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INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA AULA 4 Profª Gisele Ziliotto A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Ao se atuar na área educacional, sobretudo na educação especial de acordo com a perspectiva inclusiva, há necessidade cada vez maior de atualização de conhecimentos de forma interdisciplinar, favorecendo a atuação de licenciados no contexto inclusivo junto aos estudantes que apresentam deficiências, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação. A atuação na educação também exige o desenvolvimento de habilidades e competências gerais e específicas que constituem o perfil profissional do egresso em Educação Especial, comprometido com uma práxis pedagógica em prol da valorização das diferenças e superação de adversidades e barreiras que impeçam os estudantes de aprender e participar da vida social e educacional. TEMA 1 – PERFIL DO EGRESSO Sob a perspectiva de uma sociedade inclusiva, as posturas atitudinais precisam acolher a diversidade humana, respeitando as diferenças individuais a fim de que, num plano coletivo, cada vez mais se ampliem as condições de acessibilidade – arquitetônica, urbanística, comunicacional, pedagógica –, e promovendo oportunidades de inserção social, laboral e educacional de todas as pessoas, em especial a do público-alvo da educação especial. Assim, a construção de um contexto social e escolar inclusivo [...] é de extrema relevância para assegurar os direitos de aprendizagem de todos, incluindo os direitos das pessoas com deficiência. Entendemos a educação inclusiva como um direito humano, um processo que possibilita combater e erradicar os estereótipos sociais que separam os ditos “normais” dos “anormais”. É o processo no qual as diferenças favorecem o crescimento do grupo, do coletivo. Para que seja efetivado, é necessário romper com os padrões convencionais de ensino e de aprendizagem, e criar condições para efetivar um processo em que todos contribuam para a concretização, de fato, do direito de aprender. (Pereira; Guimarães, 2019, p. 572-573) Nesse sentido, o estudante egresso da licenciatura em educação especial terá competências e habilidades voltadas para a compreensão da diversidade, entre as quais destacamos: A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 3 a) Planejar, intervir e avaliar o processo de aprendizagem, nos variados contextos, mediante a utilização de instrumentos e técnicas próprias da Educação Especial; b) Utilizar métodos, técnicas e instrumentos com a finalidade de identificar e intervir; c) Participar na formulação e na implantação de políticas públicas e privadas em educação e saúde relacionadas à aprendizagem e à inclusão social; d) Articular a ação da Educação Especial com profissionais de áreas afins, para atuar em diferentes ambientes de aprendizagem; e) Realizar consultoria e assessoria na Educação Especial; f) Atuar na coordenação e gestão de serviços de Educação Especial em estabelecimentos públicos e privados. Assim, o licenciado em educação especial precisa ter um olhar amplo e voltado à diversidade, tecendo o elo de apoio e de relações entre os profissionais da escola regular, as famílias dos estudantes e as especificidades das crianças e adolescentes público-alvo da educação especial. Para Machado (2011, p. 7), o profissional com formação em educação especial [...] estabelece articulação com o professor da sala de aula comum a fim de reconhecer as novas demandas e desafios que o aluno enfrenta na escola para a definição e a disponibilização de recursos que favoreçam o acesso do aluno ao currículo comum, sua interação no grupo, participação em todos os projetos e atividades pedagógicas e acesso físico aos espaços da escola. TEMA 2 – COMPETÊNCIAS E HABILIDADES GERAIS O curso de Licenciatura em Educação Especial na modalidade a distância possibilita que, na formação profissional do egresso, haja determinadas competências e habilidades, as quais se revelem na sua prática e no campo de atuação profissional. Pereira e Guimarães (2019, p. 582) salientam a necessidade da compreensão da diversidade por meio da realização de planejamento educacional em consonância com as necessidades educacionais especiais de seus estudantes, “[...] com atividades inovadoras e em detrimento de uma atuação padronizada e excludente, são pontos imprescindíveis para que se contemplem efetivamente os direitos de aprendizagem”. Entre tais competências e habilidades gerais, destacamos a produção de conhecimento com o objetivo de estudo do processo de ensino-aprendizagem, A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 4 que abrange a compreensão e intervenção nos problemas de aprendizagem. O curso tem caráter interdisciplinar, contando com a contribuição de outras áreas do conhecimento. Nesse sentido, compartilha-se a concepção de que [...] o processo de formação docente não se restringe a um determinado tempo de vida, tampouco ao espaço escolar e universitário. Extrapola os muros da escola e perpassa o cotidiano, os espaços culturais, de lazer e tantos outros espaços educativos. (Pereira; Guimarães, 2019, p. 572) TEMA 3 – CAMPO DE ATUAÇÃO O egresso licenciado em Educação Especial na modalidade a distância, por meio da fundamentação pedagógica, filosófica, legal e psicológica adquirida no decorrer do curso, poderá colocar em prática seus conhecimentos inter e multidisciplinares. Para aplicá-los no seu campo de atuação profissional, ele precisa considerar as discussões acerca de possibilidades e desafios [...] da atuação docente perante uma educação escolar que favoreça a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos com deficiência, no âmbito da escola comum, precisam dar visibilidade às interações com o outro e à construção de significados e sentidos em torno das práticas pedagógicas. Para tanto, é importante considerar contextos sociais mais amplos e concepções de ensinar e aprender que embasem práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores, bem como o papel central da escola no desenvolvimento dos educandos. (Pinto; Amaral, 2019, p. 4) O campo de atuação do profissional com formação em educação especial poderá envolver os serviços que veremos na sequência. 3.1 Serviços de atendimento educacional especializado A Política Nacional da Educação Especial na perspectiva Inclusiva, proposta pelo Ministério da Educação em 2008, valoriza que a educação especial é [...] uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, que disponibiliza recursos e serviços, realiza o atendimento educacional especializado e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. (Brasil, 2008, p. 15) Enquanto transversalidade da educação especial, o gráfico seguir ilustra a importância do alcance do suporte da educação especial nos diferentes níveis e etapas da educação, ampliando o campo de atuação do profissional formado em educação especial, que pode atuar nos diferentes segmentos educacionais, A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 5 desde a educação infantil, ensino fundamental e médio até a educação de jovens e adultos e educação superior. Quadro 1 – Transversalidade na educação especial Crédito: elaborado por Ziliotto, 2021, com base em Brasil, 2008. 3.1.1 Sala de Recurso Multifuncional Uma das frentes de atuação do atendimento educacional especializado consiste na Sala de Recurso Multifuncional (SRM), estabelecida por meio da Resolução n. 04/2009, que institui as DiretrizesOperacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica (Brasil, 2009). As salas de recursos multifuncionais se caracterizam como espaços educacionais presentes em escolas regulares que ofertam atendimento especializado realizado por professores com formação em educação especial no contraturno do período escolar do estudante com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. É importante lembrar que as atividades desenvolvidas pelos professores especializados visam complementar ou suplementar o desenvolvimento escolar dos estudantes por meio de atividades planejadas de forma individualizada de acordo com as necessidades educacionais especiais de cada estudante, os quais podem ser atendidos em grupo, em pares ou individualmente. O profissional é responsável por estabelecer parceria com as famílias e os docentes do ensino comum, articulando os saberes em prol do desenvolvimento escolar de cada estudante incluso. A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 6 3.1.2 Centro de atendimento educacional especializado De acordo com a mesma Resolução, o atendimento educacional especializado pode ser expandido em centros de Atendimento Educacional Especializado, conforme verificamos a seguir: Art 5º – O Atendimento Educacional Especializado é realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também, em Centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal e Municípios. (Brasil, 2009, p. 2) Em relação aos centros de atendimento educacional especializado, a Nota Técnica n. 55/2013 estabelece que o licenciado em educação especial pode atuar na “[...] articulação com os professores do ensino comum, visando à disponibilização de recursos de apoio necessários à participação e aprendizagem dos estudantes” (Brasil, 2013, p. 6). Nesse sentido, o profissional com formação em educação especial corrobora com a equipe pedagógica das escolas para minimizar as barreiras que possam estar comprometendo o processo de escolarização dos estudantes público-alvo da educação especial. Cabe lembrar que os centros de AEE podem ser compostos por equipe interdisciplinar (psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, pedagogos, professores) e ofertar serviços especializados em diferentes áreas, como na área da estimulação precoce, iniciação ao trabalho, atividades específicas na área da deficiência visual, intelectual, motora, entre outras. Outra vertente de serviço de atendimento educacional especializado na qual o profissional formado em educação especial pode contribuir é a dos chamados Núcleos de Acessibilidade Pedagógica (NAP), presentes nas Instituições de Ensino Superior, dado o aumento de estudantes público-alvo da educação especial matriculados em cursos de graduação e pós-graduação nas universidades brasileiras. O Programa Incluir, proposto em 2005 pelo governo federal, tem se consolidado propondo o serviço especializado nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), garantindo as adaptações necessárias às necessidades educacionais especiais, por meio da oferta de espaço físico A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 7 [...] com profissional responsável pela organização das ações, articulação entre os diferentes órgãos e departamentos da universidade para a implementação da política de acessibilidade e efetivação das relações de ensino, pesquisa e extensão na área. Os Núcleos deverão atuar na implementação da acessibilidade às pessoas com deficiência em todos os espaços, ambientes, materiais, ações e processos desenvolvidos na instituição. (Brasil, 2008b, p. 39) 3.1.3 Pedagogia hospitalar e domiciliar O licenciado em educação especial também é necessário para realizar o atendimento educacional especializado em ambiente hospitalar ou domiciliar, objetivando a continuidade dos conteúdos acadêmicos do ano escolar para os estudantes que apresentam quadros de saúde que os afastam do convívio educacional. Assim, ao regressar à escola, os estudantes que recebem este atendimento de cunho pedagógico podem ter melhores condições de acompanhar o currículo junto aos demais colegas da classe, evitando reprovações escolares. Para Xavier et al. (2013, p. 612), o funcionamento de classes hospitalares caracteriza-se [...] pelo atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambiente de tratamento de saúde por ocasião de internação, no atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental. É uma modalidade da Educação Especial, pois atende crianças e/ou adolescentes considerados com necessidades educativas especiais em decorrência de apresentarem dificuldades no acompanhamento das atividades curriculares por condições de limitações específicas de saúde. 3.2 Instituições de ensino Em âmbito educacional, o profissional com formação em educação especial pode atuar nas instituições de ensino comum compondo as equipes – tanto de ensino comum e/ou especializado – no que se refere às secretarias, diretorias de ensino e equipe interdisciplinar, por exemplo. As equipes pedagógicas das instituições educacionais podem se beneficiar dos conhecimentos do profissional habilitado em educação especial, envolvendo desde a gestão escolar, questões pedagógicas e instituições especializadas até a prestação de serviços de consultoria colaborativa que abarquem o desenvolvimento de práticas necessárias à acessibilidade, aprendizagem e participação dos envolvidos no processo escolar. A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 8 Cabe mencionar que legislações brasileiras preconizam a necessidade de se oportunizar o ensino profissionalizante aos estudantes público-alvo da educação especial, abrindo mais um leque de atuação ao profissional habilitado na área. De acordo com a Lei n. 12.513, de 26 de outubro de 2011 (Brasil, 2011), é necessária a inclusão desse público nas ações de educação profissional e tecnológica desenvolvidas pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), observando as reais condições de acessibilidade e participação. Redig e Glat (2017, p. 337) sinalizam que embora a proposta inclusiva [...] seja, hoje em dia, amplamente disseminada, inclusive pela mídia, é importante lembrar que as políticas de inclusão social de pessoas com deficiência não se restringem ao espaço escolar. Independentemente das condições de escolarização, alunos com deficiência, assim como os demais, precisam se preparar para sua futura inserção no mundo do trabalho. Além disso, a Lei n. 13.146 (Brasil, 2015), que versa sobre a colocação profissional competitiva da pessoa com deficiência, observa que a inclusão no mundo do trabalho precisa ocorrer com apoio “[...] que atenda às necessidades específicas da pessoa com deficiência, inclusive com a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, de agente facilitador e de apoio no ambiente de trabalho”. Assim, respeitadas as adaptações, a proposta pode representar [...] uma excelente oportunidade para aprendizagem, pois, quanto mais o jovem for exposto a diferentes experiências no mundo do trabalho, melhor ele poderá fazer sua opção profissional, bem como identificar os suportes que precisará. Durante as visitas, o professor pode aproveitar para se informar sobre as características que aempresa valoriza nos seus funcionários. Posteriormente, ele discutiria esses aspectos com seus estudantes, explorando que tipo de atividades laborais eles gostariam de desempenhar se fossem contratados por aquela empresa, e que atributos precisariam desenvolver para conseguir essa colocação. (Redig; Glat, 2017, p. 338) Como verificamos, o campo de atuação o profissional com formação em educação especial é amplo não somente no contexto educacional, mas também nos diferentes órgãos relacionados à assistência social, emprego, empresas, hospitais, entre outros. TEMA 4 – PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA PERSPECTIVA INCLUSIVA As práticas pedagógicas no contexto da educação inclusiva devem considerar a diversidade presente na escola regular e os estudantes que A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 9 apresentam deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Para tanto, é fundamental que o licenciado em Educação Especial reconheça as necessidades educacionais especiais do alunado e disponibilize serviços e recursos de acessibilidade para que todos usufruam do conhecimento. As atitudes dos professores com relação à inclusão escolar são essenciais na determinação do sucesso ou do fracasso da educação inclusiva, pois o processo de ensino e aprendizagem envolve a relação entre professor e aluno. [...] A qualidade da relação interpessoal entre professor e aluno apresenta-se como um dos fatores essenciais para o favorecimento do aprendizado. Em tal processo, variáveis pessoais do professor precisam ser consideradas, visto que podem influenciar práticas pedagógicas direcionadas aos alunos com diferentes características, incluindo aqueles que apresentam diferenças ou dificuldades especiais. (Marinho; Omote, 2017, p. 630) Nesta seara, destacamos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece a importância de atitudes que favoreçam o respeito à diversidade: [...] a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades. (Brasil, 2017, p. 14) Uma das premissas da educação inclusiva se concentra no reconhecimento das necessidades educacionais especiais de seus estudantes e nas devidas adaptações do currículo escolar como forma de possibilitar o acesso e participação dos estudantes público-alvo da educação especial no ensino comum. O currículo inclusivo [...] se destaca pelo caráter criativo e dinâmico, acolhendo a heterogeneidade em sala de aula, buscando atingir a todos os estudantes independente das características e fragilidades orgânicas que apresentem, diversificando o ensino e propondo mudanças para adequar seu cotidiano escolar a trabalhar de forma diferente, A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 10 sobretudo, possibilitando respostas educativas que atendam às singularidades dos alunos público-alvo da Educação Especial. (Ziliotto, 2020, p. 158) Nesse sentido, o profissional com formação em educação especial pode contribuir com a equipe pedagógica da instituição escolar no sentido de refletir junto aos docentes e pedagogos envolvidos no processo educacional sobre a necessidade de flexibilizar a prática educativa para estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Assim, as adequações curriculares [...] constituem, pois, possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõem que se realize a adequação do currículo regular, quando necessário, para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos. (Brasil, 2006, p. 61) É importante que as adequações curriculares sejam discutidas junto aos profissionais envolvidos – docentes, pedagogos, gestores –, objetivando “[...] equacionar as dificuldades dos estudantes, verificando a melhor adaptação a ser realizada a fim de que consiga atender às suas necessidades educacionais especiais” (Ziliotto, 2020, p. 147), além de possibilitar condições para que os estudantes acompanhem os componentes curriculares de forma significativa e acessível. TEMA 5 – COMPROMISSO POLÍTICO DO LICENCIADO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL O compromisso político dos profissionais envolvidos na educação perpassa a responsabilidade ética (Freire, 2001, p. 2): “[...] a responsabilidade ética, política e profissional lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar [...], essa atividade exige sua preparação, [para que] sua formação se torne [um] processo permanente”. Nesse sentido, a educação para Freire (2001) envolve o ato político que afeta a realidade dos sujeitos da história. O compromisso de promover a autonomia dos estudantes coaduna com a ação educativa que exige do profissional da educação uma formação continuada. [...] o postulado de inclusão social e educacional consiste em tornar toda a sociedade em um lugar para a convivência com a diversidade humana na efetivação de seus direitos, necessidades e potencialidades. Pontos de fragilidade humana passam a ser reconhecidos e valorizados, exigindo da sociedade uma adequação de A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 11 seus espaços socioculturais e econômicos para atender uma diversidade de habilidades, potencialidades e aptidões postas em interação. (Conforto et al., 2011, p. 22) De acordo com a legislação nacional acerca da formação de professores, devem ser abordados conteúdos pedagógicos referentes à Educação Especial, tais como: I – perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos e valorizar a educação inclusiva; II – flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento de modo adequado às necessidades especiais de aprendizagem; III – avaliar continuamente a eficácia do processo educativo para o atendimento de necessidades educacionais especiais; IV – atuar em equipe, inclusive com professores especializados em educação especial. (Brasil, 2001) A prática pedagógica inclusiva preza pela inovação da ação pedagógica, exigindo a permanente qualificação dos professores e envolvendo [...] procedimentos educacionais que tenham como base um diálogo constante, a preocupação de identificar como o aluno está se desenvolvendo, bem como a disponibilidade para modificar ou rearranjar situações de aprendizagem. (Vitaliano, 2007, p. 403) À medida que os profissionais da educação exercem o processo educacional de forma reflexiva, consciente e comprometida eticamente com a diversidade, afastam situações excludentes como outrora foram praticadas na história. A educação inclusiva, [...] impõe a necessidade de as escolas de todos os níveis de ensino rever[em] sua organização, seus critérios de aprovação e reprovação, seus programas e, especialmente, a formação dos profissionais que a[s] conduzem. Mas é, sobretudo, um processo que está em construção e se faz a cada momento que consegue diminuir práticas rotineiras desegregação e discriminação, oferecendo oportunidades adequadas de aprendizagem e participação para aqueles indivíduos que durante o processo histórico da humanidade foram excluídos. (Vitaliano, 2007, p. 403) Os egressos do curso de educação especial envolvidos eticamente com a educação inclusiva se caracterizam pela busca de qualificação e formação profissional constante, ajustando sua prática educacional em consonância com as reais necessidades educacionais especiais de seus estudantes, além de serem “[...] conduzidos para que realizem reflexões e indagações constantes a respeito de suas concepções, seus valores, suas atitudes e os efeitos destas sobre seus alunos” (Marinho; Omote, 2017, p. 632). A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 12 Cada vez mais o processo de inclusão escolar exige posturas de responsabilidade e de respeito à diversidade, pautadas em ações que valorizem condições de acessibilidade e mediação significativa de acesso ao saber sistematizado, promovendo o processo de aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Ao se comprometer eticamente, o profissional buscará romper com atitudes discriminatórias e buscará soluções para minimizar [...] barreiras para a sua efetivação com qualidade. Em teoria, quando o professor acredita ser capaz e está motivado para realizar seu trabalho, tende a permanecer empenhado por mais tempo, podendo se deparar com maiores chances de sucesso de aprendizagem, envolvimento, união e respeito de seus alunos. (Fernandes; Costa; Iaochite, 2019, p. 219) NA PRÁTICA Assista ao filme O milagre de Anne Sullivan, que apresenta o perfil de um sujeito engajado em uma educação que busca reconhecer as melhores possibilidades, as quais são valorizadas apesar das adversidades e dos problemas instalados socialmente com relação às pessoas com necessidades educacionais especiais. O filme conta a trajetória marcante da professora Anne Sullivan com Helen Keller, uma criança surda-cega. Anne buscou diferentes formas para o aprendizado, promovendo a comunicação e a interação social. Vale a pena conferir! FINALIZANDO Acompanhe a entrevista com a professora Sabrina Fernandes de Castro, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), convidada pela ESE/Licenciatura em Educação Especial-EaD para participar do "Aulão Interdisciplinar – ao vivo" com o objetivo de apresentar e discutir o tema "Campos de Atuação do Licenciado em Educação Especial". A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 13 Perfil do egresso Competências e habilidades gerais Campo de atuação profissional Práticas pedagógicas Compromisso político A luno: A LA N F E R N A N D E S V IE IR A M O N T E IR O E m ail: alan.m onteiro1812@ gm ail.com 14 REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução CNE/CBE n. 2, de 11 de setembro de 2001. Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília, DF, 11 set. 2001. Disponível em: . Acesso em: 4 set. 2021. ______. Base Nacional Comum Curricular. A educação é a base. Ministério da Educação. 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