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HISTÓRIA E TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS – COMUNICAÇÃO E BILINGUISMO AULA 4 Prof. Rhaul de Lemos Santos 2 CONVERSA INICIAL Anteriormente, realizamos uma breve retrospectiva da história da comunidade surda e como os métodos de educação aplicados na educação de surdos influenciam na formação educacional desses sujeitos. Nesse sentido, nesta etapa, vamos discutir como o movimento surdo nacional vem lutando pelo direito a uma educação bilíngue, exigindo políticas educacionais e linguísticas voltadas para a comunidade surda. No Brasil, as pessoas surdas sempre resistiram a tentativas audistas em querer corrigir e normalizar seus corpos, seguindo uma normativa estipulada pelo modelo clínico-terapêutico, e continuaram, assim como as outras comunidades surdas, espalhadas pelo mundo, a defender a sua língua materna, a Libras. À vista disso, toda essa movimentação resultou em políticas públicas que permitiram uma melhoria na educação de surdos. Mas, apesar da existência dessas leis, muito ainda precisa ser feito, principalmente quando falamos sobre a Libras como língua oficial no país. Diante disso e pensando na organização e movimentação do movimento surdo no Brasil, os objetivos propostos para esse capítulo são os seguintes: • Conhecer os encontros e eventos promovidos pelo movimento surdo em defesa da educação bilíngue para surdos; • Discutir as decisões políticas sobre a educação de surdos na educação básica. TEMA 1 – “A EDUCAÇÃO QUE NÓS SURDOS QUEREMOS” Nas discussões anteriores, estudamos que o movimento surdo no Brasil ganha mais força com a criação da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (Feneis), no final da década de 1980, com as pessoas surdas ocupando os cargos de presidência, essa movimentação tinha relação com os vários movimentos insurgentes pelo mundo, liderados pelas mobilizações realizadas pelo Deaf Power. Ao ser reorganizada, a Feneis dá continuidade à luta pelo direito linguístico da Libras e a exigência de uma educação bilíngue, pautada pelo uso da língua de sinais. Com a insurgência do movimento surdo, a partir da Feneis, inicia-se um processo de ocupação nos espaços políticos, por meio de representantes surdos. Essas lideranças realizavam encontros com a comunidade surda, 3 pensando na elaboração de documentos voltados para os seus direitos civis. De acordo com Fernandes e Moreira (2014) Podemos indicar os anos 1990 como o marco da insurgência dos movimentos surdos brasileiros. Nessa década, iniciam-se os debates conceituais sobre língua de sinais, bilinguismo, os reflexos dos modelos clínicos-terapêuticos e socioantropológicos na educação de surdos, teorizações sobre a cultura e identidades surdas e os impactos de todos esses estudos na organização de um processo de educação bilíngue para surdos no Brasil. (Fernandes; Moreira, 2014, p. 52) Toda essa movimentação vai refletir na construção no ano de 1996, no Núcleo de Pesquisa em Políticas de Educação para Surdos (NUPPES), na cidade de Porto Alegre. Esse grupo de estudos será importante para a formação acadêmica de investigadores subalternos surdos e a produção de pesquisas voltadas para a educação das pessoas surdas. A iniciativa acadêmica pioneira de formação desse campo discursivo se deu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em seu Programa de Pós-Graduação em Educação, na década de 1990, onde se constituiu o primeiro Núcleo de Pesquisa em Políticas de Educação para Surdos (NUPPES), sob a influência e mediação central do professor visitante argentino Carlos Skliar. O NUPPES forma importantes pesquisadores pioneiros na área da Educação de Surdos como: Adriana Thoma, Lodenir Becker Karnopp, Liliane Ferrari Giardini, Madalena Klein, Maura Corcini Lopes, para citar alguns nomes. O fato demarcador de uma nova política institucional para surdos foi o ingresso da primeira pós-graduanda surda – Gladis Perlin – que veio a se tornar a primeira doutora surda em educação no Brasil. (Fernandes; Moreira, 2014, p. 54, 55) A partir da formação desses pesquisadores e principalmente com o doutoramento da primeira doutora surda no Brasil, Gladis Perlin, as pesquisas científicas produzidas por esses investigadores proporcionaram pensar a surdez de uma forma localizada no campo da diferença e alteridade, rompendo com as discursividades produzidas pela clínica. Outro fator importante é que, com o ingresso de pessoas surdas na Pós-graduação, foi possível realizar encontros acadêmicos para elaboração de propostas políticas voltadas para a comunidade surda. No ano de 1999, na cidade de Porto Alegre, foi realizado o V Congresso Latino-Americano de Educação Bilíngue para Surdos, organizado pelo NUPPES. Nesse encontro, os surdos e os seus aliados realizaram discussões sobre direitos humanos, educação de surdos, artes surdas, relação dos surdos com a família entre outros. Esses debates culminaram na produção do documento A educação que nós surdos queremos. De acordo com esse documento, 4 quando discutido sobre os direitos humanos das pessoas surda no campo da educação, é necessário 1. Propor o reconhecimento da língua de sinais como língua da educação do Surdo em todas as escolas e classes especiais de surdos. 2. Assegurar a toda criança surda o direito de aprender línguas de sinais e também português e outras línguas. 15. Em educação, assegurar ao surdo o direito de receber os mesmos conteúdos que os ouvintes, mas através da comunicação visual. Formas conhecidas, em comunicação visual importantes para o ensino do surdo são: línguas de sinais, língua portuguesa e outras línguas no que tange à escritura, leitura e gramática. (Feneis, 1999) A produção desse documento foi de grande importância para as políticas futuras destinas à educação de surdos e o reconhecimento da Libras como meio de comunicação da comunidade surda. As propostas citadas nos revelam o quanto a educação para as pessoas surdas é uma das prioridades para a comunidade surda, valorizando a língua de sinais. Revelando, dessa forma, a exigência do movimento surdo, do direito de uma educação que priorize a Libras em sala de aula. TEMA 2 – EDUCAÇÃO DE SURDOS EM DISPUTA Além disso, uma outra exigência da comunidade surda é pelo direito de receber os mesmos conteúdos programáticos similares aos dos estudantes ouvintes nas escolas regulares, mas respeitando a visualidade dos estudantes surdos, sendo utilizada uma educação visual, pautada na pedagogia visual. Campello (2008, p. 133) afirma que a pedagogia visual é “aquela que se ergue sobre os pilares da visualidade, ou seja, que tem no signo visual seu maior aliado no processo de ensinar e aprender”. Outra questão destacada no documento é a importância do aprendizado da língua portuguesa como segunda língua na modalidade escrita. Pois, como lembrado por Almeida e Lacerda (2019) A aquisição da escrita, imersa no processo de aquisição da linguagem, tem para o surdo um caminho diverso do ouvinte: enquanto este reconstrói a história de sua relação com a linguagem por meio da língua oral, o surdo percorre tal caminho orientando-se pela língua de sinais. (Lacerda; Almeida, 2019, p. 900) Observa-se que a língua de sinais é a primeira língua no processo de aquisição da linguagem por crianças e estudantes surdos, e que a língua portuguesa, ao ser ensinada na sala de aula, será adquirida por meio da Libras. 5 Ao darmos prosseguimento à leitura do documento A Educação que nós surdos queremos, a próxima discussão será sobre a escola de surdos: 25. Elaborar uma política de educação de surdos com escolas específicas para surdos. 26. Considerar que a escola de surdos é necessária e deve oferecer educação voltada para princípios culturais e humanísticos, promovendo o desenvolvimento de indivíduos cidadãos e sendo um centro de encontro com o semelhantepara produção inicial da identidade surda (Feneis, 1999). Uma outra questão exigida pela comunidade surda é a criação de escolas bilíngues para surdos, espaços que valorizam a identidade e cultura surda e que priorizem a Libras como língua de aprendizagem das disciplinas ministradas. Essa solicitação da comunidade surda está de acordo com o que Fernandes (2003) relata sobre a educação de surdos. Para a autora, As práticas de educação inclusiva, por exemplo, da forma como vêm sendo propostas institucionalmente, negam aos grupos minoritários o exercício de suas especificidades socioculturais, na medida em que acabam por celebrar a diversidade, apenas constatando a existência do pluralismo cultural, sem medidas efetivas para o reconhecimento político das diferenças no cotidiano da escola. (Fernandes, 2003, p. 38) Nesse sentido, diferente do que é divulgado por especialistas que defendem a educação inclusiva, ao exigir uma educação bilíngue, o movimento surdo não deseja nem está promovendo um movimento de segregação, mas pretende que as suas especificidades culturais e educacionais sejam atendidas e respeitadas. Por isso, o ser incluído na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), por meio da Lei n. 14.191/21, a educação bilíngue de surdos, ao ser reconhecida legalmente como uma modalidade da educação, permite que os surdos tenham a oportunidade de frequentar escolas bilíngues. Por isso, nos anos anteriores, em especial, no ano de 2011, a comunidade surda inicia uma movimentação política contra o fechamento das escolas para surdos, como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), culminando na mobilização denominada “Movimento surdo em defesa das escolas bilíngues para surdos”. TEMA 3 – MOVIMENTO SURDO EM DEFESA DAS ESCOLAS BILÍNGUES PARA SURDOS O ano é 2010, o movimento surdo se organiza exigindo que as escolas de surdos permaneçam funcionando, requerendo o direito da comunidade surda 6 de estudar em espaços bilíngues que respeitam as suas subjetividades e identidades. A história de lutas aqui tratada teve início no ano de 2010 e foi marcada pela maior mobilização da história de todo Movimento Surdo Brasileiro. O início dessa história deu-se durante a realização da Conferência Nacional da Educação, CONAE 2010, no período de 28 de março a 1º de abril de 2010. Os resultados dessa Conferência serviram de base para a elaboração do Plano Nacional da Educação – PNE. Este evento marcou um retrocesso na educação de surdos, a partir do momento em que a proposta dos delegados surdos presentes nesta Conferência não foi atendida. (Campello; Rezende, 2014, p. 73) Esse movimento teve início com a ameaça do fechamento do Instituto Nacional de Educação de Surdos, escola inaugurada no século XIX, sendo a primeira escola para surdos no Brasil. Este instituto foi responsável por receber e formar alguns investigadores subalternos surdos, representando um espaço de produção de conhecimento e valorização da Libras. O Instituto Nacional de Educação de Surdos é uma escola centenária, a primeira escola de surdos no País, que abrigou e educou vários dos líderes surdos de todo o País, representando o berço e resistência da língua de sinais e da cultura surda. Alunos surdos, formados no INES, no retorno às suas cidades de origem, fundaram associações de surdos, o que propiciou a formação da Identidade Linguística da Comunidade Surda aflorada por todo o país. Por isso, consideramos o INES como o berço da nossa língua de sinais e da nossa cultura surda. (Campello; Rezende, 2014, p. 77) Em Brasília, surdos e aliados uniram forças para se manifestar contra as decisões do Ministério da Educação (MEC), que tinha como objetivo futuro a inclusão total dos estudantes com deficiência e surdos. Os dias 19 e 20 de maio de 2011 foram dias de grande mobilização e organização do movimento surdo. Foi exigido que os parlamentares considerassem as reivindicações da comunidade surda e que votassem contra a decisão do MEC de fechar as escolas para surdos, aderindo à inclusão total. As lideranças surdas, representando os surdos do Brasil, redigiram a seguinte carta Nós, surdos, militantes das causas dos nossos compatriotas surdos, apelamos a Vossa Excelência pelo nosso direito de escolha da educação que melhor atende aos surdos brasileiros que têm a Libras como primeira língua. Concordamos que “O Brasil tem que ter 100% das crianças e jovens com deficiência na escola”, sim, mas não concordamos que a escola regular inclusiva seja o único e nem o melhor espaço onde todas essas crianças e jovens conseguem aprender com qualidade. Afirmar que “A política de educação inclusiva permitiu um crescimento espetacular, de forma que os estudantes com deficiência convivem com os outros estudantes e os outros estudantes convivem com eles” nos angustia, pois queremos conviver com os demais cidadãos brasileiros, sim, mas queremos, acima de tudo, que a escola nos ensine. [...] Escrevemos essa carta, juntos, para dizer-lhe, 7 respeitosamente, mas com a ênfase necessária à gravidade que o tema exige que suas falas não tenham fundamento científico ou empírico, conforme mostram nossas próprias pesquisas e as de um sem-número de outros pesquisadores brasileiros. Várias pesquisas mostram que os surdos melhor incluídos socialmente são os que estudam nas Escolas Bilíngues, que têm a Língua de Sinais brasileira, sua língua materna, como primeira língua de convívio e instrução, possibilitando o desenvolvimento da competência em Língua Portuguesa escrita, como segunda língua para leitura, convivência social e aprendizado. (Carta..., 2012) A entrega da carta no Ministério da Educação (MEC) marca as mobilizações do movimento surdo durante os anos seguintes, exigindo atenção por parte dos governantes para as suas pautas políticas e educacionais. No ano de 2014, foi aprovado o texto do Plano Nacional de Educação (PNE), por meio da Lei n. 13.005/2014. Ao ser aperfeiçoado, realizando algumas mudanças em relação ao seu texto anterior, o PNE passava, a partir do ano de 2014, a ter como meta “articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino, em seus diversos níveis, etapas e modalidades” (Brasil, 2009). À vista disso, a Feneis, como órgão representativo da comunidade surda, exige que seja inserido em uma das metas do Plano Nacional de Educação, a educação bilíngue de surdos. De acordo com a Feneis, o texto que seria incluído no PNE, deveria Garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS como primeira língua e na modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, aos alunos surdos e com deficiência auditiva de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas, nos termos do art. 22 do Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para cegos e surdocegos. (Brasil, 2010). Além do mais, toda essa mobilização sobre o direito à educação bilíngue para surdos irá resultar no Setembro Azul, realizado no dia 26 de setembro de 2011, sendo um momento de exigências e comemorações da comunidade surda. Na ocasião, foi entregue ao Ministério Público Federal uma carta- denúncia do movimento surdo, que destacava a evasão dos estudantes surdos, destacando a importância da abertura de escolas bilíngues de surdos. 8 Somos uma minoria linguística na luta pela preservação da língua de sinais e sua instituição como língua de instrução em nossa educação; não queremos a educação inclusiva como é preconizada, e muito menos a educação especial, queremos uma educação linguística, uma política linguística traçada pelo nosso “ser surdo”. (Campello;Rezende, 2014, p. 88) TEMA 4 – A LUTA PELA EDUCAÇÃO BILINGUE Uma das esferas que permite que os estudantes surdos compartilhem entre si as suas vivências e experiências, a partir da língua de sinais, são escolas bilíngues de surdos. Por meio do ensino da Libras como primeira língua (L1) e a língua portuguesa como segunda língua (L2), na modalidade escrita será possível às pessoas surdas que fazem parte desses espaços escolares construir as suas identidades e conhecer mais sobre a história do povo surdo no país. Como destacado por Skliar (2016), ao explicar sobre a importância da educação bilíngue, este autor diz que existe nesses espaços: A potencialidade da aquisição e desenvolvimento da língua de sinais como primeira língua; a potencialidade de identificação das crianças com seus pares adultos surdos; a potencialidade do desenvolvimento de estruturas, formas e funções cognitivas visuais; a potencialidade de uma vida comunitária e desenvolvimento de processos culturais específicos. (Skliar, 2016, p. 26) Por isso a importância de lutar por uma educação bilíngue. As escolas bilíngues de surdos são espaços essenciais para a construção da linguagem nos estudantes surdos, além de serem espaços para o fortalecimento da Libras. É importante ressaltar que nas escolas bilíngues de surdos é importante se pensar sobre currículos bilíngues, que atendam às especificidades dos estudantes surdos, sempre levando em consideração a importância da aquisição da Libras como meio de comunicação da comunidade surda, além de ser o canal que possibilita o entendimento dos gêneros discursivos produzidos na sociedade. TEMA 5 – A EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE SURDOS RESISTE! Retornamos às disputas do movimento surdo, durante o ano de 2011, nas tentativas de fechamento das escolas para surdos. Durante a Conferência Nacional de Educação (CONAE), foi possível observar como o audismo/ouvintismo estava presente naquele espaço e quanto a comunidade surda precisou se unir e lutar na busca de serem atendidos e consultados pelos 9 parlamentares para o não fechamento das escolas bilíngues. Mesmo assim, Campello e Rezende (2014, p. 89) explicam que Depois de três longínquos anos de luta no Congresso Nacional acompanhando a tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE), com intensas negociações nos bastidores e audiências públicas, no dia 28 de maio de 2014, finalmente foi aprovada a redação do plano na Câmara dos Deputados e sancionada pela Presidenta da República do Brasil, Dilma Roussef, em junho de 2014. (Campello; Rezende, 2014, p. 89) Essa resistência surda nos mostra o quanto o movimento surdo precisou resistir e persistir nas mobilizações e movimentações políticas, principalmente na sociedade audista/ouvintista em que vivemos, que nega a alteridade surda, com base na cultura e na identidade e invisibiliza as pautas políticas da comunidade surda, não oportunizando que esses sujeitos ocupem os espaços políticos. Por isso, a necessidade de uma organização de um movimento social de pessoas surdas, que lutem pela oficialização da Libras e exijam que seus direitos linguísticos e sociais sejam respeitados e aplicados. Nesse sentido, Fernandes (2003) relata que, quando se trata de políticas linguísticas para as pessoas surdas, Ignora-se sua diferença linguística, impondo-lhes uma educação mediada pela língua nacional - o português - desconhecida para eles. Sua língua natural – a de sinais – é silenciada, por vezes pela desinformação e desconhecimento e, por outras, pelo autoritarismo de práticas conscientemente logocêntricas (Fernandes, 2003, p. 39). Nesse sentido e pensando nas políticas linguísticas e educacionais para as pessoas surdas, torna-se importante o fortalecimento dos movimentos sociais de surdos para a luta e defesa dos direitos da população surda locais e mundiais, ocupando os espaços de poder e disputando as discursividades produzidas nesses espaços. Absurdo! ABSURDO! A-B-S-U-R-D-O! Absurdo de verdade. O quê? O INES fechar!? Calma aí! Não dá pra engolir isso. Não dá. Não, por favor! Por favor, eu imploro. Peço pelo que há de mais sagrado. Parem tudo! Acordem! Divulguem. Fechar o INES, NÃO! Eu quero que vocês surdos pensem bem. Olhem só isso, defendem os surdos! Os surdos vão perder a convivência em língua de sinais, a cultura, a identidade. Perder isso pra sermos oprimidos numa inclusão de ouvintes? NÃO! Abram os olhos! Por favor! Eu peço a vocês: Não vamos deixar essa brutalidade acontecer. Os surdos vão perder a sua cultura. Estou chorando por dentro, meu coração dói. Por favor! Surdos, vamos discutir sobre isso. O MEC não pode mudar o INES. O INES é assim! Não podemos aceitar isso de braços cruzados. Levantem! Lutem! Conto com vocês e fiquem atentos. FONTE: http://www.youtube.com/watch?v= yl6cfWmUrtU 10 NA PRÁTICA Saiba mais Para a compreensão de como foram as discussões durante o Conae 2011, sugerimos que os estudantes assistam ao discurso da Prof. Dra. Patrícia Rezende durante a plenária que decidiu o fechamento ou não das escolas bilíngues de surdos. O vídeo se encontra disponível no Youtube, com tradução para a Libras do tradutor/intérprete Jonatas Medeiros. FENEIS: Patrícia Rezende na Audiência Pública no Senado Federal. Feneis, 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ds4MsrLKM1w>. Acesso em: 25 jul. 2023. O vídeo nos mostra as disputas discursivas que aconteceram durante a conferência e reforça a importância das lideranças surdas em ocupar os espaços políticos, tendo a oportunidade de representar a comunidade surda sinalizante, defendendo a educação bilíngue para surdos, assim como lutando pelo reconhecimento como minoria linguística. FINALIZANDO Observamos que as relações são construídas e elaboradas com intenções políticas e ideológicas, tendo como propósito posicionar os sujeitos. Nesse sentido, a comunidade surda defende o direito a uma educação bilíngue, que tem a Libras como primeira língua (L1) e a língua portuguesa na modalidade escrita, como segunda língua (L2). Vimos como é importante a implementação da educação bilingue para surdos, visto que é por meio da Libras que os discursos e entendimento dos diferentes gêneros discursivos serão elaborados. Além do mais, as escolas bilíngues de surdos servem de espaço para a construção da cultura e identidade surda, permitindo que os estudantes surdos tenham contato desde a primeira infância com a língua, possibilitando que a sua linguagem seja construída desde cedo. Vale ressaltar que a educação bilíngue para surdos valoriza a Libras como língua instrução dos conteúdos, assim como é um espaço que auxilia na formação subjetiva dos estudantes surdos. Outro aspecto importante é pensar que as escolas bilíngues são espaços que oportunizam a construção discursiva 11 das pessoas surdas, dando-lhes a oportunidade de entender e analisar as discursividades produzidas nas sociedades ouvintizadas. 12 REFERÊNCIAS ALMEIDA, D. L; LACERDA, C. B. F. de. Português como segunda língua: a escrita de surdo em aprendizagem coletiva. Trabalho de Linguística Aplicada, Campinas, v. 2, n. 58 p. 899-917, maio/ago. 2019. BRASIL. Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 nov. 2009. CAMPELLO, A. R. S. Pedagogia visual na educação de surdos-mudos. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. CAMPELLO, A. R.; REZENDE, P. L. F. Em defesa da escola bilíngue para surdos: a história de lutas do movimento surdo brasileiro. Educar em Revista, Curitiba, ed. esp., n. 2, p. 71-92, 2014. CARTA ABERTA dos doutores surdos ao Ministro da Educação, 8 jun. 2012. Disponível em: <http://ch.revistas.ufcg.edu.br/index.php/RLR/article/view/1553/1295>. Acesso em: 29 jun. 2023. FENEIS – Federação Nacional de Educaçãoe Integração dos Surdos. A educação que nós surdos queremos. Documento elaborado pela comunidade surda a partir do pré-congresso ao V Congresso latino-americano de Educação Bilíngue para Surdos, realizado em Porto Alegre/RS, no salão de atos da reitoria da UFRGS, 20-24 abr. 1999. FERNANDES, S. F. Educação bilingue para surdos: identidades, diferenças, contradições e mistérios. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003. FERNANDES, S; MOREIRA, L.C. Políticas de educação bilingue para surdos: o contexto brasileiro. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, ed. esp., n. 2, p. 51-69, 2014. SKLIAR, C. A Surdez: um olhar sobre as diferenças. 8. ed. Porto Alegre: Mediação, 2016.
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