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PRÁTICAS ESPORTIVAS E TREINAMENTOS FÍSICOS Olá! Atualmente, vive-se o dilema do aumento da expectativa de vida e da falta de tempo para incorporar hábitos saudáveis ao dia a dia. A possível longevidade faz com que as pessoas analisem e programem o nível de qualidade de vida que desejam alcançar ao longo dos anos e essa análise passa, obrigatoriamente, pela alimentação e a prática de atividade física. Dessa forma, percebe-se que uma alimentação saudável proverá ao organismo os nutrientes necessários ao melhor desempenho no exercício e, por outro lado, o exercício melhora o aproveitamento dos nutrientes pelo organismo. Assim, a alimentação saudável e a prática regular de atividade física devem ser associadas para uma melhor condição de saúde e aumento da expectativa de vida. Neste texto, você vai estudar a relação dos nutrientes com a atividade física, assim como as principais orientações dietéticas para antes, durante e após o exercício físico, capazes de favorecer a oferta de nutrientes. Bons estudos! AULA 7 - INGESTÃO DE NUTIENTES: PRÉ, DURANTE E PÓS TREINO 7 OS NUTRIENTES E AS PRÁTICAS ESPORTIVAS Como você sabe, a atividade física, aliada aos bons hábitos dos indivíduos, é altamente benéfica para a qualidade vida e o estado de saúde. Porém, não se pode garantir que as pessoas fisicamente ativas tenham equilíbrio metabólico, uma vez que o exercício físico provoca alterações fisiológicas e nutricionais que podem levar o atleta/desportista ao limiar entre a saúde e a doença, caso não ocorra uma adequada compensação desses eventos. Assim, é preciso que você saiba a importância de dispensar um cuidado especial quanto às práticas alimentares na atividade física, para que os efeitos benéficos da alimentação sejam atingidos. 7.1 A influência da alimentação na prática esportiva A representatividade da nutrição no desempenho e na condição de saúde de atletas e esportistas já está muito bem documentada na literatura mundial. A alimentação prepara o organismo para o esforço, fornecendo os nutrientes necessários, que variam de acordo com o tipo de exercício e o objetivo que se pretende alcançar, seja perda de peso ou ganho de massa muscular. A atividade física pode ocasionar alterações no metabolismo de nutrientes (digestão, absorção e excreção) e, em decorrência disso, as necessidades de nutrientes específicos podem ser afetadas conforme as demandas fisiológicas, em resposta ao esforço. Sendo assim, ao pensar na alimentação, você deve levar em consideração variáveis como a necessidade nutricional do indivíduo, de acordo com sua composição corporal, com o objetivo buscado e com o gasto energético do esporte praticado. Você deve estar atento, também, à hidratação, pois é outro elemento muito importante na nutrição adequada, já que a reposição insuficiente pode trazer consequências desagradáveis, como a diminuição da força muscular, o aumento do risco de cãibras e a hipertermia, com consequente queda na performance. Portanto, a prática esportiva regular será benéfica somente se estiver aliada a uma alimentação adequada no ponto de vista nutricional, fornecendo ao organismo energia e nutrientes em quantidade e qualidade suficientes às suas demandas. 7.2 Os nutrientes no exercício físico Os nutrientes podem ser categorizados conforme as funções que desempenham no organismo: 1. Nutrientes fornecedores de energia; 2. Nutrientes que promovem crescimento, desenvolvimento e manutenção das estruturas corporais; 3. Nutrientes que mantêm o organismo em pleno funcionamento. Precisamos de carboidratos, proteínas, lipídios e água em quantidade relativamente grande, por isso eles são denominados macronutrientes. Precisamos de vitaminas e minerais na dieta em quantidades tão pequenas que os chamamos de micronutrientes (TABELA 1). Tabela1 – Caracterização dos nutrientes conforme suas principais funções Classes de nutrientes que fornecem energia Classes de nutrientes que promovem crescimento, desenvolvimento e manutenção Classes de nutrições que regulam processos orgânicos Maioria dos carboidratos Proteínas Proteínas Proteínas Lipídios Alguns lipídios Maioria dos lipídios Algumas vitaminas Algumas vitaminas Alguns minerais Alguns minerais Água Água Fonte: Wardlaw e Smith, 2013. Os macronutrientes, representados por carboidratos, proteínas e lipídios, são considerados nutrientes fornecedores de energia ao organismo, provendo o combustível necessário à realização das funções orgânicas involuntárias (respiração, circulação, funcionamento cerebral, formar novos compostos, etc.) e às atividades físicas voluntárias (realizar movimentos musculares). Carboidratos. Os carboidratos servem de substrato para a produção de glicogênio muscular, que é a principal fonte de energia utilizada durante os exercícios. Pelo fato de os estoques musculares e hepáticos de glicogênio serem limitados, a reposição de carboidratos através do consumo alimentar deve ser feita constantemente. Assim, a alimentação de um praticante de atividade física precisa ser composta, em grande parte, por alimentos fonte de carboidrato. Proteínas. As proteínas são responsáveis pela recuperação e regeneração celular, sendo fundamentais na prática esportiva. O consumo de alimentos fonte deve ser em quantidade adequada, mas não aumentado (a prioridade é dos carboidratos). Também é importante que a ingestão ocorra de maneira fracionada, ao longo do dia, para que haja melhor aproveitamento dos aminoácidos pelo tecido muscular. Lipídios. Depois dos carboidratos, os lipídios representam o principal substrato energético para o exercício, sendo sua utilização mais acentuada durante as atividades prolongadas e de baixa ou moderada intensidade. As gorduras também são responsáveis pela reserva de energia, pelo transporte das vitaminas lipossolúveis e pela composição de hormônios, além de outras funções. Os micronutrientes, representados pelas vitaminas e pelos minerais, são considerados nutrientes facilitadores (cofatores) e desempenham funções essenciais no nosso organismo. Estes componentes alimentares participam diretamente na produção de energia, na saúde óssea, na síntese de hemoglobina sanguínea, na manutenção do funcionamento adequado do sistema imune e na proteção do corpo contra os danos oxidativos. Além disso, as vitaminas e os minerais têm papel fundamental na síntese e no reparo do tecido muscular, que sofre lesões em função da prática esportiva. Vitaminas. Muitas facilitam o metabolismo de substratos energéticos comuns (proteínas, carboidratos, gorduras), e a deficiência de uma vitamina afeta a atuação de outra. As repercussões da deficiência de vitaminas no organismo podem ser notadas conforme o componente. Confira: o menor consumo de vitaminas do complexo B e da vitamina C pode diminuir a capacidade respiratória e a capacidade anaeróbia em um curto espaço de tempo. As vitaminas antioxidantes, como C, E e betacaroteno, têm grande potencial em aumentar a performance esportiva, protegendo contra o dano muscular induzido pelo exercício, além de reduzir o estresse oxidativo. Minerais. Os minerais apresentam funções que podem influenciar diretamente o desempenho esportivo: contração muscular, impulsos nervosos, batimentos cardíacos, transporte de oxigênio, função imunológica, função antioxidante, saúde óssea e equilíbrio acidobásico do sangue. Como exemplos, podemos citar o potássio e o cálcio, cujo papel é fundamental na contração muscular. O magnésio, além de atuar no relaxamento dos músculos, ajuda na produção de energia. O ferro é essencial para o transporte de oxigênio nos músculos, e o sódio atua diretamente na transmissão de impulsos nervosos musculares. Após os conhecimentos adquiridos até este ponto da leitura, você certamente compreendeu que a alimentação no exercício físicodeve ser equilibrada para prover macro e micronutrientes em quantidade e qualidade adequadas às demandas. Assim, as reações metabólicas e o fornecimento de energia serão suficientes e peculiares à condição de saúde do praticante, bem como à modalidade e intensidade do exercício, favorecendo o rendimento e a qualidade de vida. 7.3 Características da alimentação antes da atividade física A refeição pré-exercício é de grande importância! Seus principais objetivos são manter a hidratação, preencher os estoques corporais de energia, prevenir a fome e minimizar o desconforto gástrico. Assim, o volume oferecido, a composição e o momento de realizar a refeição são aspectos que merecem destaque especial e precisam ser observados. Também é de fundamental importância que preferências e gostos individuais, assim como as formas de preparo, sejam considerados. Dependendo das porções alimentares e da composição da refeição, o tempo para a digestão pode ser mais longo e demorar mais que três horas, podendo gerar desconforto abdominal, náuseas e vômitos, além de atrapalhar o tempo de início da atividade. 7.3.1 Cuidados alimentares antes do exercício físico A alimentação no período que antecede a prática desportiva tem os seguintes objetivos: prevenir a hipoglicemia e/ou sintomas associados (tonturas, cansaço, sonolência), evitar a sensação de fome antes ou durante o evento esportivo, fornecer energia adequada à contração muscular durante a atividade e proporcionar oferta sufi ciente de líquidos para manter o estado de hidratação. Antes da atividade, evite recomendar preparações gordurosas e atípicas (fora do padrão alimentar diário) e o excesso de fibras; procure orientar o consumo de uma refeição leve, rica em carboidratos complexos e composta por preparações que promovam esvaziamento gástrico mais rapidamente. Carboidratos. É aconselhável realizar uma refeição (em torno de 200 gramas de carboidratos) até três horas antes do início da atividade física ou um pequeno lanche (com mais ou menos 15 gramas de carboidratos) em torno de 45 minutos a uma hora antes, contendo alimentos fonte de carboidratos. É preciso cuidar para que a refeição com até uma hora antes da atividade seja líquida, para facilitar o esvaziamento gástrico. Quando possível, dê maior ênfase ao consumo de carboidratos complexos antes da atividade física (até 3 horas antes), visto que tais alimentos evitam os picos glicêmicos, tornando a oferta de glicose mais equilibrada e constante. Proteínas. Na refeição anterior à atividade física, o consumo de proteínas deve ser em quantidade adequada, mas não aumentado, pois a prioridade é dada aos carboidratos. Levando-se em consideração que a ingestão proteica por refeição precisa ser relacionada à massa corpórea do indivíduo, a razão de proteínas em gramas por quilo de peso soma 0,25 a 0,3 g/kg de peso em cada refeição. Ou seja, o consumo proteico superior a este limite em uma refeição é considerado desaconselhável, uma vez que não será aproveitado para a síntese de novas proteínas (o acúmulo de proteínas nos diversos tecidos corporais é limitado). Salienta-se que o excesso proteico, muitas vezes, está relacionado a uma menor ingestão de carboidratos. Quando isso acontece, o organismo pode produzir uma quantidade considerável de ácidos, que modificarão o equilíbrio acidobásico do sangue, provocando perda de massa muscular com consequente redução no desempenho. Lipídios. Depois dos carboidratos, os lipídios representam o principal substrato na prática desportiva. As gorduras também são responsáveis pela reserva de energia, pelo transporte das vitaminas lipossolúveis e composição de hormônios, além de outras funções. Você não deve aconselhar o consumo elevado de lipídios antes do exercício físico, pois pode causar desconforto ao sistema digestório e atrapalhar a performance. Portanto, assim como as proteínas, a oferta de lipídios deve ser fracionada nas refeições ao longo do dia, conforme as necessidades do praticante. Água. A hidratação adequada é importante para o bom desempenho físico. É interessante programar a ingestão de líquidos na quantidade de 5 a 7 mL/kg de peso corporal ao longo das quatro horas que antecedem a prática esportiva. Imediatamente antes do exercício, deve-se evitar o excesso na ingestão de líquidos, pois ocorre estímulo da função renal, ou seja, o corpo produzirá maior quantidade de urina, gerando desconforto. Você deve se lembrar sempre da importância da alimentação nutricionalmente adequada, composta por quantidades corretas de macronutrientes, com variabilidade nos tipos de alimentos e no fracionamento ao longo do dia. É dessa forma que a oferta de micronutrientes estará garantida para a maioria dos desportistas, com raras exceções. 7.4 Consumo alimentar durante e após o exercício físico Assim como o consumo alimentar é importante no período que antecede o exercício físico, a alimentação durante e após a prática esportiva também merece atenção especial. O tipo e o volume de alimentos ou preparações, assim como os horários, são aspectos que devem ser observados a fim de evitar desconforto e indisposição à prática esportiva. É fundamental que o consumo alimentar seja nutricionalmente adequado, pois assim fornecerá energia e nutrientes conforme as demandas relativas à modalidade esportiva ou ao tipo de atividade física realizada. Além disso, você, como nutricionista, deve considerar as preferências alimentares, pois seu paciente terá mais facilidade em aderir ao plano alimentar. 7.4.1 Alimentação durante o exercício físico Na alimentação durante e após o exercício, os principais objetivos são manter a glicemia, melhorar o desempenho e a disposição para o exercício e evitar a fadiga precoce. Para isso, é fundamental manter o estado de hidratação, com a ingestão de líquidos em quantidades que respeitem a aceitabilidade do atleta, sua tolerância individual e o tempo de esvaziamento gástrico. Nos exercícios com duração superior a uma hora, recomenda-se oferecer carboidratos, preferencialmente em soluções com concentração de 6 a 8% a cada 15 minutos. Misturas de água com carboidratos de absorção rápida (glicose, frutose, sacarose, maltodextrina) parecem promover certa melhora no rendimento esportivo. A preferência por líquidos ocorre porque estes promovem esvaziamento gástrico mais rápido e favorecem a reposição de líquidos e eletrólitos, que são perdidos pelo suor. Ressalta-se que para atividades com duração inferior a 60 minutos, é necessária apenas a reposição hídrica, e a água é uma excelente opção. É recomendado que a ingestão de líquido seja mantida a cada 15 ou 20 minutos durante a prática da atividade física, sendo que o volume deve variar conforme o nível de sudorese (em média 500 a 2.000 mL). 7.4.2 Alimentação depois do exercício físico O principal propósito da alimentação após o exercício é recuperar, de forma rápida e eficaz, o glicogênio muscular utilizado durante a atividade. O atleta também precisa repor os nutrientes perdidos, para que o equilíbrio metabólico seja restabelecido, prevenindo o aparecimento de lesões e a queda no sistema imunológico. A recuperação muscular começa a partir da ingestão de uma refeição que contenha carboidratos e proteínas, além da oferta de líquidos para manter o estado de hidratação e a reposição dos eletrólitos perdidos, principalmente pelo suor. A combinação de carboidratos com proteínas oportuniza melhor recuperação muscular, além de reduzir os níveis do hormônio cortisol, que favorece a proteólise muscular. Em seguida ao término da atividade, o carboidrato deve ser ingerido também para que os estoques de glicogênio sejam repostos rapidamente, preparando os músculos para as atividades seguintes. Após finalizar o exercício, é importante que a energia gasta durante a atividade seja reposta de maneira quase imediata.Assim, neste momento, os carboidratos simples são os mais indicados, pois apresentam ação rápida. O momento imediatamente após a atividade não é adequado para exagerar no consumo de fontes alimentares de proteína, devido à prioridade do organismo em sintetizar glicogênio para repor os estoques de carboidratos gastos no esforço. O ideal é que o carboidrato tenha destaque e seja acompanhado de uma quantidade menor de proteína (em torno de 10 a 20 g). O consumo de lipídios também deve ocorrer de forma fracionada, no decorrer do dia, conforme as demandas do praticante. Portanto, a refeição pós-exercício precisa conter quantidades e tipos adequados de lipídios, sem excessos, da mesma maneira que nas demais refeições ao longo do dia. Quanto à hidratação, a ingestão de água em todas as etapas do exercício precisa ser suficiente para repor a perda hídrica em atividades leves e moderadas (caminhada, musculação e ginástica, por exemplo). Apenas no caso de atletas, em que o treinamento é intenso, indica-se o consumo de bebidas isotônicas, pois estes repõem rapidamente os eletrólitos (sódio, potássio, cloro) perdidos, além de terem também glicose para manter a glicemia constante. O período imediatamente após o exercício físico é de extrema importância para restabelecer as reservas hídricas e energéticas, otimizando a condição de saúde e a recuperação muscular. Depois da atividade, a reposição hídrica deve ser fracionada em pequenos volumes. A quantidade a ser reposta é variável conforme a sudorese, a intensidade e o tempo da atividade. Estima-se que para cada 100 gramas de peso corporal “perdido”, sejam necessários em torno de 100 mL de líquidos de reposição (aí está a importância de verificar o peso antes e após a sessão de exercícios). O consumo de bebidas com sódio auxilia na recuperação rápida e completa do equilíbrio hdreletrolítico, mediante a estimulação da sede e da retenção de líquidos. Após o exercício físico, as bebidas com cafeína cola ou as alcoólicas devem ser evitadas, pois aumentam a possibilidade de desidratação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CLARK, N. Guia de nutrição desportiva. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. HERNANDEZ A. J. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v. 15, n. 3, 2009. LONGO, S. Manual de nutrição para o exercício físico. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. PANZA, V. P. et al. Consumo alimentar de atletas: reflexões sobre recomendações nutricionais, hábitos alimentares e métodos para avaliação do gasto e consumo energéticos. Revista de Nutrição, Campinas, v. 20, n. 6, p. 681-692, nov./dez. 2007. SILVA, S. M. C. S.; MARTINEZ, S. Cardápio: guia prático para a elaboração. 3. ed. São Paulo: Roca, 2014. WARDLAW, G. M.; SMITH, A. M. Nutrição contemporânea. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. 7 OS NUTRIENTES E AS PRÁTICAS ESPORTIVAS 7.1 A influência da alimentação na prática esportiva 7.2 Os nutrientes no exercício físico 7.3 Características da alimentação antes da atividade física 7.3.1 Cuidados alimentares antes do exercício físico 7.4 Consumo alimentar durante e após o exercício físico 7.4.1 Alimentação durante o exercício físico 7.4.2 Alimentação depois do exercício físico
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