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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS 2a EDIÇÃO/2023 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 3 1.1. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO PROCEDIMENTO COMUM 4 1.2. TÉCNICAS DE ESPECIALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS 4 1.3. ERRO NA ESCOLHA DO PROCEDIMENTO 4 1.4. CUMULAÇÃO 5 2. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS EM ESPÉCIE EXTINTOS 5 3. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS PREVISTOS NO CPC 7 3.1. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO 7 3.1.1. CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL 8 3.1.2. COMPETÊNCIA 9 3.1.3. PRESTAÇÕES SUCESSIVAS 9 3.1.4. PROCEDIMENTO 9 3.1.5. LEGITIMIDADE ATIVA 10 3.1.6. LEGITIMIDADE PASSIVA 10 3.1.7. COMPORTAMENTO DO RÉU 10 3.1.8. DÚVIDA QUANTO À PESSOA DO CREDOR 11 3.2. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS 13 3.2.1. FASES 14 3.2.1.1. Fase 1 14 3.2.1.2. Fase 2 16 3.2.2. AUXILIARES DO JUÍZO 16 3.2.3. MODO DE APRESENTAÇÃO DAS CONTAS 18 3.3. AÇÕES POSSESSÓRIAS 18 3.3.1. REQUISITOS DA AÇÃO POSSESSÓRIA 20 3.3.2. INTERDITO PROIBITÓRIO 21 3.3.3. MANUTENÇÃO E REINTEGRAÇÃO DE POSSE 21 3.3.4. COMPETÊNCIA 22 3.3.5. LEGITIMIDADE 22 3.3.6. PROCEDIMENTO 24 3.3.7. POSSESSÓRIAS COLETIVAS 26 3.3.8. SENTENÇA 28 3.4. EMBARGOS DE TERCEIRO 30 3.4.1. QUEM É O TERCEIRO? 31 3.4.2. LEGITIMIDADE PASSIVA 31 3.4.3. LIMITES 32 3.4.4. EFEITOS 33 3.4.5. DEFESA E DECISÃO 34 3.4.6. EMBARGOS DE TERCEIRO E POSSE 34 3.5. AÇÃO DE DIVISÃO E DEMARCAÇÃO DE TERRAS 36 3.5.1. DEMARCAÇÃO 36 1 3.5.2. DIVISÃO 36 3.5.3. CUMULAÇÃO 37 3.5.4. PROCEDIMENTO DA DEMARCAÇÃO 37 3.5.5. SENTENÇA 38 3.5.6. PROCEDIMENTO DA DIVISÃO 39 3.6. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE 40 3.6.1. OBJETO 41 3.6.2. LEGITIMIDADE ATIVA 42 3.6.3. LEGITIMIDADE PASSIVA 42 3.6.4. HIPÓTESES 42 3.6.5. DA DECISÃO 44 3.6.6. DA APURAÇÃO DE HAVERES 45 3.7. OPOSIÇÃO 46 3.7.1. POLO PASSIVO 46 3.8. HABILITAÇÃO 47 3.8.1. PROCEDIMENTO EM CASO DE IMPUGNAÇÃO 47 3.9. AÇÃO MONITÓRIA 48 3.9.1. CABIMENTO E REQUISITOS 49 3.9.2. CITAÇÃO 52 3.9.3. PROCEDIMENTO MONITÓRIO X TUTELA DE EVIDÊNCIA 53 3.9.4. PROCEDIMENTO MONITÓRIO X ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA ANTECEDENTE 53 3.9.5. PARCELAMENTO COMPULSÓRIO 54 3.9.6. DEFESA: EMBARGOS MONITÓRIOS 54 3.10. HOMOLOGAÇÃO DE PENHOR LEGAL 55 3.10.1. DEFESA 56 3.11. AÇÃO DE REGULAÇÃO DE AVARIA GROSSA 56 3.12. RESTAURAÇÃO DE AUTOS 57 4. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA 59 4.1. NATUREZA JURÍDICA 59 4.2. DIFERENÇAS ENTRE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E CONTENCIOSA 59 4.3. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA 59 4.4. REGRAS GERAIS DO PROCEDIMENTO 59 4.5. PEDIDOS QUE SEGUEM O PROCEDIMENTO VOLUNTÁRIO 60 5. PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA 61 5.1. DIVÓRCIO E SEPARAÇÃO CONSENSUAIS, EXTINÇÃO CONSENSUAL DE UNIÃO ESTÁVEL E ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS DO MATRIMÔNIO 61 5.1.1. INTRODUÇÃO 61 5.1.2. REQUISITOS 62 5.1.3. POSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO EXTRAJUDICIAL 62 5.1.4. PROCEDIMENTO 62 5.2. INTERDIÇÃO 63 5.2.1. INTRODUÇÃO 63 5.2.2. PROCEDIMENTO 63 2 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Conforme ensina Alexandre Freitas Câmara1, o processo jurisdicional, como se sabe, é uma entidade complexa, que se revela sob dois aspectos: internamente, o processo se manifesta como uma relação jurídica de direito público entre o Estado-juiz e as partes. Contém, pois, o processo de uma relação jurídica, tradicionalmente designada de relação processual. A existência de procedimentos especiais não significa que o juiz não deva fazer adaptações procedimentais no caso concreto. Não está expresso no CPC esta ideia, mas a doutrina (Marinoni) entende que implicitamente o direito fundamental de acesso à justiça contém o direito fundamental de acesso à tutela adequada do direito material que inclui o ajuste do procedimento às necessidades do caso. Lembre-se que o CPC não tem artigo sobre isso. A principal adaptação procedimental prevista no CPC é Negócio Processual (Art. 190) que vale para o procedimento comum e para os especiais. Pode-se definir procedimento especial como àquele que contém regras diferenciadas para conferir tratamento adequado a determinadas demandas materiais2. 📌 OBSERVAÇÕES ■ Interessante ter em mente que o que determina a aplicação dos procedimentos especiais não é uma análise de direito processual, mas sim material. “O que se leva em conta é o direito material que se discutirá nos processos, plasmando-se o procedimento de forma tal a melhor atender às suas exigências. Por exemplo: a lei civil estabelece que o possuidor esbulhado ou turbado na posse, há menos de ano e dia, tem o direito de ser reintegrado ou mantido na posse desde logo. Para atender a esse preceito do Direito Civil, o CPC estabelece a possibilidade de o juiz conceder liminares, de plano ou após a audiência de justificação, nas ações possessórias de força nova, tornando o procedimento especial.”3 ■ Também se faz relevante distinguir entre procedimento de jurisdição voluntária e procedimentos de jurisdição contenciosa: “São processos de jurisdição contenciosa aqueles que servem para o juiz afastar uma crise de certeza, para dizer quem tem razão, se o autor ou o réu. Já a voluntária é aquela que serve para que o juiz tome algumas providências necessárias para a proteção de um ou ambos os sujeitos da relação processual. Enquanto, na primeira, busca-se uma sentença que obrigue a parte contrária, na segunda, busca-se uma situação que valha para o próprio proponente da demanda, sendo possível que a sentença beneficie as duas partes. Em capítulo próprio, serão examinadas as características específicas da jurisdição voluntária e as principais diferenças em relação à contenciosa.”4 4Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 3Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 2DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 1CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 8ª edição, São Paulo, Editora Método. 3 1.1. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO PROCEDIMENTO COMUM Conforme regra insculpida no art. 318 do CPC, o procedimento especial rege-se pelas disposições que lhes são próprias, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições gerais do procedimento comum5. Art. 318: Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução. 1.2. TÉCNICAS DE ESPECIALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS São características capazes de distinguir os procedimentos especiais do procedimento comum, segundo Antônio Carlos Marcato6: 1. Alteração de prazos; 2. Alteração de regras relativas à legitimidade e iniciativa das partes; 3. Existência de ações dúplices; 4. Fixação de regras especiais de competência. 5. Fixação de regras especiais relativas à citação e suas finalidades. 6. Derrogação dos princípios da inalterabilidade do pedido e da legalidade estrita. 7. Fusão de providências de natureza cognitiva. 8. Concessão de medidas inaudita altera parte. 9. Limitações e condicionamentos ao direito de defesa. 1.3. ERRO NA ESCOLHA DO PROCEDIMENTO Art. 283: erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se observarem as prescrições legais. Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte. 6 MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. 18ª edição, São Paulo: Editora Atlas, 2021. 5DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 4 O STJ já decidiu que o erro na denominação do procedimento também não impede que o juiz conduza o processo de modo correto (STJ, REsp 402.390). O erro no nome da ação também não prejudica o autor. É pedido que define o procedimento adequado.8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 31 ■ Efetiva participação do devedor no ato ilegal. ⚠ ATENÇÃO Em regra, adquirente de coisa litigiosa não é parte legítima para embargos de terceiro33. O adquirente de coisa litigiosa não é parte legítima para embargos de terceiro. Essa posição é relativizada apenas quando demonstrada a boa-fé do adquirente. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.574.382/MT, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 23/10/2018. 3.4.3. LIMITES Art. 675. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no processo de execução, até 5 dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta. Parágrafo único. Caso identifique a existência de terceiro titular de interesse em embargar o ato, o juiz mandará intimá-lo pessoalmente. O STJ tende a restringir o cabimento dos embargos de terceiro, considerando que sua cognição é mais limitada do que a de uma ação de conhecimento apartada (como exemplo temos: REsp 1.417.620-DF – 2014). O CPC trouxe uma redação ampla sobre o seu cabimento. O prazo deste artigo é dos chamados embargos repressivos, quando a constrição já ocorreu. O CPC também tem outro prazo para embargos preventivos: Art. 792, § 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. Este é o adquirente do Inciso II do Art. 674. En. 102, CJF: “A falta de oposição dos embargos preventivos no prazo do Art. 792,§4º, do CPC não impede a propositura dos embargos de terceiro repressivos no prazo do art. 675 do mesmo código”. Art. 677. Na petição inicial, o embargante fará a prova sumária de sua posse ou de seu domínio e da qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas. 33CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, adquirente de coisa litigiosa não é parte legítima para embargos de terceiro. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 32 Mobile User § 1º É facultada a prova da posse em audiência preliminar designada pelo juiz. § 2º O possuidor direto pode alegar, além da sua posse, o domínio alheio. § 3º A citação será pessoal, se o embargado não tiver procurador constituído nos autos da ação principal. § 4º Será legitimado passivo o sujeito a quem o ato de constrição aproveita, assim como o será seu adversário no processo principal quando for sua a indicação do bem para a constrição judicial. “Acolhido o pedido da inicial, o ato de constrição judicial indevida será cancelado, com o reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da reintegração definitiva do bem ou do direito ao embargante.”34 3.4.4. EFEITOS Art. 678. A decisão que reconhecer suficientemente provado o domínio ou a posse determinará a suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos objeto dos embargos, bem como a manutenção ou a reintegração provisória da posse, se o embargante a houver requerido. Parágrafo único. O juiz poderá condicionar a ordem de manutenção ou de reintegração provisória de posse à prestação de caução pelo requerente, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente. Embargos de terceiro com caráter preventivo35. É possível a oposição de embargos de terceiro preventivos, isto é, antes da efetiva constrição judicial sobre o bem. STJ. 3ª Turma. REsp 1726186/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/05/2018. ⚠ ATENÇÃO Não são cabíveis embargos de terceiro para desconstituir decisão judicial que permite a averbação de protesto na matrícula de um imóvel36. O protesto contra a alienação de bens é uma medida judicial por meio da qual o promovente comunica a terceiros interessados que ele entende possuir direitos sobre o imóvel. Mesmo que o protesto tenha sido registrado na matrícula do imóvel, o único efeito produzido é o de comunicar aos interessados na aquisição do bem, que alguém alega possuir direitos sobre este bem. O protesto não acrescenta nem diminui direitos do promovente. Ele é unilateral e apenas dá ciência sobre a manifestação do promovente. Se essa manifestação tem relevância ou não, isso somente será decidido no processo competente, se houver. 36CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não são cabíveis embargos de terceiro para desconstituir decisão judicial que permite a averbação de protesto na matrícula de um imóvel. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 35CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Embargos de terceiro com caráter preventivo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 34DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021 33 Mobile User Os embargos de terceiro são remédio processual à disposição do terceiro prejudicado por um esbulho judicial, o qual se configura quando a atuação jurisdicional alcança bens que excedam os limites patrimoniais da obrigação exigida. Em palavras mais simples, os embargos de terceiro têm por objetivo desfazer o ato constritivo judicial que recai sobre determinado bem. Assim, é pressuposto dos embargos de terceiro a existência de um ato de constrição judicial sobre o bem que o terceiro alega ser possuidor ou proprietário. A averbação do protesto na matrícula do imóvel não afeta a posse ou a propriedade de terceiro alheio ao procedimento e não configura apreensão judicial. Logo, não são cabíveis embargos de terceiro contra essa determinação. STJ. 3ª Turma. REsp 1758858-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672). 3.4.5. DEFESA E DECISÃO Art. 679. Os embargos poderão ser contestados no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual se seguirá o procedimento comum. Art. 680. Contra os embargos do credor com garantia real, o embargado somente poderá alegar que: I - o devedor comum é insolvente; II - o título é nulo ou não obriga a terceiro; III - outra é a coisa dada em garantia. Art. 681. Acolhido o pedido inicial, o ato de constrição judicial indevida será cancelado, com o reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da reintegração definitiva do bem ou do direito ao embargante. 3.4.6. EMBARGOS DE TERCEIRO E POSSE Os embargos de terceiro também podem funcionar como instrumento de proteção da posse, quando o esbulho decorre de um processo no qual o possuidor não é parte (STJ, AgInt no REsp. 1.321.479/MA). Não se admite cumulação de pedidos estranhos à natureza constitutivo-negativa dos embargos de terceiro37. Além do pedido de proteção da posse ou propriedade, é possível formular pedido de indenização por danos morais em embargos de terceiro? NÃO. Os embargos de terceiro têm como única finalidade a de evitar ou afastar a constrição judicial sobre bens de titularidade daquele que não faz parte do processo. Diz-se, portanto, que os embargos de terceiro possuem uma cognição limitada/restrita porque se limitam a uma providência constitutivo-negativa. Dessa forma, considerando a cognição limitada dos embargos de terceiro, revela-se inadmissível a cumulação de pedidos estranhos à sua natureza constitutivo-negativa, como, por exemplo, o pleito de condenação a 37CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se admite cumulação de pedidos estranhos à natureza constitutivo-negativa dos embargos de terceiro. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 34 indenização por danos morais. STJ. 3ª Turma. REsp 1703707-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/05/2021 (Info698). 🚨 JÁ CAIU Na prova para Defensor Público do Estado do Ceará (FCC - 2022), foi dito: “Maria, casada com Aguinaldo sob regime de comunhão parcial de bens, procurou atendimento na Defensoria Pública de Fortaleza. Aguinaldo é devedor de pensão alimentícia de filho que já tinha antes de se casar com Maria e está respondendo pela dívida alimentar em cumprimento definitivo de sentença, no qual foi penhorada a casa adquirida na constância da união com Maria. Eles estão separados de fato, de maneira que Maria está residindo com a sua genitora.” Diante do texto, a fim de assegurar os direitos de Maria sobre o imóvel, foi considerada CORRETA a alternativa que disse que caberá: “embargos de terceiro para resguardar os direitos de sua meação”. Na prova para Defensor Público do Estado de Sergipe (CESPE - 2022), foi considerada CORRETA a alternativa que afirmou: “O embargo de terceiro é um instrumento processual que visa proteger a posse ou a propriedade de bens daquele que não sendo parte no processo sofre constrição ou ameaça de constrição judicial, seja em tutela cognitiva provisória, ou definitiva, seja na execução”. Na prova para Defensor Público do Estado de Piauí (CESPE - 2022), foi dito: “Determinado indivíduo, hipossuficiente sob o ponto de vista econômico, compareceu à defensoria pública e demonstrou, por prova documental, em procedimento judicial de cumprimento de sentença movido em face de microempresa, ter sofrido constrição judicial de bem próprio. Demonstrou, ainda, que a constrição decorrera de medida de desconsideração de personalidade jurídica, de cujo incidente não participou.” Diante do texto foi perguntado sobre a medida adequada para o desfazimento do ato de constrição judicial, tendo sido considerada CORRETA a alternativa que afirmou que será o oferecimento de: “embargos de terceiro”. Na prova para Promotor de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Banca Própria - 2021), foi considerada CORRETA a alternativa que trouxe: “Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos, o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos”. Na prova para Promotor de Justiça do Estado de Santa Catarina (CESPE - 2021), na modalidade certo/errado, foi considerada ERRADA a afirmativa que segue: “O adquirente de coisa litigiosa, ainda que ciente do fato, é parte legítima para opor embargos de terceiros, posto que essa via processual é adequada àquele que, não sendo parte no processo, tenha por propósito afastar a constrição judicial que recaia sobre o bem do qual seja titular”. 35 3.5. AÇÃO DE DIVISÃO E DEMARCAÇÃO DE TERRAS A ação de divisão e de demarcação de terras são duas ações distintas, mas com uma peculiaridade em comum: são bifásicas. 3.5.1. DEMARCAÇÃO O procedimento especial de demarcação será cabível quando: Art. 569. Cabe: I - ao proprietário a ação de demarcação, para obrigar o seu confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados; Na demarcação, a petição inicial, instruída com os títulos da propriedade, designar-se-á o imóvel pela situação e pela denominação, descrever-se-ão, os limites por constituir, aviventar ou renovar e nomear-se-ão todos os confinantes da linha demarcanda, conforme ensina Sabrina Dourado38. Continuando com os ensinamentos da doutrinadora, é válido mencionar que, qualquer condômino é parte legítima para promover a demarcação do imóvel comum, requerendo a intimação dos demais para, querendo, intervir no processo. 3.5.2. DIVISÃO Conforme preceitua o art. 569, II, do Código de Processo Civil: Art. 569. Cabe: II - ao condômino a ação de divisão, para obrigar os demais consortes a estremar os quinhões. Decorre do direito consagrado no Art. 1320, CC: Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão. Conforme preceitua Sabrina Dourado, a petição inicial será instruída com os títulos de domínio do promovente e conterá: 38DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021 36 ■ a indicação da origem da comunhão e a denominação, a situação, os limites e as características do imóvel; ■ o nome, o estado civil, a profissão, e a residência de todos os condôminos, especificando-se os estabelecidos no imóvel com benfeitorias e culturas; ■ as benfeitorias comuns. 3.5.3. CUMULAÇÃO Art. 570. É lícita a cumulação dessas ações, caso em que deverá processar-se primeiramente a demarcação total ou parcial da coisa comum, citando-se os confinantes e os condôminos. Em realidade, não se trata de uma cumulação, mas de uma sucessão de ações: primeiro se faz a demarcação e, concluída esta, a divisão. ● Extrajudicial: Art. 571. A demarcação e a divisão poderão ser realizadas por escritura pública, desde que maiores, capazes e concordes todos os interessados, observando-se, no que couber, os dispositivos deste Capítulo. 3.5.4. PROCEDIMENTO DA DEMARCAÇÃO O procedimento da demarcação ocorrerá conforme expresso nos arts. 574 e seguintes do Código de Processo Civil: Art. 574. Na petição inicial, instruída com os títulos da propriedade, designar-se-á o imóvel pela situação e pela denominação, descrever-se-ão os limites por constituir, aviventar ou renovar e nomear-se-ão todos os confinantes da linha demarcanda. Art. 575. Qualquer condômino é parte legítima para promover a demarcação do imóvel comum, requerendo a intimação (Citação) dos demais para, querendo, intervir no processo. Art. 576. A citação dos réus será feita por correio, observado o disposto no art. 247 . Parágrafo único. Será publicado edital, nos termos do inciso III do art. 259 . Art. 577. Feitas as citações, terão os réus o prazo comum de 15 (quinze) dias para contestar. Art. 578. Após o prazo de resposta do réu, observar-se-á o procedimento comum. Art. 579. Antes de proferir a sentença, o juiz nomeará um ou mais peritos para levantar o traçado da linha demarcanda. Art. 580. Concluídos os estudos, os peritos apresentarão minucioso laudo sobre o traçado da linha 37 demarcanda, considerando os títulos, os marcos, os rumos, a fama da vizinhança, as informações de antigos moradores do lugar e outros elementos que coligiram. 3.5.5. SENTENÇA O procedimento de demarcação é bifásico, tendo 2 sentenças diferentes. A primeira é a que encerra a cognição quanto a procedência do pedido de demarcação e o traçado da respectiva linha demarcatória. Art. 581. A sentença que julgar procedente o pedido determinará o traçado da linha demarcanda. Parágrafo único. A sentença proferida na ação demarcatória determinará a restituição da área invadida, se houver, declarando o domínio ou a posse do prejudicado, ou ambos. Assim, a sentença também tem força reivindicatória, permitindo que, nos autos da ação de demarcação, um dos proprietários requeira a retirada do outro dos limites que lhe foram atribuídos. Essa mesma possibilidade se estende aos confinantes que participam do processo. A segunda fase é de natureza executiva e se refere à implementação efetiva da demarcação determinada na primeira. Art. 582. Transitada em julgado a sentença, o perito efetuará a demarcação e colocará os marcos necessários. Parágrafo único. Todas as operações serão consignadas em planta e memorial descritivo com as referências convenientes para a identificação, em qualquer tempo, dos pontos assinalados, observada a legislação especial que dispõe sobre a identificação do imóvel rural. Art. 586. Juntado aos autos o relatório dos peritos, o juiz determinará que as partes se manifestem sobre ele no prazo comum de 15 (quinze) dias. Parágrafo único. Executadas as correções e as retificações que o juiz determinar, lavrar-se-á, em seguida, o auto de demarcação em que os limites demarcandos serão minuciosamente descritos de acordo com o memoriale a planta. Art. 587. Assinado o auto pelo juiz e pelos peritos, será proferida a sentença homologatória da demarcação. Art. 1.012,§1º, I, CPC: A apelação não tem efeito suspensivo contra a segunda sentença. 1ª FASE Objetiva definir os limites 2ª FASE Objetiva implementar os limites definidos 38 3.5.6. PROCEDIMENTO DA DIVISÃO O procedimento da divisão tem como objetivo extinguir um condomínio, por intermédio do estabelecimento de frações individuais. O procedimento especial se aplica apenas para a divisão de imóveis. A divisão de outros bens segue o procedimento comum. O procedimento também não se aplica para a divisão econômica do bem, que é a sua alienação, com a repartição dos resultados. Nesse caso, seguir-se-á o procedimento comum. A ação de divisão também é bifásica. A primeira fase tem como foco principal o direito de obter a divisão. A segunda, os respectivos atos materiais de estabelecimento de cada quinhão. ■ Primeira fase Art. 588. A petição inicial será instruída com os títulos de domínio do promovente e conterá: I - a indicação da origem da comunhão e a denominação, a situação, os limites e as características do imóvel; II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência de todos os condôminos, especificando-se os estabelecidos no imóvel com benfeitorias e culturas; III - as benfeitorias comuns. Art. 589. Feitas as citações como preceitua o art. 576 , prosseguir-se-á na forma dos arts. 577 e 578 . A legitimidade passiva é de todos os condôminos. Há, assim como na demarcação, necessidade de citação dos cônjuges, já que são ações reais imobiliárias. Terceiros não condôminos, eventualmente, podem ser incluídos, se tiverem interesse na causa (ex: proprietários de benfeitorias). Art. 594. Os confinantes do imóvel dividendo podem demandar a restituição dos terrenos que lhes tenham sido usurpados. § 1º Serão citados para a ação todos os condôminos, se a sentença homologatória da divisão ainda não houver transitado em julgado, e todos os quinhoeiros dos terrenos vindicados, se a ação for proposta posteriormente. Art. 590. O juiz nomeará um ou mais peritos para promover a medição do imóvel e as operações de divisão, observada a legislação especial que dispõe sobre a identificação do imóvel rural. Parágrafo único. O perito deverá indicar as vias de comunicação existentes, as construções e as benfeitorias, com a indicação dos seus valores e dos respectivos proprietários e ocupantes, as águas principais que banham o imóvel e quaisquer outras informações que possam concorrer para facilitar a partilha. Art. 592. O juiz ouvirá as partes no prazo comum de 15 (quinze) dias. § 1º Não havendo impugnação, o juiz determinará a divisão geodésica do imóvel. § 2º Havendo impugnação, o juiz proferirá, no prazo de 10 (dez) dias, decisão sobre os pedidos e os títulos que devam ser atendidos na formação dos quinhões. 39 ■ Segunda fase Art. 595. Os peritos proporão, em laudo fundamentado, a forma da divisão, devendo consultar, quanto possível, a comodidade das partes, respeitar, para adjudicação a cada condômino, a preferência dos terrenos contíguos às suas residências e benfeitorias e evitar o retalhamento dos quinhões em glebas separadas. Art. 596. Ouvidas as partes, no prazo comum de 15 (quinze) dias, sobre o cálculo e o plano da divisão, o juiz deliberará a partilha. Parágrafo único. Em cumprimento dessa decisão, o perito procederá à demarcação dos quinhões, observando, além do disposto nos arts. 584 e 585 , as seguintes regras: I - as benfeitorias comuns que não comportarem divisão cômoda serão adjudicadas a um dos condôminos mediante compensação; II - instituir-se-ão as servidões que forem indispensáveis em favor de uns quinhões sobre os outros, incluindo o respectivo valor no orçamento para que, não se tratando de servidões naturais, seja compensado o condômino aquinhoado com o prédio serviente; III - as benfeitorias particulares dos condôminos que excederem à área a que têm direito serão adjudicadas ao quinhoeiro vizinho mediante reposição; IV - se outra coisa não acordarem as partes, as compensações e as reposições serão feitas em dinheiro. Art. 597. Terminados os trabalhos e desenhados na planta os quinhões e as servidões aparentes, o perito organizará o memorial descritivo. § 1º Cumprido o disposto no art. 586 , o escrivão, em seguida, lavrará o auto de divisão, acompanhado de uma folha de pagamento para cada condômino. § 2º Assinado o auto pelo juiz e pelo perito, será proferida sentença homologatória da divisão. Há quem diga que a primeira decisão não se trata de uma sentença, mas de uma interlocutória de mérito. 3.6. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE A dissolução parcial de sociedade vem logo agora pelo fato de ser também uma divisão, embora seja de uma sociedade. Aqui precisamos decotar uma parte do capital da sociedade para pagar alguém, mas a sociedade continuará existindo. Sendo assim, a grande questão dessa ação é a combinação da manutenção da sociedade com os direitos do sócio retirante. 📌 OBSERVAÇÕES ■ Se a dissolução for total, o procedimento que deve ser adotado deve ser o procedimento comum. 40 ■ A Sociedade Anônima tem procedimento próprio de dissolução previsto na lei específica (Art. 137 da LSA), razão pela qual também não aplica este procedimento. Mas, cuidado: O código e a jurisprudência admitem a aplicação do procedimento no caso de haver uma sociedade que seja formalmente uma S.A. mas que materialmente não seja uma S.A. (a exemplo de uma sociedade intuitu personae sob forma de S.A.). ⚠ ATENÇÃO Caso haja acordo entre os sócios, é perfeitamente possível que seja feita extrajudicialmente. Basicamente, o papel da dissolução parcial de sociedade é permitir o pagamento dos haveres do sócio retirante e manter o funcionamento da sociedade. Ponto relevante que você deve se ater é que o sujeito que está saindo não tem direito de receber uma fração do capital, mas do patrimônio social correspondente ao percentual do capital que ele detém. Art. 1.031, CC. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado. § 1 o O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota. § 2 o A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário. 3.6.1. OBJETO Conforme dispõe o Art. 599 do CPC: Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto: I - a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e II - a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou III - somente a resolução ou a apuração de haveres. § 1º A petição inicial será necessariamente instruída com o contrato social consolidado. § 2º A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter também por objeto a sociedade anônima de capital fechado quando demonstrado, por acionista ou acionistas que representem cinco por cento ou mais do capital social, que não pode preencher o seu fim. 41 3.6.2. LEGITIMIDADE ATIVA A dissolução da sociedade pode ser proposta, segundo o art. 600 do Código de Processo Civil: Art. 600. A ação pode ser proposta: I - pelo espólio do sócio falecido, quando a totalidade dos sucessores não ingressar na sociedade; II - pelos sucessores, após concluída a partilha do sócio falecido; III - pela sociedade, se os sócios sobreviventes não admitirem o ingresso do espólio ou dos sucessores do falecido na sociedade, quando esse direito decorrer do contrato social; IV - pelo sócio que exerceu o direito de retirada ou recesso, se não tiver sido providenciada, pelosdemais sócios, a alteração contratual consensual formalizando o desligamento, depois de transcorridos 10 (dez) dias do exercício do direito; V - pela sociedade, nos casos em que a lei não autoriza a exclusão extrajudicial; ou VI - pelo sócio excluído. Parágrafo único. O cônjuge ou companheiro do sócio cujo casamento, união estável ou convivência terminou poderá requerer a apuração de seus haveres na sociedade, que serão pagos à conta da quota social titulada por este sócio. (trata dos casos de divórcio). 3.6.3. LEGITIMIDADE PASSIVA Há litisconsórcio necessário entre os demais sócios e a sociedade, conforme o art. 601, do CPC: Art. 601. Os sócios e a sociedade serão citados para, no prazo de 15 (quinze) dias, concordar com o pedido ou apresentar contestação. Parágrafo único. A sociedade não será citada se todos os seus sócios o forem, mas ficará sujeita aos efeitos da decisão e à coisa julgada. Importante mencionar que o parágrafo único faz uma concessão em nome da praticidade. Se todos os sócios já foram citados, não faria sentido exigir também a citação da sociedade. Conforme o art. 602, do CPC, trata-se aqui de um PEDIDO CONTRAPOSTO, feito na contestação. Art. 602. A sociedade poderá formular pedido de indenização compensável com o valor dos haveres a apurar. 3.6.4. HIPÓTESES Aqui temos as hipóteses de dissolução nos casos de falecimento do sócio, do exercício de seu direito de retirada, bem como o caso de exclusão do sócio. Vejamos cada uma destes casos: 42 ■ FALECIMENTO: Nos casos de falecimento, devem-se atentar para o que dispõe o Código Civil no seu Art. 1.028: Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo: I - se o contrato dispuser diferentemente; II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido. ■ DIREITO DE RETIRADA: Aqui temos o Art. 1.029 do CC: Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa. Parágrafo único. Nos trinta dias subseqüentes à notificação, podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade. ■ EXCLUSÃO DO SÓCIO: Vejamos os seguintes dispositivos do Código: Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente. Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026. Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa. Parágrafo único. Ressalvado o caso em que haja apenas dois sócios na sociedade, a exclusão de um sócio somente poderá ser determinada em reunião ou assembleia especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa. Cuidado, portanto, com a nova redação deste último dispositivo, pois agora abre-se a ressalva para os casos em que a sociedade tenha apenas dois sócios, dispensando o que se segue em sua redação sobre a exclusão mediante reunião ou assembleia. 43 3.6.5. DA DECISÃO Conforme o Art. 603 do CPC: Art. 603. Havendo manifestação expressa e unânime pela concordância da dissolução, o juiz a decretará, passando-se imediatamente à fase de liquidação. § 1º Na hipótese prevista no caput , não haverá condenação em honorários advocatícios de nenhuma das partes, e as custas serão rateadas segundo a participação das partes no capital social. § 2º Havendo contestação, observar-se-á o procedimento comum, mas a liquidação da sentença seguirá o disposto neste Capítulo. A sentença do procedimento define o direito à dissolução. A apuração dos haveres ocorrerá em fase de liquidação, com as adaptações previstas no procedimento especial. O procedimento é especialmente adequado para a negociação entre as partes, na forma do Art. 190 do CP, a qual pode estar contida no próprio contrato social. ⚠ ATENÇÃO A sentença de dissolução parcial pode ser declaratória ou constitutiva, dependendo da causa que leva à dissolução. Assim, conforme o Art. 605 do CPC: Art. 605. A data da resolução da sociedade será: I - no caso de falecimento do sócio, a do óbito; II - na retirada imotivada, o sexagésimo dia seguinte ao do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio retirante; III - no recesso, o dia do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio dissidente; IV - na retirada por justa causa de sociedade por prazo determinado e na exclusão judicial de sócio, a do trânsito em julgado da decisão que dissolver a sociedade; e V - na exclusão extrajudicial, a data da assembleia ou da reunião de sócios que a tiver deliberado. Percebam: a hipótese do inciso IV é constitutiva. As demais são declaratórias. Além disso, a sentença terá eficácia condenatória, se determinar o pagamento dos haveres apurados. 44 3.6.6. DA APURAÇÃO DE HAVERES Precisamos verificar os seguintes artigos: Art. 604. Para apuração dos haveres, o juiz: I - fixará a data da resolução da sociedade; II - definirá o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social; e III - nomeará o perito. § 1º O juiz determinará à sociedade ou aos sócios que nela permanecerem que depositem em juízo a parte incontroversa dos haveres devidos. § 2º O depósito poderá ser, desde logo, levantando pelo ex-sócio, pelo espólio ou pelos sucessores. § 3º Se o contrato social estabelecer o pagamento dos haveres, será observado o que nele se dispôs no depósito judicial da parte incontroversa. Art. 606. Em caso de omissão do contrato social, o juiz definirá, como critério de apuração de haveres, o valor patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se por referência a data da resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma. Parágrafo único. Em todos os casos em que seja necessária a realização de perícia, a nomeação do perito recairá preferencialmente sobre especialista em avaliação de sociedades. Art. 607. A data da resolução e o critério de apuração de haveres podem ser revistos pelo juiz, a pedido da parte, a qualquer tempo antes do início da perícia. Art. 608. Até a data da resolução, integram o valor devido ao ex-sócio, ao espólio ou aos sucessores a participação nos lucros ou os juros sobre o capital próprio declarados pela sociedade e, se for o caso, a remuneração como administrador. Parágrafo único. Após a data da resolução, o ex-sócio, o espólio ou os sucessores terão direito apenas à correção monetária dos valores apurados e aos juros contratuais ou legais. Art. 609. Uma vez apurados, os haveres do sócio retirante serão pagos conforme disciplinar o contrato social e, no silêncio deste, nos termos do § 2º do art. 1.031 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Sobre este último dispositivo, mencione-se que ele representa uma regra muito simples: Como a sociedade via de regra, não vai ter liquidez para pagar o valor das cotas de um sócio se elas forem significativas, casos não haja uma disposição contratual adequada sobre isto, pode haver a “quebra” da sociedade (a exemplo de um sócio que tem 1/3 do valor do patrimônio social e se retira. Neste caso, dificilmente a sociedade irá sobreviver liquidando 33% patrimôniosocial em 90 dias para pagar o sócio retirante). 45 3.7. OPOSIÇÃO No CPC de 1973, a Oposição era uma intervenção de terceiros. Trata-se de um procedimento muito raro. A oposição é a situação em que alguém se diz titular de um direito que está sendo discutido em processo (exemplo: litígio entre construtora e uma pessoa sobre um imóvel já vendido a terceiro). O procedimento é raro, pois seria mais racional não fazer nada em relação ao processo alheio e posteriormente fazer uso, por exemplo, de embargos de terceiro. Além disso, em regra a pessoa que fará uso da Oposição não fica sabendo do processo alheio, o que dificulta o uso deste procedimento especial. 3.7.1. POLO PASSIVO A Oposição coloca no polo passivo o AUTOR e o RÉU da ação originária, gerando um segundo processo. Aquele que ingressa com oposição será chamado de “opoente” e as partes do processo originário são chamados de “opostos”. ⚠ ATENÇÃO A oposição será distribuída por dependência e o juiz decidirá as duas causas conjuntamente, decidindo primeiro sobre a oposição e depois a causa originária. Os opostos contestam em 15 dias e segue-se, depois, o procedimento comum. O procedimento está previsto nos Artigos 682 a 686: Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. Art. 683. O opoente deduzirá o pedido em observação aos requisitos exigidos para propositura da ação. Parágrafo único. Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa de seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 dias. Art. 684. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente. Art. 685. Admitido o processamento, a oposição será apensada aos autos e tramitará simultaneamente à ação originária, sendo ambas julgadas pela mesma sentença. Parágrafo único. Se a oposição for proposta após o início da audiência de instrução, o juiz suspenderá o curso do processo ao fim da produção das provas, salvo se concluir que a unidade da instrução atende melhor ao princípio da duração razoável do processo. Art. 686. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação originária e a oposição, desta conhecerá em primeiro lugar. 46 Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público39. Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1134446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623). Oposição julgada depois da demanda principal não gera nulidade40. Não configura nulidade apreciar, em sentenças distintas, a ação principal antes da oposição, quando ambas forem julgadas na mesma data, com base nos mesmos elementos de prova e nos mesmos fundamentos. Novo CPC: É importante lembrar que o CPC/2015 não previu mais a figura da oposição como intervenção de terceiros. Trata-se agora de procedimento especial. STJ. 3ª Turma. REsp 1221369-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/8/2013 (Info 531). 3.8. HABILITAÇÃO É o procedimento utilizado para substituir uma das partes, em caso de falecimento. É destinado a promover a sucessão do falecido. Pode ser que a habilitação não se desenvolva como um procedimento especial, mas como incidente nos autos do mesmo processo. Conforme o Art. 687 a 689 do Código de Processo Civil: Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe no processo. Art. 688. A habilitação pode ser requerida: I - pela parte, em relação aos sucessores do falecido; II - pelos sucessores do falecido, em relação à parte. Art. 689. Proceder-se-á à habilitação nos autos do processo principal, na instância em que estiver, suspendendo-se, a partir de então, o processo. 3.8.1. PROCEDIMENTO EM CASO DE IMPUGNAÇÃO Se houver habilitação, o pedido será distribuído e será processado como ação. Conforme o CPC: Art. 690. Recebida a petição, o juiz ordenará a citação dos requeridos para se pronunciarem no prazo de 5 dias. Parágrafo único. A citação será pessoal, se a parte não tiver procurador constituído nos autos. 40CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Oposição julgada depois da demanda principal não gera nulidade. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 17/06/2022 39CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 17/06/2022 47 Art. 691. O juiz decidirá o pedido de habilitação imediatamente, salvo se este for impugnado e houver necessidade de dilação probatória diversa da documental, caso em que determinará que o pedido seja autuado em apartado e disporá sobre a instrução. Art. 692. Transitada em julgado a sentença de habilitação, o processo principal retomará o seu curso, e cópia da sentença será juntada aos autos respectivos. 📌 OBSERVAÇÕES ■ A regra de as ações civis continuarem com a morte, algumas serão encerradas com a morte de uma das partes. Isso quando ela não for mais ÚTIL depois da morte. Como exemplo, cite-se o caso de ser o autor o sucessor do réu. Haverá, depois da morte, uma confusão. ■ Mas, as ações mais conhecidas e que encerram com a morte são as chamadas AÇÕES PERSONALÍSSIMAS (mudança de nome, divórcio etc.), cujas legitimidades são estabelecidas apenas aos indivíduos que dela participam originariamente. 3.9. AÇÃO MONITÓRIA A ação monitória serve para transformar em título executivo uma dívida provada documentalmente, que não tem essa força. No Brasil, sua importância não é tão grande, em virtude da expressiva quantidade de títulos executivos já consagrados em lei. Em outros países, é considerado um procedimento de elevada eficácia. A vantagem da monitória é evitar a delonga de um processo de conhecimento, quando o credor não tem título, ou seja, não poderia propor a execução, mas o devedor também não tem interesse em contestar dívida. ⚠ ATENÇÃO A vantagem real da Monitória só existirá se o devedor não se defender. Caso se defenda, a sua utilidade cai consideravelmente. Assim, só terá utilidade real se o réu não tiver tese de defesa. Importante observar que, para o réu, não havendo tese de defesa, seria mais interessante deixar a execução ocorrer, pois incidiria menos honorários e custas. O exemplo típico na jurisprudência é o cheque especial (contrato de abertura de crédito). O STJ definiu que não se trata de título, pois existe a ILIQUIDEZ. O correio eletrônico (e-mail) pode fundamentar a pretensão monitória, desde que o juízo se convença da verossimilhança das alegações e da idoneidade das declarações. STJ. 4ª Turma. REsp 1381603-MS, Rel. Min. 48 Luis Felipe Salomão, julgado em 6/10/2016 (Info 593)41. Em ação monitória, após o decurso do prazo para pagamento ou entrega da coisa sem a oposição de embargos pelo réu, o juiz não poderá analisar matérias de mérito, ainda que conhecíveis de ofício. STJ. 3ª Turma. REsp 1432982-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/11/2015 (Info 574).42 3.9.1. CABIMENTO E REQUISITOS Conforme o Art. 700, do CPC: Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz: I - o pagamento de quantia em dinheiro; II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer. SÃO REQUISITOS BÁSICOS ● Prova escrita da dívida, sem força executiva; ● Devedor capaz (não cabe contra incapazes); ● Qualquer tipo de obrigação (pagar, dar coisa,fazer ou não fazer). 📌 OBSERVAÇÕES ■ Prova escrita pode ser DOCUMENTAL ou DOCUMENTADA. ■ Prova documental é aquela que o suporte físico se refere ao fato, já a prova documentada é aquela em que o suporte físico se refere a um fato que, por sua vez, se refere a outro fato. Ambas são aceitáveis para efeitos da Ação Monitória. ■ A doutrina também admite a ação monitória mesmo para quem tem título executivo extrajudicial, em virtude do disposto no Art. 785 do CPC que dispõe que a existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de obter título executivo judicial. ■ Nesse sentido o Enunciado 446 do FPPC: “Cabe ação monitória mesmo quando o autor for portador de título executivo extrajudicial”. 42CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ação monitória e inviabilidade de se analisar matérias de mérito se o réu se manteve inerte. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 17/06/2022 41CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Possibilidade de utilização de e-mail para instruir ação monitória. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 17/06/2022 49 ⚠ ATENÇÃO Em algumas vezes, a pessoa tem um título, mas ela tem dúvida da exequibilidade desse título. Dessa forma, propõe essa ação com o objetivo de evitar eventuais questionamentos sobre o título que poderiam gerar a extinção da execução e o consequente pagamento de custas e honorários. Prossegue o art. 700 do CPC, dizendo o seguinte: § 1º A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida antecipadamente nos termos do art. 381 . § 2º Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso: I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo; II - o valor atual da coisa reclamada; III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido. § 3º O valor da causa deverá corresponder à importância prevista no § 2º, incisos I a III. § 4º Além das hipóteses do art. 330 , a petição inicial será indeferida quando não atendido o disposto no § 2º deste artigo. § 5º Havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental apresentada pelo autor, o juiz intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial, adaptando-a ao procedimento comum. No que tange ao parágrafo 5º, também é possível que o autor emende a petição inicial para melhorá-la e mantê-la como monitória. A emenda pode ser para esclarecer a documentação e manter o pedido monitório ou para adaptá-la ao procedimento comum, caso a documentação seja considerada inidônea. ⚠ ATENÇÃO Ação monitória e demonstrativo de débito atualizado como requisito da petição inicial43. O CPC 1973 não traz os requisitos da petição inicial da ação monitória. Apesar disso, a jurisprudência exige que a petição inicial da ação monitória na qual o autor cobra do réu soma em dinheiro deve ser instruída com demonstrativo de débito atualizado até a data do ajuizamento. O STJ entende que esse documento é indispensável para que o devedor possa ter o conhecimento detalhado da quantia que lhe está sendo cobrada, inclusive com a indicação dos critérios, índices e taxas utilizados, a fim de que o devedor possa validamente impugná-los nos embargos. 43CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ação monitória e demonstrativo de débito atualizado como requisito da petição inicial. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 17/06/2022 50 O CPC 2015 já traz em seu texto os requisitos para a petição inicial da ação monitória. Um deles é justamente a memória de cálculo da dívida que esteja sendo cobrada. Desse modo, o entendimento do STJ acima explicado foi incorporado pelo novo CPC (art. 700, § 2º, I). O que acontece se o autor ajuizar a ação e não juntar esse demonstrativo (ou se o demonstrativo estiver incompleto)? O juiz deverá intimá-lo para que corrija esse vício e traga aos autos o demonstrativo atualizado. Qual é o prazo que o autor possui para emendar a petição inicial? • 10 dias no CPC 1973 (art. 284); • 15 dias no CPC 2015 (art. 321). Outra novidade do CPC 2015 é que o juiz, ao determinar que o autor emende ou complete a petição inicial, deverá indicar, com precisão, o que deve ser corrigido ou completado. STJ. 2ª Seção. REsp 1154730-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 8/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 559). O artigo 700, do CPC, prossegue: § 6º É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública. § 7º Na ação monitória, admite-se citação por qualquer dos meios permitidos para o procedimento comum. 📌 OBSERVAÇÃO Súmula 339 do STJ: “É cabível ação monitória contra a fazenda pública”. É cabível o pedido de repetição de indébito em dobro, previsto no art. 940 do CC/2002, em sede de embargos monitórios.44 O réu, citado na ação monitória, pode apresentar embargos monitórios, que são uma forma de defesa, semelhante à contestação (art. 702 do CPC). Os embargos podem se fundar em qualquer matéria que poderia ser alegada como defesa no procedimento comum (§ 1º do art. 702). Assim, o réu pode, nos embargos monitórios, alegar que a dívida já está paga e pedir a repetição de indébito em dobro, nos termos do art. 940 do CC. A condenação ao pagamento em dobro do valor indevidamente cobrado pode ser formulada em qualquer via processual, inclusive, em sede de embargos à execução, embargos monitórios e ou reconvenção, até mesmo reconvenção, prescindindo de ação própria para tanto. STJ. 3ª Turma. REsp 1877292-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2020 (Info 682). 44CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É cabível o pedido de repetição de indébito em dobro, previsto no art. 940 do CC/2002, em sede de embargos monitórios. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 17/06/2022 51 Pedido de alongamento da dívida em embargos à monitória45. O pedido de alongamento da dívida originada de crédito rural pode ser feito em sede de embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção. O preenchimento dos requisitos legais para a securitização da dívida originada de crédito rural (ou alongamento) constitui matéria de defesa do devedor, passível de ser alegada em embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção. STJ. 3ª Turma. REsp 1531676-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/5/2017 (Info 604). 3.9.2. CITAÇÃO Se utiliza de qualquer dos meios permitidos no procedimento comum. Havia alguns que diziam que, por depender a monitória de concordância, não seria possível citar de modo ficto. A citação da monitória, entretanto, diz o CPC, que pode ser feita por qualquer dos meios. Todavia, a monitória será útil se o sujeito, apesar da citação ficta, comparecer aos autos, pois ele pode concordar. Não aparecendo, entretanto, será a monitória inútil. Será nomeado curador especial e este defenderá o sujeito e terá prosseguimento pelo procedimento comum. Conforme o CPC: Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa. § 1º O réu será isento do pagamento de custas processuais se cumprir o mandado no prazo. § 2º Constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, independentemente de qualquer formalidade, se não realizado o pagamento e não apresentados os embargos previstos no art. 702 , observando-se, no que couber, o Título II do Livro I da Parte Especial . § 3º É cabível ação rescisória da decisãoprevista no caput quando ocorrer a hipótese do § 2º. § 4º Sendo a ré Fazenda Pública, não apresentados os embargos previstos no art. 702 , aplicar-se-á o disposto no art. 496 , observando-se, a seguir, no que couber, o Título II do Livro I da Parte Especial. § 5º Aplica-se à ação monitória, no que couber, o art. 916 . Ao receber a inicial da monitória, o juiz deve avaliar a documentação recebida, só mandando citar se estiver convencido que aquela documentação evidencia o direito do autor. 45CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Pedido de alongamento da dívida em embargos à monitória. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 17/06/2022 52 ⚠ ATENÇÃO A monitória tem como premissa uma AVALIAÇÃO DE EVIDÊNCIA realizada pelo juiz. Pressupõe que o juiz avalia os documentos. Do contrário, o juiz não poderá permitir que a monitória prossiga no procedimento especial, indo ao procedimento comum. 📌 OBSERVAÇÕES ■ A monitória constitui título executivo JUDICIAL, não havendo outra decisão judicial além da que mandou citar para pagar. Daí a importância de analisar o título antes de citar. ■ A revelia do réu é capaz de converter a prova apresentada pelo autor em título executivo judicial, mesmo sem ter havido sobre ela cognição exauriente. O contraditório é, portanto, eventual, não existirá se o réu não requerer (se defendendo). Se o réu não paga e não toma nenhuma providência de defesa, então a monitoria terá a utilidade em converter o título em título executivo JUDICIAL. A primeira decisão em que o juiz, considerando evidente o direito do autor, mandou citar o réu é, portanto, o título judicial (se o réu não contestar) e não será título caso o réu contestar. 3.9.3. PROCEDIMENTO MONITÓRIO X TUTELA DE EVIDÊNCIA A tutela de evidência, se relaciona ao procedimento monitório, uma vez que também se funda em hipóteses de prova documental e verificabilidade in limine litis do direito do autor. Façamos uma simples tabela: TUTELA DE EVIDÊNCIA PROCEDIMENTO MONITÓRIO O deferimento da tutela é sempre PROVISÓRIO, havendo necessidade de posterior cognição exauriente, com sentença. O silêncio do réu basta para formar o título executivo judicial “de pleno direito”, sem necessidade de outra decisão judicial. 3.9.4. PROCEDIMENTO MONITÓRIO X ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA ANTECEDENTE A tutela de urgência antecipada antecedente estabilizada (Art. 304) também retira seus efeitos da inércia do réu, como a monitória. Apesar disso, ela não forma coisa julgada, não admite ação rescisória e, por isso, poderá ser revista, no prazo de 2 anos, por qualquer fundamento, a pedido de qualquer das partes. Na monitória, é possível a rescisória. 53 3.9.5. PARCELAMENTO COMPULSÓRIO Conforme dispõe o parágrafo 5º do artigo 701 do Código de Processo Civil, é possível o parcelamento compulsório aplicado ao réu. Art. 701 § 5º Aplica-se à ação monitória, no que couber, o art. 916 . Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao mês. 3.9.6. DEFESA: EMBARGOS MONITÓRIOS Conforme o Artigo 702, do Código de Processo Civil: Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios autos, no prazo previsto no art. 701 , embargos à ação monitória. § 1º Os embargos podem se fundar em matéria passível de alegação como defesa no procedimento comum. § 2º Quando o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado da dívida. § 3º Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos serão liminarmente rejeitados, se esse for o seu único fundamento, e, se houver outro fundamento, os embargos serão processados, mas o juiz deixará de examinar a alegação de excesso. § 4º A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no caput do art. 701 até o julgamento em primeiro grau. § 5º O autor será intimado para responder aos embargos no prazo de 15 (quinze) dias. § 6º Na ação monitória admite-se a reconvenção, sendo vedado o oferecimento de reconvenção à reconvenção. § 7º A critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, se parciais, constituindo-se de pleno direito o título executivo judicial em relação à parcela incontroversa. § 8º Rejeitados os embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, prosseguindo-se o processo em observância ao disposto no Título II do Livro I da Parte Especial, no que for cabível. § 9º Cabe apelação contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos. § 10. O juiz condenará o autor de ação monitória proposta indevidamente e de má-fé ao pagamento, em favor do réu, de multa de até dez por cento sobre o valor da causa. § 11. O juiz condenará o réu que de má-fé opuser embargos à ação monitória ao pagamento de multa de até dez por cento sobre o valor atribuído à causa, em favor do autor. 54 Os embargos monitórios, apesar do nome, são apresentados nos próprios autos, no prazo de 15 dias e podem versar sobre qualquer matéria admissível no procedimento comum. Essas alegações serão processadas e provadas da mesma forma que no procedimento comum. ⚠ ATENÇÃO É possível a constituição parcial do título. A maior parte da doutrina defende que a apelação não tem efeito suspensivo automático. Isso significa que a apelação contra decisão monitória não tem efeito suspensivo, permitindo o início da execução provisória. Logo, mesmo que a monitória seja embargada pelo réu, ela é melhor que uma mera ação de cobrança, pois será imediatamente executável, após a sentença. 3.10. HOMOLOGAÇÃO DE PENHOR LEGAL É o procedimento utilizado depois que o credor tomou, por sua própria força, o bem do devedor, nas hipóteses autorizadas em Lei. Aperfeiçoou-se por iniciativa proveniente do credor, entrando pessoalmente na posse dos bens do devedor sujeitos ao gravame legal. A justiça se faz, assim, pelas próprias mãos do credor, na impossibilidade de recorrer, a tempo, à autoridade judiciária. As hipóteses estão previstas no Art. 1.467 do CC: Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção: I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; II - o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas. Importante o que dispõe o Artigo 1.471: Art. 1.471. Tomado o penhor, requererá o credor, ato contínuo, a sua homologação judicial. Diante disso, regulou o CPC: Art. 703. Tomado o penhor legal nos casos previstos em lei, requererá o credor, ato contínuo, a homologação. 55 § 1º Na petição inicial, instruída com o contrato de locação ou a conta pormenorizada das despesas, a tabela dos preços e a relação dos objetos retidos, o credor pedirá a citação do devedor para pagar ou contestar na audiência preliminar que for designada. § 2º A homologação do penhor legal poderá ser promovida pela via extrajudicial mediante requerimento, que conterá os requisitos previstos no § 1º deste artigo, do credor a notário de sua livre escolha. § 3º Recebido o requerimento, o notário promoverá a notificação extrajudicial do devedor para, no prazo de 5 dias, pagar o débito ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma das causas previstas no art. 704 , hipótese em que o procedimento será encaminhado ao juízo competente para decisão. § 4º Transcorridoo prazo sem manifestação do devedor, o notário formalizará a homologação do penhor legal por escritura pública. ⚠ ATENÇÃO Não há prazo de contestação. Conforme o parágrafo primeiro, o devedor vai ser citado para pagar ou contestar na audiência. 3.10.1. DEFESA Conforme o Art. 704 do CPC: Art. 704. A defesa só pode consistir em: I - nulidade do processo; II - extinção da obrigação; III - não estar a dívida compreendida entre as previstas em lei ou não estarem os bens sujeitos a penhor legal; IV - alegação de haver sido ofertada caução idônea, rejeitada pelo credor. Diante disso, a partir da audiência preliminar, observar-se-á o procedimento comum. 3.11. AÇÃO DE REGULAÇÃO DE AVARIA GROSSA Não existia no CPC/73. As avarias são despesas extraordinárias do transporte marítimo, feitas a bem do navio ou da carga, em virtude de um acidente de navegação. Avaria simples é a despesa decorrente de danos apenas ao navio ou apenas à carga. Avaria grossa é a despesa decorrente de danos causados simultaneamente ao navio e à carga, intencionalmente, pelo capitão do navio, no caso de perigo iminente, para evitar um mal maior. O capitão do navio causa um dano menor para evitar um maior, decorrente de um perigo iminente. 56 A questão da avaria grossa é a necessidade de repartição das despesas decorrentes de um evento que atinge uma comunidade de interesses (do transportador e do proprietário da carga). A regulação de avaria grossa é exatamente a definição dessa repartição de riscos. Art. 707. Quando inexistir consenso acerca da nomeação de um regulador de avarias, o juiz de direito da comarca do primeiro porto onde o navio houver chegado, provocado por qualquer parte interessada, nomeará um de notório conhecimento. Art. 708. O regulador declarará justificadamente se os danos são passíveis de rateio na forma de avaria grossa e exigirá das partes envolvidas a apresentação de garantias idôneas para que possam ser liberadas as cargas aos consignatários. § 1º A parte que não concordar com o regulador quanto à declaração de abertura da avaria grossa deverá justificar suas razões ao juiz, que decidirá no prazo de 10 dias. § 2º Se o consignatário não apresentar garantia idônea a critério do regulador, este fixará o valor da contribuição provisória com base nos fatos narrados e nos documentos que instruírem a petição inicial, que deverá ser caucionado sob a forma de depósito judicial ou de garantia bancária. § 3º Recusando-se o consignatário a prestar caução, o regulador requererá ao juiz a alienação judicial de sua carga na forma dos arts. 879 a 903 . § 4º É permitido o levantamento, por alvará, das quantias necessárias ao pagamento das despesas da alienação a serem arcadas pelo consignatário, mantendo-se o saldo remanescente em depósito judicial até o encerramento da regulação. Art. 709. As partes deverão apresentar nos autos os documentos necessários à regulação da avaria grossa em prazo razoável a ser fixado pelo regulador. Art. 710. O regulador apresentará o regulamento da avaria grossa no prazo de até 12 (doze) meses, contado da data da entrega dos documentos nos autos pelas partes, podendo o prazo ser estendido a critério do juiz. § 1º Oferecido o regulamento da avaria grossa, dele terão vista às partes pelo prazo comum de 15 dias, e, não havendo impugnação, o regulamento será homologado por sentença. § 2º Havendo impugnação ao regulamento, o juiz decidirá no prazo de 10 dias, após a oitiva do regulador. Art. 711. Aplicam-se ao regulador de avarias os arts. 156 a 158 , no que couber. 3.12. RESTAURAÇÃO DE AUTOS É um procedimento que só interessa quando o processo é físico (embora seja possível uma restauração de autos eletrônicos). Conforme o Art. 712 e seguintes: Art. 712. Verificado o desaparecimento dos autos, eletrônicos ou não, pode o juiz, de ofício, qualquer das partes ou o Ministério Público, se for o caso, promover-lhes a restauração. Parágrafo único. Havendo autos suplementares, nesses prosseguirá o processo. 57 Art. 713. Na petição inicial, declarará a parte o estado do processo ao tempo do desaparecimento dos autos, oferecendo: I - certidões dos atos constantes do protocolo de audiências do cartório por onde haja corrido o processo; II - cópia das peças que tenha em seu poder; III - qualquer outro documento que facilite a restauração. Art. 714. A parte contrária será citada para contestar o pedido no prazo de 5 (cinco) dias, cabendo-lhe exibir as cópias, as contrafés e as reproduções dos atos e dos documentos que estiverem em seu poder. § 1º Se a parte concordar com a restauração, lavrar-se-á o auto que, assinado pelas partes e homologado pelo juiz, suprirá o processo desaparecido. § 2º Se a parte não contestar (“NÃO CONCORDAR” – ERRO DE DIGITAÇÃO DO CPC) ou se a concordância for parcial, observar-se-á o procedimento comum. Art. 715. Se a perda dos autos tiver ocorrido depois da produção das provas em audiência, o juiz, se necessário, mandará repeti-las. § 1º Serão reinquiridas as mesmas testemunhas, que, em caso de impossibilidade, poderão ser substituídas de ofício ou a requerimento. § 2º Não havendo certidão ou cópia do laudo, far-se-á nova perícia, sempre que possível pelo mesmo perito. § 3º Não havendo certidão de documentos, esses serão reconstituídos mediante cópias ou, na falta dessas, pelos meios ordinários de prova. § 4º Os serventuários e os auxiliares da justiça não podem eximir-se de depor como testemunhas a respeito de atos que tenham praticado ou assistido. § 5º Se o juiz houver proferido sentença da qual ele próprio ou o escrivão possua cópia, esta será juntada aos autos e terá a mesma autoridade da original. Art. 716. Julgada a restauração, seguirá o processo os seus termos. Parágrafo único. Aparecendo os autos originais, neles se prosseguirá, sendo-lhes apensados os autos da restauração. Art. 717. Se o desaparecimento dos autos tiver ocorrido no tribunal, o processo de restauração será distribuído, sempre que possível, ao relator do processo. § 1º A restauração far-se-á no juízo de origem quanto aos atos nele realizados. § 2º Remetidos os autos ao tribunal, nele completar-se-á a restauração e proceder-se-á ao julgamento. Art. 718. Quem houver dado causa ao desaparecimento dos autos responderá pelas custas da restauração e pelos honorários de advogado, sem prejuízo da responsabilidade civil ou penal em que incorrer. 📌 OBSERVAÇÃO O sumiço da prova em si não muda o ônus da prova. A única coisa para qual a culpa pelo sumiço interessa é para efeitos de INDENIZAÇÃO (se for o caso), CRIME ou CUSTAS (Art. 718). 58 4. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA 4.1. NATUREZA JURÍDICA Apesar de forte corrente doutrinária negar-lhe a jurisdição, atribuindo-lhe a condição de “administração pública de interesses privados cometida ao Poder Judiciário”, a doutrina moderna tem considerado a Jurisdição voluntária como verdadeira jurisdição, vez que também há situação conflituosa na jurisdição voluntária (apesar de nem sempre haver interesses contrapostos). Contudo, há a presença de insatisfação ou estado, que só pode ser solucionada com a intervenção estatal. 4.2. DIFERENÇAS ENTRE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E CONTENCIOSA ■ Ao tempo que pela jurisdição contenciosa o juiz diga quem tem razão, os processos voluntários buscam determinadas providências, necessárias a proteger um ou ambos os sujeitos do processo; ■ Na jurisdição voluntária, busca-se uma situação que valha para o próprio autor, podendo a sentença beneficiar tanto autor quanto o réu; ■ Na jurisdição contenciosa, juiz resolve conflito; na voluntária, o juiz altera circunstâncias que só podem ser modificadas pelo Judiciário, mesmo não havendo conflito. 4.3. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA a. Não se fala em “partes do processo”, mas sim em “interessados”; b. Procedimento mais sumário que os de jurisdição contenciosa; c. Mitigação do princípio da demanda, vez que o juiz pode iniciar processos de ofício (por exemplo, aberturade testamentos e arrecadação de herança jacente); d. Não se aplica o princípio da legalidade estrita do art. 723 do CPC, vez que o juiz pode adotar em cada caso a situação que considerar mais conveniente ou oportuna; e. As sentenças definitivas não se revestem da autoridade da coisa julgada material, pois inexistem interesses contrapostos. 4.4. REGRAS GERAIS DO PROCEDIMENTO As regras gerais do procedimento voluntário estão previstas nos arts. 720 a 724 do CPC. São aplicáveis desde que o procedimento não preveja norma especial em contrário: 59 Art. 720. O procedimento terá início por provocação do interessado, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, cabendo-lhes formular o pedido devidamente instruído com os documentos necessários e com a indicação da providência judicial. Art. 721. Serão citados todos os interessados, bem como intimado o Ministério Público, nos casos do art. 178 , para que se manifestem, querendo, no prazo de 15 (quinze) dias. Art. 722. A Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver interesse. Art. 723. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna. Art. 724. Da sentença caberá apelação. 📌 OBSERVAÇÃO A petição inicial deve observar os requisitos do art. 319 do CPC, bem como indicar o valor da causa. As custas e despesas processuais são adiantadas pelo autor, porém rateadas entre os interessados, nos termos do art. 88 do CPC. 4.5. PEDIDOS QUE SEGUEM O PROCEDIMENTO VOLUNTÁRIO Nos termos do art. 725 do CPC: Art. 725. Processar-se-á na forma estabelecida nesta Seção o pedido de: I - emancipação; II - sub-rogação; III - alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes, de órfãos e de interditos; IV - alienação, locação e administração da coisa comum; V - alienação de quinhão em coisa comum; VI - extinção de usufruto, quando não decorrer da morte do usufrutuário, do termo da sua duração ou da consolidação, e de fideicomisso, quando decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes do evento que caracterizar a condição resolutória; VII - expedição de alvará judicial; VIII - homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor. Parágrafo único. As normas desta Seção aplicam-se, no que couber, aos procedimentos regulados nas seções seguintes. 60 Observa-se que o rol do art. 725 não é taxativo, pois existem outros exemplos em nosso ordenamento que obedecem ao procedimento geral, como o suprimento judicial de outorga uxória e o suprimento do consentimento para casamento. 5. PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA Em função da finalidade deste material, para exemplificação apresentaremos dois procedimentos específicos, os quais julgamos mais relevantes para provas e estudos. 5.1. DIVÓRCIO E SEPARAÇÃO CONSENSUAIS, EXTINÇÃO CONSENSUAL DE UNIÃO ESTÁVEL E ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS DO MATRIMÔNIO 5.1.1. INTRODUÇÃO Desde o advento da Emenda Constitucional n. 66/10, havia certo imbróglio jurídico sobre a existência da separação de cônjuges em nosso ordenamento. Contudo, o CPC afirma a permanência da separação judicial contenciosa ou consensual: Art. 693. As normas deste Capítulo aplicam-se aos processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação. Art. 731. A homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão: I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns; II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges; III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos. Na lição de Marcus Vinícius Gonçalves, “A separação consensual é o mecanismo pelo qual os cônjuges, de mútuo acordo, põem fim à sociedade conjugal, sem dissolverem o vínculo do casamento. Conquanto cessem os deveres e obrigações conjugais, não há possibilidade de novo matrimônio. A dissolução do casamento válido só ocorre com a morte de um dos cônjuges, ou com o divórcio.”46 46Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 61 📌 OBSERVAÇÃO Trata-se de ação pessoal e intransferível. O processo será extinto em caso de morte de um dos cônjuges. 5.1.2. REQUISITOS São 3 os requisitos: a. Ambos os cônjuges manifestem o consentimento perante o juízo; b. Ambos estejam de acordo com o término do casamento, da sociedade conjugal, união estável ou alteração do regime; c. Que o acordo preserve adequadamente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges. 5.1.3. POSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO EXTRAJUDICIAL Nos termos do art. 733 e cumpridos seus requisitos, o divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável poderão ser realizados por escritura pública: Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731 . § 1º A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras. § 2º O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial. 5.1.4. PROCEDIMENTO Na petição inicial, o requerimento é formulado em conjunto por ambos os cônjuges. A inicial deve indicar:47 os bens, a forma de partilha, o acordo relativo à guarda dos filhos menores; o valor da contribuição para criar e educar os filhos e a pensão alimentícia que um cônjuge deverá pagar ao outro, que não possuir condições para sustentar-se. A inicial também indicará, se os cônjuges manterão o nome de casados ou voltarão a usar os de solteiros. No silêncio, presume-se que conservarão o de casados. Nada impede que, depois da homologação do acordo, aquele que optou por manter o nome de casado mude de ideia, e postule a alteração para o nome de solteiro, o que será deferido independentemente da anuência da parte contrária. Trata-se da única cláusula do acordo de separação que, após a homologação, pode ser alterada unilateralmente. 47Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 62 ⚠ ATENÇÃO É facultado relegar a partilha para outro momento, se não houver consenso, bem como o direito de visita aos filhos menores. Caso a inicial estiver em conformidade com as normas legais, o juiz homologará o pedido, sem necessidade de designar prévia audiência de tentativa de conciliação. O Ministério Público será ouvido antes da decisão, caso haja filhos menores. Não preenchidos os requisitos ou prejudicado algum dos interesses, o juiz indeferirá a homologação, cabendo recurso de apelação. 5.2. INTERDIÇÃO 5.2.1. INTRODUÇÃO É cediço que a incapacidade civil das pessoas naturais cessa quando atingem a maioridade, aos 18 anos. Contudo, por diversas razões, a pessoa pode atingir a maioridade, mas não a capacidade (absoluta ou relativa). Dessa forma, é necessário interditá-la, vez que há presunção de capacidade de maiores, ressalvada a hipótese do índio, que não é interditado, mas fica sob a tutela da União. Dessa forma, o processo de interdição “48tem por finalidade declarar a incapacidade, absoluta ou relativa, daquele que está privado do discernimento necessário para praticar sozinho os atos da vida social, ou exprimir a sua vontade.” 5.2.2. PROCEDIMENTO A competência é do foro dodomicílio do interditando, sendo essa uma regra de competência relativa. Havendo vara de família, será ela a competente, caso contrário, a vara cível comum. A legitimidade está prevista no art. 747 do CPC: Art. 747. A interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II - pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; IV - pelo Ministério Público. Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial. 48Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 63 Art. 748. O Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença mental grave: I - se as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não existirem ou não promoverem a interdição; II - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas nos incisos I e II do art. 747 . Conforme prescreve o art. 749, o autor na petição inicial deve especificar os fatos que demonstram a incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou. Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a prática de determinados atos. Estando a petição inicial em conformidade com a lei, O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas. (art. 751 do CPC). O interditando poderá impugnar o pedido, constituindo advogado ou por curador especial (caso não constitua), para evitar que a interdição seja feita para fins diversos. Decorrido o prazo, juiz determinará prova pericial, com a formulação de quesito das partes e do Ministério Público. ⚠ ATENÇÃO No processo de interdição, vigora o princípio do livre convencimento motivado. Concluída a instrução, será proferida sentença, que possui natureza meramente declaratória. A sentença possui eficácia ex tunc, retroagindo à data em que se manifestou a causa de incapacidade. Em outros termos, não é a sentença que torna o interditando incapaz, mas somente se limita a declarar a incapacidade preexistente. 📌 OBSERVAÇÃO A interdição poderá ser levantada a qualquer tempo, desde que demonstrada a cessação da incapacidade, nos termos do art. 756, §1º a 4º do CPC: Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou. § 1º O pedido de levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público e será apensado aos autos da interdição. 64 § 2º O juiz nomeará perito ou equipe multidisciplinar para proceder ao exame do interdito e designará audiência de instrução e julgamento após a apresentação do laudo. § 3º Acolhido o pedido, o juiz decretará o levantamento da interdição e determinará a publicação da sentença, após o trânsito em julgado, na forma do art. 755, § 3º , ou, não sendo possível, na imprensa local e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, seguindo-se a averbação no registro de pessoas naturais. § 4º A interdição poderá ser levantada parcialmente quando demonstrada a capacidade do interdito para praticar alguns atos da vida civil. 651.4. CUMULAÇÃO Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. § 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. § 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum. § 3º O inciso I do § 1º não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326. Por isso alguns doutrinadores, como Fredie Souza Didier Júnior, têm entendido que não temos hoje procedimentos especiais, mas sim técnicas especiais. 2. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS EM ESPÉCIE EXTINTOS Alguns procedimentos, por terem disposições pequenas, foram extintos pelo legislador de 2015 e foram integrados ao procedimento comum. Exemplo disso: ■ Usucapião Art. 246: A citação será feita: [...] § 3º Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados pessoalmente, exceto quando tiver por objeto unidade autônoma de prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada. Art. 259: Serão publicados editais: I - na ação de usucapião de imóvel 5 A inovação do CPC sobre isso é o Art. 1071, CPC que trouxe a usucapião extrajudicial. Ocorre perante o cartório de notas e depois pelo de registro de imóveis, não podendo haver litígio sobre a situação. O tabelião fará uma Ata Notarial atestando o tempo de posse. Diante da Ata, entregará ao registrador de imóveis que dará ciência a todos os necessários. Não havendo nenhum óbice, transferirá a propriedade para a pessoa ou até mesmo abrir matrícula nova. Havendo qualquer reclamação, deve-se ir a Juízo. ■ Anulação e recuperação de título ao portador: Título que foi extraviado. A única peculiaridade seria a publicação de editais. Art. 259. Serão publicados editais: II - na ação de recuperação ou substituição de título ao portador; ■ Ação de Depósito: A ação de depósito tornou-se uma hipótese de tutela de evidência. Art. 311: A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa; Uma ação para reaver a coisa que está em poder do depositário (Art. 627, 629, CC) Sua peculiaridade era a possibilidade de obter uma tutela de evidência, inclusive liminarmente para que o depositário infiel o devolva a coisa. Com a extinção da prisão do depositário, não houve necessidade de mantê-la. ■ Nunciação de Obra nova: Não tinha nenhuma peculiaridade, servindo apenas para se exercer o direito do Art. 1277, CC. Art. 1277: O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha. Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos 6 moradores da vizinhança Transcorrerá no procedimento comum e poderá pedir tutela provisória de urgência e de evidência nas hipóteses gerais do procedimento comum. 3. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS PREVISTOS NO CPC 3.1. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO A consignação em pagamento é uma das formas de extinção das obrigações. Compreende-se, em linhas gerais, de um meio através do qual o devedor busca a quitação de sua dívida, isso porque não só o credor tem direito de exigir o cumprimento da obrigação, como também o devedor tem o direito de se liberar das obrigações por ele contraídas, segundo Sabrina Dourado7. Para o professor Marcus Vinicius: “A consignação é um mecanismo previsto na lei civil, de que pode se valer o devedor que queira desonerar-se e que esteja em dificuldades para o fazer, seja porque o credor recusa-se a receber ou dar quitação, seja porque está em local inacessível ou ignorado, seja ainda porque existem dúvidas fundadas a respeito de quem deve legitimamente receber o pagamento.”8 📌 OBSERVAÇÕES ■ “A consignação será feita com o depósito, judicial ou extrajudicial, de dinheiro ou de outro bem qualquer, que seja objeto da obrigação, podendo ser móvel ou imóvel. É possível que o pagamento seja feito por consignação, quando a obrigação é de pagamento ou de entrega de coisa certa, móvel ou imóvel, por exemplo, na consignação das chaves de um imóvel, que o devedor pretende restituir e o credor se recusa a receber. Somente as obrigações de fazer ou não fazer é que não podem ser extintas por consignação.”9 ■ Imagine a hipótese em que o devedor oferece um valor em pagamento e o credor se recusa a aceitar, alegando que não é suficiente, porque não respeita as cláusulas do contrato que fixam juros, correção monetária ou multa; o devedor, então, alega que tais cláusulas são nulas. Surge aí, no curso da consignação, discussões a respeito da legalidade ou validade de cláusulas contratuais. “A ação de consignação não tem por fim declarar nulidade de cláusula contratual, mas nela pode haver o reconhecimento incidenter tantum de um abuso contratual, capaz de repercutir sobre o quantum debeatur. Por essa razão, tem-se admitido que, no curso da consignação, se discuta a validade ou licitude de cláusulas contratuais, em caráter incidente.”10 10 Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 9 Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 8Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 7 DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 7 A matéria é prevista no Código Civil, arts. 334 a 336: Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais. Art. 335. A consignação tem lugar: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento. 3.1.1. CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida. § 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de 10 dias para a manifestação de recusa. § 2º Decorrido o prazo do § 1º, contado do retorno do aviso de recebimento, sem a manifestação de recusa, considerar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia depositada. § 3º Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimentobancário, poderá ser proposta, dentro de 1 mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com a prova do depósito e da recusa. § 4º Não proposta a ação no prazo do § 3º, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-lo o depositante. 📌 OBSERVAÇÕES ■ O efeito liberatório da consignação só existe quando o devedor tem razão quanto ao fato que originou a ação. Ou seja, ação julgada procedente (presentes a mora accipiens ou incognitio). ■ A ação de consignação pode ser de quantia ou de coisa seja ela certa, incerta, fungível ou infungível. A única coisa que não se pode ser consignada é a dívida ilíquida, pois ela mesma não pode ser cobrada. Mas lembre-se que dívida ilíquida não é dívida controversa, pois dívida controversa pode ser consignada (apresentando-se as contas) e será discutida nos autos da consignação. 8 3.1.2. COMPETÊNCIA Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente. Trata-se de competência relativa. Há de considerar sobre a consequência de se consignar no lugar errado já que o lugar é condição do pagamento adequado. 3.1.3. PRESTAÇÕES SUCESSIVAS Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 dias contados da data do respectivo vencimento. Pode-se consignar dívida vencida, desde que o inadimplemento não seja ABSOLUTO, ou seja a dívida não mais é útil. Sendo relativa, pode-se consignar com todos os acessórios (multa, juros, correção etc.) e desde que presentes as hipóteses de consignação. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 dias contados da data do respectivo vencimento. 3.1.4. PROCEDIMENTO ■ Oferta real da coisa devida pelo autor. A apresentação da coisa ao juízo ou depósito do valor é requisito da petição inicial, salvo exceção ■ A Convocação do réu para aceitá-la ou não; e ■ A sentença do juiz, que atribui ou não eficácia liberatória ao pagamento efetuado. A sentença é de natureza DECLARATÓRIA. O que extingue a dívida é o pagamento consignado. Art. 543. Se o objeto da prestação for coisa indeterminada e a escolha couber ao credor, será este citado para exercer o direito dentro de 5 dias, se outro prazo não constar de lei ou do contrato, ou para aceitar que o devedor a faça, devendo o juiz, ao despachar a petição inicial, fixar lugar, dia e hora em que se fará a entrega, sob pena de depósito. 9 3.1.5. LEGITIMIDADE ATIVA Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida. O terceiro pode ser interessado ou não, tendo em vista o Art. 304, CC: Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. 📌 OBSERVAÇÃO ■ O informativo nº 636 do STJ trouxe o REsp 1.318.747/SP com o seguinte destaque: “A instituição financeira possui legitimidade para ajuizar ação de consignação em pagamento visando quitar débito de cliente decorrente de título de crédito protestado por falha no serviço bancário.” 3.1.6. LEGITIMIDADE PASSIVA Credor ou possíveis credores, ou ainda credor incerto (com a publicação de edital) 3.1.7. COMPORTAMENTO DO RÉU Citado, pode: ■ Reconhecer a procedência do pedido. Isso significa que ele aceita que estava em mora. O juiz proferirá sentença, julgando procedente a consignação, liberando o valor ou a coisa para o réu, mas condenando-o nas custas e honorários; ■ Quedar-se inerte (revelia). O juiz profere sentença, se for o caso. Conforme o STJ: Na ação de consignação em pagamento, quando decretada a revelia, não será compulsória a procedência do pedido se os elementos probatórios constantes nos autos conduzirem à conclusão diversa ou não forem suficientes para formar o convencimento do juiz (REsp 769.468/RJ) ■ Contestação Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que: I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; 10 II - foi justa a recusa; III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não é integral. Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o réu indicar o montante que entende devido. Segundo Sabrina Dourado11, alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato, conforme previsto no art. 545 do Código Civil: Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato. § 1º No caso do caput, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a consequente liberação parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida. § 2º A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se necessária. O art. 546 do Código Civil, por sua vez, traz expressamente que, julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. Art. 546. Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. Parágrafo único. Proceder-se-á do mesmo modo se o credor receber e der quitação. 3.1.8. DÚVIDA QUANTO À PESSOA DO CREDOR Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito, conforme o art. 547, do Código Civil: Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito. Art. 548. No caso do art. 547 : I - não comparecendo pretendente algum, converter-se-á o depósito em arrecadação de coisas vagas; 11DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 11 II - comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano; III - comparecendo mais de um, o juiz declarará efetuado o depósito e extinta a obrigação, continuando o processo a correr unicamente entre os presuntivos credores, observado o procedimento comum. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Juiz do Estado de Pernambuco (FGV - 2022), foi apresentado o caso que segue: “A escola Aprender Sorrindo Ltda. firmou contrato de prestação de serviços de limpeza com a empresa Limpinho Limpeza Ltda. O aludido contrato possuía cláusula autorizando a rescisão contratual por qualquer das partes, mediante notificação prévia, devendo a parte que pretende rescindir efetuar o pagamento da cláusula penal, de acordo com determinada métrica de cálculo. Após o envio da notificação de rescisão por parte da escola Aprender Sorrindo Ltda., a empresa Limpinho Limpeza Ltda. se recusou a aceitar o pagamento da cláusula penal, por entender que a escola não observou a métrica contratual.“ Tendo sido considerada CORRETA a assertiva que disse: “caso a escola Aprender Sorrindo Ltda. ajuíze ação consignatória, que venha a ser julgada improcedente, a empresa Limpinho Limpeza Ltda. poderá executar a diferença nos próprios autos, ainda que seja necessária a liquidação do valor devido”. Na prova para Promotor de Justiça do Estado de Minas Gerais (FUNDEP - 2022), foi determinado que assinalassea alternativa INCORRETA, tendo sido marcada dentre as alternativas apresentadas aquela em destaque: a) O depósito consignatório insuficiente pode ser complementado, no prazo de 10 (dez) dias, desde que corresponda a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato. b) A impossibilidade absoluta no pagamento de obrigação alimentícia é causa justificadora do inadimplemento. c) O arrematante inadimplente poderá ser executado pelo valor devido em caso de não cumprimento da proposta que tramita em conjunto aos autos da execução principal. d) A exceptio non adimpleti contractus alinha-se entre as hipóteses de excesso de execução. Na prova para Juiz do Estado de Minas Gerais (CONSULPLAN - 2018), foi apresentado o caso que segue: “A tomou certa importância emprestada de B para pagar em 60 (sessenta) dias; 10 (dez) dias antes de vencer a obrigação, o credor faleceu. O devedor foi procurado por C e D para receberem o crédito e alegaram que ambas teriam mantido união estável, simultaneamente, com B.” A fim de não se sujeitar aos efeitos da mora, foi considerada CORRETA a alternativa que disse: “O devedor proporá ação de consignação em pagamento e requererá a citação das duas supostas credoras para que levantem a importância ofertada”. 12 3.2. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS Conforme os ensinamentos da Sabrina Dourado12, o CPC/15 cuida da demanda especial de exigir contas (artigos 550 a 553), afastando a ação de prestação de contas, a qual estava regrada no revogado art. 914, do CPC de 1973. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 dias. Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem. Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias. § 1º Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem. § 2º Prestadas as contas, o autor terá 15 dias para se manifestar, prosseguindo-se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro. § 3º A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada e específica, com referência expressa ao lançamento questionado. § 4º Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355 . § 5º A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no prazo de 15 dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar. § 6º Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5º, seguir-se-á o procedimento do § 2º, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias, podendo o juiz determinar a realização de exame pericial, se necessário. Ação proposta por alguém que tem contra o réu direito de que este lhe preste contas. Ex: mandatário, administrador aos sócios, etc. O réu está administrando coisa alheia. Sua peculiaridade é que esta ação será bifásica. A ação de exigir contas, como mencionado, possui natureza DÚPLICE. Juiz pode condenar autor ou réu independente de pedido. Como o da ação é o acertamento definitivo da relação que existe entre autor e réu, e como as relações geralmente produzem créditos e débitos recíprocos, a sentença pode condenar o autor, independente de pedido do réu, a pagar valores que a ele se mostrem devidos, depois de análise das contas. Não há necessidade de reconvenção. A ideia é prestar contas e acertar qualquer conta que houver. A ação possui 2 pretensões: 12 DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 13 1. Obrigar o réu a prestar contas (obrigação de fazer); 2. Condenar o réu (ou, eventualmente, o autor) a pagar as verbas que as contas, uma vez apreciadas, mostrem ser devidas. A obrigação de prestar contas é apresentada pelo professor Marcus Vinicius da seguinte forma: “isso ocorre quando, por força dessa relação, um deles administra negócios ou interesses alheios, a qualquer título. Aquele que o faz deve prestar contas, apresentar a indicação pormenorizada e detalhada de todos os itens de crédito e débito de sua gestão, para que se possa verificar se, ao final, há saldo credor ou devedor.”13 📌 OBSERVAÇÃO ■ Nos termos do art. 552 do CPC observamos a natureza dúplice da Ação de Prestação de contas, vejamos: Art. 552. A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial. “Pode haver saldo credor tanto em favor do autor da ação quanto do réu. Na sentença, o juiz pode reconhecer saldo em favor deste, sem que ele o postule. Reconhecido, o saldo poderá ser executado, seja em favor do autor ou do réu. O que caracteriza as ações dúplices é a possibilidade de o réu formular a sua pretensão na própria contestação, sem necessidade de reconvir. Mas dentre elas, é possível identificar duas categorias. Há aquelas em que é preciso que o réu, na contestação, formule pretensão contra o autor. Por exemplo: as ações possessórias. O réu pode formular pedido contra o autor na contestação. Mas pode não formular, caso em que o juiz só examinará a pretensão do autor. Mas há as intrinsecamente dúplices, como a prestação de contas, em que o juiz pode reconhecer crédito em favor do réu, e condenar o autor a pagá-lo, independentemente de pedido. Na pretensão à prestação de contas, está ínsita a noção de que, aquele contra quem for reconhecido o saldo, deve pagá-lo, independentemente de ser autor ou réu.”14 3.2.1. FASES 3.2.1.1. Fase 1 Primeiro se instrui e decide a pretensão de prestar contas e, havendo condenação, essa pretensão é executada. Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as 14Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 13Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022. 14 preste ou ofereça contestação no prazo de 15 dias. O réu é citado para prestar contas ou demonstrar que não tem o respectivo dever. COMPORTAMENTOS POSSÍVEIS Réu não contesta o pedido: Observa-se o disposto no art. 355 (julgamento antecipado). O juiz condena o réu na prestação de contas; O réu comparece e presta contas: trata-se de reconhecimento da procedência do pedido. Também gera julgamento antecipado, na forma do art. 355; O réu contesta: Nesse caso, o juiz analisa o dever de prestar contas, faculta a produção de provas, se for o caso e decide. No CPC/73, entendia-se que a decisão, nessa primeira fase era uma sentença, pois aprecia parte do mérito. No sistema atual, ela é uma interlocutória demérito (art. 356) e, por isso, recorrível por agravo de instrumento. Isso significa que o recurso não tem efeito suspensivo e, em consequência, o processo segue direto para a segunda fase. ⚠ ATENÇÃO Qual é o termo inicial do prazo de 15 dias, previsto no art. 550, § 5º, do CPC/2015, para o réu cumprir a condenação da primeira fase do procedimento de exigir contas?15 O termo inicial do prazo de 15 (quinze) dias, previsto no art. 550, § 5º, do CPC/2015, para o réu cumprir a condenação da primeira fase do procedimento de exigir contas começa a fluir automaticamente a partir da intimação do réu, na pessoa do seu advogado, acerca da respectiva decisão. STJ. 3ª Turma. REsp 1847194/MS, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze, julgado em 16/03/2021 (Info 689). Obs: o prazo de 48 horas para a apresentação das contas pelo réu, previsto no art. 915, § 2º, do CPC/1973, deve ser computado a partir da intimação do trânsito em julgado da sentença que reconheceu o direito do autor de exigir a prestação de contas (STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.877-SP, Rel. Min. NancyAndrighi, julgado em 23/04/2019. Info 647). Encerrada a primeira fase da ação de exigir contas com a condenação à prestação das contas 15CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Qual é o termo inicial do prazo de 15 dias, previsto no art. 550, § 5º, do CPC/2015, para o réu cumprir a condenação da primeira fase do procedimento de exigir contas?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 15 exigidas, há fixação de honorários advocatícios16: Prevalece o entendimento no CPC/2015 - firmado inicialmente na vigência do CPC/1973 -, que há condenação em honorários advocatícios quando há decisão de procedência na primeira fase da ação de exigir contas. Com efeito, assim como no antigo CPC, o autor exige as contas e o réu pode contestar tal obrigação. Acaso a decisão da primeira fase condene o réu a prestá-las, encerrando, via de consequência, aquela fase, acaba por julgar parcialmente o mérito da pretensão. Por isso é que se entende que a decisão da primeira fase, acaso julgue procedente o pedido do autor, é decisão parcial de mérito, se assemelhando àquela sentença prevista no art. 915, § 2º, do CPC/73. Assim, com a procedência do pedido do autor (condenação à prestação das contas exigidas), conclui-se que o réu fica vencido na primeira fase da ação de exigir contas, devendo arcar com os honorários advocatícios como consequência do princípio da sucumbência. STJ. 3ª Turma. REsp 1874603/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/11/2020 O recurso cabível contra decisão que julga procedente, na primeira fase, a ação de exigir contas é o agravo de instrumento17: Cabe agravo de instrumento contra a decisão que julga procedente, na primeira fase, a ação de exigir contas, condenando o réu a prestar as contas exigidas. Como essa decisão não gera o encerramento do processo, o recurso cabível será o agravo de instrumento (arts. 550, § 5º, e 1.015, II). Por outro lado, se a decisão extinguir o processo, com ou sem resolução de mérito (arts. 485 e 487), aí sim haverá sentença e o recurso cabível será a apelação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.680.168-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em 09/04/2019 (Info 650). 3.2.1.2. Fase 2 Depois se instruem e decidem eventuais alegações quanto a valores devidos em virtude das contas apresentadas. Trata-se de uma única demanda, mas com duas fases diferentes. Há uma sucessão de instruções. 3.2.2. AUXILIARES DO JUÍZO A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial. De acordo com o art. 553 do CPC, as contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado. 17CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O recurso cabível contra decisão que julga procedente, na primeira fase, a ação de exigir contas é o agravo de instrumento. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 16CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Encerrada a primeira fase da ação de exigir contas com a condenação à prestação das contas exigidas, há fixação de honorários advocatícios . Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 16 Art. 553. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado. Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo. Se qualquer dos referidos acima for condenado a pagar o saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo18. ⚠ ATENÇÃO É cabível ação de prestação de contas proposta contra empresa administradora de consórcio caso a empresa que promoveu as vendas não tenha concordado com os números apresentados19: É cabível a propositura de ação de prestação de contas para apuração de eventual saldo, e sua posterior execução, decorrente de contrato relacional firmado entre administradora de consórcios e empresa responsável pela oferta das quotas consorciais a consumidores. Caso concreto: a empresa 1 celebrou contrato com a empresa 2, por meio do qual a empresa 1 organizaria e administraria um consórcio e a empresa 2 ficaria responsável por oferecer e comercializar as quotas consorciais aos consumidores.Vale ressaltar que, depois que o consumidor firmava o contrato, ele deveria efetuar os pagamentos das prestações diretamente para a empresa 1. A empresa 2 seria remunerada com um percentual dos pagamentos. Ao se analisar o ajuste celebrado, percebe-se que se trata de relação contratual que configura típico contrato de agência, previsto no art. 710 do CC. No contrato de agência, tanto uma parte como a outra possuem o dever de prestar contas: O vínculo contratual colaborativo originado do contrato de agência importa na administração recíproca de interesses das partes contratantes, viabilizando a utilização da ação da prestação de contas e impondo a cada uma das partes o dever de prestar contas à outra. Vale ressaltar, por fim, que, mesmo que a empresa 1 já tenha, extrajudicialmente, prestado contas para a empresa 2, ainda assim persiste o interesse de agir de propor a ação. Isso porque a apresentação extrajudicial e voluntária das contas não prejudica o interesse processual da promotora de vendas, na hipótese de não serem elas recebidas como boas, ou seja, caso ela não tenha concordado com os valores demonstrados. STJ. 3ª Turma. REsp 1676623-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/10/2018 (Info 636). 19CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É cabível ação de prestação de contas proposta contra empresa administradora de consórcio caso a empresa que promoveu as vendas não tenha concordado com os números apresentados. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 18DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 17 3.2.3. MODO DE APRESENTAÇÃO DAS CONTAS Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver. § 1º Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados. § 2º As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5º , serão apresentadas na forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como o respectivo saldo. ⚠ ATENÇÃO Na vigência do CPC/2015, remanesce o interesse de agir do inventariante na ação de prestação de contas, mantido o caráter dúplice da demanda20: O inventariante não pode encerrar seu mister sem que antes apresente as contas de sua gestão. Essa prestação de contas é, portanto, uma atribuição imposta pela lei ao inventariante, razão pela qual possui interesse de agir para ajuizar a presente ação autônoma de prestação de contas. Vale ressaltar, inclusive, que esse interesse de agir é presumido. STJ. 4ª Turma. REsp 1707014/MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/03/2021 (Info 687). 3.3. AÇÕES POSSESSÓRIAS Esse procedimento especial visa tutelar aposse de bens móveis e/ou imóveis, precisamos ter em mente que a Lei confere a possibilidade do possuidor defender seu direito de posse, em caso de agressões, por duas formas: autotutela e heterotutela (ações possessórias). A autotutela é tratada no Código Civil da forma que segue: Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. É certo que o tema não será mais aprofundado, tendo em vista que nosso foco são as ações possessórias. 20CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Na vigência do CPC/2015, remanesce o interesse de agir do inventariante na ação de prestação de contas, mantido o caráter dúplice da demanda. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 18 Sobre ações possessórias Sabrina Dourado21 ensina que, a propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. É denominado fungibilidade. 3 MODALIDADES DE DEFESA DA POSSE ■ Previne uma lesão ainda não ocorrida (interdito proibitório) – Tutela inibitória; ■ Manutenção de posse – Tutela de remoção do ilícito; ■ Reintegração de posse (esbulho) – Tutela Ressarcitória. Posse é o poder de fato sobre a coisa. Ela pode decorrer da propriedade, sendo o seu mais importante atributo; de direitos reais de uso; de contratos etc. A posse não é apenas um fato jurídico, mas um fato jurídico adicionado a um fato natural (o poder sobre a coisa). Enquanto a tutela da propriedade deriva apenas do respectivo direito, a tutela da posse depende do direito e do fato. Quem não age concretamente sobre a coisa não tem direito a tutela possessória. Posse direta, indireta e detenção, conforme o Código Civil: Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. O Código Civil traz, ainda, o conceito de composse, posse justa e de boa-fé: Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros copossuidores. Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. 21DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 19 Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. A aquisição da posse, por sua vez, está expressa nos arts. 1.204 a 1.208 do CC: Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres. Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. O efeito da posse está previsto no art. 1.210 do Código Civil: Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. (Autotutela) § 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. Logo, um dos efeitos da posse, além de outros que a lei lhe atribui, é o direito à tutela possessória, independentemente da propriedade. 3.3.1. REQUISITOS DA AÇÃO POSSESSÓRIA ● Direito à Posse; ● Posse Justa 20 📌 OBSERVAÇÃO Aquele que tem posse injusta (derivada de violência, clandestinidade ou precariedade) não tem direito à tutela da posse. A violência pode ser física ou moral, a clandestinidade é a aquisição às ocultas e a precariedade é a que deriva do abuso de confiança (retenção indevida de coisa que deveria ser restituída). ⚠ ATENÇÃO ■ Os vícios só podem ser alegados por quem deles foi vítima. Para as demais pessoas, a posse surte efeitos normais, ainda que derivada desses comportamentos. ■ A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação possessória. STJ. 4ª Turma. REsp 1263164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594). 3.3.2. INTERDITO PROIBITÓRIO O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito, segundo Sabrina Dourado22. Situação em que o possuidor tem justo receio de ser turbado, mas ainda não foi. Trata-se de modalidade de tutela inibitória Ou seja, é uma obrigação de não fazer e pode gerar multa. Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito. 3.3.3. MANUTENÇÃO E REINTEGRAÇÃO DE POSSE A manutenção da posse ocorre na situação em que a posse já foi turbada, mas não foi perdida. A turbação configura-se a partir da perda de algum dos poderes fáticos sobre a coisa, mas não da totalidade da posse. Exemplo: invasão de uma propriedade rural com consequente plantio em sua área, mas sem a expulsão do possuidor originário23. Por sua vez, a recuperação ocorre em casos em que a posse foi perdida. A situação da perda total da posse, ocorre em casos de esbulho, por parte do possuidor originário. Exemplo: invasão de uma propriedade rural com expulsão do possuidor. 23DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 22DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 21 Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho. INCUMBE AO AUTORPROVAR ● a sua posse; ● a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; ● a data da turbação ou do esbulho; ● a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou perda da posse, na ação de reintegração. Como, muitas vezes, não é fácil diferenciar asses situações, o CPC adota a plena fungibilidade entre as ações: Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. 3.3.4. COMPETÊNCIA COISA MÓVEL Domicílio do réu IMÓVEL Territorial absoluta, é o da situação da coisa, conforme art. 47 do Código de Processo Civil. Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. § 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. 3.3.5. LEGITIMIDADE ■ Ativa: O possuidor, tanto direto quanto indireto. O direito também considera possuidor, por ficção, o sucessor do possuidor, mesmo que ele não tenha exercido o poder de fato sobre a coisa. É o chamado constituto possessório. ■ Passiva: O responsável pela ameaça, esbulho ou turbação, que pode ser, inclusive, o proprietário. 22 ■ Cônjuge: Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. Isso significa que, para efeitos de participação do cônjuge, a posse não é equiparada a direito real imobiliário, embora ela seja para efeitos de competência. Na petição inicial cabe ao autor provar, segundo o art. 561, do Código de Processo Civil: Art. 561. Incumbe ao autor provar: I - a sua posse; II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. 📌 OBSERVAÇÃO Cumulação de pedidos é possível segundo o art. 555, do CPC: Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I - condenação em perdas e danos; II - indenização dos frutos. Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para: I - evitar nova turbação ou esbulho; II - cumprir-se a tutela provisória ou final. ⚠ ATENÇÃO Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público24. Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1134446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623). Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência no local?25 25CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência no local?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 24CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 23 1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção. 2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse. STJ. 4ª Turma. REsp 1296964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). Particular pode ajuizar ação possessória tendo como objeto bem público de uso comum do povo26. Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma servidão de passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info 590). 3.3.6. PROCEDIMENTO A ação intentada até ano e um dia da turbação é chamada de força nova e segue um rito diverso da intentada depois disso, que é chamada de força velha. Conforme o art. 558, do CPC: Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse às normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. O caráter possessório significa que ambas as ações, com força nova ou com força velha, discutem exclusivamente a posse. Outros direitos reais incidentais sobre a coisa, assim como a propriedade, não interferem na tutela da posse. Conforme o Código de Processo Civil, art. 557: Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de 26CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Particular pode ajuizar ação possessória tendo como objeto bem público de uso comum do povo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 24 reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa. Conforme o art. 562, do Código de Processo Civil: Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais. A tutela da posse é a tutela de evidência. Ela não demanda comprovação de urgência para o deferimento da liminar, mas apenas a ocorrência da violação do direito do autor e a comprovação de que ocorreu há não mais que ano e dia. Se, todavia, a ação for de força velha, aplica-se o procedimento comum e os requisitos normais da tutela provisória. Por sua vez, se o juiz não estiver suficientemente convencido pelo teor da inicial, poderá determinar audiência de justificação. Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração. Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 dias. Art. 566. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento comum. ⚠ ATENÇÃO Conversão da ação reintegratória em indenizatória.27 O terreno do proprietário foi invadido por inúmeras pessoas de baixa renda. O proprietário ingressou com açãode reintegração de posse, tendo sido concedida a medida liminar, mas nunca cumprida mesmo após vários anos. Vale ressaltar que o Município e o Estado fizeram toda a infraestrutura para a permanência das pessoas no local. Diante disso, o juiz, de ofício, converteu a ação reintegratória em indenizatória (desapropriação indireta), determinando a emenda da inicial, a fim de promover a citação do Município e do Estado para apresentar contestação e, em consequência, incluí-los no polo passivo da demanda. 27CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Conversão da ação reintegratória em indenizatória. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 25 O STJ afirmou que isso estava correto e que a ação possessória pode ser convertida em indenizatória (desapropriação indireta) - ainda que ausente pedido explícito nesse sentido - a fim de assegurar tutela alternativa equivalente (indenização) ao particular que teve suas terras invadidas. STJ. 1ª Turma. REsp 1442440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 07/12/2017 (Info 619). 3.3.7. POSSESSÓRIAS COLETIVAS ⚠ ATENÇÃO28 “No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. Para fim da citação pessoal, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados. O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios.” Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam: [...] III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público. Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. § 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. § 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados. § 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista no § 1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial 28DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 26 houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º. § 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2º a 4º deste artigo. § 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça. § 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional. § 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório. § 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel. ⚠ ATENÇÃO AÇÃO DÚPLICE E PEDIDO CONTRAPOSTO: O pedido contraposto é pedido feito no corpo da contestação sem instaurar nova ação e sem necessidade de recolher custas. Ação dúplice, é aquela que dispensa qualquer tipo de pedido como reconvenção ou pedido contraposto, pois a natureza da ação dispõe que sua improcedência gera direito ao réu. Existe divergência doutrinária acerca das ações dúplices ou que admitem pedido contraposto. Há quem defenda que ação dúplice é a que admite pedido contraposto, feito pelo réu, na contestação, independentemente de reconvenção. Assim, ação dúplice e pedido contraposto seriam institutos que teriam lugar no mesmo contexto. Há quem diga, por outro lado, que ação dúplice é aquela em que, pela natureza do direito material, a negativa do direito do autor significa atribuição do direito ao réu, independentemente de pedido. Por outro lado, o pedido contraposto seria a situação em que se admite o pedido do réu na contestação. A ação demarcatória, divisória e a ação de prestação de contas seriam ações dúplices. 📌 OBSERVAÇÃO ■ O STJ, no REsp 1483155/BA – 2015, considerou que a possessória tem FORÇA DÚPLICE e que a negativa de tutela ao autor implicava a concessão da tutela possessória ao réu. A ação possessória exige pedido contraposto. Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor. 27 Neste sentido também é a Jurisprudência do STJ (RMS 20.626/PR – 2009; REsp 1085664/DF). 3.3.8. SENTENÇA A decisão, na ação possessória, segue as regras normais de sentença e coisa julgada. É bom lembrar que, mesmo que o autor não consiga provar a sua posse, a sentença é de improcedência, não de extinção sem julgamento de mérito. O julgamento da possessória, contudo, não inibe a futura discussão da propriedade (juízo petitório) na ação reivindicatória, que segue o procedimento comum. Todavia, essa discussão, por disposição do Art. 557, não pode ocorrer ao mesmo tempo da possessória. Esse dispositivo é bastante polêmico na doutrina. Há quem o acuse de violação ao Art. 5º, XXXV, CF. A defesa relacionada à propriedade, portanto, não impede a proteção da posse. Embora haja uma grande polêmica passada, hoje não se admite a alegação de propriedade como defesa na ação possessória. Art. 557, parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa. 📌 OBSERVAÇÕES ■ É impossível admitir a intervenção de terceiro para discutir o instituto da propriedade em ação possessória, conforme o entendimento do STJ (AgRg no AREsp. 474.701/DF); ■ Além disso, entende-se que a ação possessória é de natureza executiva, o que significa que a fase de cumprimento se inicia imediatamente após a sentença, independentemente de requerimento do autor. ■ Também entende a doutrina que a apelação na ação possessória não tem efeito suspensivo automático, embora isso não conste expressamente do art. 1.012 (salvo no caso de confirmação, concessão ou revogação de tutela provisória). 🚨 JÁ CAIU Na prova para Juiz do Estado do Mato Grosso do Sul (FCC - 2020), foi considerada CORRETA a alternativa que trouxe: “no caso de ação possessóriaem que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública”. 28 Na prova para Defensor Público do Estado de Mato Grosso (FCC - 2018), foi perguntado como segue: “Carlos ajuizou ação de reintegração de posse em face de Ana, visando a retomada de um imóvel. Após a instrução probatória, o autor não conseguiu demonstrar que tinha posse anterior do bem. Segundo a teoria da asserção, a extinção do processo deverá ocorrer” tendo sido considerada CORRETA a alternativa que completou: “com resolução do mérito, em razão da cognição profunda sobre as alegações do autor”. Na prova para Defensor Público do Estado do Pará (CESPE - 2022), foi perguntado “De acordo com as regras procedimentais estabelecidas no Código de Processo Civil para as ações possessórias coletivas de força velha, será obrigatória a”, foi considerada CORRETA a alternativa que completou: “designação de audiência de mediação, no prazo indicado em lei, antes da apreciação de pedido de concessão de medida liminar”. Na prova para a Magistratura do Estado do Amapá (FGV - 2022), foi falado: “André, domiciliado em Macapá, ajuizou ação de reintegração de posse de imóvel de sua propriedade, situado em Laranjal do Jari, em face de Paulo, domiciliado em Santana”. Diante do texto foi perguntado: “Considerando que a demanda foi intentada perante juízo cível da Comarca de Macapá, o magistrado, tomando contato com a petição inicial, deve:” tendo sido considerada CORRETA a alternativa que completou: “declinar, de ofício, da competência em favor do juízo cível da Comarca de Laranjal do Jari”. Na prova para Promotor de Justiça do Estado do Amapá (CESPE - 2021), foi dito: “Luciano propôs uma ação judicial em desfavor de Pedro, para a defesa da posse de um imóvel localizado na cidade de São Paulo. Em contestação, o requerido apresentou a preliminar de ilegitimidade ativa, alegando que o autor não é proprietário do bem imóvel objeto da lide, mas tão somente inquilino.” Tendo sido considerada CORRETA a alternativa que afirmou: “Na pendência da ação possessória proposta por Luciano, nem ele, nem Pedro podem formular nova ação de reconhecimento de domínio, salvo em desfavor de terceira pessoa”. Na prova para Defensor Público do Estado da Bahia (FCC - 2021), foi considerada CORRETA, sobre ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, a alternativa que trouxe: “quando o esbulho afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, antes da apreciação do pedido liminar, o juiz deverá designar audiência de mediação para tentativa de solução pacífica do conflito”. Na prova para Promotor de Justiça do Estado de Mato Grosso (FCC - 2019), foi considerada CORRETA a alternativa que disse: “A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, 29 determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública”. Na prova para Defensor Público do Estado de Sergipe (CESPE - 2022), foi considerada CORRETA a alternativa que afirmou: “Na ação de reintegração de posse, o requerido que seja possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias incorporadas ao bem objeto da ação e, por esse motivo, poderá exigir o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis enquanto não tiver recebido tais valores”. 3.4. EMBARGOS DE TERCEIRO Segundo Sabrina Dourado29, “os embargos de terceiro passam a ser utilizados como MEDIDA PROTETIVA, uma vez que podem ser opostos também ante a ameaça de constrição. O proprietário, inclusive o fiduciário, passa a ter legitimidade para se utilizar da medida”. Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. § 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor. § 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos: I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843 ; II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução; III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte; IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos. Em outras palavras, a ação de procedimento especial pela qual o terceiro se defende de atos constritivos que incidem sobre si, em decorrência de processo (em fase de conhecimento ou execução) do qual não é parte. A constrição pode se referir à posse ou à propriedade. Embargos de terceiro não são via adequada para impugnar ordem de despejo30. 30CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Embargos de terceiro não são via adequada para impugnar ordem de despejo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 16/06/2022 29DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil. 8ª edição, Salvador: Editora JusPodivm, 2021. 30 Mobile User Os embargos de terceiro não são a via processual adequada para a defesa dos ocupantes de um imóvel impugnar ordem de despejo em ação da qual não fizeram parte, ajuizada contra o suposto locatário. STJ. 3ª Turma. REsp 1714870/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/11/2020. 3.4.1. QUEM É O TERCEIRO? Os sujeitos que são considerados como terceiros estão previstos no art. 674, §2º, do Código de Processo Civil, de forma esquematizada: ■ O cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843 ; 📌 OBSERVAÇÃO O cônjuge pode usar, no caso concreto, embargos à execução ou de terceiros, pois o STJ já admitiu a fungibilidade entre os dois, embora a REGRA é de que quem não litiga no processo se defende com embargos de terceiro. ■ O adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução; ■ Quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte; ■ O credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos. ⚠ ATENÇÃO O rol do dispositivo é EXEMPLIFICATIVO. 3.4.2. LEGITIMIDADE PASSIVA Será legitimado passivo o sujeito a quem o ato de constrição aproveita, assim como o será seu adversário no processo principal quando for sua a indicação do bem para a constrição judicial, conforme ensina Sabrina Dourado31. Contudo, discute-se na doutrina a respeito da composição do polo passivo nos Embargos de Terceiro. Segundo Araken de Assis32, porém, parece mais razoável a tese de que só o credor, a quem aproveita o processo executivo, encontra-se legitimado passivamente, ressalvadas duas hipóteses: ■ Cumulação de outra ação (p. ex. negatória) contra o executado; e 32ASSIS, Araken. Manual da execução. 21ª edição, Revista dos Tribunais, 2021. 31DOURADO, Sabrina. Descomplicando Processo Civil.