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PRÁTICAS ESPORTIVAS E TREINAMENTOS FÍSICOS Olá! Em suas práticas, é muito comum que os profissionais de educação física se utilizem de métodos quantitativos para avaliar a composição corporal, as capacidades físicas e os padrões de movimento. Isso pode ocorrer por inúmeros motivos: seja apenas para coletar dados para um estudo epidemiológico, seja para direcionar treinamentos ou traçar diagnósticos sobre os sujeitos que se avalia. Este conjunto de técnicas que buscam obter dados quantitativos e qualitativos sobre as condições físicas de alguém denominamos avaliação física. Existem muitas formas de avaliar a condição física dos sujeitos e, por isso, é importante que o profissional de educação física, antes de aprender os aspectos procedimentais da avaliação, consiga compreender os principais conceitos e princípios que orientam essa prática. Nessa unidade, você compreenderá a relevância da avaliação física para a sua prática, as diferenças entre medida, teste e avaliação e, ainda, os princípios que regem a avaliação física. Bons estudos! AULA 8 - INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO FÍSICA 8 AVALIAÇÃO FÍSICA A avaliação é o ato de determinar, estabelecer, examinar ou julgar o valor de algo ou alguma coisa (FUNDAÇÃO VALE, 2013). Recorrentemente, a avaliação é utilizada como forma de classificar os indivíduos entre bons ou aceitáveis e ruins ou inaceitáveis. Essa perspectiva reducionista da avaliação vem sendo deixada de lado para que seja assumida uma compreensão mais ampla. No âmbito da educação física, a avaliação exerce uma função primordial e é o principal meio para compreender o estado físico dos sujeitos e traçar ou readequar os caminhos para que sua condição de saúde ou desempenho seja aperfeiçoada. A avaliação física envolve o uso de procedimentos precisos e confiáveis para determinar com exatidão as condições de determinada pessoa. Cada tipo de medida possui uma forma procedimental específica e que envolve diferentes níveis de complexidade, colocando aquele que avalia diante de inúmeros problemas, que vão desde a forma como medir até a interpretação dos resultados obtidos. Em geral, quando identificamos o resultado, fazemos a comparação com uma escala de valores populacionais para que possamos emitir um juízo e um parecer sobre o resultado. Por vezes, a avaliação física resulta apenas na emissão de julgamentos. No entanto, ao se tratar do movimento humano, ela é muito mais que isso, sendo, também, a síntese dos elementos quantitativos, subjetivos e das outras evidências que podem oferecer os dados e informações para diferentes propósitos. 8.1 Objetivos das medidas e avaliações em educação física A avaliação física pode ser utilizada para muitas possibilidades. Atualmente, é comum observarmos o uso de testes e medidas em diversas ocasiões. Você já deve ter participado de algum deles em algum momento de sua vida, como, por exemplo, em academias, com equipes profissionais, escolares ou até mesmo em concursos públicos. Ainda que nessas ocasiões mencionadas o uso dos testes possa ter ocorrido da mesma forma, é provável que em cada uma delas o objetivo da avaliação tenha sido específico e se diferenciado dos demais. Charro et al. (2010) apontam os principais objetivos da avaliação física, que você confere a seguir. Determinar o nível de aptidão física geral: determinada a condição física do indivíduo em cada uma das qualidades testadas, a avaliação física proporciona ao profissional de educação física subsídios para melhor prescrever os programas de treinamento e preparação, observada a condição da aptidão física do aluno. Determinar o progresso: quando utilizada como forma de reavaliação, é possível comparar índices e níveis obtidos entre avaliações realizadas em períodos diferentes, o que possibilita a identificação de melhoras ou informações para readequar os programas de treinamento. Determinar o estado de saúde: geralmente efetuadas junto ao momento de anamneses, as avaliações físicas permitem identificar a presença de sinais, sintomas, características ou comportamentos habituais dos indivíduos que possam apresentar- se como riscos de problemas de saúde. Classificar os indivíduos: quando existe a necessidade de dividir os avaliados em grupos, a avaliação permite que sejam identificadas características em comum entre os participantes. Motivar: o avaliado pode ser motivado a melhorar sua condição física com base nas informações obtidas sobre o seu estado atual. O mesmo vale para a adesão aos programas de atividades físicas, em que os resultados identificados podem produzir a motivação no avaliado para continuar o programa. Diretriz para pesquisa: os dados obtidos para a pesquisa devem ser avaliados pela sua significância e, com isso, levar os conhecimentos sobre determinado caso ou situação para outras pessoas, disseminando as informações obtidas. 8.2 Tipos de avaliação Conforme o objetivo determinado pelo avaliador, as avaliações podem ser classificadas em três diferentes tipos: a avaliação diagnóstica, a avaliação formativa e as avaliações somativas (CHARRO et al., 2010). A avaliação diagnóstica auxilia o avaliador ou o profissional que irá realizar a prescrição do exercício físico. Auxilia, também, na elaboração da programação de treinamentos e na seleção de grupos, que podem ser homogêneos ou heterogêneos. Por exemplo, em treinamentos voltados ao emagrecimento, a medida de dobras cutâneas para determinar o percentual de gordura corporal serve para identificar o estado geral do avaliado antes do início do referido programa. A avaliação formativa determina o progresso dos avaliados na realização de um programa de treinamento, fornecendo informações tanto para o avaliador quanto para o avaliado que sejam possíveis de identificar se os resultados traçados em certo período condizem com o esperado. Serve, também, como forma de identificar os pontos fortes e fracos de determinado tipo de treinamento, fornecendo possibilidades de reformulações para que o objetivo proposto seja alcançado. Utilizando o exemplo anterior, as medidas de dobras cutâneas em um programa voltado ao emagrecimento podem ser realizadas semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente, identificando o progresso do avaliado. A avaliação somativa representa o resultado de todas as avaliações realizadas, identificando as evoluções do avaliado. Essas avaliações representam os ganhos gerais de um indivíduo e/ou nas unidades de treinamento (MARINS; GIANNICHI, 2007). Ainda no exemplo acerca das dobras cutâneas em um programa voltado ao emagrecimento, o somatório de todas as avaliações torna possível avaliar o progresso geral do avaliado e identificar em quais momentos e por quais motivos algumas semanas, quinzenas ou meses de treinamento não foram tão efetivos. Para compreender melhor as diferenças entre os diferentes tipos de avaliação, observe a Tabela 1, que apresenta alguns exemplos quanto aos objetivos e momentos de avaliação. Tabela 1 – Tipos de Avaliação Tipo de avaliação Diagnóstica Formativa Somativa Propósito Fornecer informações sobre o avaliado e determinar o melhor programa de treinamento com base em suas características. Fornecer um feedback para o avaliado e para o avaliador. Certificar o avanço e a eficácia do programa de treinamentos, identificando pontos fortes e fracos na sua realização. Período Anterior ao programa de treinamento. Durante o programa de treinamento. Ao final do programa de treinamento. Fonte: Charro, 2010. Como você deve ter compreendido até aqui, a avaliação física é o principal meio pelo qual o profissional que lida com o movimento humano identifica, organiza e avalia a sua prática, fornecendo informações que fazem a mediação entre os programas de treinamento tanto para o avaliador quanto para o avaliado. As avaliações ocorrem, muitas vezes,por meio de protocolos específicos que buscam atender a um objetivo. A forma como tais dados são obtidos envolve as medidas, os testes e as avaliações, conceitos que você conhecerá no próximo tópico. 8.3 Medida, avaliação e teste Embora sejam recorrentemente utilizados como sinônimos, os termos medida, teste e avaliação não se referem ao mesmo processo quando os utilizamos dentro do campo da educação física. Por mais que seja comum a utilização desses termos como sinônimos, devemos estar atentos quanto à sua utilização, já que se referem a modos de interpretação distintos. Por exemplo, ao medirmos a estatura de um indivíduo e constatarmos que o mesmo tem 180 cm, a utilização apenas da medida desse número não nos diz muito. É preciso conseguir analisar e interpretar o que tal medida representa dentro de um contexto específico, passando, então, por um processo de avaliação. Assim, os conceitos de medida, teste e avaliação devem ser utilizados para representar o processo pelo qual as informações obtidas do avaliado foram analisadas. Você conhecerá um pouco mais das peculiaridades desses termos a seguir. 8.3.1 Teste Os testes compreendem um processo de obtenção de dados. Guedes e Guedes (2006, p. 2) indicam que testar “[...] consiste em verificar o desempenho de alguém mediante situações previamente organizadas e padronizadas, denominadas testes”. Os testes são uma das principais formas de obter dados dentro do campo da educação física, visto que são práticos em sua aplicação e objetivos em suas informações. Embora geralmente utilizem protocolos específicos, os testes podem ser de campo ou de laboratório. Os testes de campo em geral são baratos, muito fáceis de serem administrados e geralmente estão relacionados às capacidades físicas dos avaliados, como no caso do futebol, em que os atletas são submetidos a testes no gramado, com o uso da vestimenta do uniforme de sua modalidade esportiva. Alguns exemplos muito conhecidos são o teste de Cooper, o teste de flexões de braço, de impulsão horizontal, entre outros (MARINS; GIANNICHI, 2007). Os testes de referência, ao contrário, são protocolos que geralmente possuem um investimento financeiro maior, pois são realizados em maquinários específicos e em ambiente controlado, o que os torna mais confiáveis e reprodutíveis. Também podem ser utilizados para aferir a capacidade física dos avaliados, assim como também podem aferir a composição corporal. Alguns dos testes comuns são a ergoespirometria, os dinamômetros isocinéticos e as plataformas de força. 8.3.2 Medida O termo medir significa a obtenção dos dados quantitativos, procedimento basilar da avaliação física. Para Guedes e Guedes (2006, p. 1), “[...] medir significa determinar a quantidade, a extensão ou o grau de determinado atributo com baste em um sistema convencional de unidades”. O resultado da medida é sempre numérico e refere-se ao quantitativo do atributo a ser descrito. Exemplos de medida são a estatura e o peso, cujos sistemas convencionais são, respectivamente, o metro e o quilograma. A medida se encontra em todos os processos de avaliação física, sejam eles voltados para a compreensão de qualquer capacidade ou habilidade física. As medidas podem ser obtidas de forma direta ou indireta (MARINS; GIANNICHI, 2007). As medidas diretas são aquelas que, como o nome sugere, são obtidas diretamente do avaliado. Por exemplo, para medir o consumo de oxigênio de um indivíduo de forma direta, o teste de ergoespirometria é recorrentemente utilizado. As medidas indiretas são aquelas que são obtidas por modo distinto ao que se pretende avaliar, mas, com a relação dos resultados, é possível estabelecer algumas estimativas. Utilizando o exemplo anterior, para indiretamente estimar o consumo de oxigênio de um indivíduo, o teste de Cooper é recorrentemente utilizado. Com os resultados da distância percorrida em determinado período pelo avaliado, é possível estimar o seu consumo de oxigênio. 8.3.3 Avaliação A avaliação se refere às compreensões que são possíveis por determinado teste e medida. De acordo com Guedes e Guedes (2006, p. 1), a avaliação é definida como “[...] um processo interpretativo, pois consiste em julgar com base em referenciais selecionados especificamente para essa finalidade”. Por demandar o processo interpretativo, a avaliação é o meio mais abrangente, pois, enquanto as medidas e os testes se detêm à utilização de dados e instrumentos quantitativos, a avaliação também solicita a utilização de dados e instrumentos qualitativos. O papel do profissional de educação física em uma avaliação é considerar todas as variáveis envolvidas em um teste pelo qual se obtém uma medida. Ou seja, a avaliação consiste em conseguir identificar o que, por quê e quem está sendo avaliado. Isso significa que apenas a medida obtida em um teste não representa um padrão universal a todos os sujeitos. Imagine um mesmo teste aplicado em homens de meia idade, em mulheres, em crianças ou idosos: é possível que as medidas obtidas por determinado protocolo signifiquem a mesma coisa? Certamente não, pois, para cada uma dessas individualidades, são produzidos padrões diferentes. Não é possível exigir que populações idosas possuam a mesma resistência cardiorrespiratória que jovens de vinte anos de idade, já que o primeiro grupo apresenta sinais e sintomas do processo de envelhecimento e, em decorrência disso, sua exigência é menor. O mesmo também podemos afirmar em populações fisicamente ativas, sedentárias, atletas, com quadros patológicos e também inúmeras outras variáveis. O papel do profissional de educação física, então, é considerar todas as variáveis presentes em relação ao avaliado e determinar quais medidas a esse sujeito ou grupo são consideradas dentro do esperado. Ou seja, a avaliação consiste em um processo que visa dar significado aos resultados colhidos em um teste ou medida, fazendo com que os números expressos passem a apontar informações consistentes que possam mediar a prática do avaliado e do avaliador. Em síntese, a Figura 1, a seguir, apresenta as diferenças entre os três conceitos. Figura 1 - Diferenças entre testar, medir e avaliar Fonte: Adaptada de Guedes e Guedes (2006). Em grande parte das vezes, a medida e os testes se encontram dentro de protocolos específicos e que são avaliados a partir de percentis populacionais. Em muitos casos, o uso de softwares auxilia a compreensão de variações apresentadas pelo avaliado na realização de um teste. Seja qual for a dimensão avaliada, o objetivo pelo qual se propõe avaliar o avaliador deve seguir alguns critérios essenciais, os quais você vai conhecer na próxima seção. 8.4 Princípios da avaliação física Embora no que se refere ao corpo humano e ao movimento muitos aspectos possam ser avaliados e diversos testes se proponham a isso, isso não significa que qualquer teste pode ser utilizado para qualquer medida. É preciso, para tanto, que o profissional consiga utilizar o método que melhor corresponda a seus objetivos avaliativos, estabelecendo, para isso, alguns critérios. Nesta seção, você vai conhecer os princípios da avaliação física. 8.4.1 Critério de seleção de testes Ao se determinar o que será testado e por qual objetivo a avaliação será feita, o profissional deve procurar na literatura o melhor teste para a situação envolvida. A escolha desses testes deve ser feita com base em três princípios: a validade, a fidedignidade ou confiabilidade e a objetividade ou reprodutibilidade. A validade de um teste consiste em ele conseguir medir o que se propõe a medir (CHARRO et al., 2010). Para determinar que um teste realmente mede o que se propõe a medir, existem quatro formas principais: a validade de conteúdo, a validade de critério, a validade de predição e a validade de construção. A validade de conteúdo representa que um testeé adequado com base na lógica quando os números obtidos representam a variável morfológica ou fisiológica analisada sendo baseada pelo testemunho de um especialista ou em sua larga utilização (GUEDES; GUEDES, 2006). Por exemplo, ao avaliar a capacidade cardiorrespiratória, o teste de Cooper é um protocolo amplamente utilizado em importantes pesquisas; podemos dizer, então, que este teste possui validade de conteúdo. A validade de critério consiste na relação por meios estatísticos quando se compara o resultado de um teste em questão com outros testes já validados. Um exemplo de validade de critério é quando comparamos, por exemplo, os resultados de um teste de consumo máximo de oxigênio a partir de dois protocolos diferentes, como o teste de Cooper e a ergoespirometria. Para ter a validade de critério, espera- se que ambos os testes apresentem medidas semelhantes. A validade de predição se relaciona com a capacidade de antever, em linhas gerais, o resultado obtido considerando o avaliado. Usando como exemplo o teste de Cooper, a validade de predição consiste em confirmar que o resultado do teste, quando realizado por homens, por exemplo, apresenta-se de maneira diferente quando desenvolvido por mulheres de mesma idade. A validade de construção representa a consistência teórica que embasa o teste, também limitando se ele é capaz de aferir o que se pretende. Ou seja, para avaliar o consumo máximo de oxigênio, o teste a ser escolhido deve contemplar a capacidade cardiorrespiratória e sustentar o que a literatura afirma. No teste de Cooper, pode-se dizer que a validade de construção ocorre à medida que a variável, o consumo máximo de oxigênio, é maior quando a intensidade da corrida do avaliado também for maior. Fidedignidade ou confiabilidade dizem respeito aos resultados encontrados sob condições idênticas. Ou seja, se o teste foi aplicado uma vez e depois novamente sob as mesmas condições do avaliado e os mesmos resultados forem encontrados, então podemos afirmar que o teste é confiável. Como exemplo, ao subimos em uma balança, identificamos o nosso peso corporal. Se descemos e subimos novamente na mesma balança, espera-se que o peso seja o mesmo ou que apresente pequenas variações não significativas. Caso isso ocorra, então o teste é considerado fidedigno ou confiável. Objetividade ou reprodutibilidade diz respeito à consistência dos resultados independendo da atuação do avaliador. Quando o teste é aplicado nos mesmos indivíduos, por avaliadores diferentes, e, ainda assim, apresenta os mesmos resultados, diz-se que possui objetividade. Como exemplo, suponhamos que você tenha aferido as medidas de dobras cutâneas de alguém, pouco tempo na sequência, um colega realiza o mesmo procedimento. Se ambos chegarem aos mesmos resultados, o que se espera nesse teste, afirmamos que o teste é objetivo ou reprodutível. Além desses fatores, também deve ser levada em consideração a padronização de instruções para o teste. Essas informações devem seguir protocolos específicos e detalhados, que orientam as condições de realização dos testes, os locais em que ele pode ser aplicado, as vestes dos avaliados, os meios para motivação, os cuidados a serem tomados e os erros comuns que devem ser evitados (GUEDES; GUEDES, 2006). 8.4.2 Organização e administração dos testes Uma boa avaliação requer que o avaliador esteja atento às especificidades e particularidades de alguns fatores que podem vir a interferir na realização de um teste ou na avaliação dos seus resultados. A seguir, Charro e colaboradores (2010) apontam alguns desses fatores. Procedimento do avaliador: o avaliador deve possuir conhecimento sobre os propósitos dos testes e de seus detalhes técnicos para aplicação, assumindo as padronizações. Além de conhecer o teste em questão, é necessário que possua conhecimentos sobre o que será avaliado, como, por exemplo, no caso da avaliação antropométrica, os conhecimentos de anatomia. Informação do avaliado: o sujeito avaliado deve conhecer previamente o processo de medida e apresentar motivação e disposição para realizá-lo, sendo possível obter os melhores resultados. O avaliado deve ser informado sobre o intervalo entre a última refeição e o teste, o uso das vestimentas adequadas para realizá-lo, além de ficar ao menos 72 horas sem realizar esforço físico quando submetido a avaliações de esforço máximo ou submáximo. Local: o local deve possuir condições adequadas de espaços, luz, som, temperatura, vento, condições de solo, segurança e trânsito de pessoal. Alguns protocolos exigem, além desses fatores, paredes sem cores, que ofereçam estímulos que retirem a concentração dos avaliados durante a realização do teste. Horário: o teste e o re-teste devem ser realizados no mesmo período do dia e, preferencialmente, no mesmo horário, para que sejam evitadas as interferências por alterações posturais ou de cansaço e ocorridas pela ação de hormônios. É preciso considerar os ritmos de secreção circadiano (relativo ao ritmo biológico no período de 24 horas e que está relacionado a fatores como luz solar e temperatura) e ultradiano (relativo a mudanças repetitivas que ocorrem em período de até 20 horas, com a mudança na frequência de batimentos cardíacos). Vestimenta: a vestimenta deve ser condizente com o teste a ser realizado. O ideal é o uso de calção, camiseta, meias e tênis com solado adequado, além de biquínis e sungas, quando for o caso. Instrumental: os instrumentos de medida que serão utilizados no teste devem ser escolhidos cuidadosamente, optando-se por aquele que apresenta melhor precisão. Eles devem ser utilizados com cuidado e armazenados nos locais adequados. O mau uso pode afetar a precisão ou comprometer a sua utilização por tempo prolongado (MARINS; GIANNICHI, 2007). Calibração: ainda que todo cuidado seja considerado, é comum que, com o passar do tempo, os equipamentos percam a sua calibração. Por isso, é aconselhável que sua aferição seja realizada periodicamente ou, no caso de ser impossível este procedimento, deve ser efetuada a troca do equipamento. Geralmente, os próprios fabricantes indicam o período de aferição ou troca, o que deve ocorrer entre 6 meses e um ano. Mecanismos de aplicação: existem muitos fatores que influenciam a aplicação do teste, como, por exemplo, o número de avaliados, o número necessário de avaliadores, a demonstração, a ordem dos testes, a duração da avaliação e a coleta de dados. Quanto a essas variáveis, o avaliador deve se precaver para que o procedimento não seja interrompido durante a sua realização. 8.4.3 Precisão de medidas A precisão das medidas é de fundamental importância para uma avaliação ou teste. Uma medida imprecisa pode comprometer os resultados e, por consequência, os objetivos que o teste propõe. Primeiramente, a precisão depende da exatidão de instrumentos e, em seguida, da aplicação por parte dos avaliadores. Os erros podem ser classificados em erros de medida ou erros sistemáticos (MARINS; GIANNICHI, 2007). Os erros de medida dizem respeito ao equipamento, ao medidor ou à administração do teste. A seguir, alguns tipos de erros: Erro de equipamento: quando a utilização do equipamento não é adequada ao que se propõe aferir ou o equipamento não está calibrado corretamente. Erro do medidor: quando o avaliador erra ou não consegue efetuar uma leitura. Erro de administração: quando o procedimento para a aplicação e realização do teste está equivocado. Os erros sistemáticos são aqueles relacionados às diferenças biológicas e ambientais, como aquelas relacionadas à estatura, à força, à flexibilidade ou à postura — variáveis essas que se modificam conforme o horário do dia. A tabela 2, a seguir, apresenta algumas das variáveis e as implicações que podem ser provocadas em relação à dimensão testada.Tabela 2 - Variáveis de desempenho que podem provocar erros sistemáticos Variável Implicação Psíquica Ansiedade; Motivação; Inteligência; Personalidade. Metabólica Sistema aeróbico; Sistema anaeróbico. Neuromuscular Força; Resistência; Velocidade; Flexibilidade; Coordenação. Cineantropométrica Composição corporal; Somatótipo; Proporcionalidade; Crescimento e desenvolvimento. Fonte: Adaptado de Guedes e Guedes (2006). Como você pode identificar, os erros sistemáticos estão relacionados a fatores referentes ao avaliado e ao ambiente em que o teste será realizado. Por exemplo, é possível que um trabalhador que executa atividades exaustivas durante a sua jornada de trabalho obtenha resultados superiores pela manhã, quando ainda não começou a sua jornada laboral, do que pela noite, após o período exaustivo. O mesmo ocorre com sujeitos que possuem variação de humor, que utilizam medicamentos que alterem os sistemas ou pelos fatos ocorridos em sua vida particular. Por esse motivo, a preparação do avaliado pelo avaliador deve sempre ocorrer em conjunto, de modo que seja possível identificar o melhor momento para a realização do teste e reduzir, assim, a possibilidade de erros sistemáticos. Dessa forma, é possível compreender que a avaliação física é um processo complexo, que exige do profissional de educação física saberes técnicos que vão desde a compreensão de conceitos até os aspectos procedimentais que envolvem a aplicação de um teste. Seja qual for o ambiente em que desenvolve o seu trabalho, o profissional de educação física deve estar pronto para realizar a avaliação física, apontando caminhos para que os sujeitos com quem trabalha alcancem seus objetivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHARRO, M. A. et al. Manual de avaliação física. São Paulo: Phorte, 2010. FUNDAÇÃO VALE. Caderno de referência do esporte: avaliação física. Brasília: Fundação Vale, 2013. (Cadernos de referência de esporte, v. 11). GUEDES, D. P.; GUEDES; J. E. R. P. Manual prático para avaliação física. Barueri: Manole, 2006. MARINS, J. C. B.; GIANNICHI, R. S. Avaliação e prescrição da atividade física: guia prático. 3. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2007. 8 AVALIAÇÃO FÍSICA 8.1 Objetivos das medidas e avaliações em educação física 8.2 Tipos de avaliação 8.3 Medida, avaliação e teste 8.3.1 Teste 8.3.2 Medida 8.3.3 Avaliação 8.4 Princípios da avaliação física 8.4.1 Critério de seleção de testes 8.4.2 Organização e administração dos testes 8.4.3 Precisão de medidas
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