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<p>1</p><p>@eucamilateodoro</p><p>DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO II</p><p>PROFª CAMILA TEODORO DE LIMA E SILVA</p><p>Esta apostila trata-se de recortes do texto da doutrina, reservados todos os direitos autorais da</p><p>obra: PEDRO LENZA, Carla Teresa Martins Romar. Direito Processual do Trabalho (Portuguese</p><p>Edition). Saraiva Jur. Edição do Kindle.</p><p>UNIDADE I</p><p>TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL</p><p>1 CONCEITO</p><p>Recurso é um direito público subjetivo implícito ao direito de ação, conferido à parte</p><p>vencida ou ao terceiro prejudicado, para que possam submeter a decisão ao reexame pelo</p><p>mesmo órgão prolator da decisão ou outro órgão de grau superior, com o objetivo de anular ou</p><p>reformar total ou parcialmente a sentença. É um remédio cabível quando a decisão for</p><p>desfavorável, total ou parcialmente. (PEDRO LENZA, 2020, p. 541)</p><p>Os fundamentos do direito de recorrer são de várias ordens, como, por exemplo, a</p><p>motivação de ordem psicológica que decorre da insatisfação do litigante com a sentença que lhe</p><p>foi desfavorável e o reconhecimento de que possa haver erro ou má-fé por parte de quem</p><p>proferiu a decisão.</p><p>Contudo, o recurso, além de ser um direito da parte vencida, é também um ônus</p><p>processual, porque, para obter a reforma da decisão, salvo nos casos de reexame necessário, é</p><p>essencial a provocação da parte (a jurisdição é inerte, necessitando da iniciativa da parte – art.</p><p>2º, CPC).</p><p>Embora o legislador preveja que os recursos serão interpostos por simples petição (art.</p><p>899, CLT), o fato é que também no processo do trabalho devem ser preenchidos os pressupostos</p><p>recursais, sob pena de não conhecimento destes.</p><p>2 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS</p><p>O processamento dos recursos está condicionado à observância de determinados</p><p>requisitos ou pressupostos que autorizam o trâmite. Os pressupostos recursais são de ordem</p><p>subjetiva e de ordem objetiva, e a admissibilidade dos recursos está sujeita à verificação do seu</p><p>cumprimento (juízo de admissibilidade), que será feita tanto pelo próprio juiz que proferiu a</p><p>decisão recorrida a quem o recurso é dirigido para processamento (juízo de admissibilidade</p><p>prévio), como pelo juiz relator do tribunal que irá julgá-lo (juízo de admissibilidade definitivo).</p><p>2</p><p>@eucamilateodoro</p><p>Nos termos do art. 2º, XI, da Instrução Normativa n. 39/2016 do Tribunal Superior do</p><p>Trabalho, não se aplica ao processo do trabalho o art. 1.010, § 3º, do Código de Processo Civil,</p><p>que dispõe sobre a desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de admissibilidade na</p><p>apelação, tendo em vista a existência de previsões expressas na legislação trabalhista em</p><p>sentido oposto.</p><p>Exemplo, o art. 659, VI, da Consolidação das Leis do Trabalho (impõe ao juiz da vara do</p><p>trabalho “despachar os recursos interpostos pelas partes, fundamentando a decisão recorrida</p><p>antes da remessa ao Tribunal Regional...”), o art. 896, § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho</p><p>(prevê, expressamente, que o juízo de admissibilidade no recurso de revista será realizado,</p><p>inicialmente, pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho) e o art. 897, § 2º, da</p><p>Consolidação das Leis do Trabalho (admite a interposição de agravo de instrumento na hipótese</p><p>de não processamento do agravo de petição, sugerindo, portanto, o duplo juízo de</p><p>admissibilidade).</p><p>A observância ou não dos pressupostos subjetivos e objetivos irá, portanto, definir a</p><p>admissibilidade ou a inadmissibilidade do recurso interposto, ou seja, vai determinar se o</p><p>recurso possui ou não regularidade processual para ser processado.</p><p>Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão</p><p>colegiado (art. 3º, XXIX, IN TST n. 39/2016 – aplicação subsidiária do art. 1.021 do CPC, salvo</p><p>quanto ao prazo).</p><p>OS PRESUPOSTOS PODEM SER SUBJETIVOS OU OBJETIVOS.</p><p>2.1 PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS:</p><p>Legitimidade recursal é a habilitação outorgada por lei para que se possa recorrer. Nesse</p><p>sentido, podem recorrer (art. 996, CPC):</p><p>■ a parte vencida, total ou parcialmente;</p><p>■ o terceiro prejudicado ou interessado;</p><p>■ o Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.</p><p>Como partes que são, reclamante e reclamado têm legitimidade para interpor recurso.</p><p>O preposto não pode interpor recurso, mas o representante legal da empresa reclamada pode</p><p>firmar recurso, no exercício do jus postulandi. Para poder recorrer, o terceiro tem que</p><p>demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial</p><p>atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual</p><p>(art. 996, parágrafo único, CPC).</p><p>São pressupostos subjetivos:</p><p>■ a legitimidade;</p><p>■ a capacidade;</p><p>■ o interesse.</p><p>São pressupostos objetivos:</p><p>■ recorribilidade da decisão ou cabimento;</p><p>■ previsão legal;</p><p>■ adequação;</p><p>■ tempestividade;</p><p>■ preparo;</p><p>■ regularidade de representação.</p><p>3</p><p>@eucamilateodoro</p><p>É IMPORTANTE COMPLEMENTAR APROFUNDAR LEITURAS SOBRE A LEGITIMIDADE</p><p>E QUEM SÃO OS TERCEIROS INTERESSADOS. DOUTRINAS INDICADAS VIA SIGAA.</p><p>Além da legitimidade, também deve o recorrente ter capacidade no momento da</p><p>interposição do recurso. Tem capacidade para recorrer quem é capaz, nos termos do art. 7º,</p><p>XXXIII, da Constituição Federal e dos arts. 3º a 5º do Código Civil. Os incapazes serão</p><p>representados por seus pais, tutores ou curadores (art. 71, CPC).</p><p>Interesse recursal é a situação desfavorável em que a parte foi colocada em razão da</p><p>decisão. O interesse repousa na necessidade que tem o recorrente de obter a anulação ou a</p><p>reforma da decisão que lhe foi desfavorável.</p><p>É preciso, portanto, que tenha sucumbido, entendida a sucumbência como a não</p><p>obtenção, pelo recorrente, de tudo o que poderia ter obtido no processo. Assim, ainda que tenha</p><p>se saído vencedor na demanda, pode ter sucumbido e, consequentemente, ter interesse em</p><p>recorrer.</p><p>2.2 PRESSUPOSTOS OBJETIVOS</p><p>O ato judicial impugnado deve ser recorrível, pois o recurso somente poderá ser</p><p>processado e apreciado se não existir no ordenamento jurídico óbice ao exercício do direito de</p><p>recorrer. Verificando ser irrecorrível o ato judicial atacado, o órgão julgador não deve conhecer</p><p>do recurso.</p><p>São irrecorríveis no processo do trabalho os despachos de mero expediente (art. 1.001,</p><p>CPC), as decisões interlocutórias (art. 893, § 1º, CLT – salvo nas hipóteses previstas na Súm. 214,</p><p>TST) e as sentenças proferidas no procedimento sumário que não versem sobre matéria</p><p>constitucional (art. 2º, § 4º, Lei n. 5.584/70).</p><p>Os termos de conciliação lavrados na Justiça do Trabalho são irrecorríveis, somente</p><p>podendo ser atacados por meio de ação rescisória. A irrecorribilidade não atinge a Previdência</p><p>Social quanto às contribuições que lhe forem devidas (art. 831, parágrafo único, CLT e Súm. 259,</p><p>TST).</p><p>No entanto, não basta que o ato judicial impugnado seja recorrível. É necessário que o</p><p>recurso utilizado seja adequado, ou seja, deve estar em conformidade com a decisão por ele</p><p>impugnada. Para cada ato judicial recorrível existe um recurso adequado.</p><p>As partes somente podem interpor os recursos previstos em lei (exigência de previsão</p><p>legal). No processo do trabalho, os recursos cabíveis são os previstos no art. 893 da Consolidação</p><p>das Leis do Trabalho, além do recurso extraordinário, previsto no art. 102, III, da Constituição</p><p>Federal.</p><p>Os recursos devem ser tempestivos, ou seja, devem ser interpostos no prazo previsto</p><p>em lei. No processo do trabalho, os prazos dos recursos previstos no art. 893 da Consolidação</p><p>das Leis do Trabalho foram unificados, sendo todos de oito dias (art. 6º, Lei n. 5.584/70),</p><p>contados da intimação da decisão em audiência, por via postal ou por publicação no jornal oficial</p><p>(DEJT).</p><p>4</p><p>@eucamilateodoro</p><p>Os embargos declaratórios serão opostos no prazo de cinco dias (art. 897-A, CLT). O</p><p>recurso extraordinário, cabível no processo do trabalho, deverá ser interposto no prazo</p><p>de 15</p><p>dias. O prazo para interposição de recurso em matéria administrativa de decisão emanada de</p><p>órgão Colegiado do Tribunal Regional do Trabalho é de oito dias, salvo se houver norma</p><p>específica dispondo de forma contrária. Quando a decisão for prolatada monocraticamente, o</p><p>recurso em matéria administrativa tem prazo de dez dias (OJ TP 11, TST).</p><p>Vale lembrar que a contagem do prazo se dará em dias úteis, nos termos do art. 775 da</p><p>Consolidação das Leis do Trabalho, com redação dada pela Lei n. 13.467/2017 (Reforma</p><p>Trabalhista). Os entes públicos e o Ministério Público têm prazo em dobro para recorrer, ou</p><p>seja, 16 dias (Decreto-lei n. 779/69 e art. 188, CPC).</p><p>Os prazos recursais são peremptórios, sobre eles não podendo as partes convencionar.</p><p>Também o preparo é pressuposto recursal objetivo. O preparo no processo do trabalho</p><p>é o pagamento das custas processuais e do depósito recursal.</p><p>No processo do trabalho, as custas relativas ao processo de conhecimento são indicadas</p><p>na sentença (art. 832, § 2º, CLT) e incidirão a 2%, observado o mínimo de R$ 10,64 e o máximo</p><p>de quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, sendo</p><p>calculadas na forma prevista no art. 789 da Consolidação das Leis do Trabalho. Havendo recurso,</p><p>as custas deverão ser pagas dentro do prazo recursal, com comprovação do seu recolhimento</p><p>no mesmo prazo (art. 789, § 1º, CLT), sob pena de deserção (salvo exceções: sum. 25, III, TST;</p><p>sum. 86 TST).</p><p>São isentos do pagamento de custas, além dos beneficiários da justiça gratuita: (i) a</p><p>União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal e respectivas autarquias e fundações públicas</p><p>que não explorem atividade econômica; (ii) o Ministério Público. Não estão isentos do</p><p>pagamento de custas os órgãos de fiscalização da atividade profissional (art. 790-A, CLT). As</p><p>empresas em recuperação judicial não são isentas do pagamento de custas.</p><p>O depósito recursal é previsto no art. 899, § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho</p><p>e tem natureza de garantia do juízo para futura execução, razão pela qual é exigido quando</p><p>houver condenação em pecúnia e apenas em relação ao reclamado, quando este interpuser</p><p>recurso ordinário, recurso de revista, embargos no Tribunal Superior do Trabalho, recurso</p><p>extraordinário, agravo de instrumento e recurso ordinário em ação rescisória. Não é exigível o</p><p>depósito na interposição de agravo de petição nem de recurso ordinário em dissídio coletivo. É</p><p>exigido depósito recursal para o recurso adesivo, observados os mesmos critérios e</p><p>procedimentos do recurso principal.</p><p>É IMPORTANTE APROFUNDAR LEITURAS DE OUTRAS POSSIBILIDADE DE QUANDO É</p><p>CABÍVEL, ISENTO OU REDUZIDO O DEPÓSITO RECURSAL. DOUTRINAS INDICADAS</p><p>VIA SIGAA.</p><p>O depósito recursal não tem natureza jurídica de taxa de recurso, mas de garantia do</p><p>juízo recursal, que pressupõe decisão condenatória ou executória de obrigação de pagamento</p><p>em pecúnia, com valor líquido ou arbitrado.</p><p>5</p><p>@eucamilateodoro</p><p>O valor do depósito recursal equivale ao valor da condenação arbitrado na sentença,</p><p>limitado ao teto máximo fixado pelo Tribunal Superior do Trabalho. O valor do teto máximo</p><p>será reajustado periodicamente pelo TST, nos termos do art. 40 da Lei n. 8.177/91, com a</p><p>redação dada pelo art. 8º da Lei n. 8.542/92.</p><p>O depósito recursal será feito em conta vinculada ao juízo e corrigido com os mesmos</p><p>índices da poupança. O depósito recursal poderá ser substituído por fiança bancária ou seguro</p><p>garantia judicial (art. 899, §§ 4º e 11, CLT).</p><p>Ressalte-se que, em caso de recolhimento insuficiente das custas processuais ou do</p><p>depósito recursal, somente haverá deserção do recurso se, concedido o prazo de cinco dias</p><p>previsto no § 2º do art. 1.007 do Código de Processo Civil, o recorrente não complementar e</p><p>comprovar o valor devido (OJ SDI-1 140, TST).</p><p>Por fim, também deve ser observada a regularidade de representação, para o fim de</p><p>admissibilidade do recurso.</p><p>Embora no processo do trabalho seja admitido o jus postulandi das partes, a estas é dada</p><p>a faculdade de constituir advogados. Assim, caso a parte interponha o recurso por meio do seu</p><p>advogado, este deve ter procuração para tal fim, salvo em se tratando de mandato tácito.</p><p>O jus postulandi das partes, previsto no art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho,</p><p>limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação</p><p>rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal</p><p>Superior do Trabalho (Súm. 425, TST).</p><p>É IMPORTANTE APROFUNDAR LEITURAS DE QUANTO IMPORTA A REPRESENTAÇÃO.</p><p>NESSES CASOS, TORNA-SE REQUISITO INDISPENSÁVEL PARA O CONHECIMENTO DO</p><p>RECURSO. DOUTRINAS INDICADAS VIA SIGAA.</p><p>Parte da doutrina aponta, ainda, como pressuposto objetivo, a inexistência de fato</p><p>extintivo ou impeditivo do direito de recorrer. Os fatos extintivos consistem na renúncia (art.</p><p>999, CPC) e na aquiescência (art. 1.000, CPC), enquanto o fato extintivo consiste na desistência</p><p>do recurso (art. 998, CPC).</p><p>Cabem embargos de declaração em caso de manifesto equívoco no exame dos</p><p>pressupostos extrínsecos do recurso, sendo, nesse caso, admitido efeito modificativo da</p><p>decisão (art. 897-A, CLT).</p><p>Além desses pressupostos processuais genéricos, os recursos de natureza</p><p>extraordinária (recurso de revista, embargos no TST e recurso extraordinário) também devem</p><p>observar pressupostos específicos, tais como prequestionamento, divergência jurisprudencial,</p><p>delimitação da matéria, transcendência etc., que serão analisados nos itens seguintes, quando</p><p>do estudo de cada um desses recursos.</p><p>3 CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS</p><p>Os recursos podem ser classificados da seguinte forma:</p><p>6</p><p>@eucamilateodoro</p><p>■ Quanto à autoridade à qual se dirigem: próprios – quando julgados por órgão de</p><p>jurisdição superior; impróprios – quando dirigidos e julgados ao mesmo órgão prolator da</p><p>decisão impugnada.</p><p>■ Quanto à matéria: originários – quando têm por escopo a tutela do direito subjetivo</p><p>das partes por buscarem a revisão da matéria fática e/ou jurídica; extraordinários – quando têm</p><p>por escopo a tutela do direito objetivo e, por isso, não permitem a rediscussão de matéria fática</p><p>ou reexame de provas, pois não se destinam a corrigir a injustiça da decisão recorrida.</p><p>■ Quanto à extensão da matéria: total – quando atacar todo o conteúdo impugnável da</p><p>decisão; parcial – quando atacar apenas parte da decisão.</p><p>■ Quanto à forma de recorrer (quanto à autonomia): principal – quando interposto por</p><p>uma parte, independentemente da conduta da outra parte; adesivo – dependente de conduta</p><p>da outra parte para que seja interposto.</p><p>A doutrina ainda traz algumas classificações quanto ao recurso que ataca o error in</p><p>procedendo (erro formal) ou error in judicando (erro do juiz ao julgar a lide), quanto ao fim</p><p>colimado pelo recorrente (reforma, invalidação, esclarecimento ou integração) e quanto à</p><p>marcha do processo a caminho da execução.</p><p>4 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO</p><p>O duplo grau de jurisdição é decorrência da garantia constitucional da ampla defesa,</p><p>que é assegurada aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, com os meios e recursos</p><p>a ela inerentes (art. 5º, LV, CF). Consiste na possibilidade de submeter a lide a exames sucessivos,</p><p>perante órgãos judiciais distintos, e tem por fundamento a necessidade de se garantir uma boa</p><p>solução à lide.</p><p>A garantia do duplo grau de jurisdição não é ilimitada, podendo a lei infraconstitucional</p><p>restringir o cabimento dos recursos e suas hipóteses de incidência, como, por exemplo, dispõe</p><p>o § 4º do art. 2º da Lei n. 5.584/70, que restringe o cabimento de recurso nas ações trabalhistas</p><p>processadas pelo rito sumário às hipóteses envolvendo matéria constitucional.</p><p>Tratando-se de ação rescisória, na hipótese de ter sido reconhecida a decadência no</p><p>julgamento originário pelo Tribunal Regional do Trabalho,</p><p>o Tribunal Superior do Trabalho pode,</p><p>afastando a decadência, julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de</p><p>direito e estiver em condições de imediato julgamento, sem que reste caracterizada ofensa ao</p><p>duplo grau de jurisdição.</p><p>5 REEXAME NECESSÁRIO</p><p>Algumas sentenças não produzem efeitos antes de serem confirmadas pelo tribunal. São</p><p>as sentenças sujeitas ao reexame necessário, sendo os processos nas quais são proferidas</p><p>remetidos de ofício ao tribunal para apreciação.</p><p>Tais sentenças não produzem efeitos senão depois de confirmadas pelo tribunal. Estão</p><p>sujeitas à remessa necessária as sentenças:</p><p>(i) proferidas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas</p><p>7</p><p>@eucamilateodoro</p><p>respectivas autarquias e fundações de direito público;</p><p>(ii) que julgarem procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução</p><p>fiscal (art. 496, CPC).</p><p>No processo do trabalho, também está sujeita ao reexame necessário, mesmo na</p><p>vigência da Constituição Federal, decisão contrária à Fazenda Pública, salvo quando a</p><p>condenação não ultrapassar o valor correspondente a (Súm. 303, I, TST):</p><p>■ 1.000 (mil) salários mínimos para a União e as respectivas autarquias e</p><p>fundações de direito público;</p><p>■ 500 (quinhentos) salários mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as</p><p>respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que</p><p>constituam capitais dos Estados;</p><p>■ 100 (cem) salários mínimos para todos os demais Municípios e respectivas</p><p>autarquias e fundações de direito público.</p><p>Trata-se, portanto, de um limite quantitativo, de dimensão econômica.</p><p>Também não se sujeita ao duplo grau de jurisdição a decisão fundada em (Súm. 303, II,</p><p>TST):</p><p>■ súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho;</p><p>■ acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Tribunal Superior do</p><p>Trabalho em julgamento de recursos repetitivos;</p><p>■ entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou</p><p>de assunção de competência;</p><p>■ entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito</p><p>administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer</p><p>ou súmula administrativa.</p><p>Nessas hipóteses os limites são qualitativos, e referem-se à consonância da sentença</p><p>com orientação jurisprudencial ou administrativa assente.</p><p>A Súmula 303, III, do Tribunal Superior do Trabalho também prevê que, em ação</p><p>rescisória, a decisão proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho está sujeita ao duplo grau de</p><p>jurisdição obrigatório quando desfavorável ao ente público, exceto nas hipóteses previstas nos</p><p>itens I e II da Súmula.</p><p>Existem ainda outras hipóteses de cabimento da remessa necessária que estão previstas</p><p>em legislação extravagante.</p><p>6 PRINCIPIOS DO RECURSO</p><p>Todo e qualquer recurso interposto deve obedecer aos princípios fundamentais que</p><p>informam a teoria geral dos recursos:</p><p>■ Princípio do duplo grau de jurisdição – é postulado constitucional, derivado do devido</p><p>processo legal, e consiste na possibilidade de reexame da decisão judicial por quem a proferiu</p><p>ou por outro órgão da jurisdição.</p><p>8</p><p>@eucamilateodoro</p><p>■ Princípio da taxatividade – decorre da indicação expressa do legislador de que os</p><p>recursos colocados à disposição das partes são unicamente os previstos em lei, de forma</p><p>taxativa. Nesse sentido, o art. 994 do Código de Processo Civil, que se utiliza da seguinte</p><p>expressão: “são cabíveis os seguintes recursos”, e o art. 893 da Consolidação das Leis do</p><p>Trabalho, que estabelece: “das decisões são cabíveis os seguintes recursos”.</p><p>■ Princípio da singularidade (ou unirrecorribilidade) – de cada decisão judicial</p><p>recorrível é cabível um único tipo de recurso, sendo vedado à parte ou ao interessado interpor</p><p>mais de um tipo de recurso contra a mesma decisão. Importante ressaltar que a singularidade</p><p>não impede que, vencidos recíproca e parcialmente parcialmente reclamante e reclamado, cada</p><p>qual interponha recurso contra a decisão. Nesse caso não se está interpondo mais de um tipo de</p><p>recurso da mesma decisão, mas dois recursos da mesma espécie, em razão da sucumbência</p><p>recíproca.</p><p>■ Princípio da fungibilidade – aquele pelo qual se permite a troca de um recurso por</p><p>outro, ou seja, adotando-se a fungibilidade, o tribunal pode conhecer do recurso erroneamente</p><p>interposto, como se fosse o correto. Embora não haja uma previsão específica em lei a respeito</p><p>da fungibilidade, este princípio tem fundamento no art. 277 do Código de Processo Civil, que</p><p>dispõe: “Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz</p><p>considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade”. A fungibilidade</p><p>dos recursos somente é admitida se houver dúvida objetiva sobre qual o recurso cabível contra</p><p>determinado pronunciamento judicial e se inexistir erro grosseiro da parte que interpôs o</p><p>recurso errado.</p><p>■ Princípio da proibição da reformatio in pejus – como o recurso devolve ao órgão ad</p><p>quem o conhecimento apenas da matéria impugnada, não poderá o tribunal decidir mais do que</p><p>lhe foi pedido pelo recorrente, reformando, de forma desfavorável a ele, a decisão impugnada</p><p>na parte não discutida no recurso.</p><p>O recurso devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada (art. 1.013, CPC).</p><p>A doutrina traz como princípios recursais no processo do trabalho:</p><p>(a) irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias (que será detalhada no</p><p>item seguinte);</p><p>(b) instrumentalidade das formas;</p><p>(c) preclusão;</p><p>(d) transcendência ou prejuízo;</p><p>(e) da proteção ou do interesse;</p><p>(f) da convalidação;</p><p>(g) da causalidade, utilidade ou aproveitamento;</p><p>(h) manutenção dos efeitos da sentença;</p><p>(i) dialeticidade ou discursividade; e</p><p>(j) voluntariedade.</p><p>9</p><p>@eucamilateodoro</p><p>7 IRRECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS</p><p>A interposição de recurso exige a terminação do feito, com a apreciação ou não do</p><p>mérito. Assim, os recursos são cabíveis das sentenças e dos acórdãos.</p><p>No processo do trabalho, as decisões interlocutórias são irrecorríveis de imediato. Só</p><p>poderão ser apreciadas no recurso que vier depois, como preliminar (irrecorribilidade das</p><p>decisões interlocutórias) – (art. 893, § 1º, CLT). Trata-se de uma peculiaridade do processo do</p><p>trabalho, que tem por fundamento a celeridade processual e que deve sempre ser observada</p><p>(art. 1º, § 1º, IN TST n. 39/2016).</p><p>Nesse sentido, é importante ressaltar que no processo do trabalho as decisões sobre</p><p>exceção de suspeição ou de incompetência, salvo se terminativas do feito, são irrecorríveis de</p><p>imediato, somente podendo as partes discuti-las no recurso que couber da decisão final (art.</p><p>799, § 2º, CLT). Em relação ao tema, o Tribunal Superior do Trabalho adota o posicionamento da</p><p>Súm. 214, TST.</p><p>8 EFEITOS DOS RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO</p><p>Os efeitos podem ser:</p><p>▪ Devolutivo;</p><p>▪ Suspensivo</p><p>▪ Expansivo</p><p>▪ Substitutivo</p><p>▪ Modificado</p><p>Os recursos trabalhistas têm efeito meramente devolutivo (art. 899, CLT). O efeito</p><p>devolutivo é inerente a todo e qualquer recurso e dele decorre a devolução ao órgão ad quem</p><p>do reexame da matéria contida no recurso.</p><p>O órgão ad quem só poderá julgar as questões debatidas no processo e que constem das</p><p>razões do recurso mediante pedido de novo julgamento. Consiste, portanto, na delimitação de</p><p>conhecimento imposta pelo recurso ao órgão recursal.</p><p>A quantidade da devolução está na medida do tanto que se impugnou (tantum</p><p>devolutum quantum appellatum). “O efeito devolutivo dos recursos, portanto, impede que o</p><p>juízo ad quem profira julgamento além, aquém ou fora do contido nas razões recursais. É o que</p><p>também ocorre na primeira instância, uma vez que os arts. 141 e 492 do Código de Processo Civil</p><p>vedam a sentença ultra, extra ou citra petita”.</p><p>O efeito devolutivo pode ser:</p><p>■ gradual – sempre que a investidura do poder de processar</p><p>e julgar o recurso</p><p>ao órgão recursal estiver na dependência da prática de certos atos no juízo</p><p>recorrido. Como regra, no processo do trabalho o efeito devolutivo opera de</p><p>forma gradual (interposição perante o juízo recorrido e juízo de admissibilidade</p><p>prévio);</p><p>■ imediato – sempre que houver pronta investidura do órgão recursal do poder</p><p>de processar e julgar. Nesse caso, a investidura do poder não depende da prática</p><p>de atos no juízo recorrido. É no próprio órgão recursal que se processa o primeiro</p><p>10</p><p>@eucamilateodoro</p><p>juízo de admissibilidade e é nele, também, que o recorrido é chamado a oferecer</p><p>resposta (ex.: embargos de declaração, agravo regimental).</p><p>Como corolário, o efeito devolutivo pode ser, ainda:</p><p>■ próprio – quando a matéria for remetida (devolvida) ao conhecimento de</p><p>órgão jurisdicional hierarquicamente superior ao que tiver prolatado a decisão</p><p>impugnada (duplo grau);</p><p>■ impróprio – quando a matéria for remetida (devolvida) ao conhecimento do</p><p>mesmo órgão jurisdicional que tiver prolatado a decisão impugnada (duplo</p><p>exame). Alguns autores entendem ser este um efeito específico dos recursos,</p><p>que é chamado de efeito regressivo (ex.: embargos de declaração, agravo de</p><p>instrumento, no qual pode ser exercido o juízo de retratação).</p><p>Em face da compatibilidade, aplicam-se ao processo do trabalho os arts. 1.013 e 1.014</p><p>do Código de Processo Civil. Assim, embora a regra seja de que o recurso devolve ao tribunal o</p><p>conhecimento da matéria impugnada, serão objeto de apreciação e julgamento julgamento pelo</p><p>tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido</p><p>solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado.</p><p>Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um</p><p>deles, o recurso devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. Portanto, o recurso devolve</p><p>ao tribunal o conhecimento de todas as questões suscitadas, ainda que não apreciadas</p><p>totalmente pelo juízo a quo (efeito devolutivo em profundidade, ou efeito translativo).</p><p>Destaque-se, ainda, que, à luz do efeito translativo, ao órgão julgador cumpre examinar</p><p>de ofício as matérias de ordem pública14. No entanto, deixando o juízo a quo de apreciar</p><p>determinado pedido, não poderá o tribunal julgá-lo, sob pena de ficar caracterizada a supressão</p><p>de instância, o que implica nulidade absoluta do julgado (por denegação de justiça).</p><p>Assim, o efeito devolutivo em profundidade consiste na identificação de matérias que,</p><p>embora não tenham sido devolvidas mediante impugnação pelo recorrente (ou suscitadas nas</p><p>contrarrazões do recorrido), são transferidas ao órgão recursal com o recurso para</p><p>conhecimento. Trata-se de benefício comum fundado nos princípios da duração razoável do</p><p>processo e da economia, voltado para a economia de tempo e de atos e da eficiência da</p><p>administração da justiça.</p><p>Estando o processo em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde</p><p>logo o mérito, nos termos do art. 1.013, § 3º, do Código de Processo Civil, e quando reformar</p><p>sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito,</p><p>examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro</p><p>grau (art. 1.013, § 4º, CPC).</p><p>O efeito suspensivo do recurso consiste na qualidade que prolonga o veto à execução</p><p>imediata da decisão impugnada.</p><p>Somente por exceção os recursos trabalhistas terão efeito suspensivo, o que implica a</p><p>permissão da execução provisória do julgado até a penhora (art. 899, CLT). O efeito suspensivo</p><p>depende de autorização legal para que o juiz possa ordená-lo.</p><p>É admissível a obtenção de efeito suspensivo ao recurso ordinário mediante</p><p>requerimento dirigido ao tribunal, ao relator ou ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal</p><p>11</p><p>@eucamilateodoro</p><p>recorrido, por aplicação subsidiária ao processo do trabalho do art. 1.029, § 5º, do Código de</p><p>Processo Civil (Súm. 414, I, TST).</p><p>Os recursos também podem ter efeito expansivo, por meio do qual os efeitos da decisão</p><p>recursal são irradiados para atingir matérias ou atos não impugnados, ou outras pessoas além</p><p>dos recorrentes.</p><p>No primeiro caso fala-se em efeito expansivo objetivo (ex.: juiz não acolhe arguição de</p><p>coisa julgada em relação ao pedido de horas extras e reflexos. No recurso ordinário o recorrente</p><p>se insurge contra a rejeição da coisa julgada e da condenação no pagamento das horas extras,</p><p>mas não apresenta impugnação em relação aos reflexos.</p><p>Reconhecida pelo Tribunal a existência de coisa julgada em relação às horas extras, esta</p><p>decisão produz efeitos também sobre os reflexos das horas extras, ainda que não expressamente</p><p>impugnados). Quando os efeitos da decisão do recurso atingem outras pessoas, distintas dos</p><p>recorrentes, o recurso gera efeito expansivo subjetivo (ex.: litisconsortes – reconhecimento do</p><p>vínculo de emprego com um deles – condenação solidária ou subsidiária do outro – só o primeiro</p><p>recorre – tribunal reforma a sentença em relação ao vínculo, julgando a ação improcedente –</p><p>efeito atinge o outro litisconsorte).</p><p>Exatamente em razão do efeito expansivo subjetivo é que o Tribunal Superior do</p><p>Trabalho adotou o entendimento no sentido de que, havendo condenação solidária de duas ou</p><p>mais empresas, o depósito recursal efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a</p><p>empresa que efetuou o depósito não pleiteia sua exclusão da lide (Súm. 128, III, TST).</p><p>O efeito substitutivo dos recursos consiste na substituição dos capítulos da sentença</p><p>objeto de impugnação, pela decisão de mérito do órgão recursal a respeito deles (art. 1.008,</p><p>CPC). A decisão de mérito proferida pelo órgão recursal substitui a decisão impugnada no que</p><p>tiver sido objeto do recurso, uma vez que dentro do processo deve haver apenas um</p><p>procedimento final sobre cada ponto debatido.</p><p>Somente haverá substituição da decisão originária se o órgão recursal emitir</p><p>pronunciamento sobre o mérito do recurso, ainda que tenha sido de mera confirmação, não se</p><p>cogitando de efeito substitutivo do acórdão que não conhece do recurso.</p><p>O efeito modificativo, típico dos embargos de declaração, consiste na integração da</p><p>lacuna da sentença pela análise de ponto sobre a qual esta havia sido omissa ou na definição da</p><p>certeza de que as sentenças devem se revestir pela correção de contradição nela havida.</p><p>Também se admite no caso de exame dos pressupostos extrínsecos do recurso (art. 897-A, CLT).</p>

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