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_____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 1 _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 2 AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE 1. INTRODUÇÃO A ação de imissão de posse estava prevista no CPC/39 como procedimento especial das ações possessórias, deixando de ser prevista no CPC/73. O CPC/2015 também não a prevê como procedimento especial. O Decreto-lei 70/1966, que versa sobre o funcionamento de associações de poupança e empréstimo e sobre a cédula hipotecária, prevê um procedimento extrajudicial para a retomada do imóvel financiado pelo credor hipotecário (arts. 31 a 38). Nesse procedimento, se o devedor não promover a purgação da mora, o credor poderá levar o bem a leilão. Efetivada a alienação do imóvel, será emitida a respectiva carta de arrematação, assinada pelo leiloeiro, pelo credor, pelo agente fiduciário, e por cinco pessoas físicas idôneas, absolutamente capazes, como testemunhas, documento que servirá como título para a transcrição no Registro Geral de Imóveis. Uma vez transcrita no Registro Geral de Imóveis a carta de arrematação, dispõe o Decreto-lei 70/1966 que o adquirente poderá requerer ao Juízo competente imissão de posse no imóvel, que lhe será concedida liminarmente. 2. CABIMENTO DA AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE A ação de imissão de posse tem natureza petitória, pois tem por fundamento o jus possidendi, ou seja, o direito do proprietário à posse do bem. Trata-se de ação a ser proposta por aquele que adquiriu a propriedade, mas nunca teve posse sobre o bem. É o que ocorre, por exemplo, na arrematação de bem em hasta pública e leilões promovidos por credores fiduciários (Lei nº 9.514/97). _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 3 Ao adquirir a propriedade do bem imóvel, é natural que o proprietário queira exercer todas as faculdades inerentes a esse direito, em especial, a faculdade de usar e fruir do bem. Contudo, como o bem se encontra sob a posse de terceiro, é preciso que o proprietário requeira um provimento judicial que lhe garanta a posse do bem. tal requerimento é feito por meio da ação de imissão de posse. Os requisitos são muito semelhantes aos da ação reivindicatória. Vejamos: a) Domínio atual Somente o proprietário que nunca teve posse pode se valer da ação de imissão de posse. Assim, o autor deve provar ser o proprietário do bem imóvel, juntando aos autos cópia da certidão atualizada da matrícula. Sem a prova da propriedade, a ação sequer será admitida. A ação também pode ser promovida pelo promitente comprador quando houver previsão no contrato de que o promitente comprador poderá imitir-se na posse. O STJ, aliás, admite a propositura da ação de imissão de posse, mesmo que o promitente comprador não leve o contrato de promessa de compra e venda a registro. O fundamento é o de que apesar de ainda não ser proprietário, não disporá de qualquer outra ação frente a terceiros que ocupam indevidamente o imóvel. RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE. AÇÃO PETITÓRIA COM BASE NO DOMÍNIO. NECESSIDADE, EM PRINCÍPIO, DA DEMONSTRAÇÃO DA PROPRIEDADE DO BEM PELO DEMANDANTE. POSSIBILIDADE, NO ENTANTO, DE O ADQUIRENTE, OSTENTANDO A PROMESSA DE COMPRA E VENDA CELEBRADA COM O PROPRIETÁRIO REGISTRADO DO IMÓVEL, AJUIZAR FRENTE A TERCEIROS QUE NÃO DETENHAM TÍTULO DESSA NATUREZA, A COMPETENTE DEMANDA PARA SE VER IMITIDO NA POSSE. 1. Controvérsia em torno da viabilidade jurídica do ajuizamento de imissão na posse pelo adquirente (promitente comprador) de imóvel, apresentando o respectivo título aquisitivo, mas ainda não registrado no Cartório do Registro de Imóveis. 2. O autor, ostentando título aquisitivo de imóvel em que consta o proprietário registral do bem como promitente vendedor, mas que não o registrou no álbum imobiliário, nem celebrou a escritura pública apta à transferência _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 4 Posse injusta para ações possessórias •Violenta •Clandestina •Precária Posse injusta para a ação de imissão de posse •Qualquer pessoa que não seja proprietário ou que não mantenha com ele nenhuma relação jurídica. •A posse do não proprietário pode até ser “justa” para fins possessórios registral, pode se valer da ação de imissão de posse para ser imitido na posse do bem. 3. Necessário apenas verificar de modo mais aprofundado, no curso da ação de imissão na posse movida pelo compromissário comprador, se os réus ostentam título que lhes possa franquear a propriedade do bem, situação a ser observada pela Corte de origem, pois limitada, tão somente, à análise das provas coligidas. 4. Acórdão recorrido reformado de modo a se reconhecer a possibilidade de o compromissário comprador ser imitido na posse do imóvel, mesmo não sendo ele ainda proprietário, determinando-se, ainda, que a Corte de origem, à luz das provas produzidas e dos argumentos esgrimidos pelos demandados, verifique se ostentam direito a lhes franquear a propriedade do imóvel, em detrimento do direito do autor. 5. Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.724.739 - SP (2016/0221125-7) RELATOR: MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO) b) Posse injusta do réu Para que seja cabível a ação de imissão de posse, é preciso que o réu exerça posse injusta sobre o imóvel. Essa posse injusta, porém, não é a mesma que autoriza o ajuizamento de ação de reintegração de posse. Para fins de ação possessória, posse injusta é aquela obtida de forma violenta, clandestina ou precária. Por outro lado, posse injusta para fins de ação de imissão de posse é aquela exercida por qualquer pessoa que não seja proprietária ou que não mantenha com o proprietário nenhuma relação jurídica. Assim, se há contrato de locação entre proprietário e possuidor, não cabe ação de imissão de posse. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 5 3. LEGITIMIDADE A legitimidade ativa será do adquirente do bem imóvel (novo proprietário registral) ou do promitente comprador, caso haja previsão de imediata imissão na posse. A legitimidade passiva será do possuidor injusto ou do mero detentor. Tratando-se de bem em regime de condomínio, qualquer condômino tem legitimidade, não se exigindo a formação de litisconsórcio ativo. Vejamos o que diz o art. 1.314 do CC: Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la. Segundo Francisco Eduardo Loureiro, Finalmente, o último dos direitos do condômino é reivindicar a coisa comum de terceiros. Decorre do direito de sequela, de perseguir a coisa em poder de quem injustamente se encontra. Em relação a terceiros, o condômino age como se fosse proprietário pleno. Pode ajuizar ações petitórias em geral contra terceiros, tanto reivindicatória como imissão de posse ou publicianas, todas fundadas no ius possidendi, independentemente da anuência dos demais coproprietários. O pedido não se limita à devolução da parte ideal do autor da demanda, mas da coisa por inteiro, em benefício próprio e dos demais condôminos”.1 Se forem dois ou mais ocupantes, como a sentença, ao final, seráuniforme em relação a eles, deverá o autor requerer a citação de todos, formando-se, assim, um litisconsórcio passivo. Caso o proprietário do imóvel seja falecido, a ação pode ser proposta pelo espólio (representado pelo inventariante) ou pelos herdeiros. 1 LOUREIRO, Op. cit., p. 1.165. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 6 4. PARTICIPAÇÃO DO CÔNJUGE OU DO COMPANHEIRO Por se tratar de ação real imobiliária, aplica-se o art. 73 do CPC. Assim, se a parte autora for casada, deverá obter a autorização do seu cônjuge, salvo se o casamento for regido pelo regime da separação absoluta de bens, conforme art. 73, caput, do CPC: Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. Se o réu for casado, o seu cônjuge também deverá ser citado, salvo se o casamento for regido pelo regime da separação absoluta de bens, conforme art. 73, § 1º, I, do CPC: Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; (...) Essa mesma regra se aplica à união estável comprovada nos autos, conforme prevê o § 3º do art. 73 do CPC (“Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos”). 5. COMPETÊNCIA Por se tratar de ação real imobiliária, a competência será do foro (local) onde o bem imóvel está situado. Trata-se de regra de competência territorial absoluta, prevista no art. 47 do CPC (“Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 7 o foro de situação da coisa”). A ação deverá ser distribuída para uma das varas cíveis da comarca. 6. PROCEDIMENTO 6.1. Petição inicial A petição inicial deve observar os requisitos dos arts. 319 e 320 do CPC. O valor da causa será o valor previsto no contrato. 6.2. Audiência de conciliação ou mediação Não sendo o caso de indeferimento da petição inicial (art. 330 do CPC) ou de julgamento de improcedência liminar do pedido (art. 332 do CPC), o juiz designará uma audiência de conciliação, observando o art. 334 do CPC. Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. § 1º O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem como as disposições da lei de organização judiciária. § 2º Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde que necessárias à composição das partes. § 3º A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado. § 4º A audiência não será realizada: I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual; II - quando não se admitir a autocomposição. § 5º O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 8 § 6º Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes. § 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico, nos termos da lei. § 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. § 9º As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos. § 10. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica, com poderes para negociar e transigir. § 11. A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença. § 12. A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será organizada de modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e o início da seguinte. 6.3. Contestação Não havendo acordo em audiência, o réu terá o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar contestação. Podem ser suscitadas, aqui, as mesmas teses relativas à ação reivindicatória. As defesas mais comuns do réu são: 6.3.1. Falta de domínio do autor Trata-se de alegação do réu no sentido de que o autor não é o proprietário do imóvel. Essa alegação pode ter por fundamento: a) Ausência de título Reconhecido que o autor não é proprietário registral ou promitente comprador, o processo deve ser extinto, sem resolução do mérito, por ilegitimidade ativa. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 9 b) Vício no título É possível alegar algum vício constante non título aquisitivo, como incapacidade, coação, fraude etc. Trata-se de questão prejudicial. Para que o juiz julgue improcedente o pedido do autor, será preciso, antes, aferir a existência ou não de vício, podendo o réu, inclusive, requerer a declaração da nulidade do próprio título. A dúvida que surge é se, em caso de declaração da nulidade do título, haverá coisa julgada material sobre essa questão prejudicial. É possível, sim, que a questão prejudicial fique coberta pelo manto da coisa julgada, desde que sejam preenchidos os requisitos do § 1º do art. 503 do CPC, quais sejam: i - o julgamento do mérito depender da resolução da questão prejudicial; ii - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; iii - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. c) Disputa de títulos É possível que o réu também tenha um título aquisitivo registrado. Isso ocorre no caso de vendas duplas com duplo registro. Nesse caso, a propriedade deve ser reconhecida àquele que registrou em primeiro lugar, em homenagem ao princípio da prioridade, conforme se infere do art. 186 da Lei nº 6.015/73 (“O número de ordem determinará a prioridade do título, e esta a preferência dos direitos reais, ainda que apresentados pela mesma pessoa mais de um título simultaneamente”). Essa prioridade é identificada com base na data do protocolo de entrada do título no registro imobiliário e não na data que consta do título de aquisição. Logo, mesmo que o réu tenha adquirido o imóvel em data posterior, se o seu título foi apresentado para registro antes da apresentação do título do autor, o pedido do autor da ação de imissão de posse será julgado improcedente. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 10 d) Duplicidade de matrícula É possível que autor e réu tenham títulos legítimos sobre a mesma área. Há, nesse caso, duplicidade de matrícula.Quando isso ocorrer, deverá prevalecer o título inscrito em primeiro lugar no Registro de Imóveis. Nesse sentido: EMENTA OFICIAL: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE REGISTRO PÚBLICO – DUPLICIDADE DE MATRÍCULAS ABERTAS PARA ÚNICO IMÓVEL – PRINCÍPIO DA UNITARIEDADE MATRICIAL E DA PRIORIDADE – LEI Nº 6.015/73. Nos termos da Lei de Registros Públicos, cada imóvel só poderá ter uma única matrícula para que não ocorra a ofensa ao princípio da unitariedade matricial. Comprovada a duplicidade de registros relativos à propriedade do mesmo imóvel, prevalece o mais antigo, devendo ser declarado nulo o registro posterior. (TJMG. Apelação Cível nº 1.0570.17.003243-9/001, Comarca de Salinas, Relator Des. Wagner Wilson Ferreira, julgada em 08/04/2021 e publicada em 14/04/2021). 6.3.2. Usucapião O réu, na contestação, pode alegar a usucapião. A possibilidade de alegação de usucapião como matéria defensiva em ação de imissão de posse se deve ao fato de que, nela, também se discute propriedade. Contudo, é importante registrar que a alegação de usucapião como matéria defensiva em ação imissão de posse tem o condão apenas de gerar a improcedência do pedido reivindicatório. A sentença não poderá ser levada a registro, pois, para que isso ocorra, é preciso que haja uma ação específica de usucapião. Aplica-se, aqui, o mesmo entendimento do STJ acerca da ação reivindicatória: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. ALEGAÇÃO DE USUCAPIÃO COMO MATÉRIA DE DEFESA. POSSIBILIDADE. RESSALVA DO TRIBUNAL DE ORIGEM DE QUE O ACOLHIMENTO DA TESE DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA NÃO IMPORTA _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 11 NA AQUISIÇÃO DO DOMÍNIO. AÇÃO PRÓPRIA. NECESSIDADE. CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA. 1. "A contradição que dá ensejo aos embargos de declaração é a que se estabelece no âmbito interno do julgado embargado, ou seja, a contradição do julgado consigo mesmo, como quando, por exemplo, o dispositivo não decorre logicamente da fundamentação, e não a eventual contrariedade do acórdão com um parâmetro externo (um preceito normativo, um precedente jurisprudencial, uma prova etc)". (AgRg no REsp 987.769/DF, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 06/12/2011, DJe 13/12/2011) 2. Na espécie, o Tribunal de origem ressaltou que a alegação de usucapião pode ser utilizada como matéria de defesa na ação reivindicatória; todavia, o pleno reconhecimento da satisfação de todos os requisitos exigidos para o usucapião é matéria reservada para a ação própria. Assim, acolhida a alegação de usucapião como matéria de defesa em ação reivindicatória, os réus não dispõem de título para a transcrição da propriedade no Cartório de Registro de Imóveis. 3. Dessa sorte, a conclusão adotada pelo Tribunal de origem está em consonância com a jurisprudência desta Corte Superior, de que "o acolhimento da tese de defesa, estribada na prescrição aquisitiva, com a conseqüente improcedência da reivindicatória, de forma alguma, implica a imediata transcrição do imóvel em nome da prescribente, ora recorrente, que, para tanto, deverá, por meio de ação própria, obter o reconhecimento judicial que declare a aquisição da propriedade" (REsp 652.449/SP, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 15/12/2009, DJe 23/03/2010). 4. Inocorrência de contradição no acórdão recorrido. Violação do disposto no art. 535 do CPC não verificada. 5. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp n. 1.270.530/MG, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 21/3/2013, DJe de 5/4/2013.) Há, todavia, uma importante exceção: a possibilidade de alegar, como matéria defensiva, a usucapião especial urbana. Nesse caso, a sentença de improcedência poderá ser levada a registro, conforme previsão do art. 13 da Lei nº 10.257/01 (Estatuto da Cidade). Vejamos: Art. 13. A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 12 6.3.3. Posse justa do réu A ação de imissão de posse deve ser proposta pelo proprietário (ou promitente comprador) contra aquele que injustamente possua ou tenham a coisa. O réu poderá alegar que a sua posse é justa, ou seja, que ela decorre de alguma relação jurídica legalmente constituída, como, por exemplo, locação, arrendamento, comodato, usufruto etc. Importante destacar que se o réu tiver algum direito real sobre o imóvel (ex.: superfície, laje, usufruto etc.), tal direito é oponível erga omnes, por se tratar de característica inerente aos direitos reais. Se o réu tiver algum direito pessoal (ex.: locação, arrendamento, comodato etc.), só poderá alegá-lo contra aquele com quem celebrou o negócio jurídico. É possível, ainda, que o réu não tenha relação direta com o proprietário, mas, ainda assim, possa alegar a existência de relação jurídica que inviabiliza o acolhimento do pedido de imissão de posse. É o que ocorre, por exemplo, na sublocação devidamente prevista no contrato de locação celebrado entre o proprietário e o locatário (sublocador). 6.3.4. Direito de retenção Vale, aqui, o que foi dito no módulo sobre posse. O direito às benfeitorias e o direito de retenção são tratados nos arts. 1.219 a 1.221 do CC. Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 13 Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem. Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual. No que tange às benfeitorias voluptuárias, é preciso atentar para um detalhe prático muito importante: a opção entre levantar a benfeitoria voluptuária ou pagar a respectiva indenização é daquele que está reivindicando o imóvel. Caso ele não exerça a opção, o possuidor de boa-fé terá o direito de levantá-la. O direito de retenção é um “contradireito”, ou seja, uma defesa apresentada pelo possuidor na própria contestação. Assim, enquanto o reivindicante do bem não pagar a indenização pelas benfeitorias (quando devida a indenização), o possuidor poderá permanecer no imóvel. O direito de retenção por benfeitorias estende-se, evidentemente, às construções e às plantações. Nesse sentido é o enunciado 81 da I Jornada de Direito Civil: Enunciado 81. O direito de retenção previsto no art. 1.219 do Código Civil, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias. Conforme mencionado, trata-se de um contradireito exercido na própria contestação, de modo que o possuidor não precisa apresentar reconvenção para alegar o direito à indenização e, consequentemente, o direito de retenção. É preciso, contudo, tomar cuidado com um ponto muito importante: a não alegação do direito de retenção na contestaçãogera preclusão. Isso significa que se o réu não alegar tal direito, não poderá invocá-lo no mesmo processo e deverá desocupar o bem, sem prejuízo de, após, _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 14 ajuizar ação indenizatória autônoma contra o reivindicante do bem, conforme entendimento do STJ: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. OFENSA AO ART. 535 NÃO CONFIGURADA. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. EMBARGOS DE RETENÇÃO POR BENFEITORIAS. DISCUSSÃO NÃO REALIZADA NA FASE COGNITIVA. PRECLUSÃO. 1. No que se refere à alegada afronta ao disposto no art. 535, inciso II, do CPC, verifico que o julgado recorrido não padece de omissão, porquanto decidiu fundamentadamente a quaestio trazida à sua análise, não podendo ser considerado nulo tão somente porque contrário aos interesses da parte. 2. O acórdão encontra-se em sintonia com a jurisprudência deste Tribunal Superior, no sentido de que, tratando-se de ação de reintegração de posse - como no caso dos autos -, o pedido de retenção das benfeitorias deve ser formulado no processo de conhecimento, no bojo da própria contestação (CPC, art. 922), sob pena de preclusão. 3. Agravo Regimental não provido. (AgRg no AREsp n. 385.662/DF, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 12/2/2015, DJe de 6/4/2015.) 6.4. Reconvenção A reconvenção é totalmente compatível com a ação de imissão de posse. Teoricamente, o sistema processual admite a apresentação de reconvenção para requerer o reconhecimento da usucapião. O objetivo da reconvenção, nesse caso, é permitir que a sentença sirva como título para ser registrado na matrícula do imóvel. Não obstante, a jurisprudência, de uma forma geral, não admite. Na prática, o ideal é ajuizar ação própria de usucapião, evitando-se, assim, tumulto processual na ação de imissão de posse, especialmente em razão da necessidade de inserir vários outros sujeitos no polo passivo da reconvenção, como os confinantes, além da intimação da fazenda pública e publicação de editais. Questão que merece nossas críticas acadêmicas é o equivocado entendimento de alguns tribunais, como TJMG e TJDFT, que entendem que o direito de retenção deve ser alegado em sede de reconvenção e não em sede de contestação. O fundamento _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 15 apresentado por esses tribunais é o de que a ação reivindicatória (e, de igual forma, a ação de imissão de posse) não tem natureza dúplice. Ocorre que o direito de retenção deve ser alegado em sede de contestação nos casos de ações dúplices, como as ações possessórias, mas porque o direito de retenção é uma exceção de mérito, ou seja, um contradireito. Como tal, deve ser alegado em sede de contestação independentemente da natureza da ação (possessória ou petitória). Na prática, é importante que o advogado pesquise, antes, qual o entendimento do tribunal de justiça sobre esse tema, para, conforme o caso, apresentar tal alegação em sede de contestação ou de reconvenção. 6.5. Réplica Quando o réu alegar questões preliminares (art. 337 do CPC), questões prejudiciais ou juntar novos documentos, o juiz intimará o autor para se manifestar em réplica no prazo de 15 (quinze) dias 6.6. Saneamento Apresentada a réplica, quando for o caso, o juiz, se não for o caso de julgamento conforme o estado do processo (hipóteses dos arts. 485, 487, II ou III, 355 ou 356 do CPC), o juiz proferirá uma decisão de saneamento e organização do processo, seguindo a forma do art. 357 do CPC: Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo: I - resolver as questões processuais pendentes, se houver; II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos; III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373 ; IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito; V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 16 § 1º Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável. § 2º As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz. § 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações. § 4º Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemunhas. § 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de testemunhas. § 6º O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato. § 7º O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados. § 8º Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz deve observar o disposto no art. 465 e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para sua realização. § 9º As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as audiências. 6.7. Instrução Esse é o momento do processo no qual as partes terão a oportunidade de produzir novas provas, além das provas documentais já juntadas aos autos. Também é possível juntar novos documentos. Contudo, vale lembrar que se os documentos já estavam em poder da parte e ela deixou de juntá-los anteriormente, corre-se o risco de o juiz indeferir a juntada, com fundamento nos arts. 320, 434 e 435 do CPC. Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação Art. 434. Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os documentos destinados a provar suas alegações. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 17 Parágrafo único. Quando o documento consistir em reprodução cinematográfica ou fonográfica, a parte deverá trazê-lo nos termos do caput , mas sua exposição será realizada em audiência, intimando- se previamente as partes. Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos. Parágrafo único. Admite-se também a juntada posterior de documentos formados após a petição inicial ou a contestação, bem como dos que se tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo à parte que os produzir comprovar o motivo que a impediu de juntá-los anteriormente e incumbindo ao juiz, em qualquer caso, avaliar a conduta da parte de acordo com o art. 5º . Sendo necessário, o juiz poderá deferir a produção de prova oral, designando, para tanto, audiência de instrução e julgamento, ocasião em que serão ouvidas as partes – caso haja requerimento de depoimento pessoal ou caso o juiz determine de ofício – e as testemunhas arroladas. 6.8. Alegações finais Havendo audiência de instruçãoe julgamento, as alegações finais serão apresentadas oralmente, conforme prevê o art. 364 do CPC: Art. 364. Finda a instrução, o juiz dará a palavra ao advogado do autor e do réu, bem como ao membro do Ministério Público, se for o caso de sua intervenção, sucessivamente, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por 10 (dez) minutos, a critério do juiz. § 1º Havendo litisconsorte ou terceiro interveniente, o prazo, que formará com o da prorrogação um só todo, dividir-se-á entre os do mesmo grupo, se não convencionarem de modo diverso. § 2º Quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate oral poderá ser substituído por razões finais escritas, que serão apresentadas pelo autor e pelo réu, bem como pelo Ministério Público, se for o caso de sua intervenção, em prazos sucessivos de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 18 6.9. Sentença Em caso de procedência do pedido, após o trânsito em julgado, o juiz determinará que o réu desocupe voluntariamente o imóvel no prazo assinalado, sob pena de expedição de mandado de imissão de posse. 7. Ação de imissão de posse decorrente de execução extrajudicial de imóvel 7.1. Alienação fiduciária em garantia de bem imóvel A Lei nº 9.514/97, que dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária de coisa imóvel e dá outras providências, estabelece um procedimento extrajudicial para a consolidação da posse e propriedade nas mãos do credor fiduciário. Trata-se de verdadeira execução extrajudicial. A referida lei versa sobre a alienação fiduciária em garantia sobre bem imóvel. Nos termos do art. 20 da referida lei, “a alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel”. A propriedade fiduciária de bem imóvel constitui-se mediante registro no competente Registro de Imóveis, do contrato que lhe serve de título. Constituída a propriedade fiduciária, ocorre o desdobramento da posse, tornando-se o devedor fiduciante o possuidor direto e o credor fiduciário o possuidor indireto do bem imóvel. 7.2. Consolidação da propriedade imobiliária A Lei nº 9.514/97 prevê o procedimento extrajudicial de consolidação da posse e propriedade do bem imóvel objeto da alienação fiduciária nas mãos do credor fiduciário. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 19 Trata-se de procedimento que tramita no Cartório de Registro de Imóveis, ou seja, sem necessidade de intervenção do Poder Judiciário. Tal procedimento está previsto nos arts. 36 e seguintes da referida lei de regência. Vejamos as fases: a) Inadimplemento: o devedor fiduciante deixa de pagar as prestações do contrato; b) Constituição em mora: havendo inadimplemento, o credor fiduciário promoverá a constituição do devedor fiduciante em mora. Para tanto, o devedor fiduciante, ou seu representante legal ou procurador regularmente constituído, será intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do competente Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo de quinze dias, a prestação vencida e as que se vencerem até a data do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais encargos contratuais, os encargos legais, inclusive tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao imóvel, além das despesas de cobrança e de intimação. A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu representante legal ou ao procurador regularmente constituído, podendo ser promovida, por solicitação do oficial do Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso de recebimento. Admite-se intimação por hora certa (art. 26, § 3º, da Lei nº 9.514/972) e por edital (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.514/973); 2 § 3o-A. Quando, por duas vezes, o oficial de registro de imóveis ou de registro de títulos e documentos ou o serventuário por eles credenciado houver procurado o intimando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita motivada de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, retornará ao imóvel, a fim de efetuar a intimação, na hora que designar, aplicando-se subsidiariamente o disposto nos arts. 252, 253 e 254 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). 3 § 4o Quando o fiduciante, ou seu cessionário, ou seu representante legal ou procurador encontrar-se em local ignorado, incerto ou inacessível, o fato será certificado pelo serventuário encarregado da diligência e informado ao oficial de Registro de Imóveis, que, à vista da certidão, promoverá a intimação por edital publicado durante 3 (três) dias, pelo menos, em um dos jornais de maior circulação local ou noutro de comarca de fácil acesso, se no local não houver imprensa diária, contado o prazo para purgação da mora da data da última publicação do edital. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 20 c) Não purgação da mora: se o devedor pagar as prestações vencidas até a data do pagamento e as demais despesas e encargos incidentes, tem-se por purgada a mora, mantendo-se hígido o contrato. Por outro lado, se o devedor não purgar a mora no prazo de 15 (quinze) dias, o oficial do competente Registro de Imóveis, certificando esse fato, promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do fiduciário, à vista da prova do pagamento por este, do imposto de transmissão inter vivos (ITBI). Ultrapassado o prazo de 15 (quinze) dias, a purgação da mora pode ser feita até a data da averbação da consolidação da propriedade fiduciária, caso em que o devedor deverá pagar a integralidade da dívida, ou seja, todo o saldo devedor (parcelas vencidas e vincendas), conforme prevê os arts. 26-A, § 2ºe 27, § 3º, II, da Lei nº 9.514/97). O STJ, contudo, estende a purgação da mora até a data da assinatura do auto de arrematação, hipótese em que o devedor também deverá pagar todo o saldo devedor (parcelas vencidas e vincendas)4; d) Leilão público: uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o credor fiduciário, no prazo de trinta dias, contados da data do registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá público leilão para a alienação do imóvel. Se no primeiro leilão público o maior lance oferecido for inferior ao 4 AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO IMOBILIÁRIO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. PURGA DA MORA ATÉ A LAVRATURA DO AUTO DE ARREMATAÇÃO. POSSIBILIDADE. EFETIVA LAVRATURA DO AUTO NO CASO CONCRETO. SÚMULA 211 DO STJ. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte garante ao devedor a possibilidade de purgar a mora até a lavratura do auto de arrematação, pelo pagamento integral do débito, entendido este como as obrigações vencidas, acrescidas dos encargos legais e contratuais. (AgInt no REsp 1.760.519/SC, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 17/9/2019, DJe 30/9/2019) 2. No caso dos autos, o acórdão recorrido não merece reforma, tendo em vista que afastou a possibilidade de a devedora purgar a mora, ante a não realização do pagamento integral do débito, sendo os valores depositados nos autos inferiores ao montante devido, situação que afastaria a quitação da dívida. 3. A Cortede origem não enfrentou a tese apontada em sede de aclaratórios sob o ângulo da efetiva lavratura do auto de arrematação do imóvel, situação que enseja o reconhecimento da ausência de prequestionamento, máxime ante a falta de específica e concreta análise da matéria submetida à apreciação judicial. Incidência da Súmula 211 do STJ. 4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.940.535/SP, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 15/8/2022, DJe de 26/8/2022.) _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 21 valor do imóvel, estipulado na forma do inciso VI e do parágrafo único do art. 24 desta Lei, será realizado o segundo leilão nos quinze dias seguintes. No segundo leilão, será aceito o maior lance oferecido, desde que igual ou superior ao valor da dívida, das despesas, dos prêmios de seguro, dos encargos legais, inclusive tributos, e das contribuições condominiais. Vale lembrar que o devedor fiduciante deve ser intimado das datas dos leilões, pois possui direito de preferência na aquisição do imóvel; e) Arrematação: qualquer pessoa interessada no imóvel poderá participar do leilão e o arrematar o bem imóvel; f) Ação de imissão de posse: arrematado o bem e assinado o auto de arrematação, o novo proprietário deverá ajuizar ação de imissão de posse contra a pessoa que estiver na posse do imóvel. Não se trata de ação de reintegração de posse, porque a posse do réu é justa (não foi obtida de forma violenta, clandestina ou precária). Também não cabe ação reivindicatória, porque não houve perda da posse pelo proprietário. A ação é a de imissão de posse exatamente porque o proprietário jamais teve a posse da coisa. 7.3. Questões práticas importantes a) Intimação do devedor fiduciante para constituição da mora Nos termos do art. 26, § 3º, da Lei nº 9.514/97, a intimação do devedor fiduciante para purgar a mora deve ser pessoal, podendo ser promovida, por solicitação do oficial do Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso de recebimento. Nesse sentido, segundo entendimento do STJ, “é nula a intimação do devedor que não se dirigiu à sua pessoa, sendo processada por carta com aviso de recebimento _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 22 no qual consta como receptor pessoa alheia aos autos e desconhecida" (REsp 1531144/PB, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, DJe 28/03/2016). O STJ entende, ainda, que a intimação por edital somente pode ser considerada válida após frustrada a tentativa de intimação pessoal. Assim, o devedor fiduciante somente pode ser intimado via edital após frustradas as tentativas de intimação via oficial de Registro de Títulos e Documentos e via correios. Conforme já decidiu o STJ, “a intimação por edital é nula quando o credor fiduciário restringe-se a enviar a notificação para purgação da mora apenas por via postal, não providenciando a intimação pessoal por intermédio de oficial de registro de imóveis”. Havendo vício na intimação, o devedor fiduciante pode ajuizar ação anulatória de execução extrajudicial de imóvel contra o credor fiduciário, objetivando a anulação do procedimento extrajudicial de consolidação da propriedade. b) Intimação do devedor acerca da realização do leilão É muito comum a designação de leilão promovido pelo credor fiduciário sem que o devedor fiduciante seja pessoalmente intimado para o ato, ainda que ele tenha sido intimado pessoalmente para purgar a mora. Frustradas as tentativas de intimação pessoal do devedor, cabe intimação por edital. Ora, tendo o devedor fiduciário direito de preferência na arrematação, é evidente que a falta de intimação pessoal gera a nulidade do leilão. Nesse sentido é o entendimento do STJ: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SÚMULA 182/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO DA PRESIDÊNCIA. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE IMÓVEL. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. LEILÃO. INTIMAÇÃO DO DEVEDOR POR EDITAL. POSSIBILIDADE. AGRAVO INTERNO PROVIDO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1."É necessária a intimação pessoal do devedor acerca da data da realização do leilão extrajudicial, porém é válida a notificação por edital quando esgotados os meios para a notificação pessoal" (AgInt no AREsp 1422337/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/06/2019, DJe 27/06/2019, _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 23 g.n.) 2. A modificação do entendimento lançado no v. acórdão recorrido acerca do esgotamento dos meios necessários e da publicação da notificação no jornal local demandaria o revolvimento de suporte fático-probatório dos autos, o que é inviável em sede de recurso especial, a teor do que dispõe a Súmula 7 deste Pretório. 3. Agravo interno provido para conhecer do agravo e negar provimento ao recurso especial. (AgInt no AREsp n. 1.782.140/GO, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 17/10/2022, DJe de 21/10/2022.) AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL DE CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BEM IMÓVEL. LEILÃO EXTRAJUDICIAL. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR FIDUCIANTE. PRECEDENTES. MULTA DO ART. 1.021, § 4º, DO CPC/2015. ANÁLISE CASUÍSTICA. NÃO OCORRÊNCIA, NA ESPÉCIE. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. 1. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, no âmbito do Decreto-Lei n. 70/1996, é imprescindível a intimação pessoal do devedor acerca da realização do leilão extrajudicial, ainda que tenha havido a prévia intimação para purgação da mora. Desse modo, a dispensa da intimação pessoal só é cabível quando frustradas as tentativas de realização deste ato, admitindo-se, a partir dessas circunstâncias, a notificação por edital. 1.1. Registra-se, ainda, que a purgação da mora é possível mesmo após a consolidação da propriedade do imóvel em nome do credor fiduciário. Assim, é imprescindível a intimação pessoal do devedor acerca da realização do leilão extrajudicial. 2. O mero não conhecimento ou a improcedência de recurso interno não enseja a automática condenação à multa do art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, devendo ser analisado caso a caso. 3. Agravo interno improvido. (AgInt no REsp n. 1.970.116/SP, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 9/5/2022, DJe de 11/5/2022.) c) Usucapião Consolidada a propriedade em nome do credor fiduciário, cessa a relação jurídica anteriormente existente entre ele e o devedor fiduciante. Há, em razão disso, efeitos jurídicos muito relevantes, especialmente no tocante à usucapião. Note que, como o imóvel retornou para a esfera jurídica do credor fiduciante, de forma definitiva e exclusiva, o devedor passa a ser simples possuidor direto, sem vínculo com o credor. Por conseguinte, essa posse pode gerar a usucapião. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 24 Dizendo por outras palavras, a contagem do prazo da usucapião deve iniciar da data em que houve a consolidação da averbação da consolidação da propriedade na matrícula do imóvel. A intimação do devedor acerca da data do leilão não é capaz de interromper o prazo da usucapião. Somente a ação de imissão de posse ajuizada pelo arrematante é que interromperá o prazo da usucapião. Em caso semelhante, um banco ajuizou ação de execução contra o devedor, ocasião em que o bem imóvel foi penhorado e levado à hasta pública.O próprio banco adjudicou o bem na hasta pública e passou a ser o proprietário do imóvel. O devedor (executado) continuou na posse do bem. Tempos depois, o banco promoveu leilão extrajudicial, tendo havido arrematação. O arrematante ajuizou ação de imissão de posse, porém o possuidor alegou a usucapião como matéria defensiva. O autor da ação alegou que a intimação do réu acerca do leilão extrajudicial interrompeu o prazo da usucapião, tese que não foi acolhida pelo STJ, que reconheceu a usucapião do réu. Vejamos: AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CPC/1973. AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE. USUCAPIÃO 'PRO MORARE' EM MATÉRIA DE DEFESA. TRANSCURSO DO LAPSO TEMPORAL. EXISTÊNCIA DE GRAVAME SOBRE O IMÓVEL. ALEGAÇÃO DISSOCIADA DA REALIDADE DOS AUTOS. EDITAL DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE EFETIVA OPOSIÇÃO À POSSE. 1. Controvérsia acerca da alegação de usucapião em matéria de defesa no curso de ação reivindicatória. 2. Irrelevância da alegação de existência de gravame sobre o imóvel, pois o lapso da prescrição aquisitiva foi computado somente no período posterior ao registro da adjudicação do imóvel pelo credor hipotecário, quando já extinto o gravame, portanto. 3. Necessidade de efetiva oposição à posse exercida pelo usucapiente, para que seja interrompida a prescrição aquisitiva. Julgados desta Corte Superior. 4. Caso concreto em que a mera publicação de edital de leilão extrajudicial não revela efetiva oposição à posse, não havendo falar, portanto, em interrupção da prescrição aquisitiva. 5. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (AgInt no AgInt nos EDcl no REsp n. 1.627.282/RO, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 1/10/2018, DJe de 5/10/2018.) _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 25 Com efeito, o arrematante precisa ter muita atenção na hora de adquirir o imóvel em leilão, pois, se o devedor permaneceu no imóvel e entre a data da averbação da consolidação da propriedade em favor do credor fiduciante e a data do ajuizamento da ação de imissão de posse pelo arrematante transcorreu o prazo da usucapião, o possuidor (réu) poderá alegar usucapião como matéria defensiva, gerando, assim, a improcedência do pedido de imissão de posse. 7.4. Aquisição de bem imóvel objeto de contrato de locação: imissão de posse ou despejo? Nos casos de aquisição de imóvel que é objeto de contrato de despejo, o comprador deve verificar o que diz o contrato de locação5. Se o contrato de locação for por tempo indeterminado, o comprador poderá denunciar o contrato (notificação do locatário), fixando o prazo de 90 (noventa) dias para desocupação. Se o contrato de locação for por prazo determinado, contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel, o comprador deverá respeitar o prazo de vigência da locação. Essas regras também se aplicam no caso de promessa de compra e venda registrada na matrícula do imóvel. O art. 8º, da Lei n. 8.245/1991 dispõe que "se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a 5 Vale registrar que, caso o locador pretenda alienar o imóvel, o locatário tem direito de preferência. Nesse sentido, dispõe o art. 27 da Lei nº 8.245/91 que “no caso de venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de direitos ou dação em pagamento, o locatário tem preferência para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros, devendo o locador dar - lhe conhecimento do negócio mediante notificação judicial, extrajudicial ou outro meio de ciência inequívoca”. O parágrafo único do citado artigo estabelece, ainda, que “a comunicação deverá conter todas as condições do negócio e, em especial, o preço, a forma de pagamento, a existência de ônus reais, bem como o local e horário em que pode ser examinada a documentação pertinente”e. _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 26 desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel". Ainda no referido dispositivo, os §§ 1º e 2º, apontam que "idêntico direito terá o promissário comprador e o promissário cessionário, em caráter irrevogável, com imissão na posse do imóvel e título registrado junto à matrícula do mesmo" e que "a denúncia deverá ser exercitada no prazo de noventa dias contados do registro da venda ou do compromisso, presumindo-se, após esse prazo, a concordância na manutenção da locação". E se o locatário (denunciado o contrato ou vencido o prazo) não desocupar o imóvel? Qual ação cabível: despejo ou imissão de posse? A resposta está no art. 5º da Lei nº 8.245/91, que dispõe que “seja qual for o fundamento do término da locação, a ação do locador para reaver o imóvel é a de despejo”. Vale dizer: a aquisição do imóvel não extingue o contrato de locação, razão pela qual o comprador, caso queira ser imitido na posse do bem, deverá, observada a regra prevista no art. 8º da Lei de Locações, ajuizar ação de despejo. Nesse sentido é o entendimento do STJ: RECURSO ESPECIAL. LOCAÇÃO. AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ART. 1.022 DO CPC/2015. NÃO OCORRÊNCIA. BEM IMÓVEL LOCADO. ALIENAÇÃO. CONTRATO DE LOCAÇÃO. DENÚNCIA PELO ADQUIRENTE. POSSIBILIDADE. ART. 8º DA LEI Nº 8.245/1991. RETOMADA DO BEM. PRETENSÃO. AÇÃO DE DESPEJO. VIA ADEQUADA. ART. 5º DA LEI Nº 8.245/1991. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Na origem, cuida-se de ação de imissão de posse proposta por adquirente de imóvel alugado , que pretende, após a denúncia do contrato de locação, reaver a posse direta do bem. 3. As questões controvertidas no presente recurso podem ser assim resumidas: (i) se o acórdão recorrido padece de vício de nulidade por negativa de prestação jurisdicional e (ii) qual é a via processual adequada para a retomada da posse direta pelo adquirente de imóvel objeto de contrato de locação: ação de imissão de posse ou ação de despejo. 4. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a _____________________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL APLICADO @direitoprocessualaplicado P á g i n a | 27 controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte. 5. A alienação do imóvel durante a relação locatícia não rompe a locação, que continuará tendo existência e validade, de modo que o adquirente que assume a posição do antigo proprietário tem o direito de denunciar o contrato se assim desejar ou de permanecer inerte e sub-rogar-se nos direitos e deveres do locador, dando continuidade à relação locatícia. 6. O adquirente de imóvel locado tem direito de denunciar o contrato de locação na forma do art. 8º da Lei n° 8.245, mas só poderá reaver a posse direta do imóvel mediante o ajuizamento da ação de despejo, nos termos do art. 5° da mesma lei, sob pena de malferir o direito de terceiro que regularmente ocupa o bem. 7. A ação adequada para reaver o imóvel em casos de aquisição de imóvel locado é a ação de despejo, não servindo para esse propósito a ação de imissão de posse. 8. Recurso especial provido. (REsp n. 1.864.878/AM, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 30/8/2022, DJe de 5/9/2022.)