, o auxílio-acidente somente era devido para o empregado, o trabalhador avulso e o segurado especial. Historicamente, o empregado doméstico não tinha direito ao benefício. Contudo, a Emenda Constitucional nº 72, de 2013, alterou a redação do parágrafo único do art. 7º, promovendo a ampliação dos direitos dos domésticos, praticamente eliminando as diferenças com os demais trabalhadores regidos pela CLT. Em razão da emenda, a Lei Complementar nº 150, de 2015, promoveu uma série de mudanças em prol dos trabalhadores domésticos, inclusive modificando a Lei nº 8.213, que passou a combinar a seguinte redação: Art. 11. São seguradosobrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: I. como empregado: (...) II. como empregado doméstico: aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos; III. como contribuinte individual: (...) IV. como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviço de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento; V. como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de: Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços: § 1º Somente poderão beneficiar-se do auxílio-acidente os segurados incluídos nos incisos I, II, VI e VII do art. 11 desta Lei (Redação dada pela Lei Complementar nº 150, de 2015). Evento determinante ou fato gerador Conforme sabemos, o auxílio-acidente é regulamentado no art. 86 do Plano de Benefícios e reconhece a sua natureza indenizatória com a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, cujas sequelas impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. A lei não estabelece um grau mínimo de redução na capacidade de trabalho do segurado para ter direito ao benefício. Por isso, apesar de esse benefício não se confundir com o auxílio-doença, é usual que venha a ser concedido após a existência daquele. Nesse caso, o §2º do art. 86 reconhece que o auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que o auxílio- acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Brasília: REsp nº 1786736, 1ª seção, julgamento em 9.6.2021, publ. DJ 1.7.2021). Porém, inexistente a prévia concessão de tal benefício, o termo inicial deverá corresponder à data do requerimento administrativo. Inexistentes o auxílio-doença e o requerimento administrativo, o auxílio- acidente tomará por termo inicial a data da citação, no caso de postulação judicial. Atenção! O auxílio-acidente é decorrente de acidente de qualquer natureza e não apenas de acidente do trabalho. Com isso, o fato gerador remoto poderá ser: Acidente extralaboral. Acidente típico do trabalho. Equiparação legal a acidente do trabalho (p. ex.: doenças ocupacionais, acidente de trajeto). O STJ pacificou ainda o entendimento de que o auxílio-acidente é devido ainda que mínima a lesão ou a possibilidade de sua reversão, porquanto o nível do dano e, consequentemente, o grau do maior esforço não interferem na sua concessão. Vejamos a interessante decisão! AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ACIDENTÁRIO. REDUÇÃO DA CAPACIDADE COMPROVADA. REVERSIBILIDADE E GRAU DE LESÃO IRRELEVANTES. 1. O benefício acidentário é devido ainda que mínima a lesão ou a possibilidade de sua reversão, porquanto o nível do dano e, consequentemente, o grau do maior esforço não interferem na sua concessão, não podendo o Tribunal de origem, lastreado apenas em conhecimentos pessoais do julgador, desconsiderar laudo médico-pericial, de natureza técnica, pautado em elementos científicos que concluiu pela presença de um dos pressupostos necessários à obtenção do auxílio-acidente, qual seja, a redução da capacidade laboral do segurado. (AgRg no Ag nº 1192967, 5ª turma, julgamento em 13.3.2012, publ. DJ 29.3.2012) O art. 104 do Decreto nº 3.048, de 1999, também prevê a concessão do auxílio-acidente quando o segurado ficar impossibilitado de exercer a sua atividade habitual, porém, com possibilidade de desempenhar outra função, após processo de reabilitação profissional, nos casos indicados pela perícia médica do INSS. A perda da audição tem tratamento específico no art. 86, § 4º, da Lei nº 8.213/91. Segundo o referido preceito, a perda da audição, em qualquer grau, somente proporcionará a concessão do auxílio-acidente, quando, além do reconhecimento de causalidade entre o trabalho e a doença, resultar, comprovadamente, na redução ou perda da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. No caso da audição, o legislador estabeleceu a necessidade de haver nexo de causalidade da perda da audição com o exercício do trabalho. Requisitos para a concessão do auxílio-acidente O auxílio-acidente tem natureza indenizatória. Ele indeniza a redução da capacidade para o trabalho habitual, decorrente de um acidente de qualquer natureza. Não é benefício substitutivo da renda do trabalhador na medida em que o beneficiário da prestação pode continuar exercendo o seu trabalho habitual. Para ter acesso a esse benefício, o segurado precisa cumprir os seguintes requisitos: Qualidade de segurado Ter sofrido um acidente, relacionado ao trabalho ou não Diferentemente de outros benefícios previdenciários, o auxílio-acidente não está sujeito a período de carência ou outros tempos contribuitivos, conforme expressamente afirmado no art. 26, inciso I da Lei nº 8.213/91. Redução parcial e permanente da capacidade para o trabalho Haver relação entre o acidente sofrido e a redução da capacidade laboral, o chamado nexo causal Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Qual dos benefícios abaixo é concedido independentemente do período de carência? A Aposentadoria por invalidez. B Aposentadoria por tempo de contribuição. C Aposentadoria especial. Parabéns! A alternativa E está correta. Grande parte dos benefícios contidos na Lei nº 8.213 é condicionada a um período de carência, conforme regulamentado no art. 25 daquele diploma. Mas, logo em seguida, é afirmado no art. 26 que independe de carência a concessão das seguintes prestações: pensão por morte, salário-família e auxílio-acidente. Questão 2 João é segurado obrigatório da previdência por manter emprego com carteira assinada há muitos anos. Esse também é o caso de Neuza, por ser empregada doméstica na casa de Lucas. Por sua vez, Lucas é autônomo, figurando como contribuinte individual. Se todos eles postularem auxílio-acidente, o INSS deverá negar o benefício a quem? Parabéns! A alternativa C está correta. D Auxílio-doença. E Auxílio-acidente. A A João e Lucas. B A Neuza e Lucas. C Somente a Lucas. D Somente a Neuza. E A todos eles. Como determinado no art. 18 §1º da Lei nº 8.213, os segurados obrigatórios têm direito ao benefício do auxílio-acidente, com exceção dos contribuintes individuais que, até pela natureza do benefício, não terão direito. 3 - Pensão por morte Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir as pensões previdenciárias. Vamos começar! A pensão por morte Confira agora a pensão por morte, os seus dependentes elegíveis e requisitos para concessão. A pensão por morte é um benefício previdenciário pago mensalmente aos dependentes do falecido, aposentado ou não na hora do óbito. Funciona como uma substituição do valor que o finado recebia a título de aposentadoria ou de salário. Devido à sua natureza, o benefício não será pago diretamente ao segurado da Previdência Social, e sim a seus dependentes, conforme explícito na classificação das espécies de benefícios listados no art. 18 da Lei nº 8.213/91. Assim, conceitualmente, a pensão por morte é um benefício previdenciário decorrente da Lei nº 8.213 e administrado pelo INSS, pago aos dependentes de um segurado falecido. Esse benefício é uma substituição do valor recebido de salário ou aposentadoria concedida a seus dependentes. Além de algumas previsões legais, a pensão por morte está regulamentada nos arts. 74 e 78 da Lei nº 8.213, merecendo alguns detalhamentos. Classes de dependentes Como este benefício, naturalmente, não é dado em favordo segurado, importante reconhecer quais são os seus dependentes elegíveis para o pensionamento. O art. 16 da Lei de Planos e Benefícios da Previdência Social define aqueles que são considerados dependentes do segurado. Vamos conferir! Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave. (LEI Nº 8.213/1991) Além dessas definições, ainda encontramos no art. 16 as seguintes definições e explicações complementares: § 2º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento. § 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal. § 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada. (LEI Nº 8.213/91) Conforme podemos notar, nem todos os familiares do falecido terão direito à pensão por morte. Além da limitação a parentes e pessoas de relacionamento por afinidade, a lei ainda criou uma classificação dos dependentes para a fruição do benefício. Existem três classes de dependentes. São elas: Cônjuge/companheiro e �lhos Pais Irmãos Vamos conhecer agora cada uma das classes dependentes para o recebimento desse benefício. Classe 1 – Cônjuge/companheiro e �lhos A primeira classe contempla o cônjuge, companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou que seja inválido ou que tenha deficiência intelectual, mental ou deficiência grave. Conforme o previsto no §2º do art. 16 da Lei 8.213/91, o enteado e a pessoa menor de idade sob tutela do falecido se equiparam como filho para a primeira classe. Classe 2 – Pais A segunda classe de dependentes inclui os pais do segurado falecido. Classe 3 – Irmãos A terceira classe é composta pelo irmão do segurado menor de 21 anos. Caso o irmão tenha alguma invalidez (deficiência intelectual, mental ou deficiência grave), poderá ter qualquer idade para ser dependente. Conforme determinado no Plano de Benefícios da lei de 1991, a existência de dependente de qualquer das classes supracitadas exclui do direito às prestações os das classes seguintes, conforme preleciona o § 1º do referido art. 16. Em resumo, a existência de dependentes da classe I exclui o direito dos dependentes das classes II e III. Como sabemos, não são todas essas pessoas que têm direito ao benefício, por isso existem as classes, que funcionam como ordem de preferência. Isso fica explícito nas normas regulamentares do Decreto nº 3.048, ao tratar dos dependentes no seu art. 16: “A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes”. Classe 1 Primeiro, o benefício é pago para os dependentes da primeira classe. Classe 2 Caso não existam ou não sejam localizáveis dependentes na primeira classe, terão preferência os familiares da segunda classe. Somente se não houver dependentes na primeira e na segunda classe, os dependentes da terceira classe terão direito ao benefício. Por isso, é sempre comum os interessados tentarem rapidamente se habilitar para a fruição do benefício, tendo o INSS o cuidado de diligenciar a identificação de pessoas nas classes preferenciais. A lei trata dessa situação no art. 76 do Plano de Benefícios: A concessão da pensão por morte não será protelada pela falta de habilitação de outro possível dependente, e qualquer inscrição ou habilitação posterior que importe em exclusão ou inclusão de dependente só produzirá efeito a contar da data da inscrição ou habilitação. (LEI Nº 8.213/1991) Desse modo, não significa que quem primeiro postula irá receber logo o benefício, sendo possível sua concessão e, em seguida, reconfiguração percentual com a habilitação tardia de outros beneficiários. Na forma regulamentada pelo art. 16 do Decreto nº 3.048/1999, é dito o seguinte: “Os dependentes de uma mesma classe concorrem em igualdade de condições”. A questão de companheiros O direito aos benefícios previdenciários no regime de união estável decorreu da expressa determinação constitucional de sua equiparação a tais efeitos do casamento, constando de forma clara na categorização de dependentes. Por outro lado, o decreto regulamentar assim tratou da conceituação da união estável: Art. 16. Considera-se união estável aquela configurada na convivência pública, contínua e duradoura entre o homem e a mulher, estabelecida com intenção de constituição de família, observado o § 1o do art. 1.723 do Código Civil, instituído pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. (Redação dada pelo Decreto nº 6.384, de 2008). (DECRETO Nº 3.048/1999) Sem prejuízo da afirmação de relação entre homem e mulher, a jurisprudência dos tribunais – inclusive do STF – se inclinou por reconhecer também como estável e geradora dos benefícios a união homoafetiva. Vejamos decisão do STF a respeito: (...) O preceito constante do art. 1.723 do Código Civil — “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família” – não obsta que a união de pessoas do mesmo sexo possa ser reconhecida como entidade familiar apta a merecer proteção estatal. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, proferiu esse entendimento no julgamento da ADI 4.277 e da ADPF 132, ambas da Relatoria do Ministro Ayres Britto, Sessão de 5.5.11, utilizando a técnica da interpretação conforme a Constituição do referido preceito do Código Civil, para excluir qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Reconhecimento este, que deve ser feito segundo as mesmas regras e com idênticas consequências da união estável heteroafetiva. 2. Em recente pronunciamento, a Segunda Turma desta Corte, ao julgar caso análogo ao presente, o RE n. 477.554-AgR, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 26.08.11, em que se discutia o direito do companheiro, na união estável homoafetiva, à percepção do benefício da pensão por morte de seu parceiro, enfatizou que “ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado de direitos nem sofrer quaisquer restrições de ordem jurídica por motivo de sua orientação sexual. Os homossexuais, por tal razão, têm direito de receber a igual proteção tanto das leis quanto do sistema político-jurídico instituído pela Constituição da República, mostrando-se arbitrário e inaceitável qualquer estatuto que puna, que exclua, que discrimine, que fomente a intolerância, que estimule o desrespeito e que desiguale as pessoas em razão de sua orientação sexual. (…) A família resultante da união homoafetiva não pode sofrer discriminação, cabendo-lhe os mesmos direitos, prerrogativas, benefícios e obrigações que se mostrem acessíveis a parceiros de sexo distinto que integrem uniões heteroafetivas. (Precedentes: RE n. 552.802, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de 24.10.11; RE n. 643.229, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 08.09.11; RE n. 607.182, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 15.08.11; RE n. 590.989, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 24.06.11; RE n. 437.100, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 26.05.11, entre outros). (AgRg no RE nº 607562, 1ª turma, julgamento em 18.9.2012, publ. DJ 3.10.2012) De tantas decisões nesse sentido, as instruções normativas expedidas pelo INSSpara regulamentar o direito dos companheiros reconheceram também o caso de união homoafetivas. O companheiro ou a companheira de relação homoafetiva de segurado(a) inscrito no RGPS passou a integrar o rol de dependentes, desde que comprovada a vida em comum, possuindo os mesmos direitos dos demais dependentes. Assim se deu com a Instrução Normativa nº 45, de 2010, sucedida e revogada pela Instrução Normativa nº 77, de 2015. Em ambas era explícita a previsão de companheiro ou companheira do mesmo sexo do segurado inscrito no Regime Geral da Previdência, inclusive para fins de pensão por morte e de auxílio- reclusão, com os dependentes preferenciais de que trata o inciso I do art. 16 da Lei nº 8.213, de 1991. A atual Instrução Normativa nº 128, de 2022, já adota técnica redacional diferente. Segundo o art. 178, §3º, considera-se por companheira ou companheiro a pessoa que mantém união estável com o segurado ou a segurada, sendo esta configurada na convivência pública, contínua e duradoura entre duas pessoas, estabelecida com intenção de constituição de família, sem qualquer desígnio de sexo, opção afetiva ou identificação de gênero. Demonstração (ou não) de dependência econômica Naturalmente, um dos pontos complicados na vida prática reside na comprovação da dependência econômica ou mesmo na existência de casos de união estável. Sobre aquele primeiro aspecto, é importante observar que a lei exige a sua demonstração para alguns casos de beneficiários. Familiares de primeira classe Têm dependência econômica presumida em relação ao falecido, por expressa definição legal. Ao requerer o benefício, esses dependentes somente devem comprovar a relação familiar com o falecido. Exemplo: apresentar a certidão de casamento, caso seja esposa. Dependentes da segunda e terceira classe É necessário comprovar a dependência econômica, conforme § 7º, art. 16, do Decreto nº 3.048/1990: “A dependência econômica das pessoas de que trata o inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada” . Diante de tal determinação, os dependentes das classes I e II, ao requerer o benefício ao INSS, deverão juntar documentação que comprove que dependiam economicamente do falecido para sobreviver. Ainda que muito criticada, a atual Instrução Normativa INSS nº 128, de 2022, contém a seguinte determinação sobre a necessidade de prova a respeito: Art. 180. Para comprovação de união estável e de dependência econômica são exigidas duas provas materiais contemporâneas dos fatos, sendo que pelo menos uma delas deve ter sido produzida em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses anterior ao fato gerador, não sendo admitida a prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito. Parágrafo único. Caso o dependente só possua um documento emitido em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses anteriores à data do fato gerador, a comprovação de vínculo ou de dependência econômica para esse período poderá ser suprida mediante justificação administrativa. (IN PRES-INSS Nº 128/2022) Requisitos para a concessão da pensão por morte A par de todas as conceituações acima, podemos sintetizar as seguintes ideias sobre a pensão por morte: O direito ao benefício só nasce com a morte do segurado do RGPS. Trata-se de um benefício mensal, não programado, devido em razão da morte (ou ausência declarada). Além disso, é possível ainda afirmar que três são os requisitos para a concessão da pensão por morte. Vejamos! Importante também observar que não há exigência de carência, ou seja, não é exigido número mínimo de contribuição, mas é necessária a comprovação da qualidade de segurado. De modo a consagrar o direito e seu critério temporal, a Lei nº 8.213/1991, e suas alterações, ainda fez constar o seguinte: Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data: I. do óbito, quando requerida em até 180 (cento e oitenta) dias após o óbito, para os filhos menores de 16 (dezesseis) anos, ou em até 90 (noventa) dias após o óbito, para os demais dependentes; II. do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior; III. da decisão judicial, no caso de morte presumida. O valor mensal da pensão por morte será de cem por cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento. Por outro lado, considerando a possibilidade de existência de mais de um beneficiário em idêntica classe, o art. 77 da lei determina que a pensão por morte será rateada entre todos em parte iguais. A qualidade de segurado do falecido, quando do óbito A existência de dependentes que possam ser habilitados como bene�ciários junto ao INSS O óbito ou a morte presumida do segurado, que normalmente se dá pelo atestado de óbito do segurado ou algum tipo de comprovante da morte presumida dele Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Como vimos, a pensão por morte não é benefício dado em favor do segurado. Dessa forma, é correto dizer que os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social na condição de dependentes do segurado são: Parabéns! A alternativa A está correta. A O cônjuge, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave. B Qualquer pessoa indicada por testamento. C O irmão, independentemente da idade ou de ser possuidor de deficiência intelectual ou mental. D O filho, independentemente de idade ou de ser possuidor de deficiência intelectual ou mental. E O primo de primeiro grau menor de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave. Conforme inteligência do art. 16 da Lei de Planos e Benefícios da Previdência Social (Lei nº 8.213/91), os dependentes que serão beneficiários da pensão por morte do Regime Geral de Previdência são o cônjuge, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; os pais; e o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave. Questão 2 Sobre a demonstração de dependência econômica para ser beneficiário do Regime Geral de Previdência Social, é correto dizer que: Parabéns! A alternativa B está correta. Como vimos, os familiares considerados de primeira classe possuem dependência econômica presumida, bastando comprovar a relação familiar com o falecido no momento em que for requerer o A É necessária a comprovação de dependência econômica de todos os personagens que constam no rol de dependentes do art. 16 da Lei nº 8.213/91. B A dependência econômica dos filhos até 21 anos é presumida, já a dos pais deverá ser comprovada. C A dependência econômica dos pais e irmãos não precisará ser comprovada, uma vez que é presumida. D A dependência econômica será sempre presumida, independentemente da pessoa. E Os filhos de até 21 anos, mesmo que incapazes, deverão comprovar a dependência econômica, uma vez que esta não pode ser presumida. benefício. No caso dos dependentes da segunda e terceira classe, é necessário comprovar a dependência econômica, conforme art. 16, § 7º, do Decreto nº 3.048/99. Considerações �nais Como vimos, a ideia previdenciária veio evoluindo no mundo e no país de forma a se consagrar como um direito social. No Brasil, esse direito foi consagrado de forma clara na Constituição de 1988. Além de afirmar o direito a uma previdência dentre as bases da seguridade social, o texto constitucional consagrou ainda os princípios básicos da atividade, tendo a normatização infraconstitucional trazido vários benefícios previdenciários para além da ideia da aposentadoria. Importante destacar ainda os avançosnesses dois campos, seja para reconhecer os direitos dos empregados e trabalhadores domésticos, bem como para assegurar direitos nos casos adotivos, inclusive para gerar o salário-maternidade para pais adotivos. Além dos dois benefícios acima, é fundamental observar os termos do auxílio-acidente, com natureza indenizatória para os casos de perda da capacidade laboral. Nessa situação, existirá um benefício para o caso de risco não programado. Igualmente, para preservar esses casos de riscos não programados, existe ainda o benefício de pensão por morte. Nesse caso, os recursos previdenciários serão destinados não para o segurado do RGPS, mas, sim, aos seus dependentes Por fim, é fundamental conhecer os aspectos básicos desses modelos de previdência para melhor compreender as bases constitucionais do consagrado direito social previdenciário e também toda a regulamentação, conforme a Lei nº 8.213 e seu Decreto Regulamentador nº 3.048. Podcast Entenda um pouco mais sobre os diferentes tipos de benefícios previdenciários tratados ao longo do conteúdo. Explore + Para continuar estudando sobre os benefícios previdenciários, especialmente diante da reforma dos seus critérios e benefícios a partir da Emenda Constitucional nº 103, recomendamos a leitura do artigo: Confira as principais mudanças da Nova Previdência, disponível no site do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Sobre a as dificuldades de reconhecimento da pensão por morte, com relação à existência da união estável, leia a reportagem STF toma decisão importante sobre pagamento do INSS na pensão por morte, de Eduarda Andrade, disponível para acesso no site da FDR - Economia Simplificada. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Consultado na internet em: 21 jun. 2022. BRASIL. Decreto nº 3.048. Brasília, 1999. Consultado na internet em: 4 maio 2022. BRASIL. Lei nº 8.213. Brasília, 1991. Consultado na internet em: 3 maio 2022. BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. STJ. AgRg no Ag nº 1192967, 5ª turma, julgamento em 13.3.2012, Brasília, DJ 29 mar. 2012. BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. STF. AgRg no RE nº 607562, 1ª turma, julgamento em 18.9.2012, Brasília, 3 out. 2012. INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. INSS. Instrução Normativa nº 128. Brasília, 2022. Consultado na internet em: 30 de maio 2022. 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