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APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO Fortaleza – CE 2016 AUTORES: Antônio Diogo Lustosa Neto Ricardo Nogueira Campos Ferreira João Henrique Cavalcante Bezerra Cássia Rosane Silveira Pinto Marcus Borges Leite Carlos Henrique Profírio Marques Gabriel de Mesquita Facundo Jamile Mota da Costa 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 1 25/02/16 12:10 Reitor José Jackson Coelho Sampaio Vice Reitor Hidelbrando dos Santos Sores Pró-Reitora de Extensão Claudina Nogueira de Alencar Pró-Reitor de Administração Carlos Heitor Sales Lima Diretor da UNEP José Nelson Arruda Filho Coordenador Geral Pronatec Plácido Aderaldo Castelo Neto Coordenador Pronatec Pesca Fábio Perdigão Vasconcelos Coordenador Pronatec Campo Antônio Amaury Oriá Fernandes Coordenadora Pedagógica Maria das Dores Alves Souza Coordenadores Adjuntos Antônio Cruz Vasques Luiz Carlos Mendes Dodt Antônio Diogo Lustosa Neto Ricardo Nogueira Campos Ferreira Articuladora Institucional Rejane Gomes Léa Ramos Secretária Geral Marilde Silva Jorge Assessor Jurídico Thiago Barbosa Brito FUNECE-CE REALIZAÇÃO: PRONATEC / UECE APOIO: EXECUÇÃO: 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 2 25/02/16 12:10 A UECE E O PRONATEC José Jackson Coelho Sampaio Reitor da UECE A lógica de uma grande política pública de educação pro ssional foi testada no Ceará, por Ariosto Holanda, na raiz do sistema CVT/CENTEC. Essa lógica ganhou outros estados e o Brasil, pela construção do PRONATEC, pelo Ministério da Educação-MEC, em seus três eixos: disciplinas técnicas e tecnológicas a serem incorporadas como optativas no histórico escolar de alunos do Ensino Médio; cursos técnicos e tecnológicos, para for- mação inicial e continuada, em modalidade extensionista; e cursos pro ssionais comple- tos de Ensino Médio. A UECE, desde sua criação em 1975, incorpora em sua grade a oferta de cursos técnicos de nível médio, na área da saúde, como Técnico de Enfermagem, seguido pos- teriormente do Técnico em Segurança do Trabalho. Há 10 anos criamos a Unidade de Educação Pro ssional-UNEP, assumindo a complexidade que essa modalidade de ensino oferece, além de sua extraordinária capacidade de inclusão social. A existência da UNEP nos habilitou a obter o direito de sermos ofertantes do PRONATEC, quando a oportuni- dade surgiu. Somos a segunda universidade pública estadual do Brasil, a primeira foi a Univer- sidade Estadual de Montes Claros-UNIMONTES, a poder oferecer a modalidade da forma- ção inicial e continuada, e isto nos orgulha. Sobretudo, por termos obtido o direito em meio à crise político-econômica que vem afetando a capacidade de investir do poder público, em seus níveis federal, estadual e municipal. A UECE oferta 1.600 do PRONATEC em 41 municípios, sendo 1.460 vagas do PRO- NATEC Pesca e 140 vagas do PRONATEC Campo para somar-se ao Sistema “S”, à Secretaria Estadual de Educação-SEDUC, ao Instituto Federal do Ceará-IFCE e ao Instituto CENTEC, no esforço de quali car o poder de trabalho, a criatividade e o empreendedorismo dos cearenses, a m de que uma sociedade talentosa e melhor informada supere as crises político-econômicas e nossa árdua natureza semiárida. Há também um grande esforço institucional, devido às condições de oferta, em tão pouco tempo, na transição 2015/16, que, esperamos, geste resposta solidária, positi- va, efetivamente parceira, dos municípios, dos professores e dos alunos. Sigamos, pois o caminho é belo e uma boa luz nos orienta: Lumen ad Viam! 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 3 25/02/16 12:10 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 4 25/02/16 12:10 1 APRESENTAÇÃO DO CURSO .........................................................................................................................................9 2 APRESENTAÇÃO DA UECE ........................................................................................................................................ 12 3 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................................. 12 4 DISCIPLINA 01 : VALORES NUTRICIONAIS DO PESCADO ............................................................................... 13 5 DISCIPLINA 02 INDENTIFICAR A FISIOLOGIA DO PESCADO ...................................................................... 19 6 DISCIPLINA 03: DESCREVER AS PRINCIPAIS BACTÉRIAS ................................................................................ 37 7 DISCIPLINA 04 : DESCREVER A QUALIDADE DA CARNE DO PESCADO .................................................... 49 8 DISCIPLINA 05: DESCREVER NOÇÕES DE HIGIENIZAÇÃO E DESINFECÇÃO, MANUALMENTE , PARA CONHECIMENTO DAS PRÁTICAS ................................................................................................................................... 78 9 DISCICPLINA 06: ABORDAR SOBRE O SISTEMA DE ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRITICOS DE CONTROLE APPCC .......................................................................................................................................................... 99 10 DISCIPLINA 07: DETALHAR OS SETORES DE BENEFICIAMENTO ...........................................................117 11 DISCIPLINA 08 DISCUTIR SOBRE LEGISLAÇÕES DOS SISTEMAS DE INSPEÇÃO ...........................131 12 DISCIPLINA 09: DISCUIR SOBRE O SISTEMA DE RESERVATÓRIOS DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUA ......................................................................................................................................................................................146 13 DISCIPLINA 10: APLICAR OS PRINCIPIOS MÉTODOS DE CAPTURA DOS RECURSOS PESQUEIRO....148 14 DISCIPLINA 11: APLICAR OS PRINCIPIOS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO DO PESCADO ..............164 15 DISCIPLINA 12 PREPARAR O LOCAL DE TRABALHO PARA O PROCESSAMENTO ........................190 16 DISCIPLINA 13 PREPARA MATÉRIA PRIMA E INGREDIENTES .................................................................195 17 DISCIPLINA 14 PROCESSAR PRODUTO ........................................................................................................198 18 DISCIPLINA 15 PREPARAR PRODUTOS A BASE DE PESCADO ...............................................................201 19 DISCIPLINA 16 APRESENTAR OS PRODUTOS DE FABRICAÇÃO ...........................................................207 20 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFIA ..................................................................................................................................209 SUMÁRIO 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 5 25/02/16 12:10 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 6 25/02/16 12:10 OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 7 25/02/16 12:10 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 8 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 9 1 - APRESENTAÇÃO DO CURSO O curso voltado para formar o Operador de Bene ciamento de Pesca- do visa trabalhar as competências básicas, especí cas e de gestão necessárias à realização, com proatividade, autonomia, segurança e qualidade, das atividades inerentes ao exercício da pro ssão. Tais atividades dizem respeito à atuação do Operador de Bene ciamento do pescado, fornecendo uma alimentação sustentá- vel de qualidade com valor agregado ao consumidor. Esse pro ssional opera sis- temas de manipulação do pescado desde a captura à elaboração de produtos de pescado aplicando a legislação vigente. A programação deve abranger todas as principais competências da ocupação possibilitando que o participante conjugue conhecimento e prática, mas respeitando os limites de profundidade de conteú- do, uma vez que se trata de quali caçãobásica, que abre caminhos para ofertas formativas complementares. Competências que deverão ser evidenciadas ao nal da capacitação em or- dem de prioridade: • Competências técnicas; • Competências de educação permanente; • Competências sociais e interpessoais; • Valores humanísticos. Disciplinas das competências técnicas: • Apresentar os valores nutricionais dos peixes; • Identi car a siologia dos pescados; • Descrever a qualidade da carne do pescado; • Descrever noções de higienização e desinfecção, manualmente, para conhecimento das práticas técnicas; • Abordar sobre o sistema de Análises de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC); • Detalhar os setores de bene ciamento; • Discutir sobre legislações dos sistemas de inspeção; 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 9 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 10 • Discutir sobre o sistema de reservatórios de armazenamento de água; • Aplicar os principais métodos de captura dos recursos pesqueiros; • Aplicar os principais métodos de conservação do pescado; • Preparar o local de trabalho para o processamento do pescado; • Preparar matéria prima e ingredientes; • Processar produto. • De acordo com o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produ- tos de Origem Animal (RIISPOA), artigo 438, entende-se que pescado compreen- de os peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios e mamíferos de água doce ou salgada utilizados na alimentação humana. Por serem altamente perecíveis, exigem cuidados especiais na manipulação, armazenamento, conservação, trans- porte e comercialização, sendo que a qualidade do produto nal dependerá de como a matéria-prima chegará a indústria e das condições disponíveis durante o processamento. A agregação de valor surge como importante fonte de recursos para o pescador/produtor, pois aumenta o valor unitário da matéria prima, mediante o manuseio, gerando uma melhor qualidade, atratividade, conveniência ou apre- sentação. O certo é que o processo de agregação de valor constitui-se de muitas etapas e fases, que precisam ser analisadas e compreendidas por todas as pessoas envolvidas no processamento de pescados. Tem-se notado que não basta somente ensinar a produzir alimento, é ne- cessário ensinar a processar este alimento e apresentá-lo de forma fácil ao consu- midor, pois ninguém quer mais comer peixe e ter que tirar suas espinhas, e além disso a forma de apresentação e o tamanho adequado para uma refeição são fato- res importantes que hoje in uenciam o consumidor na hora da compra. A escolha do consumidor também pode in uenciar no lucro para produtor, pois o comprador pode pagar mais por um produto que não apresente perdas difíceis de se calcular. Um exemplo é a linha institucional (restaurantes e cozinhas industriais), onde o produtor oferece o seu pescado já em forma de porção, pron- to para ir ao forno ou à frigideira, e o comprador (o restaurante), sabendo quanto pagou pela porção, terá mais facilidade em preci car, determinando assim qual será o lucro do restaurante. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 10 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 11 A importância do pescado como fonte de nutrientes de alta qualidade para a dieta humana foi fortalecida nas últimas décadas. Contudo, existe uma preocupa- ção com os recursos pesqueiros naturais, haja vista que a atividade pesqueira está sobre explorada e desde os anos 2000 encontra-se estagnada em noventa milhões toneladas. A redução dos estoques pesqueiros naturais, segundo Jiang (2010), é um problema relacionado à segurança alimentar e ao bem-estar social mundial. Entretanto, de acordo com as informações levantadas no documento Es- tado da Pesca e Aquicultura, publicado pela Organização das Nações Unidas de Alimentos e Agricultura (FAO, 2014), a produção de pescado mundial tem crescido constantemente nas últimas cinco décadas. Isso é devido a produção aquícola que está em plena expansão. Paro o ano de 2012 a produção aquícola mundial alcançou 66,6 milhões de toneladas, excluindo as plantas aquáticas. A mesma instituição a rma que o pescado como fonte alimentar tem au- mentando a uma taxa média anual de 3,2%, enquanto o crescimento populacio- nal mundial está a 1,6%, sendo esse um dos fatores que contribuíram para o au- mento do consumo per capita anual de 9,9 kg em 1960 para 19,2 kg em 2012. Entretanto, outros elementos como a ascensão da renda familiar, a urbanização, e a forte expansão da produção de peixe e canais de distribuição mais e cientes ajudaram a impulsionar este aumento do consumo. No Brasil, estima-se que o volume de pescado produzido na pesca e aqui- cultura gira em torno de 1,2 milhão de toneladas. A produção aquícola brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística (IBGE, 2013) foi de 476.522 toneladas, sendo 392.493 toneladas provenientes da piscicultura, ou seja, 82,4%, tendo como maiores produtores os estados de Mato Grosso, Paraná e Ceará com os respectivos volumes produzidos de 75.630, 51.143 e 30.670 toneladas. Diante do exposto, o curso de Operador de Bene ciamento de Pescado de educação pro ssional de Formação Inicial e Continuada – FIC se justi ca pela importância do tema na economia brasileira e como uma oportunidade de atua- lização e formação de pro ssionais quali cados, favorecendo, dentre outros, os estudantes do ensino médio da rede pública, os trabalhadores e bene ciários dos programas federais de transferência de renda. Nessa perspectiva, a UECE propõe-se a oferecer a apostila do Operador de Bene ciamento de Pescado por entender que contribuirá para a busca/aquisi- ção do primeiro emprego, a elevação da escolaridade e o empreendimento pró- prio dessas pessoas, bem como para a formação humana integral e com o desen- volvimento socioeconômico da região articulado à missão e objetivos da UECE. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 11 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 12 2 - APRESENTAÇÃO DA UECE A Universidade Estadual do Ceará (UECE) é uma universidade pública brasileira, com atuação em ensino, pesquisa e extensão, mantida pela Fundação Universidade Estadual do Ceará (FUNECE). A instituição é uma das três universida- des mantidas pelo Governo do Estado do Ceará, ao lado da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e da Universidade Regional do Cariri (URCA). Seu principal campus é o do Itaperi, que está localizado no bairro do Itaperi, na cidade de For- taleza. A universidade conta ainda com campi no Bairro de Fátima, em Fortaleza, e nas cidades de Limoeiro do Norte, Itapipoca, Tauá, Quixadá, Crateús e Iguatu. Criada em 1975, a partir de institutos de ensino superior isolados que existiam em várias regiões do estado, a UECE possui atualmente cerca de 20 mil estudantes e 800 professores espalhados por 12 centros e faculdades, que oferecem 77 cursos de graduação presenciais e à distância, 27 mestrados, nove doutorados, 154 gru- pos de pesquisa atuantes em 138 laboratórios e 57 projetos de extensão. 3 - INTRODUÇÃO Ao longo de seu vasto litoral, juntamente com os inúmeros rios que cortam seu território, o Brasil concentra uma das maiores reservas de peixes do mundo. Paradoxalmente, estamos entre os países de menor consumo de pescados. Diver- sos fatores contribuem para a existência deste quadro, tais como o alto custo do transporte, encarecendo o produto nal, e hábitos alimentares que supervalori- zam a carne bovina em detrimento de outros alimentos. Porém, a tendência do mercado é a de expandir-se cada vez mais. O consumo vem aumentando, apesar de concentrar-se mais no litoral ou em regiões onde o peixe de água doce é abun- dante. Novos postos de venda estão sendo abertos e muitos empreendedores têm se interessado por este ramo (seja ao nível da pesca, aquicultura, transporte ou comercialização). Além disso, o consumidorestá consciente das propriedades do pescado, que compõe um grupo de alimentos altamente nutritivos, rico em proteínas, sais minerais e vitaminas diversas, além de apresentar baixos teores de gordura. Outro aspecto que está se destacando é a crescente pro ssionalização do setor, deixando cada vez mais distante a imagem da carroça do ambulante ou do peixe embrulhado em jornal. Apesar da sazonalidade, o mercado vem responden- do satisfatoriamente, embora o pescado ainda não esteja totalmente incorporado 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 12 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 13 aos hábitos alimentares do brasileiro. A venda de pescado costuma estar atrelada ao preço da carne bovina. Contudo, no período da Quaresma, culminando na Sex- ta-Feira da Paixão, o nível de consumo sobe de maneira altamente signi cativa. Todas a classes sociais são consumidoras de pescado, embora este ainda não seja um hábito totalmente incorporado no país. Muitas pessoas ainda tem forte tendência a valorizar a carne bovina em detrimento do pescado. O aspecto econômico pesa na decisão de boa parte do público consumidor, que muitas vezes abre mão do pescado, por encontrar carne bovina e de frango a preços mais acessí- veis. Esta variável atinge diretamente a população de baixa renda e um segmento da classe média. As pessoas de mais baixo poder aquisitivo preferem os chamados peixes de segunda linha, como sardinha, corvina, manjuba e praticam baixo con- sumo de camarão. Na classe média normalmente não existem preferências especí- cas, podendo-se diversi car a oferta. Por m, a classe alta consome regularmente o pescado de primeira linha, como robalo, garoupa, badejo e frutos do mar. 4 - DISCIPLINA 01 : VALORES NUTRICIONAIS DO PESCADO 4.1 - INTRODUÇÃO À TECNOLOGIA DO PESCADO Embora o Brasil tenha uma costa oceânica de aproximadamente 8.000km, ainda não produz, através da pesca, uma quantidade de pescado su ciente para suprir a demanda do total de habitantes, necessitando assim importar pescado. Com o crescimento da população mundial, torna-se necessária a busca por ali- mentos alternativos. O pescado é um importante constituinte da dieta humana, já que é fonte de diversos componentes com signi cado valor nutricional, como proteínas de alta qualidade, vitaminas, minerais e lipídeos. É indiscutível o excelente valor nutritivo da carne de peixe, o que a torna um dos melhores alimentos existentes. A carne é rica em proteínas, possuindo quantidades mínimas de tecido conjuntivo, que se torna gelatinoso no processo de cozimento, no que se traduz em maciez e alta digestibilidade. É também ex- celente fonte de vitaminas do complexo B, de minerais e de ácidos graxos como ômega 3. Conhecer a composição química do pescado é de grande importância, quando se pretende submetê-lo aos métodos de processamento e conservação. Nos dias atuais, a indústria de pesca tem crescido consideravelmente, tanto pelo aumento da demanda do consumidor, como pelas inovações tecnológicas 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 13 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 14 pelo qual a indústria está passando, porém é necessário acompanhar estas inova- ções com a melhoria dos programas de inspeção de qualidade e processamento. É necessário estudar os mecanismos de alterações intrínsecas do pescado após a captura, determinar a in uência das condições de manuseio e de conservação, na qualidade e estabilidade do pescado congelado, e obter métodos analíticos objetivos de avaliação de frescor, que tenham estreita relação com análise sen- sorial, organoléptica e microbiológica, a m de garantir a qualidade de produtos oferecidos para a população. O pescado é um dos alimentos mais perecíveis e por isso necessita de cui- dados adequados desde que é capturado até chegar ao consumidor ou à indús- tria transformadora. A maneira de manipular o pescado nesse intervalo de tem- po determina a intensidade com que se apresentam as alterações enzimáticas, oxidativas e/ou bacterianas. A indústria do pescado é possuidora de vasta gama de espécies utilizadas para elaboração de produtos comestíveis, variando desde peixes, moluscos, quelônios, até anfíbios. Sabendo-se dessa grande variedades de espécies subentende-se que existem inúmeras formas de elaborar produtos, havendo tecnologias diferenciadas aplicadas para cada espécie e ainda tecnolo- gias diferenciadas para uma mesma espécie. Ao se fazer o processamento, está-se agregando valor a uma matéria-prima perecível, que passa ser um produto de uma maior vida útil de prateleira e com novas opções de consumo. O bene ciamento do pescado possibilita a comercialização do produto de forma higiênica, aumentando a vida útil e incrementando sua qualidade. Assim, agrega-se valor ao produto in natura, obtém-se um produto diferenciado e com- petitivo e são oferecidas novas opções ao consumidor. Além da conhecida produ- ção de lés, novas alternativas podem ser viabilizadas, como por exemplo, a utili- zação de Carne Mecanicamente Separada (CMS) ou polpa de pescado. Com essas matérias-primas semi-elaboradas, podem ser preparadas várias formulações de alto valor nutricional e de grande palatabilidade. Algumas vantagens de se utilizar a polpa de pescado em relação ao peixe letado são o maior rendimento de car- ne, a possibilidade de aproveitamento de diversas espécies e a enorme e criativa linha de produtos que pode ser comercializada como shburguer (hambúrguer de peixe), nuggets, linguiças, quibes, etc. De acordo com o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produ- tos de Origem Animal (RIISPOA), artigo 438, entende-se que pescado compreen- de os peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios e mamíferos de água doce ou salgada utilizados na alimentação humana. Por serem altamente perecíveis, 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 14 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 15 exigem cuidados especiais na manipulação, armazenamento, conservação, trans- porte e comercialização, sendo que a qualidade do produto nal dependerá de como a matéria-prima chegará a indústria e das condições disponíveis durante o processamento. 4.2 - APRESENTAR OS VALORES NUTRICIONAIS DO PESCADO Um grande impulso foi dado ao consumo de pescado após as descobertas da Ciência da Nutrição, mas devido principalmente à presença de vitaminas A e D no óleo do fígado de peixes. A carne de pescado é recomendada como fonte de proteínas de alto valor biológico e o pescado inteiro, em forma de farinha, como fonte de cálcio e fósforo. Há também recomendação de ingestão devido ao baixo colesterol e alto teor de ácidos graxos insaturados para dietas de pacientes que sofrem das coronárias. Indiscutivelmente o primeiro ponto a considerar em ter- mos de valor nutritivo do pescado é o referente à proteína. Experiências de mais de um século mostram que em um mesmo País há regiões, como é o caso de algumas áreas do Nordeste do Brasil, onde não há de - ciência protéica devido ao hábito do consumo de pescado. Tribos indígenas tam- bém não apresentam de ciências protéicas devido à prática da pesca. Na África, onde se registra o “Kwashiorkor” endêmico não se registra o consumo de peixes. Ao recomendar o pescado em uma dieta, podemos escolher peixes magros com menos calorias e no entanto manter o teor protéico de aproximadamente 18%. A suplementação da dieta à base de arroz pode ser feita com peixes. É o que ocorre no Japão. A porcentagem coberta de aminoácidos na dieta quando consumimos 200g de lé de peixe é maior do que 100% para cinco dos aminoácidos essenciais. A digestibilidade das proteínas de pescado é alta. Os peixes magros são recomen- dados pelos médicos desde longa data pela sua alta digestibilidade; ideal para pessoas que consomem muitos carboidratos (como os brasileiros). Um peixe levamais ou menos 2 horas apenas para ser digerido. Eles estimulam mais a secreção gástrica do que a carne bovina. Tem baixo teor de tecido conectivo o que facilita a mastigação. A digestibilidade média é de 96%, sendo para aves 90% e para bovi- nos 87%. Os aminoácidos isoleucina e lisina iniciam a digestão. Em dietas pobres nestes aminoácidos os peixes exercem especial signi cância. Se a digestibilidade é alta, consequentemente o valor biológico da proteína é alto. O V.B. de peixes varia de 88 a 100. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 15 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 16 Dois motivos são decisivos para que se recomende os peixes em dietas es- peciais às pessoas com problemas das coronárias. O baixo teor em colesterol e a alta quantidade de ácidos graxos insaturados. Os frutos do mar em geral são co- nhecidos como possuidores de maior fonte de lipídeos do tipo omega-3 s. Entre outros efeitos, os ácidos graxos que possuem ligações insaturadas do tipo w-3 s colaboram no abaixamento da pressão sanguínea, e podem evitar doenças co- muns da pele como eczemas e psoríase, além de evitar artrite e ajudar efetiva- mente na formação dos tecidos do cérebro. As pesquisas mostram que a arteriosclerose pode aparecer em pessoas que ingerem grandes teores de colesterol e gorduras saturadas presentes em abundân- cia nas carnes vermelhas e produtos lácteos. A maioria dos frutos do mar apresenta até 11% de colesterol nos lipídeos totais. Já as carnes vermelhas podem ter 48%. Os óleos de peixes são mais hábeis para abaixar o colesterol sanguíneo. Os ácidos poliinsaturados do tipo w-3s di cultam a formação das placas ateromatosas. As lipoproteínas do sangue cam menos densas, mais uídas e portanto pouco capa- zes de transportar o colesterol e os triglicérides para os tecidos do corpo. Pesquisas experimentais de levantamento mostram que populações habitantes de fazendas de peixes americanas, onde o consumo de peixes é 3 vezes maior do que o de ou- tras populações rurais, apresentam o sangue muito menos viscoso. Consumindo 115 g de bacalhau cozido teremos 0,15g de gorduras saturadas. A mesma quan- tidade de carnes vermelhas fornecerá cerca de 10 vezes mais gorduras saturadas. Os peixes podem ser considerados fontes de vitaminas lipossolúveis A e D. Alguns concentram até 50.000 UI/g de vitamina A e 45.000 UI/g de vitamina D no fí- gado. Como as outras carnes, os peixes também fornecem vitaminas do complexo B. Quanto aos minerais, deve-se observar se as análises apresentam especi - cações da parte do peixe analisada. Se inteiro ou a parte comestível. Podem ocor- rer erros de interpretação quanto ao cálcio e ao fósforo. A riqueza em cálcio é de- vida ao esqueleto na forma de fosfato tricálcico e carbonato de cálcio. O pescado de mar é fonte de iodo, elemento importante no controle de doenças ocasionadas pela disfunção da glândula tireóide. 4.2 - COMPOSIÇÃO DA CARNE DE PEIXE � Água: 66-84% (a água in uencia o desenvolvimento de microrganismos, a textura, o sabor e a velocidade de reações bioquímicas); 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 16 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 17 � Proteínas: 15-24% (contêm os aminoácidos essenciais); � Lipídeos: 0,1-22% (variável de acordo com a espécie); � Sais minerais: 0,8-2% (principalmente fósforo, sódio, cálcio e magnésio); � Vitaminas: A, D e Complexo B. 4.3- PROTEÍNAS DO PESCADO: contém todos os aminoácidos essenciais (treoni- na, lisina, valina, leucina, metionina, etc.), e tem alto valor biológico. As proteínas do pescado dividem-se em: � Sarcoplasmáticas � Mio brilas (actina e miosina) � Estroma 4.4 - LIPÍDEOS DO PESCADO: o conteúdo lipídico (gordura) é o que apresenta maior variação dentro da mesma. Depende do tamanho, ciclo biológico, alimen- tação, etc. Dividem-se em: � Magras = 2% � Semi-gordas = 2-6% (truta) � Gordas= 6% Ao se falar em proteínas do pescado, três distintos pontos de abordagem podem ser feitos, todos eles com grande importância: aspectos nutricionais, as- pectos de deterioração e conservação e aspectos industriais. Com relação à quan- tidade e qualidade das proteínas do pescado, pode-se dizer que esta carne é excelente fonte protéica. Considerando uma variação entre as espécies, o teor é sempre alto, da ordem de 15 a 25%. Na qualidade, apresenta todos os aminoáci- dos essenciais, com elevado teor em lisina, aminoácido “starter” do processo di- gestivo e necessário na dieta à base de arroz do brasileiro. A digestibilidade é alta, 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 17 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 18 acima de 95%, conforme a espécie, e maior do que nas carnes em geral e no leite. O valor biológico é próximo de 100, determinado pela alta absorção dos aminoá- cidos essenciais. Com o processamento, como o congelamento a qualidade pro- téica do pescado é mantida, no entanto um descongelamento errôneo pode levar à extração de parte das proteínas. No enlatamento tipo HTST também não há perdas protéicas. A indústria é capaz de concentrar a fração protéica do pescado e produzir os concentrados protéicos com teor protéico de até 95%. O pescado do ponto de vista nutricional, envolvendo os demais componentes como os ácidos graxos insaturados, as vita- minas e os minerais. Do ponto de vista da vida útil do pescado pós captura, a complexidade das proteínas é que determina o “rigor mortis”, o enrijecimento da carne, fase em que há alto teor de ácido lático, o que abaixa o pH e controla a proliferação dos micror- ganismos; ao ceder o “rigor”, as proteínas são hidrolisadas e cam predispostas à ação enzimática e microbiana. Os aminoácidos livres presentes na carne do peixe são responsáveis pelo aroma especial do pescado fresco, após o “rigor” eles são decompostos e há liberação de substâncias aminadas que levam ao “o avour” e caracterizam a deterioração. As 3 formas de prolongar o pré rigor e/ou de manter por mais tempo o rigor, são técnicas de manejo pós abate. A indústria se utiliza das propriedades funcionais das proteínas do pesca- do para produzir novos alimentos, como é o caso do surimi, do kamaboko e dos análogos, tecnologias emergentes no mercado do ocidente, porém seculares no oriente. Ainda, a extração do colágeno permite aproveitar resíduos para obtenção de gelatina industrial. Para a indústria de rações o preparo de farinhas, onde há a concentração da fração proteica, já é feito em todo o mundo e hoje vem sendo substituída pela sila- gem, processo menos oneroso e que leva à maior digestibilidade das proteínas do pescado, podendo ser feita por via química, enzimática e microbiana. Conforme o tipo de resíduo é possível produzir fertilizante marinho. Já os concentrados protéi- cos e /ou hidrolisados se destinam a ns especiais como a alimentação humana e obtenção de peptona para meios de cultura, ou ainda à alimentação de larvas de alevinos em tanques de piscicultura. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 18 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 19 5 - DISCIPLINA 02 - INDENTIFICAR A FISIOLOGIA DO PESCADO 5.1- Fisiologia e Comportamento de Peixes A) SISTEMA NERVOSO Os peixes teleósteos são animais vertebrados mandibulados. Esses animais possuem um eixo de sustentação com vértebras articuladas, a coluna vertebral, que proporciona a eles grande exibilidade do corpo, com a capacidade de exe- cutar movimentos vigorosos. A presença de nadadeiras pares auxilia nos movi- mentos, dando direcionalidade ao animal. Além das mandíbulas, as nadadeiras pares constituíram as revoluções mecânicas para a navegação, proporcionando maior capacidade de orientação. Os peixes possuem cérebro dividido em lobos e medula espinhal. Espalha- dos pelo corpo estão terminais sensoriais que permitem aos peixes recebereminformações do meio, e essas informações são enviadas à medula e ao cérebro através de vias ascendentes sensoriais. No sistema nervoso central (cérebro e me- dula), as informações são processadas e interpretadas, podendo haver respostas motoras que voltam através de vias descendentes até os órgãos efetuadores do animal. Através deste sistema, o peixe pode responder a diferentes condições in- ternas e externas modi cando seu padrão comportamental. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 19 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 20 De forma geral, o sistema nervoso é responsável pelo controle das ações do corpo em todas as formas de vida complexas. Nos peixes ele é composto por um cérebro coordenador central, uma medula espinha dorsal e muitos e muitos nervos. A região cerebral chamada medula oblonga controla os órgãos internos e suas funções, como por exemplo, os batimentos cardíacos, a pressão sanguínea e os processos da digestão e excreção. Também transmite e recebe informações do cérebro anterior (telencéfalo) e do mesencéfalo. O cerebelo controla a coordena- ção motora (mas não inicia as atividades motoras), como as interações dos mús- culos durante uma atividade física já iniciada. O cerebelo também é importante na manutenção do equilíbrio. Juntos o cerebelo e a medula formam a região posterior do cérebro ou rombencéfalo. O mesencéfalo de um peixe consiste principalmente dos lobos ópticos, que variam grandemente de tamanho de espécie para espécie de acordo com sua dependência da visão. Em algumas espécies os lobos ópticos podem ser tão grandes que chegam a cobrir o telencéfalo. Nos peixes, o telencéfalo é o centro principal da aprendizagem e importante na solução de problemas (enquanto nos mamíferos o hipocampo ocupa esta função). O cérebro anterior dos peixes é dominado pelos lobos olfatórios. Nos ci- clóstomos e elasmobrânquios, os lobos olfatórios são bastante largos re etindo a importância do olfato nestes grupos. Nos teleósteos, cuja visão é o sentido mais importante, os lobos olfatórios são bem menores. Em muitos elasmobrânquios e alguns teleósteos existe um par de hemisférios cerebrais, que parecem predomi- nantemente envolvidos com o sentido do olfato. A glândula hipó se localizada no telencéfalo possui importante papel na regulação do metabolismo. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 20 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 21 O cérebro dos peixes nunca preenche completamente o crânio, a cavidade do esqueleto que o envolve e protege. O espaço restante é preenchido por um material gelatinoso, e esse material juntamente com o cérebro é envolvido por uma membrana que mantém substâncias estranhas e microorganismo fora do contato com este órgão. A medula espinhal é similar em todos os peixes. É um «cordão» nervoso que se inicia na base do cérebro e percorre a extensão do corpo do peixe, pela região dorsal, protegida pela coluna vertebral. É da medula que partem muitas respostas nervosas simples, como movimentos voluntários ou re exos, e também chegam sinais sensoriais que são encaminhados ao encéfalo. Fora do encéfalo e da medula espinhal (SNC), o corpo dos peixes é percorrido por uma vasta rede de nervos (SNP), que transmitem as informações pelas diversas partes do corpo através de impulsos elétricos. Os nervos são formados por axônios de numeroso neurônios, que partem do sistema nervoso central para a periferia, ou vice-versa. Os nervos que nascem na medula espinhal são chamados de nervos espinhais, e aqueles que iniciam no encéfalo são chamados de nervos cranianos. B) SISTEMA SENSORIAL A maioria dos peixes possui órgãos sensoriais bem desenvolvidos, como olhos com capacidade de visão de cores tão incríveis como o olho humano. Além de olhos, o sentido químico também é apurado e os peixes usam quimioceptores para sentir cheiro e gosto no ambiente. A audição esta presente em grande parte dos animais, porém, o meio aquático interfere grandemente na capacidade audi- tiva destes animais. Muitos peixes podem gerar sons e comunicar-se através de emissão e recepção sonora. Além desses, os peixes são capazes de perceber correntes e vibrações no campo ao redor de seus corpos através do sistema de linha lateral. Alguns pei- xes podem também perceber eletricidade e outros conseguem até emitir campos elétricos fortes o su ciente para atordoar sua presas! Vamos dar uma olhada nos órgãos sensoriais desses animais: Visão – Os olhos são grandes, laterais e sem pálpebras, provavelmente apenas capazes de focar com precisão objetos próximos, mas que percebem facilmente movimentos distantes, incluindo acima da superfície da água. A retina contém cones e bastonetes, o que permite visão a cores na maioria dos casos, mas tam- 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 21 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 22 bém existem peixes monocromatas, dependendo principalmente do ambiente que habitam. Ao longo da evolução, os teleósteos desenvolveram variados siste- mas visuais, alguns deles com presença de cones e bastonetes, e a percepção de cores permitiu expansão de nichos e exploração do meio aquático. Os ciclídeos, por exemplo, habitam originalmente águas claras e têm a visão como uma das principais modalidades sensoriais. Neste sentido, a acuidade visual confere vanta- gens para a detecção de todos os aspectos do ambiente visual, incluindo presas, predadores ou coespecí cos. Audição – O ouvido possui três canais semicirculares dispostos perpendicular- mente uns aos outros, funcionando como um órgão de equilíbrio, portanto, tal como em todos os vertebrados superiores. Este órgão permite a audição apurada, até porque o som se propaga bastante bem dentro de água. Muitos peixes comu- nicam entre si produzindo sons, seja estridulando ossos ou através de contrações musculares envolvendo a bexiga natatória. Olfato e Paladar – O estímulo químico é um dos mais antigos entre os animais. Os peixes são capazes de detectar sinais químicos com razoável destreza, e esses sinais fazem parte de seus comportamentos alimentares, sexuais, locomotores, defensivos, etc. Muitos animais podem produzir compostos sinalizadores espe- cí cos chamados feromônios, que fazem parte de uma estratégica comunicação química. Uma diversidade de feromônios é usado para sinalizar as mais diversas situações, como para marcar os limites de um território, a situação reprodutiva ou avisar sobre alguma ameaça. Para que o outro indivíduo detecte o sinal, ele deve ter quimiorreceptores. Há dois receptores envolvidos na percepção química: os receptores do paladar e do olfato, sendo o paladar mais limitado. Nos vertebra- dos, o sentido do paladar localiza-se na boca e os receptores estão organizados em papilas gustativas. O sentido do olfato é percebido nas narinas, localizadas na parte dorsal do focinho, que contem uma cavidade coberta de células sensíveis a moléculas dissolvidas na água. Os peixes utilizam o olfato para detectar alimento, parceiros, predadores, territó- rios, ameaças, entre outros. As células sensoriais possuem uma terminação cheia de longos cílios (célula bipolar) e cam imersas no muco secretado no epitélio nasal. Sistema de linha lateral – localizada longitudinalmente ao longo do anco do animal, é composta por uma leira de pequenos poros, em comunicação com um canal abaixo das escamas, onde se encontram mecanorreceptores. As células ci- liadas envoltas por uma cúpula gelatinosa, denominadas neuromasto, cam na superfície do corpo e respondem a vibrações na água. Quando a água se desloca, 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 22 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 23 os cílios das células movimentam e a célula despolariza, enviando potenciais de ação ao SNC do animal. A percepção do meio é fundamentalcomo estratégia de defesa destes animais. Eletrocepção – Descargas elétricas fortes servem para propósitos ofensivos e defensivos óbvios. Entre os animais que utilizam esse tipo de mecanismo estão a arraia elétrica (torpedo), o bagre (Malapterurus) e o poraquê sul-africano (Elec- trophorus). Descargas fracas são utilizadas para obter informações a respeito do meio, particularmente importantes para a distinção entre objetos não condutores ou outros animais (bons condutores). Um peixe tem maior condutividade (teor salino nos uidos corpóreos) do que a água doce. Descargas pouco intensas po- dem ser usadas para a navegação em águas turvas, localização de predadores e presas e também para a comunicação entre indivíduos. Muitos peixes que não são elétricos (não geram descarga) conseguem usar seus eletroceptores para localizar presas por meio de potenciais de ação gerados pela atividade muscular normal do animal. As descargas são produzidas por órgãos elétricos, tecido muscular mo- di cado, dispersos pelo corpo do animal. Esses órgãos são formados por células delgadas chamadas eletroplacas ou eletrolâminas, empilhadas em colunas na su- perfície do corpo do animal. A maioria dos peixes elétricos vive em águas turvas, onde a visibilidade é precária. São peixes noturnos, com olhos pouco desenvolvi- dos. Então, o sentido elétrico permite a exploração do meio. No entanto, o alcance desse sentido é limitado, geralmente não mais do que alguns metros. C) SISTEMA RESPIRATÓRIO A maioria dos peixes respira através de brânquias durante a fase adulta, mas na fase larval dependem da respiração cutânea, já que a superfície de contato com o meio é aumentada e não apresentam ainda estruturas que possam di cul- tar a difusão dos gases, como as escamas. Entre os Craniata, o Peixe bruxa forma seu uxo de água unidirecional, com entrada de água pela boca com auxilio de uma estrutura bombeadora chamada velum e saída do uxo pela abertura branquial única. As brânquias são formadas por bolsas branquiais, nas quais o uxo de sangue contracorrente favorece a ex- tração de oxigênio da água. As lampréias já apresentam uma serie de aberturas branquiais. O uxo de água entra pela boca e ui unidirecionalmente passando pelas bolsas branquiais e é eliminado pelas brânquias, quando ao animal esta em natação livre. No entan- 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 23 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 24 to, por ser um animal predador que se alimenta sugando a presa através da ma- nutenção de sua xação com dentes de preensão, não há como produzir uxo de água através da boca nesta fase. Assim, quando está se alimentando, ocorre uxo bidirecional pelas aberturas externas das brânquias. Nos elasmobrânquios, a entrada de água ocorre tanto pela boca quanto pelos espiráculos localizados em ambos os lados da cabeça. A água é então for- çada pelas brânquias, onde o oxigênio é captado, e sai através das fendas bran- quiais. A cavidade bucal funciona como uma bomba de sucção e propulsão do uxo de água, que é unidirecional, enquanto o uxo de sangue contracorrente nas brânquias facilita a maior extração de oxigênio. Nos peixes teleósteos, as brânquias são protegidas pelo opérculo, uma cobertura óssea. Estas brânquias dos adultos podem apresentar tamanhos dife- rentes, dependendo do quanto a espécie é ativa. Cada brânquia possui quatro arcos branquiais com duas leiras de lamentos branquiais cada. Os lamentos possuem lamelas branquiais, com espaço diminuto entre si. O sangue que circu- la pelas lamelas, vindo do corpo do peixe, chega desoxigenado e na passagem, devido ao uxo contracorrente de água pelas brânquias, a oxigenação do sangue torna-se possível. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 24 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 25 Nos lamentos branquiais encontramos células neuroepiteliais, mucosas, células de cloreto e células indiferenciadas. As células neuroepiteliais são respon- sivas à hipóxia e secretam serotonina. Assim, o peixe pode aumentar a frequência ventilatória em ambiente pobre em O2 ou alterar seu comportamento buscando locais mais adequados à sobrevivência. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 25 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 26 Cerca de 400 espécies de peixes são consideradas respiradores aéreos. Estes animais possuem órgão respiratório acessório além das brânquias. Alguns exemplos são a enguia elétrica, que utiliza a boca e as cavidades faríngeas para as trocas gasosas, o Liposarcus anisitsi, que possui o estômago modi cado com alta vascularização e engole quantidades de ar para extrair oxigênio, e ainda o Polyp- terus bichir que utiliza bolsas intestinais especializadas para extrair . No entanto, várias espécies apresentam respiração aérea obrigatória, sen- do os denominados peixes Dipnóicos. Exemplos destes animais incluem o Protop- terus e o Lepidosirem, que possuem pulmões bilobados e brânquias reduzidas, além do Pirarucu, peixe amazônico que utiliza a bexiga natatória como principal órgão respiratório. Os peixes pulmonados ventilam seus órgãos respiratórios usando a força de uma bomba bucal de forma semelhante a outros peixes, po- rém com uxo de ar bidirecional em algumas regiões do trato respiratório. O ar entra pela boca e é enviado a uma câmara anterior do órgão respiratório através do ducto pneumático, onde ca armazenado. Após a expulsão do ar da câmara posterior e saída deste pelo opérculo, o uxo de ar da câmara anterior segue para a posterior, onde ocorre a troca gasosa. Enquanto a bexiga natatória pode ser usada como órgão respiratório para algumas espécies, na grande maioria dos teleósteos ela é o principal responsável pela utuabilidade. Ter estrutura especializada que con ra utuação é bastante relevante para peixes, pois os animais são mais densos do que a água e tendem a afundar. Assim, a bexiga natatória matem a utuabilidade e o animal pode colocar ou retirar gás da bexiga para subir ou descer na coluna d’água. Há dois tipos de peixes com bexiga natatória: os sóstomos, mais primiti- vos, e os sóclistas, mais derivados. Os sóstomos possuem um ducto pneumáti- co que liga o esôfago à bexiga natatória. Assim, podem tomar gás pela boca e du- rante a deglutição encaminham o gás para a bexiga, in ando-a. Nestas espécies, torna-se necessária uma fonte de gás para in ar a bexiga e por eructação o animal pode esvaziá-la. Durante a descida na coluna d’água, o peixe libera o gás da bexi- ga e facilita o trabalho para baixo, porem quando necessita subir, deve aumentar o trabalho natatório, pois não tem fonte de gás acessível. Já os animais sóclistas perderam o ducto pneumático e a bexiga natatória possui duas estruturas dife- renciadas: a glândula de gás, que favorece a entrada de gás na bexiga insu ando- -a e o oval, região por onde o gás é perdido. Assim, a qualquer momento o animal é capaz de in ar e desin ar a bexiga natatória e facilitar o trabalho natatório pela utuabilidade adequada ao meio. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 26 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 27 D) SISTEMA CIRCULATÓRIO Peixes apresentam sistema circulatório fechado, no qual o coração bom- beia o sangue em sentido único através do corpo. O coração de peixes possui quatro cavidades, o seio venoso (considerado o marca passo cardíaco), o átrio, o ventrículo e o bulbo arterial. O ventrículo é a cavidade maior e mais forte do cora- ção, e pode exercer a maior pressão de ejeção de sangue. O sangue que sai do co- ração segue para as brânquias, onde é oxigenado, e daí continua pela circulação sistêmica. Devido à baixa pressão adquirida pelo sangue nas veias, ocorrem varias bombas venosas no percurso que auxiliam no retorno para o coração. Em peixes pulmonados,átrio e ventrículo são parcialmente divididos por um septo. Assim, o sangue que retorna dos pulmões chega ao lado direito do átrio enquanto o sangue sistêmico chega do lado esquerdo. Na saída, o sangue oxige- nado encaminha-se para os dois primeiros arcos branquiais e supre a região cra- niana, enquanto o sangue desoxigenado ui para os outros dois arcos branquiais e chega pela aorta até os pulmões. Os hemócitos, ou células sanguíneas, possuem importante papel no trans- porte de O2, na resposta imune, na fagocitose e defesa e na coagulação. Os eritró- citos (glóbulos vermelhos) são células nucleadas que contém grande quantidade de hemoglobina, pigmento responsável pelo transporte de O2 aos tecidos. Os 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 27 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 28 leucócitos (glóbulos brancos) incluem os agranulócitos: linfócitos e macrófagos e os granulócitos: basó los, neutró los e eosinó los. Essas células são produzidas na medula óssea e em linfonodos e parte delas permanece no sangue enquanto outras se dirigem para tecidos periféricos a m de realizar funções de defesa. Já as plaquetas ou trombócitos, são resíduos celulares, oriundos da medula óssea, que participam da coagulação e manutenção da integridade dos tecidos. A hemoglobina situada no interior dos eritrócitos é uma proteína que varia sua a nidade com o O2 de acordo com características do sangue, como tempera- tura, pH e salinidade. Em peixes, a hemoglobina tem diversas formas e isto confere às mais variadas espécies de peixes a capacidade de sobreviver em habitats tão diversos. O pH é o principal elemento que altera a a nidade do O2 com a hemo- globina. A redução do pH (acidez) reduz a a nidade do pigmento pelo O2 (efeito Bohr), e causa redução na capacidade de transporte do pigmento (efeito Root). Ambos estes efeitos são bastante importante para a captação de O2 na região branquial (e pulmonar) e liberação do gás nos tecidos, além disso estes dois efei- tos do pH permitem a manutenção de quantidades adequadas de gás na bexiga natatória de peixes sóclistas. Diferentemente do ambiente terrestre no qual a quantidade de O2 dispo- nível di cilmente tem grande variação, na água a condição é bastante variada, podem ocorrer áreas de hipóxia e hiperóxia. Os peixes têm resposta comporta- 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 28 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 29 mental e siológica variada frente a situações de baixa disponibilidade de O2, movimentando-se para áreas distantes, aumentando a freqüência ventilatória e a abertura bucal (ventilação ram), movendo-se para perto da lamina d’água de interface ar-água para capotar O2, aumento no hematócrito ou reduzindo a taxa metabólica (água gelada ou depressão). E) SISTEMA DIGESTÓRIO Os peixes são capazes de utilizar uma extensa variedade de alimentos, in- cluindo algas, plantas, insetos e outros organismos. A boca e a faringe estão associadas à captura do alimento, e a dentição pode variar de tamanho e forma, estando bastante associada à segurar ou perfu- rar a presa, rasgar partes do alimento, ou triturar partes menores de grandes mas- sas alimentares dentro da cavidade oral. Os rastros branquiais também favorecem a ingestão de alimento. Em peixes planctófagos, rastros branquiais longos e nos favorecem a ltração e o uxo de água empurra os detritos em direção ao trato digestivo. Muitas espécies apresentam muco associado aos rastros branquiais, o que favorece a apreensão de partículas alimentares. Em animais carnívoros, os ras- tros braquiais têm características de espinhos, sendo importantes .para impedir danos mecânicos aos lamentos branquiais e guiar as grandes porões de alimen- to para o trato gastrointestinal. O esôfago é a parte que liga a boca ao estômago, muito difícil de ser identi cado devido à ausência de um esfíncter que o separa do estômago. Nesta parte do trato há grande quantidade de muco que lubri ca o alimento durante a passagem. O estômago tem tamanho variado, dependendo do habito alimentar da espécie, podendo ser um órgão extremamente distensível e musculoso. Este órgão pode se r separado em duas áreas, a parte cárdica que atua na digestão química, e a parte pilórica que atua na digestão mecânica e trituração. Alguns peixes detritívoros e herbívoros não têm estômago. Principalmente a região cárdica do estomago apresenta mui- tas glândulas gástricas, com células oxinticopépticas (secretoras de HCl e pepsi- na), células mucosas (muco e bicarbonato) e células endócrinas. O intestino é um tubo longo repleto de pregas, responsável pelo nal da digestão iniciada no estômago, absorção de nutrientes, água e íons. Na parte anterior do intestino ocorre principalmente a absorção de nutrientes menores, como monossacarídeos, aminoácidos e ácidos graxos, enquanto na parte distal 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 29 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 30 do intestino ocorre a tomada de macromoléculas por pinocitose. Muitas espécies apresentam cecos pilóricos associados ao intestino, que são áreas de digestão e absorção que aumentam a superfície intestinal total. Os cecos são mais desenvol- vidos em animais carnívoros (que tem intestinos mais curtos) e quase não estão presentes em peixes herbívoros (com longos tratos intestinais).Os cecos partici- pam da digestão de lipídeos, aminoácido, carboidratos, água e íons. O trânsito intestinal pode ser relacionado á dieta do peixe, sendo mais rápido em animais herbívoros e mais lento em carnívoros. A capacidade dos animais em utilizar os nutrientes da dieta, tanto como fonte de energia quanto para o crescimento, depende da presença das enzimas adequadas em locais apropriados ao longo do lúmen e na parede do trato gas- trointestinal. A e ciência de absorção e conversão alimentar pode depender da disponibilidade de enzimas digestivas ou da capacidade de transporte transepi- telial no trato. Geralmente, a distribuição e intensidade da atividade das enzimas intestinais ao longo do trato podem ser modi cadas por variações na ingestão alimentar, no hábito alimentar e na morfologia intestinal. Muitas enzimas estão envolvidas nos processos digestivos em peixes. Trip- sina e quimiotripsina são as enzimas mais secretadas na porção anterior do intes- tino. A ação destas enzimas nos cecos pilóricos está relacionada à taxa de cres- cimento dos peixes, principalmente aqueles predadores. A atividade da tripsina também tem relação signi cativa com a e ciência de conversão alimentar e cres- cimento em diversos peixes. E= esôfago L= fígado G= vesícula biliar P= pâncreas PA = cecos 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 30 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 31 Glândulas acessórias (fígado e pâncreas) auxiliam na digestão intestinal. O pâncreas pode se difuso ou aparecer ao longo de todo o intestino, sendo sua por- ção exócrina responsável pela produção de enzimas e bicarbonato. O pâncreas produz e secreta pelo menos cinco tipos de proteases, todas na forma inativa: tripsinogênio, quimiotripsinogênio, procarboxipeptidases e proelastase. O tripsi- nogênio, ao chegar na luz intestinal, é ativado por enteroquinases, enzimas de parede dos enterócitos, em tripsina. Todas as enzimas inativas são ativadas pela tripsina, gerando quimiotripsina, carboxipeptidase e elastase. Essas exo e en- dopeptidases hidrolisam as ligações dos polipeptídios chegados do estômago e geram pequenos polipeptídios, tripeptídios, dipeptídios e aminoácidos. Esses produtos da digestão protéica, livres na cavidade intestinal, sofrem a ação dos movimentos segmentares e peristálticos e acabam por entrar em contato com a parede mucosa do intestino. Os enterócitos expressam enzimas proteolíticas (digestão de parede) de- nominadasdipeptidases, que hidrolisam ligações entre dois aminoácidos, e ami- nopeptidases, que hidrolisam ligações próximas a um grupo amino livre. Tripep- tídios, dipeptídios e aminoácidos livres podem sofrer absorção e penetrar nas células intestinais. No citoplasma, tripeptídios e dipeptídios são hidrolisados em aminoácidos por peptidase citoplasmática (digestão intracelular). Então são gera- dos apenas aminoácidos livres, que são transportados para a corrente sanguínea para serem distribuídos pelo organismo, e alguns deles (glutamina, glutamato e aspartato) podem ser utilizados como fonte de energia pelas células do intestino. A gordura, também chamada de triglicerídeo, é formada por um glicerol (álcool) e três ácidos graxos, formando uma molécula lipossolúvel. A gordura pas- sa inalterada pelas partes iniciais do trato gastrointestinal, da boca até o estôma- go, e só começa a ser processada no intestino. Por ser pouco solúvel em água, a digestão de gordura precisa do auxílio do conteúdo biliar. Os ácidos biliares agem como detergente sobre a gordura. Juntamente com os movimentos segmentares, os ácidos biliares provocam a emulsi cação da gordura, de modo que aumentam a superfície de contato para a ação de enzimas pancreáticas. Do pâncreas são se- cretadas as lipases: lipase e fosfolipase. Essas enzimas digerem os triglicerídeos e fosfolipídeos em ácidos graxos, glicerol, monoglicerídeos e colesterol. Todos os produtos da digestão de gordu- ra continuam envoltos por ácidos biliares, e esse conjunto agora recebe o nome de micela. Pela estrutura bipolar dos ácidos biliares, a micela torna-se solúvel em água e pode atravessar com maior facilidade a camada de água estacionária na 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 31 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 32 parede intestinal. Ao chegar à membrana dos enterócitos, a difusão das peque- nas moléculas ocorre imediatamente, já que a membrana celular é uma bicamada lipídica solúvel aos produtos da digestão de gordura. Moléculas maiores ainda podem sofrer a ação de lipase de parede antes de entrar no citosol. Dentro dos enterócitos, os produtos da digestão de gordura são encaminhados para o retí- culo endoplasmático, onde são reesteri cados, formando novamente triglicerí- deos. Os triglicerídeos são encaminhados ao complexo de Golgi e recebem uma cobertura de proteína chamada apolipoproteína, formando o chamado quilo- mícron. O quilomícron tem alto peso molecular e não pode adentrar a corrente sanguínea via capilares, então é exocitado da célula para os vasos linfáticos e somente mais tarde chegam à circulação sistêmica. Alguns tipos de gordura não podem ser digeridos pela lipase comum, como as ceras. Entre os comedores de cera estão muitos animais marinhos (moluscos, camarões, anêmonas e peixes) que se alimentam de copépodes, aves marinhas que ingerem crustáceos, as larvas de mariposa parasita de colméias e o pássaro sul-africano predador de colméias. Esses animais podem apresentar lipase de cera no trato intestinal ou são auxiliados por bactérias simbiônticas que degra- dam as ceras. Os carboidratos também podem ser digeridos por peixes e, quando dige- ridos, geram açúcares. O amido, amilopectina, é a principal reserva energética vegetal. A amilopectina é formada de monômeros de glicose. Outras fontes de amido da dieta são a amilose (polímero linear de glicose), a celulose (compo- nente das bras, que não podem ser quebrado por enzimas do trato intestinal de muitos animais, inclusive o homem) e o glicogênio (carboidrato de fonte ani- mal bastante rami cado). Em peixes não há registro de quebra enzimática na boca, como ocorre em outros vertebrados (amilase salivar). Na fase intestinal da digestão, é secretado o suco pancreático contendo amilase. Sua concentração é alta no intestino proximal e o amido é digerido em maltoses, maltotrioses, mal- to-oligossacarídeos e dextrinas. Muitos subprodutos são ainda sacarídeos de cadeia longa e precisam da ação continuada da digestão para liberar os dissaca- rídeos. Os principais dissacarídeos são sacarose, lactose e maltose, e os monossa- carídeos são glicose, frutose e galactose. O epitélio intestinal consegue absorver somente monossacarídeos. Os dissacarídeos e polissacarídeos sofrem a ação de enzimas presentes na membrana apical dos enterócitos. As principais enzimas de membrana são: lactase – cliva lactose em glicose e galactose, sacarase – cliva sacarose em glicose e frutose; maltase – cliva maltose em monossacarídeos de 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 32 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 33 glicose, isomaltase – cliva ligações α-1,6 dos polissacarídeos, glicoamilase – cliva malto-oligossacarídeos em glicose livre, e dextrinase – cliva polímeros de glico- se. A glicose e a galactose são transportadas por uma proteína chamada SGLT1, localizada na parede dos enterócitos, utilizando energia do gradiente de Na+ no lúmen intestinal. Esses dois monossacarídeos competem pelo sítio de ligação na proteína SGLT1 e são transportados juntamente com Na+ por co-transporte. Os monossacarídeos utilizam a mesma via de saída do enterócito para atingir a cor- rente sanguínea, a proteína chamada GLUT2 localizada na membrana basolateral da célula. Em peixes não foi veri cada a presença de GLUT 5, transportando de frutose. A absorção de água ocorre principalmente no intestino proximal, e menos no distal. O movimento da água depende do efeito osmótico. Quando há absor- ção de solutos, água acompanha. Inversamente, alimentos não digeríveis e subs- tancias que não são absorvidas deslocam a água para o lúmen. A absorção de água é induzida principalmente pelo Na+, Cl- e substâncias orgânicas. F) EXCREÇÃO O excreta nitrogenado eliminado por peixes, assim como por diversos outros animais aquáticos, é amônia. Devido á ampla superfície de contato das brânquias com o meio, estas funcionam como um órgão excretor de sais e outros excretas, mas os rins também auxiliam na ltração e eliminação de elementos in- desejáveis. Peixes de água doce devem manter-se hiperosmóticos em relação ao meio, e para isso, produzem urina com baixa concentração de sais e muita água. Além disso, é através das brânquias que esses animais conseguem manter níveis de sais interno elevado, gastando energia para retirar sais do meio, porém, acabam ga- nhando água por difusão pelo epitélio branquial. Os rins de teleósteos de água doce possuem grandes glomérulos que participam de alta taxa de ltração do sangue, gerando alto volume de urina diluída. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 33 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 34 Peixes de água salgada precisam eliminar sais e excretas para manter seus corpos hiposmóticos em relação ao meio. Esses animais fazem constante eli- minação de NaCl e amônia pelas brânquias, porém perdem água em abundancia por este epitélio, sendo necessário ingerir água constantemente. Os rins de te- leósteos marinhos não apresentam glomérulos nem cápsula desenvolvidos e a urina é formada somente por secreção G) SISTEMA ENDÓCRINO O sistema endócrino é caracterizado pela produção e secreção de hormô- nios por células organizadas em órgãos glandulares. Esse sistema apresenta ínti- 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 34 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 35 ma interação com o sistema nervoso, e ambos juntos controlam a homeostase e a resposta orgânica às diferentes situações ambientais. O sistema nervoso informa o sistema endócrino sobre o meio externo, e o sistema endócrino regula a res- posta orgânica à condição informada. Portanto, ambos controlam e regulam as funções orgânicas. Vertebrados são bem mais compreendidos quanto à função endócrina do que invertebrados, e as principais glândulas que constituemo siste- ma são: hipotálamo, hipóse, tireóide, adrenais, pâncreas e gônadas. O hipotálamo localiza-se na região inferior do prosencéfalo (cérebro ante- rior) e funciona interconectando o sistema nervoso e endócrino. Para o controle endócrino, o hipotálamo conecta-se à hipó se, localizada logo abaixo desta estru- tura. A hipó se divide-se em região anterior (adenohipó se), medial e posterior (neurohipó se). 5.2 FISIOLOGIA DOS MOLUSCOS Os moluscos são animais de vida livre, que vivem em ambientes terrestres e aquáticos, de água doce ou salgada. Sendo provavelmente o segundo ou o tercei- ro lo de animais com maior número de espécies, atrás apenas do Filo Arthropoda (que lideram o ranking da escala zoológica) e talvez do Filo Nematoda. Esse lo reúne os animais de corpo mole (com ou sem concha), triblásticos, portadores de celoma, simetria bilateral e corpo dividido em três partes básicas: a cabeça, o pé e a massa visceral. - Na cabeça estão localizados os órgãos sensoriais e considerável concen- tração de gânglios cerebrais; - O pé é uma estrutura musculosa possuindo funções variadas de acordo com o grupo de animais, empregado no rastejamento, natação e captura de pre- sas quando modi cados em tentáculos; - A massa visceral aloja os principais órgãos, sendo revestida por uma do- bra da epiderme denominada de manto ou pálio (região que produz a concha), contendo a abertura do sistema digestivo e excretor, e as brânquias (nas espécies marinhas) ou os pulmões (nas espécies terrestres). 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 35 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 36 AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ANATOMIA E FISIOLOGIA DESSE GRU- PO SÃO: A) SISTEMA DIGESTIVO → completo (possuindo o intestino regiões diferencia- das e glândulas digestivas associadas). A digestão é predominantemente extrace- lular, embora também ocorra a intracelular; B )SISTEMA CIRCULATÓRIO → presente, do tipo aberto ou lacunar (em que o sangue sai dos vasos e cai nos espaços entre as células), e fechado (em que o san- gue circula somente no interior dos vasos); C) SISTEMA RESPIRATÓRIO → presente (as trocas gasosas ocorrem em órgãos especializados, as brânquias ou pulmões). Esse sistema está acoplado ao circula- tório, pois os gases são transportados pelo líquido sangüíneo; D) SISTEMA EXCRETOR → presente (realizada por meio de nefrídeos, estruturas especializadas na remoção de resíduos nitrogenados); E) SISTEMA NERVOSO → presente (composto por três ou quatro pares de gân- glios nervosos ligados a nervos que se estendem por todo o corpo). F) SISTEMA REPRODUTOR → a reprodução é sexuada, com espécies monóicas e dióicas. Em algumas o desenvolvimento é direto, e nas demais ocorrem estágios larvais. CLASSIFICAÇÃO DO FILO MOLLUSCA A) Aplacophora (aplacóforos): semelhantes a pequenos vermes, não possuem concha, embora alguns representantes apresentem espículas calcárias. B) Monoplacophora (monoplacóforos): concha única em forma de capuz, reco- brindo totalmente a massa visceral. Exemplo: neopilina. C) Amphineura ou Polyplacophora (an neuros): concha formada por oito pla- cas articuladas, circundadas por um cinturão carnoso. Exemplo: chinton. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 36 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 37 D)Scaphopoda (escafópodos): concha formada por uma única peça consistente, aberta nas duas extremidades. Exemplo: dentalium. E) Pelecypoda ou Bivalvia (bivalves): concha formada por duas valvas articuladas. Exemplo: mexilhão e ostra. F) Gastropoda (gastrópodes): concha univalve espiralada ou sem conchas. Exemplos: caracol e lesma do mar. G) Cephalopoda (cefalópodes): concha inteira ou sem concha, em algumas espé- cies é interna em outras externa espiralada. Exemplo: lula, polvo e nautilus. 6 - DISCIPLINA 03: DESCREVER AS PRINCIPAIS BACTÉRIAS 6.1 - O QUE SÃO MICRORGANISMOS E ONDE SE ENCONTRAM. Microrganismos são seres vivos muito pequenos e só podem ser observa- dos com o auxílio de um microscópio. Estão presentes em todos os lugares: na água, no ar, nos objetos, no solo e nos alimentos. Fazem parte dos microrganis- mos: bactérias, fungos, vírus e parasitas. Existem microrganismos considerados bené cos ao homem, como as bactérias fermentadoras que auxiliam no processo de produção de alguns alimentos como vinho, cerveja, iogurtes e queijos. Porém existem os microrganismos capazes de colocar em risco a saúde humana, causan- do doenças e/ou alterando os alimentos, o que chamamos deterioração. ONDE SÃO ENCONTRADOS OS MICRO-ORGANISMOS? No ar, água, terra, pessoas, animais, utensílios e no próprio alimento. Ape- sar dos micro-organismos estarem em todos os lugares, encontram- se com mais facilidade em: � Fezes; � Água e solo; � Ratos, insetos e outras pragas; � Animais domésticos e marinhos (cães, peixes, vacas, galinhas, porcos etc.); � Pessoas (intestinos, boca, nariz, mãos, unhas e pele). 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 37 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 38 Todo alimento possui certa quantidade de micro-organismos. É a contami- nação de origem. Exemplos: verduras, frutas, grãos, ovos crus, carnes cruas, água não tratada. Além da contaminação de origem, existe a contaminação cruzada. Existem várias maneiras dos microrganismos chegarem aos alimentos: Normalmente os parasitas, as substâncias tóxicas e os microrganismos pre- judiciais à saúde entram em contato com os alimentos, incluindo o pescado e seus produtos, durante a manipulação e o preparo. Esse processo de contágio é conhe- cido como contaminação. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 38 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 39 O QUE SIGNIFICA CONTAMINAÇÃO CRUZADA? É a contaminação que acontece quando micro-organismos são transferidos de um alimento ou superfície para outro alimento por meio de utensílios, equi- pamentos ou do próprio manipulador. Exemplo: cortar com a mesma faca e na mesma tábua carne crua e cozida sem antes higienizá-las. Se os micro-organismos estão presentes em todos os lugares e alguns são capazes de nos causar doenças, por que não camos sempre doentes? Porque os seres humanos têm uma resis- tência natural aos micro-organismos; por causa desta resistência, a maioria dos micro-organismos, quando em quantidades pequenas, não é capaz de produzir doenças. Para que causem doenças é necessário que estejam presentes em quan- tidades maiores. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 39 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 40 PRINCIPAIS VEÍCULOS DE CONTAMINAÇÃO DO PESCADO. A contaminação, além de microbiológica (bactérias, fungos, vírus e parasi- tas), pode ser física (cabelo, prego, pedra) ou química (produtos de limpeza, tinta). O nosso principal foco é a contaminação microbiológica, porque podem surgir as principais doenças transmitidas através dos alimentos. A cada 20 minutos uma bactéria se reproduz, dividindo-se em duas. Em sete horas, poderá originar quatro milhões de bactérias. Para elas se reproduzirem, basta encontrar um ambiente com água, alimento, tempo e temperatura adequados. Para evitar a contaminação e a deterioração do pescado, o ambiente deve ser desfavorável à multiplicação bacteriana. Ações simples como higiene pessoal, lavagem frequente das mãos e dos uniformes, higienização adequada dos equi- pamentos, dos utensílios e do ambiente e a conservação do pescado em tem- peratura adequada evitam ou controlam a contaminação. Essas medidas simples fazem parte das Boas Práticas. DEFINIÇÕES: O que é contaminação : Normalmente, os parasitas, as substâncias tóxicas e os micróbios prejudiciais à saúde entram em contato com o alimento durante a manipulação e o preparo dos alimentos. Esse processo de contágio doalimento é conhecido como contaminação. A maioria das DTA está associada à contamina- ção de alimentos por micróbios prejudiciais à saúde. Bactérias - Microrganismos que provocam problemas de saúde ao ho- mem. Os mais frequentes são a Salmonela e o Esta lococus. Como qualquer ser vivo, necessitam de determinadas condições para crescerem e se multiplicarem: alimento, umidade e temperatura. As bactérias patogênicas são as responsáveis pelo maior número de casos de intoxicação alimentar. Se não forem tomados al- guns cuidados, os micróbios que contaminam o alimento podem se multiplicar rapidamente e causar doença. É sempre bom lembrar que medidas simples, como lavagem das mãos, conservação dos alimentos em temperaturas adequadas e o cozimento correto evitam ou controlam a contaminação dos alimentos. Essas medidas simples fa- zem parte das Boas Práticas. 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 40 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 41 Vírus - Microrganismos menores e menos conhecidos que para serem vi- sualizados necessitam ser observados através de microscópio. Entre os vírus asso- ciados a transmissão aos alimentos destacam-se os vírus (tipo) Norwalk, vírus da Hepatite A e os Rotavirus; Fungos e Leveduras - São microrganismos com menor risco para a saúde do homem. Os fungos possuem tamanhos variáveis que vão desde formas apenas visíveis ao microscópio até dimensões consideráveis. Incluem bolores e leveduras; Parasitas - Microrganismos perigosos para o Homem. Instalam-se no inte- rior de um “hospedeiro” para viverem à sua custa. Podem variar desde organismos unicelulares, como os protozoários, ate animais pluricelulares, como os vermes. Os parasitas como ameba, giárdia e vermes podem estar presentes no solo, na água e no intestino dos homens e dos animais, podendo então contaminar os alimentos e causar doenças. O QUE OS MICRORGANISMOS PRECISAM PARA SE DESENVOLVER Um alimento se torna inseguro quando os micro-organismos presentes nele atingem a dose infectante, podendo causar doença na pessoa que o conso- me. Esta dose infectante pode ser alcançada quando se permite a multiplicação dos micro-organismos no alimento. Para que os micro-organismos se multipliquem eles precisam encontrar certas condições favoráveis, como: ALIMENTO: Como todos os seres vivos, eles precisam de nutrientes, que são encontrados nos alimentos, em resíduos que permanecem em utensílios e equipamentos mal higienizados, por isso devemos fazer uma higienização cuida- dosa de tudo que entra em contato com os alimentos. TEMPERATURA: Os microrganismos podem se desenvolver em diversas temperaturas, inclusive abaixo de 0ºC. Alguns conseguem se multiplicar em altas temperaturas, e a maioria multiplica-se entre 20 e 45ºC. Dessa forma, devemos evitar que os alimentos permaneçam expostos a essas temperaturas por muito tempo. Para evitar a multiplicação dos microrganismos, devemos manter os ali- mentos fora da Zona de Temperatura Perigosa (4 a 60°C). 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 41 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 42 ÁGUA: Os microrganismos precisam de água para se desenvolver. As bacté- rias precisam de ambientes ricos em água, já os bolores e leveduras podem se de- senvolver em ambientes com pouca água. Quanto maior é a quantidade de água de um alimento, mais ele será perecível. Alimentos como pescado são ambientes propícios para o crescimento de bactérias patogênicas. OXIGÊNIO: A maioria dos microrganismos precisa de oxigênio para se mul- tiplicar, porém algumas espécies de bactérias se multiplicam em ambientes sem oxigênio. Nesse caso, alimentos a vácuo e enlatados oferecem riscos potenciais. ACIDEZ: A maioria dos microrganismos não se desenvolve em ambientes muito ácidos, como picles, molho de tomate, sucos, entre outros; exceto alguns fungos que conseguem se desenvolver. Os alimentos pouco ácidos como peixes são ótimos ambientes especialmente para as bactérias. O pescado pode ser conservado por métodos que inibem o desenvolvi- mento de microrganismos, entre eles: · Substâncias que matam ou di cultam a multiplicação dos microrganis- mos: ácidas, sal, açúcar e fumaça (defumação); · Altas temperaturas que levam a mortalidade de microrganismos: esterili- zação de conservas; · Baixas temperaturas, através de refrigeração e congelamento; · Secagem dos alimentos, o que diminui a água do produto di cultando o crescimento de microrganismos. Podem ser natural (calor do sol) ou arti cial (uso de estufa ou forno); Portanto, é preciso estar atento ao tempo de preparo, armazenamento e distribuição do alimento. Temperatura: Temperaturas entre 5º e 60ºC favorecem a multiplicação de micro-organismos. Temperaturas muito altas ou muito baixas di cultam a multiplicação dos micro-organismos. Observe o termômetro: 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 42 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 43 Observando a informação da gura do termômetro, percebemos que a zona de temperatura perigosa para a segurança dos alimentos ca entre 5°C e 60°C. Portanto, os alimentos quentes devem ser mantidos bem quentes e os frios bem frios. 6.4 - INTOXICAÇÃO ALIMENTAR Doença gastrointestinal aguda de aparecimento brusco e evolução rápida, devido ao consumo de alimentos contaminados por microrganismos patogêni- cos ou por substâncias tóxicas. Manifesta-se algumas horas apos a ingestão dos alimentos contaminados e pode durar de um a sete dias. Os sintomas mais fre- quentes são dor abdominal, diarreia, vômitos e em alguns casos febre e dor de cabeça. Doenças de Origem Alimentar. Os microrganismos que contaminam os alimentos podem provocar alterações super ciais ou profundas dos produtos, diminuindo a sua qualidade e o seu tempo de conservação. No caso dos micror- ganismos patogênicos, podem provocar alterações na saúde dos consumidores e manipuladores de alimentos, transmitindo doenças graves, nomeadamente as intoxicações alimentares. As doenças provocadas pelos alimentos podem ter um 2 - Apostila - Operador de Beneficiamento do pescado UECE.indd 43 25/02/16 12:10 APOSTILA DO CURSO OPERADOR DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO 44 peso socioeconômico considerável: As pessoas atingidas podem car incapacita- das para o trabalho e ate morrer; As consequências econômicas podem ser muito graves para a empresa ou estabelecimento responsável pela doença transmitida. Uma contaminação alimentar pode ser provocada por pessoas (pelos ger- mes na pele, intestinos, cortes, garganta ou mãos), solo, pó, detritos, águas su- per ciais, estrume e alimentos estragados. Uma contaminação alimentar também pode ser provocada por aparelhos ou utensílios insu cientemente limpos, animais domésticos, animais nocivos ou animais abatidos de uma forma não higiênica. É particularmente perigosa uma contaminação alimentar que ocorre após se ter acabado o tratamento de conservação. Um exemplo é a contaminação de carne cozida, provocada ao colocá-la no mesmo prato onde se encontrava a carne crua. 6.4.1 - BACTÉRIAS CAUSADORAS DE INTOXICAÇÕES ALIMENTARES a) Bactérias Poligênicas Como por exemplo, temos: Clostridium botulinum e Sytaphylococus aureus. Durante a sua multiplicação no alimento produzem to- xinas cuja ingestão provoca no consumidor um determinado quadro patológico. Este quadro está relacionado apenas com a toxina e não com as células bacteria- nas. 6.4.2 - BACTÉRIAS PATOGÊNICAS Como exemplo temos Bacilus cereus, Campylobacter jejuni, Clostridium perfringens, Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Salmonella spp, Shigella sonnei, Yersinia enterocolitica. Quando presentes no alimento ingerido, podem multiplicar-se ativamente no trato intestinal do consumidor, provocando uma reação do tipo infecciosa. O que fazer para evitar uma intoxicação alimentar? � Conservar sempre os alimentos de forma correta para que