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CAO – Crim 
Boletim Criminal Comentado n°158, 10/2021 
 
 
 
(semana nº 4) 
 
 
Boletim Criminal Comentado 158- Outubro 
2021 
 
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Procurador-Geral de Justiça 
Mário Luiz Sarrubbo 
 
Secretário Especial de Políticas Criminais 
Arthur Pinto Lemos Junior 
 
Assessores 
Fernanda Narezi P. Rosa 
Ricardo José G. de Almeida Silvares 
Rogério Sanches Cunha 
Valéria Scarance 
Paulo José de Palma (descentralizado) 
Danilo Orlando Pugliesi (descentralizado) 
 
Núcleo de Apoio ao Tribunal do Júri 
Aluisio Antonio Maciel Neto (Coordenador) 
Felipe Bragantini de Lima 
Flavia Flores Rigolo 
Juliana Mendonça Gentil Tocunduva 
Luiz Carlos Ormeleze 
Rodrigo Merli Antunes 
Thiago Alcocer Marin 
 
Artigo 28 e Conflito de Atribuições 
Marcelo Sorrentino Neira 
Manoella Guz 
Roberto Barbosa Alves 
Walfredo Cunha Campos 
Yolanda Alves Pinto Serrano 
Fernando Célio de Brito Nogueira (descentralizado) 
 
Analistas Jurídicos 
Ana Karenina Saura Rodrigues 
Victor Gabriel Tosetto 
 
 
 
 
Boletim Criminal Comentado 158- Outubro 
2021 
 
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SUMÁRIO 
ESTUDOS DO CAO CRIM........................................................................................................................4 
1- Nota Técnica N º 10/2021-PGJ: aplicação do Artigo 28 do CPP na Justiça Militar...............................4 
2 -Firmada no TJSP a tese do Tema 28, que versa sobre a natureza da decisão que defere a progressão 
de regime de cumprimento de pena......................................................................................................4 
3-Modelo de parecer ministerial em que se sustenta a constitucionalidade da execução provisória 
em caso de condenação pelo Júri..........................................................................................................5 
STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM........................................9 
DIREITO PROCESSUAL PENAL:...............................................................................................................9 
1- Tema: Mesmo sem fato novo, Sexta Turma do STJ admite que sentença restabeleça prisão 
preventiva relaxada por excesso de prazo............................................................................................9 
2- Tema: Sexta Turma do STJ limita requisição de dados genérica feita a provedor de internet em 
investigação criminal...........................................................................................................................10 
3- Tema: Quinta Turma do STJ anula júri que condenou a ré baseado apenas em prova de motivo 
para o crime.........................................................................................................................................11 
DIREITO PENAL....................................................................................................................................14 
1-Tema: Para a Terceira Seção do STJ, a apreensão de ínfima quantidade de munição 
desacompanhada da arma de fogo não implica, por si só, a atipicidade da conduta..........................14 
MP/SP: decisões do setor art. 28 do CPP............................................................................................16 
1-Tema: Revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial. Princípio da insignificância. 
Confirmação........................................................................................................................................16 
 
 
 
 
 
 
 
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ESTUDOS DO CAOCRIM 
NOTA TÉCNICA N º. 10/2021-PGJ: aplicação do Artigo 28 do CPP na Justiça Militar 
Publicada Nota Técnica elaborada pela Secretaria Especial de Políticas Criminais e o CAOCRIM, a fim 
de propor orientação técnico-jurídica aos promotores de Justiça Militares, tendo como objeto a 
divergência existente entre o CPP e o CPP Militar no que concerne à homologação da promoção de 
arquivamento do inquérito policial militar. Enviamos ainda cópia da Nota Técnica à Subprocuradoria-
Geral Jurídica de Justiça para analisar a inconstitucionalidade do Regimento Interno do Tribunal de 
Justiça Militar. Clique aqui para acessar a publicação 
 
2- Firmada, no TJSP, a tese do Tema 28, que versa sobre a natureza da decisão que defere a 
progressão de regime de cumprimento de pena 
Existe na jurisprudência indisfarçável divergência acerca da natureza jurídica da decisão que defere 
a progressão de regime de cumprimento de pena, questão que não tem somente interesse 
acadêmico, mas relevante importância prática. 
Para quem entende ser a decisão meramente declaratória, define-se o marco inicial da progressão a 
partir do implemente dos requisitos do art. 112 da LEP. 
Contudo, para quem entende ser constitutiva, a partir da sua publicação começa a contar o prazo 
para novo benefício. 
A questão debatida no TJ-SP, mais precisamente no Incidente de Resolução de Demandas 
Repetitivas nº 2103746-20.2018.8.26.0000-Execução Penal, que acabou adotando a primeira 
corrente, seguindo precedentes do STJ: 
“Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Divergência acerca da natureza da 
decisão que defere a progressão do regime de cumprimento de pena, para se definir o marco 
inicial a ser considerado como do implemento dos requisitos do artigo 112 da Lei de Execução 
Penal. 
Indicação da existência de posicionamentos divergentes entre Câmaras de Direito Criminal 
deste Tribunal. Risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica configurado. Tese jurídica 
A decisão que defere a progressão de regime tem natureza meramente declaratória. O lapso 
temporal para aquisição de benefícios deve ser a data em que foi efetivamente alcançado o 
requisito objetivo para a concessão da benesse. Deferido o direito de progressão, o lapso 
inicial para contagem deve retroagir ao tempo que o reeducando alcançou o direito à 
progressão. Orientação do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. 
http://biblioteca.mpsp.mp.br/phl_img/pgj/010-nt%202021.pdf
 
 
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Recurso de origem: Fixada a tese jurídica supracitada, considera-se como meramente 
declaratória a decisão que deferiu a progressão de regime ao sentenciado. Cabível a reforma 
almejada pela defesa para determinar como marco inicial para a contagem de requisito 
objetivo de benefícios a data em que efetivamente alcançado o lapso para a progressão 
requerida. Agravo ministerial improvido. Agravo defensivo provido”. 
Contudo, o TJ SP havia se contentado com a data do preenchimento dos requisitos objetivos da 
progressão, ignorando os subjetivos. O STJ, citado pela Corte paulista, pressupõe o preenchimento 
de todos os requisitos (objetivos e subjetivos). Esse detalhe não passou despercebido do MPSP, que 
ofereceu embargos. 
Em 23 de setembro de 2021, transitou em julgado a decisão proferida em sede de embargos de 
declaração, na qual foi firmada a tese do Tema 28 do Incidente de Resolução de Demanda Repetitiva, 
relativo à Progressão de Regime- Termo Inicial, nos seguintes termos: 
“A decisão que defere a progressão de regime tem natureza declaratória, e não constitutiva. 
O termo inicial para a progressão de regime deverá ser a data em que preenchidos os 
requisitos objetivo e subjetivo descritos no art. 112 da Lei de Execução Penal, e não a data 
em que efetivamente foi deferida a progressão. Importante ressaltar que referida data 
deverá ser definida de forma casuística, fixando-se como termo inicial o momento em que 
preenchido o último requisito pendente, seja ele o objetivo ou o subjetivo. Vale dizer, se por 
último for preenchido o requisito subjetivo, independentemente da anterior implementação 
do requisito objetivo, será aquele o marco para fixação da data-base para efeito de nova 
progressão de regime.” 
Em virtude do trânsito em julgado da decisão, a tese firmada notema 28 do TJSP encontra-se passível 
de aplicação ao caso concreto. 
Acesse aqui o andamento do Processo Paradigma: IRDR Nº 2103746-20.2018.8.26.0000 
Acesse aqui o andamento do Incidente de Resolução de Demanda Repetitiva 
 
3- Modelo de parecer ministerial em que se sustenta a constitucionalidade da execução provisória 
em caso de condenação pelo Júri 
A possibilidade de execução da pena após a decisão do recurso em segunda instância foi inicialmente 
estabelecida pelo STF no julgamento do habeas corpus 126.292, em 17 de fevereiro de 2016. À época, 
o tribunal modificou orientação firmada em 2009, quando, ao julgar o habeas corpus 84.078, havia 
considerado impossível que se executasse a pena antes do trânsito em julgado da sentença 
https://esaj.tjsp.jus.br/cposg/search.do?conversationId=&paginaConsulta=1&localPesquisa.cdLocal=-1&cbPesquisa=NUMPROC&tipoNuProcesso=UNIFICADO&numeroDigitoAnoUnificado=2103746-20.2018&foroNumeroUnificado=0000&dePesquisaNuUnificado=2103746-20.2018.8.26.0000&dePesquisa=&uuidCaptcha=
https://esaj.tjsp.jus.br/cposg/search.do?conversationId=&paginaConsulta=1&localPesquisa.cdLocal=-1&cbPesquisa=NUMPROC&tipoNuProcesso=UNIFICADO&numeroDigitoAnoUnificado=2103746-20.2018&foroNumeroUnificado=0000&dePesquisaNuUnificado=2103746-20.2018.8.26.0000&dePesquisa=&uuidCaptcha=
https://www.tjsp.jus.br/NugepNac/Irdr/DetalheTema?codigoNoticia=56363&pagina=1
 
 
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condenatória e estabeleceu a possibilidade de encarceramento apenas se verificada a necessidade 
de que isso ocorresse por meio de cautelar (prisão preventiva). 
A decisão proferida em 2016 provocou muita controvérsia e suscitou debates a respeito da 
constitucionalidade da execução da pena antes de percorrida toda a cadeia recursal. O argumento 
central dos que advogam a tese de que a pena não pode ser executada até que a sentença 
condenatória se torne definitiva se baseia no art. 5º, inc. LVII, da Constituição Federal, segundo o 
qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. 
Tamanha foi a celeuma que, no mesmo ano, foram ajuizadas duas ações declaratórias de 
constitucionalidade (43 e 44), nas quais se pretendia a declaração de plena vigência e 
compatibilidade constitucional do art. 283 do CPP, que dispõe: “Ninguém poderá ser preso senão em 
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em 
decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do 
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”. Pretendia-se, com isso, evitar os 
efeitos da decisão tomada no habeas corpus já citado, ou seja, que a prisão se tornasse possível após 
o julgamento de recursos em segunda instância. 
À época, o pleno do STF indeferiu medida cautelar para que fossem suspensas execuções antecipadas 
em curso e para que fossem impedidas novas execuções enquanto não julgado o mérito das ações 
constitucionais. Considerou-se, basicamente, que a presunção de inocência tem sentido dinâmico, 
modificando-se conforme se avança a marcha processual. Dessa forma, se no início do processo a 
presunção pende efetivamente para a inocência, uma vez proferido julgamento em recurso de 
segunda instância essa presunção passa a ser de não culpa, pois, nessa altura, encerrou-se a análise 
de questões fáticas e probatórias. Portanto, uma vez que o tribunal (TJ/TRF) tenha considerado bem 
provados o fato e suas circunstâncias, os recursos constitucionais não abordarão esses aspectos, pois 
estarão adstritos aos limites que lhe são impostos constitucional e legalmente. 
Em abril de 2018, nova ação declaratória de constitucionalidade (54) foi ajuizada com o mesmo 
propósito das anteriores. 
Quando do julgamento do mérito das três ações (ADCs 43, 44 e 54), o tribunal, contrariando a 
tendência que se desenhava desde 2016, decidiu que a pena só pode ser executada após esgotados 
todos os recursos, marco do trânsito em julgado. 
Na qualidade de relator de todas as ações, o ministro Marco Aurélio foi o primeiro a votar para julgar 
procedentes os pedidos e, consequentemente, declarar a constitucionalidade do art. 283 do CPP, 
com a consequente proibição de que penas sejam executadas antes do julgamento dos recursos 
(trânsito em julgado da sentença condenatória). De acordo com o ministro, o art. 5º, inc. LVII, da 
Constituição Federal, é claro e não deixa margem para dúvidas a respeito da necessidade da 
condenação definitiva. 
 
 
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Ao final do julgamento, contudo, o presidente da Corte alertou que o julgamento realizado na 
oportunidade pelo STF não deveria abranger as decisões tomadas pelo Conselho de Sentença nos 
crimes dolosos contra a vida. 
Esta observação do ministro presidente se alinha a uma decisão proferida em 2017 pela 1ª Turma do 
tribunal quando do julgamento do habeas corpus HC 118.770. Na ocasião, o ministro Luis Roberto 
Barroso, que teve sua tese acolhida por maioria, destacou que “[...] a presunção de inocência é 
princípio (e não regra) e, como tal, pode ser aplicada com maior ou menor intensidade, quando 
ponderada com outros princípios ou bens jurídicos constitucionais colidentes. No caso específico da 
condenação pelo Tribunal do Júri, na medida em que a responsabilidade penal do réu já foi assentada 
soberanamente pelo Júri, e o Tribunal não pode substituir-se aos jurados na apreciação de fatos e 
provas (CF/88, artigo 5º, XXXVIII, c), o princípio da presunção de inocência adquire menor peso ao 
ser ponderado com o interesse constitucional na efetividade da lei penal, em prol dos bens jurídicos 
que ela visa resguardar (CF/88, artigos 5º, caput e LXXVIII e 144). Assim, interpretação que interdite 
a prisão como consequência da condenação pelo Tribunal do Júri representa proteção insatisfatória 
de direitos fundamentais, como a vida, a dignidade humana e a integridade física e moral das 
pessoas”. 
Partiu-se da premissa de que, face à soberania que é inerente ao Tribunal do Júri, decorrente de 
expresso texto constitucional (art. 5º, inc. XXXVIII, “c”), deve ser admitida a imediata prisão do réu, 
assim que condenado pelo tribunal popular. Vê-se, portanto, que a execução antecipada da pena no 
caso dos crimes dolosos contra a vida tem fundamento mais amplo do que a execução nos demais 
casos, pois baseada no princípio constitucional de que a decisão tomada pelos jurados não pode ser 
desrespeitada. Mas, como se tratou de uma decisão tomada por maioria no âmbito restrito de uma 
das turmas do tribunal, é muito provável que o tema volte a julgamento no plenário. 
Com a nova Lei 13.964/19, sacramenta-se a possibilidade de execução provisória no júri, mas 
condicionada ao “quantum” da pena imposta na sentença. Somente no caso de condenação a uma 
pena igual ou superior a 15 anos de reclusão, o juiz presidente do Tribunal do Júri determinará a 
execução provisória das penas, com expedição de mandado de prisão, se for o caso. Nessa hipótese, 
eventual apelação interposta, em regra, não terá efeito suspensivo (§4º.). O juiz presidente poderá, 
excepcionalmente, deixar de autorizar a execução provisória das penas de que trata esta alínea “e” 
se houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal a quem competir o julgamento possa 
plausivelmente levar à revisão da condenação (§3º.). A expressão “excepcionalmente” indica que a 
não execução provisória pressupõe condenação anormal, inusitada, fora do comum. A regra, então, 
é a execução imediata da pena, ainda que em caráter provisório. 
O próprio tribunal competente para julgar a apelação poderá, também em situações excepcionais, 
atribuir efeito suspensivo ao recurso quando verificado cumulativamente (e não isoladamente) que 
 
 
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o recurso não tem o propósito meramente protelatório e levantaquestão substancial e que pode 
resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena para patamar 
inferior a 15 anos de reclusão (5º.). Em razão da soberania dos veredictos, o tribunal, no julgamento 
da apelação, jamais absolverá o apelante, mas, se o caso, anulará o julgamento para nova sessão 
perante o Conselho de Sentença. Por isso, ficamos sem entender o que buscou o legislador ao 
descrever que um dos requisitos para o efeito suspensivo é a presença de “questão substancial que 
pode resultar em absolvição”. 
O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito incidentalmente na apelação ou por 
meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença 
condenatória, das razões de apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e das demais 
peças necessárias à compreensão da controvérsia (6º.). 
Publicamos na página do CAOCRIM o parecer ministerial elaborado pelo colega Jorge Assaf Maluly, 
no qual se sustenta a constitucionalidade da execução provisória em caso de condenação pelo Júri, 
com apoio nos votos dos Ministros do STF Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli. 
Clique aqui para acessar o Parecer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Menu_Pecas/Pareceres_outras_manifestacoes/HC%202219023-79.2021.8.26.0000_Prisao_Juri.pdf
 
 
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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM 
DIREITO PROCESSUAL PENAL: 
1- Tema: Mesmo sem fato novo, Sexta Turma do STJ admite que sentença restabeleça prisão 
preventiva relaxada por excesso de prazo 
STJ- Notícias do STJ 
A Sexta Tuma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou habeas corpus a um réu que foi solto 
durante a fase de instrução, mas teve a prisão preventiva novamente decretada na sentença 
condenatória. Por maioria, o colegiado considerou que a prisão ordenada originalmente foi relaxada 
por excesso de prazo, mas seus motivos, relacionados à garantia da ordem pública, continuam 
presentes, como justificou na sentença o juiz de primeiro grau. 
Relator do habeas corpus, o ministro Sebastião Reis Júnior afirmou que não desapareceu a 
periculosidade do acusado, cuja soltura durante o processo se deveu à extensão dos efeitos de um 
habeas corpus concedido pelo STJ a um corréu em razão do excesso de prazo na instrução. Na 
sentença, ele foi condenado a uma pena total de cerca de 19 anos de prisão pela prática dos crimes 
de tráfico de drogas, associação para o tráfico e posse ilegal de arma de fogo. 
Segundo a defesa, a prisão cautelar não poderia ser embasada na gravidade concreta do delito e no 
risco à ordem pública, pois, no período em que o réu ficou em liberdade, não ocorreu nenhum fato 
do qual se depreenda a sua periculosidade. 
Decisão baseada em juízo de certeza 
O relator reafirmou os fundamentos do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) para a manutenção 
da prisão, considerando que é possível a decretação da segregação preventiva do réu na sentença 
condenatória, já que está prevista no artigo 387, parágrafo 1º, do Código de Processo Penal. 
Reportando-se ao parecer do Ministério Público Federal sobre o caso, o ministro assinalou que a 
decretação de prisão cautelar na sentença, diferentemente da que ocorre na fase investigatória ou 
durante a instrução processual, é baseada em um juízo de certeza por parte do magistrado, após a 
análise de todas as provas, de maneira que ele não apenas pode, mas deve negar ao réu o direito de 
recorrer em liberdade quando estiverem presentes os requisitos para a imposição da medida. 
Quanto à ausência de contemporaneidade apontada pela defesa, Sebastião Reis Júnior afirmou que 
o risco à ordem pública não cessou no curso processual, "mas apenas foi reconhecida a ilegalidade 
da custódia dos réus por excesso de prazo, ficando evidente a manutenção da condição pessoal 
desfavorável, que justificava, desde o início, a prisão preventiva". 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm#art387%C2%A71
 
 
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Leia o acórdão no AgRg no HC 658.317. 
Esta notícia refere-se ao(s) processo(s):HC 658317 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
No caso em comento, é importante destacar que, para o relator, ficou demonstrado que a prisão é 
imprescindível, pois foi fundamentada na gravidade concreta da conduta, evidenciada pela 
quantidade de droga apreendida – mais de 62 quilos de cocaína e 11 quilos de pasta-base –, e no 
risco de reiteração delitiva, considerando inclusive a reincidência do réu. 
A decisão do ministro levou em conta precedentes do STJ sobre a possibilidade de se negar ao 
acusado o direito de recorrer solto da sentença condenatória, caso estejam presentes os motivos 
para a segregação preventiva, ainda que ele tenha permanecido solto durante a instrução (HC 
498.620 e HC 522.615). 
Ao negar o habeas corpus, Sebastião Reis Júnior afirmou que medidas cautelares mais brandas não 
seriam eficazes. "Tenho que ficou demonstrada a necessidade da prisão preventiva, não se revelando 
suficientes, para o caso em análise, as medidas previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal", 
finalizou. 
O ministro Rogerio Schietti Cruz e o desembargador convocado Olindo Menezes ficaram vencidos no 
julgamento. Para eles, a nova prisão só se justificaria diante de algum fato novo que contraindicasse 
a liberdade do réu. 
 
2- Tema: Sexta Turma do STJ limita requisição de dados genérica feita a provedor de internet em 
investigação criminal 
STJ- Notícias do STJ 
A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), acolhendo recurso de um provedor de internet, 
limitou uma requisição judicial de informações apenas aos dados relativos ao IP dos usuários. Para o 
colegiado, a amplitude da requisição original violou o princípio da proporcionalidade, ao trazer 
determinação genérica sobre as pessoas investigadas e exigir informações que, em tese, não são 
importantes para as investigações. 
No curso do processo criminal, a juíza ordenou ao provedor que informasse dados das contas de 
todos os usuários que estiveram nas proximidades do local do crime no período em que ele 
aconteceu. A ordem incluía as informações registradas pelas interações entre esses usuários, como 
histórico de localização, identificação dos aparelhos, dados de nuvem e histórico de pesquisas. 
https://processo.stj.jus.br/processo/julgamento/eletronico/documento/mediado/?documento_tipo=integra&documento_sequencial=129035240&registro_numero=202101033836&peticao_numero=202100473825&publicacao_data=20210630&formato=PDF
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&termo=HC%20658317
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1814355&num_registro=201900731758&data=20190506&peticao_numero=-1&formato=PDF
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1814355&num_registro=201900731758&data=20190506&peticao_numero=-1&formato=PDF
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1862810&num_registro=201902127550&data=20190919&peticao_numero=-1&formato=PDF
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm#art319
 
 
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Contra a ordem judicial, o provedor ingressou com mandado de segurança, que foi indeferido pelo 
tribunal de origem sob o fundamento de que o direito de sigilo não é absoluto, podendo ser afastado 
no caso de investigação criminal ou instrução processual penal. Além disso, o tribunal entendeu que 
a decisão contestada teve fundamentação adequada e delimitou o período e o local para o 
fornecimento das informações. 
O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial. 
COMENTÁRIOS DOCAOCRIM 
De acordo com precedentes da Sexta Turma do STJ, para a verificação da proporcionalidade da 
requisição de dados, é necessário observar três pontos principais: 
1- a adequação ou idoneidade dos meios empregados para atingir o resultado; 
2- a necessidade ou a proibição de excesso (para se avaliar se há solução menos gravosa aos direitos 
fundamentais); e 
3- a proporcionalidade em sentido estrito (a relação entre os meios empregados e os fins buscados). 
No caso dos autos, o ministro entendeu que a medida de requisição é necessária para esclarecer a 
identidade dos suspeitos que circularam no local dos fatos. Entretanto, ponderou, a determinação 
não foi proporcional em sentido estrito, pois adentrou indevidamente na intimidade de pessoas 
indeterminadas, requisitando dados impertinentes em um primeiro momento. 
 
3-Tema: Quinta Turma do STJ anula júri que condenou a ré baseado apenas em prova de motivo 
para o crime 
STJ- Notícias do STJ 
Em razão da inexistência de provas de autoria, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) 
anulou um veredito condenatório do tribunal do júri e determinou que a ré seja submetida a novo 
julgamento. Segundo o relator do recurso especial, ministro Ribeiro Dantas – cujo voto foi seguido 
de forma unânime pela turma –, as provas apontadas pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) para 
rejeitar a apelação da defesa e manter a condenação mostram apenas que a acusada teria um 
motivo, mas não que tenha cometido o crime. 
Para o colegiado, se a apelação sustenta que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária às 
provas dos autos (artigo 593, III, "d", do Código de Processo Penal – CPP), o tribunal de segundo 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art593iii
 
 
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grau tem o dever de analisar se pelo menos existem provas de cada um dos elementos essenciais do 
crime. 
De acordo com o relator, o veredito condenatório manifestamente contrário ao conjunto probatório 
é o proferido sem que essas provas existam. 
Provas apontam apenas desavença com a vítima 
A ré foi condenada como mandante da morte de um homem que ocupava um imóvel adquirido por 
ela em leilão – fato que teria gerado desavença entre eles. O irmão dela foi condenado como 
executor do crime. O TJCE cassou o veredito em relação ao irmão por considerá-lo manifestamente 
contrário às provas, mas manteve a condenação da acusada de ser a autora intelectual do homicídio. 
O ministro Ribeiro Dantas lembrou que, em geral, "a avaliação da existência ou não de prova da 
autoria delitiva, bem como da manifesta contrariedade entre o veredito dos jurados e as provas dos 
autos, exige aprofundado reexame do conjunto fático-probatório" – o que não pode ser feito pelo 
STJ em recurso especial, como dispõe a Súmula 7. 
No caso em análise, porém, o magistrado verificou que o acórdão recorrido expôs a totalidade das 
provas que embasaram o resultado do júri, sendo que todas elas apontam apenas a existência de 
uma desavença entre a ré e a vítima. Segundo ele, não é necessário revalorar as provas, mas tão 
somente avaliar se a conclusão do TJCE pela manutenção do veredito decorreu dos fatos narrados 
pela própria corte em seu acórdão. 
"Não há no acórdão recorrido a indicação de nenhum elemento concreto que sugira ser a ré autora 
intelectual do delito. Seu desentendimento histórico com a vítima, embora possa torná-la suspeita e 
impulsionar uma investigação mais detida (que não ocorreu), não autoriza presumir a autoria do 
homicídio", afirmou. 
Controle jurisdicional das decisões dos jurados 
"Aferir a existência das provas é tarefa que cabe ao tribunal estadual ou regional, quando aprecia a 
apelação do artigo 593, III, 'd', do CPP. Se a corte local não é capaz de apontar tais provas, ou seu 
acórdão é omisso (nulo, portanto), ou o veredito condenatório deve ser cassado por falta de provas, 
ainda que o aresto recorrido o tenha mantido incólume", declarou. 
No caso em julgamento – continuou o ministro –, embora tenha feito um exame exaustivo das provas 
do processo, o TJCE não conseguiu apontar nenhum elemento que comprovasse a autoria do 
homicídio. 
https://www.stj.jus.br/docs_internet/VerbetesSTJ_asc.pdf
 
 
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Ribeiro Dantas explicou que, como a legislação brasileira permite o controle jurisdicional das decisões 
dos jurados, a corte competente para julgar a apelação deve investigar se o veredito foi 
minimamente respaldado nas provas e teses apresentadas em plenário. 
"Ao julgar a apelação, o tribunal não pode se imiscuir no mérito do sopesamento do conjunto 
probatório, mas tem a obrigação de apontar se, para cada um dos elementos do delito, existem 
provas de sua ocorrência, ainda que não concorde com a conclusão dos jurados a seu respeito", 
observou. 
Prova de motivo não é prova de autoria 
O ministro ainda ressaltou que "a prova do motivo não implica necessariamente prova da autoria". 
Para o magistrado, verificar a existência de um motivo e, a partir dele, considerar que a autoria está 
provada significa inverter a ordem lógica de valoração das provas. 
"Como elemento essencial que é, primeiro se avalia a comprovação da autoria, para somente então 
aferir quais os motivos que impulsionaram o agente. A autoria é uma questão prejudicial, porque sua 
ausência torna até despicienda a descoberta dos motivos do autor, o qual permanece desconhecido 
para o direito", concluiu. 
Leia aqui o acórdão no AREsp 1.803.562. 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Diante da clareza da decisão, aproveitamos o caso em discussão para relembrar aos colegas teses do 
STJ envolvendo a apelação no júri e o princípio da soberania dos veredictos. 
a) “Viola o princípio da soberania dos veredictos a anulação parcial de decisão proferida pelo 
Conselho de Sentença acerca da qualificadora sem a submissão do réu a novo Júri” (tese n. 6). 
b) “Não viola o princípio da soberania dos vereditos a cassação da decisão do Tribunal do Júri 
manifestamente contrária à prova dos autos” (tese 13) 
c) “A soberania do veredicto do Tribunal do Júri não impede a desconstituição da decisão por meio 
de revisão criminal” (tese 14). 
 
 
 
 
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=2089805&num_registro=202003304702&data=20210830&peticao_numero=-1&formato=PDF
 
 
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DIREITO PENAL: 
1-Tema: Para a Terceira Seção do STJ, a apreensão de ínfima quantidade de munição 
desacompanhada da arma de fogo não implica, por si só, a atipicidade da conduta. 
STJ- Informativo de Jurisprudência nº 0710 
No acórdão embargado, da Sexta Turma, a apreensão de ínfima quantidade de munição, aliada à 
ausência de artefato apto ao disparo, implica o reconhecimento, no caso concreto, da incapacidade 
de se gerar perigo à incolumidade pública. 
No julgado paradigma, a Quinta Turma decidiu que "apesar da apreensão de apenas uma munição 
na posse do réu, a condenação pelo outro crime (tráfico de drogas), revela a impossibilidade de 
reconhecimento da atipicidade da conduta do delito do art. 16, caput, da Lei n. 10.826/2003. A 
particularidade do caso demonstra a efetiva lesividade desta conduta". 
Assim, discute-se o entendimento, até então predominante nesta Corte, de que a simples conduta 
de possuir ou portar ilegalmente arma, acessório, munição ou artefato explosivo é suficiente para a 
configuração dos delitos previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003, sendo dispensável a 
comprovação do potencial lesivo. 
O Supremo Tribunal Federal passou a admitir a aplicação do princípio da insignificância em hipóteses 
excepcionalíssimas, quando apreendidas pequenas quantidades de munições e desde que 
desacompanhadas da arma de fogo. 
Na mesma linha da jurisprudência do STF, a Quinta Turma dessa Corte Superior tementendido que 
o simples fato de os cartuchos apreendidos estarem desacompanhados da respectiva arma de fogo 
não implica, por si só, a atipicidade da conduta, de maneira que as peculiaridades do caso concreto 
devem ser analisadas a fim de se aferir: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b) a ausência 
de periculosidade social da ação; c) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e d) a 
inexpressividade da lesão jurídica provocada. 
No caso, embora com o embargado tenha sido apreendida apenas uma munição de uso restrito, 
desacompanhada de arma de fogo, ele foi também condenado pela prática dos crimes descritos nos 
arts. 33, caput, e 35, da Lei n. 11.343/2006 (tráfico de drogas e associação para o tráfico), o que afasta 
o reconhecimento da atipicidade da conduta, por não estarem demonstradas a mínima ofensividade 
da ação e a ausência de periculosidade social exigidas para tal finalidade. 
Desse modo, deve prevalecer no STJ o entendimento do acórdão paradigma. 
Leia o acórdão no EREsp 1.856.980-SC. 
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=202000060290&dt_publicacao=30/09/2021
 
 
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Esta notícia refere-se ao(s) processo(s): EREsp 1.856.980-SC 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Os tribunais em geral têm aceitado copiosamente o princípio da insignificância. A sua aplicação, 
porém, não é irrestrita. Os Tribunais Superiores estabelecem alguns requisitos necessários para que 
se possa alegar a insignificância da conduta. São eles: 
(A) a mínima ofensividade da conduta do agente; 
(B) a ausência de periculosidade social da ação; 
(C) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e, por fim 
(D) a inexpressividade da lesão jurídica causada. 
Do julgado em comento, conclui-se que a aplicação ou não do princípio da bagatela está diretamente 
relacionada às circunstâncias do caso concreto (do flagrante), sendo imperioso o vislumbre imediato 
da ausência de lesividade da conduta, o que não ocorre, por exemplo, quando a apreensão está 
atrelada à prática de outros delitos, ou mesmo quando há o acompanhamento das munições por 
arma de fogo, apta a preencher a tipicidade material do delito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=202000060290&dt_publicacao=30/09/2021
https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=%28ERESP.clas.+e+%40num%3D%221856980%22%29+ou+%28ERESP+adj+%221856980%22%29.suce.
 
 
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MP/SP: decisões do setor do art. 28 do CPP 
1-Tema: Revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial. Princípio da insignificância. 
Confirmação. 
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ART. 28 
Autos n.º 15134xx-41.2021.8.26.0050 – MM. Juízo do DIPO 3 (Comarca da Capital) 
Indiciados: MAIK GONÇALVES RODRIGUES DOS SANTOS e ISABEL SANTOS DO NASCIMENTO 
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial – confirmação. 
 
 
Cuida-se de investigação penal instaurada, por portaria, para apuração do crime de furto 
qualificado consumado (art. 155, §4º, IV, do CP), cometido, em tese, por MAIK GONÇALVES 
RODRIGUES DOS SANTOS e ISABEL SANTOS DO NASCIMENTO. 
Consta dos autos que, no dia 6 de novembro de 2020, por volta das 14 horas, os investigados 
compareceram no estabelecimento comercial Mercearia Lotte, situado na Avenida Dino Bueno, nº 
230, Campos Elíseos, nesta Capital, e subtraíram 1 espumante, avaliado em R$ 11,50 (onze reais e 
cinquenta centavos) e 3 energéticos, avaliados em R$ 8,50 (oito reais e cinquenta centavos) cada um. 
Contudo, guardas civis metropolitanos foram acionados pelo representante da empresa 
vítima, que relatou o ocorrido, e encontraram os investigados próximos ao local dos fatos. ISABEL 
carregava duas latas de energético e uma lata de espumante e MAIK foi encontrado logo à frente, 
sem nada de ilícito em seu poder. 
Os bens subtraídos foram apreendidos e restituídos ao representante da vítima (cf. auto de 
exibição e apreensão de fls. 06). 
Em suas declarações de fls. 7, MAIK confessou que entrou no local, pegou três latas de 
cerveja, colocou-as na mochila e saiu. Todavia, disse que tinha acabado de conhecer ISABEL e que ela 
não teve nenhuma participação na subtração das mercadorias. 
 
 
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ISABEL, por sua vez, disse que conheceu MAIK momentos antes da abordagem e ele a 
convidou para acompanhá-lo. Entraram no estabelecimento e ficou andando pelos corredores. Não 
sabia que MAIK pretendia furtar as mercadorias e achou que ele tinha efetuado o pagamento delas 
por elas. Quando saíram do local, MAIK lhe entregou uma lata de cerveja, que foi consumindo e, 
depois de sair do banheiro, foi abordada pelos guardas (fls. 08). 
Relatado o feito (fls. 35), a Douta Promotora de Justiça requereu o arquivamento dos autos, 
por entender que à espécie dever-se-ia aplicar o princípio da insignificância, não restando 
configurado, assim, fato penalmente típico (fls. 39/40). 
A MM. Juíza, contudo, discordando de tal posicionamento, encaminhou a questão para 
análise desta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do art. 28 do CPP (fls. 41/45). 
Eis a síntese do necessário. 
A razão se encontra com a Ilustre Representante Ministerial, com a devida vênia da 
Digníssima Magistrada; senão, vejamos. 
Com base nos documentos acostados aos autos, não há demonstração de que os 
investigados sejam reincidentes ou portadores de maus antecedentes. 
Além disso, o valor dos bens subtraídos, avaliados em R$ 28,50 (vinte e oito reais e cinquenta 
centavos – fls. 06), encontra-se na esfera de incidência do princípio da bagatela em casos de furto, 
de vez que inferior a 10% do salário mínimo. A mercadoria subtraída, ademais, foi apreendida e 
restituída ao proprietário, que não suportou perda patrimonial. 
Em vista disso, conclui-se estarem presentes, no caso concreto, os requisitos exigidos pelo 
Supremo Tribunal Federal para a incidência do princípio da insignificância, a saber: a inexpressividade 
da lesão ao bem jurídico; a ausência de periculosidade social da ação; a falta de reprovabilidade da 
conduta; a mínima ofensividade do comportamento do agente. (cf. HC n. 94.931, rel. Min. Ellen 
Gracie) 
Confira-se, ainda, o seguinte julgado do E. Supremo Tribunal Federal: 
 
 
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Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E 
PROCESSUAL PENAL. CRIME DE FURTO. ARTIGO 155 DO CÓDIGO 
PENAL. PLEITO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ALEGADA 
ATIPICIDADE DA CONDUTA. REITERAÇÃO DELITIVA. 
INSUSCETIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DA 
INSIGNIFICÂNCIA. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. INADMISSIBILIDADE NA VIA ELEITA. INEXISTÊNCIA DE 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 
1. O princípio da insignificância incide quando presentes, 
cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (a) mínima 
ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade 
social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do 
comportamento, e (d) inexpressividade da lesão jurídica 
provocada. 2. O princípio da bagatela é afastado quando 
comprovada a contumácia na prática delitiva. Precedentes: HC 
147.215-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 
1º/8/2018; HC 142.374-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Alexandre de 
Moraes, DJe de 12/4/2018. 3. O trancamento da ação penal por meio 
de habeas corpus é medida excepcional, somente admissível quando 
transparecer dos autos, de forma inequívoca, a inocência do 
acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade. 
Precedentes: HC 167.631-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Roberto 
Barroso, DJe de 17/5/2019; HC 141.918-AgR, Primeira Turma, Rel. 
Min. Rosa Weber, DJe de 20/6/2017; HC 139.054, Segunda Turma, 
Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 2/6/2017. 4. In casu, o recorrente foi 
denunciado pela supostaprática do crime previsto no artigo 155 do 
Código Penal. 5. O habeas corpus é ação inadequada para a valoração 
e exame minucioso do acervo fático probatório engendrado nos 
autos. 6. A reiteração dos argumentos trazidos pelo agravante na 
petição inicial da impetração é insuscetível de modificar a decisão 
agravada. Precedentes: HC 136.071-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. 
Ricardo Lewandowski, DJe de 9/5/2017; HC 122.904-AgR, Primeira 
Turma, Rel. Min. Edson Fachin, DJe de 17/5/2016; RHC 124.487-AgR, 
Primeira Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 1º/7/2015. 7. 
Agravo Regimental desprovido. (HC 174477 AgR, Relator(a): Min. 
LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 25/10/2019, PROCESSO 
ELETRÔNICO DJe-251 DIVULG 18-11-2019 PUBLIC 19-11-2019) 
 
No mesmo sentido, a recente jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça: 
 
 
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RECURSO ESPECIAL. FURTO. ITENS DE HIGIENE E VESTUÁRIO. VALOR 
EQUIVALENTE A 8 % DO SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO 
FATO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. RECURSO PROVIDO. 
1. Sedimentou-se a orientação jurisprudencial no sentido de que a 
incidência do princípio da insignificância pressupõe a concomitância 
de quatro vetores: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; 
b) nenhuma periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de 
reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão 
jurídica provocada. 
2. Ainda que o acusado ostente o registro de um inquérito policial 
instaurado em razão da prática dos delitos de roubo e corrupção de 
menores, o furto de itens de higiene pessoal e vestuário - 2 cremes 
dentais, da CIA Brasileira de Distribuição (Supermercado Extra), 1 par 
de sapatos femininos e 1 blusa de moleton, de HM Calçados e 
Confecções, avaliados em R$ 75,00, que foram restituídos às vítimas 
- autoriza, excepcionalmente, a incidência do princípio da 
insignificância. 
3. O montante equivalente a 8% do salário mínimo vigente à época 
dos fatos, em crime perpetrado contra pessoa jurídica, não justifica 
tão gravosa resposta penal do Estado. 
4. Recurso especial provido para absolver o acusado Reginaldo 
Moraes de Oliveira das imputações da denúncia, pela incidência do 
princípio da insignificância. 
(REsp 1921186/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES 
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA 
TURMA, julgado em 22/06/2021, DJe 28/06/2021) 
 
RECURSO EM HABEAS CORPUS. FURTO. TRANCAMENTO DO 
PROCESSO. INSIGNIFICÂNCIA. VALOR ÍNFIMO. CONCEITO INTEGRAL 
DE CRIME. PUNIBILIDADE CONCRETA. CONTEÚDO MATERIAL. BEM 
JURÍDICO TUTELADO. GRAU DE OFENSA. VALOR ÍNFIMO DA 
SUBTRAÇÃO. RECURSO EM HABEAS CORPUS PROVIDO. 
1. Para que o fato seja considerado criminalmente relevante, não 
basta a mera subsunção formal a um tipo penal. Deve ser avaliado o 
desvalor representado pela conduta humana, bem como a extensão 
da lesão causada ao bem jurídico tutelado, com o intuito de aferir se 
há necessidade e merecimento da sanção, à luz dos princípios da 
fragmentariedade e da subsidiariedade. 
 
 
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2. As hipóteses de aplicação do princípio da insignificância se revelam 
com mais clareza no exame da punibilidade concreta - possibilidade 
jurídica de incidência de uma pena -, que atribui conteúdo material 
e sentido social a um conceito integral de delito como fato típico, 
ilícito, culpável e punível, em contraste com estrutura tripartite 
(formal). 
3. Por se tratar de categorias de conteúdo absoluto, a tipicidade e a 
ilicitude não comportam dimensionamento do grau de ofensa ao 
bem jurídico tutelado compreendido a partir da apreciação dos 
contornos fáticos e dos condicionamentos sociais em que se inserem 
o agente e a vítima. 
4. O diálogo entre a política criminal e a dogmática na jurisprudência 
sobre a bagatela é também informado pelos elementos subjacentes 
ao crime, que se compõem do valor dos bens subtraídos e do 
comportamento social do acusado nos últimos anos. 
5. Na espécie, o réu primário subtraiu de estabelecimento comercial 
dois steaks de frango, avaliados em R$ 4,00, valor ínfimo que não 
evidencia lesão ao bem jurídico tutelado e não autoriza a atividade 
punitiva estatal. 
6. Recurso em habeas corpus provido, para determinar o 
trancamento da ação penal. 
(RHC 126.272/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA 
TURMA, julgado em 01/06/2021, DJe 15/06/2021) 
 
Ante o exposto, com a renovada vênia da MM. Juíza, insiste-se na promoção de 
arquivamento. 
 
São Paulo, 23 de setembro de 2021. 
 
 
Mário Luiz Sarrubbo 
Procurador-Geral de Justiça

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