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<p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ</p><p>3ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS</p><p>Autos nº. 0000551-21.2022.8.16.0120</p><p>RECURSO INOMINADO Nº 0000551-21.2022.8.16.0120, DO JUIZADO</p><p>ESPECIAL CÍVEL DE NOVA FÁTIMA</p><p>RECORRENTE: BANCO PAN S.A.</p><p>RECORRIDO: OTACILIO CLEMENTE</p><p>RELATORA: JUÍZA TITULAR DA 3ª TURMA RECURSAL DENISE</p><p>HAMMERSCHMIDT</p><p>RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE</p><p>INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA E INDENIZAÇÃO POR</p><p>DANOS MATERIAIS E MORAIS DEVIDO À CONTRATAÇÃO DE</p><p>EMPRÉSTIMO QUE O AUTOR ALEGA NÃO TER CONTRATADO.</p><p>SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS</p><p>PARA: A) ANULAR O CONTRATO E DECLARAR INEXIGÍVEIS OS</p><p>DÉBITOS, DEVENDO O BANCO SE ABSTER DE REALIZAR NOVAS</p><p>COBRANÇAS; B) CONDENAR A RÉ AO PAGAMENTO DE</p><p>INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS NO VALOR DE R$ 6.000,00; E C)</p><p>CONDENAR A RÉ A RESTITUIR EM DOBRO OS VALORES</p><p>DESCONTADOS INDEVIDAMENTE DO BENEFÍCIO</p><p>PREVIDENCIÁRIO DO AUTOR, EM DOBRO. RECURSO INOMINADO,</p><p>DA RÉ, EM QUE REQUER A REFORMA DA SENTENÇA PARA</p><p>AFASTAR AS CONDENAÇÕES. SUBSIDIARIAMENTE, REQUER A</p><p>MINORAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E</p><p>A RESTITUIÇÃO DOS VALORES NA FORMA SIMPLES.</p><p>PRELIMINARMENTE, ALEGOU A INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO</p><p>ESPECIAL CÍVEL.</p><p>DA PRELIMINAR. A MERA ALEGAÇÃO DE NECESSIDADE DE</p><p>PRODUÇÃO DE PROVA COMPLEXA, POR SI SÓ, NÃO AFASTA A</p><p>COMPETÊNCIA DO JEC. ENUNCIADO Nº 2 DA TURMA RECURSAL</p><p>PLENA. PRELIMINAR REJEITADA.</p><p>DO MÉRITO. O CDC É APLICÁVEL. SÚMULA Nº 297 DO STJ.</p><p>INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA DEFERIDA NA ORIGEM.A</p><p>RECORRENTE DEIXOU DE COMPROVAR A CONTRATAÇÃO DO</p><p>EMPRÉSTIMO. AUSÊNCIA DE ASSINATURA ELETRÔNICA VÁLIDA.</p><p>AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO DO EMPRÉSTIMO. FALHA NA</p><p>PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DA RÉ, NOS TERMOS DO ART. 14 DO</p><p>CDC. RESTITUIÇÃO DE VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS PELO</p><p>AUTOR DE FORMA DOBRADA. CONDUTA DA RÉ EIVADA DE MÁ-</p><p>FÉ. DANO MORAL INDENIZÁVEL. QUANTUMFIXADO NA</p><p>SENTENÇA ATENDE AOS CRITÉRIOS DA PROPORCIONALIDADE E</p><p>RAZOABILIDADE. RAZÕES RECURSAIS QUE NÃO INFIRMAM O</p><p>JULGADO.SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS</p><p>FUNDAMENTOS, NOS TERMOS DO ART. 46 DA LEI Nº 9.099/95.</p><p>CONDENAÇÃO DA RECORRENTE AO PAGAMENTO DE CUSTAS E</p><p>HONORÁRIOS PROCESSUAIS, FIXADOS EM 20% DO VALOR</p><p>CORRIGIDO DA CONDENAÇÃO.</p><p>RECURSO INOMINADO CONHECIDO E DESPROVIDO.</p><p>Dispensado o relatório nos termos do Enunciado 92 do FONAJE.</p><p>I – VOTO</p><p>Presentes os pressupostos recursais de cabimento, conheço do recurso.</p><p>Trata-se de ação declaratória de inexistência de relação jurídica cumulada com indenização por danos</p><p>materiais e morais, ajuizada pelo autor, ora recorrido, devido a cobranças oriundas de empréstimo</p><p>consignado que alega não ter contratado. A sentença julgou procedentes os pedidos iniciais para: a)</p><p>anular o contrato e declarar inexigíveis os débitos, devendo o banco se abster de realizar novas</p><p>cobranças; b) condenar a ré ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 6.000,00; e c)</p><p>condenar a ré a restituir em dobro os valores descontados indevidamente do benefício previdenciário do</p><p>autor, em dobro.</p><p>Irresignada, a ré interpôs Recurso Inominado, em que requer a reforma da sentença para afastar as</p><p>condenações. Subsidiariamente, requer a minoração do valor da indenização por danos morais e a</p><p>restituição dos valores na forma simples. Ademais, preliminarmente, alegou a incompetência do Juizado</p><p>Especial Cível.</p><p>Preliminarmente, a recorrente alega ser o Juizado Especial Cível incompetente para julgar a presente</p><p>demanda por ser necessária a realização de perícia informática para averiguar a contratação eletrônica do</p><p>empréstimo.</p><p>Todavia, conforme será explicitado, é possível extrair dos documentos já existentes nos autos</p><p>entendimento satisfatório acerca da veracidade ou ausência dessa do contrato apresentado.</p><p>Ainda, conforme jurisprudência pacífica das Turmas Recursais deste Tribunal, a mera alegação de</p><p>necessidade de produção de prova complexa, por si só, não afasta a competência do Juizado Especial,</p><p>mormente quando não exauridos os meios investigatórios possibilitados pela Lei 9.099/95 (Enunciado nº</p><p>2, Turma Recursal Plena).</p><p>Preliminar rejeitada.</p><p>No mérito, impende esclarecer que, consoante o entendimento consolidado do Superior Tribunal de</p><p>Justiça, expresso na súmula nº 297, “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições</p><p>financeiras”. Inversão do ônus da prova deferida na origem (mov. 57 – autos originários).</p><p>No caso concreto, o recorrido alega que não realizou o empréstimo objeto dos autos. Por sua vez, a ré</p><p>alega que a contratação é legítima.</p><p>Após análise dos autos, percebe-se que a recorrente deixou de comprovar a veracidade da contratação,</p><p>conforme exposto na sentença proferida pelo juízo singular:</p><p>Destaca-se que nos áudios juntados em seq. 1.9 e 31, o atendente se identifica como Micael Souza,</p><p>oportunidade nas quais ele instrui a parte requerente do procedimento, dizendo que os dados passariam</p><p>pela esteira do banco e que o valor seria creditado no banco Itaú (instituição na qual é creditada</p><p>mensalmente a aposentadoria do requerente).</p><p>Assim, resta incontroversa a alegação da parte autora de que todos os atos por si praticados (envio de foto</p><p>e documentos) tiveram como finalidade apenas a liberação de valores advindos de um suposto reajuste, e</p><p>não de que se tratava de empréstimo, não havendo dúvidas de que houve indução do consumidor a erro.</p><p>Dessa forma, está demonstrada a ocorrência de fraude eletrônica feita pelo requerido, o que foi, inclusive,</p><p>registrado em Boletim de Ocorrência (seq. 1.2), configurando a prática de ato ilícito indenizável.</p><p>Verifica-se que há clara má-fé na conduta do Banco requerido, que literalmente mentiu para o autor a fim</p><p>de obter seu aceite em contratação não solicitada, aproveitando-se da inegável vulnerabilidade do</p><p>consumidor idoso.</p><p>Em somatória, constata-se que existem desconformidades no contrato assinado digitalmente pelo</p><p>requerente, uma vez que consta como objeto a contratação de empréstimo de R$ 22.347,84 (“valor</p><p>liberado ao cliente”, seq. 23.2, pág. 1), o que coloca em pauta a precariedade do referido contrato de</p><p>empréstimo consignado, haja vista que tal valor jamais foi depositado ao requerente.</p><p>Outrossim, considerando a inversão do ônus da prova que se impõe à presente relação consumerista,</p><p>analisando a documentação apresentada pelo Banco requerido, concebe-se que não houve comprovação</p><p>da solicitação ou da autorização expressa do consumidor, especificamente quanto aos contratos de</p><p>empréstimo consignado.</p><p>(...).</p><p>Desta forma, considerando a ausência de comprovação da regularidade da relação jurídica, ante o vício</p><p>de consentimento presente no negócio jurídico, a declaração da inexigibilidade dos débitos é medida de</p><p>direito que se impõe, confirmando a antecipação de tutela concedida em seq. 13.1.</p><p>No tocante a repetição do indébito, entendo que cabe a devolução em dobro dos valores descontados do</p><p>benefício do autor.</p><p>(...).</p><p>Deste modo, fixo a indenização por danos morais em R$ 6.000,00 (seis mil reais), valor suficiente para</p><p>cumprir as finalidades pedagógicas, punitivas e compensatórias, bem como para evitar o enriquecimento</p><p>sem causa do autor.</p><p>Quanto ao pedido contraposto feito pelo banco requerido, consistente na devolução do valor recebido</p><p>pela parte autora, verifica-se que houve a perda do objeto, uma vez que a devolução já foi realizada</p><p>espontaneamente nos autos (seq. 50).</p><p>(Mov. 57 – autos originários).</p><p>Outrossim, em relação ao da indenização, não assiste razão à recorrente no tocante ao pedido dequantum</p><p>minoração do valor da indenização por danos morais, pois o valor fixado em sentença é proporcional e</p><p>razoável para sanar o dano e cumprir com as finalidades pedagógica e repressiva, devido ao dano moral</p><p>causado.</p><p>Veja-se que a recorrente alega que contratos realizados de forma eletrônica são válidos, mas não se</p><p>desincumbiu do ônus de comprovar a efetiva contratação desses, seja por meio de gravação eletrônica do</p><p>recorrido solicitando os serviços, seja por meio de assinatura eletrônica</p><p>válida desse, entre outros.</p><p>Ante a ausência de comprovação da contratação, a recorrente não conseguiu se desincumbir do seu ônus</p><p>probatório, sendo forçoso entender pela ausência de contratação.</p><p>Alega a recorrente que é incabível a repetição em dobro porque não agiu com má-fé. Ora, a recorrente</p><p>deliberadamente cobrou valores de empréstimo que não conseguiu comprovar a efetiva contratação, de</p><p>forma que a clara abusividade contratual que ilicitamente traz vantagens para a ré em detrimento do</p><p>consumidor é atitude contrária à boa-fé objetiva, não subsistindo os argumentos de ausência de má-fé.</p><p>Nesse sentido, já julgou esta E. Turma Recursal:</p><p>RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. ALEGAÇÃO DE FRAUDE EM</p><p>EMPRÉSTIMO CONSIGNADO E CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO 1. .</p><p>PRELIMINARES. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR FACE DO BANCO</p><p>SAFRA. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA. INCOMPETÊNCIA DOS</p><p>JUIZADOS ESPECIAIS COM RELAÇÃO AO PEDIDO DE NULIDADE DOS</p><p>CONTRATOS FIRMADOS COM O BANCO PAN. NECESSIDADE DE PERÍCIA</p><p>GRAFOTÉCNICA. 2. MÉRITO. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM</p><p>RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. AUSÊNCIA DE PROVA DE ADESÃO.</p><p>CONTRATO NÃO ASSINADO. VALOR DEPOSITADO EM CONTA POUPANÇA</p><p>NÃO UTILIZADO. CONTRATAÇÃO NULA. RESSARCIMENTO EM DOBRO</p><p>DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM DOS VALORES COBRADOS.</p><p>FIXADO EM R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS). SENTENÇA PARCIALMENTE</p><p>REFORMADA. Recurso conhecido e parcialmente provido. (TJPR - 3ª Turma Recursal -</p><p>0008958-63.2020.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA</p><p>RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS ADRIANA DE LOURDES SIMETTE - J.</p><p>26.03.2021) (Grifou-se)</p><p>Desta forma, considerando que as razões recursais não são capazes de infirmar o julgado, a sentença</p><p>merece ser mantida por seus próprios fundamentos, nos termos do art. 46 da Lei 9.099/95:</p><p>Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação</p><p>suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for</p><p>confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.</p><p>Como disposto no artigo supracitado, apenas a ata com indicação suficiente do processo, fundamentação</p><p>sucinta e parte dispositiva se mostram necessários no caso de manutenção da sentença por seus próprios</p><p>fundamentos, elementos estes constantes no presente voto.</p><p>Ante o exposto, , nos termos do art. a manutenção da sentença se impõe pelos próprios fundamentos</p><p>46 da Lei nº 9.099/95.</p><p>Condeno, por força do art. 55 da Lei nº 9.099/95, a recorrente ao pagamento de custas e honorários</p><p>processuais, que fixo em 20% do valor atualizado da condenação. Tendo em vista o art. 4º da Lei</p><p>Estadual 18.413/14, não haverá devolução de custas recursais eventualmente pagas.</p><p>Pelo exposto, voto por conhecer e negar provimento ao Recurso Inominado.</p><p>É como voto.</p><p>tpp</p><p>Ante o exposto, esta 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve,</p><p>por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de BANCO PAN S.A., julgar pelo(a) Com Resolução</p><p>do Mérito - Não-Provimento nos exatos termos do voto.</p><p>O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Adriana De Lourdes Simette,</p><p>com voto, e dele participaram os Juízes Desembargadora Substituta Denise Hammerschmidt (relator) e</p><p>Juan Daniel Pereira Sobreiro.</p><p>30 de agosto de 2024</p><p>Denise Hammerschmidt</p><p>Juiz (a) relator (a)</p>