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Aquisição de desenvolvimento da leitura e escrita1

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Aquisição de 
Desenvolvimento 
da Prática da 
Leitura e Escrita
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Esp. Ivete Palange
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Evolução Histórica e Social da Escrita e Leitura 
Evolução Histórica e 
Social da Escrita e Leitura 
 
 
• Identificar a importância da escrita no processo de civilização, sua evolução histórica 
e transformação;
• Identificar o papel da leitura em diferentes momentos históricos;
• Compreender as diferentes estratégias para a leitura.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• A Evolução Social e Histórica da Escrita e Leitura;
• Escrita e Civilização;
• A Criação do Alfabeto;
• A Língua Escrita em Funcionamento;
• A Leitura e suas Modalidades.
UNIDADE Evolução Histórica e Social da Escrita e Leitura 
A Evolução Social e 
Histórica da Escrita e Leitura
Educadores que se preocupam com a aprendizagem da leitura e escrita necessitam 
conhecer e discutir aspectos da natureza do ato de ler e escrever. A escrita é um instru-
mento, uma tecnologia inventada pelo ser humano. Essa invenção buscou a modificação 
da realidade e trouxe também a transformação desse mesmo ser humano no mundo. 
Como prática social e na evolução histórica, a escrita apresenta aspectos de mudança 
e de permanência. Identificar algumas das raízes do escrever e ler contribuem para a 
compreensão da evolução da escrita através dos tempos. 
O mundo em que vivemos está envolto pela escrita em diferentes formas, tamanhos, 
cores e suportes no cotidiano das pessoas. Como a comunicação e a transmissão do 
conhecimento foi se alterando através do tempo? Como o hoje se diferencia do ontem? 
Quais as marcas históricas da evolução da escrita? Como o significado do ler e escrever 
se alterou através dos tempos? A escrita é um instrumento de poder?
São inúmeras as questões que nos mobilizam diante da escrita. Esse texto é um pe-
queno recorte e, como tal, não pretende responder a todas as questões. A expectativa é 
que você, leitor, complete algumas lacunas, elabore novas questões, atribua significado 
às informações construindo o conhecimento. A sua inquietação amplia a possibilidade 
para o conhecimento da escrita e leitura. 
Escrita e Civilização
Você já observou como a escrita está presente nas diversas dimensões da vida humana?
A escrita está presente nos mais diversos contextos sociais da vida cotidiana. Ela é 
usada no dia a dia, nas listas de compras, nas receitas, na comunicação com amigos e 
familiares nas redes sociais digitais. No deslocamento pela cidade, a encontramos em 
cartazes, placas de orientação nas ruas e transportes. O universo de letras, palavras, 
significados diversos, no trabalho, na escola, e em todos os locais que frequentamos, a 
escrita no instiga a conhecer como tudo isso começou e como foi sua evolução.
A comunicação sempre foi uma preocupação do ser humano. Ao viver em grupo, 
há a necessidade de desenvolver formas para compreender e ser compreendido pelos 
outros. Inicialmente, a transmissão das ideias e pensamentos era realizada por gestos, 
expressões e sons que deram origem à fala. As palavras faladas associadas a objetos 
trazem a memória, (re)apresentam o que está ausente. A palavra cervo, por exemplo, 
associa um som a um animal, o faz presente na comunicação, mesmo que ele esteja 
ausente fisicamente. A palavra cervo não é o animal, mas o (re)apresenta à memória. 
Ao ouvir a palavra, a associamos ao animal que conhecemos. A linguagem ordena o 
mundo e agrupa em categorias os objetos, eventos e situações. 
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Como a fala, os desenhos e pinturas, além de expressarem de forma artística o mundo, 
ultrapassavam o seu valor estético, registravam símbolos que comunicavam fatos e ideias. 
Era possível, mesmo sem uma preocupação maior com detalhes, identificar pessoas, ob-
jetos e algumas ações – como a caça, por exemplo.
Figura 1 – Detalhe de um caçador em um arte rupestre
Fonte: Getty Images
O desenho é uma escrita, ele comunica e ajuda a memorizar um fato; é um recurso 
mnemônico. Por meio dos desenhos e pinturas, era possível recontar uma situação 
vivida, descrever como foi realizada a caça a um animal, por exemplo. O registro, por 
meio do desenho e da pintura, era realizado, inicialmente, de forma individual, mas aos 
poucos tornou-se social. A mesma representação passou a ser usada por um grupo de 
pessoas se transformando em símbolo para aquela comunidade. Todas as pessoas do 
grupo aprendiam a representar uma ideia ou fato com os mesmos desenhos ou pinturas.
Um mesmo desenho, então, passou a ter significados semelhantes, é o que chamamos 
de logografia. Por exemplo, o desenho do sol podia significar sol e, também, expressar 
a ideia de brilhante; um pé podia significar pé, caminhar, ficar em pé, apressar-se ou car-
regar. A logografia é uma representação ideográfica, em que uma mesma imagem está 
associada a significados semelhantes.
Não se conhece o inventor da escrita, da mesma maneira que não se conhece as pes-
soas responsáveis por outras invenções importantes para a humanidade, como a roda, 
a flecha etc. Contudo, é importante destacar que a invenção da escrita não aconteceu 
de um momento para outro, seu surgimento está associado ao desenvolvimento de as-
pectos relacionados à civilização humana. O ser humano deixou de ser nômade, se fixou 
na terra, produziu manufaturas, desenvolveu a agricultura, construiu cidades, ampliou o 
comércio, o transporte, as artes e a cultura, construiu uma civilização. Essas condições 
geraram a necessidade de se aprimorar a comunicação e favoreceu ao aparecimento da 
escrita. Como diz Barbosa, (1990, p. 34): “A escrita precisa de civilização para existir, da 
mesma forma que não existe civilização sem escrita.” A escrita é o marco de passagem 
da pré-história para a história humana. 
O desenvolvimento que observamos hoje na humanidade, observado na engenharia, me-
dicina, tecnologia, cultura, transporte, educação, seria possível se não houvesse a escrita?
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UNIDADE Evolução Histórica e Social da Escrita e Leitura 
A humanidade como a conhecemos hoje não existiria se não houvesse a escrita, que 
evoluiu através dos tempos, adquirindo diversas formas. As características de cada forma 
da escrita retratam uma época e o desenvolvimento da humanidade. O primeiro registro 
escrito encontrado foi uma pequena pedra na base de um templo na Suméria, onde o 
construtor escreveu o nome do rei da época (3150 a 3000 a.C.). 
Na Suméria, inicialmente a escrita usava o mesmo símbolo com diversas interpretações. 
Mas, devido às grandes movimentações comerciais, era necessário obter um registro que ofe-
recesse maior precisão. Era necessário registrar o número de mercadorias transportadas do 
campo para a cidade e vice-versa, quem enviava, quem transportava e quem recebia. Assim, 
a ambiguidade dos símbolos foi substituída pela escrita cuneiforme, com desenhos que repre-
sentavam os sons das palavras. A palavra falada torna-se o signo e então a escrita passa a ser 
associada à língua oral. Exemplo: a ideia de discórdia era representada de forma ideográ-
fica por duas mulheres brigando; evoluiu para a representação de um disco e uma corda 
(disco + corda), associada agora à sua representação fonética (BARBOSA, 1990, p. 35).
Você já viu uma carta enigmática? Ela se assemelha a essa ideia. A junção de duas 
imagens pode formar uma palavra, como no exemplo da Figura 2. 
Figura 2 – Sol+dado = soldado
Fonte: Adaptado de Getty Images
A escrita cuneiforme possui sinais gráficos representando sons e eles eram desenhados 
em forma de cunha em peças de argila, como na Figura 3.
Figura 3 – Escrita Cuneiforme
Fonte: Getty Images
Observe os sinais da Figura 3, eles representam os sons das sílabas. Os gregos, 
mais tarde, chamaram a representação dos símbolos desenhados de hieróglifos (hiero = 
sagrado e glifos (ghiphein) = gravação). Com esses sinais foi possível representar todas 
as formas linguísticas. 
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Os sumérios padronizaram os sinais, os transformaram em signos, com osmesmos 
desenhos. Estabeleceram, também, normas e regras para a direção da escrita e sequência 
de linhas. Para escrever era necessário aprender os signos, a forma de representá-los e os 
princípios e as normas para a representação. Nessa época, poucas pessoas sabiam escrever, 
e os que sabiam liam para o restante do grupo.
A Criação do Alfabeto
Os princípios da escrita suméria espalharam-se pelo Oriente e chegaram ao Egito 
por volta de 3000 a.C.; e na Grécia, por volta do ano 2.000 a.C. O Egito contribuiu 
para o desenvolvimento da escrita substituindo o suporte da argila ou de pedras onde 
os sumérios escreviam pelo papiro. Para registrar os sinais no papiro, usavam penas de 
caniço embebida em tinta de água e fuligem engrossada com goma. A escrita egípcia 
estabeleceu 24 sinais que correspondiam às consoantes das palavras. As vogais não 
tinham representação e eram interpretadas pelo contexto. 
Os gregos desenvolveram o alfabeto, um conjunto de sinais de escrita que expres-
savam os sons individuais da língua. O sistema alfabético, desenvolvido pelos gregos, 
correspondia a 27 letras, com vogais e consoantes. O alfabeto se espalhou pelo mundo, 
foi aprimorado pelos romanos. Nosso alfabeto também tem origem no alfabeto grego.
A escrita é um sistema de intercomunicação humana que se desenvolve por meio de 
signos convencionais e visuais. A escrita é mais conservadora do que a língua falada, 
mas mesmo assim é um processo dinâmico e se altera ao longo do tempo. A evolução 
da escrita busca sempre simplificação, economia e agilidade. 
A escrita não evoluiu linearmente, foi movimentada pela história, obedecendo sempre 
determinada sequência, passando pela logografia, silabografia e alfabetografia. A evo-
lução da escrita de um povo segue sempre essa sequência, mas pode parar em uma das 
etapas, como foi o caso da China, por exemplo. A escrita chinesa se manteve ideográfica 
possivelmente, porque as representações ideográficas atendiam aos objetivos da elite chi-
nesa, embora fosse inacessível a 90% da população. 
É importante observar que a evolução da escrita também depende do suporte dos 
registros e da sua reprodução. Em relação ao suporte da escrita, na Idade Média, por 
exemplo, muitos documentos eram destruídos para se reaproveitar o mesmo papiro 
para outros registros. Para reproduzir a escrita, eram feitas cópias para preservar os do-
cumentos. Copiar documentos tornou-se uma profissão, muitos desses copistas viviam 
em monastérios. Sendo assim, a Igreja foi a responsável pela preservação de muitos 
documentos ao longo do tempo, embora limitasse o acesso das pessoas aos escritos que 
ela considerava hereges, não sagrados. 
Os chineses criaram, fabricaram e disseminaram o papel, o que contribuiu muito 
para o desenvolvimento da escrita. Para reproduzir os textos em maior número, a con-
tribuição de Gutenberg, ao criar a impressão por meio de tipos móveis, também ampliou 
a possibilidade de acesso à escrita. Outras invenções importantes, como os óculos, a 
máquina de escrever e os processos fotográficos também contribuíram para disseminar 
a escrita e preservar a cultura.
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UNIDADE Evolução Histórica e Social da Escrita e Leitura 
O acesso à escrita está relacionado ao desenvolvimento de um povo. O número de 
analfabetos é muito maior em países não desenvolvidos. Os analfabetos de um país são 
as pessoas menos favorecidas cultural, econômica e politicamente.
Os registros de uma sociedade que possui a escrita são feitos por aqueles que a dominam. 
Assim, muitos fatos da história são relatados e registrados por uma elite, não pelos “perde-
dores” ou menos favorecidos.
A escrita também sempre foi alvo daqueles que buscavam subjugar um povo, pois a 
destruição da escrita destrói o registro de uma cultura. Os nazistas, por exemplo, ao as-
sumirem o poder, mandaram queimar todos os livros de ideologias diferentes das deles. 
 Da mesma maneira, os aliados, vitoriosos da Segunda Guerra Mundial, mandaram quei-
mar todos os livros de inspiração nazista.
A Língua Escrita em Funcionamento 
Na análise histórica da escrita, observamos a relação do sujeito com a linguagem as-
sociada a uma técnica, uma invenção, uma tecnologia, que permite a ele atribuir sentido 
ao mundo. A oralidade foi nossa primeira via de acesso à linguagem, pela escuta e fala. 
O acesso à linguagem pela escrita é realizado pelo olhar, pelo visual. O conhecimento 
que circula pela escrita na pedra, na argila, no papiro, no livro impresso ou na tela do 
computador pode ser chamada de tecnologia da linguagem. 
A tecnologia que o ser humano inventa para transformar o mundo, também o trans-
forma. A tecnologia usada tem efeito sobre a escrita e sobre a língua. Não se escreve da 
mesma maneira no computador e na pedra ou no papiro, pois os instrumentos mudam, 
e com eles a relação do sujeito com a linguagem, com a escrita, com o conhecimento 
sobre a língua, com a construção das relações sociais.
Inicialmente o domínio da escrita era para poucos. Com o crescimento das cidades, 
o surgimento das indústrias, o desenvolvimento econômico, cultural e social, o acesso 
à escrita tornou-se necessário e restrito àqueles que podiam pagar. O ensino da escrita 
era individual, orientado por preceptores que dominavam a arte da escrita. Ler e es-
crever eram atividades distintas. Havia preceptores diferentes conforme a especialização 
em escrita, leitura ou matemática. A partir da reprodução da escrita na forma de livros, 
almanaques, panfletos, entre outros formatos, o acesso à cultura exigia que a maioria das 
pessoas aprendesse a ler e escrever. Assim, as escolas foram construídas para substituir os 
preceptores e transformaram o ensino individual em ensino de massa. 
O ensino transferido para a escola se preocupa com o processo que passou a ser chama-
do de alfabetização, buscando desenvolver metodologias que permitissem a aprendizagem 
da leitura e escrita. Herdamos, em nossas escolas, essa concepção de alfabetização escolar. 
A escrita pode ser analisada buscando-se entender como as diferenças gráficas in-
dicam as variedades sonoras, pois, na sua origem, a tentativa era essa, de desenvolver 
um sistema gráfico espelhado na fala. O problema é que esse referencial passou a ser o 
mesmo para alfabetizar, e os alfabetizados foram convencidos, por muito tempo, que, 
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para dominar a escrita, bastava seguir com o olhar o texto escrito transformando em 
sons as letras, sílabas e palavras.
Uma coisa é o princípio da construção da escrita, outra bem diferente é a dinâmica 
do uso. Para analisar o uso da escrita é preciso observar a importância que ela tem no 
mundo em que se vive, a variedade presente no cotidiano das pessoas, a pluralidade 
de intenções na leitura, ou como se busca uma informação diante da escrita, o que é 
preciso fazer para compreender o significado do que está escrito.
Tanto a língua escrita como a oral são compostas de algumas características físicas 
chamadas de estrutura de superfície. Por exemplo, o som de uma palavra ou as letras 
da palavra fazem parte da estrutura de superfície de uma língua. 
O significado da palavra é chamado de estrutura profunda. Quando ouvimos uma 
pessoa falar, não ouvimos apenas os sons, mas os classificamos pelo significado que 
possuem. Ou seja, quando ouvimos uma pessoa falar, não nos preocupamos apenas 
com os sons, mas com seu significado, com a estrutura profunda da língua. Uma pa-
lavra pode ter mais de um significado, pode variar dependendo da frase, pode ser um 
substantivo ou um adjetivo etc. 
No mundo há mais ou menos de 3 a 4 mil línguas e todas possuem uma estrutura de 
superfície diferente da estrutura profunda e palavras que têm mais de um significado. Além 
do significado, uma palavra pode ter um sentido. Por exemplo, a palavra automóvel pode 
ter o mesmo significado para duas pessoas, mas terá sentidos diferentes para quem sofreu 
recentemente um acidente de automóvel e para quem irá adquirir pela primeira vez um 
automóvel novo. Há histórias e experiênciasdiferentes associadas às palavras.
Importante!
Um educador precisa estar atento à estrutura profunda da linguagem de seus alunos, 
ao significado e sentido que eles atribuem às palavras. A comunicação pode ser alterada 
pelas diferenças atribuídas a estrutura profunda da língua.
As pessoas que vivem num mesmo meio cultural desenvolvem uma mesma organi-
zação do mundo e a linguagem tende a refletir esse mundo. Nesse nosso século, temos 
acesso a infinitas informações, tecnologias digitais, mobile, internet das coisas, com 
novos suportes, reprodução e formas de comunicação. A escrita permeia as novas tec-
nologias e introduz uma variedade de significados e sentidos na interpretação do mundo. 
As crianças nascem explorando as tecnologias digitais, mergulham em um mundo de 
palavras espalhadas pela cidade, manuseiam jornais, revistas, assistem televisão. Nesse 
complexo contexto da escrita, não parece ser eficaz usar como única estratégia o prin-
cípio fundamental do sistema alfabético.
Nem todos que vivem em uma mesma cidade têm acesso aos mesmos meios culturais e tec-
nológicos. A escrita terá diferentes sentidos para crianças que têm ou não acesso aos mes-
mos meios. Como educador, então, como incluir essas crianças na compreensão da escrita? 
A escrita se transforma e as estratégias de leitura, também. A seguir, exploraremos 
essa transformação e alguns aspectos que estão presentes no ato de ler.
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UNIDADE Evolução Histórica e Social da Escrita e Leitura 
A Leitura e suas Modalidades 
Ler na Antiguidade tinha uma relação estreita com a oralidade. A leitura era em voz 
alta. A escrita era pouco valorizada. O diálogo era usado como a principal forma para 
a transmissão das informações. Sócrates nada escreveu. Platão, discípulo de Sócrates, 
apesar de suas restrições em relação à escrita, escreveu suas ideias em forma de diálogo 
para preservar a metodologia do mestre. Para esses dois filósofos da Antiguidade, a 
comunicação deveria ter alma, emoção e ser pública. No coletivo, surgiam diversas 
opiniões sobre um assunto e o contraditório permitia o debate das ideias. Para eles, 
a escrita se mostrava fria, porque não trazia o debate de ideias, não contemplava o 
contraditório e, ainda mais, não estimulava a memória. 
Para alguns estudiosos, pode-se interpretar a resistência dos filósofos à escrita por ela 
ser uma nova tecnologia. A resistência sempre está associada ao surgimento de novas 
tecnologias, como, por exemplo, muitos consideraram que o computador iria destruir o 
livro, o DVD iria destruir o cinema, a televisão o rádio. 
A escrita em documentos antigos era produzida em rolos de papiro com as palavras 
escritas em colunas, sem que houvesse espaço em branco entre elas. Para ler, era preciso 
segurar o rolo com as duas mãos, o que dificultava a leitura da obra toda, permitindo o 
acesso somente a alguns trechos da obra. Ler e escrever ao mesmo tempo era impensável. 
Os rolos eram chamados de volumen (Figura 4).
Figura 4 – Exemplo de volumen
Fonte: Getty Images
Apesar das dificuldades para a leitura, foram criadas, na Antiguidade, grandes biblio-
tecas, como a de Alexandria, no Egito, século II, que possuía mais de 500 mil obras. 
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Figura 5 – Códice
Fonte: Getty Images
A partir do século II, o pergaminho permitiu organizar o texto em códice, lâminas de 
folhas sobrepostas, o qual foi um precursor do livro O códice facilitou a leitura.
Os centros de cultura da Antiguidade foram destruídos pelas invasões bárbaras e a 
leitura passou para dentro dos templos e das igrejas, realizada a partir das Sagradas 
Escrituras cristãs. Até o século X, poucas pessoas sabiam ler e a leitura era pública, 
ou seja, uma pessoa lia e as outras escutavam. Acreditava-se que as palavras lidas pro-
vocavam bons sentimentos naqueles que as ouviam. Eram poucos os textos copiados 
manualmente por profissionais chamados copistas, a partir de uma espécie de “ditado”. 
A leitura silenciosa foi uma revolução no ato de ler, sendo registrada pela primeira vez 
por Santo Agostinho, que testemunhou a leitura de Santo Ambrosio, sem que ele mo-
vesse os lábios e a língua. Ler em silêncio exige mais concentração, é mais rápido do que 
em voz alta e liberta o leitor para seguir o seu ritmo de leitura, voltar ou pular parte do 
texto. Alguns críticos da época censuravam o ato de ler silenciosamente, considerando 
perigosa essa forma de leitura, que era um sonhar acordado, podendo despertar o ócio 
no leitor. Apesar das críticas, a leitura silenciosa se disseminou e foi necessário introduzir 
a pontuação e os espaços em branco entre as palavras para facilitar o ato de ler.
A Igreja cuidava da escrita, preservando e copiando os textos produzidos, e, também, 
ensinava a ler àqueles que desejassem seguir carreira religiosa. A aprendizagem era em 
Latim, decorando o Livro dos Salmos. A Igreja desenvolvia também, nas suas casas pa-
roquiais, o catecismo para as crianças. Esta forma de ensino coletivo irá inspirar, mais 
tarde, as salas de aula das escolas e o contato das crianças com a escrita e leitura.
Lutero abalou o equilíbrio existente nos monastérios. Comprometido com a reforma 
da Igreja ele precisava de adeptos, de ampliar o acesso às suas ideias. A escrita foi o 
caminho que ele seguiu e passou a fazer campanha para a escolarização das crianças, 
alfabetização de todos e começa a propagar a ideia que o melhor amigo do ser humano 
é o livro. Nessa época, a reprodução dos textos era facilitada pelos tipos móveis desen-
volvidos por Gutenberg. Lutero produziu na sua tipografia trinta publicações com suas 
ideias e em três anos (1517 a 1520) vendeu mais de 300 mil exemplares.
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UNIDADE Evolução Histórica e Social da Escrita e Leitura 
A Igreja excomungou Lutero e elaborou uma ideologia para a escola baseada na for-
mação cristã. Desenvolveu muitos textos para se contrapor às ideias de Lutero. Embora 
o embate entre Lutero e a Igreja fosse religioso, a história da escolarização da alfabeti-
zação em massa, voltada a todas as classes sociais, tem origem na luta entre a Reforma 
Protestante e a Contrarreforma. 
Com o desenvolvimento das cidades entre o século XI e XIV, o acesso à escrita, restrito 
à aristocracia, amplia-se para a população. As escolas tornam-se responsáveis pela alfa-
betização, os livros, instrumentos do saber, e as bibliotecas, espaços de leitura silenciosa.
Havia, inicialmente, poucos livros e eles eram caros. Eram produções artesanais e 
cada artesão colocava sua arte na composição de cada uma das folhas. O contato físico 
com o livro, com seu padrão gráfico, despertava um prazer estético, na manipulação de 
uma verdadeira obra de arte. Além de admirar o aspecto gráfico, o leitor lia da primeira 
até a última linha, aproveitando a rara e especial oportunidade de contato com uma obra 
de arte. Era muito comum ler e reler diversas vezes o mesmo livro. As leituras eram 
comentadas em rodas familiares e sociais e nos clubes de leitura. 
Nas escolas, os professores ditavam para os alunos os conteúdos dos livros. Estudantes e 
professores realizavam anotações em cadernos que os acompanhavam pela vida. O ditado 
foi uma herança que, por muito tempo, se reproduziu na educação.
O desenvolvimento urbano trouxe a necessidade de um número maior de pessoas 
educadas social, profissional e culturalmente preparadas. O analfabetismo passou a ser 
discriminado, pois uma pessoa que não dominava a escrita era considerada um ser eco-
nomicamente desadaptado, sem acesso à cultura dominante da sociedade. 
A técnica de reprodução da escrita, por meio das prensas, permitiu o aumento do 
número de livros e o surgimento de outros formatos de publicações. O cordel, impressos 
de venda ambulante, almanaques, jornais e revistas propiciaram o desenvolvimento de 
novas estratégias de leitura, mais rápidas e variadas, em comparação com a dos livros. 
As novas publicações passaram a ser consumidas como entretenimento. 
Se até o final do século XVI a leitura era somente de livros sacros, no séculoXVII as 
obras profanas invadiram o mundo, na forma de almanaques, contos populares e amo-
rosos. Considerava-se, então, dois tipos de leitores: os que liam em família conteúdos 
sacros e edificantes e aqueles que liam individual e silenciosamente conteúdos profanos. 
No século XVIII, a produção de romances era mal vista pela maioria das sociedades, 
pois essas consideravam que as histórias de amor poderiam abalar os princípios das lei-
toras solteiras, com ideias consideradas impróprias. A preferência dos leitores era pelos 
textos de história e de acontecimentos de viagem. Os clubes de leitura reuniam pessoas 
interessadas em ler e discutir os diversos textos. 
Não existiam também direitos autorais e os escritores eram profissionais como mé-
dicos, advogados, padres, funcionários públicos, entre outros. Um dos almanaques, La 
France Litteraire, em 1756, publicou uma relação com os 1187 escritores vivos, na 
época, sendo que apenas 16 eram mulheres.
Rolf Engelsing e David Hall, em pesquisas independentes sobre a leitura, consideram 
que, no século XVIII, houve uma revolução na leitura, classificando-a em dois modelos: 
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Importante!
• Da Idade Média até 1750: a leitura era intensiva. Lia-se em voz alta e em grupo várias 
vezes a Bíblia, almanaques e catecismos;
• A partir de 1750: a leitura era extensiva. Lia-se principalmente romances, novelas e 
jornais. Nos clubes de leitura, as pessoas liam uma obra rapidamente apenas uma vez e 
passava-se para a próxima leitura. A leitura transforma-se em entretenimento.
A partir do século XVIII, há uma preocupação em formar leitores para consumir mais 
livros. Os educadores, preocupados com o incentivo exagerado a leitura, divulgavam alertas 
para os riscos de excesso de leitura. Inicia-se, também, nesse período, a produção de livros 
didáticos para permitir uma boa formação das crianças. 
Rousseau publica, em 1761, o romance Nouvelle Héloise, o maior bestseller do século XVIII. 
A procura do livro superou o fornecimento dos livreiros e ele foi alugado por dia e até por 
hora. O romance explora um amor proibido em um contexto de natureza e cultura. 
A escrita, hoje, está presente na maioria das atividades da nossa vida. A escrita social 
com caracteres e funções diferentes propicia leituras diferentes. Para retirar a informação 
desejada da leitura, são usadas diversas estratégias. A flexibilidade na atenção, a identifi-
cação de diferentes formas de leitura são fundamentais para que o ser humano moderno 
possa apreender o sentido de um texto. 
Infelizmente nem sempre a escola leva em conta a escrita diversificada da vida social 
e a evolução das modalidades de leitura. A escola costuma centrar a leitura em livros, na 
escrita literária. Contudo, há uma abundância de informações no nosso tempo, e se lê 
apenas uma pequena parcela do que é produzido. É preciso estimular a leitura de cartazes, 
cardápios, placas de rua, embalagens, entre outros meios da escrita, além dos livros. 
Ler é uma atividade complexa é ideovisual, envolve o que está na frente e atrás do 
olhar. É uma atividade visual porque depende de um texto, da iluminação do ambiente 
e, às vezes, de um par de óculos. Mas o leitor também precisa de informações que estão 
na sua cabeça, na sua estrutura cognitiva. 
Leitura pressupõe previsão, antecipar natureza e conteúdo do texto. A previsão da 
natureza do texto está relacionada com as palavras e letras. Há letras e palavras que 
são mais frequentes em uma língua. Ao praticarmos a leitura, aprendemos quais são as 
letras e palavras mais frequentes e como isso conseguimos antecipar a leitura, eliminar 
a incerteza diante do texto. 
No dicionário Aurélio, em 2020, constata-se 435.000 palavras com significado (ver-
betes). O número de palavras que uma pessoa de instrução média usa é em torno de 
1500 palavras. A antecipação das palavras conhecidas e letras mais frequentes ajuda na 
leitura de um texto. 
O que diferencia um texto fácil de um texto difícil em relação ao conteúdo? 
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Em relação ao conteúdo, a previsão, a antecipação, depende do conhecimento que 
temos sobre o assunto a ser lido. Algumas pesquisas indicam que a facilidade da leitura 
de um texto está relacionada a 80% de informações conhecidas e 20%, desconhecidas. 
Para uma boa leitura, o leitor depende mais de informações não visuais do que visuais. 
Ler é atribuir significado a um texto escrito. O significado que o leitor atribuirá ao 
texto depende do que já conhece sobre o assunto, do seu interesse e das questões que 
ele se coloca. A leitura depende do que se conhece e do que se procura conhecer. 
A leitura não é um saber, é uma prática. 
Quais as consequências dessas ideias para o ensino da escrita e leitura na escola?
Em Síntese
Em amplos saltos históricos e sem maiores aprofundamentos, viajamos pelo tempo no 
processo de construção da escrita e da leitura. Condições sociais, políticas e econômicas 
levaram ao desenvolvimento da escrita, como forma de intercomunicação humana e 
marco da passagem da pré-história para a história. Observamos como a partir dos regis-
tros escritos é possível conhecer melhor a vida e o desenvolvimento dos povos. A escrita 
depende de um processo de civilização. 
Como toda tecnologia, a escrita também sofreu resistência. Apesar disso, sua existência se 
aprimorou nos suportes e nas técnicas de reprodução que permitiram sua disseminação por 
todo planeta. Nas lutas de poder dos povos, a escrita é alvo de destruição, pois nela encon-
tramos o pensamento e a cultura de um grupo social. Embora importante para a vida em 
diferentes povos e culturas, é, também, inacessível à camada das populações mais vulneráveis.
A escrita se transforma diante das mudanças culturais, econômicas e tecnológicas. A escri-
ta se modifica nos novos suportes e ambientes, os quais vão das pedras aos computadores. 
A leitura dos registros escritos representados por desenho evoluiu para sons de letras e pala-
vras em diversas línguas. Mas, além deles, a escrita também traz na sua estrutura profunda o 
significado. A forma como interpretamos o mundo e a experiência com as palavras é social, do 
nosso grupo, mas também é individual, depende da nossa estrutura cognitiva. O significado 
da escrita é social, mas também individual. Construímos estratégias de leitura para responder-
mos às questões que nos formulamos diante dos textos, nos mais diversos formatos, da nossa 
sociedade. Quem atribui significado ao texto é o leitor. 
Educadores que somos, preocupados com o acesso à escrita e à leitura das crianças das 
nossas comunidades, precisamos conhecer e aprofundar conteúdos associados ao ato de 
escrever e ler. O desenvolvimento da escrita e leitura, os contextos históricos e culturais, os 
diversos suportes e reprodução, as características estruturais da língua geram reflexão e 
alguns critérios para a seleção de estratégias de ensino para o ler e escrever. 
Esperamos que este texto, um pequeno recorte da história e evolução da escrita e lei-
tura, tenha mobilizado você para a formulação de muitas outras questões e que sua 
curiosidade encontre em outros textos e recursos formas para completar, aprofundar, 
discutir alguns dos pensamentos aqui registrados. 
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
A importância do ato de ler em três artigos que se completam
Nesta obra, Paulo Freire apresenta em três artigos a importância da leitura e as-
pectos relacionados à educação de adultos. No primeiro artigo, A importância do 
ato de ler, que recomendamos para sua leitura, Freire retoma o ato de ler o mundo, 
ilustrando com fatos da sua infância e nos faz refletir sobre aspectos como a leitura 
de mundo precede e interfere na leitura dos textos. Freire explora aspectos do sig-
nificado da leitura que contribuem para o aprofundamento da questão da relação 
da leitura como o momento histórico e social do sujeito. 
https://bit.ly/3qbZb8lVídeos
A História da Escrita
A História da Escrita de Milton Karam, Turma dos Escribas, Mistérios da Escrita e 
Papiros. É um vídeo de seis minutos que apresenta por meio de uma trilha sonora 
e animação a história da escrita, das pinturas rupestres até o alfabeto. 
https://youtu.be/yzbWClcROPo
Ler é um ato de poder
Ler é Poder. É um trecho editado de 5 minutos de uma palestra na Fronteira do 
Pensamento, de Alberto Manguel, que é o autor de obras como Dicionário de luga-
res imaginários, Uma história da leitura e A cidade das palavras – as histórias que 
contamos para saber quem somos. A palestra é em espanhol, com tradução para o 
português. No trecho da palestra, Manguel explora a importância de um leitor em 
uma sociedade, o poder que ele dispõe de ser crítico e o perigo que isso representa. 
Faz uma retrospectiva do leitor desde os escribas até a sociedade atual. 
https://bit.ly/3p5wxEs
 Leitura
Apontamentos sobre a história da leitura
Esse texto apresenta um breve resumo da história da leitura com o resultado de 
pesquisa de alguns autores em relação à leitura e ao ensino da leitura no passado.
https://bit.ly/2ZakbQJ
Julia a Nova Heloísa: entre a literatura e a filosofia
A autora do texto traz uma análise do romance Julia ou Nova Heloísa de Rousseau, 
o bestseller do século XVIII. A partir dele, você pode conhecer a história do amor 
proibido e como Rousseau explorou literariamente o romance e aspectos importan-
tes educacionais e de concepção do ser humano.
https://bit.ly/3tX4tqD
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UNIDADE Evolução Histórica e Social da Escrita e Leitura 
Referências
BARBOSA, J. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1990.
DICKSON, D. Alfabetização, Escrita e Leitura: Lugares (não) escondidos na História. 
Contexto e Educação, Ano 28, n. 90, maio/ago. 2013. Disponível: <https://www.revistas.
unijui.edu.br/index.php/contextoeducacao/article/view/499>. Acesso em: 01/06/2020.
PALANGE, I. Texto, hipertexto, hipermídia: uma metamorfose ambulante. Boletim 
Técnico do SENAC, v. 38, n. 1, jan./abr. 2012. 
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