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INFECÇÕES DE VIAS AÉREAS SUPERIORES E INFERIORES Silvia Simões Por que estudar IR na infância? � Importante causa de doença em crianças – 4 a 6 infecções respiratórias/ ano � Principal causa de óbito em crianças ◦ 75% dos óbitos por infecção respiratória são por pneumonia � Medidas de saúde pública diminuem a morbi-mortalidade Objetivos da aula � Definir uma Infecção Respiratória (IR) � Classificação em compartimentos do aparelho respiratório (abordagem diagnóstica) � Identificar fatores predisponentes para IR � Abordagem terapêutica Definição � Infecção de qualquer compartimento do trato respiratório Nariz Faringe Laringe Traquéia Brônquios Alvéolos Bronquíolos Infecção respiratória alta Infecção respiratória baixa Amigdalas Adenóides Epiglote Cricóide Tabagismo Poluição Alérgenos domiciliares Aleitamento materno Aglomerações Pobreza Estação do ano Idade Alergia Respiratória Obstruções fixas Malformações congênitas Desnutrição Imunodeficiências Situação vacinal Patogenicidade HOSPEDEIRO AMBIENTE MICROORGANISMO Fatores Predisponentes Principais infecções � RESFRIADO � FARINGOTONSILITE � SINUSITE � EPIGLOTITE � CRUPE VIRAL (LARINGOTRAQUEITE) � BRONQUITE � BRONQUIOLITE � PNEUMONIA RESFRIADO Caso 1 � 6 meses de idade, iniciou quadro de febre há 3 dias (máximo de 38ºC) com coriza clara, nariz entupido e apetite diminuído. Ao exame obstrução nasal, secreção hialina nasal, sem esforço respiratório. Resfriado comum � Doença infecciosa mais comum na infância � Outono/Inverno � Etiologia ◦ Rinovirus ◦ Outros Resfriado Comum - Quadro Clínico � Febre nos primeiros 3 dias � Espirros, coriza, obstrução nasal � Odinofagia � Tosse � Complicações ◦ Otite, sinusite ◦ Exacerbação de asma Resfriado Comum � Tratamento ◦ Sintomáticos: anti-térmico e analgésico ◦ Nebulização com soro fisiológico ◦ Antibióticos se complicação bacteriana � Prevenção ◦ Medidas para evitar disseminação viral no ambiente FARINGOTONSILITE Caso 2 � 7 anos de idade, iniciou hoje quadro de febre (38,8ºC) e dor de garganta. Não consegue se alimentar devido à dor. � Ao exame, hiperemia faringeana importante, com exsudato amigdaliano. Faringites/Tonsilites � Idade ◦ Rara < 2 anos de idade ◦ Pico: idade escolar (5 a 10 anos) � Etiologia ◦ Viral � rinovirus, adenovirus, coronavirus, enterovirus, VSR, etc ◦ Bacteriana � Estreptococo β hemolitico grupo A � Outros: Estafilococos, Corynebacterium diphtheriae No caso anterior, qual a etiologia mais provável? Faringites/Amigdalites QUADRO CLÍNICO ETIOLOGIA VIRAL ETIOLOGIA BACTERIANA Início da doença Insidioso Súbito Sintomas concomitantes VAS Frequentes Febre Raros Febre Exame Físico Hiperemia Exsudato amigdaliano Linfadenomegalia Úlceras e vesículas na parede posterior na faringe Hiperemia faringoamigdaliana Exsudato amigdaliano Linfadenomegalia Pontilhado no palato mole Duração da doença 1 a 5 dias Até 2 semanas Complicações Sinusite, otite, traqueite Sinusite, otite, abscesso periamigdaliano, febre reumática, glomerulonefrite Tratamento Sintomático Antibiótico Diagnóstico Diferencial � Síndrome da Mononucleose Infecciosa ◦ Vírus Epstein-Baar ◦ Linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia, rash cutâneo após uso de Penicilina, plaquetopenia � Escarlatina ◦ Palidez perioral, língua em fambroeza, rash cutâneo puntiforme Faringite viral Mononucleose infecciosa Atlas of ear, nose and throat disorders in children. Ontario: BC Decker; 1998:91 Referência: Nelson Tratado de Pediatria hiperemia Pontilhado no palato exsudato Faringoamigdalite Bacteriana Referência: Nelson Tratado de Pediatria Escarlatina Faringites Exames Complementares � Hemograma ◦ Leucocitose ◦ Atipia linfocitária (>10%) � Sorologia para VEB � Swab de orofaringe ◦ Detecção rápida de Ag estreptocócico ◦ Cultura � Contactuantes Faringites bacterianas � Tratamento Antibiótico ◦ Prevenção da Febre Reumática ◦ Penicilina/Eritromicina ◦ Amoxacilina ◦ 10 dias de tratamento � Tratamento preventivo ◦ Ausência de vacina ◦ Profilaxia antibiótica secundária se febre reumática ou cardite reumática SINUSITES Caso 3 � 5 anos de idade, iniciou quadro de resfriado há 1 semana sem melhora. Há 2 dias voltou a apresentar febre mais alta do que nos primeiros 2 dias da doença, a secreção nasal se tornou esverdeada, vem se queixando de dor de cabeça e apresentando tosse noturna. Sinusites � Infecção dos seios paranasais � Etiologia ◦ Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis Sinusites- Quadro Clínico � Seguida de uma infecção viral respiratória alta � Obstrução nasal, rinorréia, uni ou bilateral, febre, tosse � Halitose, hiponosmia � Cefaléia e dor facial menos comuns � Hiperemia e edema da mucosa nasal com rinorréia purulenta Sinusites- Exames Complementares � Sinusite crônica/aguda recorrente ◦ Tomografia Computadorizada ◦ Nasofibroscopia Sinusites- Tratamento � Antibioticoterapia 14 dias ◦ Amoxacilina ◦ Clavulanato de potássio � Germes beta-lactamase positivos = resistentes a penicilinas ◦ Cefalosporina de 2ª ou 3ª geração � Corticosteróides orais � Medidas de drenagem nasal EPIGLOTITE Caso 4 � 4 anos de idade, masculino, levado à emergência com quadro de dispnéia de início súbito associada a febre alta e estridor inspiratório. Nega pródromos virais. Criança mantém posição de hiperextensão do pescoço, boca aberta e apresenta sialorréia importante. Etiologia Pródromos Quadro clínico Exame complementar Haemophyllus influenza (90%) Outros: • S. Pneumoniae • Staphylococcus aureus • Moraxella catarrhalis Início súbito Sem contato prévio com doença viral Despertar noturno súbito com afonia e sialorréia, além de estridor inspiratório, febre alta e toxemia, hiperextensão do pescoço e disfagia Radiografia simples de pescoço em perfil (estreitamento da subglote) Hemograma Hemocultura, Laringoscopia (edema e hiperemia da epiglote) Epiglotite Epiglotite � Diagnóstico diferencial ◦ Difteria (Corynebacterium diphteriae) � Membrana brancoacinzentada na faringe ◦ Abscesso retrofaringeo ou amigdaliano � Trismo Epiglotite � Tratamento ◦ Adrenalina e corticóides são ineficazes! ◦ Entubação por poucos dias ◦ Antibioticoterapia � Cefalosporinas 2ª e 3ª geração � Profilaxia ◦ Vacina contra H. influenzae CRUPE VIRAL OU LARINGOTRAQUEÍTE Caso 5 � 2 anos de idade, desenvolveu estridor inspiratório, retração costal e tosse rouca. História de IVAS há 2 dias. Laringotraqueítes virais/Crupe � Parainfluenza, Influenza, VSR, Adenovirus � Sexo masculino � Idade: 3 meses a 5 anos (pico 2 anos) � Predisposição familiar Crupe viral – Quadro Clínico � Precedido por IVAS � Estridor inspiratório, rouquidão, tosse característica (“ladrante”), febre � Auto-limitada: 3 a 7 dias � Radiografia com “sinal da torre de igreja”(dispensável) Crupe: Sinal da torre de igreja (estreitamento subglótico) Laringotraqueítes- Tratamento � Umidificação das vias aéreas – casos leves � Adrenalina racêmica por aerossol – casos moderados a graves � Corticóide oral Traqueíte Bacteriana � Complicação de laringite viral ◦ Pródromos virais � Febre, toxemia e estridor inspiratório � Grave! � Laringoscopia com coleta de material � Etiologia ◦ S. aureus ◦ S. pyogenes ◦ Moraxella catarrhalis ◦ Haemophilus influenzae type B Traqueítes Bacterianas- Tratamento � Intubação � Traqueostomia � Antibioticoterapia ◦ Penicilinas resistentes às penicilinases ou ◦ Cefalosporinas de 3ª geração ou ◦ Clindamicina BRONQUITE Caso 6� 2 anos de idade, iniciou quadro de sintomas nasais com tosse seca há 7 dias, evoluindo, há 3 dias, com tosse produtiva (secreção clara). Às vezes tosse tanto que vomita (sic). Teve febre baixa no início. Ausculta pulmonar com roncos de transmissão. Bronquite ETIOLOGIA VIRAL (90%) Rinovirus Adenovirus, VSR, Influenza, Parainfluenza, Paramixovirus, virus do sarampo Rinovirus + comum BACTERIANA (10%) Streptococcus pneumoniae Haemophilus influenzae Staphylococcus aureus Branhamella catarrhalis Complicação da doença viral Bordetella pertussis Crianças não imunizadas Chlamidya trachomatis Adquirida no canal de parto Bronquite nas primeiras semanas de vida Bronquite � Diagnóstico ◦ Clínico ◦ Radiografia tórax � Tratamento ◦ Sintomático (umidificação, fisioterapia respiratória) ◦ Antibiótico se complicação bacteriana Caso 7 � 5 meses, iniciou quadro de coriza e obstrução nasal há 4 dias. Irmão estava resfriado recentemente. Evoluiu com aparecimento de tosse e de taquidispnéia, com retrações subcostais e intercostais. Ao exame físico apresenta regular estado geral, apirético, com FR= 72 ipm e na ausculta presença de estertores subcrepitantes bilaterais, além de alguns sibilos. Bronquiolite � Obstrução inflamatória das pequenas vias aéreas � Idade: < 2 anos de vida � Pico: 6 meses � Importante causa de hospitalização em < 1 ano de vida � Sexo masculino, não amamentadas, contato com aglomerações � Etiologia predominantemente viral ◦ Virus Sincicial Respiratório ◦ Parainfluenza, Adenovirus Bronquiolite- Quadro Clínico � História de contato prévio com doença viral � IVAS: coriza, espirros, febre, diminuição do apetite � Dificuldade respiratória progressiva ◦ tosse, taquidispnéia e sibilância Bronquiolite- Exames Complementares � Radiografia de tórax ◦ Hiperinsuflação pulmonar com rebaixamento do diafragma ◦ Consolidação esparsas (atelectasias por obstrução de VAP) � Hemograma Bronquiolite- Tratamento � Suporte respiratório ◦ Tenda de O2 umidificado se hipoxemia ◦ Nebulização com soluções salinas (contínua) � Hidratação venosa � Medicamentos ◦ Broncodilatadores inalados (?) ◦ Corticóide sistêmico (?) ◦ Antibioticoterapia se infecção secundária ◦ Ribavarina Bronquiolite- Prognóstico � Período crítico: 48 a 72 horas (hospitalização) � Evolução para asma ◦ Vias aéreas hiperrreativas PNEUMONIAS Caso 8 � Criança 4 anos de idade iniciou subitamente quadro de febre alta, tosse e taquidispnéia. � Taquipnéia Idade Taquipnéia < 2 meses > 60 ipm 2 meses a 1 ano > 50 ipm 1 a 5 anos > 40 ipm 5 a 8 anos > 30 ipm > 8 anos > 20 ipm Sinal isolado com maior sensibilidade para diagnóstico de pneumonia 60 seg Criança acordada e sem chorar Pneumonias � Infecção de alvéolos e tecido intersticial � Aspiração de secreção infectada de VAS Pneumonias � Quadro Clínico ◦ Taquipnéia ◦ Esforço respiratório � Retrações � Batimentos de asa de nariz ◦ Crepitações pulmonares ◦ Diminuição dos sons respiratórios ◦ Tosse, febre Pneumonias � Virais � Bacterianas ◦ Streptocococcus pneumoniae ◦ H. Influenzae ◦ S. aureus � Atípicas ◦ Mycoplasma pneumoniae ◦ Chlamydia trachomatis Pneumonias � Exames complementares ◦ Radiografia de tórax ◦ Hemograma ◦ Hemocultura ◦ Cultura de líquido pleural Avaliação da radiografia � Técnica � Timo (lactentes) Pneumonia lobar anatpat.unicamp.br/ einfl.html Broncopneumonia Infiltrado inflamatório peribronquiolar paredes alveolares espessadas por infiltrado inflamatório infomonocitário Padrão intersticial Pneumatocele Derrame pleural Complicações Abordagem terapêutica Patógeno suspeito Antibiótico Pneumococo H. Influenzae S. aureus Penicilina/Amoxicilina Ampicilina/ Amoxacilina/ Cloranfenicol/ Cefalosporina (2ª e 3ª) Oxacilina/Cefalosporina (1ª) Mycoplasma Clamidia Macrolídeo Referências � www.emedicine.com/ped/ � Nelson, Tratado de Pediatria, 17 ed. (2005) 1508-1509 � Marcondes, Eduardo: Pediatria Básica � Diretrizes brasileiras em pneumonia adquirida na comunidade em pediatria – 2007 (J Bras Pneumol. 2007;33(Supl 1):S 31-S 50 )