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O HUMOR NA ERA DO ENTRETENIMENTO DO JORNALISMO ESPORTIVO TELEVISIVO Pedro Luiz Barroso Gomes Professor(a) Orientador(a): Prof.ª Dra Audre Cristina Alberguini Faculdade Pitágoras Londrina Jornalismo Esportivo RESUMO Na era do entretenimento do Jornalismo Esportivo cada vez mais são procuradas estratégias para entreter o público em busca de audiência. O presente artigo trata das estratégias do humor empregadas no Jornalismo Esportivo, com foco em um programa telejornalístico, o Globo Esporte, da Rede Globo. Objetivo é identificar os recursos de humor usados pelo programa, com o intuito de melhor compreender essa nova técnica que vem sendo constantemente utilizada pelos meios de comunicação atuais. As estratégias de humor encontradas na análise de uma semana do programa foram: exagero, efeito sonoro, grafia do GC, ironia, exacerbação do humor, exagero nos detalhes e apelo à oralidade. Palavras-Chave: jornalismo esportivo; telejornalismo esportivo; humor; entretenimento; Globo Esporte. 1. INTRODUÇÃO Vê-se atualmente grande parte da mídia voltada para o esporte utilizando-se da estratégia do humor e do entretenimento em seu cotidiano, o que, muitas vezes, compromete a qualidade da informação. Este trabalho propõe o estudo das principais estratégias de humor empregadas por um programa telejornalístico de esportes. Ribeiro e Mendonça (2012) citam que historicamente verifica-se que a atividade jornalística sempre passou por transformações e evoluções. A base da atividade consiste em transmitir notícias ao público, mas a forma com que essa notícia chega à sociedade sempre varia. A nova linha de inovação tem deixado o Jornalismo mais divertido e alegre, sempre visando atrair ainda mais audiência. Barbeiro e Rangel (2006) afirmam que o esporte por si só já é uma forma de entretenimento. Comparado aos demais assuntos de interesse jornalístico apresenta mais liberdade e descontração. Jornalismo Esportivo apresenta uma redação mais leve, suave e com humor. O humorismo, por sua vez, é caracterizado pela constante reflexão e pela liberdade expressiva do ser humano. Dessa maneira seu uso nos principais meios de comunicação e formação de opinião, especialmente no Jornalismo, vem sendo cada vez mais comum. As estratégias utilizadas na metodologia da pesquisa foram: primeiramente uma revisão bibliográfica, apresentando e discutindo os principais conceitos da pesquisa, que nesse caso são o humor, o entretenimento e o Jornalismo Esportivo, a segunda etapa foi uma análise do programa Globo Esporte que apresenta o emprego da nova maneira de se fazer Jornalismo já citada anteriormente no estudo. Para realizar este estudo, o referencial teórico foi dividido em três partes, descritas a seguir. A primeira delas apresenta uma visão histórica e discussão a respeito do Jornalismo Esportivo, que é a base do estudo, trazendo um relato sobre seu nascimento e chegada ao Brasil, com enfoque na importância do futebol no seu desenvolvimento. Para isso, foram utilizadas as obras dos principais autores do país na área: Paulo Vinícius Coelho, Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel. A segunda parte discursa sobre o humor no Jornalismo, trazendo o significado literal do termo humor, apresentando uma visão histórica do mesmo, utilizando-se da definição de vários autores sobre o tema. Destaca-se o crescimento e a importância que o mesmo vem ganhando nas mídias. Na terceira parte do estudo, é feita uma análise do entretenimento no Jornalismo, apresentando uma definição do termo entretenimento e destacando seu papel nos meios de comunicação. Faz-se um parâmetro sobre seu uso no Jornalismo e salienta-se sua utilização pelas empresas jornalísticas em busca do interesse do público. O presente trabalho se faz relevante visto que o tema abordado está cada vez mais presente nos meios de comunicação. Além disso, são poucos os trabalhos acadêmicos que apresentam discussões sobre o assunto. O presente trabalho tem o intuito de pesquisar como o humor é empregado no Jornalismo Esportivo atual, em particular no programa Globo Esporte, da Rede Globo. 2. OBJETIVOS • Objetivo Geral Verificar as estratégias de emprego do humor na Era do Entretenimento no Jornalismo Esportivo, especificamente no programa Globo Esporte, da Rede Globo. • Objetivos Específicos a) Analisar como o humor é usado no Jornalismo Esportivo televisivo, especificamente do Programa Globo Esporte. b) Discutir o presente tema para se manter a base da boa prática jornalística, que se norteia na transmissão de informação à comunidade com ética, objetividade e credibilidade. 3. METODOLOGIA DE PESQUISA A metodologia utilizada foi o estudo de caso, com a análise de um programa de televisão da TV aberta, O Globo Esporte da Rede Globo. O intuito é identificar as estratégias do emprego do humor no programa. O Globo Esporte foi analisado na semana do dia 29 de maio ao dia 03 de junho de 2013, em sua versão regional apresentada para São Paulo e conduzida pelo apresentador Tiago Leifert, buscando identificar as diversas estratégias de humor que são usadas durante o programa, fazendo uma discussão fundamentada nos objetivos do presente estudo. 4. HUMOR NO JORNALISMO ESPORTIVO 4.1.Jornalismo Esportivo O Jornalismo Esportivo se caracteriza pela transmissão das notícias e fatos dos esportes à população, que incluem a cobertura de eventos, as instituições e políticas ligadas ao esporte e o cotidiano da área. As fontes dessa especialidade jornalística são divididas em: protagonistas, autoridades, especialistas e espectadores. Héber Soares e Alessandro Bandeira (2010) definem o Jornalismo como uma instituição social, apresentando conteúdos de interesse da população, levando-se em conta os acontecimentos do dia-a-dia. Pode-se analisar e considerar o jornalismo como uma instituição social formada historicamente para oferecer conteúdos que tenham características de atualidade e de relevância para um público amplo e diferenciado. Tal papel é executado pelo jornalismo que conquistou uma legitimidade social para produzir uma reconstrução discursiva do mundo, com base em um sentido de fidelidade entre o relato jornalístico e as ocorrências cotidianas. (SOARES, BANDEIRA, et. al , 2010 p.5). Cabe ao Jornalismo apurar tudo que for interessante para a construção da notícia, a fim de levar informação para toda a sociedade. É o Jornalismo de serviço ao público, que tem como principal proposta apresentar a informação que o receptor precisa ou que poderá se tornar necessária a ele em algum momento. Funciona como uma ferramenta que colabora para a vida das pessoas. Essa prestação também deve ocorrer nos esportes, com a mesma qualidade, seriedade e credibilidade. A professora Margarida Pfeifer na apostila da matéria de Jornalismo Esportivo em Rádio e TV da Faculdade Pitágoras, apresenta que o veículo pode, no momento de transmitir a notícia, modificar o modo como o fato chega ao público. Com isso diversas estratégias são usadas na difusão de uma notícia. Na elaboração da reportagem em televisão, devem ser utilizadas as mesmas diretrizes do bom Jornalismo dos demais meios. É preciso responder as seis perguntas básicas do Jornalismo: O quê? Quem? Onde? Quando? Como? Porquê? A autora da apostila destaca ainda alguns elementos do fazer Jornalístico que também são relevantes no Jornalismo Esportivo, como a linguagem que deve ser simples, de fácil entendimento e que deve agregar informação ou complementar ao que está sendo visto. Sobre o repórter, a autora defende que é fundamental que este decida sobre que ângulo abordar o assunto a ser tratado na matéria. Um único aspecto deve ser abordado em profundidadee essa abordagem deve elucidar o conjunto. A autora explica ainda sobre o comentário ao vivo, que permite a troca de informação, torna o bate-papo mais interessante e pode produzir mais debate em torno do tema abordado. Com respeito à linguagem cita-se também, Ribeiro e Mendonça (2012) que afirmam que, nos meios de comunicação, é fácil encontrar expressões de algum grupo em particular e que não é entendido por todos. No Jornalismo Esportivo, por exemplo, é comum se deparar com expressões que caracterizam os praticantes das modalidades esportivas ou que dão nomes a determinadas jogadas e lances ou ainda expressões populares que são trazidas para a mídia se aproximar do público. O professor Ismael Pfeifer na apostila da matéria de História do Jornalismo Esportivo, da Faculdade Pitágoras, revela que o Jornalismo Esportivo nasce com a cobertura das corridas de cavalo na França, com o Journal de lês Haras, em 1828. Dez anos mais tarde é que surge a primeira publicação especificamente voltada para a cobertura das competições esportivas. Em Londres, nasce o Bell’s Life, depois rebatizado de Sporting Life. Em 1896 nasce no Rio De Janeiro a revista Bycicleta, uma das primeiras publicações esportivas especializadas no País. Pfeifer cita ainda que, em 1903, nasce a primeira publicação, no país, dedicada especificamente ao futebol, o Guia do Football, criada pelo jornalista Mário Cardim, que por isso passa a ser considerado o primeiro jornalista especializado em esporte no Brasil. O Jornalismo especializado em esportes cresce aliado ao crescimento e desenvolvimento do futebol a grande alavanca para o crescimento e profissionalização do Jornalismo Esportivo. Os veículos de comunicação noticiam fatos esportivos desde o final do século XIX. Como relata Coelho (2003), no início, o esporte era divulgado meio a contragosto nas redações havia sempre alguém disposto a cortar uma linha a mais dedicada ao assunto. Barbeiro e Rangel (2006) afirmam que Jornalismo é Jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social. Para eles, a essência não muda porque sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e do interesse público. Os autores ressaltam que trabalhar com Jornalismo esportivo tem suas especificidades e que o mesmo se confunde frequentemente, com puro entretenimento. 4.2. Humor no Jornalismo A princípio é importante buscar as definições literais da palavra humor, que serviram como base para o desenvolvimento da pesquisa. O glossário do idioma português, Aurélio, define: Na fisiologia: substância fluida de um animal, como o sangue, a linfa, a bile, na medicina medieval, tinham grande importância os quatro humores: sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. Supunha-se que a saúde de uma pessoa dependia de uma mistura correta desses quatro humores em seu corpo. Qualquer produto mórbido formado durante as doenças, como o pus, a serosidade da hidropisia. Disposição de ânimo de alguma pessoa para alguma coisa: ele está sempre de bom humor. Veia cômica, ironia delicada e alegre, que se disfarça sob uma aparência de coisa séria; humorismo. Urbano Zilles (2003) cita que a Inglaterra é considerada a pátria do humor, pois o humor integra o estilo de vida dos ingleses. Os ingleses valorizam, sobretudo, a excentricidade, a brincadeira lúcida, a perspicácia do indivíduo na visão do mundo e das peculiaridades de si próprio, explorando o absurdo e o sem sentido. Soares (2009) diz que o humor é apresentado muitas vezes como forma de libertação, forma de alicerce para o desenvolvimento do ser humano completo. Soares apresenta ainda a visão do filósofo iluminista francês Voltaire que caracteriza o humor como “uma brincadeira natural”. Destaca também a definição do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein que diz: “O humor não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo”. Apenas por volta do século XVII, a palavra humor começou a ter o significado que se conhece hoje. Destaca-se a visão de Soares, Bandeira et. al (2010) que classificam o humorismo como prática que consiste no sentimento do contrário, provocado pela especial atividade de reflexão, diante disso, afirmam ainda que, com o humor e suas formas o homem aprende a viver com uma nova liberdade trazida pelo riso, e também com uma dita forma filosófica e inteligente, permissiva, na qual, através dele, o ser humano ria de si mesmo e dos seus semelhantes, dos problemas e dilemas. Por isso, o humor cresceu nos últimos séculos, conquistando espaços a ponto de ir ocupando cenários e locais cada vez mais destacados nos meios de comunicação e formação de opinião, como no Jornalismo (Soares, Bandeira et. al, 2010, p. 5). Os autores ainda trazem o humor e o Jornalismo como aliados no incentivo a uma visão crítica da sociedade, já que tanto o humor quanto o Jornalismo possuem esta capacidade: a capacidade de produzir reflexões críticas e repensar a realidade são inerentes tanto ao humor quanto ao Jornalismo. Em seu livro “Raízes do Riso” (2002), Saliba cita que no início o riso que humilhava ou ridicularizava algo ou alguém não era bem visto. Assim como o Jornalismo Esportivo, o bom riso predominantemente leve e cômico com finalidades positivas eram ainda as principais formas de humor toleradas e presentes em alguns periódicos brasileiros. Dessa forma, o destaque do gênero humor hoje nas mídias é um elemento indispensável dentro da programação. Martins e Silva (2009) apresentam o humorismo como método que permite ser criativo e improvisado, por não haver uma formalidade ou uma sequência que obrigatoriamente tenha que ser seguida a brincadeira é a tônica dos programas que seguem com naturalidade, que acabam gerando resultados positivos de audiência. A professora Patrícia Rangel na apostila da matéria de Opinião, Humor, Imparcialidade e Ética no Jornalismo Esportivo, da Faculdade Pitágoras, relata que o casamento entre humor e Jornalismo se estabelece na possibilidade de uma visão crítica e leve dos acontecimentos, inclusive dos áridos. Pela perspectiva do esporte, o humor vem como possibilidade do torcedor suportar a própria dor do cotidiano, como por exemplo, as derrotas. Completa ainda que essa nova tendência, entretanto, exige do público certa bagagem cultural, visto que muitas vezes o humor fica escondido nas entrelinhas, exigindo que as pessoas saibam do que se trata o assunto. Rangel diz ainda que o humor sempre existiu no Jornalismo Esportivo mesmo de forma discreta, como por exemplo, a zebrinha do programa Fantástico, que foi um personagem que, na década de 70, era usada para informar,de forma cômica, os resultados da loteria esportiva na Rede Globo. Hoje, e principalmente no programa que é objeto desse estudo, o humor aparece mais explícito, nas imagens e textos. 4.3. Entretenimento no Jornalismo Hoje em dia, vive-se a era do entretenimento nos meios de comunicação e nas mídias sociais, entretenimento que se define pela ação, evento ou atividade que tem o objetivo de entreter e provocar o interesse do público, funcionando como divertimento, recreação e passatempo. O Jornalismo, por sua vez, tem como princípios norteadores a transmissão da informação com ética, objetividade, credibilidade, interesse público e interesse do público. Dessa maneira, muitas vezes, o critério de interesse do público é o entretenimento e o Jornalismo acaba incorporando este critério na seleção e produção das matérias. Esse conceito de Jornalismo com entretenimento é relativamente novo, mas vem ganhando cada vez mais força com o passar do tempo. O Jornalismo com entretenimento é o espaço destinado às matérias que visam informar e entreter, que atualmente são os tipos de informação que mais atraem audiência. Esse conceito, por sua vez, pode se contrapor aopreconceito que o humor sofre no Jornalismo, pois segue seus princípios básicos de que atende às necessidades de informação do receptor da notícia e apresenta um conteúdo que informa com diversão. Tradicionalmente, sempre coube ao Jornalismo o papel de informar e formar a opinião pública sobre o que acontece no mundo, com base na busca pela verdade nas coisas que acontecem no mundo externo, no campo social. O entretenimento, entretanto, destinou-se a explorar a ficção, chamar a atenção e divertir as pessoas. Até pouco tempo havia uma preocupação pequena em satisfazer os interesses da sociedade. Hoje, no entanto, o público participa cada vez mais na decisão do que se veicula na mídia. Diante desse novo receptor, as empresas jornalísticas estão mais atentas em relação ao papel que devem desempenhar na sociedade e têm transformado a dinâmica da criação das notícias. 5. O Humor do Programa Globo Esporte 5.1. Estudo de caso: Globo Esporte O telejornal esportivo está no ar desde 14 de agosto de 1978, inicialmente com apresentação do Léo Batista, na Rede Globo, com programação de segunda a sábado às 12h50. Também é feita a transmissão ao vivo no site www.globoesporte.com. O programa cobre diversas modalidades esportivas e competições e sempre foi líder de audiência. Porém, segundo Rangel (2010), nos últimos anos, vinha sofrendo uma queda de audiência por vários motivos, entre os principais estão o formato “engessado” da atração e a nacionalização da notícia desportiva. Segundo a jornalista Renata Cuppen, atual editora de texto do Globo Esporte, citada por Rangel (2010), a linguagem era muito dura, apenas uma troca de câmera o que deixava o apresentador muito estático com o Chroma key ( uma técnica de efeito visual que consiste em colocar uma imagem sobre uma outra através do anulamento de uma cor padrão, como por exemplo, verde ou azul), no fundo de cenário. Em 2008 começaram as mudanças no programa, com cenário novo os apresentadores andavam, com opções de TV de plasma, telão, Chroma key. A emissora não apresentava muitas inovações em sua grade, visto que a maioria dos programas continha um mesmo formato, repetido há décadas. Segundo Rangel (2010), a TV Globo resolveu apostar em um outro formato, somente para o Estado de São Paulo. Sob o comando do apresentador Tiago Leifert acabou com a bancada: o apresentador anda pelo estúdio, chama as matérias em qualquer monitor, vai para o Chroma key. Mas a maior mudança é em relação à linguagem. Tiago aboliu o teleprompter (equipamento que fica acoplado às câmeras da TV e exibe o texto a ser lido pelo apresentador), tornou a narração mais dinâmica e improvisada, passando ao público um ar mais de conversa que de apresentação. Rangel (2010) completa ainda que a narrativa passa a ser mais focada e pensada numa forma de textos mais leves e divertidos, trazendo muito mais humor às matérias. As matérias não são somente informáticas ou diretamente ligadas ao esporte: são matérias que têm cunho comportamental. Entretenimento é a bandeira principal e a informação vem junto. A equipe do programa é composta pelo apresentador e editor chefe Tiago Leifert, 33 anos, formado em Jornalismo e com especialização em telejornalismo, que foi um dos principais responsáveis pelas inovações do programa. Os principais repórteres são Ivan Moré, 36 anos, formado em Jornalismo, que começou sua carreira no rádio e constantemente substitui o apresentador principal quando este não pode por algum motivo. Bruno Laurence, 35 anos, formado em Jornalismo, e que eventualmente também substitui Leifert quando o principal substituto, Ivan More, também não pode fazê-lo. Abel Neto, 43 anos, formado em Jornalismo, é o jornalista mais experiente da equipe, que tem no currículo a cobertura das Copas de 2006 e 2010, e Léo Bianchi, formado em Jornalismo, que se destaca pelas matérias que têm como principal vertente o entretenimento. Ribeiro e Mendonça (2012) afirmam que a principal função dos meios de comunicação é de informar acontecimentos julgados importantes à população. Quanto à importância do esporte, não há dúvida, uma vez que ele está presente em todos os cantos do planeta, e, principalmente, a relevância do futebol para o brasileiro. Para atrair o público para o assunto, o Globo Esporte usa diversos recursos jornalísticos e estratégias de humor, que acabam tornando o programa informativo e engraçado. O roteiro principal do programa é o cotidiano dos clubes paulistas de futebol. Informando sobre como foram os jogos dos times, como está sendo a preparação das equipes para os próximos jogos, as possíveis negociações, entrevistas com atletas, treinadores e dirigentes e eventualmente cobertura de outros esportes. Fatos cômicos e curiosos também são critérios muito utilizados para eleger o que vai ao ar no programa. O período analisado no presente artigo foi a semana do dia 29 de maio a 03 de junho de 2013. Para o jornalista Tiago Leifert citado por Rangel (2010), as matérias devem ter um plano sequencial, uma conversa, com o repórter levando o público para a cena do fato, o repórter passeando na notícia, como se fosse o próprio telespectador. Há muitas matérias em que o foco principal é buscar informações e detalhes curiosos, imagens engraçadas e lances divertidos. A gente não quer que ele seja um programa só de jornalismo, a informação tem que estar lá, mas ela pode chegar ao telespectador de uma forma legal, não precisa ter aquela cara de jornalismo formal em que o apresentador não expressa opinião. Ele pode ser divertido, pode ser um programa de televisão, de entretenimento. (CUPPEN apud RANGEL, 2010, p 5). 5.2. Análise do Humor no Programa Globo Esporte As estratégias de humor usadas pelo programa se assemelham muito aos recursos característicos do Jornalismo popular citado por Rangel (2010), que são o duplo sentido, como ambiguidade, ironia, o discurso da malícia, o apelo à oralidade por meio de gírias e frases feitas, a alteração de provérbios e a hipérbole, ou seja, o exagero. Destaca-se também o uso de alguns recursos técnicos do Jornalismo televisivo em função do humor, como o GC, o sobe som e a nota de pé. Destaca-se o constante uso dos recursos visuais para complementar o uso do humor, como por exemplo, o GC, que é o grafismo com as informações presentes na matéria, recurso que é bastante utilizado na atração nos textos das chamadas para as reportagens. O recurso em questão pode ser exemplificado pelo GC usada no programa na chamada da matéria a respeito do jogo do São Paulo que foi ao ar no dia 30/05 que trazia a seguinte grafia: “Boi Carisma”. A estratégia em questão foi utilizada com referência ao apelido de jogador Aloísio do São Paulo que, por seu porte físico, é chamado pelos companheiros de Boi, referindo-se também à personalidade do jogador dentro de campo e durante a reportagem apresentada. Identifica-se também a constante busca pela comicidade nas reportagens, algumas inclusive com foco principal no humor, reportagens essas que são guiadas principalmente por Léo Bianchi, repórter que, como já foi citado anteriormente, destaca-se pelas matérias que buscam como base principal o entretenimento. Exemplifica-se essa estratégia pela matéria que foi ao ar na atração no dia 31/05 que fala sobre o novo treinador da Portuguesa, Édson Pimenta, apresentado na reportagem como Coronel Pimenta, pois o mesmo foi realmente Coronel do 8º Batalhão da Polícia Militar de São Paulo. Essa patente é bastante explorada na matéria, tornando-se o foco principal, por caracterizar um fato cômico no meio futebolístico, citando-se a disciplina e a cobrança feita por um legítimo militar, com participação do jogador Souza, fazendo comentárioscômicos sobre o assunto. Cita-se também que, em algumas oportunidades, existe a exacerbação do humor, citada por Oselame (2010), quando a informação que é função principal do Jornalismo é deixada de lado. Reflete-se dessa forma sobre a nota de pé, que é o recurso usado como complemento da matéria, uma última informação dada pelo apresentador em geral atualizando a notícia ou corrigindo um dado de uma matéria. No período analisado pelo estudo, o apresentador faz uso desse recurso de maneira incorreta, erro exemplificado pela nota de pé que foi usada no programa após a matéria sobre o treino da Seleção Brasileira, que foi ao ar no dia 31/05, em que Leifert teceu um comentário sobre a queda de um dente do jogador Hernanes durante o treino, comentário que não apresentou nenhum complemento à reportagem (que é o papel da nota de pé), por outro lado, buscou- se um fato engraçado para dar um tom humorístico à atração. Faz-se referência também à grande busca por lances e fatos inusitados e engraçados que tornem a matéria cômica, às vezes detalhes que passam despercebidos nos jogos ou reportagens, mas que são trazidos e comentados no programa. É o caso da maioria das coberturas sobre a Série B do Campeonato Brasileiro. Um exemplo é a reportagem que foi ao ar no dia 01/06 em que lances e detalhes curiosos são a vertente principal da matéria: comenta-se sobre o goleiro do Icasa com a sobrancelha customizada, com a imagem parada e focalizando seu rosto para ilustrar a informação apresentada. Cita-se também o constante uso dos recursos do Jornalismo popular citado anteriormente, com destaque para a ironia, a ambigüidade, o apelo à oralidade e o exagero. Exemplifica-se primeiramente o recurso do apelo à oralidade, citando-se a matéria que foi ao ar no dia 01/06 sobre a quantidade de gols perdidos pela equipe do Corinthians, utilizando na chamada da matéria uma gíria gaúcha para dar ênfase ao sotaque particular da região Sul falado pelo técnico da equipe Tite. Uma estratégia de grande destaque também é observada quando, em um uma declaração do folclórico Presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, utiliza-se da própria descrição do dirigente, o bordão: ‘’ É uma arapuca!’’, relacionado à pressão da torcida e dos resultados obtidos pelo Atlético Mineiro no estádio Independência, em que a equipe ainda não perdeu jogo algum. Bordão esse que é constantemente usado no programa nas reportagens que falam sobre os jogos no citado estádio. Aborda-se ainda sobre a estratégia da ironia, que se destaca com mais ênfase na chamada da reportagem que foi ao ar no dia 01/06 sobre o jogo entre São Paulo e Atlético Mineiro, em que a declaração de treinador da equipe paulista, Ney Franco, sobre uso de marcação individual no jogador Ronaldinho Gaúcho é ironizada, por ser, segundo o programa, uma atitude muito óbvia. Reflete-se também sobre o uso do recurso sonoro nas matérias, a sonora ou sobe som. Trata-se do uso de trilha sonora juntamente com a imagem. A estratégia é sempre usada nas reportagens do programa para aumentar o tom humorístico das mesmas, como estratégia para destacar o humor presente na matéria. Cita-se o exemplo da trilha sonora de suspense que é utilizada sempre que é apresentada uma matéria de um jogo do Atlético Mineiro no estádio Independência, como alusão à força que o time tem no estádio e a pressão que a torcida faz durante os jogos. Para completar, dá-se o exemplo também da trilha sonora apresentada na reportagem sobre a chegada do jogador Neymar no Hotel de apresentação da Seleção Brasileira, que foi ao ar no dia 29/05, em que, para caracterizar as ações das fãs que gritavam desesperadamente pelo jogador e tentavam invadir o prédio para falar com o mesmo, foi usada a música “Piradinha” de Gabriel Valim. Análise do Humor no Programa Globo Esporte Programa Tema da matéria Recurso Humor 29/05 Chegada de Neymar/ Apresentação da Seleção Exagero/Efeito Sonoro 30/05 Jogo do São Paulo / Aloísio “Boi Carisma” Grafia do GC 31/05 Patente do novo treinador da Portuguesa Ironia / Efeito Sonoro 31/05 Treino Seleção Brasileira Exacerbação do humor na nota de pé 01/06 Lances da Série B Ironia/ Exagero nos detalhes 01/06 Erros de finalização da equipe do Corinthians Apelo à oralidade 01/06 Treino do São Paulo para jogo contra Atlético Mineiro Ironia 6. CONCLUSÃO No meio da comunicação social atual, a busca por audiência e retorno de investimentos acabou se tornando o objetivo principal da atividade, os meios de comunicação por sua vez buscam cada vez mais seduzir o público, e assim conseqüentemente crescer a sua audiência. Para se alcançar a tão sonhada audiência, os meios estão buscando cada vez mais novas tecnologias, técnicas e estratégias para despertar o interesse do público. O Jornalismo Esportivo, dessa maneira, acaba, na maioria das vezes, sendo a principal área para experiências com essas inovações, pois apresenta como já discutido, um fazer jornalístico mais livre e democrático. Destaca-se nessa pesquisa a mudança de modelo do Jornalismo Esportivo da Rede Globo, que vinha sofrendo com grande queda de audiência no seu telejornal esportivo Globo Esporte. Necessitando, portanto, repensar seu formato e sua abordagem, o modelo simplesmente informativo deu lugar a um modelo que informa com entretenimento, usando como estratégia principal o humor. Como já foi abordado anteriormente, o humor como estratégia do Jornalismo de esportes, funciona como uma tática para o indivíduo lidar com questões difíceis e profundas do seu cotidiano. O humor usado na atração estudada não se caracteriza por ser crítico, mas sim condicional, pois ocorre a fusão da oralidade com o efeito sonoro, que causa a comicidade. Considerando as principais técnicas usadas no atual Globo Esporte, traz-se Balieiro (2011) que destaca que no novo formato, as notícias e matérias apresentam mais agilidade e elementos do espetáculo, gírias, comentários cômicos e uso intencional de humor, apresentados na maioria das vezes com a participação do repórter ao vivo, edição de imagens rápidas, uso de efeitos e trilhas musicais atuais. Destacando-se ainda o exagero dos detalhes que é uma característica inerente ao apresentador do programa. Afirma-se ainda que a inovação que mais se nota é a que diz respeito à linguagem, os editores do programa acabaram com qualquer característica que pudesse lembrar um telejornal, como a bancada, o chroma key e o teleprompter. A linguagem usada na atração é mais coloquial, se aproximando da linguagem popular, não existe um roteiro fixo, o que torna o programa mais improvisado. Essas características acabam trazendo o Globo Esporte mais para perto do público, apresentando uma relação muito íntima entre apresentador e telespectadores. Barbeiro e Rangel (2006), afirmam que o Jornalismo esportivo tem suas especificidades, apresentando ainda que ele se confunde, frequentemente, com o puro entretenimento. Analisando-se o programa Globo Esporte, da Rede Globo, em seu formato regional para o Estado de São Paulo, conclui-se que a barreira entre Jornalismo Esportivo e entretenimento, no presente formato, apresenta uma relação ainda mais intimista. Pode-se afirmar que no presente programa eles funcionam como uma espécie de complemento, pois a atração traz um formato em que a informação é dada principalmente como a intenção de entreter o público. Pode-se dizer, portanto, que as matérias que buscam o entretenimento com humor acabam informando bem menos os indivíduos. Todavia tambémé correto afirmar que esse tipo de abordagem funciona como uma maneira de atrair o público, e não somente aquele público necessitado por fatos esportivos, mas também aquele público que na maioria das vezes não se interessaria por assistir a um programa sobre esportes, uma nova geração de telespectadores. Pode-se considerar ainda que, com base na análise e fundamentado na revisão bibliográfica utilizada, o humor e o entretenimento sempre receberam crítica por seu uso na área jornalística por parte daqueles que realizam o Jornalismo clássico, porém é correto afirmar que embora a sua utilização no Jornalismo esportivo seja inovadora com relação ao Jornalismo tradicional acaba também alcançando a sua função de informar a sociedade sobre os fatos esportivos. Considerando ainda sobre o papel do entretenimento nas mídias atuais, traz-se Rangel (2010) que conclui que “o entretenimento é uma tendência da sociedade capitalista atual e consequentemente do fazer Jornalismo Esportivo”. Tendência essa que hoje em dia apresenta os maiores índices de retorno financeiro e audiência para os meios de comunicação em geral. Finaliza-se dizendo que a pesquisa realizada não chegou a respostas definitivas, pois nem todo conteúdo foi abordado, necessitando-se de um maior período de investigação para se analisar todas as técnicas e estratégias do humorismo no Jornalismo Esportivo, todavia não há intenção de esgotar-se o assunto, ainda existe muito que estudar, e existe também a falta de pesquisas científicas na relacionada área. O presente artigo funciona como ponto de partida para novas pesquisas na área do uso do humor no Jornalismo Esportivo, que vem crescendo diariamente e proporcionalmente ao sucesso dos meios que usam tal formato. 7. 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