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Literatura e Música Para os antigos gregos, a música acompanhava diversas atividades humanas e, dentre elas, as representações teatrais, com a utilização de coros; e a poesia, sempre declamada por um aedo com o acompanhamento de liras. Daí o surgimento da expressão “poesia lírica”. Há uma interessante relação entre história, literatura e música que podemos estabelecer. No século XVIII, época do Arcadismo, o mundo vivia uma grande revolução. A burguesia assumiu o poder com a Revolução Francesa (1789) e ameaçava as monarquias constituídas. No mesmo ano, a Coroa portuguesa debelava uma revolta, no Brasil, contra a cobrança de impostos abusivos, revolução essa que ficou conhecida como Inconfidência Mineira. No entanto, a poesia, indiferente a esses fatos, tratava de temas bucólicos. Ascensão da burguesia que passa a lutar pelo poder político Ruptura com o barroco – pureza e simplicidade das formas clássicas Culto ao “bom selvagem” x homem corrompido pela sociedade monárquica Volta ao refúgio da natureza pura Literatura: volta aos clássicos greco-latinos e aos renascentistas; Mitologia pagã Fugere Urbem – lugar da corrupção, do sofrimento A luta do burguês culto contra a aristocracia se manifesta na busca da natureza Bucolismo (locus amoenus) Fingimento poético – pseudônimos pastoris: Tomás Antônio Gonzaga: Dirceu Carpe Diem Estoicismo – denúncia dos prazeres, do luxo e das riquezas Convite à Marília (Manuel Maria Barbosa du Bocage) Já se afastou de nós o inverno agreste Envolto nos seus úmidos vapores; A fértil primavera, a mãe das flores O prado ameno de boninas veste: Varrendo os ares o sutil nordeste Os torna azuis; as aves de mil cores Adejam entre Zéfiros e Amores, E toma o fresco Tejo a cor celeste: Vem, ó Marília, vem lograr comigo Destes alegres campos a beleza Destas copadas árvores o abrigo: Deixa louvar da corte a vã grandeza: Quanto me agrada mais estar contigo Notando as perfeições da Natureza! O Balanço, de Nicolas Lancret Lira XIX - Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu) Enquanto pasta alegre o manso gado, Minha bela Marília, nos sentemos À sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos Na regular beleza, Que em tudo quanto vive, nos descobre A sábia natureza. Atende, como aquela vaca preta O novilhinho seu dos mais separa, E o lambe, enquanto chupa a lisa teta. Atende mais, ó cara, Como a ruiva cadela Suporta que lhe morda o filho o corpo, E salte em cima dela. Repara, como cheia de ternura Entre as asas ao filho essa ave aquenta, Como aquela esgravata a terra dura, E os seus assim sustenta; Como se encoleriza, E salta sem receio a todo o vulto, Que junto deles pisa. Que gosto não terá a esposa amante, Quando der ao filhinho o peito brando, E refletir então no seu semblante! Quando, Marília, quando Disser consigo: “É esta “De teu querido pai a mesma barba, “A mesma boca, e testa.” Além do horizonte deve ter Algum lugar bonito pra viver em paz Onde eu possa encontrar a natureza Alegria e felicidade com certeza Lá nesse lugar o amanhecer é lindo Com flores festejando mais um dia que vem vindo Onde a gente pode se deitar no campo Se amar na relva escutando o canto dos pássaros Aproveitar a tarde sem pensar na vida Andar despreocupado sem saber a hora de voltar Bronzear o corpo todo sem censura Gozar a liberdade de uma vida sem frescura Mas se você não vem comigo nada disso tem valor De que vale o paraíso sem o amor Se você não vem comigo tudo isso vai ficar No horizonte esperando por nós dois Além do horizonte existe um lugar Bonito e tranquilo Pra gente se amar Mas se você não vem comigo nada disso tem valor De que vale o paraíso sem amor Se você não vem comigo tudo isso vai ficar No horizonte esperando por nós dois Além do horizonte existe um lugar Bonito e tranquilo Pra gente se amar Nos anos 70, o cenário musical brasileiro estava limitado pela censura. Alguns compositores, como Chico Buarque, conseguiam ludibriar os censores com metáforas difíceis de serem interpretadas e enviavam à nação suas mensagens contra a ditadura. No entanto, a maior parte dos artistas não encontrava espaço para criar livremente. É nesse período que invadem as rádios músicas nas quais podem ser identificadas as marcas do movimento literário denominado Arcadismo, o qual pregava a simplicidade da vida no campo, o amor tranquilo, a abdicação dos ideais revolucionários. Eu quero uma casa no campo/Onde eu possa compor muitos rocks rurais/E tenha somente a certeza/Dos amigos do peito e nada mais/Eu quero uma casa no campo/Onde eu possa ficar do tamanho da paz/E tenha somente a certeza/Dos limites do corpo e nada mais/Eu quero carneiros e cabras pastando/Solenes no meu jardim/Eu quero o silêncio das línguas cansadas/Eu quero a esperança de óculos/E um filho de cuca legal/Eu quero plantar e colher com a mão,/A pimenta e o sal/Eu quero uma casa no campo/Do tamanho ideal, pau a pique e sapê/Onde eu possa plantar meus amigos/Meus discos e livros e nada mais INTERCÂMBIO ENTRE AS LINGUAGENS DA ARTE–LITERATURA MÚSICA– AULA10 LINGUAGENS DA ARTE E REGIONALIDADES Fiz uma casinha branca/ Lá no pé da serra/ Pra nós dois morar Fica perto da barranca/ Do Rio Paraná A paisagem é uma beleza/ E eu tenho certeza/ Você vai gostar Fiz uma capela/ Bem do lado da janela/ Pra nós dois rezar Quando for dia de festa/ Você veste o seu vestido de algodão Quebro meu chapéu na testa/ Para arrematar as coisas no leilão Satisfeito eu vou levar/ Você de braços dados/ Atrás da procissão Vou com meu terno riscado/ Uma flor do lado/ E o meu chapéu na mão (Elpídio dos Santos) Chico Buarque continua seu projeto, e vários outros poemas tornam-se a semente de belas composições. Em 1968, o cantor e compositor participou do III Festival Internacional da Canção apresentando a música “Sabiá”, em intertextualidade com o poema romântico de Gonçalves Dias “Canção do Exílio”. A música era um protesto contra a ditadura, fazendo uma alusão aos opositores do governo que foram exilados. Mas o público não entendeu a proposta e vaiou a apresentação, que contava também com Tom Jobim e Cybele e Cynara, do Quarteto em Cy2. CANÇÃO DO EXÍLIO GONÇALVES DIAS Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite - Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras Onde canta o Sabiá. Canção do Exílio (Gonçalves Dias) Minha terra tem palmeiras,/Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam,/Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas,/Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida,/Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite,/Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras,/Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores,/Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite —/Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras,/Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra,/Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores/Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras,/Onde canta o Sabiá. Sabiá (Chico Buarque) Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Para o meu lugar/ Foi lá e é ainda lá/ Que eu hei de ouvir cantar/ Uma sabiá Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Vou deitar à sombra/De um palmeira/ Que já não há Colher a flor/ Que já não dá/ E algum amor/Talvez possa espantar/ As noites que eu não queira/ E anunciar o dia Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Não vai ser em vão Que fiz tantos planos/ De me enganar/ Como fiz enganos De me encontrar/ Como fiz estradas/ De me perder Fiz de tudo e nada/ De te esquecer Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ E é pra ficar Sei que o amor existe/ Não sou mais triste/ E a nova vida já vai chegar/ E a solidão vai se acabar/ E a solidão vai se acabar Canto de Regresso à Pátria (Oswald de Andrade) Minha terra tem palmares/ Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui/ Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas/ E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro/ Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas/ Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra/ Sem que eu volte para lá Não permita Deus que eu morra/ Sem que eu volte para São Paulo Sem que veja a Rua 15/ E o progresso de São Paulo Canção do Exílio (Murilo Mendes) Minha terra tem macieiras da Califórnia/ onde cantam gaturanos de Veneza. Os poetas da minha terra/ são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas,/ os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir/ com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda Eu morro sufocado/ em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas/ nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! Paródia do poema ‘’Canção do Exílio’’ Baseada na música de Kiko Zambianchi, popularizada pela banda Capital Inicial Minha terra tem pobreza/ Onde foi parar a beleza?/ Que saudade, Sabiá, /Volte aqui a gorjear Nosso céu só tem fumaça,/ Sem estrelas, não tem graça/ ‘’Nossos bosques têm mais vida’’/ Só no hino nacional Não permita Deus que eu morra/ Sem que eu veja o Brasil mudar, Sem que eu veja as palmeiras/ E contemple o Sabiá Em cismar, sozinho, à noite/ Não me sinto mais seguro Ver crianças nos sinais,/ Seus sorrisos não posso ver mais Minha terra tem primores/ É verdade, não posso negar, Que adianta essa nossa grandeza/ Se destratam do nosso lar? Não permita Deus que eu morra/ Sem que eu veja o Brasil mudar, Sem que eu veja as palmeiras / E contemple o Sabiá Não permita Deus que eu morra / Sem que eu veja o Brasil mudar, Sem que eu veja as flores / E o canto do Sabiá Se um dia eu pudesse ver / o meu Brasil inteiro (3x) Canção do Exílio Facilitada (José Paulo Paes) lá? ah! sabiá… papá… maná… sofá… sinhá… cá? bah! * * * "A poesia está morta mas eu juro que não fui eu" Minha terra tem funkeiros onde canta o MC tem axé e sertanejo não sei por que ''tô'' aqui Nosso céu tem mais fumaça nos enterros tem mais dores nossas praças tem mais manos nossos humanos sem valores Se andar sozinho à noite é pedir pra ser roubado dos ladrões não tão discretos quanto os que estão no senado Não permita Deus que eu morra sem conseguir o que almejei mudar o circo dos horrores onde quem tem dinheiro é rei Jordana Cruvinel