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IANI SOARES LUZ XIII – MED APG 22 – Síndromes Cerebelares Cerebelo Anatomia . - Localizado na fossa posterior do crânio, situa- se posteriormente ao quarto ventrículo, ponte e bulbo. - Formato ligeiramente ovoide e apresenta uma constrição em sua parte mediana. - Constituído por 2 hemisférios do cerebelo, unidos pelo verme do cerebelo mediano e estreito. – O cerebelo está conectado com a face posterior do tronco encefálico por 3 feixes simétricos de fibras nervosas (pedúnculos cerebelares superior, médio e inferior). - Principais lobos do cerebelo: • Lobo anterior: Visível na face superior do cerebelo; separado do lobo posterior pela fissura primária (fissura larga em forma de V); • Lobo posterior (lobo médio): Constitui a maior parte do cerebelo, situa-se entre a fissura primária e a fissura posterolateral; • Lobo floculonodular: Posterior à fissura posterolateral. • Os lobos anterior e posterior controlam aspectos subconscientes dos movimentos da musculatura esquelética. O lobo floculonodular da parte inferior contribui com o equilíbrio. Histologia . - Córtex cerebelar (substância cinzenta): Grande lâmina com dobras. Cada dobra/folha do cerebelo contém um cerne de substância IANI SOARES LUZ XIII – MED branca coberto superficialmente por substância cinzenta. • Um corte do cerebelo, paralelo ao plano mediano, divide as folhas do cerebelo em ângulos retos, e a superfície de corte apresenta aspecto ramificado, denominado árvore da vida. • Camadas da substância cinzenta: ◦ Estrato molecular (externa): Contém 2 tipos de neurônios: a célula estrelada externa e a célula em cesto interna, dispersos entre arborizações dendríticas e numerosos axônios finos que seguem paralelamente ao eixo longitudinal das folhas do cerebelo. São encontradas células neurogliais entre essas estruturas; ◦ Estrato purkinjense (intermediária): Constituída pelas células de Purkinje (neurônios grandes tipo I de Golgi), com formato de frasco e dispostas em uma única camada. Os dendritos dessas células passam para dentro do estrato molecular, onde sofrem ramificação profusa. Os ramos primários e secundários são lisos, enquanto os ramos subsequentes são recobertos por espinhas dendríticas, as quais formam contatos sinápticos com as fibras paralelas provenientes dos axônios das células granulosas. Na base da célula de Purkinje, o axônio surge e atravessa o estrato granuloso para entrar na substância branca, adquire uma bainha de mielina e faz sinapse com células de um dos núcleos intracerebelares. ◦ Estrato granuloso (interna): Constituído de pequenas células com núcleos densamente corados e citoplasma escasso. Cada célula dá origem a 4 ou 5 dendritos, que formam terminações semelhantes a garras e fazem contato sináptico com fibras musgosas. O axônio de cada célula granulosa segue para dentro do estrato molecular, onde ele se bifurca em uma junção em T, cujos ramos seguem paralelamente ao eixo longitudinal da folha do cerebelo. Essas fibras, conhecidas como fibras paralelas, seguem em ângulos retos para os prolongamentos dendríticos das células de Purkinje. São encontradas células neurogliais por todo esse estrato. As células de Golgi estão dispersas por todo o estrato granuloso. Seus dendritos ramificam-se no estrato molecular, enquanto seus axônios terminam dividindo-se em ramos que fazem sinapse com os dendritos das células granulosas. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Núcleos do cerebelo: 4 massas de substância cinzenta inseridas na substância branca do cerebelo, de cada lado da linha mediana. Os axônios desses núcleos formam o fluxo eferente do cerebelo nos pedúnculos cerebelares superior e inferior. • Núcleo denteado: Maior núcleo; possui o formato de um saco amassado, preenchido com substância branca, constituída de fibras eferentes que deixam o núcleo através da abertura para formar grande parte do pedúnculo cerebelar superior; • Núcleo emboliforme: Ovoide e situa-se medialmente ao núcleo denteado, cobrindo parcialmente o seu hilo; • Núcleo globoso: Um ou mais grupos de células redondas, que se localizam medialmente ao núcleo emboliforme; • Núcleo do fastígio: Situa-se próximo à linha mediana no verme do cerebelo e próximo ao teto do quarto ventrículo. ◦ É maior do que o núcleo globoso. - Substância branca: Pequena quantidade de substância branca no verme do cerebelo; assemelha-se estreitamente ao tronco e ramos de uma árvore e, por isso, é denominada árvore da vida. Existe uma grande quantidade de substância branca em cada hemisfério do cerebelo. Grupos de fibras da substância branca: ◦ Fibras intrínsecas: Não deixam o cerebelo, porém conectam diferentes regiões do órgão; ◦ Fibras aferentes: Formam a maior parte da substância branca e seguem até o córtex cerebelar. Entram no cerebelo, principalmente, por meio dos pedúnculos cerebelares inferior e médio; ◦ Fibras eferentes: Constituem o impulso eferente do cerebelo e começam como axônios das células de Purkinje do córtex cerebelar. A grande maioria dos axônios das células de Purkinje segue e faz sinapse com os neurônios dos núcleos do cerebelo (do fastígio, globoso, emboliforme e denteado). Em seguida, os axônios dos neurônios deixam o cerebelo pelos pedúnculos. Mecanismos corticais cerebelares - As fibras trepadeiras e as fibras musgosas constituem as 2 principais linhas de impulso aferente para o córtex e são excitatórias para as células de Purkinje. • Fibras trepadeiras: Fibras terminais dos tratos olivocerebelares. Ascenderem através dos estratos do córtex, atravessam o estrato granuloso do córtex e terminam no estrato molecular, dividindo-se repetidamente. IANI SOARES LUZ XIII – MED • Cada fibra trepadeira envolve-se ao redor e estabelece grande número de contatos sinápticos com os dendritos de uma célula de Purkinje. Um único neurônio de Purkinje faz contato sináptico com apenas uma fibra trepadeira. Entretanto, uma fibra trepadeira faz contato com de 1 a 10 neurônios de Purkinje. • Fibras musgosas: Fibras terminais de todos os outros tratos aferentes do cerebelo. Possuem múltiplos ramos e exercem um efeito excitatório muito mais difuso. Uma única fibra musgosa pode estimular milhares de células de Purkinje através das células granulosas. - Mecanismos dos núcleos do cerebelo: Núcleos profundos do cerebelo recebem informações nervosas aferentes de 2 fontes: dos axônios inibitórios das células de Purkinje do córtex sobrejacente; e dos axônios excitatórios que são ramos das fibras trepadeiras e musgosas aferentes, que passam pelo córtex sobrejacente. • Um determinado impulso sensitivo para o cerebelo envia informações excitatórias até os núcleos, que, pouco tempo depois, recebem informações inibitórias corticais processadas pelas células de Purkinje. • As informações eferentes provenientes dos núcleos profundos do cerebelo deixam o cerebelo e distribuem-se para o restante do encéfalo e da medula espinal. - Neurotransmissores corticais cerebelares: As fibras aferentes trepadeiras e musgosas excitatórias utilizam o glutamato como transmissor excitatório nos dendritos das células de Purkinje. • Outras fibras aferentes que entram no córtex liberam norepinefrina e serotonina nas suas terminações. - Pedúnculos cerebelares: Numerosas fibras eferentes e aferentes agrupadas de cadalado em 3 grandes feixes/pedúnculos que ligam o cerebelo ao SNC. • Pedúnculos cerebelares superiores: Conectam o cerebelo com o mesencéfalo; • Pedúnculos cerebelares médios: Conectam o cerebelo com a ponte; • Pedúnculos cerebelares inferiores: Conectam o cerebelo com o bulbo. Fibras aferentes cerebelares - O cerebelo recebe 3 vias aferentes do cérebro e é importante no monitoramento e controle dos movimentos voluntários. - O cerebelo também recebe 3 vias aferentes da medula espinal, todas as quais suprem o cerebelo com informações musculares e articulares dos membros e do tronco. IANI SOARES LUZ XIII – MED Fibras eferentes cerebelares - Os impulsos eferentes do cerebelo seguem pelos axônios das células de Purkinje, cuja maioria faz sinapse nos neurônios dos núcleos profundos do cerebelo. - As fibras eferentes dos núcleos profundosconectam-se com o núcleo rubro (via globosoemboliforme-rubra), o tálamo (via dentotalâmica), o complexo vestibular (via fastigiovestibular) e a formação reticular (via fastigiorreticular). - Divisão morfofuncional do cerebelo (divisão filogenética) - Cerebelo vestibular (vestíbulocerebelo ou arquicerebelo): Primeiro a aparecer na evolução. Esta porção do cerebelo recebe informações sobre a posição e os movimentos da cabeça vindas dos receptores do labirinto e irá integrá-las de maneira a elaborar as ações motoras necessárias à manutenção do equilíbrio ou à posição do corpo em relação ao espaço exterior. • Assim, uma lesão nessas porções do cerebelo afeta basicamente o equilíbrio corporal e as funções oculomotoras, conservando-se intactas as demais funções. - Cerebelo espinhal (espinocerebelo ou paleocerebelo): Recebe as informações proprioceptivas e exteroceptivas vindas de todo o corpo e coordena as respostas necessárias, que repercutirão na musculatura axial (pelos tratos vestibuloespinhal e reticuloespinhal) e apendicular (pelo trato rubroespinhal). • Uma lesão no cerebelo espinhal costuma afetar o tônus postural, tendo como resultado uma hipotonia, a qual poderá fazer com que o indivíduo seja incapaz de sustentar o próprio corpo. Além disso, aparece uma incoordenação motora, a ataxia cerebelar. - Cerebelo cortical (cerebrocerebelo ou neocerebelo): Importante na coordenação dos movimentos (principalmente, os movimentos precisos e delicados dos dedos), bem como no próprio planejamento das ações motoras. • Uma lesão nas áreas deste órgão poderá causar incoordenação motora evidenciada, por exemplo, durante a marcha ou a execução de ações simples, como a de colocar o dedo na ponta do nariz. Observa-se um tremor terminal, que ocorre ao final dos movimentos, até que o objetivo seja alcançado (há uma dismetria). Há ainda incapacidade para a realização simultânea e harmônica de um ato motor complexo, como, por exemplo, o de apanhar um objeto no solo. Em uma situação como essa, o paciente realiza isoladamente cada componente da ação motora requerida (como movimentar a cabeça, estender o braço, fletir a perna etc.), assumindo, assim, o aspecto de um boneco de molas em movimento (fenômeno chamado de decomposição dos movimentos). IANI SOARES LUZ XIII – MED - A função essencial do cerebelo consiste emcoordenar, por ação sinérgica, toda a atividade muscular reflexa e voluntária. Por conseguinte, o cerebelo gradua e harmoniza o tônus muscular e mantém a postura corporal normal. - Permite que movimentos voluntários, como a deambulação, ocorram de maneira suave, com precisão e economia de esforço. É preciso compreender que, embora desempenhe uma importante função na atividade dos músculos esqueléticos, o cerebelo não é capaz de iniciar movimentos musculares. - Ao longo do tempo, vêm se acumulando evidências de que o cerebelo participa não só da motricidade, mas também de processos cognitivos como a percepção visuoespacial ou a linguagem, de algumas funções executivas e até do controle visceral. Síndromes cerebelares Introdução - Cada hemisfério do cerebelo está conectado por vias nervosas, principalmente, com o mesmo lado do corpo; em consequência, uma lesão que ocorre em um hemisfério do cerebelo origina sinais e sintomas que se limitam ao mesmo lado do corpo. - Lesões agudas e crônicas: • Lesões agudas: Causam sinais e sintomas súbitos e graves; • Lesões crônicas: Como tumores de crescimento lento, produzem sinais e sintomas que são muito menos intensos do que aqueles associados às lesões agudas. ◦ A razão disso pode residir no fato de que outras áreas do SNC têm tempo suficiente para compensar a perda da função cerebelar. Principais manifestações clínicas Discinesias (movimentos involuntários anormais) - Movimentos descontrolados que geralmente se evidenciam quando o paciente está em repouso, os quais, com raras exceções (p. ex., mioclonia palatal), desaparecem durante o sono. - Esses movimentos são contínuos ou facilmente evocados, embora alguns sejam intermitentes ou paroxísticos. - As várias discinesias são diferenciadas entre si basicamente pela inspeção visual do paciente. Funções do cerebel o IANI SOARES LUZ XIII – MED - Classificação: • Hipercinesias: Excesso de movimentação de um órgão e/ou região específica do corpo, com maior extensão e rapidez desses movimentos, chegando ao estado patológico. • Hipocinesias: Redução da amplitude do movimento ou escassez de movimento que não é consequente a fraqueza ou paralisia, entretanto, muitas vezes esse termo é usado como sinônimo de bradicinesia (movimentos lentos). OBS: Exemplos de manifestações: • Hipercinesias: Acatisia, assinergia, ataxia episódica atetose, balismo, coreia, discinesias hipnogênicas, dismetria, distonia, espasmo hemifacial, estereotipia, hiperecplexia e transtornos saltatórios, mioclonia, miorritmia, síndrome das pernas inquietas, síndrome de pernas doloridas e movimento dos dedos dos pés, tiques, transtorno de movimento do coto, transtornos paroxísticos do movimento (discinesias paroxísticas, ataxias episódicas, discinesias hipnogênicas paroxísticas, discinesias transitórias dos lactentes), tremor; • Hipocinesias: Acinesia/bradicinesia (parkinsonismo), hesitação e fenômeno de congelamento. - Assinergia/dissinergia: Incoordenação dos movimentos, mas nas patologias cerebelares esse termo se refere exclusivamente a incoordenação dos deslocamentos de segmentos individuais de um membro durante a realização de movimentos multiarticulares ou complexos. Descrevem a decomposição do movimento em decorrência de ruptura da execução coordenada normal de um movimento voluntário. Em vez de um movimento contínuo e fluido, o membro se afasta de sua trajetória na tentativa de alcançar um alvo, com medidas corretivas semelhantes a oscilações do mesmo. • No movimento complexo, o sistema nervoso deve compensar previamente a interação da torção e da força gerada sobre uma articulação quando um segmento direta ou indiretamente envolvido com ela é movimentado. Os pacientes com lesão do núcleo denteado ou do neocerebelo não pode corrigir e compensar essas interações, o que gera assinergia e origina movimentos atáxicos e imprecisos. - ◦ Para compensar isso, o paciente decompõe o movimento complexo em cada um dos movimentos simples que o interagem. ◦ Ex: Quando o paciente é solicitado para tocar a ponta de seu nariz com o dedo indicador, flexiona primeiro o antebraço, logo o braço, depois o pulso e por último os dedos; quando o paciente quer pegar um lápis entre o indicado e o polegar: primeiro apoia o indicadorsobre o lápis e depois o polegar (uma pessoa normal segura o lápis simultaneamente, com ambos os dedos. • Agrava-se quando o membro se aproxima do objeto-alvo. • A assinergia do membro também se manifesta como disdiadococinesia (dificuldade de realizar movimentos rápidos de modo alternado). ◦ Para a sua avaliação, deve-se solicitar ao paciente que efetue rapidamente IANI SOARES LUZ XIII – MED a pronação e supinação dos antebraços. ◦ No lado da lesão cerebelar os movimentos são lentos, bruscos e incompletos. • Outra consequência da assinergia é a falta de coordenação motora observada na articulação das palavras. O paciente pronuncia lentamente as palavras, como se tivesse de pensar como articular e, em certos extremos, o paciente fraciona as palavras em sílabas (disartria). • De modo geral, a assinergia se acompanha de hipotonia, perda de controle (quando a pessoa não consegue interromper precisamente um movimento voluntário rápido ao chegar próximo do alvo) e rebote (quando o deslocamento abrupto de um membro resulta em correção excessiva para retornar à posição basal). - Dismetria: Membro não alcança o alvo, ou seja, a incapacidade de efetuar movimentos com a distância apropriada. • A dismetria na doença cerebelar é consequente a hipermetria (alteração da coordenação de movimentos que ultrapassam o alvo), presente, sobretudo na execução de movimentos rápidos, e hipometria (incapacidade de alcançar o alvo), principalmente, na execução de movimentos lentos. • Durante a execução de um movimento contraem-se os músculos agonistas que o realizam e, antes de terminar sua contração, ativam-se os antagonistas para finalizar o movimento exatamente sobre o alvo. Essa sequência temporal, na qual intervêm os núcleos interpósito e denteado, realiza-se automaticamente. ◦ Nos pacientes cerebelares, o músculo antagonista pode ativar-se tardiamente, o que produz hipermetria, ou prematuramente, o que gera hipometria. • Pode existir tremor intencional (ou terminal) associado. ◦ Para corrigir esse erro de aproximação, o paciente realiza múltiplas e pequenas contrações dos antagonistas e, algumas vezes, dos agonistas, levando à produção de oscilações de grande amplitude do membro. OBS: As manobras que costumam ser feitas para pesquisar assinergia e dismetria são indicadornariz-indicador e calcanhar-joelho- face anterior da perna. Hipotonia - Diminuição do tônus muscular. O membro tornase flácido. Quando o membro é movimentado passivamente e logo solto, balança livremente. • Os músculos perdem resiliência à palpação. • Diminuição da resistência aos movimentos passivos das articulações. • O ato de sacudir o membro produz movimentos excessivos nas articulações distais. - A disfunção cerebelar resulta em uma diminuição do tônus na saída dos núcleos cerebelares, causando perda da facilitação cerebelar para o córtex motor. IANI SOARES LUZ XIII – MED • Aparece na etapa aguda de lesão do neocerebelo, é difícil na fase crônica de doenças cerebelares. - A condição é atribuível à perda da influência do cerebelo sobre o reflexo de estiramento simples. • Os movimentos produzidos pelos reflexos tendíneos tendem a continuar por um período mais longo do que o normal. ◦ Por exemplo, ocorre reflexo patelar pendular após a percussão do tendão patelar. Normalmente, o movimento ocorre e é autolimitado pelos reflexos de estiramento dos agonistas e antagonistas. ◦ Na doença cerebelar, devido à perda de influência sobre os reflexos de estiramento, o movimento continua como uma série de movimentos de flexão e extensão na articulação do joelho, isto é, a perna move-se como um pêndulo. Discronometria - Existência de um atraso no começo e no fim do movimento. • Quando se ordena a um paciente com hemisíndrome cerebelar que pegue um prato com ambas as mãos, observa-se que o braço doente se coloca em movimento e alcança o objeto com retardo. • Se o doente for instruído para pegar com suas mãos as mãos do médico e, a uma ordem determinada, apertá-las, observa-se que a mão do lado doente executa o movimento de pressão com notável retardo em relação à do lado sadio. Distúrbios dos movimentos voluntários (ataxia) - Os músculos se contraem de modo irregular e fracamente. Ocorre tremor quando o indivíduo procura realizar movimentos finos, como abotoar a roupa, escrever e se barbear. - Os grupos musculares não conseguem funcionar de maneira harmoniosa, e observa- se uma decomposição dos movimentos. • Quando o paciente é solicitado a tocar a ponta do nariz com o indicador, os movimentos não são adequadamente coordenados, e o dedo ultrapassa o nariz (dismetria) ou bate no nariz. • Pode-se realizar um teste semelhante com os membros inferiores, solicitando que o paciente coloque o calcanhar de um pé sobre a tíbia da perna oposta. Mudanças posturais e alteração da marcha - Com frequência, há rotação e flexão da cabeça, e o ombro no lado da lesão está mais baixo do que o lado normal. O paciente adota uma base larga quando está na posição ortostática e, frequentemente, mantém as pernas rígidas para compensar a perda do tônus muscular. Ao deambular, o indivíduo cambaleia em direção ao lado afetado. • Ataxia da marcha é caracterizada por instabilidade da marcha com base alargada, balanço do corpo e dificuldade de deambular com a ponta dos dedos do pé encostada no calcanhar do outro pé. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Ataxias hereditárias: • Ataxias autossômicas dominantes: As ataxias espinocerebelares (SCA) tipo 40, a atrofia dentatorrubropalidoluisiana (DRPLA) e a ataxia episódica (AE) dos tipos 1 a 7. ◦ SCA1 (atrofia olivopontocerebelar): Desenvolvimento, no início ou em meados da idade adulta, de ataxia cerebelar progressiva do tronco e dos membros, dificuldades do equilíbrio e da marcha, lentidão dos movimentos voluntários, fala escandida, movimentos oculares nistagmoides e tremor oscilatório da cabeça e do tronco. Também podem ocorrer disartria, disfagia e paralisias oculomotoras e faciais. Os sintomas extrapiramidais incluem rigidez, fácies imóvel e tremor parkinsoniano. Os reflexos costumam ser normais, mas os reflexos patelar e aquileu podem ser abolidos e pode haver respostas plantares em extensão. Pode-se observar demência, mas, em geral, ela é discreta. É comum haver disfunção esfincteriana, com incontinência urinária e, às vezes, fecal. A RM revela atrofia do cerebelo e do tronco encefálico. SCA2: Descrita em pacientes de Cuba e da Índia. A idade de início varia de 2 a 65 anos, e há variedade clínica considerável dentro das famílias. Embora os achados neuropatológicos e clínicos sejam compatíveis com o diagnóstico de SCA1, incluindo movimentos oculares sacádicos lentos, ataxia, disartria, rigidez parkinsoniana, palidez do disco óptico, espasticidade leve e degeneração da retina, a SCA2 é uma forma singular de doença degenerativa cerebelar. ◦ SCA3/Doença de Machado-Joseph (DMJ): ▪ DMJ tipo I (tipo esclerose lateral amiotrófica-parkinsonismodistonia): Déficits neurológicos surgem nas primeiras 2 décadas de vida e envolvem fraqueza e espasticidade dos membros, principalmente, das pernas, muitas vezes acompanhadas de distonia da face, do pescoço, do tronco e dos membros. São comuns clonos patelar e aquileu, bem como respostas plantares em extensão. A marcha é lenta e rígida, com uma base discretamente alargada e cambaleios de um lado para o outro; essa marcha resulta de espasticidade, não de ataxia verdadeira. Não há titubeação do tronco.A fraqueza e a espasticidade faríngeas causam dificuldade na fala e na deglutição. A proeminência do nistagmo horizontal e vertical, a perda dos movimentos oculares sacádicos rápidos, secadas hipermétricas e hipométricas e a deficiência do olhar vertical para cima são dignos de nota. Fasciculações faciais, mioquimia facial, fasciculações da língua sem atrofia, oftalmoparesia e proeminência ocular são manifestações precoces comuns. ▪ DMJ tipo II (tipo atáxico): É a forma mais comum. Déficits cerebelares verdadeiros de disartria e ataxia da marcha e dos membros surgem entre a 2ª e a 4ª décadas de vida, junto com déficits corticospinais e extrapiramidais de espasticidade, rigidez e distonia. Também há oftalmoparesia, déficits do olhar vertical para cima e fasciculações faciais e da língua. ▪ DMJ tipo III (tipo atáxicoamiotrófico): Surge entre a 5ª e a 7ª décadas de vida como um distúrbio pancerebelar que inclui disartria e ataxia da marcha e dos membros. IANI SOARES LUZ XIII – MED Perda sensitiva distal de dor, toque, vibração e propriocepção e atrofia distal são proeminentes, indicando a presença de neuropatia periférica. Os reflexos tendíneos profundos estão reduzidos ou abolidos, e não há achados corticospinais ou extrapiramidais. ◦ SCA6: Ataxia progressiva de início tardio com degeneração cerebelar, migrânea (enxaqueca) hemiplégica familiar, ataxia cerebelar paroxística hereditária ou AE. ◦ SCA7: Presença de degeneração pigmentar da retina. As anormalidades visuais aparecem inicialmente como daltonismo para as cores azul-amarela e evoluem para perda visual franca com degeneração da mácula. Em quase todos os demais aspectos, a SCA7 assemelha-se a várias outras SCA em que a ataxia é acompanhada de diversos achados não cerebelares, como oftalmoparesia e respostas plantares extensoras. Observou-se antecipação acentuada, em especial quando há transmissão paterna. ◦ SCA8: Acentuada predileção materna na transmissão, o que talvez reflita contrações da repetição durante a espermatogênese. A mutação não é totalmente penetrante. Os sintomas incluem disartria lentamente progressiva e ataxia da marcha começando em torno dos 40 anos de idade, com variação entre 20 e 65 anos. Outras manifestações compreendem nistagmo, espasticidade dos membros inferiores e redução da sensibilidade vibratória. Os indivíduos gravemente acometidos deixam de deambular durante a quarta à 6ª década. A RM revela atrofia cerebelar. ◦ DRPLA: Apresentação variável que pode incluir ataxia progressiva, coreoatetose, distonia, convulsões, mioclonia e demência. ◦ AE tipo 1: Episódios breves de ataxia com mioquimia e nistagmo que duram apenas minutos. Um sobressalto, mudança abrupta da postura e exercício podem induzir os episódios. ◦ AE tipo 2: Episódios de ataxia com nistagmo que podem durar horas ou dias. O estresse, exercício ou fadiga excessiva podem ser fatores desencadeantes. • Ataxias autossômicas recessivas: ◦ Ataxia de Friedreich: Forma de ataxia hereditária mais comum. Pode ocorrer em uma forma clássica ou associada a uma síndrome geneticamente determinada de deficiência da vitamina E. Manifesta-se antes dos 25 anos de idade por uma marcha titubeante progressiva, quedas frequentes e titubeação. Os MMII são mais intensamente afetados do que os MMSS. Às vezes, o sintoma inicial é disartria; raras vezes, o sinal inicial é escoliose progressiva, deformidade dos pés, nistagmo ou cardiopatia. Há nistagmo, perda dos movimentos oculares sacádicos rápidos, vacilação do tronco na marcha, disartria, dismetria e ataxia do tronco e dos membros. Em geral, detectam-se respostas plantares em extensão (com tônus IANI SOARES LUZ XIII – MED normal no tronco e nos membros), reflexos tendíneos profundos abolidos e fraqueza (distal maior do que proximal). Ocorre perda das sensibilidades vibratória e proprioceptiva. A idade mediana de óbito é 35 anos. As mulheres têm prognóstico significativamente melhor do que os homens. ◦ Ataxia-telangiectasia: Apresentam-se na 1ª década de vida com lesões telangiectásicas progressivas associadas a déficits da função cerebelar e nistagmo. As manifestações neurológicas são aquelas observadas na doença de Friedreich, que deve ser incluída no diagnóstico diferencial. Podem surgir ataxia do tronco e dos membros, disartria, respostas plantares em extensão, abalos mioclônicos, arreflexia e déficits sensitivos distais. Há alta incidência de infecções pulmonares recorrentes e neoplasias dos sistemas linfático e reticuloendotelial. Descreveram-se hipoplasia tímica com imunodeficiências celulares e humorais (IgA e IgG2), envelhecimento precoce e distúrbios endócrinos, como DM1. Há incidência aumentada de linfomas, doença de Hodgkin, leucemias agudas de células T e câncer de mama. As alterações neuropatológicas mais marcantes incluem perda de células de Purkinje, granulosas e células em cesto no córtex cerebelar e de neurônios nos núcleos cerebelares profundos. As olivas inferiores do bulbo também sofrem perda neuronal. Há perda dos neurônios do corno anterior da medula espinal e das células ganglionares das raízes dorsais, associada a desmielinização da coluna posterior da medula espinal. Um timo pouco desenvolvido ou ausente é o defeito mais comum do sistema linfoide. ◦ Ataxias mitocondriais: Identificaram- se síndromes espinocerebelares com mutações no DNA mitocondrial (mtDNA). São conhecidas 30 mutações pontuais patogênicas do mtDNA e 60 tipos diferentes de deleções do mtDNA. - Ataxias adquiridas: Deve-se investigar uma etiologia adquirida da ataxia em todos os casos que não são claramente hereditários. • Início agudo: Tem mais tendência de ser causada por doença vascular, traumatismo, toxinas (como álcool, tolueno), esclerose múltipla e outras doenças desmielinizantes, deficiência de tiamina, cerebelite e tumor primário/metastático ou doença paraneoplásica. • Início subagudo ou crônica: Tumor, degeneração cerebelar paraneoplásica, doença da tireoide, outras doenças relacionadas com o sistema imune (incluindo encefalopatia responsiva aos esteroides, tireoidite), ataxia por anticorpo antiácido glutâmico descarboxilase, enteropatia por glúten, deficiência de vitamina E, toxinas (incluindo álcool, mercúrio e medicamentos, como a fenitoína), infecções (incluindo doença priônica, HIV e Whipple), metástases leptomeníngeas, deficiência de vitamina B12 e atrofia de múltiplos sistemas. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Ataxias episódicas/paroxísticas: Episódios autolimitados de disfunção cerebelar, com poucas evidências de disfunção neurológica fixa ou progressiva. • Ataxia episódica com mioquimia (AE1/mioquimia): Ataques duram habitualmente alguns minutos; podem ocorrer de modo espontâneo, mas também são provocados por sobressalto, movimentos súbitos ou mudanças na postura e nos exercícios (particularmente se o indivíduo estiver excitado, ansioso ou fatigado). Em geral, há um ou alguns ataques a cada dia. O início é observado na infância ou na adolescência; o distúrbio não está associado a deterioração neurológica, mas a mioquimia aparece ao redor dos olhos e nas mãos. O tendão do calcâneo pode estar encurtado, e pode-se observar tremor das mãos. Com frequência, os ataques são anunciados por uma aura de ausência de peso ou fraqueza; um ataque consiste em ataxia, disartria, tremor agitado e contração espasmódica. • Ataxia episódica com nistagmo (AE2/nistagmo): Ataques de duração maislonga, habitualmente de várias horas ou até mesmo dias, provocados por estresse, exercício, fadiga, cafeína, febre, álcool e fenitoína. Em geral, não ocorrem mais de 1 vez/dia. A idade de início varia desde a lactância até os 40 anos, e o distúrbio tipicamente começa na infância ou na adolescência. Pode evoluir com ataxia e disartria crescentes, mesmo quando não havendo nenhuma síndrome cerebelar progressiva, observa-se com frequência a presença de nistagmo interictal. Os sintomas associados consistem em cefaleia, sudorese, náuseas, vertigem, ataxia, disartria, zumbido, ptose e paralisia ocular. Distúrbios dos movimentos oculares (nistagmo) - Ataxia dos músculos oculares, é uma oscilação rítmica dos olhos. O nistagmo é demonstrado com mais facilidade quando os olhos são desviados em direção horizontal. - Nistagmo é um movimento ocular rítmico e involuntário normal. É constituído por um movimento com componente lento ou de perseguição seguido por um componente rápido ou sacádico em sentido contrário para corrigir o desvio. • É o que realizamos durante a leitura ou quando giramos a cabeça. • Embora o nistagmo observado com patologia cerebelar seja considerado uma expressão de fenômenos assinérgicos nos músculos extraoculares, muitos processos patológicos que afetam o cerebelo também envolvem o tronco cerebral subjacente e os núcleos vestibulares. - É patológico quando surge espontaneamente sem estímulos e aumenta a amplitude quando o paciente olha para o lado afetado. A doença cerebelar pode causar nistagmo parético. • O paciente é incapaz de manter um olhar excêntrico e requer repetidas sacadas para conseguir olhar. Com a lesão de um hemisfério os olhos em IANI SOARES LUZ XIII – MED repouso podem ser desviados de 10 a 30º, na direção do lado não afetado. • Quando o paciente tenta olhar para outro lugar, as sacadas aparecem em direção ao ponto de fixação com movimentos de retorno lento para o ponto de repouso. • Os movimentos são mais marcados e de grande amplitude quando o paciente olha no sentido do lado afetado. • Nos pacientes com lesão vestíbulocerebelar observa-se nistagmo com o componente rápido para o lado da lesão. • Existe um nistagmo em repercussão que é característico de doença cerebelar; o componente rápido está no sentido do olhar lateral, mas transitoriamente muda de sentido quando os olhos voltam para a posição primária. - Essa oscilação rítmica dos olhos pode ter a mesma velocidade em ambas as direções (nistagmo pendular) ou pode ser mais rápida em uma direção do que na outra (nistagmo rítmico). O movimento do nistagmo pode ser limitado a um plano e pode ser horizontal ou vertical, ou pode ocorrer em muitos planos, quando é descrito como nistagmo rotatório. Distúrbios da fala - Ocorre disartria na doença cerebelar devido à ataxia dos músculos da laringe. • A articulação é brusca e, com frequência, as sílabas são separadas umas das outras. • A fala tende a ser explosiva, e as sílabas frequentemente são arrastadas. • Nas lesões cerebelares não há paralisia nem alterações sensitivas. - Articulação, fonação e respiração estão perturbadas. Subsequentemente, os aspectos melódicos da fala tornam-se anormais (disprosodia). • Pacientes mostram precisão articulatória reduzida resultando em consoantes imprecisas e distúrbios de vogais. • Déficit articulatório com frequência resulta em descontrole articulatório irregular. O tempo da fala é lento tanto nas tarefas com fala corrida como nas com repetição de sílabas. Pode haver aumento da separação de sílabas com excesso e estresse iguais (fala escandida). - - A fonação pode ser monótona com voz rouca.- Flutuação na altura e no tremor da voz pode estar presente. • A fala cerebelar com frequência torna-se mais elaborada. - Compreensão e expressão dos significados pelas palavras permanecem normais. - Fluência e clareza da fala testa-se pedindo ao paciente para repetir várias vezes uma frase padrão (ex: “um espetáculo danoso na Tchecoeslovaquia”) e pela tarefa na repetição de sílabas. IANI SOARES LUZ XIII – MED Síndrome do vestíbulocerebelo - Ataxia: Marcha fica com a base de apoio alargada (ele precisa abrir bastante as pernas para manter o equilíbrio e simultaneamente manter o olhar voltado para os pés). - Propriocepção alterada: Ocorre a perda do equilíbrio (com os olhos abertos e fechados. • Se o paciente estiver deitado, a coordenação dos movimentos é praticamente normal. - Perda do controle dos movimentos oculares: Nistagmo cerebelar ou tremor do globo ocular. - A hipotonia não é caracterítica das síndromes vestíbulocerebelares. Síndrome do espinocerebelo - Ataxia nos membros; nistagmo cerebelar; e fala arrastada. - Dismetria: Ocorre devido a redução na cronologia do movimento. Por conseguinte, ocorre o “passar do ponto”, resultando em movimentos que vão além do desejado pelo paciente, o que corresponde à falha do sistema de amortecimento cerebelar. - É importante relembrar que os movimentos rápidos do corpo (movimentos balísticos) são pré-planejados e executados pelo espinocerebelo. • Então, as principais alterações observadas nos pacientes são o desenvolvimento lento na execução dos movimentos, a força reduzida deles e a demora para interrompê-los (o que reflete como dismetria). ◦ Todos esses achados são resultantes da perda da autonomia dos movimentos balísticos. Síndrome do cerebrocerebelo - A divisão funcional cerebrocerebelo é responsável pelo planejamento, sequenciamento e temporização de movimentos mais complexos intencionais das mãos, dedos, pés e do aparelho fonador. - Dificuldade de progredir harmonicamente e homogeneamente entre movimentos: Leva a uma sucessão desorganizada dos movimentos. - Incapacidade de coordenar quando deverá iniciar e interromper um movimento complexo: Como resultado, ações como escrever, correr e conversar ficam prejudicadas. - Atraso no início dos movimentos, por uma decomposição de movimentos multiarticulares em diversas etapas desorganizadas, pelo tremor, pela disartria (vocalização confusa) e pela dismetria. IANI SOARES LUZ XIII – MED Intoxicação medicamentosa - No Brasil, a atribuição de coordenar a coleta,analisar e divulgar os casos de intoxicações e envenenamento é do Sistema Nacional de Informações Tóxico- Farmacológicas (Sinitox). Os registros são realizados pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats), localizados em vários Estados brasileiros, cujas notificações são encaminhadas ao Sinitox. - Existem 2 tipos de dependência das drogas. • Dependência psíquica: Causa o desejo irrefreável e o comportamento de busca pela droga; • Dependência física: Responsável pelos sinais e sintomas somáticos da abstinência. Opioides - Incluem agonistas, antagonistas e agonistasantagonistas mistos. • Agonistas: Tintura canforada de ópio (elixir paregórico); morfina; meperidina; metadona; fentanila; hidromorfona; oxicodona; hidrocodona; propoxifeno; heroína (uma das mais utilizadas). • Antagonistas: Naloxona; Naltrexona. • Agonistas-antagonistas mistos: Pentazocina; Butorfanol; Buprenorfina. - Empregados para o tratamento de dor aguda pósoperatória e politraumatizados, para indivíduos com extensas queimaduras, dores crônicas, manejo da dor relacionada ao câncer. • Ademais, são indicados no tratamento de dependentes químicos, tanto na terapia de manutenção quanto na desintoxicação. - Efeitos dos opioides agonistas: Euforiacom sonolência; analgesia; supressão da tosse; miose; e comumente náuseas, vômitos, sudorese, prurido, hipotermia, hipotensão postural, constipação intestinal e redução da libido. • Quando é administrada por via parenteral ou inalatória (comumente combinada com a cocaína alcaloide crack), a heroína causa um “barato” – uma sensação breve de êxtase seguido de euforia e “nodding” relaxado ou hiperatividade verborreica. - Efeitos da superdosagem de opioides agonistas: Coma, depressão respiratória e pupilas puntiformes (mas reagentes). • Nos adultos com depressão respiratória, o tratamento consiste em suporte ventilatório e naloxona intravenosa (dose inicial de 2 mg, repetida conforme a necessidade, até 20 mg); para os pacientes com respiração normal, doses menores (0,4 a 0,8 mg) são usadas para evitar o desenvolvimento dos sinais de abstinência. ◦ A naloxona tem ação curta e, por esta razão, os pacientes em tratamento com este fármaco precisam ser internados para observação rigorosa. - Sintomas causados pela abstinência dos opioides agonistas: Irritabilidade, lacrimejamento, rinorreia, sudorese, bocejos, midríase, mialgia, espasmos musculares, piloereção, náuseas, vômitos, IANI SOARES LUZ XIII – MED cólicas abdominais, febre, ondas de calor, taquicardia, hipertensão e orgasmo. • Pode ser evitada ou tratada com 20 mg de metadona administrados 1 ou 2 vezes/dia. - Tratamento da intoxicação por opioides: Utiliza-se o fármaco naloxona, antagonista de opioide, o qual deve ser administrado imediatamente. • A naloxona atua inibindo competitivamente a ligação do agonista opioide, revertendo de forma parcial ou total os efeitos induzidos pelos opioides, deve-se iniciar com uma dose mínima e se for necessário ir aumentando de acordo com a resposta do paciente, dependendo sempre da situação clínica. • A naloxona tem um período curto de meiavida, portanto ainda há risco de acontecer algum efeito rebote da intoxicação, por esta razão é aconselhado ao paciente a permanência no hospital durante um período de observação, mesmo após a ausência dos sintomas. - Sedativos - São barbitúricos, benzodiazepínicos e outros compostos químicos variados. • Barbitúricos: Fenobarbital; primidona; amobarbital; butalbital; pentobarbital; secobarbital; meto-hexital; tiopental. • Benzodiazepínicos: Alprazolam; clorazepato; clordiazepóxido; diazepam; lorazepam; oxazepam; flurazepam; temazepam; triazolam; clonazepam; midazolam. • Substâncias químicas diversas: Buspirona; hidrato de cloral; para- aldeído; difenidramina; eticlorvinol; glutetimida; hidroxizina; meprobamato; metaqualona; zolpidem; zaleplon; ácido γ-hidroxibutírico. - Mecanismo de ação dos benzodiazepínicos: Potencializam a atuação do GABA no SNC, promovendo a redução da ansiedade e da agressão, além da indução ao sono. • Efeitos adversos dos benzodiazepínicos: Tontura, sonolência, fadiga, amnésia anterógrada (incapacidade de se lembrar de eventos por um período de tempo), falta de coordenação motora, podendo comprometer o ato de dirigir veículos e alterando outras funções psicomotoras. - Efeitos desejados e superdosagem: Semelhantes aos obtidos com o etanol, embora a depressão respiratória seja mais branda com os benzodiazepínicos. - Efeitos causados pela abstinência: Tremor e crises epilépticas. • Podem ser evitadas ou tratadas com doses tituladas de um benzodiazepínico como lorazepam (5 mg a cada quatro horas). - Tratamento da intoxicação por benzodiazepínico: Compreende primariamente a assistência respiratória por preparação assistida e manutenção dos sinais vitais; em seguida, desintoxicação, que leva em conta o tempo de ingestão do benzodiazepínico: lavagem gástrica pode ser realizada na primeira hora e o carvão ativado até 2 horas. IANI SOARES LUZ XIII – MED • Apenas em casos de parada respiratória ou cardiorrespiratória se usa flumazenil, antagonista específico administrado como antídoto. ◦ O flumazenil é antagonista específico da benzodiazepina, indicado para uso quando seu efeito deve ser urgentemente atenuado ou interrompido. Após a administração intravenosa, o início do antagonismo clinicamente aparente das benzodiazepinas ocorre entre 1 a 5 minutos. Paracetamol - O paracetamol é um para-aminofenol derivado do metabolismo da fenacetina, com ação analgésica e antipirética. - É largamente disponível, e sua toxicidade frequentemente é subestimada entre os leigos. • Está presente em diversas apresentações e combinações medicamentosas. • A falha em reconhecer a sua presença em diferentes medicações ou o não entendimento de orientações de dosagem podem propiciar casos de intoxicação. - Dose tóxica: • Ingestas agudas (doses cumulativas num período < 8 h): Doses superiores a 10 g ou 150 mg/kg em adultos. ◦ Crianças < 6 anos são mais resistentes, não apresentando toxicidade significativa após ingesta aguda de 200 mg/kg. • Intoxicações crônicas (doses cumulativas ingeridas num período > 8h): A ingesta de 10 g/dia por 2 dias em adultos e 150 mg/dia por 2 dias em crianças. - Mecanismo de toxicidade: O metabólito Nacetil-p- benzoquinoneimina (NAPQI), gerado pela CYP2E1 (enzima do citocromo P450), é conjugado e detoxificado pela glutationa hepática (antioxidante). Em caso de superdosagem, quando os estoques de glutationa estão depletados, inicia o processo de dano hepático. • A quantidade livre de NAPQI se liga rapidamente aos hepatócitos, inciando o processo de injúria com necrose hepatocelular centrolobular, que pode se seguir por uma resposta inflamatória secundária a partir das células de Kupffer. - Efeitos clínicos da intoxicação aguda: • Fase 1 - Ausência de injúria hepática (0,5-24 h): Assintomático ou manifestações clínicas inespecíficas (náuseas, vômitos, diaforese, palidez, malestar). ◦ Exames laboratoriais de função hepática se mantêm normais, ou apresentam discreta elevação de transaminases. • Fase 2 - Início da injúria hepática (24- 72 h): Dor no quadrante superior direito e aumento do fígado. Ocorre melhora dos sintomas da primeira fase. ◦ A AST é o marcador mais sensível para detectar o início da IANI SOARES LUZ XIII – MED hepatotoxicidade e precede evidências de disfunção hepática (aumento do INR e de bilirrubinas). Pode ocorrer uma perda de função renal. • Fase 3 - Hepatotoxicidade máxima (72-96 h): Reaparecimento dos sintomas da primeira fase (náuseas, vômitos) simultaneamente a icterícia, confusão mental (encefalopatia hepática), coma e hemorragia. ◦ Os níveis de AST e da ALT são maiores a 10.000 IU/L. Anormalidades de TP/INR, glicose, lactato, creatinina e pH são essenciais para determinar o prognóstico e o tratamento. ◦ Desfechos desfavoráveis geralmente ocorrem nesta fase, com falência hepática fulminante. Se o paciente sobreviver, ocorre resolução completa da disfunção hepática, sem sequelas. • Fase 4 – Resolução (4 dias a 2 semanas): A recuperação histológica ocorre após a melhora clínica e pode demorar até 3 meses. Após este período não se encontram evidências de fibrose hepática. • Injúria renal (24-48 h após a ingesta): Hematúria, proteinúria, elevação de ureia e creatinina. ◦ Ocorre, principalmente, devido a necrose tubular aguda ◦ A elevação da creatinina ocorre 2 a 3 dias após a ingesta (pico no 7º dia) e normaliza em 1 mês. ◦ Pode haver necessidade de diálise se o paciente apresentar oligúria. - Tratamento da intoxicação aguda: O tratamento de primeiros socorros é realizado com carvão ativado na dose de 1g/kg (máximo 50 g) em até 4 h da ingesta, ou em casos em que o tempo de ingesta é indeterminado. • O antídoto N-Acetilcisteína (NAC) repõe os estoques de glutationa hepática, aumentando a conjugação desta substância ao NAPQI e sua consequente destoxificação. ◦ Indicações: Concentração plasmática do paracetamol acima ou na linha de risco possível do nomograma; suspeita de ingesta acima da dose tóxica quando não houver possibilidade de realização da análise sérica em até 8 h; paciente com tempo de ingesta desconhecido e concentração sérica acima de 10 mcg/mL; ou história de ingesta da medicação associado a sinais de dano hepático. ◦ Deve ser iniciado 8 h após a ingesta. Após este tempo, cada hora a mais gera uma queda na efetividade. ◦ Pode ser administrado via oral (VO) ou endovenosa (EV) com eficácia semelhante entre as 2 vias, exceto na presença de sinais de falência hepática que requer a administração endovenosa. - Tratamento da intoxicação crônica: O antídoto deve ser iniciado em pacientes com sensibilidade hepática, concentração sérica de paracetamol > 20mcg/mL, e naqueles com concentração sérica > 10mcg/mL associada a história de ingesta excessiva e fatores de risco. IANI SOARES LUZ XIII – MED Heparina - A heparina não fracionada não é uma substânciapura e, sim, uma mistura de frações de polissacarídeos de alto e baixo peso molecular, que variam de 3.000 a 40.000 Daltons e cuja funcionalidade em inibir a atividade da trombina (fator IIa) difere de acordo com o peso molecular. - A heparina é o anticoagulante rotineiramente usado durante a cirurgia cardíaca de circulação extracorpórea (CEC), por ter a vantagem de ser bastante específico, não produzir alergias ou anafilaxia, sendo o efeito colateral mais importante a trombocitopenia, raramente fatal, que pode ocorrer após 5 a 7 dias de uso continuado da droga; e existir um antídoto, a protamina, capaz de neutralizar seu efeito. - O antídoto rotineiramente utilizado paraneutralizar o efeito anticoagulante da heparina é o sulfato de protamina. • Devido às reações indesejáveis da protamina (tipo I = hipotensão, II = anafilactoide e III = vasoconstricção pulmonar), a droga deve ser administrada diluída e lentamente, sob monitorização contínua, não tendo sido, até o momento, demonstrado qualquer superioridade da administração por via aórtica ou atrial esquerda, sobre via atrial direita ou via venosa clássica. • A protamina deve ser usada na dose mínima capaz de neutralizar o efeito anticoagulante de resíduo de heparina na circulação do paciente ao término da CEC, minimizando assim a trombocitopenia transitória. Diagnóstico - História clínica: Deve incluir a hora, a via, a duração e as circunstâncias (localização, eventos simultâneos e intenção) da exposição; o nome e a quantidade de cada fármaco ou droga, substância química ou ingrediente envolvido; a hora de início, o tipo e a gravidade dos sintomas; a hora e o tipo das primeiras intervenções terapêuticas realizadas; e as histórias clínica e psiquiátrica. • Em muitos casos, o paciente está confuso, comatoso, inconsciente da exposição, ou é incapaz ou não deseja admitir o fato a outra pessoa. • As circunstâncias suspeitas incluem doença súbita e inexplicável em um indivíduo ou um grupo previamente saudável; história de transtornos psiquiátricos (sobretudo depressão); alterações recentes do estado de saúde ou financeiro, ou dos relacionamentos sociais; e início da doença enquanto trabalhava com substâncias químicas, ou depois de ingerir alimentos, bebidas (principalmente etanol) ou fármacos. - Exame físico: Deve concentrar-se, inicialmente, nos sinais vitais, no sistema cardiopulmonar e no estado neurológico. • Exame neurológico: Documentação de anormalidades neuromusculares como discinesia, distonia, fasciculações, mioclonias, rigidez e tremores. Paciente deve ser examinado em busca de indícios de trauma e doenças preexistentes. • Os sinais neurológicos focais não são comuns nas intoxicações, e sua presença deve levar à investigação de uma lesão estrutural do SNC. IANI SOARES LUZ XIII – MED • O exame dos olhos (para detectar nistagmo e avaliar o diâmetro e a reatividade das pupilas), do abdome (quanto à atividade intestinal e ao volume da bexiga) e da pele (para queimaduras, bolhas, cor, temperatura, umidade, úlceras de pressão e marcas de punções) pode revelar anormalidades úteis ao diagnóstico. • Quando a história não está clara, todos os orifícios devem ser examinados para detectar sinais de queimaduras químicas e pacotes com drogas. • O odor do hálito ou dos vômitos e a cor das unhas, da pele ou da urina podem fornecer indícios diagnósticos importantes. • Reconhecimento de padrões: A primeira etapa é avaliar pulso, pressão arterial, frequência respiratória, temperatura e estado neurológico e classificar o estado fisiológico geral do paciente em estimulado, deprimido, discordante ou normal. ◦ A aferição da temperatura central é de particular importância, mesmo nos pacientes difíceis ou agressivos, porque a elevação da temperatura é o indicador mais confiável de intoxicação com prognóstico desfavorável por estimulantes (p. ex., cocaína) ou abstinência de drogas. ◦ A etapa seguinte é considerar as causas subjacentes ao estado fisiológico e tentar identificar um padrão fisiopatológico ou síndrome tóxica. ◦ A última etapa é tentar identificar o agente envolvido com base nas anormalidades físicas ou complementares típicas ou relativamente específicas de uma substância tóxica. - Avaliação laboratorial, eletrocardiograma (ECG), exames radiológicos, análises toxicológicas da urina e do sangue (e por vezes do conteúdo gástrico e das amostras de substâncias químicas) e resposta aos antídotos: Pode facilitar o diagnóstico diferencial. Tratamento - Os objetivos do tratamento incluem aestabilização dos sinais vitais, a prevenção de absorção adicional do toxicante (descontaminação), a estimulação da eliminação do toxicante, a administração de antídotos específicos e a prevenção de novas exposições. - Descontaminação: Visa a remoção do agente tóxico com o intuito de diminuir a sua absorção. • Cutânea: Retirar roupas impregnadas com o agente tóxico e lavar a superfície exposta com água em abundância; • Respiratória: Remover a vítima do local da exposição e administrar oxigênio umidificado suplementar; • Ocular: Instilar 1 ou 2 gotas de colírio anestésico no olho afetado e proceder a lavagem com SF 0,9% ou água filtrada, IANI SOARES LUZ XIII – MED sempre da região medial do olho para a região externa, com as pálpebras abertas durante, pelo menos, 5 minutos. Solicitar avaliação oftalmológica; • Gastrintestinal (GI): Consiste na remoção do agente tóxico do trato gastrintestinal no intuito de evitar ou diminuir sua absorção. ◦ Indicação: Depende da substância ingerida, do tempo decorrido da ingestão, dos sintomas apresentados e do potencial de gravidade do caso. Recomenda-se avaliação criteriosa do nível de consciência do paciente, antes de iniciar o procedimento e sempre considerar intubação orotraqueal, caso julgar necessário, para proteção de vias aéreas. ◦ Lavagem gástrica (LG): Consiste na infusão e posterior aspiração de soro fisiológico a 0,9% (SF 0,9%) através de sonda nasogástrica ou orogástrica, com o objetivo de retirar a substância ingerida. ▪ Sempre avaliar criteriosamente a relação risco e benefício antes de iniciar o procedimento, pois há grande risco de aspiração. ▪ Retirar sucessivamenteo volume de SF 0,9% recomendado de acordo com a faixa etária, até completar o volume total recomendado ou até que se obtenha retorno límpido, da seguinte forma: • Crianças: 10 mL/Kg por infusão até volume total de: 4 a 5 L(escolares), 2 a 3 L (lactentes) e 0,5 L (RNs); • Adultos: 250 mL por vez até um volume total de 6 a 8 L ou até que retorne límpido. ◦ Carvão ativado (CA): É um pó obtido da pirólise de material orgânico, com partículas porosas com alto poder adsorvente do agente tóxico, que previne a sua absorção pelo organismo. Geralmente, é utilizado após a LG, mas pode ser utilizado como medida única de descontaminação GI. Nestes casos, a administração pode ser por via oral sem necessidade da passagem de sonda nasogástrica. ▪ Na maioria das vezes deverá ser utilizado em dose única, porém pode ser administrado em doses múltiplas como medida de eliminação, em exposições a agentes de ação prolongada ou com circulação enterepática, como o fenobarbital, carbamazepina, dapsona, clorpropramida, dentre outros ◦ Lavagem intestinal: Administração de solução de polietilenoglicol (PEG) via sonda naso-enteral para induzir a eliminação do agente através do trato GI pelas fezes. É raramente utilizada, salvo nos casos de ingestão de pacotes contendo drogas (body-packing) ou de quantidades potencialmente tóxicas de substâncias não adsorvidas pelo carvão ativado (ex; ferro, lítio, etc). ▪ Está contraindicada na presença de íleo paralítico, perfuração gastrintestinal, hemorragia gastrintestinal e instabilidade hemodinâmica.
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