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<p>1</p><p>FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE I (SIGMUND FREUD)</p><p>1</p><p>Sumário</p><p>NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2</p><p>Introdução ................................................................................................ 3</p><p>Biografia de Sigmund Freud ................................................................. 4</p><p>Início da carreira profissional ............................................................ 5</p><p>Vida pessoal ..................................................................................... 6</p><p>Teorias de Freud .................................................................................. 8</p><p>Freud e a psicanálise ......................................................................... 11</p><p>Estrutura e dinâmica da personalidade .............................................. 19</p><p>Os níveis da consciência ou modelo topológico da mente (1ª Tópica)</p><p>.................................................................................................................. 20</p><p>Modelo estrutural da personalidade (2ª Tópica) ............................. 21</p><p>Os mecanismos de defesa ............................................................. 23</p><p>As fases do desenvolvimento psicossexual .................................... 24</p><p>A fase oral ...................................................................................... 25</p><p>A fase anal ...................................................................................... 26</p><p>A fase fálica .................................................................................... 27</p><p>O período de latência ..................................................................... 29</p><p>A fase genital .................................................................................. 30</p><p>Teoria do Trauma ............................................................................... 30</p><p>Teoria Topográfica ............................................................................. 31</p><p>Teoria Estrutural ................................................................................. 32</p><p>Conceituações sobre o Narcisismo .................................................... 33</p><p>Dissociação do Ego............................................................................ 34</p><p>REFERÊNCIAS ..................................................................................... 35</p><p>2</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de</p><p>empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de</p><p>Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como</p><p>entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.</p><p>A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a</p><p>participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua</p><p>formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,</p><p>científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o</p><p>saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.</p><p>A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma</p><p>confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base</p><p>profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições</p><p>modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,</p><p>excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.</p><p>3</p><p>Introdução</p><p>Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que alterou,</p><p>radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica. Sua contribuição é comparável</p><p>à de Karl Marx na compreensão dos processos históricos e sociais. Freud ousou</p><p>colocar os “processos misteriosos” do psiquismo, suas “regiões obscuras”, isto</p><p>é, as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem, como</p><p>problemas científicos. A investigação sistemática desses problemas levou Freud</p><p>à criação da Psicanálise.</p><p>O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método</p><p>de investigação e a uma prática profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por</p><p>um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida</p><p>psíquica. Freud publicou uma extensa obra, durante toda a sua vida, relatando</p><p>suas descobertas e formulando leis gerais sobre a estrutura e o funcionamento</p><p>da psique humana.</p><p>A Psicanálise, enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo</p><p>método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto por</p><p>meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os sonhos, os</p><p>delírios, as associações livres, os atos falhos.</p><p>4</p><p>A prática profissional refere-se à forma de tratamento — a Análise — que</p><p>busca o autoconhecimento ou a cura, que ocorre através desse</p><p>autoconhecimento. Atualmente, o exercício da Psicanálise ocorre de muitas</p><p>outras formas. Ou seja, é usada como base para psicoterapias, aconselhamento,</p><p>orientação; é aplicada no trabalho com grupos, instituições. A Psicanálise</p><p>também é um instrumento importante para a análise e compreensão de</p><p>fenômenos sociais relevantes: as novas formas de sofrimento psíquico, o</p><p>excesso de individualismo no mundo contemporâneo, a exacerbação da</p><p>violência etc.</p><p>Compreender a Psicanálise significa percorrer novamente o trajeto</p><p>pessoal de Freud, desde a origem dessa ciência e durante grande parte de seu</p><p>desenvolvimento. A relação entre autor e obra torna-se mais significativa quando</p><p>descobrimos que grande parte de sua produção foi baseada em experiências</p><p>pessoais, transcritas com rigor em várias de suas obras, como A interpretação</p><p>dos sonhos e A psicopatologia da vida cotidiana, dentre outras. Compreender a</p><p>Psicanálise significa, também, percorrer, no nível pessoal, a experiência</p><p>inaugural de Freud e buscar “descobrir” as regiões obscuras da vida psíquica,</p><p>vencendo as resistências interiores.</p><p>Biografia de Sigmund Freud</p><p>Sigmund Freud nasceu na cidade de Freiburg in Mähren, no dia 6 de maio</p><p>de 1856. A cidade em que Freud nasceu fazia parte do Império Austríaco (futuro</p><p>Império Austro-Húngaro) e hoje se chama Příbor e faz parte do território da</p><p>Tchéquia. O nome original de Freud era Sigismund Schlomo Freud (mudou seu</p><p>nome para Sigmund em 1878).</p><p>Freud foi o primeiro de oito filhos do casal de judeus formado por Jakob</p><p>Freud e Amalia Nathansohn. Os outros filhos do casal, e irmãos de Freud,</p><p>chamavam-se Julius, Anna, Regine, Marie, Esther, Pauline e Alexander. Quando</p><p>ainda era uma criança pequena, os pais de Freud decidiram mudar-se para</p><p>Viena, local onde Freud passou quase toda a sua vida.</p><p>5</p><p>Durante sua fase escolar, Freud ficou conhecido por ser um bom</p><p>estudante, possuía boas notas, lia muito e tinha enorme facilidade para aprender</p><p>idiomas. Os biógrafos de Freud falam que ele tinha ótimo desempenho em</p><p>idiomas como francês, inglês, latim e grego, por exemplo. Em 1873, Freud</p><p>concluiu o ensino médio e, com 17 anos, ingressou na Universidade de Viena.</p><p>Início da carreira profissional</p><p>Na Universidade de Viena, Freud estudava medicina e, a princípio,</p><p>interessou-se pela bacteriologia. Tempos depois, Freud envolveu-se com</p><p>pesquisas no laboratório de neurofisiologia, dedicando-se à dissecação de</p><p>enguias macho para estudar o seu sistema reprodutivo. Depois se dedicou a</p><p>estudos que faziam a comparação da estrutura do cérebro humano com a de</p><p>outros animais.</p><p>Em 1881, depois de quase nove anos de graduação, Freud conseguiu</p><p>formar-se em medicina e, naquele ano, conseguiu um emprego no Hospital Geral</p><p>de Viena. Freud continuou realizando suas pesquisas, que eram focadas no</p><p>campo da neurologia, e logo começou a realizar palestras nessa área do</p><p>conhecimento da medicina.</p><p>O interesse de Freud voltava-se para as doenças psíquicas – chamadas</p><p>na época de histeria. Freud considerava os tratamentos da época inadequados,</p><p>pois associavam essas doenças a transtornos físicos.</p><p>Um dos primeiros experimentos de Freud foi procurar tratar dores de</p><p>cabeça e ansiedade por meio do uso de cocaína. Nessa época, drogas como</p><p>cocaína e metanfetamina não eram proibidas e eram usadas</p><p>indiscriminadamente por muitos. Freud chegou, inclusive, a autoadministrar</p><p>cocaína como parte do seu experimento.</p><p>Inicialmente, ele acreditava que a cocaína era um meio eficaz de combater</p><p>a ansiedade, mas acabou abandonando esse tratamento quando passou a ter</p><p>conhecimento das consequências do uso dessa substância. Outro estudo</p><p>promovido por Freud nessa fase de sua vida está relacionado com a afasia,</p><p>6</p><p>distúrbio neurológico em que a pessoa tem grande dificuldade com a formulação</p><p>e compreensão da linguagem.</p><p>Em 1885, Freud foi a Paris para realizar estudos com Jean-Martin</p><p>Charcot, um importante neurologista da época. Charcot era conhecido por tratar</p><p>os seus pacientes por meio da hipnose. O que Freud aprendeu com Charcot teve</p><p>enorme peso para que ele formulasse suas teorias anos depois.</p><p>Vida pessoal</p><p>Em 1882, Freud conheceu Martha Bernays, amiga de uma de suas irmãs.</p><p>Pouco tempo depois, iniciaram um relacionamento e, com dois meses de</p><p>namoro, ficaram noivos. Em 1886, Freud e Martha casaram-se e, ao longo de</p><p>sua vida, tiveram seis filhos: Mathilde, Jean-Martin, Oliver, Ernst, Sophie e Anna.</p><p>Dois filhos de Freud, Ernst e Anna, tiveram grande sucesso em suas carreiras</p><p>profissionais. O primeiro foi arquiteto, e a segunda seguiu os passos do pai e</p><p>tornou-se psicanalista.</p><p>7</p><p>Problemas com o nazismo</p><p>Com a ascensão do nazismo, na década de 1930, Freud começou a</p><p>enfrentar alguns problemas. Em 1933, alguns dos seus livros foram queimados</p><p>pelos nazistas na Alemanha. Isso aconteceu por conta do antissemitismo do</p><p>nazismo, que associava as ideias de Freud à decadência do “mundo moderno”.</p><p>Por conta dessa ocasião, Freud escreveu ironicamente para um amigo dizendo:</p><p>“Que progresso estamos fazendo! Na Idade Média, teriam me queimado na</p><p>fogueira. Agora eles se contentam em queimar meus livros”</p><p>Em 1938, Freud foi obrigado a fugir da Áustria, por conta do Anschluss,</p><p>nome como ficou conhecida a anexação da Áustria à Alemanha Nazista. Como</p><p>era judeu, Freud acabou tendo que se mudar para Londres, na Inglaterra, local</p><p>onde faleceu pouco mais de um ano depois.</p><p>A princípio, Freud estava relutante da ideia de se mudar de Viena, mas se</p><p>convenceu da necessidade de abandonar a Áustria depois que sua filha, Anna</p><p>Freud, foi presa temporariamente pela Gestapo, a polícia política do nazismo.</p><p>Tempos depois, quatro das irmãs de Freud foram mortas em campos de</p><p>concentração.</p><p>Morte</p><p>Durante sua juventude, Freud adquiriu o hábito de fumar – primeiro</p><p>cigarros, depois, charutos. Esse hábito acabou fazendo com que Freud</p><p>adquirisse câncer de boca na década de 1920. Freud passou por mais de 30</p><p>intervenções cirúrgicas no combate à doença e acabou tendo que retirar parte</p><p>de sua mandíbula, passando a viver nos seus últimos anos com uma prótese.</p><p>O câncer na boca de Freud passou a causar-lhe dores intensas. Por essa</p><p>razão, convenceu seu amigo, Max Schur, a aplicar-lhe doses excessivas de</p><p>morfina, que o levaram à morte em 23 de setembro de 1939. As casas em que</p><p>Freud viveu em Freiberg in Mähren, Viena e Londres foram transformadas em</p><p>museus em homenagem ao seu legado.</p><p>8</p><p>Teorias de Freud</p><p>Ao longo de sua carreira, Freud ficou conhecido por formular inúmeras</p><p>teorias que influenciaram de maneira considerável o campo da psicologia.</p><p>Vejamos algumas delas:</p><p>Complexo de Édipo</p><p>Freud continuou a dedicar-se ao estudo da mente humana e passou a se</p><p>autoanalisar. Aplicando a psicanálise sobre si mesmo, ele conseguiu acessar</p><p>memórias da sua infância, e essa autoanálise lhe permitiu formular a teoria do</p><p>Complexo de Édipo. Freud realizou essa autoanálise após associar pesadelos e</p><p>períodos depressivos que enfrentou com a morte de seu pai.</p><p>No Complexo de Édipo, Freud argumentou que crianças do sexo</p><p>masculino passam por uma fase em que se apaixonam pela sua mãe e, por isso,</p><p>criam sentimentos hostis em relação a seus pais. Tempos depois, Carl Jung,</p><p>famoso psicanalista influenciado por Freud, teorizou que isso também acontecia</p><p>na relação de filhas com seus pais, o que ficou conhecido como Complexo de</p><p>Electra.</p><p>Freud também teorizou que, durante o Complexo de Édipo, o desejo</p><p>sexual surge nas crianças e essa experiência se dá por meio de diferentes</p><p>sintomas em meninos e meninas. Os meninos, segundo Freud, experimentam o</p><p>“complexo da castração”, e as meninas experimentam a “inveja do pênis”. Essas</p><p>teorias de Freud foram, posteriormente, bastante criticadas por outros</p><p>psicanalistas.</p><p>9</p><p>Outras teorias</p><p>Ao longo de sua carreira, Freud teorizou ideias a respeito da interpretação</p><p>dos sonhos e do papel destes em retratar desejos que são reprimidos na mente</p><p>humana ou memórias recentes que estão bloqueadas no inconsciente. A</p><p>respeito do inconsciente, disse que a mente humana funciona como um iceberg,</p><p>em que parte dos pensamentos é perceptível, e a outra parte, não.</p><p>Com base nessa metáfora, formulou os conceitos de id, ego e superego.</p><p>O id é o local da mente onde ficam os nossos impulsos e instintos. O ego é a</p><p>parte lógica e racional da psique e é responsável pela tomada de decisões. O</p><p>superego, por sua vez, é a parte da psique responsável pela repressão aos</p><p>impulsos que são contrários às normas sociais.</p><p>Obras</p><p>Ao longo de sua carreira como psicanalista, Freud escreveu uma série de</p><p>livros que são hoje um grande legado de sua obra. Dentre os livros escritos por</p><p>Freud, podem ser destacados:</p><p> A interpretação dos sonhos (1900);</p><p> Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901);</p><p> Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905);</p><p> Cinco lições de psicanálise (1910);</p><p> Além do princípio do prazer (1920);</p><p> O futuro de uma ilusão (1927);</p><p> O mal-estar na civilização (1930).</p><p>Depois de ter contato com a hipnose como forma de tratamento, Freud</p><p>procurou utilizá-la em seus pacientes. Isso aconteceu depois de ter aberto um</p><p>consultório em Viena para tratar de “doenças nervosas”. O contato com a</p><p>hipnose levou Freud a concluir, tempos depois, que as doenças mentais eram,</p><p>de fato, causadas por distúrbios em uma parte que ele chamou de inconsciente.</p><p>10</p><p>Freud passou a defender a ideia de que a forma de tratar essas doenças</p><p>deveria acontecer por meio das palavras. Inicialmente, Freud hipnotizava seus</p><p>pacientes e os incentivava a falar sobre todos os seus traumas. Esse</p><p>procedimento ficou conhecido como “cura pela palavra” e foi resultado da</p><p>influência de um neurologista chamado Josef Breuer.</p><p>Breuer era um dos mais importantes neurologistas de Viena, e o relato</p><p>dele a respeito de uma de suas pacientes teve grande impacto em Freud. Essa</p><p>paciente, que sofria de depressão, era Bertha Pappenheim, também conhecida</p><p>como Anna O. Breuer hipnotizava sua paciente e a orientava a falar sobre os</p><p>seus sintomas e traumas, tendo como resultado a melhora do quadro de Anna</p><p>O.</p><p>Após esse caso, Freud passou a aplicar a “cura pela palavra” em seus</p><p>próprios pacientes. Ele os incentivava a falar sobre os traumas e anotava tudo o</p><p>que era dito pelos seus pacientes. Com o tempo, começou a identificar que a</p><p>parte consciente da mente humana não tinha acesso a todas as lembranças e</p><p>grande parte dos pensamentos ficava reprimida no “inconsciente”. Assim, o</p><p>tratamento por meio da psicanálise só seria de fato eficaz se fosse possível</p><p>acessar os pensamentos e traumas do inconsciente, levando-os para a</p><p>consciência do paciente.</p><p>Os atendimentos realizados por Freud aconteciam em um apartamento</p><p>localizado no mesmo prédio (Berggasse 19) que ficava sua casa. Freud colocava</p><p>seus pacientes em</p><p>um sofá (chamado de divã), em uma posição em que não</p><p>havia contato visual com os pacientes. Os resultados foram mostrando-se</p><p>satisfatórios, e Freud começou a ganhar popularidade. Esses resultados foram</p><p>importantes porque conseguiram provar a teoria de Freud a respeito da</p><p>existência do inconsciente na mente humana.</p><p>11</p><p>Freud e a psicanálise</p><p>Em Cinco lições de psicanálise (1910a/1996), Freud relata a história de</p><p>um movimento que se afastou no devido tempo e necessidade do saber médico</p><p>que, então, se ocupava do tratamento dos distúrbios emocionais, tomando o que</p><p>ele chama de rota absolutamente original (FREUD, 1910a/1996, p. 14). A partir</p><p>dessa rota, interessou-se por tais distúrbios, apesar do desconhecimento e do</p><p>desamparo que eles evocavam: “[...] diante da histeria, o médico não sabe, do</p><p>mesmo modo, o que fazer” (FREUD, 1910a/1996, p. 15). Através destas</p><p>palavras, Freud chama a histeria de transgressora da ciência médica, já que</p><p>encarna em si o desamparo e algumas das impossibilidades dos tratamentos</p><p>então empregados.</p><p>Ao relatar a história do que se configurou como a pré-psicanálise, a partir</p><p>do tratamento empreendido por Breuer com Anna O, é deveras interessante</p><p>quando ele afirma a não pretensão de Breuer em curar a paciente e, mesmo</p><p>assim, acompanhá-la diariamente em seu sofrimento, não medindo esforços na</p><p>busca pela origem de seus sintomas. Nessa busca incessante, e através do</p><p>emprego da hipnose como método neste momento pré-psicanalítico, as</p><p>conclusões a que chegaram os dois pesquisadores é de que tal origem tem a</p><p>ver com as reminiscências, restos simbólicos de experiências carregadas de</p><p>carga afetiva. Assim, se há um sintoma, há um desconhecimento em sua causa:</p><p>um não saber.</p><p>Freud (1910a/1996, p. 24) prossegue dizendo que os doentes sabiam de</p><p>que se tratavam tais reminiscências e, uma vez abandonado o método hipnótico,</p><p>só precisavam dizer, descoberta que fez quando Anna O. começou a chamar o</p><p>método adotado de ‘limpeza de chaminé’:</p><p>A esta força que detinha os desejos violentos do paciente, Freud</p><p>(1910a/1996) deu o nome de recalque, mas em Estudos sobre a histeria</p><p>12</p><p>(1895/1996) a chamara de processos defensivos. Tais processos seriam</p><p>incapazes, no entanto, de aniquilar os desejos violentos, e seu substituto (o</p><p>sintoma), bem como a ideia recalcada, também traria consigo um tipo de</p><p>sofrimento quando lançado à consciência. Assim, Freud conclui que a</p><p>psicanálise desvendaria o trajeto de trás para frente, reconduzindo o sintoma</p><p>para a ideia recalcada (FREUD, 1910a/1996, p. 28).</p><p>Desse modo, para a psicanálise existem conteúdos escondidos, não</p><p>sabidos, na vida mental do indivíduo. Esses conteúdos podem aparecer através</p><p>da livre associação, método que desenvolveu em substituição à hipnose e que</p><p>possibilitou a mudança do momento pré-psicanalítico para a psicanálise</p><p>propriamente dita. Em Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise,</p><p>de 1912, Freud atribui à livre associação a função de preceito único do qual parte</p><p>a técnica psicanalítica. Neste texto, ele também afirma que se deixar abandonar</p><p>à memória inconsciente não é tarefa apenas do paciente, mas do analista,</p><p>situando aí a implicação daquele que se propõe a esta práxis, contrapartida</p><p>essencial ao início de toda análise. Afinal, a comunicação que ocorre entre o</p><p>inconsciente do analista e do analisante permite a reconstrução das associações</p><p>livres em conteúdos significantes.</p><p>Isso só é possível, diz Freud no texto já referido, quando o analista não</p><p>está sujeito às próprias resistências, ou ao menos, não se encontra por elas</p><p>dominado. Através destas palavras podemos conceber a importância e a</p><p>preocupação de Freud com a formação do analista, formação essa que</p><p>começaria com a análise pessoal, somente a qual poderia preparar alguém para</p><p>superar as próprias resistências, de modo a não permitir que elas interferissem</p><p>no processo analítico. Denota, então, ser a formação do analista algo que</p><p>principia a partir de uma experiência, a experiência analisante. Do contrário</p><p>poderá selecionar e deformar os conteúdos apresentados, tanto através das</p><p>associações do paciente, como também a partir dos sonhos, dos chistes e dos</p><p>atos falhos que ele pode vir a manifestar. E o analista, para Freud (1910a/1996,</p><p>p. 36), retomando as Cinco Lições, seria alguém com “[...] rigorosa fé no</p><p>determinismo da vida mental [...]”, cujos conteúdos não se manifestam de forma</p><p>arbitrária, mas estão agrupados de modo a dizerem algo sobre o sujeito: esse</p><p>algo desconhecido.</p><p>13</p><p>As palavras de Freud nos conduzem a pensar a análise a partir daquele</p><p>que analisa porque ele define a importância que adquire, para ser possível</p><p>sustentar essa posição, uma fé que apenas nasce porque se vivenciou estes que</p><p>buscamos, os conceitos fundamentais à psicanálise, enquanto experiência que</p><p>apenas uma análise possibilita. Do contrário, a fé na psicanálise não seria em</p><p>nada diversa da fé religiosa. Tratar-se-ia, desse modo, de um dogma, diante do</p><p>qual as argumentações mais racionais apenas resvalariam.</p><p>A necessidade para o analista desta rigorosa fé no determinismo da vida</p><p>mental pode ser reconhecida em muitos outros textos em que Freud faz menção</p><p>à técnica da psicanálise. Um deles é Análise terminável e interminável</p><p>(1937a/1996), em que o autor discute os possíveis resultados de um tratamento</p><p>mais breve e profilático. É na sétima parte deste artigo que ele afirma:</p><p>Pensar a individualidade do analista, conforme pontuado no trecho acima,</p><p>remete-nos imediatamente àquilo que em Recomendações aos médicos que</p><p>exercem a psicanálise (1912a/1996), Freud chama de a contrapartida do analista</p><p>ao preceito único do qual parte a psicanálise – a associação livre. Quando</p><p>deitamos nossa atenção para o que seria isso que o autor chama de</p><p>‘individualidade do analista’, pensamos de que maneira poderia essa</p><p>individualidade influenciar num processo que, a priori, não existe na forma de</p><p>uma relação dual. Assim, o eu do analista, não poderia influenciar nenhum</p><p>aspecto, uma vez que todo aquele que se voltaria à escuta analítica não se</p><p>deixaria influenciar pelas próprias questões e dificuldades.</p><p>No entanto, quando pensamos dessa maneira, estamos nós, como</p><p>também fazem os opositores da análise, orgulhando-nos dos atributos da nossa</p><p>consciência, e assim, desconsideraríamos que existe uma força que não está</p><p>exatamente sob o controle do que o eu considera apropriado ou inapropriado.</p><p>Se a individualidade do analista pode apresentar-se como um dos fatores que</p><p>oferece resistência ao tratamento, isso apenas é possível por um</p><p>14</p><p>posicionamento que, dominado por ideais, não está pronto para assumir a</p><p>mudança radical que implica a abertura do inconsciente.</p><p>Freud, ainda em Análise terminável e interminável (1937a/1996)</p><p>prossegue dizendo que “[...] o relacionamento analítico se baseia no amor à</p><p>verdade – isto é, no reconhecimento da realidade – e que inclui qualquer tipo de</p><p>impostura ou engano” (FREUD, 1937a/1996, p. 265). A partir dessas palavras,</p><p>Freud situa a psicanálise como a terceira das profissões impossíveis, junto com</p><p>governar e educar. A impossibilidade da psicanálise sustenta-se no fato de que</p><p>esta nunca se realizará de forma total, concluída e fechada, nunca se faz toda,</p><p>portanto. De tal modo que ocupar este lugar implica deparar-se com uma tarefa</p><p>que jamais é completada, ou seja, continuamente encarar o aspecto interminável</p><p>que toda análise encerra. Há, portanto, sempre um resto, e esse resto faz parte</p><p>da verdade que é a verdade do inconsciente, de modo que um analista qualifica-</p><p>se especialmente a partir de sua análise pessoal, somente esta poderá lhe</p><p>possibilitar</p><p>Nota-se que esta frase retirada de Análise terminável e interminável</p><p>(1937a/1996) faz eco àquela proveniente de Cinco lições de psicanálise</p><p>(1910a/1996), sobre a necessidade de o analista</p><p>possuir uma “[...] rigorosa fé no</p><p>determinismo da vida mental” (FREUD, 1910a/1996, p. 36). Fé que, sem dúvida,</p><p>animou Freud a permanecer no intento de tornar a psicanálise um método de</p><p>investigação do inconsciente e uma prática clínica. Não obstante, certamente</p><p>houve obstáculos ao caminho da psicanálise quando admitiu como objeto de</p><p>estudo o campo que abarca o inconsciente. Apesar dos percalços, Freud</p><p>construiu o percurso da psicanálise, concluindo que:</p><p>15</p><p>O primeiro obstáculo certamente apresenta-se a partir do desafio</p><p>representado pela tentativa de ir além da hipnose, dificuldade que começa a se</p><p>tornar presente na obra através do que identificamos como sendo o papel da</p><p>transferência enquanto veículo da ação terapêutica. Freud começa a perceber a</p><p>importância deste veículo já em Estudos sobre a histeria, quando se dedica às</p><p>dificuldades que a hipnose encarnava. O método de Breuer não era efetivo com</p><p>todos os pacientes, o que não só levou Freud a uma alteração da técnica como</p><p>do que ele chama de ‘visão dos fatos’ (FREUD, 1895[1893] /1996, p. 272).</p><p>Assim, Freud começa a questionar-se e “[...] a tomar uma posição quanto à</p><p>questão do que, afinal, caracteriza essencialmente a histeria e do que a distingue</p><p>das outras neuroses” (idem). Assim, a partir do momento em que começa a</p><p>investigar a base sexual das neuroses, Freud toma uma posição a partir da qual</p><p>se tornou impossível continuar o percurso da psicanálise ao lado de Breuer.</p><p>O momento de reflexão que encarna este capítulo dos estudos é bastante</p><p>interessante. Freud exprime uma a uma as dúvidas e razões que o levaram a</p><p>concluir que o método de Breuer não poderia ir além, já que “[...] não consegue</p><p>afetar as causas subjacentes da histeria, assim, não consegue impedir que</p><p>novos sintomas tomem o lugar daqueles que foram eliminados” (FREUD,</p><p>1895[1893]/1996, p. 277).</p><p>Quando Freud afirma que a hipnose não podia ir além, ou seja, não podia</p><p>chegar às causas da histeria, essa insatisfação demarca a virada de</p><p>posicionamento que foi imprescindível para a transição entre esse momento pré-</p><p>psicanalítico e o que se seguiu a ele. A virada aconteceu porque Freud notou</p><p>que, em alguns pacientes, o método catártico não eliminava nem mesmo os</p><p>sintomas que já se notavam, causadores de sofrimento. Essa inacessibilidade,</p><p>Freud atribui às próprias características dos pacientes, admitindo que nem todos</p><p>eram sugestionáveis e que isso só poderia dizer respeito às peculiaridades da</p><p>16</p><p>neurose, aquelas que ele veio a empreender tanto esforço em descobrir a razão</p><p>de ser. A inacessibilidade não tira o valor do método hipnótico, mas impõe-lhe</p><p>limites: “[...] um médico não pode atribuir- se a tarefa de alterar uma constituição</p><p>como a da histérica” (FREUD, 1895[1893]/1996, p. 278).</p><p>A citação acima demarca um entre tantos momentos de Psicoterapia da</p><p>histeria em que Freud demonstra, à medida que o texto se constrói, que muitas</p><p>reflexões acerca da posição do médico já vinham sendo por ele feitas. Mesmo</p><p>tendo a medicina como base de formação, e mesmo neste momento ainda</p><p>demonstrando sofrer forte influência dos ideais científicos médicos, o que Freud</p><p>apresentava ia além da compreensão complacente e buscou atingir níveis</p><p>profundos que, no decorrer do desenvolvimento da teoria, ele percebeu que</p><p>existiam. Trata-se dos níveis inconscientes, daqueles conteúdos que precisam</p><p>ultrapassar alguns obstáculos para que, só então, possam ser lançados à mão.</p><p>Freud situa a ‘fé’ no determinismo da vida mental como um quesito sine</p><p>qua non ao psicanalista. Não foi sem dificuldades que Freud adentrou as</p><p>profundezas que abarcam o campo do inconsciente com vistas a tornar a</p><p>psicanálise um método e uma prática clínica. Em Dois verbetes de enciclopédia</p><p>(1923a[1922]/1996), Freud aponta:</p><p>A partir do trecho acima, vemos Freud nos apresentar seu posicionamento</p><p>quanto aos conceitos que considera fundamentais. À medida que avançarmos</p><p>em nossa discussão, outros momentos que Freud nos oferece serão</p><p>destacados, no sentido de possibilitar o acesso às definições acerca disso que</p><p>buscamos, ou seja, quais os aspectos da psicanálise considerados por Freud</p><p>como tendo sido fundantes deste campo. Esta citação destaca dois pontos que</p><p>serão discutidos no próximo capítulo como sendo bases sobre as quais repousa</p><p>o corpo teórico da psicanálise: a existência dos processos mentais inconscientes</p><p>e o reconhecimento da teoria do recalque. No entanto, é importante salientar</p><p>17</p><p>que, quando procuramos quais seriam os elementos da psicanálise que seriam</p><p>inegociáveis, o que buscamos não se trata de definições sentenciosas, mas de</p><p>compreender que conceitos articulam-se de forma indissociável da experiência</p><p>analítica, uma vez que é apenas através dela que a psicanálise pode se</p><p>sustentar.</p><p>Todos os pontos abordados por Freud no trecho acima podem ser</p><p>encontrados pela primeira vez em Estudos sobre a histeria (1895[1893]/1996),</p><p>momento em que ele salienta que uma das características essenciais da histeria</p><p>é que, nela, o eu encontra-se subjugado pelos sintomas. Diante desta situação,</p><p>ainda no mesmo texto, Freud lamenta a inexistência de uma terapia que chegue</p><p>à raiz dessa subjugação e, diante da dificuldade em continuar empregando o</p><p>método de Breuer, coloca a si mesmo a questão de ou desistir das pacientes</p><p>inacessíveis à técnica, ou ampliá-la e ir além dela. Momento que é, talvez, aquele</p><p>em que Freud começa a descolar-se do saber médico e pensar sobre a criação</p><p>de algo totalmente novo, que se constitui como a psicanálise. Esse</p><p>questionamento, que representa uma mudança de posição, interessa a esta</p><p>pesquisa: “Assim, eu era obrigado a desistir da idéia de tratar tais pacientes, ou</p><p>a me esforçar por promover essa ampliação de alguma outra forma” (FREUD,</p><p>1895[1893]/1996, p. 282). Que esforço é esse a que Freud se refere? O esforço</p><p>que realizou uma mudança da medicina para a psicanálise.</p><p>Mas o que parece importante a esta altura é que Freud já se refere neste</p><p>texto tão introdutório, tão precoce no que diz respeito ao desenvolvimento da</p><p>psicanálise, ao que se constituíram como pontos fundamentais à clínica</p><p>psicanalítica, os mesmos aos quais faz menção em Cinco lições de psicanálise</p><p>(1910a/1996) e em muitos outros textos bastante posteriores na obra e que</p><p>também serão apresentados adiante.</p><p>Em Psicoterapia da histeria (1895[1893] /1996), ele utiliza pela primeira</p><p>vez o termo transferência, ainda que não conceituado, e também nesse</p><p>momento tão inicial, faz as primeiras relações da transferência com a resistência</p><p>e o recalque. Freud se apercebe da resistência justamente por ter que insistir em</p><p>que as recordações dos pacientes viessem à tona, de modo que deveria haver</p><p>ali um obstáculo que teria alguma relação com a força inicial que originou o</p><p>sintoma, ou seja, o recalcamento:</p><p>18</p><p>E visto que essa insistência exigia esforços de minha parte, e assim</p><p>sugeria a idéia de que eu tinha que superar uma resistência, a situação conduziu-</p><p>me de imediato à teoria de que, por meio de meu trabalho psíquico, eu tinha de</p><p>superar uma força psíquica nos pacientes que se opunha a que as</p><p>representações patogênicas se tornassem conscientes (fossem lembradas).</p><p>Uma nova compreensão pareceu abrir-se ante meus olhos, quando me ocorreu</p><p>que esta sem dúvida deveria ser a mesma força psíquica que desempenhara um</p><p>papel na geração do sintoma histérico e que, na época, impedira que a</p><p>representação patogênica se tornasse consciente. Que espécie de força poder-</p><p>se-ia supor que estivesse em ação ali, e que motivo poderia tê-la posto em ação?</p><p>(FREUD, 1895[1893]/1996, p. 283)</p><p>A citação acima nos permite inferir se Freud, tão cedo no desenvolvimento</p><p>de sua teoria, ao afirmar que ele mesmo teria que realizar um trabalho psíquico</p><p>a fim de superar a resistência dos pacientes, já percebia aquilo que recomenda</p><p>nos artigos sobre a técnica, ou seja,</p><p>a importância de ser o analista alguém</p><p>conhecedor das próprias resistências, caminho trilhado apenas a partir da</p><p>análise pessoal. Esta afirmação soa como mais um exemplo de uma mudança</p><p>de posicionamento, de uma queda do discurso médico, necessária à</p><p>possibilidade de assumir-se enquanto analista. Alguém que, por ter sabido de</p><p>suas angústias e resistências, encontra-se apto a enfrentar aquelas que se</p><p>apresentam, do lado do paciente, durante o tratamento, reconhecendo, também</p><p>pela própria experiência analítica, a natureza aflitiva de tais conteúdos, “[...]</p><p>capazes de despertar afetos de vergonha, autocensura, e dor psíquica [...]; eram</p><p>todas de uma espécie que a pessoa preferiria não ter experimentado, que</p><p>preferiria esquecer.” (FREUD, 1895[1893] /1996, p. 283).</p><p>A força psíquica é representada pela aversão por parte do eu, que tira tais</p><p>representações da cadeia de associação: “[...] o ‘não saber’ do paciente histérico</p><p>seria, de fato, um ‘não querer saber’ – um não querer que poderia, em maior ou</p><p>menor medida ser consciente” (FREUD, 1895[1893]/1996, p. 284). Foi a partir</p><p>deste não querer saber que se alicerçaram as bases da psicanálise a partir do</p><p>recalque, da resistência que resulta deste recalque e da transferência. Freud</p><p>afirma que as representações inconscientes estão disponíveis desde que seja</p><p>retirado um obstáculo, o que ele associa com a vontade do paciente, já que a</p><p>19</p><p>mudança exige muito trabalho (FREUD, 1895[1893]/1996, p. 292). O que Freud</p><p>denomina como vontade do sujeito e complementa falando sobre o que há de</p><p>trabalhoso em uma análise representa mais uma indicação que, já em 1895,</p><p>havia no autor um reconhecimento, uma presença de compreensão de que a</p><p>psicanálise não está para todos. Simultaneamente, quando nos apresenta a</p><p>análise como algo que exige trabalho, importante dizer que é um trabalho que o</p><p>paciente apenas pode realizar porque existe alguém pronto a receber seus</p><p>frutos.</p><p>Pode-se perceber que já existe, nesse momento do desenvolvimento da</p><p>psicanálise, o embrião de conceitos sem os quais ela não existiria: como a</p><p>crença no determinismo inconsciente e o recalcamento. Tais conceitos</p><p>desenvolveram-se largamente no decorrer da obra freudiana. Em seus textos</p><p>posteriores aos Estudos sobre a histeria, incluindo Cinco lições de psicanálise,</p><p>podemos ver como eles ganham estatuto de fundamentos para a teoria</p><p>psicanalítica e se configuram como parâmetros inegociáveis para seu campo.</p><p>Tais parâmetros se fazem presentes tanto nos textos técnicos como nos</p><p>metapsicológicos, e também naqueles que Freud destinou ao público leigo. Ver-</p><p>se- á, no último capítulo, que também nos textos em que Freud se volta às</p><p>aplicações da psicanálise ele estabelece, evidencia e denomina aquilo que</p><p>considera como fundamental à psicanálise.</p><p>Estrutura e dinâmica da personalidade</p><p>Freud imaginava a psique (ou aparelho psíquico) do ser humano como</p><p>um sistema de energia: cada pessoa é movida, segundo ele, por uma quantidade</p><p>limitada de energia psíquica. Isso significa, por um lado, que se grande parte da</p><p>energia for necessária para a realização de determinado objetivo (ex. expressão</p><p>artística) ela não estará disponível para outros objetivos (ex. sexualidade); por</p><p>outro lado, se a pessoa não puder dar vazão à sua energia por um canal (ex.</p><p>sexualidade), terá de fazê-lo por outro (ex. expressão artística).</p><p>20</p><p>Essa energia provém das pulsões (às vezes chamadas incorretamente de</p><p>instintos). Segundo o autor, o ser humano possui duas pulsões inatas, a de vida</p><p>(Eros) e a de morte.</p><p>Essas duas pulsões opõem-se ao ideal da sociedade e, por isso, precisam</p><p>ser controladas através da educação, considerando que a energia gerada pelas</p><p>pulsões não é liberada de maneira direta. O ser humano é, assim, sexual e</p><p>agressivo por natureza e a função da sociedade é amansar essas tendências</p><p>naturais do homem. A situação de não poder dar vazão a essa energia gera no</p><p>indivíduo um estado de tensão interna que necessita ser resolvido. Toda ação</p><p>do homem é motivada, assim, pela busca hedonista de dar vazão à energia</p><p>psíquica acumulada.</p><p>Os níveis da consciência ou modelo topológico da mente (1ª Tópica)</p><p>O ser humano, no entanto, não se dá conta de todo esse processo de</p><p>geração e liberação de energia. Para explicar esse fato, Freud descreve três</p><p>níveis de consciência:</p><p> O consciente, que abarca todos os fenômenos que em determinado</p><p>momento podem ser percebidos de maneira consciente pelo indivíduo;</p><p> O pré-consciente, refere-se aos fenômenos que não estão conscientes</p><p>em determinado momento, mas podem tornar-se, se o indivíduo desejar se</p><p>ocupar com eles;</p><p> O inconsciente, que diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não são</p><p>conscientes e somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se. (O</p><p>termo subconsciente é muitas vezes usado como sinônimo, apesar de ter sido</p><p>abandonado pelo próprio Freud.)</p><p>Freud não foi o primeiro a propor que parte da vida psíquica se desenvolve</p><p>inconscientemente. Ele foi, no entanto, o primeiro a pesquisar profundamente</p><p>esse território. Segundo ele, os desejos e pensamentos humanos produzem</p><p>muitas vezes conteúdos que causariam medo ao indivíduo, se não fossem</p><p>armazenados no inconsciente. Este tem assim uma função importantíssima de</p><p>21</p><p>estabilização da vida consciente. Sua investigação levou-o a propor que o</p><p>inconsciente é alógico (e por isso aberto a contradições); atemporal e aespacial</p><p>(ou seja, conteúdos pertencentes a épocas ou espaços diferentes podem estar</p><p>próximas). Os sonhos são vistos como expressão simbólica dos conteúdos</p><p>inconscientes.</p><p>Através da compreensão do conceito de inconsciente torna-se clara a</p><p>compreensão da motivação na psicanálise clássica: muitos desejos, sentimentos</p><p>e motivos são inconscientes, por serem muito dolorosos para se tornarem</p><p>conscientes. No entanto esse conteúdo inconsciente influencia a experiência</p><p>consciente da pessoa, por exemplo, através de atos falhos, comportamentos</p><p>aparentemente irracionais, emoções inexplicáveis, medo, depressão,</p><p>sentimento de culpa. Assim, os sentimentos, sonhos, desejos e motivos</p><p>inconscientes influenciam e guiam o comportamento consciente.</p><p>Modelo estrutural da personalidade (2ª Tópica)</p><p>Freud desenvolveu mais tarde, (1923) um modelo estrutural da</p><p>personalidade, em que o aparelho psíquico se organiza em três estruturas:</p><p>22</p><p> Id (em alemão: es, "ele, isso"): O id é a fonte da energia psíquica,</p><p>a libido. O id é formado pelas pulsões, instintos, impulsos orgânicos e desejos</p><p>inconscientes. Ele funciona segundo o princípio do prazer (Lustprinzip), ou seja,</p><p>busca sempre o que produz prazer e evita o desprazer. Não faz planos, não</p><p>espera, busca uma solução imediata para as tensões, não aceita frustrações e</p><p>não conhece inibição. Ele não tem contato com a realidade e uma satisfação na</p><p>fantasia pode ter o mesmo efeito de uma atingida través de uma ação. O id</p><p>desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo exigente, impulsivo,</p><p>cego, irracional, antissocial e dirigido ao prazer. O id é completamente</p><p>inconsciente.</p><p> Ego (ich, "eu"): O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo</p><p>de permitir que seus impulsos sejam eficientes, ou seja, levando em conta o</p><p>mundo externo, por intermédio do chamado princípio da realidade. É esse</p><p>princípio que introduz a razão, o planejamento e a espera ao comportamento</p><p>humano. A satisfação das pulsões é retardada até o momento em que a</p><p>realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de</p><p>consequências negativas. A principal função do ego é buscar uma harmonização</p><p>inicialmente entre os desejos do id e a supervisão/realidade/repressão do</p><p>superego.</p><p> Superego (Über-Ich, "super-eu", "além-do-eu"): É a parte moral da</p><p>mente humana e representa os valores da sociedade.</p><p>O superego tem três objetivos:</p><p>(1) reprimir,</p><p>através de punição ou sentimento de culpa, qualquer impulso</p><p>contrário às regras e ideais por ele ditados;</p><p>(2) forçar o ego a se comportar de maneira moral, mesmo que irracional;</p><p>e,</p><p>(3) conduzir o indivíduo à perfeição, em gestos, pensamentos e palavras.</p><p>O superego forma-se após o ego, durante o esforço da criança de introjetar os</p><p>valores recebidos dos pais e da sociedade a fim de receber amor e afeição. Ele</p><p>pode funcionar de uma maneira bastante primitiva, punindo o indivíduo não</p><p>apenas por ações praticadas, mas também por pensamentos inaceitáveis; outra</p><p>característica sua é o pensamento dualista (tudo ou nada, certo ou errado, sem</p><p>23</p><p>meio-termo). O superego divide-se em dois subsistemas: o ego ideal, que dita o</p><p>bem a ser procurado, e a consciência (Gewissen), que determina o mal a ser</p><p>evitado.</p><p>Os mecanismos de defesa</p><p>O ego está constantemente sob tensão, nas suas tentativas de</p><p>harmonizar os impulsos do id no mundo exterior e adequando-os à repressão do</p><p>superego. Quando essa tensão (normalmente sob a forma de medo) se torna</p><p>grande demais, ameaça a estabilidade do ego, que pode fazer uso dos</p><p>mecanismos de defesa ou ajustamentos. Estas são estratégias do ego para</p><p>diminuir o medo através de uma deformação da realidade - dessa forma o ego</p><p>exclui da consciência conteúdos indesejados. Os mecanismos de defesa</p><p>satisfazem os desejos do id apenas parcialmente, mas, para este, uma</p><p>satisfação parcial é melhor do que nenhuma.</p><p>Entre os mecanismos de defesa é preciso considerar, por um lado, os</p><p>mecanismos bastante elaborados para defender o eu (ego), e por outro lado, os</p><p>que estão simplesmente encarregados de defender a existência do narcisismo.</p><p>Freud (1937) diz que mecanismos defensivos falsificam a percepção interna do</p><p>sujeito fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada.</p><p>Freud descreveu muitos mecanismos de defesa no decorrer da sua obra</p><p>e seu trabalho foi continuado por sua filha Anna Freud; os principais mecanismos</p><p>são:</p><p> Repressão é o processo pelo qual se afastam da consciência</p><p>conflitos e frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados</p><p>ou lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente; o que é</p><p>desagradável é, assim, esquecido;</p><p> Formação reativa consiste em ostentar um procedimento e externar</p><p>sentimentos opostos aos impulsos verdadeiros, indesejados.</p><p> Projeção consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o</p><p>sujeito não pode admitir como suas.</p><p>24</p><p> Regressão consiste em a pessoa retornar a comportamentos</p><p>imaturos, característicos de fase de desenvolvimento que a pessoa já passou.</p><p> Fixação é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido</p><p>de continuar. Uma parte da líbido permanece ligada a um determinado estágio</p><p>do desenvolvimento e não permite que a criança passe completamente para o</p><p>próximo estágio. A fixação está relacionada com a regressão, uma vez que a</p><p>probabilidade de uma regressão a um determinado estágio do desenvolvimento</p><p>aumenta se a pessoa desenvolveu uma fixação por este.</p><p> Sublimação é a satisfação de um impulso inaceitável através de um</p><p>comportamento socialmente aceito.</p><p> Identificação é o processo pelo qual um indivíduo assume uma</p><p>característica de outro. Uma forma especial de identificação é a identificação</p><p>com o agressor.</p><p> Deslocamento é o processo pelo qual agressões ou outros</p><p>impulsos indesejáveis, não podendo ser direcionados à(s) pessoa(s) a que se</p><p>referem, são direcionadas a terceiros.</p><p>As fases do desenvolvimento psicossexual</p><p>Uma importante parte da teoria freudiana é dedicada ao desenvolvimento</p><p>da personalidade. Duas hipóteses caracterizam sua teoria:</p><p>Freud foi o primeiro a afirmar que os primeiros anos das vida são os mais</p><p>importantes para o desenvolvimento da pessoa e o desenvolvimento do</p><p>indivíduo se dá em fases ou estádios psico-sexuais. Freud foi, assim, o primeiro</p><p>autor a afirmar que as crianças também têm uma sexualidade.</p><p>Freud descreve quatro fases distintas, pelas quais a criança passa em seu</p><p>desenvolvimento. Cada uma dessas fases é definida pela região do corpo a que</p><p>as pulsões se direcionam. Em cada fase surgem novas necessidades que</p><p>exigem satisfação; a maneira como essas necessidades são satisfeitas</p><p>determina como a criança se relaciona com outras pessoas e quais sentimentos</p><p>ela tem para consigo mesma. A transição de uma fase para outra é</p><p>biologicamente determinada, de tal forma que uma nova fase pode iniciar sem</p><p>25</p><p>que os processos da fase anterior tenha se completado. As fases se seguem</p><p>umas às outras em uma ordem fixa e, apesar de uma fase se desenvolver a partir</p><p>da anterior, os processos desencadeados em uma fase nunca estão plenamente</p><p>completos e continuam agindo durante toda a vida da pessoa.</p><p>A fase oral</p><p>A primeira fase do desenvolvimento é a fase oral, que se estende desde</p><p>o nascimento até aproximadamente dois anos de vida. Nessa fase a criança</p><p>vivencia prazer e dor através da satisfação (ou frustração) de pulsões orais, ou</p><p>seja, pela boca. Essa satisfação se dá independente da satisfação da fome, mas</p><p>inicialmente por ela. Assim, para a criança sugar, mastigar, comer, morder,</p><p>cuspir etc. têm uma função ligada ao prazer, além de servirem à alimentação.</p><p>Ao ser confrontada com frustrações a criança é obrigada a desenvolver</p><p>mecanismos para lidar com tais frustrações. Esses mecanismos são a base da</p><p>futura personalidade da pessoa. Assim, uma satisfação insuficiente das pulsões</p><p>orais pode conduzir a uma tendência para ansiedade e pessimismo; já uma</p><p>excessiva satisfação pode levar, através de uma fixação nessa fase, a</p><p>dificuldades de aceitar novos objetos como fonte de prazer/dor em fases</p><p>posteriores, aumentando assim a probabilidade de uma regressão.</p><p>26</p><p>A fase oral se divide em duas fases menores, definidas pelo nascimento</p><p>dos dentes. Até então a criança se encontra em uma fase passiva-receptiva; com</p><p>os primeiros dentes a criança passa a uma fase sádica-ativa através da</p><p>possibilidade de morder. O principal objeto de ambas as fases, o seio materno,</p><p>se torna, assim, um objeto ambivalente. Essa ambivalência caracteriza a maior</p><p>parte dos relacionamentos humanos, tanto com pessoas como com objetos.</p><p>A fase oral apresenta, assim, cinco modos de funcionamento que podem</p><p>se desenvolver em características da personalidade adulta:</p><p> O incorporar do alimento se mostra no adulto como um "incorporar"</p><p>de saber ou poder, ou ainda como a capacidade de se identificar com outras</p><p>pessoas ou de se integrar em grupos;</p><p> O segurar o seio, não querendo se separar dele, se mostram</p><p>posteriormente como persistência e perseverança ou ainda como decisão;</p><p> Morder é o protótipo da destrutividade, assim do sarcasmo, cinismo</p><p>e tirania;</p><p> Cuspir se transforma em rejeição e</p><p> O fechar a boca, impedindo a alimentação, conduz a rejeição,</p><p>negatividade ou introversão.</p><p> O principal processo na fase oral é a criação da ligação entre mãe</p><p>e filho.</p><p>A fase anal</p><p>A segunda fase, segundo Freud, é a fase anal, que vai aproximadamente</p><p>do primeiro ao terceiro ano de vida. Nessa fase a satisfação das pulsões se dirige</p><p>ao ânus, ao controle da tensão intestinal. Nessa fase a criança tem de aprender</p><p>o controle dos esfincteres sobre o ato de defecar e, dessa forma, deve aprender</p><p>a lidar com a frustração do desejo de satisfazer suas necessidades</p><p>imediatamente.</p><p>Como na fase oral, também os mecanismos desenvolvidos nesta fase</p><p>influenciam o desenvolvimento da personalidade. O defecar imediato e</p><p>27</p><p>descontrolado é o protótipo dos ataques de raiva; já uma educação muito rígida</p><p>com relação à higiene pode conduzir tanto a uma tendência ao caos, aos</p><p>descuido, à bagunça quanto a uma tendência a uma organização compulsiva e</p><p>exageradamente controlada.</p><p>Se a mãe faz elogios demais ao fato de a criança conseguir esperar até o</p><p>banheiro, pode surgir uma ligação</p><p>entre dar (as fezes) e receber amor, e a</p><p>pessoa pode desenvolver generosidade; se a mãe supervaloriza essas</p><p>necessidades biológicas, a criança pode se desenvolver criativa e produtiva ou,</p><p>pelo contrário, se tornar depressiva, caso ela não corresponda às expectativas;</p><p>crianças que se recusam a defecar podem se desenvolver como colecionadores,</p><p>coletores ou avaros.</p><p>A fase fálica</p><p>A fase fálica, que vai dos três aos cinco anos de vida, se caracteriza</p><p>segundo Freud pela importância da presença (ou, nas meninas, da ausência) do</p><p>falo ou pênis; nessa fase prazer e desprazer estão, assim, centrados na região</p><p>genital. As dificuldades dessa fase estão ligadas ao direcionamento da pulsão</p><p>sexual ou libidinosa ao genitor do sexo oposto e aos problemas resultantes. A</p><p>resolução desse conflito está relacionada ao complexo de Édipo e à identificação</p><p>com o genitor de mesmo sexo.</p><p>28</p><p>Freud desenvolveu sua teoria tendo sobretudo os meninos em vista, uma</p><p>vez que, para ele, estes vivenciariam o conflito da fase fálica de maneira mais</p><p>intensa e ameaçadora. Segundo Freud o menino deseja nessa fase ter a mãe</p><p>só para si e não partilhá-la mais com o pai; ao mesmo tempo ele teme que o pai</p><p>se vingue, castrando-o. A solução para esse conflito consiste na repressão tanto</p><p>do desejo libidinoso com relação à mãe como dos sentimentos agressivos para</p><p>com o pai; em um segundo momento realiza-se a identificação do menino com</p><p>seu pai, o que os aproxima e conduz, assim, a uma internalização por parte do</p><p>menino dos valores, convicções, interesses e posturas do pai.</p><p>O complexo de Édipo representa um importante passo na formação do</p><p>superego e na socialização dos meninos, uma vez que o menino aprende a</p><p>seguir os valores dos pais. Essa solução de compromisso permite que tanto o</p><p>ego (através da diminuição do medo) e o id (por o menino poder possuir a mãe</p><p>indiretamente através do pai, com o qual ele se identifica) sejam parcialmente</p><p>satisfeitos.</p><p>O conflito vivenciado pelas meninas é parecido, contudo com mais</p><p>possibilidades de solução. A menina deseja o próprio pai, em parte devido à</p><p>inveja que sente por não ter um pênis (al. Penisneid); ela sente-se castrada e</p><p>culpa à própria mãe por tê-la privado de um falo. Por outro lado, a mãe</p><p>representa uma ameaça menos séria, uma vez que uma castração não é</p><p>possível. Devido a essa situação diferente, a identificação da menina com a</p><p>própria mãe é menos forte do que a do menino com seu pai e, por isso, as</p><p>meninas teriam uma consciência menos desenvolvida - afirmação esta que foi</p><p>rejeitada pela pesquisa empírica.</p><p>29</p><p>Freud usou o termo "complexo de Édipo" para ambos os sexos; autores</p><p>posteriores limitaram o uso da expressão aos meninos, reservando para as</p><p>meninas o termo "complexo de Electra", mas que foi rejeitado por Freud no texto</p><p>"Sobre a Sexualidade Feminina" de 1931.</p><p>A apresentação do complexo de Édipo dada acima é, no entanto,</p><p>simplificada. Na realidade o resultado da resolução do complexo de Édipo é</p><p>sempre uma identificação como ambos os pais e a força de cada uma dessas</p><p>identificações depende de diferentes fatores, como a relação entre os elementos</p><p>masculinos e femininos na predisposição fisiológica da criança ou a intensidade</p><p>do medo de castração ou da inveja do pênis. Além disso, a mãe mantém em</p><p>ambos os sexos um papel primordial, permanecendo sempre o principal objeto</p><p>da libido.</p><p>O período de latência</p><p>Depois da agitação dos primeiros anos de vida segue-se uma fase mais</p><p>tranquila que se estende até a puberdade. Nessa fase a libido é desinvestida das</p><p>fantasias e da sexualidade, tornando-as secundárias, mas reinvestida em outros</p><p>meios como o desenvolvimento cognitivo, aprendizado, a assimilação de valores</p><p>e normas sociais que se tornam as atividades principais da criança, continuando</p><p>o desenvolvimento do ego e do superego.</p><p>30</p><p>A fase genital</p><p>A última fase do desenvolvimento psicossocial é a fase genital, que se dá</p><p>durante a adolescência. Nessa fase as pulsões sexuais, depois da longa fase de</p><p>latência e acompanhando as mudanças corporais, despertam-se novamente,</p><p>mas desta vez se dirigem a uma pessoa do sexo oposto, ou não (onde entra a</p><p>questão da homossexualidade).</p><p>Como se depreende da explanação anterior, a escolha do parceiro não se</p><p>dá independente dos processos de desenvolvimento anteriores, mas é</p><p>influenciada pela vivência nas fases anteriores. Além disso, apesar de</p><p>continuarem agindo durante toda a vida do indivíduo, os conflitos internos típicos</p><p>das fases anteriores atingem na fase genital uma relativa estabilidade</p><p>conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os</p><p>desafios da idade adulta.</p><p>Teoria do Trauma</p><p>Durante muito tempo, o aspecto mais conhecido e discutido da obra de</p><p>Freud era o da teoria da libido, que ele elaborou inspirado nos modelos da</p><p>eletrodinâmica ou da hidrodinâmica vigentes na ciência da época.</p><p>Assim, o conceito de libido, que Freud concebeu como sendo a</p><p>manifestação psicológica do instinto sexual, recebeu sua origem na tentativa de</p><p>explicar fenômenos, tais como os da histeria, que Freud explicava como sendo</p><p>resultantes do fato de que a energia sexual era impedida de expandir-se através</p><p>de sua saída natural e fluía, então, para outros órgãos, ficando restringida ou</p><p>contida em certos pontos e manifestando-se através de sintomas vá- rios.</p><p>Freud chegara à conclusão de que as neuroses, como a histeria, a</p><p>neurose obsessiva, a neurastenia e a neurose de angústia (fobia), teriam sua</p><p>causa imediata no aspecto “econômico” da energia psíquica, ou seja, num</p><p>represamento quantitativo da libido sexual.</p><p>Na neurastenia e na neurose de angústia, somente o represamento da</p><p>libido sexual é o que estaria em jogo, enquanto nas demais neuroses traumáticas</p><p>31</p><p>outros acontecimentos da vida passada também seriam fatores causadores dos</p><p>transtornos neuróticos.</p><p>Partindo inicialmente da concepção inicial de que o conflito psíquico era</p><p>resultante das repressões impostas pelos traumas de sedução sexual que</p><p>realmente teriam acontecido no passado, e que retornavam sob a forma de</p><p>sintomas, Freud postulou que os “neuróticos sofrem de reminiscências”, e que a</p><p>cura consistiria em “lembrar o que estava esquecido”. Penso que, para certos</p><p>casos, esta fórmula persiste na psicanálise atual como plenamente válida,</p><p>porquanto é bem sabido que “a melhor forma de esquecer é lembrar” ou, dizendo</p><p>de outra forma, “o sujeito não consegue esquecer daquilo que ele não consegue</p><p>lembrar”.</p><p>A diferença é que na época de Freud este relembrar visava unicamente a</p><p>uma ab-reação, uma catarse por meio da verbalização dos fatos traumáticos e</p><p>os respectivos sentimentos contidos nas lembranças, enquanto hoje os analistas</p><p>vão, além disso, e objetivam uma ressignificação dos significados atribuídos aos</p><p>traumas que o paciente está rememorando na situação psicanalítica. Assim, a</p><p>necessidade de desfazer as repressões introduziu dois elementos essenciais à</p><p>teoria e à técnica da psicanálise: a descoberta das resistências inconscientes e</p><p>o uso das interpretações por parte do psicanalista.</p><p>Teoria Topográfica</p><p>A teoria anterior perdurou até 1897, quando então Freud deu-se conta de</p><p>que a teoria do trauma era insuficiente para explicar tudo, e que os relatos das</p><p>suas pacientes histéricas não traduziam a verdade factual; mas sim que eles</p><p>estavam contaminados com as fantasias inconscientes que provinham de seus</p><p>desejos proibidos e ocultos. Daí, ele propôs a divisão da mente em três “lugares”</p><p>(a palavra “lugar”, em grego, é “topos”, daí teoria topográfica). A estes diferentes</p><p>lugares ele denominou: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente, sendo que</p><p>o paradigma técnico passou a ser: “tornar consciente o que estiver no</p><p>inconsciente”.</p><p>32</p><p>Em 1900, Freud publicou A interpretação de sonhos, no qual ele comprova</p><p>que o conteúdo</p><p>do sonho “manifesto” pode ser visto como um modo disfarçado</p><p>e “censurado” da satisfação de proibidos desejos inconscientes.</p><p>A propósito, essa fase teórica de Freud pode ser resumida com a sua</p><p>afirmativa de que “todo sonho, e sintoma, tem um umbigo que conduz ao</p><p>desconhecido do inconsciente”, sendo que, pode-se acrescentar, é a descoberta</p><p>do significado simbólico dos sonhos e sintomas que inaugura a psicanálise como</p><p>ciência propriamente dita.</p><p>A partir do seu fracasso com a análise de “Dora” – escrito em 1901, mas</p><p>que somente foi publicado em 1905, por razões de sigilo profissional –, Freud</p><p>obrigou-se a fazer profundas reflexões, sendo que ele chegou a afirmar que,</p><p>desde então, a técnica psicanalítica foi profundamente transformada. Pode-se</p><p>dizer que as principais transformações que se processaram nessa época foram:</p><p>a) a psicanálise deixou de ser uma detida investigação e busca de solução</p><p>de, separadamente, sintoma por sintoma;</p><p>b) a descoberta e a formulação do “princípio da multideterminação” dos</p><p>sintomas;</p><p>c) o próprio paciente é quem passou a tomar a iniciativa de propor o</p><p>assunto de sua sessão;</p><p>d) o analista substituiu a atitude de comportar-se como um investigador</p><p>ativo e diretivo por uma atitude mais compreensiva da dinâmica do sofrimento</p><p>do analisando;</p><p>e) abandono total da técnica da hipnose e da sugestão devido à</p><p>percepção de Freud de que as elas encobriam a existência de “resistências”;</p><p>f) estas últimas resultam de repressões, sendo que o retorno do reprimido</p><p>manifesta-se pelo fenômeno da “transferência”;</p><p>g) sobretudo, o “caso Dora” ensinou a Freud a existência e a importância</p><p>de o analista reconhecer e trabalhar com a “transferência negativa”.</p><p>Teoria Estrutural</p><p>À medida que se aprofundava na dinâmica psíquica, Freud tropeçava com</p><p>o campo restrito da teoria topográfica, por demais estática, e ampliou-a com a</p><p>concepção de que a mente comportava-se como uma estrutura no qual distintas</p><p>33</p><p>demandas, funções e proibições, quer provindas do consciente ou do</p><p>inconsciente, interagiam de forma permanente e sistemática entre si e com a</p><p>realidade externa. Desta forma, mais precisamente a partir do trabalho O ego e</p><p>o id (1923), ele concebeu a estrutura tripartite, composta pelas instâncias do id</p><p>(com as respectivas pulsões), do ego (com o seu conjunto de funções e de</p><p>representações) e do superego (com as ameaças, castigos, etc.). O paradigma</p><p>técnico da psicanálise foi formulado por Freud como: “onde houver id (e</p><p>superego), o ego deve estar”.</p><p>Conceituações sobre o Narcisismo</p><p>Embora não tenha sido formulado como uma teoria, os estudos de Freud</p><p>sobre o narcisismo abriram as portas para uma mais profunda compreensão do</p><p>psiquismo primitivo e constituíram-se como sementes que continuam</p><p>germinando e propiciando inúmeros vértices de abordagem por parte de autores</p><p>de todas correntes psicanalíticas. De acordo com o pensamento mais vigente</p><p>entre os autores, pode-se dizer que, na atualidade, um importante paradigma da</p><p>psicanálise atual pode ser formulado como “onde houver Narciso, Édipo deve</p><p>estar”. (Grunberger, 1979).</p><p>34</p><p>Dissociação do Ego</p><p>Aquele jovem Freud que ficara perplexo ao perceber uma dissociação da</p><p>mente que se manifestava nas pacientes histéricas durante o transe hipnótico</p><p>induzido por Charcot, foi aprofundando suas pesquisas sobre este fascinante</p><p>enigma até que ele ficou convencido de que esta clivagem da mente em regiões</p><p>conscientes e inconscientes não era específica e restrita às psicoses e neuroses,</p><p>mas que ela ocorria com todos os indivíduos. Assim, desde os seus primeiros</p><p>trabalhos com pacientes histéricas, Freud já falava de uma cisão interssistêmica</p><p>da qual resultam núcleos psíquicos independentes.</p><p>No entanto, é a partir de seu trabalho sobre Fetichismo (1927) e, de forma</p><p>mais consistente, em Clivagem do ego no processo de defesa (1940), que</p><p>escreveu ao apagar das luzes de sua imensa obra, é que Freud estudou a cisão</p><p>ativa, intrassistêmica, que ocorre no próprio seio do ego e não unicamente entre</p><p>as instâncias psíquicas. Com isso, Freud lançou novas sementes que</p><p>possibilitaram aos pósteros autores desenvolverem uma concepção inovadora</p><p>da conflitiva intrapsíquica, o que, creio, pode ser exemplificado com os trabalhos</p><p>de Bion (1967) sobre a existência concomitante em qualquer pessoa da “parte</p><p>psicótica e da parte não psicótica da personalidade” e cuja compreensão, por</p><p>parte do psicanalista, representa um enorme avanço na técnica e na prática</p><p>clínica.</p><p>Diante do exposto, o gênio de Freud possibilitou que, entre avanços,</p><p>recuos e sucessivas transformações, ele construísse os alicerces essenciais do</p><p>edifício metapsicológico e prático da psicanálise, sempre estabelecendo inter-</p><p>relações entre a teoria, a técnica, a ética e a prática clínica.</p><p>35</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ANDRADE, A. C. B. A teoria de desenvolvimento Psicossexual: Sigmund</p><p>Freud. Patos: Faculdades Integradas de Patos.</p><p>BOCK, A. M. B. A Psicanálise. In: BOCK, A. M. B. Psicologias: uma</p><p>introdução ao estudo de Psicologias. São Paulo: Saraiva, 2002, p.</p><p>COHEN, R. H. P. A lógica do fracasso escolar: psicanálise & educação.</p><p>Rio de Janeiro: Contra Capa.</p><p>COSTA, T. Psicanálise com crianças. Rio de Janeiro: Zahar.</p><p>FREUD, S. (1915b). Observações sobre o amor transferencial – novas</p><p>recomendações aos médicos que exercem a técnica da psicanálise in Edição</p><p>Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud</p><p>vol.XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1915c). Recalque in Edição Standard Brasileira das Obras</p><p>Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1915d). O inconsciente in Edição Standard Brasileira das</p><p>Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIV. Rio de Janeiro:</p><p>Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1919a). Sobre o ensino da psicanálise nas universidades in</p><p>Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund</p><p>Freud vol.XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1920). Mais além do Princípio do Prazer in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVIII. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1923b[1922]). O eu e o isso in Edição Standard Brasileira</p><p>das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIX. Rio de Janeiro:</p><p>Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1925[1924]). Resistências à psicanálise in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIX. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1933). Novas conferências introdutórias – Explicações</p><p>aplicações e orientações. in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas</p><p>Completas de Sigmund Freud vol.XXII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1937a). Análise terminável, interminável in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XXIII. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>36</p><p>FREUD, S. (1895). Estudos sobre a histeria in Edição Standard Brasileira</p><p>das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. II. Rio de Janeiro:</p><p>Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1900). A Interpretação dos Sonhos in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.V. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1905a). Os chistes e sua relação com o inconsciente in</p><p>Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund</p><p>Freud vol.VIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1904[1903]). O método psicanalítico de Freud in Edição</p><p>Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud</p><p>vol.VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1905b). Tratamento psíquico ou anímico in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.VII. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1910a). Cinco lições de psicanálise in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas</p><p>de Sigmund Freud vol.XI. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1910b). Psicanálise silvestre in Edição Standard Brasileira</p><p>das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XI. Rio de Janeiro:</p><p>Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1910c). As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica</p><p>in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund</p><p>Freud vol.XI. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1912a). Recomendações aos Médicos que exercem a</p><p>Psicanálise in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de</p><p>Sigmund Freud vol.XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1912b). A dinâmica da transferência in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XII. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1913a). Sobre o início do tratamento (novas</p><p>recomendações sobre a técnica da psicanálise) in Edição Standard Brasileira</p><p>das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XII. Rio de Janeiro:</p><p>Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1913b). O interesse científico da psicanálise in Edição</p><p>Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud</p><p>vol.XIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>37</p><p>FREUD, S. (1914a). A História do Movimento Psicanalítico in Edição</p><p>Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud</p><p>vol.XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1915a). O instinto e suas vicissitudes in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIV. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1917a[1916]). Conferência XXVII in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVI. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1917b[1916]). Conferência XVI in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVI. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1919b[1918]). Linhas de progresso da terapia psicanalítica</p><p>in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund</p><p>Freud vol.XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1923a[1922]). Dois verbetes de enciclopédia in Edição</p><p>Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud</p><p>vol.XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1923c). Prefácio ao relatório sobre a policlínica psicanalítica</p><p>de Berlim in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de</p><p>Sigmund Freud vol.XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1926a[1925). A questão da análise leiga – conversações</p><p>com uma pessoa imparcial in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas</p><p>Completas de Sigmund Freud vol.XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1926b[1925). Inibição, sintoma e angústia in Edição</p><p>Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud</p><p>vol.XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1930[1929]). Mal estar na civilização in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XXI. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S. (1937b). Construções em análise in Edição Standard</p><p>Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XXIII. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1996.</p><p>FREUD, S.(1901). Sobre a psicopatologia da vida cotidiana in Edição</p><p>Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.VI.</p><p>Rio de Janeiro: Imago, 1996.</p>