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ISBN 978-65-992865-0-6 TEORIAS DA APRENDIZAGEM E O ENSINO DE HISTÓRIA: UMA REFLEXÃO ACERCA DO FAZER DOCENTE TEXTOR, Caroline Braz Vargas1 Grupo de Reflexão Docente n. 16 – Entre Práticas e Reflexões: História Pública e Ensino História Resumo: O presente artigo decorre da monografia do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para a obtenção do título de graduada em História da autora. Tem-se por objetivo discutir a importância dos conhecimentos didático-pedagógicos, enfatizando as Teorias de Aprendizagem, para a formação docente em História, problematizando a busca por uma prática docente reflexiva e consciente de si. São discutidas, primeiramente, as tendências pedagógicas e os modelos pedagógicos de ensino e aprendizagem, buscando compreender como estes contribuem para a formação da identidade docente. Em seguida inicia-se uma reflexão acerca da relevância das Teorias da Aprendizagem para o ensino de História. Por último, busca-se compreender como os estudantes do Curso de História da Unisinos se relacionam com os conhecimentos didático-pedagógicos, mais precisamente, com as Teorias da Aprendizagem. Para tanto, foi aplicado um questionário com os estudantes em final de curso, onde os resultados são discutidos por meio da análise qualitativa dos dados. Espera-se, assim, colaborar para a formação docente de modo a fundamentar a relevância da aplicabilidade das Teorias de Aprendizagem no ensino de História, bem como demonstrar a necessidade da construção de um fazer docente crítico e reflexivo. Palavras-chave: Docência. Ensino de História. Teorias da Aprendizagem. 1. Introdução Ao iniciar na Universidade, em 2014, iniciei também no meio escolar, no qual permaneci durante toda graduação. Do ano de 2014 a 2019 trabalhei como monitora, estagiária e assistente de Turno Integral na rede pública e privada. Esta caminhada conjunta me possibilitou vivências e construções de aprendizagens únicas, principalmente no que concerne à necessidade de sabermos, enquanto docentes, muito além da nossa ciência específica. Foi nesta conjuntura que constatei alguns pontos importantes da docência: o quanto devemos priorizar o entendimento das teorias pedagógicas de aprendizagem para o exercício da profissão, bem como a imprescindível certeza de que devemos ter uma postura reflexiva e crítica acerca do nosso próprio fazer docente. No entanto, estas constatações surgiram ao decorrer de toda a graduação ao passo que questionamentos e dúvidas emergiam, tais como o “ser professora”, sobre “como se ensina e como 1 Graduada em História pela UNISINOS. Professora de História no Colégio Maria Auxiliadora, Canoas/RS. ISBN 978-65-992865-0-6 se aprende”, e principalmente sobre “o saber quem sou enquanto docente e de onde vem a minha prática docente”. No entanto, o estopim para a busca pelo saber que resultaria no desenvolvimento desta pesquisa se deu através de uma conversa com um colega de curso. O mesmo a relatava a sua experiência de estágio obrigatório de História com o Ensino Médio, onde dizia que os estudantes não aprendiam, não estudavam e nem participavam. Sugeri, no entanto, que pensasse o porquê desses estudantes estarem agindo assim e rapidamente a resposta foi a seguinte: “Não me venha com as tuas pedagogias. Eles têm que ler. O professor regente da turma já disse que eles têm que ler”. Foi a reflexão deste diálogo que me fez questionar “como podemos querer que os estudantes aprendam se não sabemos como aprendem?” e “como podemos ensinar se ignoramos os processos de aprendizagem na sua enorme pluralidade?”. Assim, cabe citar Becker e Marques quando afirmam: [...] é essencial que, em primeiro lugar, o educador conheça o seu aluno para compreender como ocorre a aprendizagem. Conhecer o aluno significa saber o que costuma ocorrer no processo de desenvolvimento no sentido geral, isto é, de todos os seres humanos, e o que ocorre com os alunos particulares que ele tem diante de si, para que educador e alunos possam falar linguagens que façam sentido para ambos. (2001, p. 61). Outras conversas com colegas de curso evidenciaram também a necessidade de maior diálogo entre as Teorias de Aprendizagem e os conhecimentos didático-pedagógicos com a nossa ciência específica: História. Muitos demonstravam valorizar os conhecimentos específicos de História em detrimento dos conhecimentos necessários à prática docente e, mesmo aqueles que creditavam valor aos conhecimentos pedagógicos, demonstravam pouco conhecimento sobre. Frente a tais diálogos e questionamentos a presente pesquisa foi desenvolvida. Primeiramente, através de revisão bibliográfica, problematizou-se a relevância do conhecimento acerca das tendências pedagógicas brasileiras, dos modelos pedagógicos de ensino e aprendizagem e seus pressupostos epistemológicos. A discussão destes pontos possibilita questionar de onde vem a nossa prática docente, identificar os elementos que a compõe, se a mesma é consciente de si e se cumpre com o seu propósito. Em um segundo momento, dialoga-se com Piaget, Vygotsky e Paulo Freire, discutindo a relevância das Teorias de Aprendizagem para o ensino de História. Por último, buscando compreender como os estudantes de História da Unisinos se relacionam com as Teorias de Aprendizagem, foi aplicado e analisado um questionário com 21 estudantes sobre a temática. ISBN 978-65-992865-0-6 2. Reflexões acerca do fazer docente: qual a origem da minha prática pedagógica? As práticas pedagógicas que vivenciamos nosso cotidiano enquanto docentes e que estamos acostumados desde a nossa infância requerem problematização. O ensino que estamos acostumados tem origem na História. Muitas vezes não percebemos, mas estamos apenas reproduzindo padrões de ensino que muitas vezes não condizem com a educação que acreditamos. A própria organização da sala de aula, onde uns sentam-se atrás dos outros, é uma prática disciplinadora e que reproduzimos sem pensar no seu uso. Em certa medida, são estratégias apreendidas ao longo de sua própria escolarização básica, uma vez que todos nós, na condição de alunos, vivenciamos situações disciplinadoras dessa natureza em algum momento (senão em muitos ou em todos os momentos) de nossa vida escolar (CAIMI, 2008, p. 204). A seguir, serão discutidas algumas tendências pedagógicas brasileiras, modelos pedagógicos e seus pressupostos epistemológicos, de modo que possamos compreender que o ensino atual está imbuído de práticas construídas ao longo de nossa História e que precisamos conhecê-las para tornar a nossa docência crítica e consciente de si. A tendência Liberal Tradicional encontra-se no Brasil desde os Jesuítas. O estudante era compreendido como um ser passivo, uma “folha em branco” que deveria ser preenchido pelos conhecimentos advindos do professor. O docente era visto como a autoridade incontestável, onde as aulas expositivas tinham o foco na memorização, no conteúdo e onde os métodos punitivos eram utilizados para corrigir os alunos. Não há crítica, não há análise e não há discussão, apenas conteúdos passados aos estudantes, onde os mesmos não dialogam com as suas existências. Acerca disto, Moita e Queiroz salientam que “essa tendência pedagógica foi/é muito forte em nosso modelo de educação, ainda hoje, tanto no ensino fundamental e médio como no ensino superior, que vive uma salada de concepções pedagógicas” (2007, p. 3). Uma segunda tendência, resultante da anterior, a Liberal Renovada e suas ramificações, iniciou-se no Brasil por volta dos anos 1920. É durante este período que surgem os ideais da Escola Nova que criticava a pedagogia tradicional. Esta tendência colocava o estudante como principal agente da aprendizagem, enfatizando o seu protagonismo na busca e construção do saber, e a avaliação focava no processo enão no resultado final da aprendizagem. No entanto, Moita e ISBN 978-65-992865-0-6 Queiroz advertem que houve algumas distorções acerca do intuito desta tendência, pois “muitos defendiam [...], mas na prática, abriam mão de um trabalho planejado, deixando de organizar o que deveria ser ensinado e aprendido com a falsa desculpa de que o aluno é o condutor do processo” (2007, p. 6) A terceira tendência, conhecida como Liberal Tecnicista, emerge no Brasil na década de 60 advinda da necessidade da elite em manter-se no poder de modo a também favorecer o capitalismo. Esta tendência defendia a neutralidade científica, a produtividade, a eficiência e a racionalidade de forma sistêmica. O ensino, tornou-se mecânico, onde o professor apenas precisava seguir os manuais estabelecidos e os estudantes apenas precisavam reproduzir as respostas. Não havia espaço para o debate, para opiniões, para análises e críticas. No entanto, ainda que a tendência Liberal Tecnicista tenha ganhado grande espaço entre os anos 60 e 80 e que permaneça de muitas formas no ensino atual, observou-se a emergência de debates acerca da educação brasileira, muitos advindos das resistências contra a ditadura civil- militar ao decorrer da década de 80. Buscando romper com os ideais tecnicistas de educação, observamos o surgimento de tendências Progressistas. A tendência Progressista Libertadora, originou-se na luta popular contra o autoritarismo da ditadura civil-militar, e encontrou grande aval nas universidades e escolas públicas, não ganhando espaço no meio privado. Encontramos, nesta tendência,Paulo Freire como seu grande expoente. Suas ideias apontavam para uma educação libertadora, democrática, onde a escola atuaria como agente de transformação social. O conhecimento é compreendido como um processo de construção a partir da reflexão dos conteúdos e o professor não é visto como a autoridade, mas sim como sujeito do aprendizado em conjunto com os estudantes. Nesta concepção, a escola tem o papel de proporcionar uma educação para a liberdade, igualdade e pela democracia. A segunda tendência a emergir neste cenário é a Progressista Libertária, a qual apoiou e estimulou a participação social na concretização da democracia. O estudante era instigado a refletir sobre a sua realidade e o docente era compreendido como um conselheiro que estava à disposição do estudante no processo de construção do conhecimento. Os conteúdos, emergiam da necessidade do grupo, e deviam ser significativos às suas realidades, bem como ocorria na Libertadora. Por último, temos a tendência Progressista Social dos Conteúdos. Esta compreendia que apenas com o conhecimento científico os estudantes estariam aptos a combater as desigualdades e ISBN 978-65-992865-0-6 problemas sociais que assolavam as sociedades.“Sua metodologia defende que o ponto de partida no processo formativo do aluno seja a reflexão da prática social, ponto de partida e de chegada, porém, embasada teoricamente” (MOITA; QUEIROZ, 2007, p. 14-15). Neste caso, o docente é visto como autoridade ou mediador que direciona o processo de ensino-aprendizagem. Inseridos nas tendências discutidas anteriormente, encontramos os modelos pedagógicos de ensino e aprendizagem. Para que possamos discutir tais modelos, Becker salienta que “[...] na falta de terminologia mais atualizada, ou adequada, falaremos em pedagogia diretiva, pedagogia não diretiva e, [...], pedagogia relacional” (1994, p. 89). A pedagogia diretiva está presente nas tendências pedagógicas Liberais, onde o professor é visto como a autoridade e detentor do saber e o estudante é compreendido como “tábula rasa”. Desse modo, o professor acredita, ainda que de forma inconsciente, que o conhecimento pode ser transmitido para o estudante. O pressuposto epistemológico deste modelo é o empirismo, onde, acredita-se que o processo de ensino-aprendizagem ocorre por transmissão. Este modelo contribui para a reprodução de autoritarismos, pois o estudante perde a sua autonomia, não podendo agir de forma crítica, curiosa, criativa. O segundo modelo, o da pedagogia não-diretiva, compreende que o estudante é capaz de aprender por si mesmo e que o professor tem a função de ser apenas um facilitador do aprendizado. O pressuposto epistemológico deste modelo é o apriorismo, ou seja, compreende que a aprendizagem ocorre por meio de uma condição necessária à aprendizagem: a genética. A problemática deste modelo se dá no pressuposto de que, por ignorar os fatores externos (como condição social, que também contribuem para o desenvolvimento da aprendizagem), o professor subjuga, ainda que de modo inconsciente, aqueles que não conseguem se desenvolver plenamente. Por último temos a pedagogia relacional, muito presente nas tendências Progressistas. Nesta tendência encontramos o pressuposto epistemológico construtivista, que concebe a aprendizagem como um processo, uma construção, onde tanto estudantes quanto docentes atuam juntos. O docente não é visto de forma autoritária, mas sim como agente do conhecimento em conjunto com os estudantes. Ambos ensinam, ambos aprendem. A aprendizagem é vista como uma construção significativa, repleta de questionamentos, reflexões, autonomia, problematizações, pesquisa e curiosidade. ISBN 978-65-992865-0-6 3. A relevância das Teorias de Aprendizagem no Ensino de História Compreender de onde parte a minha prática pedagógica, enquanto docente, me possibilita identificar como quero trabalhar, a reconhecer meus propósitos para com a educação e quais modelos e tendências que o caracterizam. Em outras palavras, a crítica epistemológica é insubstituível para a superação de práticas pedagógicas fixistas, reprodutivas, conservadoras – sustentadas por epistemologias empirista ou apriorista (BECKER, 1994, p. 95). O estudo das Teorias da Aprendizagem não pode também ser subjugado e deixado em segundo plano por nós professores. Para que possamos ensinar é preciso que saibamos como o estudante aprende, como ocorre o processo de ensino-aprendizagem, quais os métodos, quais as técnicas, quais os fatores externos e internos que podem dificultar ou facilitar a construção da aprendizagem. A prática docente crítica e reflexiva de si busca olhar para a sua atividade e para seus estudantes num processo contínuo de aprimoramento. “Buscar a formação implica também em nos desprendermos de hábitos cristalizados, engessados e empobrecidos pelo tempo, implica abrir-se a novas descobertas, a diferentes possibilidades e reorganizar nossa prática docente” (DIEFENTHÄLER, 2017, p. 30). Diefenthäler, completa: “Precisamos repensar o ambiente, os espaços, as propostas e os desdobramentos” (2017, p. 30). Abordaremos, a seguir, brevemente algumas idéias de Piaget, Vygotsky e Freire. Falar sobre as teorias destes pensadores é discutir os estudantes como seres humanos plurais, orgânicos, com desenvolvimento, com autonomia e com especificidades. As teorias de Piaget e Vygotsky encontram-se no campo das teorias cognitivas, ou seja, buscam explicar a aprendizagem do ponto de vista cognitivo, como ela se desenvolve no ser humano. Piaget, por exemplo, através de seu estudo sobre a Epistemologia Genética, analisou e percebeu que o conhecimento não nasce com o indivíduo (apriorismo) e nem é imposto pelo meio (empirismo), mas que o ser humano constrói o conhecimento através da interação do meio físico e do social. Os conhecimentos não partem, com efeito, nem do sujeito (conhecimento somático ou introspecção) nem do objeto (porque a própria percepção contém uma parte considerável de organização), mas das interações entre sujeito e objeto, e de interações 29 inicialmente provocadas pelas atividades espontâneas do organismo tanto quanto pelos estímulos externos (PIAGET, 1996, p. 39 - 40). ISBN 978-65-992865-0-6 Já de acordo com Vygotsky, que assimcomo Piaget era interacionista, as relações sociais teriam papel preponderante no processo de aprendizagem, em outras palavras, a aprendizagem ocorria em contato com a sociedade. O processo de aprendizagem escolar, de acordo com Vygotsky, deve se desenvolver de forma mediada, tendo o professor participação ativa no processo, um pouco diferente da teoria de Piaget onde a escola é vista como facilitadora, mas o processo é conduzido pelo estudante. Desse modo, podemos concordar com Rego quando afirma que: Respeitadas as devidas limitações, os estudos psicológicos poderão servir como um importante instrumento para a compreensão das características psicológicas e socioculturais do aluno e de como se dão as relações entre aprendizado, desenvolvimento e educação. [...] Sendo assim, não é o caso de ter que fazer, por exemplo, uma escolha entre a obra de Vygotsky, [...] Jean Piaget, ou [...] Henri Wallon, já que as diferentes perspectivas apontadas por cada um desses pesquisadores podem significar um fator de enriquecimento no esforço de aprimoramento da prática pedagógica (1995, p. 124 – 125). Para Paulo Freire, por último, e não menos importante, a aprendizagem se dá através da construção do conhecimento, pois “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 21). Freire defendia que a relação entre estudantes e professores deveria ser horizontal e não hierarquizada, de modo que a construção do conhecimento fosse realizada em conjunto, construindo responsabilidade, autonomia, guiando o estudante para a liberdade, buscando romper com os ideais tecnicistas dos anos 60 e 80. A educação, de acordo com Freire precisava ser libertadora e não bancária, ideia amplamente discutida em seu livro Pedagogia do Oprimido, onde explica que deste modo “[...] a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante” (FREIRE, 1987, p. 33). 4. Formação de professores: diálogo com as teorias de aprendizagem e o exercício da docência Até o momento, discutiu-se a importância da formação de uma docência reflexiva e consciente de si, que tenha como foco não apenas os objetos do conhecimento específicos da sua ciência, mas que também compreenda a necessidade dos conhecimentos didático-pedagógicos, mais precisamente, das Teorias de Aprendizagem. No entanto, concentremo-nos, agora, na análise realizada acerca dos questionários aplicados com estudantes de licenciatura de História da ISBN 978-65-992865-0-6 Unisinos (2019/1). Cabe aqui salientar que, os questionários foram amplamente analisados na monografia de Trabalho de Conclusão da presente autora, no entanto, aqui serão abordadas alguns pontos mais específicos respeitando os limites do presente artigo. Foram aplicados 21 questionários, anônimos, com estudantes em final de curso, todos já tendo realizado o primeiro e/ou segundo estágio obrigatório. A aplicação dos questionários objetivou verificar: como os estudantes relacionavam-se com as Teorias de Aprendizagem; qual o grau conceitual de domínio dos conhecimentos referentes às teorias e teóricos da aprendizagem apresentados; e, como se sentiam frente à docência. Utilizou-se de revisão bibliográfica como metodologia principal para a elaboração da pesquisa, bem como pesquisa qualitativa de caráter exploratório para realizar a discussão acerca dos questionários realizados com estudantes de História da Unisinos. A análise dos questionários possibilitou algumas constatações importantes. Quando questionados, acerca da relevância da Teorias da Aprendizagem na prática docente de História, os estudantes afirmaram que as mesmas eram de grande valor. No entanto, observou-se, nesta mesma questão, que alguns demonstraram inquietações pessoais acerca do conhecimento e domínio das Teorias da Aprendizagem, como por exemplo: Confesso que tenho muito a estudar ainda. Às vezes nem me dou conta dos métodos de trabalho. Sinceramente tenho muito a retomar e estudar, mas com certeza essas práticas ajudam a nortear nossa prática docente (anônimo). Penso que ela é de suma importância quando abordada teoria e prática. Pois temos muito pouco de prática e somente no final do curso. Muitos acabam desistindo no final, por não terem tido contato com a sala de aula antes e talvez essa disciplina pudesse ser um pouco mais prática (anônimo). Quando questionados acerca de quais teóricos da educação utilizam ou pretendem utilizar no sua prática docente, 19 estudantes marcaram a opção referente à Paulo Freire. A opção referente à Vygotsky recebeu duas marcações; Piaget, 4; e, a opção “outros” contou com duas assinalações, onde uma delas não houve especificação de qual outro teórico o estudante utilizava, e a segunda mencionou Moacir Gadotti. Quando da questão: “Você saberia sintetizar algumas das ideias de Paulo Freire para com a Educação? ”. Alguns estudantes disseram não saber responder e 5 responderam com ideias gerais do referido autor. No entanto, ao serem questionados se saberiam responder qual método de ISBN 978-65-992865-0-6 ensino/aprendizagem utilizam ou pretendem utilizar em sua prática docente, as respostas demonstraram que grande parte dos estudantes não relacionavam as suas práticas com as teorias dos autores citados na tabela acima ou de outro teórico. Já na questão número 5, que perguntava se os estudantes se sentiam mais preparados frente aos conteúdos de História (compreendidos aqui como os específicos do curso de História) ou frente aos conteúdos didático-pedagógicos (mais referentes à prática docente), cerca de 80% dos entrevistados afirmaram não se sentirem muito preparados para a prática docente. A aplicação e análise dos questionários possibilitou compreender como os estudantes de História da Unisinos se sentiam ao final do curso, bem como evidenciou a necessidade de interligar com maior propriedade os conhecimentos didático-pedagógicos com os conhecimentos referentes à História na graduação e no decorrer da vida docente. 5. Considerações finais A pesquisa desenvolvida possibilitou observar a importância de estarmos atentos aos elementos que a constituem a nossa prática docente e de onde estes mesmos provém. Precisamos estar cientes de quem somos enquanto docentes e quais as origens das nossas práticas cotidianas. É preciso que observemos nossa prática para não perpetuar modelos pedagógicos dos quais nós mesmos não acreditamos, ainda que de forma inconsciente. Compreender a nossa identidade docente exige constante reflexão e crítica. “De onde vem a minha prática docente?”, “sou consciente dela?”, “como os estudantes aprendem?”, “percebo que ensinar História exige conhecimento didático-pedagógico aprofundado para compreender como os estudantes constroem conhecimento e como posso fazer parte deste processo?”, “compreendo o estudante como um ser em constante desenvolvimento, plural e capaz de ser influenciado por fatores internos e externos?”. Perguntas como estas podem e devem estar vívidas no decorrer do toda a nossa profissão, ao passo que respondemos uma, ainda que temporariamente, outras devem emergir, continuamente. Evidencia-se a necessidade de que, desde o início da graduação, se construa a consciência que seremos professores e que essa profissão exige busca constante por conhecimento, logo pois, como Freire afirmava, somos seres inacabados. É preciso que a consciência do ser professor, com toda a sua pluralidade e complexidade, seja discutida desde os primórdios do curso, pois o fazer- se professor é uma tarefa constante. ISBN 978-65-992865-0-6 [...] não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina, não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos. Esse é um momento apenasde minha atividade pedagógica. Tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los (FREIRE, 1996, p. 40). Referências BECKER, Fernando. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 19, n. 1, p. 89-96, 1994. BECKER, Fernando; MARQUES, Tania Beatriz I. Aprendizagem Humana: processo de construção. [S.I.]: Pátio. Ano 4. n. 15, nov. 2000/ jan. 2001. CAIMI, Flávia Eloisa. Aprendendo a ser professor de história. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2008. DIEFENTHÄLER, Daniela Link. Arte, imaginação e crianças. 1. ed. Curitiba: Appris, 2017. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. E-book. Disponível em: . Acesso em: 10 de out. 2019. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 17º ed., 1987. E-book. Disponível em: . Acesso em: 25 de out. 2019. MOITA, Filomena; QUEIROZ, Cecília. As tendências pedagógicas e seus pressupostos. Campina Grande: UEFB; Natal: UFRN, 2007. PIAGET, Jean. Aprendizagem e conhecimento. 1. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1974. REGO, Tereza Cristina. Vygotsky. Uma perspectiva histórico-cultural da educação. Rio de Janeiro: VOZES, 1995.
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