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Aprendendo mais através de um CASO CLÍNICO Especial Diabetes Mellitus Tipo 2 Paciente do sexo feminino, 63 anos, vem para primeira consulta nutricional já com resultados de exames solicitados pelo seu médico há 02 meses. Relata ser portadora de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) há 08 anos e há quatro faz o controle do quadro com acompanhamento médico a cada 06 meses. Na anamnese, a paciente relata que desde o início do acompanhamento médico conseguiu controlar sua glicemia devido a algumas mudanças no estilo de vida e uso de medicamentos. Afirma que nos últimos meses apresentou hiporexia, porém não foi notado perda de peso. Paciente trás diário de glicemia, com registro de glicose capilar pela manhã variando de 73 a 223 mg/dL, com média inferior a 150 mg/dL; Glicose pós-prandial de 116 mg/dL e na noite variando de 70 a 173 mg/dL, com média de 100 mg/dL. ANAMNESE Creatinina: 0,6 mg/dL Taxa de filtração glomerular do adulto não negro > 90 mL/min Colesterol Total: 180mg/dL HDL: 35 mg/dL LDL: 110 mg/dL Triglicérides: 175 mg/dL Hemoglobina Glicada: 9% Glicose em jejum: 103 mg/dL Ureia: 41 mg/dL Densitometria óssea: Osteopenia no fêmur RESULTADOS DE EXAMES Dislipidemia Rinite alérgica Artrose de joelhos Depressão OUTROS DIAGNÓSTICOS Glifage XR (1000 mg); Sinvastatina (20 mg); Budesonida (50 mcg); Beclometasona (250 mcg); Salbutamol (100 mcg); Loratadina (100 mcg) se crise; Duloxetina (60mg); Topiramato (50 mg); Clonazepam (2 mg); Clorpromazina (25 mg) RESULTADOS DE EXAMES Paciente em bom estado geral, corada, pele com aparência pouco hidratada. Estatura de 1,54m Peso de 78 Kg IMC = 31,20 kg/m² Cintura: 94 cm Quadril: 89 cm PA: 100/70 mmHg AVALIAÇÃO FÍSICA 2 fatias de pão branco 1 colher chá manteiga 1 fatia de presunto magro 1 xícara de leite integral 2 col de servir de arroz branco 1 pegador de macarrão integral 1 col de servir de carne de panela com molho de tomate 3 ramos de brócolis cozido 1 xic café passado com adoçante 1 fatia de pão torrado 1 colher de sopa de geleia de morango 1 punhado de amendoim torrado 1 xícara de chá preto Idem almoço sem arroz 1 copo de chá preto 1 fatia de queijo tipo ricota 1 litro por dia Café da Manhã Almoço Lanche da tarde Jantar Ceia Ingestão de água RECORDATÓRIO ALIMENTAR HÁBITOS Insônia; Intestino irregular, com constipação frequente (faz uso de chás laxativos pelo menos 2 vezes ao mês); Faz caminhada 1 a 2 vezes na semana, em torno de 30 minutos no total; O objetivo dessa discussão de caso é estabelecer reflexões sobre DM2 e as suas possibilidades de tratamento como um Nutricionista, objetivando seu controle e melhora da qualidade de vida da paciente. Por se tratar de uma doença que está muitas vezes associada à obesidade, o DM2 pode ser controlado por mudanças do estilo de vida, como controle do peso e atividade física. Contudo, muitos pacientes não conseguem controlar o DM2 por não conseguirem fazer as mudanças de estilo de vida necessárias. Sendo assim é necessário incluir os fármacos, sendo a classe farmacológica mais prescrita os sensibilizadores da ação insulínica, em que as biguanidas (metformina) são as mais utilizadas. A paciente apresenta um IMC de 31,2 Kg/m², com base na classificação original, deve-se diagnosticar o grau de obesidade (Classe I, 30,0-34,9 kg/m 2 ; Classe II, 35,0-39,9 kg/m 2). Ao analisarmos os exames trazidos, juntamente com o diário glicêmico nota-se que pode haver algum fator que não se conecta, pois pelo diário a glicemia ficou nos valores médios considerados normais, e a hemoglobina glicada (9%) se encontra alta, ou seja, a paciente não deve ter feito um controle exato no registro das glicemias, pois a hemoglobina glicada está batendo com o recordatório alimentar. Dentre os marcadores glicêmicos utilizados para o controle metabólico do DM está a glicemia em jejum e a hemoglobina glicada. A hemoglobina glicada, consiste em um método mais eficiente de avaliação da glicemia, pois ela se baseia na vida média da hemácia humana, e, portanto reflete a glicemia média dos últimos 2 a 3 meses. DISCUSSÃO DO CASO! Perda de peso; Diminuição da circunferência da cintura; Controle da Hemoglobina Glicada para <7% (recomendado); Aumento do HDL; Orientação sobre o uso da sinvastatina (pelos resultados dos exames parece que ela não está fazendo uso correto); A paciente encontra-se em um quadro instável do DM2, por isso, algumas metas são necessárias: Metas gerais sobre a alimentação: Para uma primeira consulta, é importante pensarmos em metas mais urgentes e em educar a paciente sobre o caso como um todo, para que as demais metas sejam tratadas nas próximas consultas. Assim, a chance de adesão é muito maior e a paciente não ficará sobrecarregada com tantas informações e mudanças. Portanto, antes de calcular uma dieta, você pode iniciar com uma modificação da quantidade dos alimentos que ela já costuma consumir, além da inclusão de frutas e vegetais. A orientação para o aumento do consumo de água também pode fazer parte das orientações da primeira consulta, já que ela apresenta quadros de constipação. Além disso, pensando na insônia, nos níveis de colesterol e na saúde intestinal, oriente aumentar a prática de atividade física. Para questões mais específicas, oriente a paciente a procurar um profissional da educação física. O uso de cafeína ou do próprio chá preto pode estar contribuindo para baixa absorção de cálcio e para a insônia (já que ela ingere antes de dormir). Faça uma orientação sobre o horário ideal para o consumo do café e oriente o preparo de chá (infusão) calmante para consumo no turno da noite, como camomila, lavanda, maracujá, entre outros. Não esqueça de fazer combinações possíveis, mas lembre-se de educar sempre sobre o quadro geral. AS METAS INICIAIS Qual seria o prazo ideal para a paciente voltar ao consultório? 20, 30, 60 dias. Por quê? O que poderia ser feito na próxima consulta? Novos exames, novas metas, educação nutricional sobre o intestino? O que poderia ser avaliado, além do registro alimentar, que pode estar atrapalhando os resultados da paciente? Comportamento Alimentar? Questões hormonais? Quais ferramentas você poderia utilizar nas consultas para melhorar o entendimento da paciente sobre o seu quadro de forma geral? Lâminas com resumos sobre DM2, formas de incluir frutas e vegetais no dia-a-dia, receitas práticas com fibras? Pense como um Nutricionista! Além das metas sugeridas para um início de mudança no quadro geral da paciente reflita: UM EXERCÍCIO IMPORTANTE SUGESTÃO Pensando neste caso em especial e em outras doenças e situações comuns do público que você pense em atenter no consultório, você já pode criar alguns materiais educacionais e de orientação nutricional para auxiliar os pacientes durante o acompanhamento nutricional. Esses materiais prontos irão otimizar o seu tempo de consulta para focar na conversa e escuta ativa com o paciente e na entrega de orientações mais pontuais.