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REMUNERAÇÃO ESTRATÉGICA: PRINCIPAIS ELEMENTOS As antigas estruturas organizacionais da era industrial estão sendo questionadas. Quando dizemos estrutura, estamos falando sobre os fundamentos da cultura organizacional que trata desde processos e ferramentas, à estratégia, gestão e liderança. As empresas da era digital, também conhecidas como startups, estão balançando os paradigmas que acreditamos até há pouco tempo serem inabaláveis: o sentido de qualidade, serviço, missão, valores e visão, cliente e mercado sofreram e estão sofrendo uma reviravolta de 360º graus e a sabedoria convencional está virada de cabeça para baixo. Mas, afinal, o que tem provocado essa mudança? E como empresas mais tradicionais podem se adaptar a esse novo mindset? O que é preciso fazer para que estruturas arcaicas consigam atingir a mesma velocidade e disrupção propostas pelas soluções inovadoras de empresas tão enxutas quanto ágeis? A cultura organizacional pode ser a resposta. Perceber, sentir e conhecer as diferenças, os modelos mentais, a dinâmica de negócios, o novo perfil de consumidor, a descentralização do poder e a horizontalização das relações pode ser a chave para que negócios prosperem e seus resultados sejam percebidos e aproveitados por todos os stakeholders. Como vimos nos capítulos anteriores, a remuneração estratégica possui diversas abordagens e a cada dia surgem novas. Também vimos alguns elementos fundamentais da boa gestão, como a gestão de competências e a motivação e o quanto essas influenciam nas pessoas e nos resultados organizacionais. Essa combinação de elementos tem um impacto gigantesco na cultura de uma organização, para o bem ou para o mal. Questionar os modelos atuais é uma das condições para a construção de uma cultura de inovação, agilidade e disrupção, centrada no ser humano de modo a dar cada vez mais empoderamento ao indivíduo. Existem inúmeras definições de cultura organizacional e nossa proposta não é chegar a um consenso, mas apenas provocar reflexão de modo que cada um consiga perceber a importância do seu papel na construção de uma 41 cultura sólida, qualquer que seja o modelo de negócio, o ambiente, os valores e a visão da empresa. Segundo Schein (1982), cultura organizacional é a composição de questões compartilhadas por um grupo que encontrou maneiras de resolver seus problemas de ajustes e adaptações internos ou externos e que funciona bem de modo que seja aceita, desejada e comunicada aos novos integrantes sobre o melhor meio de perceber, sentir e pensar a respeito desses mesmos problemas. Ou seja, numa boa cultura organizacional, as pessoas encontram as melhores estratégias de resolverem seus conflitos de modo a permanecerem mais focadas nos propósitos e objetivos organizacionais. Para Cavassani (2006), o conflito gerado pelo desacordo de ideias, valores opostos, interpretações variadas sobre os mesmos acontecimentos demonstra o caráter mais difícil da organização. Saber lidar de modo maduro com esses conflitos ajuda as pessoas a construírem relacionamentos fortes que fortalecem a cultura organizacional. Além da liderança e seus elementos, das relações, da forma de lidar com conflitos, aspectos como burocracia, regras, normas e a própria história da empresa ajudam na construção da cultura. Também os aspectos de comunicação, responsabilidade social, cuidados com o meio ambiente, uso de tecnologia dentre outros devem ser considerados. Cada organização possui uma cultura própria. É o seu DNA, que se mantém mesmo com as constantes trocas de seus principais personagens, as pessoas que ali trabalham. Ainda assim, alguns autores arriscam sugerir algumas caraterísticas básicas que compõem uma cultura organizacional. Autores como Chatman e Caldwell (apud ROBBINS, 2005), propõem sete dessas características: Riscos e Inovação: o quanto a empresa incentiva seus funcionários a assumir riscos e a serem de fato inovadores; Percepção do detalhe: o quanto cada pessoa está atenta e focada nos mínimos detalhes, com precisão e análise profunda; 42 Foco no resultado: mais importante que as técnicas e os processos, é atingir os resultados produzidos a despeito dos meios; Foco nas pessoas: o quanto cada decisão da liderança é tomada tendo em vista o aspecto humano e os reflexos sobre as pessoas na empresa; Foco na equipe: o quanto o trabalho é organizado pensando nas equipes em vez de apenas nos indivíduos; Agressividade: o grau de competitividade versus o grau de compreensão e complacência; Estabilidade: diz respeito ao quanto a empresa prioriza o status quo quando ao encontro do crescimento. Em que pese tais características tenham sido propostas recentemente (2005), ao considerarmos o mindset digital atual, podemos encontrar outro olhar sobre algumas questões, tais como o último item, estabilidade. Uma cultura mais preparada para enfrentar os desafios de agilidade e mudanças contemporâneos, deve buscar ser menos presa ao status quo e mais aberta à inovação e à tecnologia, por exemplo. Do mesmo modo, agressividade pode ser importante, desde que haja lealdade na relação proposta pela organização e seus stakeholders. Orientação ou foco no resultado, não pode ser a qualquer custo, como assim foi durante todo o século passado e, ainda hoje, vemos o lucro e a busca por poder dominar as decisões empresariais sem levar em conta aspectos práticos como as questões sociais e ambientais, apenas para citar dois. Outros autores irão propor características semelhantes ou diferentes que as apresentadas acima, mas, assim como a liderança, é impossível chegar a uma conclusão sobre quais características ou modelos são os que de fato compõem e garantem uma cultura organizacional sólida e competitiva. Quando surge alguma crise ou necessidade de mudança na organização, uma cultura bem estabelecida é capaz de suportar as pressões e as tensões, sem perder o foco no que deve ser feito e em como fazê-lo. 43 Podemos não ter todas as respostas, mas não será pretensão se chegarmos à conclusão de que uma cultura baseada no medo, na hierarquia, no controle e na verticalização das relações deve ser substituída pelo relacionamento, pela sinergia entre equipes interdependentes, pela colaboração, conexão e cocriação, pelo incentivo à criatividade e a inovação. Ver o ambiente empresarial não mais como uma máquina, mas como um organismo vivo, dinâmico e produtivo. O lema agora é construção mútua, descentralização, visão sistêmica e aprendizado constante. Quando líderes perderem o medo de “perder o controle” e darem mais autonomia para as pessoas, resistirem à tentação de dominar e incentivarem o risco sem medo do fracasso, então teremos empresas com culturas fortes, dinâmicas e que fomentam a inovação com agilidade e com foco que vai além de suas fronteiras e interesses próprios, antes entendem seu papel na sociedade, no meio ambiente e na transformação do meio com ganhos reais e sustentáveis. Atenção: ganhos reais e sustentáveis também e, especialmente, para o indivíduo através de um modelo de remuneração condizente com as novas expectativas, necessidades e a realidade social, cultura, acadêmica e econômica daquelas que são a verdadeira razão das empresas existirem: as pessoas. Nesse novo mindset ninguém ganha sozinho. Em um mundo volátil e ambíguo, a única certeza é a de que juntos, somos exponencialmente mais fortes, sábios e produtivos que individualmente. O preço? Uma vontade genuína de colocar os interesses alheios à frente dos nossos próprios, não importante o seu papel.
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