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Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. Não é permitida a comercialização. Esta publicação foi realizada pela Neoprospecta Microbiome Technologies. Andrea C.S. Damian Mestre em Ciência dos Alimentos Florianópolis, 2º Edição Elaborado por: Camila M. M. Ferro Doutora em Engenharia de Alimentos Revisado e atualizado por: Informações: marketing@neoprospecta.com Índice Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Introdução Abordagem histórica Entenda as definições Prejuízos com as contaminações de alimentos Alimentos vulneráveis à contaminação Principais fontes de contaminação Contaminantes e doenças relacionadas Perigo microbiológico Perigo químico Perigo físico Controle das contaminações de alimentos Legislação Considerações finais Outros materiais Sobre a Neoprospecta 4 5 7 10 12 14 15 17 24 27 28 30 31 33 34 Introdução1. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os alimentos contaminados acometeram 582 milhões de pessoas com 22 doenças entéricas e já mataram mais de 351 mil pessoas nesta década, devido às contaminações de alimentos, sendo que as causas das mortes notificadas foram 52 mil por Salmonella sp, 37 mil por E. coli e 35 mil por norovírus. Outro dado alarmante é que, destas mortes, em torno de 40% eram crianças menores de 5 anos. As doenças provocadas por contaminações de alimentos e água, têm sido devastadoras para a saúde e a economia dos países, independente do grau de desenvolvimento do mesmo, condições sociais das populações e classes econômicas dos envolvidos. Esta situação é tão grave que estima-se que 2 milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de doenças oriundas de contaminações por alimentos e, embora os órgãos fiscalizadores realizem ações de conscientização e tragam informação sobre o assunto, o mesmo já se tornou um problema de saúde pública. No cenário em constante evolução da indústria de alimentos, o combate à contaminação continua sendo um desafio contínuo. No entanto, com o conhecimento, as práticas e as estratégias de comunicação corretas, os estabelecimentos de alimentos podem proteger efetivamente o bem-estar dos consumidores e proteger sua própria reputação. 4 5 Abordagem histórica das contaminações 2. A história da alimentação juntamente com a segurança de alimentos são assuntos bastante antigos. Existem registros de problemas relacionados à segurança e à integridade do alimento datados de 3400 a.C. no Egito e 2900 a.C. na China (ARIFFIN, 1993, p. 1). No ano 2000 a.C., Moisés determinou leis que estabeleciam quais alimentos poderiam ser consumidos e quais deveriam ser rejeitados, além de métodos de preparo e a importância da limpeza das mãos antes do consumo. De modo geral, os registros históricos sobre segurança de alimentos referem-se a intoxicações alimentares por produtos químicos ou venenosos, às vezes incorporados deliberadamente ou por fraudes. Somente no século XIX teve-se conhecimento de doenças alimentares ocasionadas ou veiculadas por micro- organismos (CARMO et al., 2005). A Revolução Industrial também teve sua importância no quesito contaminações e segurança de alimentos, pois fez com que, não somente o mundo se transformasse, mas também tomasse a decisão sobre o que comer. Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição À medida que as cidades cresciam, a população aumentava, e as plantações foram cedendo espaço às ferrovias e às estradas. Com isto os vegetais e demais alimentos que antes eram consumidos de forma fresca, foram sendo substituídos por alimentos que podiam ser transportados com facilidade que tinham durabilidade. Por outro lado, a vulnerabilidade de contaminantes também se propagou. Durante toda sua história, a humanidade conviveu com a fome, situação ainda presente em algumas regiões do planeta, sobretudo na África. Pragas, secas, inundações e longos invernos tinham efeitos devastadores e a falta de comida representava um perigo sempre à espreita. É compreensível, portanto, que os cientistas da era moderna tenham desenvolvido os defensivos agrícolas ("agrotóxicos") e os adubos artificiais para tentar garantir o abastecimento de populações cada vez maiores, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, porém, descobriu-se que essa alternativa tem efeito negativo não só para a saúde humana como também para a natureza. No século XX, os desafios foram maiores, ou seja, driblar as contaminações em alimentos. O desafio de alimentar grandes populações urbanas parecia ter sido plenamente resolvido com o aparecimento da comida enlatada, congelada, industrializada e do fast food. Só não se levou em consideração que, com essas mudanças, a segurança alimentar estaria sendo deixada de lado. Este reflexo é possível ser observado nos dias atuais, quer seja pelas doenças que foram se agravando ao longo destes anos, ou mesmo pela quantidade de novos contaminantes que foram sendo descobertos com a evolução dos processos industriais. A possibilidade de sistemas de transporte de matérias-primas e produtos acabados, bem como, a produção de alimentos, de forma globalizada, foi um dos precursores para a entrada de agentes causadores destas doenças. Para as organizações de saúde, a globalização da distribuição e demanda de alimentos aumenta a possibilidade de contaminantes extrapolarem fronteiras. 6 Entendendo as definições 3. O termo food security (segurança alimentar), de acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), significa o acesso a alimentos em quantidade suficiente, seguro e nutritivo para uma vida saudável. Já a expressão food safety (segurança de alimentos), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), está relacionada ao controle de doenças transmitidas por água e alimentos. Segurança de Alimentos X Segurança Alimentar Food Quality O termo Food Quality (qualidade alimentar) está relacionado a fatores da cadeia produtiva que influenciam no valor de um produto para o consumidor, ou seja, todos os atributos relacionados diretamente com a qualidade do produto. A exemplo, Cor, sabor, textura, métodos de processamento, etc. O conjunto dessas definições iniciais atuam com um objetivo em comum, garantir a qualidade do alimento. 7 Classificação dos perigos Perigo é o evento que causa algum dano à vida. No caso de uma contaminação de alimento por um material metálico, o metal é o perigo. Risco é a chance de um perigo ocorrer. Quando se utiliza um equipamento com um metal de alta qualidade e bem fixado à máquina, a chance de ocorrer o desprendimento de uma lâmina metálica é menor do que quando o material utilizado for de baixa qualidade. (DAMIAN et al, 2008). Os perigos são classificados de acordo com sua natureza e podem ser biológicos, químicos ou físicos (GUIA, 2000): Biológicos – são aqueles causados por organismos presentes nos alimentos capazes de causar infecções ao homem ou produzir toxinas. Perigos biológicos são bactérias, vírus e parasitas patogênicos, toxinas naturais, toxinas microbianas e metabólitos tóxicos de origem microbiana. Físicos – é quando ocorre pela existência de algum elemento físico presente no alimento. Perigos físicos incluem fragmentos de vidro, metal, madeira, ou outros objetos que possam causar dano físico ao consumidor (feridas na boca, dentes quebrados ou outro tipo de lesão que necessite de intervenção médica para retirar o agente do organismo do consumidor). Químicos – é quando se tem uma contaminação por alguma substância química capaz de causar dano à saúde humana. Perigos químicos são pesticidas, herbicidas, contaminantes tóxicos inorgânicos, antibióticos, micotoxinas, metais pesados, promotores de crescimento, aditivos alimentares tóxicos, desinfetantes, lubrificantes e tintas. Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição 8 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria deAlimentos- 2º Edição Surto de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) Infecção transmitida por alimentos Toxinfecção alimentar É definido pelo CDC (Centrer for Disease Controle) nos EUA como um incidente em que duas ou mais pessoas apresentam uma doença semelhante após a ingestão de um mesmo alimento, e as análises epidemiológicas apontam o alimento como a origem da doença. Entretanto, um único caso de botulismo ou envenenamento químico pode ser suficiente para desencadear ações relativas a um surto, devido à gravidade desses agentes. É uma doença que resulta da ingestão de alimentos contendo micro-organismos vivos prejudiciais, como Salmonella, Shigella, vírus da hepatite A e Trichinella spirallis. Acontece quando o indivíduo ingere um alimento contaminado por micro-organismos patogênicos e estes liberam a toxina no organismo humano. Alguns exemplos de toxinfecção alimentar: cólera (doença causada pela enterotoxina produzida pela bactéria Vibrio cholerae). Intoxicação causada por alimento É a doença que ocorre quando as toxinas ou os venenos de bactérias ou bolores estão presentes no alimento ingerido. Essas toxinas geralmente não possuem odor ou sabor e são capazes de causar doenças mesmo depois que os micro-organismos sejam eliminados. Algumas toxinas podem estar naturalmente presentes no alimento, como no caso de alguns fungos e animais, como o baiacu. Toxina botulínica, a enterotoxina do Staphylococcus, as micotoxinas ou as saxitoxinas de dinoflagelados, são alguns exemplos de toxinas encontradas em alimentos. 9 http://www.cdc.gov/foodborne/ Prejuízos resultantes das contaminações de alimentos 4. Os alimentos contaminados representam riscos econômicos aos países, sem contar os custos envolvidos com a retomada da imagem da empresa prejudicada devido a ter o nome envolvido em casos de contaminações. Estima-se que um único caso de surto de E.coli na Alemanha em 2011, causou prejuízos de US$1,3 bilhões, pagos por 22 países da União Europeia. Um estudo publicado em abril de 2023 no Journal Plos One demonstrou que os custos totais da infecção e sequelas ocasionadas por Campylobacter na Alemanha em 2017 variaram entre € 74,25 milhões e € 95,19 milhões (R$ 365 milhões e R$506 milhões). Entre os custos envolvidos em casos de contaminações, deve-se ressaltar a logística reversa, recall, análises de alimentos, reformulação da imagem da empresa, custos com marketing, indenizações, entre outros. Porém, culturalmente pode-se afirmar que em países da União Europeia, Canadá, Estados Unidos, entre outros, a comunicação com os órgãos fiscalizadores sobre a contaminação de alimentos é efetiva. 10 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Uma prova disto é a quantidade de recalls realizados na comunidade Europeia em comparação ao número de recalls ocorridos no Brasil. Apesar do baixo número de recalls, o gráfico abaixo demonstra a evolução dos recalls no Brasil ao longo do período de 2009 a 2018, ressaltando que o mesmo não é exclusivo para alimentos. Nos últimos cinco anos (2014-2018), no Brasil, foram registrados 701 novos recalls. Entretanto, apenas cerca de 2% foi referente a alimentos, o que é muito abaixo do que outros países divulgam. Fonte: Boletim Recall em números 2019. Os mesmos 2% de recalls registrados em 2016, ano da última divulgação do boletim de recalls. Apesar do mesmo percentual de recalls relacionados a alimentos, atualmente o terceiro maior setor em número de produtos defeituosos é a indústria de alimentos. Seus 14 recalls estão correlacionados a reclamação de 2.076.980 consumidores. Fonte: Boletim Recall em números 2019. 11 Alimentos vulneráveis à contaminação 5. Os mesmos podem estar contaminados principalmente com bactérias patogênicas como a Salmonella, E. coli e Listeria. O leite sem pasteurização tem 150 vezes mais chances de causar doenças do que os produtos lácteos pasteurizados. A mesma regra vale para os sucos. Um caso recente de contaminação envolvendo leite cru ocorreu na França. Em maio de 2023 (Whitworth, 2023), quatro crianças e um adulto foram infectados pela E. coli produtora da toxina Shiga (STEC) O26:H11, e as autoridades de saúde suspeitam que o leite cru fermentado foi o causador da contaminação. Leite e sucos sem pasteurização Desde o meio da década de 1990 os brotos crus ou levemente cozidos já foram ligados a mais de 30 surtos bacterianos nos Estados Unidos, principalmente causados por Salmonella e E. coli. Brotos e germinados (de soja, feijão, alfafa etc) crus 12 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Ovos crus ou semi crus Desde o meio da década de 1990 os brotos crus ou levemente cozidos já foram ligados a mais de 30 surtos bacterianos nos Estados Unidos, principalmente causados por Salmonella e E. coli. Ovos precisam ser mantidos na geladeira e precisam ser bem cozidos para evitar o desenvolvimento de bactérias como Salmonella sp. O ovo é um dos alimentos mais nutritivos e presente diariamente na alimentação humana, contudo é um alimento de alto risco. Ostras e outros moluscos crus Devido à origem animal e a velocidade de deterioração em temperatura ambiente, as carnes mal passadas são uma grande fonte de substrato para o desenvolvimento de micro- organismos, tais como a E. coli. Este fato torna imprescindível fazer com que os mesmos atinjam temperaturas de eliminação de micro-organismos. Temperaturas de cocção acima de 70°C internamente, podem eliminar ou diminuir a chance de intoxicação por E. coli, Salmonella e outras bactérias. Carnes mal passadas Nos últimos anos houve um grande avanço nas vendas de saladas, frutas ou verduras lavados, cortados, higienizados e prontos para o consumo. Muitas vezes, a higienização não ocorre no mais rígidos critérios de qualidade, sendo um fator a mais para a proliferação dos micro- organismos, tais como Listeria sp, Clostridium botulinum, Salmonella sp, E.coli, entre outros. A exemplo, em maio de 2023, uma empresa americana realizou o recall de espinafre fresco pronto para o consumo devido à possível contaminação por Listeria monocytogenes (Desk, 2023). Frutas e vegetais mal higienizados 13 Principais fontes de contaminações 6. Ar ambiente Para a contaminação dos alimentos acontecer, é necessária a existência de uma fonte, que irá representar o veículo de contaminação, ou seja, o transportador do contaminante até o alimento. Basicamente, as principais fontes de contaminantes dos alimentos são os seguintes: A contaminação dos alimentos via ar ocorre porque os esporos de micro- organismos são transportados facilmente pelas correntes de ar e chegam até os alimentos quando estes estão desprotegidos. Animais, pragas e vetores urbanos A presença de animais e pragas domésticas nos locais onde os alimentos são acondicionados e preparados constituem fontes perigosas de contaminação, sendo estes indesejáveis nas áreas de manipulação e armazenamento dos alimentos. As instalações físicas devem seguir recomendações adequadas de acordo com os requisitos regulamentares e estatutários, quanto aos requisitos de revestimento, iluminação, drenagem de água, layout, fluxo de produção, entre outros. Sem essas recomendações básicas, a instalação física pode se tornar fonte de contaminação dos alimentos e dificultar o trabalho dos manipuladores. Instalações físicas A higienização inadequada das instalações, equipamentos e nos utensílios utilizados na manipulação dos alimentos podem se tornar potenciais fontes de contaminação. Higienização nas instalações, móveis, equipamentos e utensílios A água é uma matéria-prima essencial para os diversos processos de manipulação dos alimentos. Porém, ela necessita de tratamento e comprovação através de análises, comprovando a potabilidade da mesma para que seja adequada à elaboração de alimentos seguros. Água 14 Principais contaminantes e doenças relacionadas 7. Diversas doenças podem ser transmitidas por alimentos, desde aquelas que causam um simples distúrbiodo sistema digestivo até a morte do consumidor. A industrialização de alimentos, ao mesmo tempo em que permite técnicas mais aprimoradas de conservação e controle de processo, permite também a produção em larga escala. Se um lote apresentar contaminação e esta não ser controlada em tempo hábil, pode causar surtos de grande abrangência pela distribuição do alimento. Muitas doenças causadas por bactérias patogênicas são famosas, como a salmonelose, causada por uma bactéria do gênero Salmonella, que habita o trato intestinal de homens e animais, podendo ser transferida para alimentos e causar diarréia. A bactéria é lembrada popularmente por causa do ovo ou da maionese, porque está presente na parte externa de ovos de aves (DAMIAN et al, 2008). Botulismo é uma doença causada pela toxina do Clostridium botulinum, uma bactéria capaz de resistir a processos térmicos e produzir a toxina botulínica, que pode provocar a morte. É bastante conhecida por causar surtos e mortes pelo consumo de palmitos mal preparados ou conservados (DAMIAN et al, 2008). 15 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição De acordo com Damian (2008), uma gastrenterite muito comum veiculada por alimentos é causada pela ingestão da toxina do Staphylococcus aureus, bactéria presente nas mãos, na boca e no trato respiratório de manipuladores de alimentos e animais. A toxina pode resistir até 20 minutos de fervura e os sintomas são diarreia e vômito intensos em pouco tempo após a ingestão do alimento contaminado. Os protozoários causam doenças gastrointestinais e são frequentemente veiculados pela água e pelos alimentos crus. Amebíase, giardíase, criptosporidiose e toxoplasmose, são algumas doenças causadas por protozoários. A toxoplasmose é adquirida pelo consumo de carnes cruas ou mal passadas contaminadas com cistos, que podem provocar desde sintomas brandos, como dores no corpo, até pneumonia, lesões oculares ou cerebrais, e em alguns casos a morte. O consumo de verduras cruas mal higienizadas é outra forma de contaminação (DAMIAN et al, 2008). Fonte: https://bioemfoco.com.br/ A cisticercose é uma doença causada pelo consumo de carne suína mal cozida. A carne desta espécie animal pode estar contaminada com Cysticercus cellulosae que quando consumida pelo homem sem o cozimento adequado adquire a Taenia solium, eliminando ovos deste parasito pelas fezes. O consumo de ovos da Taenia solium em verduras mal higienizadas ou na água pode levar à formação de cistos em diversos tecidos do organismo humano e animal (suíno), inclusive podendo ocorrer cistos no cérebro, com prejuízo às funções nervosas (DAMIAN et al, 2008). Os fungos e leveduras estão mais relacionados à deterioração, mas isto não quer dizer que os mesmos não causem doenças. É importante ressaltar que os fungos são produtores de micotoxinas e que estas estão relacionadas a casos de câncer, entre outras doenças em seres humanos e em animais. A Aflatoxina, por exemplo, é uma das micotoxinas (toxinas produzidas por fungos) mais conhecidas (presente em amendoim, milho e outros grãos), que pode provocar o desenvolvimento de câncer de fígado pelo consumo prolongado. Atualmente, as doenças veiculadas por alimentos (DVAs) são consideradas um problema de saúde pública e entram na lista das possíveis armas de bioterrorismo. Entre os principais agentes causadores de contaminações e doenças veiculadas por alimentos temos as bactérias, parasitos, vírus, perigos químicos e físicos. 16 Micro- organismos causadores de doenças ou deterioração nos alimentos 8. A Salmonella spp é encontrada normalmente no trato intestinal do homem e dos animais, exceto dos peixes, moluscos e crustáceos, que podem se contaminar após a pesca (ELEMENTOS, 1999). As espécies registradas com maior frequência em contaminações em alimentos e surtos alimentares são Salmonella bongori e Salmonella enterica. As fontes de contaminação por Salmonella são os animais domésticos, o homem (trato intestinal), pássaros e alguns répteis (IDEXX, 1998). Os alimentos associados à doença causada por Salmonella spp são carne crua, frango, ovos, leite e derivados, pescados, camarão, patas de rã, leveduras, molhos e temperos para saladas, misturas para bolos, sobremesas recheadas com creme e cobertura, gelatina em folha, manteiga de amendoim, cacau e chocolate. Salmonella spp 17 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição A Shigella raramente ocorre em animais, é principalmente uma causadora de doença humana. O micro-organismo é frequentemente encontrado em águas contaminadas com fezes humanas (FDA, 1992). Os alimentos associados à Shigella são saladas (batata, atum, camarão, macarrão e frango), vegetais crus, laticínios e aves. Água poluída com dejetos e hábitos não sanitários dos manipuladores de alimentos são as principais causas de contaminação (FDA, 1992). As fontes de Shigella são as fezes de pessoas contaminadas e as moscas (IDEXX, 1998). As medidas de controle para Shigella baseiam-se em cuidados para evitar a contaminação dos suprimentos de água com dejetos humanos, hábitos adequados de higiene pessoal e Boas Práticas de Higiene, limpeza e sanitização no processamento de alimentos. Shigella spp Escherichia coli Escherichia coli é um habitante normal do intestino de todos os animais. As fontes de contaminação dos alimentos são os animais, principalmente bovinos, o homem e a água, que se contaminam pelo contato com matéria fecal durante o processamento de alimentos de origem animal ou por falhas na manipulação (FDA, 1992). A E. coli O157:H7 é um dos sorotipos de maior importância, pois produz grande quantidade de uma ou mais toxinas potentes que causam grave lesão na mucosa intestinal. Algumas pessoas afetadas, principalmente as muito jovens, desenvolvem a síndrome hemolítico-urêmica (SHU), caracterizada por falência renal e anemia hemolítica, que pode resultar em perda permanente da função renal (SCOTT; MOBERG, 1995), sendo 50% dos casos são fatais. Bacillus cereus e Bacillus spp As fontes de contaminação são o solo e a poeira, trato intestinal de animais e do homem (IDEXX, 1998). Vários alimentos, incluindo carnes, leite, vegetais e pescados estão associados à intoxicação alimentar do tipo diarreico. Os surtos eméticos geralmente estão relacionados com produtos de arroz, mas outros alimentos amiláceos, como batata e macarrão, e produtos à base de queijo também foram identificados. Misturas de alimentos, como molhos, pudins, sopas, caçarolas, produtos de panificação e confeitaria e saladas têm sido frequentemente associados a surtos de intoxicação alimentar (FDA, 1992). 18 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição A fonte de contaminação alimentar é a matéria fecal de gado, animais domésticos e selvagens (IDEXX, 1998). As cepas de Y. enterocolitica podem ser encontradas em carnes (suína, bovina, ovina, etc.), ostras, pescado e leite cru. O controle depende de cozimento adequado e conservação de alimentos prontos para o consumo em temperaturas abaixo de 5 °C, prevenção de contaminação cruzada e controle da Yersinia em suínos, que são o principal reservatório desta bactéria (ELEMENTOS, 1999). O número de infecções por Y. enterocolitica é consideravelmente menor quando comparado a infecção por outros micro-organismos como Salmonella, por exemplo. Mas, apesar de baixo, eles continuam a ocorrer. Desk (2022) relatou que um surto na Dinamarca envolveu 200 pessoas expostas à Yersinia enterocolitica após comer um prato à base de macarrão contaminado em um piquenique. Yersinia enterocolitica Campylobacter spp Alguns estudos demonstraram que C. jejuni é a principal causa de doença diarreica bacteriana nos Estados Unidos, sendo mais prejudicial que Shigella spp e Salmonella spp (FDA, 1992). As fontes de contaminação são aves, pescados, gado e animais domésticos (IDEXX, 1998). As complicações são relativamente raras, mas essas infecções foram associadas à artrite reativa, síndrome hemolítico-urêmicacom septicemia e infecção de quase todos os órgãos. Alguns casos de aborto séptico por C. jejuni foram documentados. C. jejuni normalmente contamina frango cru, e o leite cru também é uma fonte de infecção. A bactéria também pode ser transportada por gado bovino sadio e moscas em fazendas. Outra fonte de infecção é a água não clorada (FDA, 1992). 19 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição O Vibrio parahaemolyticus ocorre naturalmente em estuários e outras áreas costeiras. Na maioria desses locais, o V. parahaemolyticus está presente em números elevados durante os meses quentes. A bactéria necessita de sal para sobreviver (ELEMENTOS, 1999). Essa bactéria causa uma gastroenterite e está associada ao consumo de pescados e mariscos crus, mal cozidos ou cozidos e re-contaminados. A refrigeração inadequada de pescados contaminados permite sua proliferação, aumentando a possibilidade de infecção (FDA, 1992). As medidas para controlar o V. parahaemolyticus incluem o cozimento completo de pescados e a prevenção da contaminação após o cozimento. O controle de tempo e temperatura também são importantes. O controle envolve práticas de higiene pessoal e evitar o consumo de pescados crus (ELEMENTOS, 1999). Vibrio parahaemolyticus Vibrio vulnificus O Vibrio vulnificus está normalmente presente em ambientes marinhos e essa bactéria precisa de sal para sobreviver. É encontrada principalmente no Golfo do México, mas são também isoladas nos Oceanos Atlântico e Pacífico, sendo mais frequente nos meses quentes (ELEMENTOS, 1999). A bactéria infecta apenas o homem e outros primatas e foi isolada em várias fontes ambientais, incluindo água, sedimento, plâncton e crustáceos (ostras, mexilhões e caranguejos) em diversos locais. Um estudo, após analisar 700 amostras de peixes marinhos crus, mexilhões crus, camarões crus e lulas cruas, detectou em 24 amostras o 24 com Vibrio vulnificus, além de detectar outros patógenos (E. coli, e Listeria monocytogenes) (Dumen et al., 2020). Um perigo importante relacionado ao Vibrio vulnificus é que ele não causa distúrbios de aparência, odor e sabor em frutos do mar, como peixes, ostras e mexilhões dos quais o agente é isolado. As medidas de controle são cozimento adequado de moluscos bivalves e prevenção de contaminação cruzada. A refrigeração rápida de ostras nos meses quentes e a sua depuração diminuem o risco da infecção. Os indivíduos de grupos de alto risco devem evitar o consumo de moluscos crus (ELEMENTOS, 1999). 20 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição A bactéria é formadora de esporos e produz uma potente neurotoxina. Os esporos são resistentes ao calor e podem sobreviver em alimentos incorretamente processados, nos quais podem germinar e se multiplicar, deteriorando os alimentos ou causando doenças de origem alimentar (SCOTT; MOBERG, 1995). O organismo e seus esporos estão distribuídos na natureza. Eles ocorrem em solos cultivados ou florestas, sedimentos do fundo de rios, lagos e águas costeiras, trato intestinal de peixes e mamíferos, brânquias e vísceras de caranguejos e outros crustáceos. São reconhecidos sete tipos de botulismo (A, B, C, D, E, F e G), com base na especificidade antigênica da toxina produzida por cada cepa. Os tipos A, B, E e F causam botulismo humano, incluindo o botulismo de ferida, botulismo infantil e intoxicação alimentar. Os tipos C e D causam a maioria dos casos de botulismo em animais, sendo aves selvagens e domésticas, frangos, bovinos, eqüinos e algumas espécies de peixes os mais afetados. (ELEMENTOS, 1999; FDA, 1992). Clostridium botulinum O Clostridium perfringens está amplamente distribuído no ambiente e ocorre com frequência no intestino do homem e de muitos animais domésticos e selvagens. Os esporos do micro-organismo existem no solo, sedimentos e áreas sujeitas à poluição de fezes humanas e animais (IDEXX, 1998). Uma forma mais grave e rara da doença é causada por cepas do C. perfringens tipo C, e é conhecida como enterite necrótica. Os alimentos mais frequentemente envolvidos são carnes e seus derivados (FDA, 1992). As medidas de controle incluem a fiscalização da produção e do armazenamento de alimentos, assim como o resfriamento adequado de alimentos abaixo de 10 °C, por duas ou três horas, e a conservação de alimentos quentes acima de 60 °C. O reaquecimento de alimentos frios ou refrigerados deve atingir a temperatura mínima interna de 75 °C. Evitar manter os alimentos ou descongelá-los em temperatura ambiente e prevenir a contaminação cruzada com utensílios e superfícies contaminadas são medidas necessárias. As formas vegetativas de C. perfringens não resistem à refrigeração ou ao congelamento (ELEMENTOS, 1999) Clostridium perfringens tipo A 21 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Pode ser isolada no solo, em silagem e outras fontes ambientais. Essa bactéria é muito resistente e pode sobreviver bem aos efeitos do congelamento, dessecação e aquecimento, considerando-se que é uma bactéria que não forma esporos (FDA, 1992). Em pesquisa publicada em maio de 2023, a pesquisadora Ana Allende, do Conselho Nacional de Pesquisa Espanhol, comprovou que a contaminação por Listeria monocytogenes em instalações de processamento de produtos é mais provável de ocorrer em áreas sem contato, como ralos, pisos e tetos, em vez de em áreas de contato direto, como facas e correias transportadoras. A presença de Listeria monocytogenes é um dos principais problemas de segurança alimentar na indústria, por ser uma bactéria patogênica, deteriorante e capaz de formar biofilme. Biofilme de Listeria monocytogenes é um perigo silencioso inicialmente formado pela fixação primária desta bactéria nas superfícies. Uma vez aderida aos equipamentos na indústria de alimentos, células viáveis de L. monocytogenes podem contaminar o produto, podendo causar listeriose no consumidor. Listeria monocytogenes O Staphylococcus aureus é um problema de saúde pública, uma vez que sua presença em animais resulta em contaminação dos alimentos, principalmente de leite obtido de animais com mastite. S. aureus tem uma resistência própria que facilita a contaminação e multiplicação em alimentos, além da termorresistência da toxina estafilocócica (100 °C, por 30 minutos) (ELEMENTOS, 1999). O homem é o principal reservatório de S. aureus. A bactéria é encontrada na mucosa nasal e oral, cabelo, pele, machucados, furúnculos, feridas e feridas infectadas, e abscessos (IDEXX, 1998). A contaminação dos alimentos se dá por falta de higiene pessoal e manipulação inadequada de alimentos. Apesar dos manipuladores de alimentos serem a principal fonte de contaminação nos surtos envolvendo alimentos, os equipamentos e as superfícies do ambiente também podem ser fontes de contaminação de S. aureus. As medidas de controle contra o perigo estafilocócico incluem: controle de tempo e temperatura, tanto da matéria-prima como após o cozimento; evitar o preparo de alimentos com muita antecedência; higiene pessoal adequada; e cozimento apropriado para destruir os micro-organismos (ELEMENTOS, 1999). Staphylococcus aureus 22 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Os surtos de doenças virais transmitidas por alimentos ou por água são frequentemente atribuídos à higiene pessoal deficiente, suprimento de água contaminada ou pescados em águas contaminadas por dejetos (IDEXX, 1998). Os vírus associados com transmissão por alimentos incluem os vírus das hepatites A e E, vírus Norwalk e rotavírus. Atualmente o vírus preocupante na indústria de alimentos é o norovírus. No verão de 2021, um surto de norovírus afetou 163 pacientes, incluindo 15 manipuladores de alimentos confirmados com norovírus, em um hotel em Múrcia, sudeste da Espanha. Um surto semelhante de norovírus ocorreu no mesmo hotel em 2019. Uma inspeção de segurança alimentar descobriu que alguns manipuladores de alimentos sintomáticos continuaramtrabalhando durante a doença, o que pode ter agravado a situação. As fontes de viroses transmitidas por alimentos são fezes e urina de indivíduos infectados e água contaminada. Os alimentos envolvidos são pescados crus, vegetais crus, saladas e água contaminada com fezes humanas (IDEXX, 1998). Vírus Os parasitas são organismos que dependem de um hospedeiro vivo para crescer e se reproduzir, e variam desde organismos unicelulares, como os protozoários, até animais pluricelulares, como as solitárias (IDEXX, 1998). Os protozoários são unicelulares e possuem células eucarióticas, sem parede celular. Podem ter diferentes tamanhos, mas quase todos são microscópicos (ELEMENTOS, 1999). Vivem em locais úmidos. Os parasitas e protozoários mais comuns de transmissão por alimentos são: Trichinella spiralis, Toxoplasma gondii, Cryptosporidium parvum, Anisakis simplex, Giardia lamblia, Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Diphyllobothrium spp, Entamoeba histolytica, Taenia saginata, Taenia solium, Fasciola hepática e Cyclosporacaye tanensis. Em todos os casos, medidas de saneamento básico, cozimento adequado dos alimentos e controle higiênico-sanitário da produção primária e preparo dos alimentos, podem evitar sua ocorrência. Para alguns, o congelamento também é uma forma de controle possível. Parasitas 23 Perigos químicos 9. Os contaminantes químicos em alimentos podem ser de ocorrência natural ou adicionada durante o processamento do alimento. Elementos químicos prejudiciais, em altos níveis, têm sido associados a casos agudos de doenças de origem alimentar e podem ser responsáveis por doenças crônicas em níveis mais baixos (FAO, 1998). A contaminação química pode acontecer em qualquer etapa da produção e do processamento de alimentos. Os perigos químicos podem estar naturalmente presentes nos alimentos e sua ação pode ser potencializada ou minimizada, dependendo do modo de preparo e hábitos de consumo (MIDIO; MARTINS, 2000). Os principais compostos químicos dessa categoria são os glicosídeos cianogênicos (mandioca brava); glicosinolatos (nabo, repolho, brócolis, couve- de - Bruxelas, couve, couve-flor, mostarda); glicoalcalóides (batata); oxalatos (espinafre, ruibarbo, beterraba, cenoura, feijão, alface, amendoim, cacau e chá); nitratos (espinafre, berinjela, aipo, beterraba, brócolis, leite); agentes produtores de flatulência (leguminosas principalmente sojas e feijão); carcinógenos químicos de ocorrência natural (Senecio, crotalária, Heliotropium, Symphytum). Agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos 24 Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Neste grupo de contaminantes estão todas as substâncias que não são componentes naturais dos alimentos. Podemos citar nesse grupo as micotoxinas, como as aflatoxinas (amendoim, cereais), a patulina (maçã, trigo), ocratoxina (cereais, café), fumonisina (milho, arroz), zearalenona (milho), tricotecenos (grãos em geral). Os alimentos de origem animal podem conter altas concentrações dessa substância devido a uma micotoxicose secundária resultante da ingestão de alimentos contaminados pelos animais. Os sintomas da intoxicação podem ser agudos ou crônicos, mas geralmente são carcinogênicos. Além das micotoxinas, neste grupo de agentes tóxicos também se encontram os compostos N - nitrosos ou nitrosaminas. São carcinogênicas e a fonte de contaminação aos alimentos se dá pela adição de nitritos (conservante, defumação, processo de secagem de alimentos onde o ar é aquecido em chama aberta) e de nitratos que podem estar naturalmente presentes nos alimentos. Agentes tóxicos contaminantes diretos de alimentos 25 São os produtos químicos permitidos para uso em superfícies que entram em contato com os alimentos e que podem migrar para o produto alimentício contaminando-o ou produtos usados no tratamento de animais ou no combate de pragas. Entre esses produtos estão os promotores de crescimento, antibióticos, praguicidas e migrantes de embalagens plásticas. Os metais tóxicos são todos os que possuem capacidade de causar dano aos organismos, mesmo os considerados essenciais quando em excesso, pois podem causar danos à saúde. Os metais estão presentes na natureza e podem se acumular em tecidos vegetais e animais durante as etapas de crescimento do vegetal e alimentação animal acumulando-se nesses tecidos. Entre os metais tóxicos, podemos citar o chumbo, o arsênico, o cádmio e o mercúrio. Os sintomas variam desde alterações neurológicas, nefrotoxicidade, febre, arritmia cardíaca, irritação gástrica, dores musculares, falhas no desenvolvimento cerebral em crianças e recém-nascidos e morte. Outro exemplo são os aditivos intencionais correspondem ao maior grupo de químicos usados no processamento de alimentos. Apesar de estarem classificados como GRAS (generally recognized as safe = geralmente reconhecidos como seguros), podem ser adicionados em excesso inadvertidamente. Como exemplos, podemos citar a adição excessiva de nitritos e nitratos em carnes processadas, o uso excessivo de glutamato monossódico em alimentos preparados e o uso excessivo de sulfitos em produtos permitidos como frutas secas e vinho. Os sintomas variam desde reações alérgicas leves até carcinogenesis diversas. Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Agentes tóxicos contaminantes indiretos de alimentos 26 Perigos físicos 10. Objetos estranhos nos alimentos podem causar doenças ou lesões, e em casos mais raros, podem levar à morte. Esses perigos físicos resultam de contaminação e/ou práticas deficientes em vários pontos da cadeia produtiva, desde a colheita até o consumidor, inclusive dentro de um estabelecimento de alimentos (FAO, 1998). Os objetos estranhos são apresentados por ordem de frequência: vidro, lodo ou espuma, metal, plástico, pedras, cristais/cápsulas, cascas/caroços, madeira e papel. As queixas de objetos estranhos envolvendo lesões e doenças estavam mais associadas a refrigerantes, alimentos infantis, produtos de panificação, produtos à base de chocolate/cacau, frutas, cereais, vegetais e frutos do mar. A lesão por objetos duros pode causar problemas se for grave o suficiente para exigir atenção médica ou odontológica (ROBINSON et al., 1999). 27 Controle das contaminações dos alimentos 11. Para garantir a qualidade dos alimentos através da prevenção das contaminações por agentes biológicos, físicos e químicos é necessária utilizar ferramentas que auxiliem neste processos tais como, implantação de sistemas de gestão da segurança de alimentos (APPCC - análise de perigos e pontos críticos de alimentos, BPF - boas práticas de fabricação, ISO 22000). As análises laboratoriais tanto pelas metodologias clássicas como através de metodologias com tecnologias avançadas tal como do Diagnóstico Microbiológico Digital , método onde é feito a identificação do micro-organismo pelo sequenciamento do DNA, são poderosas ferramentas no auxílio e prevenção das contaminações nos alimentos. inclusive, o Centers for Disease Control and Prevention, órgão responsável pela legislação, utiliza de forma direta a biologia molecular para rastrear a ocorrência de doenças transmitidas por meio de alimentos e para desvendar casos de contaminação, ampliando o conhecimento para detectar possíveis surtos com mais precisão. As análises laboratoriais são obrigatórias para alguns grupos de alimentos para o atendimento a legislações específicas conforme abordagem no item 5 (Legislação). 28 https://www.cdc.gov/foodsafety/cdc-and-food-safety.html#using-technology A perda da confiança dos consumidores custa caro. Para você ter uma ideia, entre os consumidores insatisfeitos, 91% nunca mais compram os produtos ou serviços que os desagradaram. No meio empresarial, para cada cliente que reclama, outros 26 se mantêm em silêncio. Um consumidor contrariado contará para oito até 16 pessoas o seu problema, e mais de 10% contarão para 20 pessoas. Agora faça uma conta: se as 26 pessoas contarem para as 16, serão 416consumidores perdidos apenas devido à propaganda “boca a boca” (FORSYTHE, 2002). A maior rede multinacional de fast foods, já foi título de algumas notícias devido a problemas com os seus produtos. Além da publicidade adversa, a empresa enfrenta vários processos de indenizações na justiça. Em fevereiro de 2006, uma consumidora americana exigiu 10.000 dólares por encontrar sangue em uma embalagem de batatas fritas. No mesmo período, uma família processou o dono de uma das lojas do fast food por ter encontrado um rato morto na salada, a indenização foi de US$ 1,7 milhão por danos pessoais (SOS COZINHA, 2006). O aumento de casos de contaminação de chocolate por Salmonella tem chamado a atenção dos consumidores. Só em 2022 dois casos envolvendo grandes marcas geraram recalls que atingiram mais de 11 países. Em um dos casos, as investigações apontaram que a contaminação estava ocorrendo nos tanques de leitelho. A empresa informou que o contaminante foi detectado em operações rotineiras de controle de qualidade, admitindo falhas internas. Essas falhas possivelmente estão ligadas a má higienização, uma vez que o mesmo leitelho foi fornecido a outras fábricas, que não apresentaram contaminação. Outra grande empresa belga produtora de chocolate reportou a lecitina como o carreador da Salmonella no chocolate final. A lecitina é um aditivo que deve ser acrescentado tardiamente ao processo, em temperaturas brandas, pois ela retém a umidade final da massa. Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Acesse os endereços abaixo e veja alguns exemplos de condenações às empresas, por contaminação de alimentos. http://www.jusbrasil.com.br/noticias/140630/pao-de-queijo-contaminado-gera- condenacao http://www.jusbrasil.com.br/noticias/3852/coxinha-contaminada-obriga-lanchonete-a- pagar-indenizacao https://www.jusbrasil.com.br/noticias/consumidor-alergico-e-indenizado-por-ingerir- alimento-cuja-embalagem-informava-nao-possuir-gluten/690118572 29 Legislação 13. Os principais órgãos do Governo envolvidos com a segurança dos alimentos são o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). No Brasil, as legislações gerais aplicáveis a todo tipo de alimento instituídas pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que tratam das BPF são: Resolução RDC nº. 275, de 21 de outubro de 2002; Portaria SVS/MS nº. 326, de 30 de julho de 1997; Portaria MS nº. 1428, de 26 de novembro de 1993. A Portaria nº. 326, de 30 de julho de 1997, aprova o Regulamento técnico sobre as condições higiênico- sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para estabelecimentos elaboradores/ industrializadores de alimentos, nas empresas que estão sob fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. (DAMIAN et al, 2008). As principais legislações que remetem ao controle de qualidade e prevenção de contaminações em alimentos são: RDC n°. 275, de 21 de outubro de 2002 (ANVISA); Portaria SVS/MS n°. 326, de 30 de julho de 1997 (ANVISA); Portaria MS n°. 1428, de 26 de novembro de 1993 (ANVISA); RDC 724, de 01 de julho de 2022 (ANVISA); IN 161, de 01 de julho de 2022 (ANVISA); Portaria n°. 368, de 04 de setembro de 1997 (MAPA). RDC 216, de 15 de setembro de 2004 (ANVISA) 30 Considerações finais 13. Proteger o alimento do risco de contaminantes de qualquer espécie (biológico, físico ou químico); Prevenir a multiplicação e o desenvolvimento de micro-organismos prejudiciais à saúde, não esquecendo dos micro-organismos deteriorantes; Utilizar metodologias dentro do processo produtivo para a eliminação de micro-organismos patogênicos que, porventura, estejam presentes nos alimentos. Para prevenir as contaminações que ocorrem quando é feito a utilização de matéria-prima contaminada, contaminação cruzada de alimentos cozidos com alimentos crus, utilização de equipamentos mal higienizados, colaboradores infectados, falta de hábitos higiênicos, utilização de água não potável, entre outras situações, vale ressaltar que é necessário: Em uma época em que as experiências culinárias são valorizadas e a segurança alimentar é primordial, garantir os mais altos padrões de limpeza e higiene é de extrema importância na indústria de alimentos. O risco de contaminação representa um desafio significativo, ameaçando tanto a saúde do consumidor quanto a reputação dos estabelecimentos alimentícios. 31 Referências AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Cartilha sobre Boas Práticas para Serviços de Alimentação. 3º edição. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt- br/centraisdeconteudo/publicacoes/alimentos/manuais-guias-e- orientacoes/cartilha-boas-praticas-para-servicos-de- alimentacao.pdf/view. [Acesso em: 25 de Maio 2023]. ANVISA - Lista dos alimentos com maior nivel de contaminação, 2016, Disponivel em http://revista.rebia.org.br/2016/88/850-lista-da- anvisa-dos-alimentos-com-maior-nivel-de-contaminacao, Acesso em 25 de maio de 2023. ARIFFIN, A. Food control and consumer affairs in developing countries.Food, Nutrition and Agriculture. FAO Corporate Document Repository – 8/9 - Consumer participation in food control. 1993. Disponível em: . ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 22000: sistemas de gestão da segurança de alimentos: requisitos para qualquer organização na cadeia produtiva de alimentos. Rio de Janeiro, 2006. Boletim Recall em Números 2019. Ministério da Justiça e Segurança Pública-Secretaria Nacional do Consumidor. 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Caso tenha dúvidas, não hesite em nos procurar. Como mapear pontos de risco de contaminação na Indústria de laticínios BAIXAR Como implementar sistema APPCC na indústria de alimentos Sequenciamento de DNA no controle de qualidade da indústria de alimentos BAIXAR BAIXAR 33 https://marketing.neoprospecta.com/ebook-industria-de-laticinios-como-mapear https://marketing.neoprospecta.com/ebook-appcc https://marketing.neoprospecta.com/ebook-cases-da-neoprospecta Controle de Contaminação Microbiológica na Indústria de Alimentos- 2º Edição Sobre a Neoprospecta Somos uma empresa de biotecnologia, que a mais de 12 anos se dedica à geração de conhecimento e inteligência para a tomada de decisões, para transformar resultados em conhecimento e aumentar a qualidade e segurança dos alimentos. 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