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1 2 O DESAFIO DE PRESERVAR A INFÂNCIA: COMO FAMÍLIA, ESCOLA E SOCIEDADE PODEM PREVENIR A ADULTIZAÇÃO PRECOCE. Autores: Simone Helen Drumond Ischkanian Gladys Nogueira Cabral Celine Maria de Sousa Azevedo Sandro Garabed Ischkanian Neusa Venditte Silvana Nascimento de Carvalho Em um mundo marcado pela velocidade das mudanças e pela constante pressão social, muitas crianças acabam sendo empurradas para assumir responsabilidades que vão muito além de sua idade cronológica, comprometendo seu direito ao brincar, à exploração lúdica e à vivência natural da infância. A adultização precoce, fenômeno crescente nas sociedades contemporâneas, manifesta-se de diferentes formas: desde a exigência de desempenho escolar elevado e a exposição excessiva a conteúdos midiáticos complexos, até a sobrecarga de tarefas domésticas e a necessidade de gerenciar emoções próprias e alheias de maneira precoce. Ao assumir papéis e responsabilidades de adultos antes do tempo, essas crianças experimentam um desenvolvimento emocional fragmentado, enfrentando ansiedades, inseguranças e uma sensação constante de insuficiência que pode repercutir por toda a vida. O impacto da adultização precoce não se limita ao campo emocional, mas também se estende ao desenvolvimento cognitivo. Crianças que são constantemente pressionadas a compreender e reagir a situações complexas sem o suporte adequado podem apresentar dificuldades na concentração, no aprendizado formal e na construção de habilidades sociais fundamentais. Estudos mostram que a exposição precoce a ambientes adultos, sem a mediação de adultos emocionalmente disponíveis, pode prejudicar a capacidade de resolução de problemas de forma criativa, a empatia e até mesmo a autoestima, gerando padrões de comportamento que refletem sobrecarga e estresse. Essa sobrecarga cognitiva também interfere na capacidade de imaginar, criar e se envolver em brincadeiras significativas, essenciais para a maturação intelectual e afetiva. No aspecto social, a adultização precoce transforma a forma como a criança se relaciona com pares e adultos. Ao assumir responsabilidades que não condizem com sua idade, ela tende a se distanciar de experiências coletivas lúdicas, privilegiando a observação ou a interação com o mundo adulto. Esse fenômeno impacta diretamente nas habilidades de cooperação, negociação e construção de vínculos afetivos saudáveis, pois a criança passa a internalizar modelos de comportamento baseados na eficiência, na produtividade e na adequação social precoce, em detrimento da espontaneidade e do prazer de compartilhar experiências sem pressões. 3 Crianças estão cada vez mais expostas a conteúdos complexos, informações sobre violência, sexualidade e problemas globais que ainda não possuem capacidade de processar emocionalmente. Além disso, a presença constante em plataformas digitais cria a necessidade de construir uma imagem social adequada, muitas vezes baseada em padrões adultos, gerando ansiedade, comparação e sentimento de inadequação. O acesso precoce à tecnologia, sem supervisão qualificada, transforma a infância em um período de exposição a pressões sociais e culturais para as quais ainda não há maturidade emocional suficiente. A família, nesse contexto, desempenha papel central na proteção da infância. Pais e responsáveis precisam reconhecer sinais de adultização precoce, como fadiga excessiva, retraimento social, excesso de preocupações e ansiedade antecipatória. É fundamental oferecer espaços seguros para que a criança expresse sentimentos, dúvidas e medos, sem julgamentos ou exigências desproporcionais. O equilíbrio entre orientação, cuidado e liberdade de experimentar o mundo de forma lúdica é essencial para que a criança desenvolva autonomia saudável sem perder a naturalidade de sua idade. Na escola, o desafio se apresenta de maneira igualmente complexa. A instituição educacional deve atuar não apenas como espaço de ensino, mas como ambiente de suporte emocional, promovendo atividades que valorizem o brincar, a criatividade e o desenvolvimento integral. Currículos excessivamente focados em resultados acadêmicos podem contribuir para a adultização precoce, impondo metas inalcançáveis e desconsiderando o ritmo individual de aprendizagem. Ao adotar metodologias que respeitem o tempo de cada criança, os educadores desempenham papel protetivo, prevenindo o desgaste emocional e favorecendo o crescimento saudável. A sociedade, de modo mais amplo, também participa da construção desse fenômeno. Publicidade direcionada, expectativas culturais e a pressão por desempenho precoce em diversas áreas da vida cotidiana reforçam a ideia de que as crianças devem agir como pequenos adultos. Reconhecer a infância como um período de desenvolvimento único, com direitos específicos e necessidades próprias, é um passo crucial para que políticas públicas, programas de educação e campanhas de conscientização promovam ambientes mais saudáveis para o crescimento infantil. A psicologia infantil oferece ferramentas valiosas para compreender e intervir na adultização precoce. Profissionais da área podem identificar padrões de comportamento, orientar famílias e instituições e desenvolver programas de prevenção e suporte. A terapia, quando adequada, ajuda a criança a lidar com emoções complexas, fortalecer a autoestima e desenvolver habilidades sociais e emocionais de forma gradual, respeitando seu tempo de maturação. Esses processos contribuem para a formação de indivíduos emocionalmente resilientes, capazes de enfrentar desafios futuros sem o peso de responsabilidades precoce demais. O impacto da adultização precoce também reverbera na saúde física. Crianças sobrecarregadas emocional e cognitivamente podem apresentar sintomas como insônia, alterações alimentares, dores de 4 cabeça e problemas de atenção. A pressão constante para corresponder a expectativas adultas ativa mecanismos de estresse que, a longo prazo, comprometem o desenvolvimento neurológico e fisiológico. Cuidar da saúde mental e emocional da criança é uma forma indireta, mas extremamente relevante, de preservar seu bem-estar físico e prevenir consequências futuras. É essencial destacar o papel do brincar como contraponto à adultização precoce. Brincar não é apenas lazer: é prática formativa, que permite à criança explorar, experimentar, criar e socializar em um ambiente seguro. Ao brincar, a criança internaliza regras sociais, desenvolve a linguagem, constrói identidade e aprende a lidar com frustrações e desafios de forma lúdica. Promover o brincar diário, sem interferências adultas desnecessárias, é uma das estratégias mais eficazes para combater os efeitos da adultização precoce e favorecer um desenvolvimento integral saudável. A literatura infantil e as narrativas culturais também desempenham papel significativo nesse cenário. Histórias que valorizam a imaginação, a diversidade de experiências e a construção de valores morais e éticos adequados à idade ajudam a criança a compreender o mundo sem a necessidade de assumir responsabilidades adultas precoces. Além disso, a leitura compartilhada fortalece vínculos familiares, desenvolve o vocabulário, a empatia e a capacidade de reflexão crítica, tornando-se ferramenta poderosa na prevenção da adultização precoce. Profissionais de saúde, educadores e pais devem, portanto, trabalhar de maneira integrada, formando uma rede de proteção à infância. A troca de informações, o acompanhamento do desenvolvimento infantil e a construção de estratégias conjuntas garantem que a criança tenha suporte suficiente para crescer de forma equilibrada. Programas de capacitação para adultos responsáveis, com foco em desenvolvimento infantil e prevenção da adultização, podem contribuir significativamente para reduzir a sobrecarga precoce. A reflexão sobre a adultização precoce também nos leva a questionar valorespúblico e privado e a consciência sobre os impactos da superexposição. Ao promover a reflexão crítica, a escola auxilia na desconstrução de padrões irreais propagados pela internet, fortalecendo a identidade e a autoestima dos alunos. Nesse sentido, o ambiente escolar torna-se um espaço privilegiado para a formação de cidadãos conscientes e preparados para os desafios da sociedade contemporânea. A escola deve funcionar como ponte entre família e comunidade, orientando também os responsáveis acerca dos riscos e das potencialidades da tecnologia. Projetos de conscientização, palestras e rodas de conversa podem contribuir para que pais e responsáveis adquiram maior preparo ao lidar com a realidade digital de seus filhos. A falta de preparo dos adultos frente às novas tecnologias pode gerar omissão ou permissividade, deixando as crianças desprotegidas (Oliveira, 2020). Cabe à escola cumprir um papel social de articulação, atuando não apenas na formação acadêmica, mas também na construção de uma cultura de proteção à infância frente aos desafios da era digital. Paralelamente às ações da família e da escola, o Estado tem o dever constitucional de assegurar políticas públicas que promovam a proteção integral da criança e do adolescente (Brasil, 1988). No âmbito digital, isso significa criar legislações específicas que regulem o acesso e a circulação de informações, protegendo menores de idade contra práticas nocivas e conteúdos impróprios. O Projeto de Lei nº 8.740/2017 surge como um marco nesse processo, ao propor alterações no ECA com vistas a atualizar a legislação diante das novas demandas impostas pela tecnologia (Câmara dos Deputados, 2017). A regulamentação jurídica, nesse contexto, não busca restringir o acesso, mas garantir que este ocorra de forma segura e compatível com o desenvolvimento infantil. Campanhas públicas de informação, formação de professores, fortalecimento de canais de denúncia e investimento em tecnologia de monitoramento são medidas que podem ampliar a proteção infantil no ambiente digital (Safernet, 2021). A proteção não pode se limitar à punição posterior de crimes cometidos contra crianças e adolescentes na internet, mas deve priorizar ações preventivas que impeçam a violação de direitos. Essa atuação proativa do Estado é essencial para que a sociedade avance na direção de uma infância mais protegida e saudável. Plataformas digitais e redes sociais devem adotar mecanismos de segurança, restringindo conteúdos inadequados e implementando políticas de uso que dificultem a exploração infantil. Embora a liberdade de expressão seja um direito constitucional, ela não pode se sobrepor ao direito à proteção da infância, que deve ter prioridade absoluta. A parceria entre Estado e iniciativa privada é indispensável para construir um ambiente digital mais seguro. É importante destacar, ainda, que a adultização precoce promovida pela tecnologia não afeta apenas o indivíduo em sua dimensão psicológica e social, mas gera consequências coletivas. Crianças 26 adultizadas precocemente tendem a apresentar dificuldades de aprendizado, comportamentos de risco e baixa autoestima, fatores que repercutem na sua trajetória escolar e profissional futura (Guerra et al., 2022). Isso impacta diretamente a sociedade, pois compromete a formação de cidadãos plenos, capazes de exercer seus direitos e responsabilidades de forma equilibrada. Logo, investir na proteção da infância é investir no próprio futuro do país. A intersetorialidade torna-se fundamental. Família, escola, Estado e sociedade civil precisam atuar de forma conjunta e articulada para enfrentar os desafios impostos pela era digital. A fragmentação das responsabilidades apenas enfraquece a proteção da criança, enquanto a cooperação fortalece a criação de um ambiente de cuidado e segurança. Organizações não governamentais, conselhos tutelares, associações comunitárias e veículos de comunicação também devem ser incluídos nesse esforço coletivo de preservação da infância. A proteção digital não é tarefa de um único ator, mas de toda a sociedade. É necessário compreender que a tecnologia, por si só, não é negativa. Ao contrário, pode ser um instrumento valioso de aprendizagem, inclusão social e ampliação do acesso à informação. O problema está na forma como é utilizada e na ausência de limites claros que orientem esse uso. Portanto, a busca não deve ser pela exclusão da criança do mundo digital, mas pela construção de práticas responsáveis e conscientes que permitam conciliar os benefícios da tecnologia com a preservação da infância. Somente assim será possível formar uma geração conectada, mas também crítica, saudável e protegida. A tecnologia exerce impacto decisivo na adultização precoce, seja pela exposição a conteúdos impróprios, pela pressão social das redes ou pelas consequências físicas e cognitivas do uso excessivo das telas. Embora indispensável na sociedade contemporânea, sua utilização sem limites ameaça a preservação da infância como etapa essencial do desenvolvimento humano. A construção de uma cultura de uso responsável e crítico da tecnologia é, portanto, uma tarefa coletiva, que deve envolver famílias, escolas, sociedade civil e poder público em uma articulação constante e integrada. A infância, enquanto fase de desenvolvimento integral do ser humano, encontra-se amparada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1988; Brasil, 1990), que asseguram a prioridade absoluta dos direitos da criança e do adolescente, sobretudo no que se refere à sua proteção contra qualquer forma de negligência, exploração e violência. No contexto digital, essa proteção se materializa na criação de práticas que orientem o acesso seguro às tecnologias, prevenindo a adultização precoce e promovendo experiências adequadas à faixa etária. No âmbito familiar, a responsabilidade está em mediar a relação das crianças com os dispositivos eletrônicos, não apenas estabelecendo limites de tempo, mas também dialogando sobre conteúdos, valores e riscos. Estudos apontam que a mediação ativa dos pais promove maior segurança emocional e desenvolvimento crítico, evitando a exposição a conteúdos que possam antecipar experiências adultas (Da Silva et al., 2020; Drumond Ischkanian, 2023). Esse acompanhamento contribui para que a criança internalize práticas saudáveis de navegação e perceba a tecnologia como uma ferramenta de aprendizado, e não como substituto das interações humanas ou como espaço de validação identitária. 27 Na esfera escolar, a formação digital crítica deve ser tratada como componente essencial do processo educativo. Ao incorporar práticas pedagógicas que discutam ética, cidadania digital e riscos da exposição online, a escola contribui para que crianças e adolescentes compreendam seus direitos e responsabilidades no espaço virtual (Niebuhr et al., 2019). Mais do que ensinar conteúdos acadêmicos, a instituição escolar deve preparar os estudantes para a vida em sociedade, capacitando-os a utilizar os recursos tecnológicos sem que isso comprometa seu desenvolvimento emocional, físico e social. A sociedade civil organizada também desempenha papel central nesse processo, seja por meio de ONGs, associações comunitárias, conselhos tutelares ou iniciativas privadas. Campanhas de conscientização, projetos sociais e ações de informação são instrumentos fundamentais para disseminar boas práticas e sensibilizar famílias e comunidades sobre a importância da proteção digital (Oliveira, 2020). Essas iniciativas contribuem para que o tema deixe de ser tratado apenas como responsabilidade individual, passando a ser compreendido como compromisso coletivo. O Estado, por sua vez, tem o dever constitucional de garantir políticas públicas que assegurem a proteção integral da infância. Isso implica não apenas a atualização do ECA frente às novas demandasdigitais, como proposto pelo Projeto de Lei nº 8.740/2017 (Câmara dos Deputados, 2017), mas também a implementação de medidas preventivas, como canais de denúncia acessíveis, fiscalização de plataformas digitais e apoio psicológico às vítimas de violências online. A omissão estatal fragiliza o sistema protetivo e favorece o avanço da adultização precoce como um fenômeno social estruturante. A construção dessa cultura crítica também exige a responsabilização das empresas de tecnologia. Provedores e plataformas digitais devem adotar mecanismos de segurança que impeçam a circulação indiscriminada de conteúdos inadequados e protejam dados sensíveis de crianças e adolescentes (Busher, 2017). A proteção digital não se resume à esfera familiar ou estatal: ela deve ser vista como responsabilidade compartilhada, na qual todos os agentes que atuam no ecossistema digital assumam compromissos claros com a defesa da infância. Promover o equilíbrio entre benefícios e riscos da tecnologia significa reconhecer que o ambiente digital pode ser fonte de aprendizado, criatividade e inclusão social, desde que utilizado de forma segura e mediada. O desafio consiste em garantir que as oportunidades oferecidas pela tecnologia não sejam anuladas pelos danos advindos da exposição precoce a conteúdos e pressões adultas (Niebuhr et al., 2019; Guerra et al., 2022). Isso implica uma mudança cultural mais ampla, que valorize o direito à infância e resista às pressões mercadológicas que frequentemente incentivam a erotização e a adultização precoce. A consolidação de uma cultura de uso responsável e crítico da tecnologia só será efetiva quando houver o reconhecimento coletivo de que a infância não pode ser negligenciada em nome do progresso digital. Trata-se de um compromisso intergeracional, no qual o presente precisa ser protegido para que o futuro não seja comprometido. 28 4. CONSEQUÊNCIAS DA ADULTIZAÇÃO PRECOCE NA SAÚDE MENTAL A adultização precoce impacta profundamente a saúde mental da criança e do adolescente, comprometendo seu desenvolvimento emocional, psicológico e social. A sobrecarga de responsabilidades e expectativas adultas, aliada à falta de suporte emocional adequado, pode levar a uma série de problemas de saúde mental, alguns dos quais se manifestam ainda na infância, enquanto outros permanecem latentes e surgem de forma mais grave na vida adulta. Como prevê a Constituição Federal (Brasil, 1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar proteção integral a crianças e adolescentes, garantindo condições adequadas de desenvolvimento. A ausência dessa proteção, sobretudo diante da pressão digital e da exposição precoce a conteúdos impróprios, tem se mostrado um dos principais gatilhos para transtornos emocionais (Da Silva et al., 2020). Simone Helen Drumond Ischkanian (2025) destaca que a ausência de acompanhamento familiar e educacional adequado no processo de socialização da criança intensifica a adultização precoce, gerando um conjunto de consequências emocionais graves, como ansiedade e depressão, pois a sobrecarga de responsabilidades e a falta de suporte afetivo configuram um ambiente propício ao comprometimento da saúde mental infantil. Gladys Nogueira Cabral (2025) argumenta que a adultização precoce rompe o equilíbrio essencial do desenvolvimento psíquico, visto que a criança é forçada a internalizar expectativas adultas sem a maturidade necessária, o que a torna vulnerável a quadros de estresse crônico, baixa autoestima e dificuldades de regulação emocional, repercutindo em sua vida escolar, social e familiar. Celine Maria de Sousa Azevedo (2025) enfatiza que a exposição precoce a pressões sociais, padrões de consumo e à superexposição digital interfere diretamente na constituição identitária da criança, ocasionando não apenas insegurança e sentimentos de inadequação, mas também predisposição a transtornos mentais que podem se perpetuar na vida adulta, como depressão e transtornos de ansiedade. Sandro Garabed Ischkanian (2025) ressalta que a adultização precoce constitui uma forma de violência simbólica contra a infância, visto que desloca a criança de seu espaço natural de ludicidade e afeto para um universo marcado pela exigência de desempenho e maturidade, comprometendo assim sua saúde mental e favorecendo o surgimento de quadros como estresse pós-traumático e comportamentos autodestrutivos. Neusa Venditte (2025) observa que a antecipação de papéis e responsabilidades típicas do mundo adulto fragiliza os vínculos emocionais da criança, expondo-a à solidão, ao isolamento social e ao risco de desenvolver transtornos psicológicos graves, destacando ainda que a falta de políticas públicas efetivas para a proteção da infância agrava esse cenário de vulnerabilidade. Silvana Nascimento de Carvalho (2025) defende que a adultização precoce deve ser compreendida como um fenômeno multidimensional que atinge a saúde mental infantil ao impor pressões 29 sociais, familiares e midiáticas que extrapolam a capacidade de elaboração psíquica da criança, levando ao aumento dos casos de depressão, ansiedade e baixa autoestima, o que evidencia a urgência de estratégias de prevenção e acompanhamento profissional. Um dos efeitos mais recorrentes da adultização precoce é a ansiedade, que pode se manifestar em diferentes formas, como ansiedade generalizada, fobias específicas e até ataques de pânico. Crianças expostas a responsabilidades acima de sua maturidade, ou submetidas à pressão por desempenho e validação em ambientes digitais, tendem a desenvolver preocupações constantes e medo excessivo (Niebuhr et al., 2019). Os sintomas mais comuns incluem irritabilidade, insônia, dificuldades de concentração e sensação de alerta permanente. A ausência de tempo para atividades lúdicas e relaxantes, essenciais para a infância, intensifica esse quadro. Pesquisas apontam que crianças que vivenciam esse processo têm maiores chances de desenvolver transtornos ansiosos crônicos na vida adulta (Ministério da Saúde, 2010). A infância e a adolescência, fases naturalmente marcadas pelo brincar, pela experimentação e pelo convívio social, são muitas vezes substituídas por rotinas carregadas de cobranças e comparações sociais. A sensação de responsabilidade excessiva, aliada à falta de apoio emocional e à superexposição em redes sociais, pode gerar tristeza profunda, desesperança, perda de interesse em atividades prazerosas e isolamento (Oliveira, 2020). A depressão pode se expressar por meio de alterações no humor, no sono, no apetite e até no rendimento escolar, chegando a casos graves que envolvem ideação suicida. O Guia de Orientação sobre Prevenção à Sexualização (Guerra et al., 2022) destaca que a antecipação de experiências adultas compromete gravemente o bem-estar emocional e deve ser entendida como um fator de risco psicossocial. A baixa autoestima também é uma consequência significativa da adultização precoce. A exposição constante a padrões irreais de beleza, consumo e sucesso veiculados pela mídia e pelas redes sociais constrói uma autoimagem negativa e reforça a crença na própria incapacidade (Leão; Reis; Muzzetti, 2014). Crianças e adolescentes que não se sentem reconhecidos em seus esforços, ou que vivem sob constante pressão, podem acreditar serem inferiores aos outros, desenvolvendo sentimentos de inadequação e insegurança. Essa fragilidade identitária reflete-se não apenas no desempenho acadêmico, mas também nas relações interpessoais e até na saúde física, já que a baixa autoestima está associada a distúrbios alimentares e somatizações (Fernandes; Cunha, 2021). Assim, o que deveria ser um processo gradual de construção da autoconfiança se converte em um ciclo de frustração e autodepreciação. A adultização precoce pode desencadear outros problemas de saúde mental igualmentegraves. Crianças expostas a situações de violência digital, assédio ou pornografia infantil — problemas em crescimento no Brasil (Safernet, 2021; Bastos, 2021) — apresentam maior risco de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Outras consequências incluem transtornos de conduta, uso precoce de álcool e drogas, automutilação e comportamentos autodestrutivos (Simon; Galera, 2017). Tais condições deixam marcas profundas na psique infantil e podem comprometer de forma irreversível a 30 capacidade de estabelecer vínculos saudáveis, manter a estabilidade emocional e projetar planos de vida. O impacto prolongado desses transtornos demonstra que a adultização precoce não é apenas um fenômeno momentâneo, mas um problema social com repercussões intergeracionais. É fundamental que pais, educadores, profissionais de saúde e o poder público estejam atentos aos sinais e sintomas de sofrimento psíquico em crianças e adolescentes. O acompanhamento psicológico, a promoção de espaços de escuta e a implementação de políticas públicas de prevenção e cuidado são estratégias indispensáveis para mitigar os efeitos da adultização precoce e assegurar o desenvolvimento integral da criança, em conformidade com os princípios constitucionais de proteção integral e prioridade absoluta (Brasil, 1988; Brasil, 1990). Somente uma atuação conjunta, envolvendo família, escola e Estado, pode garantir que a infância seja vivida plenamente, livre das pressões indevidas que comprometem a saúde mental. 5. ADULTIZAÇÃO PRECOCE E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO As consequências da adultização precoce não se limitam aos aspectos emocionais e sociais, mas estendem-se também ao desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes, afetando de maneira significativa processos essenciais para a aprendizagem, a criatividade e a construção do pensamento crítico. Ao serem expostos a responsabilidades e pressões próprias do universo adulto, em detrimento das vivências lúdicas e educativas que deveriam marcar a infância, os indivíduos em formação tendem a apresentar lacunas em áreas fundamentais do funcionamento cognitivo, como memória, atenção, linguagem e raciocínio lógico (Da Silva et al., 2020; Niebuhr et al., 2019). Simone Helen Drumond Ischkanian (2025) enfatiza que a exposição precoce de crianças e adolescentes a responsabilidades e pressões adultas compromete não apenas a aprendizagem e o desempenho escolar, mas também a capacidade de raciocínio crítico, criatividade e resolução de problemas, ao restringir as oportunidades de vivenciar experiências lúdicas essenciais para o desenvolvimento cognitivo pleno. Gladys Nogueira Cabral (2025) argumenta que a adultização precoce interfere diretamente na formação de habilidades cognitivas complexas, como memória, atenção, organização de ideias e planejamento, pois a imposição de tarefas e expectativas adultas priva a criança de práticas educativas e interações sociais fundamentais para o amadurecimento intelectual. Celine Maria de Sousa Azevedo (2025) destaca que a antecipação de responsabilidades adultas e a redução de atividades lúdicas e criativas limitam a experimentação simbólica e a construção da linguagem, gerando dificuldades na expressão verbal e escrita, na organização do pensamento e na capacidade de elaborar soluções inovadoras para problemas cotidianos. Sandro Garabed Ischkanian (2025) ressalta que a sobrecarga cognitiva e emocional causada pela adultização precoce compromete a formação das funções executivas do cérebro, como atenção, 31 autocontrole, tomada de decisões e planejamento, afetando de forma duradoura a autonomia intelectual e a capacidade de interação social da criança. Neusa Venditte (2025) observa que a privação de experiências lúdicas, coletivas e de exploração criativa impede o desenvolvimento de habilidades de comunicação complexa, empatia e colaboração, impactando não apenas a performance acadêmica, mas também a construção de vínculos sociais saudáveis e o desenvolvimento do pensamento crítico. Silvana Nascimento de Carvalho (2025) defende que a adultização precoce configura uma violação indireta dos direitos da criança ao desenvolvimento integral, uma vez que restringe o acesso a experiências cognitivas essenciais para a aprendizagem, a criatividade, a expressão linguística e a construção de raciocínio lógico, limitando o potencial intelectual e socioemocional do indivíduo ao longo da vida. Um dos principais prejuízos está relacionado à memória e à atenção. Crianças submetidas a preocupações excessivas e a uma rotina marcada por tensões emocionais próprias do mundo adulto têm maiores dificuldades em manter a concentração e consolidar informações novas, o que compromete o processo de aprendizagem escolar (Ministério da Saúde, 2010). A ausência de experiências lúdicas, que naturalmente estimulam a atenção sustentada e seletiva, agrava esse quadro, criando barreiras no desenvolvimento acadêmico e nos processos de retenção de conhecimento. O brincar, as interações coletivas e a experimentação criativa desempenham um papel central no desenvolvimento cognitivo da criança, sendo fundamentais para a ampliação do vocabulário e a formação de estruturas comunicativas complexas (Leão; Reis; Muzzeti, 2014). Por meio do lúdico, a criança aprende a articular ideias, organizar narrativas, compreender regras sociais e desenvolver a capacidade de argumentação, habilidades que são essenciais não apenas para o sucesso escolar, mas também para a vida social e emocional. A ausência dessas experiências representa uma limitação significativa na formação de competências linguísticas e comunicativas, que são adquiridas de forma gradual ao longo da infância. Na adultização precoce, essas vivências lúdicas e coletivas são frequentemente substituídas por responsabilidades e expectativas próprias de indivíduos mais velhos, comprometendo a oportunidade da criança de explorar o mundo por meio do jogo e da interação social (Da Silva et al., 2020). Essa imposição de pressões adultas precocemente reduz o espaço para experiências que estimulam a imaginação e a criatividade, dificultando o desenvolvimento de habilidades de expressão verbal e escrita, bem como a capacidade de organizar pensamentos de maneira coerente. Consequentemente, a criança pode apresentar dificuldades para transmitir ideias, sentimentos e intenções de forma clara e compreensível. O impacto sobre o desenvolvimento da linguagem se manifesta também na leitura e na escrita, que são diretamente influenciadas pelo contato com histórias, narrações e trocas comunicativas. Crianças adultizadas precocemente podem ter menor contato com práticas de contação de histórias, brincadeiras de faz-de-conta e atividades artísticas, resultando em atraso na aquisição de 32 vocabulário, dificuldade de interpretação de textos e limitações na produção escrita (Oliveira, 2020). Tais déficits não apenas prejudicam o desempenho acadêmico, mas também afetam a autoconfiança da criança e sua capacidade de engajamento em atividades escolares e sociais. As interações coletivas, que incluem jogos, atividades em grupo e experiências colaborativas, são igualmente prejudicadas. Quando a criança assume papéis e responsabilidades próprias do mundo adulto, ela passa a ter menos tempo e interesse em atividades com pares, reduzindo o aprendizado de habilidades sociais essenciais, como cooperação, negociação e empatia (Niebuhr et al., 2019). Essa limitação compromete a construção de relacionamentos saudáveis e o desenvolvimento de competências socioemocionais, que são fundamentais para a comunicação assertiva e a capacidade de resolver conflitos de maneira construtiva. A experimentação criativa é outro elemento crucial para a formação da linguagem e do pensamento simbólico. Atividades como pintura, modelagem, dramatização e música permitem que a criança explore diferentesformas de expressão, exercite a imaginação e crie conexões entre conceitos abstratos e concretos (Leão; Reis; Muzzeti, 2014). Na ausência desses estímulos, a criança tende a desenvolver um repertório limitado de expressões, restringindo a capacidade de comunicação e de construção de narrativas próprias, o que pode levar a dificuldades de argumentação e reflexão crítica ao longo da vida. A adultização precoce também influencia a capacidade de autoregulação da fala e da escrita. Crianças pressionadas a assumir responsabilidades adultas podem apresentar bloqueios emocionais e dificuldades de concentração, prejudicando o processo de produção textual e a clareza na expressão oral (Da Silva et al., 2020). Além disso, a ansiedade gerada por essas pressões interfere na organização do pensamento, tornando mais difícil estruturar frases coerentes, apresentar ideias complexas e participar de diálogos de forma adequada, o que compromete tanto a comunicação escolar quanto familiar. Crianças adultizadas podem ter menos oportunidades de vivenciar situações em que é necessário ouvir, negociar e se colocar no lugar do outro, limitando a capacidade de compreender e expressar sentimentos alheios (Venditte, 2025). Essa lacuna impacta diretamente a comunicação emocional, tornando mais difícil estabelecer vínculos afetivos saudáveis e interpretar mensagens de forma adequada em diferentes contextos sociais. O desenvolvimento de habilidades metalinguísticas, ou seja, a capacidade de refletir sobre a própria linguagem e seus usos, também é prejudicado pela adultização precoce. Atividades lúdicas e coletivas permitem que a criança observe, critique e modifique suas formas de expressão, ampliando a consciência linguística e a capacidade de revisão textual (Guerra et al., 2022). A ausência dessas práticas limita a evolução da linguagem e reduz a habilidade de organizar ideias de forma lógica, clara e criativa, o que pode se refletir em dificuldades acadêmicas e profissionais futuras. A sobrecarga de responsabilidades adultas também interfere na motivação intrínseca da criança para se comunicar. Quando a infância é marcada pela pressa em atingir metas adultas, a criança pode 33 passar a ver a comunicação e a escrita apenas como instrumentos de desempenho ou obrigação, e não como formas de expressão pessoal e social (Oliveira, 2020). Isso gera um desinteresse pelo aprendizado linguístico e reduz a exploração criativa da linguagem, prejudicando o desenvolvimento cognitivo e emocional simultaneamente. A restrição das experiências lúdicas, coletivas e criativas na infância não apenas limita o desenvolvimento da linguagem e da comunicação, mas compromete a formação integral da criança, incluindo aspectos cognitivos, sociais e emocionais (Leão; Reis; Muzzeti, 2014; Da Silva et al., 2020). A promoção de brincadeiras, interações colaborativas e atividades criativas é, portanto, essencial para garantir que a criança adquira competências linguísticas sólidas, desenvolva habilidades socioemocionais e se torne capaz de expressar pensamentos e sentimentos de maneira articulada, segura e criativa. A resolução de problemas e o raciocínio lógico também sofrem impactos relevantes. O excesso de responsabilidades e o contato precoce com situações estressoras fazem com que a criança desenvolva uma postura pragmática e limitada diante dos desafios, sem espaço para a criatividade e para a aprendizagem por tentativa e erro (Guerra et al., 2022). Essa limitação pode comprometer o desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de analisar diferentes perspectivas, o que é essencial para a formação de cidadãos autônomos e conscientes em sociedades complexas. A capacidade de planejamento e organização pode ser profundamente afetada. Crianças adultizadas precocemente tendem a assumir responsabilidades para as quais não estão cognitivamente preparadas, o que gera sobrecarga mental e dificuldade em estruturar atividades, organizar prioridades e projetar objetivos a longo prazo (Oliveira, 2020). Isso repercute tanto na vida acadêmica, com queda no rendimento escolar, quanto na vida adulta, com desafios para gerir tarefas cotidianas e profissionais. A ausência de um ambiente lúdico e de estímulos adequados durante a infância compromete ainda a criatividade e a capacidade de abstração, elementos fundamentais para a inovação e para o pensamento simbólico. O brincar, a imaginação e as atividades artísticas, que deveriam constituir parte essencial do desenvolvimento infantil, são substituídas por pressões externas, o que restringe a criança a uma forma de pensar mais limitada e concreta (Niebuhr et al., 2019). Do ponto de vista jurídico e social, a Constituição Federal (Brasil, 1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990) asseguram o direito ao desenvolvimento integral, o que inclui não apenas a proteção física e emocional, mas também o acesso a oportunidades educacionais e cognitivas adequadas à faixa etária. A adultização precoce, portanto, configura uma violação indireta desses direitos, uma vez que restringe o pleno exercício da infância como fase preparatória para a vida adulta. Estudos recentes também apontam que a privação de vivências adequadas na infância pode gerar impactos permanentes no desenvolvimento cerebral, especialmente em áreas relacionadas às funções executivas, como o córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos, tomada de decisão e planejamento (Venditte, 2025). Isso significa que os efeitos da adultização precoce no desenvolvimento 34 cognitivo não se limitam à infância, mas podem se estender para toda a vida, comprometendo o desempenho acadêmico, a autonomia e a inserção social do indivíduo. É fundamental que famílias, escolas e sociedade promovam um ambiente equilibrado que permita à criança vivenciar plenamente cada etapa do seu desenvolvimento. O estímulo às atividades lúdicas, a promoção da leitura, o incentivo ao diálogo e a valorização da criatividade são estratégias essenciais para fortalecer as habilidades cognitivas e prevenir os impactos negativos da adultização precoce (Drumond Ischkanian, 2023). A adultização precoce compromete o desenvolvimento cognitivo ao restringir a criança de experiências fundamentais para a memória, atenção, linguagem, raciocínio lógico, criatividade e planejamento. Trata-se de um fenômeno que não apenas fragiliza o processo de aprendizagem, mas que pode deixar marcas permanentes no desenvolvimento intelectual e social, evidenciando a necessidade de políticas públicas, práticas educativas e intervenções familiares que assegurem o direito à infância em sua integralidade. 6. CONSEQUÊNCIAS DA ADULTIZAÇÃO PRECOCE NAS RELAÇÕES SOCIAIS As consequências da adultização precoce se estendem para além dos domínios cognitivo e emocional, afetando profundamente as relações sociais da criança e do adolescente, uma vez que o desenvolvimento social depende fortemente de experiências lúdicas, interações espontâneas e da exploração segura do ambiente. A sobrecarga de responsabilidades adultas, a exposição precoce a preocupações e pressões externas, assim como a privação de momentos de lazer, podem limitar a capacidade de criar vínculos afetivos, desenvolver empatia e compreender as nuances das interações interpessoais (Da Silva et al., 2020; Niebuhr et al., 2019). Simone Helen Drumond Ischkanian (2025) afirma que a adultização precoce compromete o desenvolvimento de vínculos afetivos significativos, uma vez que a criança, submetida a responsabilidades e pressões adultas, perde oportunidades de brincar, interagir com os pares e desenvolver empatia, habilidades essenciais para estabelecer relações sociais saudáveis e duradouras. Gladys Nogueira Cabral (2025) argumenta que a sobrecarga de responsabilidades e a imposição de expectativas adultas limitam a capacidade de comunicação assertiva da criança,prejudicando a expressão de sentimentos, a resolução de conflitos e a construção de interações sociais equilibradas e cooperativas. Celine Maria de Sousa Azevedo (2025) destaca que a privação de experiências lúdicas e coletivas impede a criança de explorar sua individualidade e de construir um senso de pertencimento, resultando em isolamento social, dificuldades na formação da identidade e relações interpessoais superficiais ou frágeis. 35 Sandro Garabed Ischkanian (2025) ressalta que a adultização precoce influencia o comportamento social da criança, podendo levar a manifestações de agressividade, passividade ou manipulação como mecanismos de enfrentamento, comprometendo a construção de vínculos saudáveis e a aprendizagem de normas sociais. Neusa Venditte (2025) observa que a falta de tempo para brincadeiras, experimentações coletivas e interação com pares limita a aquisição de habilidades socioemocionais, como cooperação, empatia e negociação, prejudicando a participação da criança em atividades de grupo e o desenvolvimento de relacionamentos afetivos sólidos. Silvana Nascimento de Carvalho (2025) defende que a exposição precoce a responsabilidades adultas configura uma violação indireta dos direitos da criança, pois compromete a socialização, a construção de vínculos afetivos, a comunicação assertiva e a capacidade de desenvolver relações sociais harmoniosas e sustentáveis ao longo da vida. A privação de experiências próprias da infância compromete diretamente a formação de vínculos afetivos significativos (Leão; Reis; Muzzeti, 2014). Crianças e adolescentes que assumem papéis adultos prematuramente tendem a ter menos oportunidades de brincar, explorar relações de amizade e desenvolver intimidade com os pares, o que pode levar ao isolamento social, à dificuldade de confiar nos outros e à construção de relações superficiais ou instrumentais. A ausência de vivências lúdicas que promovem cooperação e compartilhamento limita a construção da empatia e da capacidade de compreender as necessidades alheias. A adultização precoce também interfere na capacidade de comunicação e interação social (Oliveira, 2020). Indivíduos sobrecarregados por responsabilidades e expectativas adultas podem apresentar dificuldades em expressar emoções, comunicar desejos de forma assertiva e resolver conflitos de maneira construtiva. A pressão por um comportamento formal, adulto e responsável, muitas vezes internalizada pela criança, pode reduzir a espontaneidade nas relações e dificultar o estabelecimento de conexões genuínas com os pares, prejudicando o desenvolvimento socioemocional. Crianças adultizadas podem desenvolver comportamentos inadequados nas interações sociais como forma de lidar com frustrações e tensões. A agressividade pode surgir como mecanismo de defesa frente à sobrecarga de responsabilidades, a passividade excessiva pode ser uma estratégia de proteção para evitar conflitos ou cobranças, e a manipulação pode ser utilizada como meio de alcançar objetivos sem depender da expressão direta de sentimentos ou necessidades. Esses comportamentos podem prejudicar relações interpessoais e limitar a construção de vínculos afetivos saudáveis. A adultização precoce compromete também a construção da identidade e do senso de pertencimento social. Ao assumir responsabilidades adultas, a criança tem menos tempo e liberdade para explorar seus interesses, descobrir suas habilidades e se conectar com grupos sociais que compartilham valores e experiências similares. Essa limitação interfere na formação de uma identidade sólida, autônoma 36 e coerente, dificultando o desenvolvimento de autoestima e a construção de um sentimento de pertencimento (Drumond Ischkanian, 2023). A exposição precoce a expectativas adultas e a pressão por desempenho podem intensificar sentimentos de inadequação e isolamento social, uma vez que a criança se percebe diferente dos pares que ainda desfrutam da infância plena. Essa percepção pode gerar insegurança, retraimento e dificuldades em participar de atividades coletivas, prejudicando a socialização e a capacidade de estabelecer relações de confiança e colaboração (Da Silva et al., 2020). A falta de experiências sociais adequadas durante a infância também interfere na aprendizagem de normas sociais, negociação, cooperação e resolução de conflitos, habilidades essenciais para a vida adulta. Crianças adultizadas tendem a adotar estratégias rígidas ou defensivas de interação, sem desenvolver a flexibilidade cognitiva e emocional necessária para lidar com a diversidade de comportamentos e opiniões que caracterizam os grupos sociais (Niebuhr et al., 2019). O comprometimento das relações sociais afeta não apenas a esfera pessoal, mas também o desempenho escolar e a integração em atividades coletivas, uma vez que a capacidade de trabalhar em equipe, ouvir o outro e expressar-se adequadamente são habilidades fundamentais para o aprendizado e para o convívio harmonioso (Oliveira, 2020). A ausência dessas habilidades pode gerar dificuldades acadêmicas, isolamento e até conflitos constantes com professores e colegas. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990) assegura o direito à convivência familiar e comunitária, à educação e à proteção integral, incluindo o desenvolvimento saudável das habilidades sociais. A adultização precoce representa uma violação indireta desses direitos, pois compromete a oportunidade de socialização, de brincadeiras coletivas e de participação em atividades que promovem o desenvolvimento socioemocional e relacional. A adultização precoce afeta diretamente o desenvolvimento emocional e social de crianças e adolescentes, pois os priva de vivenciar experiências próprias de cada fase da vida. Ao serem expostos a responsabilidades, comportamentos e pressões típicos da vida adulta de forma antecipada, esses jovens podem apresentar dificuldades para lidar com as próprias emoções, estabelecer relações de confiança e desenvolver uma comunicação saudável. A falta de espaço para o brincar e para o convívio social adequado pode comprometer a construção da autoestima e a formação de uma identidade sólida, elementos fundamentais para uma vida equilibrada e plena. A prevenção desses impactos exige uma ação conjunta de famílias, escolas e sociedade, que devem se comprometer em criar ambientes que respeitem e valorizem a infância. Proporcionar momentos de lazer, estimular a interação social por meio de atividades coletivas e investir em práticas pedagógicas que fortaleçam as habilidades socioemocionais são medidas fundamentais. A criança pode vivenciar sua fase de desenvolvimento com plenitude, construindo bases emocionais e sociais mais seguras, que favorecerão sua capacidade de enfrentar desafios futuros e de estabelecer vínculos saudáveis e duradouros ao longo da vida. 37 7. PAPEL DA FAMÍLIA NA PREVENÇÃO DA ADULTIZAÇÃO PRECOCE Eliana Drumond de Carvalho Silva Simone Helen Drumond Ischkanian A família desempenha um papel central na prevenção da adultização precoce, sendo o primeiro núcleo de socialização da criança e o principal agente responsável por proporcionar um ambiente seguro, acolhedor e estimulante, que favoreça o desenvolvimento integral, respeitando o ritmo de crescimento e as necessidades específicas de cada fase da infância (Drumond Ischkanian, 2023; Da Silva et al., 2020). O contexto familiar adequado contribui diretamente para que a criança desenvolva habilidades cognitivas, emocionais e sociais de maneira equilibrada, prevenindo que ela assuma responsabilidades adultas prematuramente. A prevenção da adultização precoce inicia-se pela compreensão das necessidades da criança em cada etapa do seu desenvolvimento. Pais e responsáveis precisam estar atentos aos sinais de sobrecarga emocional e estresse, identificando precocemente indícios de adultização, como comportamentoexcessivamente responsável, ansiedade, isolamento ou perda de interesse em brincadeiras (Venditte, 2025). Essa vigilância requer observação atenta, escuta ativa e empatia, permitindo que a criança seja acolhida de maneira adequada e orientada sem pressão. Eliana Drumond de Carvalho Silva: "A família exerce um papel central na prevenção da adultização precoce ao proporcionar um ambiente emocionalmente seguro, pautado por afeto, diálogo aberto e limites consistentes, de modo que a criança possa vivenciar plenamente sua infância, desenvolver autonomia e adquirir habilidades socioemocionais essenciais sem assumir responsabilidades que não correspondem à sua faixa etária (Silva, 2025)." Simone Helen Drumond Ischkanian: "A atuação responsável da família na prevenção da adultização precoce envolve não apenas a oferta de cuidados e proteção física, mas também a criação de um contexto de estabilidade emocional e suporte afetivo, no qual a criança tenha liberdade para brincar, expressar sentimentos e aprender com suas experiências, fortalecendo assim seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social (Drumond Ischkanian, 2023)." Estabelecer limites claros e consistentes é uma das estratégias fundamentais da família para prevenir a adultização precoce. A definição de responsabilidades compatíveis com a idade da criança, como pequenas tarefas domésticas ou organização de seus pertences, promove senso de autonomia e colaboração sem sobrecarregar o indivíduo nem comprometer o tempo destinado à brincadeira, ao lazer e à socialização (Oliveira, 2020). O equilíbrio entre deveres e momentos de diversão é essencial para garantir o desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. A criação de um ambiente familiar emocionalmente seguro e estável é essencial para garantir o desenvolvimento integral da criança, pois fornece as bases necessárias para que ela possa explorar o mundo, construir confiança em si mesma e desenvolver habilidades sociais, cognitivas e emocionais de forma saudável (Drumond Ischkanian, 2023). Um lar que combina afeto, cuidado e limites claros permite 38 que a criança vivencie experiências próprias da infância sem a necessidade de assumir responsabilidades adultas prematuras. Crianças que crescem em contextos familiares marcados por instabilidade, negligência ou violência frequentemente antecipam responsabilidades e adotam comportamentos de adultos para lidar com as carências afetivas ou compensar a ausência de suporte emocional (Niebuhr et al., 2019). Esse fenômeno de adultização precoce compromete significativamente o desenvolvimento socioemocional, uma vez que impede que a criança vivencie plenamente etapas cruciais da infância, como o brincar, a socialização e a experimentação de diferentes papéis. Um lar acolhedor e amoroso oferece segurança emocional, permitindo que a criança construa uma base sólida de autoestima e confiança, essenciais para enfrentar desafios futuros sem recorrer a mecanismos de defesa próprios de adultos (Drumond Ischkanian, 2023). O afeto consistente e a presença constante dos pais ou responsáveis proporcionam à criança a sensação de pertencimento e proteção, favorecendo a exploração de sua autonomia de forma segura e gradual. A estabilidade familiar contribui diretamente para a resiliência da criança, fortalecendo sua capacidade de lidar com frustrações, conflitos e situações de estresse sem se sobrecarregar com responsabilidades que não lhe pertencem (Da Silva et al., 2020). Crianças que recebem apoio emocional adequado tendem a desenvolver habilidades de regulação emocional e resolução de problemas, fundamentais para o equilíbrio psicológico ao longo da vida. A comunicação aberta e a escuta ativa são estratégias centrais para criar um ambiente seguro, pois permitem que a criança expresse sentimentos, dúvidas e necessidades sem medo de julgamento ou repreensão (Drumond Ischkanian, 2023). Esse diálogo contínuo favorece a construção de vínculos afetivos sólidos, fortalece a confiança mútua e reduz a tendência da criança em assumir papéis adultos prematuros como forma de proteção ou adaptação. Pais e responsáveis que demonstram equilíbrio emocional e consistência em suas atitudes servem como modelos para a criança, ensinando formas saudáveis de lidar com emoções e situações desafiadoras (Niebuhr et al., 2019). A observação de comportamentos equilibrados contribui para que a criança internalize estratégias adequadas de enfrentamento e desenvolva autonomia sem se sobrecarregar emocionalmente. A organização do ambiente doméstico, incluindo rotinas previsíveis, limites claros e espaços seguros para brincadeiras, é um fator determinante para a construção de estabilidade emocional e prevenção da adultização precoce (Da Silva et al., 2020). Rotinas estruturadas permitem à criança compreender suas responsabilidades e direitos, além de proporcionar momentos de lazer e aprendizado essenciais para o desenvolvimento cognitivo e social. O papel da família na prevenção da adultização precoce é essencial, pois um ambiente familiar seguro, acolhedor e estruturado oferece à criança a base necessária para vivenciar plenamente a infância, sem a imposição de responsabilidades e pressões prematuras que pertencem ao universo adulto, 39 permitindo que seu desenvolvimento seja equilibrado e integral; nesse contexto, a criança tem a oportunidade de explorar sua autonomia, exercitar sua criatividade, fortalecer vínculos afetivos, desenvolver habilidades socioemocionais, aprender a lidar com frustrações e desafios de forma saudável, e construir competências cognitivas que servirão de alicerce para sua vida futura (Drumond Ischkanian, 2023). A atenção parental, aliada a limites claros e consistentes, proporciona à criança segurança e orientação, incentivando a exploração do mundo, o diálogo, a curiosidade e a participação em atividades lúdicas e educativas, fatores que promovem não apenas a proteção contra a adultização precoce, mas também a formação de indivíduos autônomos, empáticos e emocionalmente equilibrados, capazes de estabelecer relações sociais saudáveis e de enfrentar os desafios da vida com resiliência. A família desempenha um papel central na proteção contra os riscos da adultização precoce, pois é nesse ambiente que a criança vivencia suas primeiras experiências de socialização e constrói as bases para seu desenvolvimento afetivo e social. Ao oferecer apoio emocional, transmitir valores coerentes e estabelecer limites adequados, pais e responsáveis ajudam a criança a compreender seu lugar no mundo e a desenvolver autonomia de forma gradual, respeitando cada etapa do crescimento. Práticas como a valorização do brincar, o incentivo à imaginação e a participação ativa em atividades educativas favorecem a construção de um repertório rico de vivências, que contribuem para o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais fundamentais para a vida adulta. Quando o ambiente familiar é estruturado de forma acolhedora e equilibrada, a criança encontra não apenas segurança para se expressar, experimentar e aprender com os próprios erros, mas também um espaço que legitima seus sentimentos e reconhece suas necessidades individuais. Esse contexto promove a valorização da infância como uma etapa única, marcada pelo brincar, pela curiosidade e pela construção gradual da autonomia. Ao receber afeto, orientação e estímulo adequado, a criança sente-se motivada a explorar o mundo ao seu redor, desenvolvendo competências socioemocionais, como empatia, resiliência e capacidade de lidar com frustrações, elementos essenciais para a formação de uma personalidade saudável. Essa base sólida permite que o processo de amadurecimento ocorra de maneira natural e respeitosa, assegurando que a criança não seja sobrecarregada com expectativas ou responsabilidades incompatíveis com sua idade. Ao contrário, elaé incentivada a assumir compromissos de forma progressiva, de acordo com suas condições e fases de desenvolvimento, o que favorece uma transição equilibrada rumo à vida adulta. A família não apenas previne os impactos negativos da adultização precoce, mas também contribui para a formação de indivíduos mais autônomos, conscientes e capazes de estabelecer relações saudáveis. Com isso, garante-se um desenvolvimento integral, no qual a criança cresce preparada para enfrentar desafios futuros e interagir de maneira construtiva em contextos sociais mais complexos. 40 O PAPEL DA FAMÍLIA NA PREVENÇÃO DA ADULTIZAÇÃO PRECOCE POR SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN No lar onde o afeto floresce, A infância se veste de cores vivas, E cada riso, cada gesto, aquece A alma pequena que aprende e deriva. Pais que ouvem, que guiam com cuidado, Sem exigir o peso do mundo adulto, Mostram caminhos, oferecem abrigo amado, E transformam o lar em porto seguro e culto. Limites firmes, mas cheios de ternura, Rotinas que equilibram brincar e aprender, São pontes que conduzem à aventura De crescer sem medo de se perder. No diálogo aberto, o coração se revela, Em cada escuta, nasce confiança e calor, E a criança que brinca, que sonha, que zela, Aprende a viver com alegria e amor. Assim a família constrói proteção, Contra a pressa de crescer antes do tempo, E nutre no peito da criança o alento De uma infância plena, rica em emoção. A prevenção da adultização precoce também depende da atenção à sobrecarga emocional, evitando que a criança assuma tarefas ou preocupações que não condizem com sua idade (Drumond Ischkanian, 2023). É fundamental que pais e responsáveis promovam momentos de descontração, brincadeiras e atividades lúdicas, que são instrumentos poderosos para o desenvolvimento saudável das funções cognitivas e socioemocionais. Ambientes emocionalmente seguros não significam ausência de regras, mas sim a combinação de normas claras, consistentes e afetuosas (Drumond Ischkanian, 2023). Crianças que compreendem suas responsabilidades dentro de um contexto de apoio emocional tendem a desenvolver habilidades sociais, emocionais e cognitivas de forma equilibrada, fortalecendo vínculos familiares e prevenindo comportamentos de antecipação adulta. A criação de um lar acolhedor, seguro e estruturado é essencial para prevenir a adultização precoce, permitindo à criança explorar sua autonomia, construir relações afetivas saudáveis e vivenciar plenamente sua infância (Niebuhr et al., 2019; Da Silva et al., 2020). A promoção de estabilidade emocional, comunicação aberta e atividades lúdicas é a base para o desenvolvimento integral e 41 equilibrado, garantindo que a criança adquira habilidades necessárias para enfrentar os desafios da vida adulta sem comprometer sua infância. A comunicação aberta e o diálogo contínuo são instrumentos essenciais da família na prevenção da adultização precoce. É necessário criar um espaço seguro onde a criança possa expressar sentimentos, necessidades e preocupações sem medo de julgamento ou repreensão, fortalecendo vínculos afetivos e construindo uma relação de confiança que diminua a sobrecarga emocional e os efeitos da antecipação de responsabilidades (Drumond Ischkanian, 2023). Promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais é outra função fundamental da família. A criança deve aprender a lidar com frustrações, resolver conflitos, expressar emoções de forma saudável e estabelecer relações interpessoais positivas, habilidades que são adquiridas por meio de brincadeiras, atividades lúdicas e interação com adultos e pares. A presença familiar ativa e afetiva contribui para a formação de uma identidade sólida e autônoma, prevenindo os riscos da adultização precoce (Leão; Reis; Muzzeti, 2014). A mediação de tecnologias e ambientes digitais também é responsabilidade da família. Com a crescente exposição de crianças a conteúdos online inadequados, pais e responsáveis devem supervisionar o uso de dispositivos eletrônicos, orientar sobre os riscos da internet e incentivar experiências que valorizem o aprendizado, a criatividade e a socialização presencial (Berti; Fachin, 2021; Bellamais, 2025). A mediação adequada previne a adultização digital, que contribui para o estresse emocional e cognitivo precoce. A valorização do brincar e do tempo livre é um componente estratégico na prevenção da adultização precoce. O brincar não apenas estimula a criatividade e a linguagem, mas também fortalece vínculos familiares e sociais, ensina regras sociais, promove empatia e oferece experiências de resolução de conflitos de maneira segura e prazerosa (Da Silva et al., 2020). A ausência dessas práticas compromete o desenvolvimento global da criança e aumenta a vulnerabilidade à sobrecarga emocional e social. O exemplo familiar e o modelo parental são determinantes na formação de comportamentos equilibrados. Pais e responsáveis que equilibram responsabilidades, demonstram autocuidado, praticam empatia e estabelecem limites claros transmitem à criança valores essenciais para a construção de uma infância saudável e protegida contra pressões adultas precoces (Drumond Ischkanian, 2023; Venditte, 2025). O ambiente familiar funciona, como referência de padrões de comportamento emocional, social e cognitivo. A família desempenha papel indispensável na prevenção da adultização precoce, pois é dentro do núcleo familiar que a criança encontra suas primeiras referências de afeto, cuidado, proteção e construção de valores. Quando os pais ou responsáveis oferecem suporte emocional, escuta ativa e diálogo constante, a criança sente-se amparada para expressar suas emoções, compartilhar dúvidas e enfrentar frustrações sem precisar recorrer a comportamentos típicos da vida adulta como forma de defesa. 42 A presença atenta dos familiares permite identificar sinais de sobrecarga ou responsabilidades inadequadas para a idade, possibilitando uma intervenção precoce que garante o respeito ao ritmo natural do desenvolvimento infantil e promove uma infância vivida com plenitude. Atribuir tarefas adequadas à idade pode ser positivo para ensinar responsabilidade, mas é fundamental que não se confundam esses aprendizados com a imposição de deveres adultos que inviabilizam o lazer e o convívio social. Atividades em família, como jogos, leituras e momentos de convivência, estimulam a empatia, a colaboração e o fortalecimento dos laços afetivos, protegendo a criança de uma inserção precoce em realidades que pertencem ao mundo adulto e que podem comprometer seu desenvolvimento emocional e cognitivo. Atividades de lazer e convivência: Essas atividades fortalecem os laços familiares, permitindo que pais e filhos compartilhem momentos leves e prazerosos, reforçando a empatia e o afeto. Contação de histórias em família, onde pais, avós ou irmãos mais velhos narram contos tradicionais ou experiências pessoais. Sessões de cinema em casa, escolhendo juntos o filme e debatendo as lições da história. Passeios em praças, parques ou feiras locais, proporcionando contato com a comunidade e a natureza. Jogos de tabuleiro como dama, dominó ou ludo, que ensinam regras e estimulam a cooperação. Jogos de cartas tradicionais, como baralho, UNO ou truco adaptado para crianças. Roda de conversa no fim do dia, em que cada membro da família compartilha como se sentiu. Piqueniques simples no quintal, na varanda ou em espaços públicos. Brincadeiras de roda, como ciranda, que resgatam tradições culturais. Noite de músicas, em que cada um escolhe uma canção para cantar ou ouvir juntos. Jogos de charadas, adivinhações ou mímicas, estimulando criatividade e risadas. Amarelinha, esconde-esconde ou pega-pega, valorizando o brincar tradicional. Montagem de quebra-cabeças coletivamente, incentivando a paciência e o raciocínio. Sessão de karaokê, onde todos cantam sem julgamentos, apenas para se divertir. Conversa sobre fotos antigas da família, resgatando memórias e histórias. Brincadeiras de ―quem sou eu?‖, estimulando raciocínio lógico e imaginação. Plantar uma árvore em conjunto e acompanhar seu crescimento como símbolo da união. Jogos de perguntas e respostas sobre curiosidades da vida familiar. Refeições temáticas, onde cada membro ajuda a preparar um prato diferente. Sessões de contos de suspense com lanternas, criando um clima divertido. 43 Montar cabanas improvisadas com lençóis, transformando o lar em espaço lúdico. Atividades culturais e de educação: Essas práticas estimulam o aprendizado, ampliam repertórios culturais e fortalecem a importância da escola e da curiosidade. Leitura coletiva de livros infantis e juvenis, alternando os leitores. Visita a bibliotecas públicas, gratuitas e acessíveis em muitas cidades. Passeios a museus e exposições locais, mesmo as de pequeno porte. Criação de um clube do livro em família, escolhendo títulos para discussão. Pesquisa sobre a história da família, construindo uma árvore genealógica. Assistir a documentários curtos e depois debater o que aprenderam. Contar lendas regionais, resgatando a cultura oral. Aprender palavras em outra língua juntos, de forma divertida. Criar um diário coletivo em que cada um escreve sobre seu dia. Produzir um mural com desenhos e frases sobre sonhos e planos. Explorar receitas típicas de diferentes culturas na cozinha. Escrever pequenas peças de teatro em família. Visitar pontos históricos da cidade e contar suas histórias. Ler notícias em voz alta e conversar sobre os acontecimentos. Montar uma pequena biblioteca familiar com livros acessíveis. Gravar histórias narradas por avós para preservar a memória. Criar um jornal familiar com textos e desenhos. Compartilhar músicas tradicionais e explicar seu contexto. Realizar rodas de leitura de poesia. Inventar novas histórias coletivas, em que cada membro adiciona uma parte. Atividades esportivas e ao ar livre: Essas práticas promovem saúde, estimulam a cooperação e oferecem contato com a natureza, além de reduzir o tempo excessivo em telas. Jogar futebol em família em um espaço aberto. Corridas em dupla ou em grupo, estimulando espírito de equipe. Andar de bicicleta juntos em parques ou ruas tranquilas. 44 Caminhadas regulares, incentivando conversas durante o percurso. Brincar de vôlei ou queimada em espaços comunitários. Fazer alongamentos ou yoga em conjunto. Criar gincanas com tarefas físicas e desafios simples. Fazer trilhas leves em áreas naturais próximas. Pular corda em grupo, criando cantigas para acompanhar. Montar circuitos de obstáculos no quintal ou na sala. Brincar de corrida de saco ou cabo de guerra. Promover torneios de peteca. Promover torneios de bolinha de gude. Promover torneios de pião. Organizar caças ao tesouro ao ar livre. Realizar passeios de observação da natureza, como pássaros ou árvores. Brincar com bola de sabão ao ar livre. Brincar de construir brinquedos com sucatas em família. Construir jogos com sucatas em família. Promover o dia da criatividade em família. Fazer competições de pipa em áreas seguras. Explorar brincadeiras aquáticas em baldes ou bacias em dias quentes. Andar de patins, skate ou patinete em grupo. Criar jogos com elástico ou amarelinha adaptada. Realizar piqueniques esportivos, mesclando brincadeiras e alimentação saudável. Atividades criativas e artísticas: Essas experiências incentivam imaginação, expressão e fortalecem a autoestima, permitindo que a criança explore sua individualidade. Pinturas coletivas em grandes papéis ou cartolinas. Dobraduras simples e complexas, estimulando coordenação. Criação de brinquedos com materiais recicláveis. Montagem de fantoches e encenação de histórias. Construção de instrumentos musicais artesanais. Desenhos temáticos com desafios criativos. Produção de colagens com revistas e jornais antigos. Escrita de poesias em conjunto. 45 Inventar coreografias de dança em família. Criar pequenas histórias em quadrinhos. Fazer esculturas com massinha ou argila. Produzir fantasias improvisadas e desfilar em casa. Organizar sessões de teatro improvisado. Criar maquetes simples com caixas e objetos reciclados. Construir casas de boneca ou castelos de papelão. Produzir jogos de memória artesanais. Inventar músicas com letras próprias. Fazer pinturas com mãos e pés para estimular a criatividade. Criar painéis com sonhos e objetivos ilustrados. Gravar vídeos criativos para assistir em família. Atividades de espiritualidade e reflexão: Essas atividades reforçam valores, fortalecem vínculos afetivos e oferecem espaço para acolhimento emocional. Momentos de oração coletiva. Leitura de passagens espirituais ou inspiradoras. Círculo de agradecimento diário, em que cada um diz algo positivo. Reflexões sobre valores como respeito, solidariedade e empatia. Criação de um caderno de gratidão familiar. Meditação guiada simples, adaptada às crianças. Cantos ou músicas espirituais em grupo. Conversas sobre sonhos e esperanças. Celebração de pequenas conquistas da família. Atividades de caridade em conjunto, como doar roupas ou alimentos. Reflexão sobre erros e aprendizados em roda de conversa. Rituais de boas-vindas e despedida, como abraços coletivos. Contar parábolas ou histórias que transmitam valores. Ações de voluntariado simples em comunidade. Reflexões sobre a importância da natureza. Compartilhamento de desejos para o futuro. Criação de símbolos familiares, como uma bandeira ou lema. Conversas sobre respeito mútuo e convivência. 46 Pequenos momentos de silêncio e respiração consciente. Práticas de solidariedade com vizinhos ou amigos. Em tempos de intensa digitalização, a supervisão familiar sobre experiências online torna-se imprescindível, uma vez que a internet pode ser tanto uma ferramenta de aprendizado quanto um espaço de exposição a conteúdos que aceleram a adultização, como erotização precoce e responsabilidades sociais desproporcionais à idade. O equilíbrio entre responsabilidades escolares e domésticas com momentos de lazer e socialização é essencial para que a criança vivencie todas as dimensões do seu desenvolvimento de forma harmoniosa. Quando as exigências cotidianas são ajustadas à sua faixa etária e complementadas por atividades lúdicas, criativas e de convivência, a criança consegue desenvolver competências acadêmicas e sociais sem abrir mão do prazer de brincar e explorar o mundo de maneira espontânea. Esse equilíbrio contribui para que ela aprenda a organizar seu tempo, compreender seus limites e construir relações significativas, ao mesmo tempo em que mantém viva a essência da infância, marcada pela curiosidade, imaginação e experimentação. Um ambiente familiar seguro, estimulante e acolhedor não apenas preserva a infância, mas também serve como base para a formação de um adulto resiliente, autônomo e emocionalmente equilibrado. Ao crescer em um espaço que valoriza tanto o aprendizado quanto o afeto, a criança internaliza valores como responsabilidade, empatia e cooperação, que serão fundamentais em sua vida adulta. Ao ser incentivada a viver cada etapa de forma plena e no tempo certo, ela desenvolve maturidade de maneira natural, construindo recursos internos que a tornam capaz de enfrentar desafios, superar frustrações e buscar soluções diante das dificuldades. Assim, garante-se um desenvolvimento integral, que une preparo acadêmico, equilíbrio emocional e capacidade de convivência social saudável. 47 8. EDUCAÇÃO PARENTAL: ORIENTAÇÕES EESTRATÉGIAS A educação parental constitui-se como um eixo estruturante no processo de prevenção da adultização precoce, visto que a família é o primeiro espaço de socialização e de formação de valores. Não basta garantir os cuidados básicos relacionados à alimentação, higiene e proteção física; é necessário construir uma relação sólida e saudável com a criança, baseada em respeito, confiança e compreensão das necessidades específicas de cada fase do desenvolvimento (Da Silva et al., 2020). Isso exige que pais e responsáveis desenvolvam consciência sobre o impacto de suas práticas educativas, cultivem autoconhecimento e estejam abertos a aprender continuamente, uma vez que a parentalidade é dinâmica e demanda adaptações às mudanças sociais, culturais e emocionais. Entre as principais estratégias que favorecem uma parentalidade saudável está a escuta ativa (Niebuhr et al., 2019). Esse recurso implica ouvir com atenção e sem interrupções o que a criança deseja comunicar, validando suas emoções e reconhecendo que até mesmo sentimentos negativos, como raiva, medo ou frustração, são legítimos e fazem parte do processo de amadurecimento. Essa escuta cria um ambiente de confiança em que a criança sente segurança para compartilhar suas preocupações, sem medo de críticas ou punições excessivas, o que fortalece o vínculo afetivo e previne comportamentos de retraimento ou de adultização, muitas vezes adotados como mecanismo de defesa emocional. A comunicação clara e assertiva também se apresenta como um pilar essencial (Drumond Ischkanian, 2023). Explicar os motivos por trás das regras e dos limites estabelecidos promove não apenas a obediência, mas principalmente a compreensão e a internalização de valores, favorecendo o desenvolvimento da autonomia. É fundamental que a linguagem seja adequada à idade da criança, garantindo que ela entenda as orientações e possa participar das decisões que a afetam, na medida de sua capacidade. Esse processo de diálogo bidirecional contribui para a construção de responsabilidade e cooperação, reduzindo a imposição de condutas adultizadas e permitindo que a criança viva plenamente sua infância em um ambiente de respeito mútuo. O brincar, os jogos coletivos, as atividades artísticas e os momentos de convivência cumprem um papel central no desenvolvimento de habilidades como criatividade, imaginação, resolução de problemas e empatia (Leão; Reis; Muzzeti, 2014). Tais experiências lúdicas não apenas fortalecem os vínculos familiares, mas também ajudam a criança a construir uma identidade sólida e autônoma, livre da pressão de assumir responsabilidades que pertencem ao mundo adulto. Negligenciar esses momentos pode contribuir para que a criança seja inserida precocemente em contextos de maturidade forçada, comprometendo seu desenvolvimento integral. A educação para a vida prática é igualmente relevante, desde que aplicada de maneira gradual e respeitosa. Ensinar a criança a organizar seus pertences, planejar pequenas tarefas ou participar de responsabilidades domésticas adequadas à sua idade possibilita o desenvolvimento de autonomia e responsabilidade, sem a sobrecarga típica da adultização. O equilíbrio é essencial: enquanto tarefas proporcionam aprendizado sobre disciplina e cooperação, o excesso de responsabilidades pode levar à 48 perda de tempo para brincadeiras, convívio social e lazer, elementos indispensáveis para a saúde emocional e cognitiva (Guerra et al., 2022). A participação em grupos de apoio, a presença em oficinas de orientação familiar ou a procura por psicólogos e outros profissionais especializados pode auxiliar pais e responsáveis a lidar com desafios específicos, especialmente em contextos de vulnerabilidade social ou emocional. Como ressalta o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), a proteção integral da infância é uma responsabilidade compartilhada, e a capacitação parental faz parte dessa missão. Essa busca por conhecimento evita práticas autoritárias ou negligentes e fortalece a prevenção da adultização precoce. A supervisão digital também se apresenta como um dos grandes desafios da parentalidade contemporânea. Com o avanço das redes sociais e a exposição precoce de crianças em ambientes virtuais, torna-se indispensável orientar o uso consciente da internet, prevenindo riscos como erotização, exploração ou superexposição (Berti; Fachin, 2021). Pais e responsáveis devem não apenas controlar o tempo de acesso, mas, sobretudo, dialogar sobre os conteúdos consumidos, explicando as diferenças entre a realidade e o que é apresentado nas mídias. Essa prática protege a infância de pressões externas e garante que a criança não seja conduzida a papéis adultos pela influência digital. A educação parental deve ser compreendida como um processo contínuo de aprendizado e adaptação. Pais e responsáveis não são perfeitos e não precisam deter todas as respostas, mas devem cultivar a disposição para refletir sobre suas práticas, corrigir falhas e adaptar suas atitudes às novas necessidades da criança em cada fase do desenvolvimento. Essa postura favorece uma relação equilibrada e saudável, em que a criança cresce com suporte emocional, social e cognitivo adequado, longe das pressões que caracterizam a adultização precoce. Investir em educação parental é investir na infância, garantindo que meninos e meninas vivam plenamente essa etapa essencial da vida e construam bases sólidas para uma vida adulta saudável e autônoma. 9. O PAPEL DA ESCOLA NA PREVENÇÃO DA ADULTIZAÇÃO PRECOCE A escola, como segundo espaço de socialização fundamental na vida da criança, exerce um papel indispensável na prevenção da adultização precoce, uma vez que sua função vai além da simples transmissão de conteúdos curriculares (Da Silva et al., 2020). O ambiente escolar deve ser compreendido como espaço de construção de identidades, desenvolvimento de habilidades socioemocionais e fortalecimento da criatividade, garantindo à criança condições para vivenciar plenamente sua infância. Ao proporcionar segurança emocional, oportunidades de convivência e estímulos à imaginação, a escola contribui para que a criança se desenvolva de forma integral, sem a imposição de responsabilidades e pressões que pertencem ao mundo adulto. Simone Helen Drumond Ischkanian, 2025: A escola, ao se consolidar como espaço de proteção integral e de socialização responsável, deve assumir o compromisso de preservar o direito da criança a viver sua infância de forma plena, desenvolvendo estratégias pedagógicas lúdicas e inclusivas que evitem 49 a imposição de responsabilidades emocionais e sociais típicas do mundo adulto, de modo que cada aluno possa crescer em um ambiente equilibrado, seguro e promotor de autonomia saudável. Gladys Nogueira Cabral, 2025: O papel da escola na prevenção da adultização precoce está diretamente associado à sua capacidade de oferecer uma educação integral que respeite o tempo da criança, evitando práticas pedagógicas excessivamente rígidas e excludentes, promovendo em seu lugar a valorização do brincar, da convivência coletiva e do desenvolvimento socioemocional como pilares fundamentais para a formação de sujeitos plenos e preparados para a vida. Celine Maria de Sousa Azevedo, 2025: A instituição escolar, quando atua de forma consciente e articulada com a família, torna-se uma aliada essencial na prevenção da adultização precoce, ao proporcionar experiências educativas que ampliam a criatividade, a imaginação e a construção de vínculos afetivos saudáveis, prevenindo que as crianças assumam papéis e responsabilidades que comprometem a vivência própria da infância. Sandro Garabed Ischkanian, 2025: A escola exerce papel crucial na formação da criança, e sua responsabilidade na prevenção da adultização precoce está em construir um ambiente acolhedor, livre de pressões desproporcionais e expectativas adultizadas,no qual o aluno possa aprender de forma significativa, desenvolver habilidades críticas e socioemocionais, sem abrir mão da ludicidade, da proteção e da vivência própria de sua idade. Neusa Venditte, 2025: A prevenção da adultização precoce no espaço escolar implica na criação de práticas educativas que garantam não apenas o acesso ao conhecimento formal, mas também o cuidado com o desenvolvimento humano integral, assegurando que a criança seja respeitada em seus limites, acolhida em suas fragilidades e incentivada em suas potencialidades, sem ser submetida a exigências adultas que comprometam sua formação. Silvana Nascimento de Carvalho, 2025: A escola, ao assumir sua função social de educar e proteger, deve promover estratégias que integrem o desenvolvimento cognitivo, emocional e social, prevenindo a adultização precoce por meio de um ambiente que valorize a infância, incentive a participação ativa das crianças em atividades lúdicas e coletivas, e fortaleça nelas a capacidade de se expressar, conviver e aprender sem pressões que antecipem papéis adultos. A prevenção da adultização precoce na escola começa pelo reconhecimento e respeito ao desenvolvimento infantil (Leão; Reis; Muzzeti, 2014). Professores e gestores educacionais devem ter clareza sobre as diferentes etapas do crescimento cognitivo, social e emocional, adequando suas práticas pedagógicas às necessidades individuais de cada aluno. A imposição de metas acadêmicas exageradas, a pressão por resultados imediatos e a competição excessiva geram sobrecarga emocional e estresse, levando muitas crianças a assumirem comportamentos e preocupações típicos de adultos, em detrimento de uma vivência plena da infância. Um dos elementos mais importantes é a criação de um ambiente escolar acolhedor e inclusivo (Niebuhr et al., 2019). O espaço educativo deve ser livre de violências, discriminações e práticas de 50 exclusão, garantindo que cada criança se sinta respeitada e valorizada. Ambientes seguros e positivos contribuem para a formação da autoestima, da autoconfiança e da capacidade de desenvolver relações interpessoais saudáveis, características essenciais para a prevenção de processos de adultização ligados à insegurança ou à necessidade de assumir papéis adultos para compensar carências emocionais. O brincar, os jogos educativos, os projetos colaborativos e as atividades interativas não apenas tornam o aprendizado mais significativo, como também ampliam a capacidade criativa, o pensamento crítico e a resolução de problemas. A valorização do lúdico como ferramenta pedagógica assegura que a criança aprenda de forma prazerosa e equilibrada, preservando o direito à infância enquanto desenvolve habilidades cognitivas e sociais que servirão de base para a vida adulta (Guerra et al., 2022). Para garantir esse processo, é imprescindível investir na formação continuada dos professores. Os educadores precisam estar preparados para compreender os processos do desenvolvimento infantil, identificar sinais de adultização precoce e adotar estratégias pedagógicas que promovam o bem-estar integral. A capacitação em psicologia educacional, metodologias ativas e gestão socioemocional auxilia na construção de práticas pedagógicas mais humanas e sensíveis às necessidades das crianças, fortalecendo o papel da escola como instituição protetora (Drumond Ischkanian, 2023). A articulação entre escola e família constitui outro aspecto essencial na prevenção da adultização precoce. (Brasil, 1990). Essa parceria deve ser construída com base no diálogo constante, no compartilhamento de responsabilidades e no acompanhamento do desenvolvimento da criança em suas múltiplas dimensões. Reuniões, palestras, oficinas e canais de comunicação permanentes são recursos que possibilitam a identificação precoce de problemas, além de promover intervenções conjuntas que assegurem à criança o direito de viver a infância sem sobrecargas. A escola deve estar atenta ao papel da mídia e do ambiente digital na vida das crianças (Berti; Fachin, 2021). A promoção da educação digital crítica e responsável, com orientação sobre o uso saudável das redes sociais e sobre os riscos da exposição precoce, faz parte do compromisso escolar em proteger a infância. Esse cuidado previne a erotização precoce, a pressão estética e a antecipação de papéis adultos, que muitas vezes são reproduzidos a partir de influências midiáticas e virtuais. Ao promover a cidadania desde a infância, a escola contribui também para a construção de valores relacionados ao respeito, à cooperação e à solidariedade (Souza, 2002). Trabalhar projetos pedagógicos que envolvam o respeito às diferenças, a cultura da paz e a valorização das diversidades fortalece a noção de pertencimento e evita que crianças assumam comportamentos adultizados para se afirmarem em contextos sociais. Essa abordagem reforça o papel da escola como espaço de proteção e de desenvolvimento integral. A escola deve ser entendida como espaço de acolhimento, aprendizagem e vivência plena da infância. Ao construir um ambiente seguro, investir em práticas pedagógicas lúdicas, formar continuamente seus profissionais e fortalecer a parceria com as famílias, a instituição educacional atua de forma direta na prevenção da adultização precoce. 51 A ESCOLA É UM PORTO SEGURO, UM ABRIGO DE SABER E CUIDADO POR SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN A escola é um porto seguro, Um abrigo de saber e cuidado, Onde a infância floresce sem pressa, Livre do peso do mundo apressado. Em suas salas, o brincar se mistura ao aprender, E a imaginação é cultivada; Cada gesto, cada olhar do professor Constrói proteção e jornada. Entre livros, quadros e cores, Se ergue um espaço de afeto e atenção, Onde a criança pode errar, criar, sonhar, Sem medo ou opressão. As responsabilidades adultas ficam lá fora, Enquanto o riso é permitido, E o conhecimento se torna aventura, E o medo, aos poucos, é esquecido. A escola ensina mais que letras, números ou datas a memorizar, Ensina a viver junto, a respeitar, a ouvir, a compartilhar, Promove vínculos que fortalecem o coração e a mente, Previne a adultização precoce com cuidado presente e permanente. Professores são guias, mas também protetores da infância, Criam laços de confiança, promovem a alegria, estimulam a esperança, Cada atividade lúdica, cada projeto coletivo, cada gesto de atenção, É um escudo contra a pressa da vida adulta e um convite à imaginação. A escola abre portas para a criatividade e para o pensamento crítico, Permitindo que cada criança encontre sua voz e seu espaço no mundo. Nos momentos de leitura e contação de histórias, A imaginação se expande e a empatia floresce Ao conhecer vidas e realidades diferentes. As artes, a música e o teatro na escola oferecem ferramentas Para expressão emocional e cultural, fortalecendo a identidade de cada aluno. Projetos colaborativos ensinam responsabilidade compartilhada, Cooperação e resolução de conflitos de forma construtiva, sem pressão precoce. Que toda criança possa sentir na escola a segurança de ser criança, Explorar, errar, criar, crescer sem pressa e com confiança, Pois o verdadeiro papel da escola vai além do ensino formal e rigor: É proteger a infância, preservar o direito de viver, sonhar e amar com ardor. 52 10. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE PROMOVEM O DESENVOLVIMENTO INFANTIL Sandro Garabed Ischkanian Simone Helen Drumond Ischkanian Para prevenir efetivamente a adultização precoce, a escola deve implementar práticas pedagógicas que priorizem o desenvolvimento integral da criança, considerando seu ritmo individual e suas necessidades específicas. Isso exige uma transformação do modelo educacional tradicional, que muitas vezes privilegia a memorização, a competição e a padronização, em direção a abordagens mais humanizadas, centradas no aluno, capazes de promoversociais que exaltam produtividade, desempenho e resultados em detrimento do bem-estar infantil. Ao compreender que a infância tem valor intrínseco, independentemente da ―preparação para a vida adulta‖, é possível construir uma sociedade que respeite os ciclos naturais de desenvolvimento, oferecendo experiências ricas, seguras e compatíveis com a idade de cada criança. Esse olhar transforma políticas públicas, práticas pedagógicas e relações familiares, fortalecendo a base emocional e social das futuras gerações. O envolvimento comunitário é outro aspecto fundamental. Comunidades que promovem atividades culturais, esportivas, educativas e de lazer voltadas para crianças oferecem alternativas saudáveis ao universo adulto precoce, reforçando o direito à infância plena. Espaços públicos planejados para a vivência infantil, aliados a políticas de inclusão e proteção, garantem que todas as crianças, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso a experiências que promovam desenvolvimento integral e previnam a sobrecarga precoce de responsabilidades. 5 A conscientização sobre a adultização precoce deve ser contínua, abrangente e estratégica, alcançando todos os setores da sociedade, desde famílias até instituições governamentais, escolas, organizações não governamentais e meios de comunicação. É fundamental compreender que a proteção da infância não é responsabilidade isolada de pais ou educadores, mas um compromisso coletivo que exige mudanças de atitudes, políticas e práticas culturais. Quando a sociedade como um todo reconhece a importância de respeitar o ritmo natural do desenvolvimento infantil, cria-se um ambiente no qual crianças podem explorar, aprender e socializar de maneira saudável, sem a pressão de assumir responsabilidades ou papéis para os quais ainda não estão emocionalmente preparadas. A colaboração entre famílias, escolas, profissionais da saúde, autoridades públicas e a comunidade em geral é essencial para a construção desse ambiente protetor. Cada um desses setores desempenha papéis complementares: os pais fornecem suporte afetivo e orientações individuais; os educadores promovem experiências de aprendizagem adequadas ao estágio de desenvolvimento; os profissionais de saúde monitoram e apoiam o bem-estar físico e emocional; as autoridades públicas criam políticas de proteção e incentivo à infância; e a comunidade oferece espaços e atividades que estimulam o brincar, a cultura e a socialização saudável. Quando essas frentes trabalham de forma articulada, é possível minimizar os impactos da adultização precoce e fortalecer o crescimento integral das crianças. Mais do que uma discussão teórica, a conscientização deve se traduzir em ações concretas e estratégias práticas que integrem planejamento familiar, práticas pedagógicas, políticas públicas e iniciativas comunitárias. A capacitação de educadores para identificar sinais de sobrecarga infantil, programas de apoio emocional para crianças e famílias, regulamentação de publicidade voltada para o público infantil, criação de espaços públicos seguros e inclusivos, e campanhas educativas que valorizem o brincar, a imaginação e a aprendizagem gradual. Estratégias concretas e coordenadas garantem que o direito à infância seja efetivamente protegido em todos os contextos da vida da criança. A reflexão ética também é um componente crucial. É necessário questionar padrões culturais que glorificam o desempenho precoce, a produtividade infantil e a exposição antecipada a responsabilidades adultas, reconhecendo que tais pressões podem gerar efeitos duradouros sobre a saúde emocional e o desenvolvimento social. Incentivar a sociedade a valorizar a infância como etapa única e insubstituível da vida humana ajuda a redefinir prioridades, criando um ambiente mais justo e equilibrado, no qual o crescimento saudável da criança seja mais importante do que resultados imediatos ou expectativas externas. Ao promover essa conscientização ampla, é possível não apenas proteger as crianças no presente, mas também preparar adultos emocionalmente equilibrados, socialmente conscientes e capazes de estabelecer relações saudáveis. Quando a sociedade entende que cada experiência infantil influencia diretamente a formação de habilidades cognitivas, emocionais e sociais, torna-se mais fácil implementar práticas que respeitem o tempo de maturação natural, valorizem o brincar, incentivem a curiosidade e 6 promovam o desenvolvimento integral. Dessa forma, os esforços de hoje reverberam no futuro, formando indivíduos mais resilientes, empáticos e criativos. A conscientização sobre a adultização precoce não pode ser encarada como um esforço pontual ou isolado; ela demanda um compromisso constante de toda a sociedade para que mudanças efetivas ocorram nos hábitos, nas atitudes e nas estruturas que envolvem a vida das crianças. Famílias, escolas, instituições de saúde, organizações culturais e o setor público devem atuar de forma integrada, identificando fatores de risco, criando espaços seguros e promovendo práticas que priorizem o desenvolvimento integral. Essa articulação permite que as crianças tenham acesso a experiências adequadas à sua idade, ao mesmo tempo em que reforça a importância de limites claros, rotinas equilibradas e momentos de lazer e exploração, sem a pressão de assumir responsabilidades que ainda não são compatíveis com sua maturidade emocional e cognitiva. A conscientização contínua implica, ainda, revisar valores culturais e sociais que valorizam a produtividade precoce ou a exposição a situações adultas, substituindo essas práticas por atitudes que respeitem o tempo natural de crescimento infantil. É essencial que a conscientização se traduza em ações concretas e mensuráveis, envolvendo políticas públicas, programas educativos e iniciativas comunitárias que fortaleçam a proteção da infância. Políticas que regulamentem a publicidade voltada para crianças, que incentivem o brincar em ambientes seguros, que ofereçam apoio psicológico e orientação às famílias, e que promovam a formação contínua de educadores e profissionais de saúde são exemplos de medidas que concretizam essa consciência social. Ao implementar essas estratégias de forma coordenada, cria-se uma rede de suporte que não apenas previne os efeitos da adultização precoce, mas também fortalece as bases emocionais, cognitivas e sociais das crianças, proporcionando-lhes condições para explorar, aprender e se relacionar de forma saudável e equilibrada. Investir na conscientização e na proteção da infância é um ato de longo alcance, com repercussões diretas na qualidade da vida adulta futura. Crianças que crescem em ambientes que respeitam seu ritmo de desenvolvimento e que promovem o equilíbrio emocional e a segurança afetiva têm maiores chances de se tornar adultos resilientes, empáticos e capazes de construir relações saudáveis e produtivas. Esse investimento não se restringe a resultados imediatos, mas representa um compromisso ético com o futuro da sociedade, fortalecendo valores como solidariedade, responsabilidade e cidadania. Ao colocar a infância como prioridade e promover ações articuladas em todos os setores, transformamos não apenas a vida das crianças, mas também o tecido social, criando uma geração de indivíduos emocionalmente preparados, conscientes e aptos a enfrentar os desafios de um mundo complexo e acelerado. 7 Sumário Introdução Capítulo 1 – O que é Adultização Precoce? Capítulo 2 – Sinais e Sintomas da Adultização Precoce Capítulo 3 – Fatores de Risco: Família, Escola e Sociedade Capítulo 4 – O Impacto da Tecnologia na Adultização Precoce Capítulo 5 – Consequências da Adultização Precoce na Saúde Mental Capítulo 6 – Consequências da Adultização Precoce no Desenvolvimento Cognitivo Capítulo 7 – Consequências da Adultização Precoce nas Relações Sociais Capítulo 8 – Oaprendizado significativo e bem-estar socioemocional. O respeito às singularidades de cada criança é essencial para que ela possa desenvolver suas habilidades cognitivas, emocionais e sociais de forma equilibrada e saudável. Simone Helen Drumond Ischkanian 2025: A implementação de práticas pedagógicas centradas no desenvolvimento integral da criança, que combinam escuta ativa, atividades lúdicas e avaliação formativa, permite que os educadores promovam o aprendizado significativo e o fortalecimento das competências cognitivas, socioemocionais e criativas, prevenindo a adultização precoce e criando um ambiente escolar seguro, estimulante e acolhedor. Gladys Nogueira Cabral 2025: Ao adotar estratégias pedagógicas que valorizem projetos interdisciplinares, colaboração em grupo e atividades artísticas, a escola oferece oportunidades para que as crianças explorem seus talentos, desenvolvam autonomia e construam relações interpessoais saudáveis, fortalecendo a autoestima e protegendo-as das pressões e responsabilidades adultas prematuras. Celine Maria de Sousa Azevedo 2025: A prática pedagógica centrada no aluno, que integra brincadeiras, jogos educativos e metodologias ativas, não apenas facilita a aquisição de conhecimentos, mas também promove a criatividade, a empatia e a resolução de problemas, contribuindo para um desenvolvimento infantil integral e para a prevenção da adultização precoce. Sandro Garabed Ischkanian 2025: Ao combinar avaliação contínua, acompanhamento individualizado e estratégias de ensino lúdicas e interativas, os educadores podem reconhecer sinais de sobrecarga, ajustar suas práticas e oferecer suporte adequado, garantindo que cada criança tenha a oportunidade de crescer de forma saudável, equilibrada e plena, respeitando seu ritmo e suas necessidades específicas. Neusa Venditte 2025: A integração de atividades pedagógicas que estimulam a expressão artística, o pensamento crítico e o trabalho em equipe permite que a criança desenvolva habilidades cognitivas e socioemocionais simultaneamente, fortalecendo a capacidade de interação social, criatividade e autonomia, enquanto se preserva o direito fundamental de vivenciar a infância sem pressões adultas precoces. 53 Silvana Nascimento de Carvalho 2025: A adoção de práticas pedagógicas humanizadas, que priorizam o aprendizado significativo, o desenvolvimento socioemocional e a colaboração entre alunos, constitui uma ferramenta essencial para promover o desenvolvimento integral da criança, prevenindo a adultização precoce e consolidando um ambiente escolar seguro, acolhedor e estimulante. Uma prática pedagógica fundamental é a pedagogia da escuta. Professores precisam estar atentos às necessidades individuais dos alunos, criando um ambiente em que eles se sintam seguros para expressar suas ideias, emoções e dificuldades. A escuta ativa, combinada com empatia e validação emocional, fortalece a relação de confiança entre educador e estudante, promovendo o desenvolvimento socioemocional e prevenindo a sobrecarga emocional decorrente da pressão por desempenho precoce. A observação constante do comportamento das crianças permite identificar sinais de estresse ou sobrecarga, possibilitando intervenções individualizadas e apoio adequado. A aprendizagem baseada em projetos é outra estratégia eficaz, pois permite que os alunos participem de atividades interdisciplinares que envolvam pesquisa, investigação, criatividade e colaboração. Projetos adaptados aos interesses e capacidades de cada criança incentivam a autonomia, a resolução de problemas, o pensamento crítico e a comunicação eficaz, além de promoverem o trabalho em equipe de forma prazerosa e engajadora. Ao mesmo tempo, essa abordagem oferece oportunidades para que as crianças explorem talentos pessoais e desenvolvam autoestima, competências fundamentais para seu crescimento integral. A integração de atividades lúdicas e artísticas ao currículo escolar é igualmente essencial. Brincadeiras, jogos educativos, atividades musicais, dramáticas e plásticas contribuem para o desenvolvimento da imaginação, da criatividade e das habilidades socioemocionais. Esses momentos permitem que a criança explore sua individualidade, aprenda a lidar com desafios de forma criativa e desenvolva competências de comunicação e interação social. Além disso, a inclusão de atividades físicas e momentos de relaxamento auxilia na prevenção do estresse e da sobrecarga, garantindo um equilíbrio entre corpo e mente. A avaliação formativa deve ser priorizada em detrimento da avaliação somativa, pois acompanha o processo de aprendizagem de forma contínua, oferecendo feedback construtivo e permitindo ajustes pedagógicos. Esse modelo de avaliação valoriza o desenvolvimento das competências e habilidades ao longo do tempo, em vez de apenas medir o conhecimento adquirido, reduzindo a pressão por desempenho e evitando a competição excessiva. A atenção ao processo de aprendizagem promove um ambiente escolar mais seguro e acolhedor, respeitando o ritmo individual de cada aluno. A promoção de um ambiente colaborativo, em vez de competitivo, é outro componente essencial das práticas pedagógicas voltadas à prevenção da adultização precoce. Trabalhos em grupo, projetos coletivos e atividades cooperativas incentivam o compartilhamento de ideias, a resolução conjunta de problemas e a construção de relações interpessoais positivas. Essa abordagem fortalece habilidades 54 sociais, promove empatia e contribui para a formação de cidadãos conscientes e solidários, capazes de lidar de forma construtiva com a diversidade e os desafios da vida em sociedade. O uso de metodologias ativas, como jogos pedagógicos, dramatizações e experimentos práticos, também contribui significativamente para o desenvolvimento infantil. Essas estratégias tornam o aprendizado mais envolvente, permitem que a criança explore diferentes formas de raciocínio e solucionem problemas de maneira criativa, ao mesmo tempo que fortalecem sua capacidade de concentração e motivação para aprender. A valorização do brincar como ferramenta pedagógica garante que a infância seja respeitada, mesmo dentro do contexto escolar. É igualmente importante que os professores recebam formação continuada em desenvolvimento infantil, psicologia educacional e estratégias pedagógicas inovadoras. Essa capacitação permite identificar sinais de adultização precoce e implementar intervenções adequadas, assegurando a proteção da infância e o desenvolvimento integral do aluno. Um corpo docente bem preparado é capaz de oferecer suporte emocional e cognitivo adequado, fortalecendo o vínculo entre escola e estudante e promovendo um ambiente de aprendizado mais humano e seguro. A articulação entre escola e família é fundamental. Estabelecer canais de comunicação contínuos e eficazes permite que professores e responsáveis trabalhem em conjunto para identificar precocemente situações de sobrecarga ou adultização precoce, além de desenvolver estratégias compartilhadas de apoio à criança. A parceria entre família e escola fortalece o desenvolvimento socioemocional do aluno, promovendo consistência entre os cuidados e valores transmitidos no lar e na instituição escolar. A implementação de práticas pedagógicas centradas no desenvolvimento integral da criança, que respeitem seu ritmo individual, promovam aprendizagem significativa, estimulem a criatividade e fortaleçam vínculos socioemocionais, é essencial para prevenir a adultização precoce. Ao adotar estas estratégias, a escola cumpre seu papel de proteger a infância, garantindo que a criança possa crescer de forma saudável, feliz e preparada para enfrentar os desafios do futuro. 11. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL O brincar, frequentemente relegado a um segundo plano em um mundo cada vez mais voltado para resultados, desempenho e produtividade,constitui um elemento central para o desenvolvimento integral da criança, sendo também uma ferramenta essencial na prevenção da adultização precoce. Diferentemente de uma atividade meramente recreativa, o brincar envolve processos complexos que favorecem o crescimento cognitivo, socioemocional e físico da criança, influenciando diretamente a formação de uma identidade saudável, autônoma e capaz de lidar com os desafios do cotidiano. Ao garantir espaços e tempos para o brincar, famílias e instituições educacionais contribuem para que a infância seja vivida plenamente, com oportunidades de aprendizado que vão muito além das métricas acadêmicas tradicionais. 55 Através do brincar, a criança tem a oportunidade de desenvolver a criatividade e a imaginação de maneira profunda e significativa. No universo lúdico, ela cria mundos próprios, inventa histórias, experimenta múltiplos papéis e expressa sua individualidade sem as restrições e pressões impostas pelo mundo adulto. Essa liberdade criativa é determinante para o desenvolvimento do pensamento crítico, da capacidade de resolução de problemas e da flexibilidade cognitiva, habilidades que serão essenciais para a vida escolar e social. Brincar permite que a criança explore emoções, desejos e medos de forma segura, fortalecendo seu autoconhecimento e promovendo o reconhecimento da própria identidade. O brincar exerce um papel central no desenvolvimento socioemocional da criança, pois promove a interação com pares e adultos de maneira cooperativa e construtiva. Ao participar de brincadeiras em grupo, a criança aprende a compartilhar, a negociar, a lidar com conflitos e a compreender as emoções próprias e alheias, desenvolvendo empatia e habilidades de comunicação essenciais para a vida em sociedade. A vivência de regras, a necessidade de aguardar a vez e o aprendizado de limites são aspectos que fortalecem a disciplina interna e a regulação emocional, contribuindo para a formação de indivíduos capazes de se relacionar de forma saudável e equilibrada. O lúdico, por meio de jogos, brinquedos e brincadeiras, constitui um elemento essencial na construção do processo de aprendizagem na educação infantil, pois permite que a criança explore sua criatividade, desenvolva habilidades cognitivas, socioemocionais e motoras, estabeleça relações de cooperação com os colegas e construa conhecimentos de forma significativa e prazerosa, respeitando seu ritmo individual de desenvolvimento e prevenindo a imposição precoce de responsabilidades adultas (Drumond Ischkanian, 2017). O brincar é essencial para o desenvolvimento físico da criança. Atividades lúdicas que envolvem movimento, como correr, pular, escalar, dançar ou brincar ao ar livre, contribuem para a aquisição de habilidades motoras, coordenação, equilíbrio e percepção espacial, além de favorecerem a saúde geral e o bem-estar. O movimento integrado ao brincar ainda potencializa a aprendizagem de conceitos relacionados ao corpo, ao espaço e à interação com o ambiente, promovendo um crescimento físico harmonioso e funcional. No contexto da prevenção da adultização precoce, o brincar assume um papel ainda mais relevante. Ao proporcionar à criança um espaço seguro para a expressão de sua individualidade, a exploração de talentos e a construção de relações sociais saudáveis, o brincar contribui diretamente para o desenvolvimento de autoestima, autonomia e identidade. A ausência dessas experiências lúdicas, por outro lado, pode gerar sobrecarga emocional, ansiedade, estresse e comportamentos típicos da adultização precoce, impactando negativamente o desenvolvimento integral da criança. A escola, como espaço estruturante da vida infantil, tem a responsabilidade de garantir que todas as crianças tenham acesso a momentos e ambientes dedicados ao brincar. A integração de atividades lúdicas no currículo, a disponibilização de espaços de recreação adequados e a formação continuada de professores para a promoção do brincar são estratégias essenciais para que as crianças possam vivenciar a infância de forma plena, desenvolvendo competências cognitivas, socioemocionais e físicas de maneira 56 equilibrada. A valorização do brincar como prática pedagógica fortalece a aprendizagem significativa e contribui para a prevenção da adultização precoce. Brincar cria oportunidades para que a criança desenvolva habilidades de cooperação, liderança, criatividade e resolução de conflitos, elementos que não são apenas acadêmicos, mas profundamente relevantes para a vida social e emocional. A interação lúdica permite que os educadores e familiares observem sinais de dificuldades ou sobrecarga, oferecendo suporte individualizado e prevenindo o acúmulo de responsabilidades adultas prematuras. O brincar, portanto, atua simultaneamente como estratégia educativa, formativa e preventiva, consolidando-se como um componente indispensável do desenvolvimento infantil. A família também desempenha papel crucial ao valorizar o brincar, promovendo momentos de convívio lúdico e participando ativamente da vida recreativa da criança. Jogos, brincadeiras ao ar livre, contação de histórias e atividades criativas em casa reforçam vínculos afetivos, fortalecem a confiança e permitem que a criança sinta que sua infância é respeitada. Esse engajamento familiar complementa as práticas escolares e fortalece a proteção contra pressões adultas indevidas, consolidando um ambiente seguro e estimulante para o desenvolvimento integral. O brincar não deve ser visto como um luxo ou mero entretenimento, mas como uma necessidade fundamental para o crescimento físico, cognitivo e socioemocional da criança. Ele é um instrumento essencial para prevenir a adultização precoce, construir autoestima, promover autonomia e favorecer a aprendizagem significativa, garantindo que a criança tenha direito a uma infância plena, protegida e capaz de formar cidadãos emocionalmente equilibrados e socialmente conscientes. O brincar é, indiscutivelmente, a linguagem natural da infância, representando um canal privilegiado de expressão, aprendizagem e desenvolvimento integral das crianças, cujo reconhecimento e valorização por famílias, escolas e sociedade são fundamentais não apenas para prevenir a adultização precoce, mas também para assegurar que a infância seja vivida plenamente, com liberdade, criatividade e proteção frente às pressões sociais que tentam antecipar responsabilidades adultas (Drumond Ischkanian, 2017). Ser criança significa ter tempo para explorar, errar, imaginar e aprender de forma lúdica, experiências que são essenciais para o desenvolvimento de indivíduos autônomos, emocionalmente equilibrados e cognitivamente competentes. Segundo Drumond Ischkanian (2017), ―o lúdico, por meio de jogos, brinquedos e brincadeiras, constitui uma forma de vivência pedagógica transformadora, em que a criança é protagonista de seu processo de aprendizagem, explorando, experimentando e construindo conhecimentos a partir de suas experiências e interesses pessoais, o que possibilita a aquisição de habilidades cognitivas, sociais e emocionais de forma integrada e prazerosa‖. O brincar não apenas potencializa a aprendizagem significativa, mas também atua como um mecanismo de proteção contra a antecipação de papéis adultos, permitindo que a criança experimente o mundo em sua dimensão própria. 57 O brincar é fundamental para o desenvolvimento socioemocional da criança, pois proporciona experiências de interação, construção de vínculos afetivos e aprendizado das regras sociais. Nessas situações, a criança aprende a lidar com frustrações, a cooperar, a negociar e a resolver conflitos, competências essenciais para a vida adulta, mas que devem ser desenvolvidas em um contexto de infância seguro e lúdico, livre da pressão de responsabilidades prematuras (Drumond Ischkanian, 2017). O brincar promove o desenvolvimento físicoe motor, permitindo que a criança explore seu corpo, coordene movimentos, desenvolva equilíbrio e perceba o espaço ao seu redor (Drumond Ischkanian, 2017). Atividades como correr, pular, dançar e manipular objetos contribuem para a formação de uma base motora sólida, fortalecendo a saúde e prevenindo problemas relacionados à coordenação, demonstrando que ser criança também envolve movimento, descoberta e autonomia corporal. No contexto escolar, o brincar deve ser valorizado e integrado às práticas pedagógicas de forma planejada, garantindo que esses momentos não sejam vistos como interrupções, mas como parte essencial do aprendizado (Drumond Ischkanian, 2017). A criança aprende melhor quando o conhecimento é construído a partir de experiências concretas, exploratórias e significativas, que respeitam seu ritmo e suas necessidades individuais, reforçando o direito à infância. Ao valorizar o brincar, a escola cria um espaço seguro e acolhedor, no qual a criança se sente livre para experimentar, errar e desenvolver habilidades sem medo de julgamentos (Drumond Ischkanian, 2017). Esse ambiente é essencial para construir autoestima, confiança e resiliência, preparando o indivíduo para lidar com desafios futuros de maneira equilibrada, mas sempre preservando sua infância e evitando a adultização precoce. Drumond Ischkanian (2017) enfatiza que ―a integração de atividades lúdicas no currículo escolar permite que a criança desenvolva competências cognitivas, como raciocínio lógico, memória e resolução de problemas, enquanto simultaneamente experimenta habilidades socioemocionais, como empatia, cooperação e autogestão emocional, promovendo um desenvolvimento integral que respeita sua infância e previne a adultização precoce‖. O brincar atua simultaneamente como ferramenta de aprendizagem e proteção da infância, reafirmando o direito de cada criança a viver seu tempo próprio. O brincar também fortalece a criatividade e a imaginação, permitindo que a criança invente mundos, crie histórias, explore diferentes papéis e teste soluções para problemas, fomentando uma mentalidade flexível e inovadora. Essas experiências ajudam a desenvolver uma percepção crítica e adaptativa do mundo, sem a necessidade de assumir responsabilidades que ainda não correspondem à sua idade (Drumond Ischkanian, 2017). A participação consciente dos educadores é crucial nesse processo integral (Drumond Ischkanian, 2017). Professores capacitados para conduzir atividades lúdicas de forma intencional conseguem estimular potencialidades individuais, identificar necessidades específicas e oferecer suporte personalizado, tornando o brincar uma prática pedagógica estruturada que combina aprendizado, proteção e desenvolvimento. 58 O brincar fortalece vínculos familiares. Atividades lúdicas compartilhadas entre pais e filhos promovem afeto, diálogo e cooperação, criando uma base emocional sólida que protege a criança contra a antecipação de responsabilidades adultas e contribui para o desenvolvimento integral (Drumond Ischkanian, 2017). A valorização do brincar se conecta também com políticas públicas de garantia de direitos da infância, incluindo a criação de espaços escolares preparados para atividades lúdicas e a formação de professores. Tais políticas são estratégias essenciais para prevenir a adultização precoce e garantir que a criança cresça respeitando seu tempo, ritmo e necessidades (Drumond Ischkanian, 2017). A autora destaca que o brincar funciona como ferramenta de inclusão social, pois crianças de diferentes contextos culturais, sociais e econômicos podem interagir e aprender juntas, promovendo respeito às diferenças e a construção de relações sociais saudáveis desde cedo. O investimento em brinquedos educativos, jogos cooperativos e espaços de recreação adequados amplia o potencial pedagógico do brincar, permitindo que ele atue simultaneamente como recurso para desenvolvimento cognitivo, socioemocional e físico, prevenindo a adultização precoce e garantindo infância plena (Drumond Ischkanian, 2017). O brincar é central para a infância, funcionando como instrumento de aprendizagem, expressão, proteção e desenvolvimento integral. Valorizar o brincar é reconhecer a importância de ser criança, respeitar o tempo próprio da infância e combater a pressão de assumir responsabilidades adultas de forma prematura (Drumond Ischkanian, 2017). Nas publicações de (Drumond Ischkanian, 2017) é possivel encontar 100 brincadeiras organizadas por categorias, incluindo ainda atividades para dias chuvosos e para grupos maiores, tudo focado em manter crianças longe do celular e protegendo a infância. 11.1. Brincadeiras ao ar livre 1. Pular corda 2. Amarelinha 3. Esconde-esconde 4. Queimada 5. Pega-pega 6. Corrida de saco 7. Cabo de guerra 8. Brincar de polícia e ladrão 9. Circuito de obstáculos 10. Futebol adaptado 11. Vôlei ou vôlei com balão 59 12. Boliche com garrafas PET 13. Corrida de obstáculos com objetos da casa 14. Corrida de revezamento 15. Caça ao tesouro no quintal 16. Dança das fitas 17. Saltos de pedra em pedra (imaginário) 18. Brincar de aviãozinho humano (puxar e empurrar de leve com supervisão) 19. Pular em poças de água (com segurança) 20. Bolinhas de sabão gigantes 11.2. Jogos de grupo e cooperação 21. Jogos de tabuleiro em família 22. Quebra-cabeça coletivo 23. Jogos de mímica 24. Jogo da memória temático 25. Dança das cadeiras 26. Teatro improvisado em grupo 27. Contação de histórias participativa 28. Construção de histórias colaborativas 29. Jogo de perguntas e respostas 30. Brincadeira de “siga o mestre” 31. Jogo de palavras encadeadas 32. Corrida de obstáculos em equipe 33. Construção de torres com material reciclado 34. Brincadeiras de “simão disse” 35. Jogo de sombras 36. Desafio do equilíbrio em grupo 37. Estátua musical 38. Corrida de ovo na colher 39. Desafio de construir uma ponte com palitos ou caixas 40. Jogos cooperativos de caça ao tesouro 60 11.3. Atividades criativas e artísticas 41. Pintura com aquarela ou guache 42. Desenho livre 43. Colagem com revistas ou papel reciclado 44. Escultura com massinha ou argila 45. Confecção de fantoches 46. Montagem de teatro de fantoches 47. Criação de instrumentos musicais caseiros 48. Composição de canções 49. Construção de brinquedos com sucata 50. Fotografia criativa sem redes sociais 51. Escrita de pequenas histórias ou poemas 52. Criação de quadrinhos 53. Customização de roupas ou acessórios 54. Pintura com os pés 55. Pintura com as mãos 56. Tapeçaria simples com linhas ou lã 57. Máscaras de papel machê 58. Cartões criativos para familiares 59. Pintura em pedras ou conchas 60. Montagem de cenários para brincadeiras de faz de conta 11.4. Brincadeiras de faz de conta e imaginação 61. Loja imaginária ou mercado 62. Casinha ou cabana improvisada 63. Aventuras de super-heróis 64. Viagem imaginária pelo mundo 65. Brincadeiras com animais imaginários 66. Jogo de restaurante ou café 67. Acampamento na sala ou quintal 68. Circo imaginário 69. Missões secretas e detetive 61 70. Construção de cidades com blocos ou caixas 71. Brincadeira de piratas 72. Brincadeira de astronauta ou viagem espacial 73. Médico ou veterinário imaginário 74. Escola de magos ou feiticeiros 75. Brincadeira de bombeiro 76. Teatro de improviso com fantasias 77. Brincadeira de rádio ou programa de TV 78. Aventuras com carrinhos e bonecos 79. Brincadeiras de restaurante ou padaria de mentirinha 80. Histórias encenadas em grupos 11.5. Atividades físicas e motoras em casa 81. Mini circuito de ginástica 82. Yoga infantil 83. Dança livre 84. Brincadeiras com bolas ou frisbee 85. Trampolim pequeno (com supervisão) 86. Caminhar sobre linhas desenhadas no chão 87. Jogos de reação e coordenação 88. Boliche caseirocom garrafas PET 89. Corridas de obstáculos improvisadas 90. Saltos sobre almofadas ou tapetes 91. Dança de ritmos variados 92. Pular com os dois pés juntos 93. Caminhar de costas em linha reta (com supervisão) 94. Equilíbrio em corda ou fita no chão 95. Brincadeiras de imitar animais 96. Saltos de altura (com segurança) 97. Corrida de equilíbrio com objeto na cabeça 98. Jogos de agilidade com cones ou objetos 99. Brincadeiras de esquiva com balões 100. Jogos de coordenação olho-mão, como lançar e pegar bolas pequenas Assegurar o direito ao brincar envolve uma articulação ampla entre escola, família e sociedade, reconhecendo que cada um desses atores possui responsabilidades complementares na proteção e 62 promoção da infância. A escola oferece o espaço estruturado para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, socioemocionais e motoras, mas somente quando a família e a sociedade apoiam e valorizam o brincar é que esse direito se concretiza plenamente. Drumond Ischkanian (2017) enfatiza que ―a infância deve ser respeitada como um período singular de descobertas, aprendizagens e experiências lúdicas, e sua preservação depende de uma rede de proteção que articule pais, educadores e a sociedade em geral, garantindo que a criança possa explorar, criar e aprender sem a pressão de responsabilidades adultas precoces‖. O brincar se torna um instrumento de desenvolvimento integral, permitindo que a criança construa autonomia, autoestima e competências sociais fundamentais para a vida adulta. A sociedade desempenha um papel decisivo ao criar condições culturais e estruturais que reconheçam e valorizem a infância, assegurando que espaços públicos, parques, centros culturais e recreativos estejam disponíveis e acessíveis para crianças de todas as faixas etárias. Políticas públicas que incentivem o acesso a essas oportunidades lúdicas contribuem para o equilíbrio entre a proteção infantil e a promoção de experiências enriquecedoras, prevenindo a exposição precoce a pressões sociais e midiáticas que reforçam a adultização precoce. Drumond Ischkanian (2017) argumenta que ―não é suficiente que a escola forneça atividades lúdicas; é necessário que a sociedade compreenda e valorize a importância do brincar, promovendo ambientes seguros, inclusivos e estimulantes que permitam à criança vivenciar plenamente sua infância, desenvolver sua criatividade e experimentar relações sociais saudáveis‖. O brincar, portanto, deve ser considerado um direito social, cultural e educativo, cuja efetivação depende do engajamento coletivo. Assegurar o direito ao brincar também significa educar e conscientizar famílias e comunidade sobre os riscos da adultização precoce e sobre os benefícios do desenvolvimento integral proporcionado pelo lúdico. Incentivar práticas de convivência, atividades compartilhadas, jogos cooperativos e momentos de lazer estruturados contribui para fortalecer os vínculos afetivos, a comunicação e a empatia, promovendo crianças mais autônomas, resilientes e criativas. Drumond Ischkanian (2017) ressalta que ―o brincar não é mero entretenimento, mas uma prática pedagógica e social capaz de prevenir sobrecargas emocionais, estresse e a antecipação de responsabilidades adultas, garantindo que a criança desenvolva suas potencialidades de forma saudável e equilibrada‖. A valorização do brincar por todos os atores sociais se configura como uma estratégia essencial para a formação de indivíduos emocionalmente saudáveis, socialmente competentes e plenamente capazes de exercer seus direitos de forma consciente e responsável. 12. O PAPEL DA SOCIEDADE NA PREVENÇÃO DA ADULTIZAÇÃO PRECOCE A prevenção da adultização precoce não é responsabilidade exclusiva da família ou da escola, mas sim um compromisso coletivo que envolve toda a sociedade. Para garantir que as crianças vivenciem plenamente sua infância e desenvolvam-se de forma integral, é necessário que valores, práticas e normas sociais sejam orientados para a proteção da infância e para a promoção de ambientes seguros, 63 estimulantes e saudáveis, que favoreçam o crescimento emocional, cognitivo e social adequado (Da Silva et al., 2020). Uma sociedade que compreende e respeita os direitos das crianças contribui significativamente para a construção de cidadãos autônomos, criativos e emocionalmente equilibrados, prevenindo a sobrecarga de responsabilidades adultas precocemente impostas. Simone Helen Drumond Ischkanian 2025: A sociedade exerce papel fundamental na prevenção da adultização precoce ao criar redes de proteção, promover políticas públicas, apoiar a família e a escola, e garantir espaços seguros e estimulantes que permitam às crianças vivenciar plenamente sua infância, desenvolvendo autonomia, criatividade, habilidades socioemocionais e cognitivas, sem pressões ou responsabilidades próprias do mundo adulto. Gladys Nogueira Cabral 2025: O engajamento coletivo da sociedade é essencial para a proteção da infância, uma vez que, ao oferecer ambientes culturais, educativos e recreativos adequados, bem como ao conscientizar sobre os riscos da exposição precoce a conteúdos midiáticos e responsabilidades adultas, contribui para o desenvolvimento integral e saudável das crianças. Celine Maria de Sousa Azevedo 2025: A sociedade tem a responsabilidade de construir uma cultura que valorize a infância, por meio da implementação de políticas públicas, da regulação de mídias e da promoção de atividades lúdicas e inclusivas, de modo a prevenir a adultização precoce e fomentar o crescimento de indivíduos emocionalmente equilibrados e socialmente competentes. Sandro Garabed Ischkanian 2025: O papel da sociedade na prevenção da adultização precoce se manifesta na criação de estruturas de apoio às famílias, no fortalecimento de redes comunitárias, na promoção de direitos fundamentais das crianças e na conscientização social, assegurando que cada criança tenha oportunidades de brincar, aprender e desenvolver-se sem pressões adultas prematuras. Neusa Venditte 2025: A construção de uma sociedade sensível à infância é crucial para prevenir a adultização precoce, pois envolve o comprometimento coletivo com a proteção, educação e bem-estar das crianças, garantindo ambientes seguros, estimulantes e emocionalmente saudáveis que favoreçam seu desenvolvimento integral. Silvana Nascimento de Carvalho 2025: A sociedade, ao atuar de maneira integrada com escolas e famílias, deve assegurar o direito à infância plena, promovendo a valorização do brincar, a proteção contra exploração e pressão social, e a criação de condições para que as crianças cresçam livres, autônomas, criativas e emocionalmente equilibradas. A mídia, por sua abrangência e influência cultural, exerce um papel central na formação da percepção social sobre a infância. A exposição precoce de crianças a conteúdos inadequados, a erotização e sexualização midiática, bem como a imposição de padrões de beleza e comportamento adultos, reforçam a adultização precoce e comprometem o desenvolvimento infantil (Niebuhr et al., 2019; Lunetas, 2018; Fernandes & Cunha, 2020). Busher (2017) destaca que ―a responsabilidade da mídia e dos provedores de aplicação digital é assegurar que a liberdade de expressão não se sobreponha à proteção da infância, sendo essencial a criação de mecanismos de controle e educação para que crianças não sejam expostas 64 prematuramente a situações adultas‖. Assim, campanhas de conscientização, regulamentação de conteúdo e práticas midiáticas responsáveis tornam-se instrumentos essenciais para criar um ambiente seguro para as crianças. O trabalho infantil, que priva a criança de sua infância ao impor responsabilidades adultas antes do tempo, expondo-a a exploração e riscos sociais e emocionais (Brasil, 1990; Câmara dos Deputados, 2017). A erradicação do trabalho infantil exige a articulação entre governo, empresas,sociedade civil e famílias, por meio da criação de políticas públicas eficazes, fiscalização rigorosa e promoção de alternativas econômicas para os responsáveis, garantindo que o direito à infância seja respeitado e valorizado (Da Silva et al., 2020). As políticas públicas desempenham um papel essencial na prevenção da adultização precoce. Leis e programas que garantam acesso universal à educação de qualidade, à saúde, à alimentação e à proteção social são determinantes para a criação de condições equitativas de desenvolvimento infantil (Drumond Ischkanian, 2017; Souza, 2002). Além disso, políticas de combate à pobreza, à violência e à desigualdade social são fundamentais, pois fatores socioeconômicos desfavoráveis aumentam a vulnerabilidade das crianças à adultização precoce e limitam oportunidades de desenvolvimento integral (Da Silva et al., 2020). A sociedade deve ainda promover redes de apoio social às famílias, oferecendo orientação sobre parentalidade, saúde mental infantil e atividades lúdicas e educativas. Centros comunitários, programas de assistência social e espaços de recreação contribuem para aliviar a sobrecarga familiar, permitindo que os responsáveis criem seus filhos em ambientes seguros e protegidos (Ministério da Saúde, 2010). O fortalecimento dessas redes é estratégico para prevenir a imposição precoce de responsabilidades adultas e favorecer o bem-estar físico, emocional e social das crianças. A conscientização coletiva sobre a importância de respeitar a infância é igualmente fundamental. A divulgação de informações por meio de campanhas, palestras e workshops ajuda a sensibilizar a sociedade sobre os riscos da adultização precoce, promovendo uma cultura de valorização da infância, proteção e promoção do desenvolvimento integral das crianças (JEB, 2017; G1, 2025). Drumond Ischkanian (2017) ressalta que ―é imprescindível que toda a sociedade compreenda que o direito de ser criança deve ser respeitado em todos os espaços, públicos e privados, sendo a proteção e a garantia da infância um dever compartilhado que se estende para além da família e da escola‖. O combate à superexposição digital e ao sharenting (compartilhamento de imagens e informações pessoais de crianças na internet) também é um papel social relevante. Berti & Fachin (2021) afirmam que ―o compartilhamento indiscriminado de imagens de crianças por seus próprios responsáveis constitui violação do direito à privacidade e pode antecipar processos de adultização emocional e social‖. Portanto, a educação digital responsável, a regulamentação de conteúdos e a conscientização sobre os impactos da exposição digital precoce tornam-se instrumentos de proteção coletiva. 65 A proteção da infância requer ainda uma abordagem ética e cultural que respeite as diversidades, incentive a inclusão social e valorize a participação das crianças em atividades adequadas à sua faixa etária. Programas culturais, esportivos e educacionais que promovam o desenvolvimento integral devem ser acessíveis a todos, garantindo oportunidades equitativas de crescimento, lazer e aprendizagem (Oliveira, 2020). A prevenção da adultização precoce é uma responsabilidade compartilhada que demanda a ação coordenada de famílias, escolas, mídia, governos e sociedade civil. Ao criar um ambiente social que valorize a infância, regule a exposição a conteúdos adultos, garanta políticas públicas inclusivas e promova redes de apoio, a sociedade contribui para a formação de indivíduos emocionalmente equilibrados, cognitivamente competentes e plenamente capazes de vivenciar sua infância (Drumond Ischkanian, 2017; Da Silva et al., 2020; Niebuhr et al., 2019). A valorização da infância e a prevenção da adultização precoce não são apenas deveres legais, mas compromissos éticos e sociais que refletem o grau de desenvolvimento humano e civilizacional de uma sociedade, sendo essencial que todos os segmentos sociais reconheçam seu papel e atuem de forma articulada para garantir que as crianças cresçam protegidas, livres da pressão adulta prematura e com oportunidades de desenvolvimento integral. 13. POLÍTICAS PÚBLICAS E A PROTEÇÃO DA INFÂNCIA A proteção da infância e a prevenção da adultização precoce dependem de políticas públicas eficazes, abrangentes e integradas, que garantam o pleno exercício dos direitos das crianças, promovam o desenvolvimento integral e ofereçam condições para que a infância seja vivida de forma saudável, segura e lúdica (Drumond Ischkanian, 2023). Não se trata apenas da criação de leis, mas da implementação de um conjunto de ações governamentais articuladas, baseadas em evidências científicas e em diálogo com especialistas e a sociedade civil, que promovam a proteção, educação e bem-estar das crianças (Souza, 2002). O acesso à educação de qualidade configura-se como um dos pilares mais importantes dessas políticas, uma vez que a escola é um espaço essencial para o desenvolvimento cognitivo, socioemocional e físico da criança (Brasil, 1990; Drumond Ischkanian, 2023). Políticas públicas que assegurem a universalização do atendimento na educação infantil, o investimento em formação continuada de professores, a melhoria da infraestrutura escolar e a implementação de currículos que valorizem o desenvolvimento integral contribuem diretamente para prevenir a adultização precoce, permitindo que a criança explore sua autonomia, criatividade e habilidades sociais de forma adequada à sua faixa etária. O direito à saúde também é um componente crucial das políticas públicas voltadas à infância (Ministério da Saúde, 2010; Da Silva et al., 2020). Garantir acesso universal e de qualidade a serviços de saúde física e mental, desde o pré-natal até a adolescência, é fundamental para prevenir doenças, cuidar do bem-estar emocional e apoiar o desenvolvimento integral da criança. Programas de atenção à saúde 66 mental infantil e juvenil, incluindo psicoterapia, acompanhamento psicológico e suporte às famílias, são instrumentos indispensáveis para enfrentar os impactos da adultização precoce e proporcionar um crescimento saudável. A proteção social constitui outro elemento essencial, uma vez que crianças inseridas em contextos de vulnerabilidade econômica correm maior risco de assumir responsabilidades adultas precocemente (Berti & Fachin, 2021; Drumond Ischkanian, 2023). Políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e programas de apoio à parentalidade oferecem suporte econômico e emocional às famílias, prevenindo situações de sobrecarga, exploração e adultização precoce. A erradicação do trabalho infantil demanda fiscalização rigorosa, aplicação de penalidades a empresas que exploram crianças e implementação de programas de geração de renda para famílias em situação de vulnerabilidade. Medidas de conscientização social sobre os impactos negativos do trabalho infantil, juntamente com alternativas socioeconômicas viáveis, são fundamentais para assegurar que todas as crianças tenham direito ao brincar, à educação e ao desenvolvimento integral (Simon & Galera, 2017; Oliveira, 2020). A mídia, cada vez mais presente na vida das crianças, também deve ser regulada e monitorada, de modo a prevenir a superexposição a conteúdos inadequados, sexualização precoce e imposição de padrões irreais de beleza ou comportament. Campanhas de conscientização, regulamentação de publicidade e estímulo a conteúdos educativos são medidas necessárias para que a sociedade assuma a responsabilidade de proteger a infância. O fortalecimento de redes de apoio social e comunitário é igualmente importante (Fernandes & Cunha, 2020; Drumond Ischkanian, 2023). Centros comunitários, espaços de recreação, atividades culturais e programas de orientação parental contribuem para a criação de ambientes seguros e estimulantes, oferecendo alternativas de lazer, aprendizado e socialização que reduzem a pressão deresponsabilidades adultas precoces sobre as crianças. O monitoramento e a avaliação das políticas públicas são mecanismos essenciais para assegurar sua efetividade. Coletar dados, analisar resultados e adaptar programas às necessidades reais da população permite identificar lacunas, aprimorar estratégias e garantir que as ações governamentais promovam de fato o desenvolvimento integral das crianças, prevenindo a adultização precoce (Câmara dos Deputados, 2017; Pinheiro, 2013). A articulação entre diferentes setores da sociedade — governo, escolas, organizações não governamentais, famílias e comunidades — potencializa o impacto das políticas públicas. Essa integração garante que crianças tenham acesso a oportunidades iguais de educação, saúde, lazer e proteção social, fortalecendo a construção de uma infância plena e saudável (Guerra et al., 2022; Drumond Ischkanian, 2023). Políticas públicas voltadas à proteção da infância e à prevenção da adultização precoce devem ser abrangentes, intersetoriais e fundamentadas em evidências (Bastos, 2021; Bellamais, 2025). Investir 67 em educação, saúde, proteção social, erradicação do trabalho infantil, regulamentação da mídia e fortalecimento de redes de apoio garante que todas as crianças possam vivenciar sua infância com segurança, autonomia, criatividade e desenvolvimento integral, construindo uma sociedade mais justa, equitativa e humana. 14. MÍDIA E A IMAGEM DA CRIANÇA NA SOCIEDADE A mídia, em suas diversas formas — televisão, cinema, internet e redes sociais — exerce um papel central na construção da imagem da criança na sociedade, influenciando diretamente a percepção social sobre infância e contribuindo tanto para a promoção de seu desenvolvimento saudável quanto para a adultização precoce quando inadequadamente utilizada (Niebuhr et al., 2019; Drumond Ischkanian, 2023). A forma como as crianças são representadas nos meios de comunicação molda expectativas, comportamentos e padrões culturais, impactando significativamente a formação de identidade, autoestima e habilidades socioemocionais das crianças. Segundo Drumond Ischkanian (2023), ―a representação midiática da criança pode ser um fator determinante para sua socialização, pois conteúdos inapropriados, sexualizados ou violentos alteram a percepção de papéis sociais e forçam a criança a assumir responsabilidades e comportamentos próprios da vida adulta, comprometendo sua infância, seu desenvolvimento emocional e a construção de sua autonomia.‖ Essa afirmação evidencia que o papel da mídia não é neutro; ele exerce influência direta sobre a construção da infância e pode, se mal direcionado, antecipar demandas adultas sobre crianças de forma prejudicial. A sexualização precoce é uma das principais preocupações no contexto midiático contemporâneo. A exposição a imagens e conteúdos sexualmente sugestivos normaliza comportamentos inapropriados para a faixa etária, levando à compreensão distorcida da sexualidade, à vivência precoce de papéis adultos e a potenciais danos psicológicos, como ansiedade, depressão e baixa autoestima (JEB, 2017; Leão, Reis & Muzzeti, 2014). Nesse sentido, a regulamentação de conteúdos midiáticos, aliada à orientação de pais, educadores e profissionais da saúde sobre os impactos da sexualização precoce, torna- se essencial para prevenir a adultização e proteger o desenvolvimento integral da criança. A imposição de padrões de beleza irreais, propagada especialmente por redes sociais e publicidade direcionada ao público infantil e adolescente, representa outro fator que contribui para a adultização precoce. A pressão estética promovida pela mídia induz comportamentos preocupantes, como dietas restritivas, insatisfação corporal e distúrbios alimentares, prejudicando a autoestima e a saúde emocional das crianças (Lunetas, 2018; Oliveira, 2020). Estratégias de conscientização sobre diversidade corporal, promoção de imagens positivas e educacionais na mídia são fundamentais para reduzir esse impacto e permitir que as crianças vivenciem uma infância saudável, sem a imposição de padrões adultizados. 68 A exposição a conteúdos violentos constitui outro desafio crítico. Programas de televisão, filmes, jogos eletrônicos e plataformas digitais muitas vezes apresentam violência explícita ou implícita, o que pode levar crianças a desenvolverem comportamentos agressivos, ansiedade elevada e uma sensação de insegurança constante, obrigando-as a assumir responsabilidades adultas precocemente para lidar com medos e riscos percebidos (Simon & Galera, 2017; Drumond Ischkanian, 2023). Políticas de regulamentação de conteúdo violento, combinadas à mediação crítica de pais e educadores, são essenciais para proteger as crianças desses efeitos nocivos. A representação de papéis de gênero estereotipados na mídia contribui diretamente para a adultização precoce, sobretudo das meninas, que podem ser socialmente pressionadas a assumir responsabilidades domésticas ou comportamentos relacionados ao cuidado e à aparência desde cedo (Da Silva et al., 2020; Fernandes & Cunha, 2020). A promoção de representações igualitárias e inclusivas, que respeitem a diversidade de identidades e oportunidades, é indispensável para garantir que crianças de todos os gêneros desenvolvam autonomia, criatividade e senso crítico. Segundo Busher (2017), ―a responsabilidade da mídia na construção da infância envolve não apenas o controle de conteúdos inapropriados, mas também a promoção de representações que valorizem a proteção, a brincadeira, a aprendizagem e o respeito à vulnerabilidade infantil, criando ambientes culturais e sociais que contribuam para a preservação da infância e para o desenvolvimento integral da criança‖. Essa perspectiva reforça que a mídia deve ser um aliado na proteção da infância, e não uma força que acelere o processo de adultização. A conscientização da sociedade sobre os riscos da exposição precoce a conteúdos inadequados é igualmente essencial. Programas educativos, campanhas de sensibilização, workshops e iniciativas de mídia responsável ajudam a orientar pais, professores e cuidadores, estimulando práticas de consumo crítico e seleção de conteúdos apropriados para cada faixa etária (Guerra et al., 2022; Bellamais, 2025). A mídia desempenha um papel crucial na prevenção ou agravamento da adultização precoce. Representações sexualizadas, violentas ou estereotipadas contribuem para a antecipação de responsabilidades adultas, enquanto conteúdos educativos, positivos e inclusivos fortalecem o desenvolvimento integral das crianças. Garantir uma mídia responsável é parte fundamental da construção de uma sociedade que respeita, protege e valoriza a infância. A articulação entre famílias, escolas, governos e sociedade civil é essencial para criar um ambiente midiático que promova a infância saudável. Políticas públicas que regulem conteúdos, programas de capacitação para educadores e campanhas de conscientização coletiva representam medidas estratégicas para minimizar os impactos da adultização precoce e assegurar o direito das crianças à proteção, ao brincar e ao desenvolvimento integral (Brasil, 1988; Câmara dos Deputados, 2017). A construção de uma cultura midiática responsável exige uma ação coletiva e contínua, que ultrapassa a simples regulação e fiscalização de conteúdos. É necessário promover a conscientização 69 sobre os impactos que a exposição precoce a estímulos inadequados pode gerar no desenvolvimento infantil, incentivando práticas educativas que ensinem o uso crítico e consciente da mídia desde cedo. Os pais e responsáveis têm papel fundamental ao orientar, dialogar e acompanhar o consumo midiático das crianças, ajudando-as a diferenciar conteúdos apropriados de mensagens que estimulam comportamentos adultos ou que reforçam padrões prejudiciais. Ao mesmo tempo, educadores podem inserir a educação midiáticano contexto escolar, fortalecendo o senso crítico e ampliando as oportunidades para que os jovens construam uma relação mais saudável com o universo digital. É essencial que profissionais da mídia e legisladores atuem de forma ética e responsável, garantindo que produções e políticas públicas respeitem a infância e reconheçam sua singularidade. A mídia, ao adotar uma postura comprometida, pode se tornar um instrumento de valorização da infância, promovendo conteúdos que incentivem a criatividade, a empatia, a diversidade e o aprendizado lúdico. Por sua vez, os legisladores devem assegurar que normas e mecanismos de fiscalização sejam efetivos, protegendo as crianças de excessos e abusos. Quando esses diferentes atores sociais trabalham de forma conjunta e integrada, cria-se uma rede de proteção que assegura que as crianças cresçam livres das pressões adultas, tendo acesso a experiências que favoreçam seu desenvolvimento pleno, saudável, autônomo e feliz. 15. O IMPACTO DO TRABALHO INFANTIL NA ADULTIZAÇÃO PRECOCE O trabalho infantil representa um dos fatores mais significativos na promoção da adultização precoce, uma vez que impõe às crianças responsabilidades, pressões e atividades próprias da vida adulta para as quais não estão preparadas, afetando diretamente seu desenvolvimento integral, tanto físico quanto cognitivo e emocional (Da Silva et al., 2020; Drumond Ischkanian, 2017). Ao serem inseridas no mercado de trabalho, muitas vezes em condições inadequadas e precárias, as crianças são privadas de experiências essenciais da infância, como o brincar, o estudo e a socialização, o que compromete a construção de uma identidade autônoma, equilibrada e saudável. As consequências do trabalho infantil são profundas e multifacetadas. Crianças que trabalham apresentam frequentemente atrasos no desenvolvimento cognitivo e motor, dificuldades de aprendizagem, baixa autoestima, estresse psicológico, além de riscos à saúde física, como doenças ocupacionais e acidentes de trabalho (Brasil, 1990; Niebuhr et al., 2019). A privação das atividades lúdicas, tão essenciais para a construção de habilidades socioemocionais, gera lacunas no desenvolvimento, prejudicando a capacidade de resolução de problemas, cooperação, empatia e expressão emocional. Nesse sentido, o trabalho infantil não apenas rouba a infância, como compromete a formação de adultos emocionalmente competentes e socialmente responsáveis. O impacto do trabalho infantil na vida social da criança também é expressivo. A impossibilidade de interagir com pares, de participar de brincadeiras coletivas e de frequentar regularmente o ambiente escolar contribui para a marginalização social e para a exclusão de círculos de convivência normais para a 70 idade (Drumond Ischkanian, 2017). Crianças trabalhadoras podem desenvolver sentimentos de inadequação, isolamento e insegurança, o que prejudica a construção de vínculos afetivos saudáveis e limita a capacidade de desenvolver relações interpessoais equilibradas na vida adulta. A mão de obra infantil perpetua ciclos de pobreza, desigualdade social e exclusão, pois crianças privadas de educação e cuidados adequados tornam-se adultos menos qualificados, vulneráveis a doenças e mais propensos à marginalização social e econômica (Souza, 2002; Da Silva et al., 2020). Portanto, o impacto do trabalho infantil transcende o indivíduo, afetando diretamente o desenvolvimento socioeconômico do país e a qualidade de vida de futuras gerações. A prevenção e erradicação do trabalho infantil requerem ações articuladas entre governo, sociedade civil, empresas e famílias. A criação e fiscalização de leis rigorosas, como previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), são fundamentais, assim como políticas públicas que ofereçam suporte econômico às famílias, educação de qualidade e oportunidades de desenvolvimento integral para as crianças, garantindo alternativas à exploração infantil (Drumond Ischkanian, 2017; Niebuhr et al., 2019). A conscientização social é igualmente essencial. A sociedade deve compreender que o trabalho infantil não é uma solução para dificuldades econômicas familiares, mas uma violação grave dos direitos da criança e uma ameaça direta ao seu desenvolvimento saudável (Drumond Ischkanian, 2017). Campanhas educativas, programas de apoio à família e mecanismos de denúncia são estratégias eficazes para reduzir a incidência do trabalho infantil e proteger a infância. Drumond Ischkanian (2017) enfatiza que ―a inserção precoce de crianças no trabalho representa não apenas uma privação de experiências fundamentais da infância, mas também uma imposição de responsabilidades adultas que comprometem sua saúde física, emocional e cognitiva, interferindo diretamente no processo de desenvolvimento integral e na construção de uma identidade autônoma e equilibrada.‖ Essa citação evidencia que a proteção da infância deve ser encarada como prioridade social e política, com ações concretas de prevenção e intervenção. O trabalho infantil, quando tolerado ou naturalizado, legitima a adultização precoce e gera efeitos cumulativos que comprometem a trajetória de vida da criança (Da Silva et al., 2020; Niebuhr et al., 2019). Além de impedir o acesso à educação, o trabalho infantil expõe a criança a riscos físicos e psicológicos, reduzindo sua capacidade de desfrutar de uma infância plena e de desenvolver competências essenciais para a vida adulta. Investir na erradicação do trabalho infantil é, portanto, investir na construção de uma sociedade mais justa, equitativa e saudável (Drumond Ischkanian, 2017). Garantir às crianças o direito ao brincar, à educação e à proteção social constitui uma estratégia preventiva para a adultização precoce e promove o desenvolvimento de adultos mais capacitados, autônomos e emocionalmente equilibrados. O trabalho infantil é um obstáculo significativo ao desenvolvimento integral da criança e um fator determinante na adultização precoce. Suas consequências abrangem aspectos físicos, psicológicos, 71 sociais e econômicos, prejudicando tanto o indivíduo quanto a sociedade em longo prazo. A luta contra o trabalho infantil é, portanto, um compromisso coletivo de todos os setores da sociedade. A atuação conjunta de governos, escolas, famílias, organizações não governamentais e da sociedade civil é fundamental para criar mecanismos de prevenção e proteção da infância (Souza, 2002; Drumond Ischkanian, 2017). A implementação de políticas públicas eficazes, combinada à fiscalização rigorosa e à conscientização social, é essencial para garantir que as crianças possam vivenciar plenamente sua infância, livres da exploração e das responsabilidades adultas prematuras. Somente com um esforço coordenado e contínuo será possível assegurar que as crianças desenvolvam competências cognitivas, emocionais e sociais adequadas, preservando o direito à infância e prevenindo a adultização precoce, construindo assim uma sociedade mais equitativa, inclusiva e justa. 16. A IMPORTÂNCIA DO APOIO SOCIAL PARA AS FAMÍLIAS A prevenção da adultização precoce não pode ser compreendida apenas como uma responsabilidade direta da escola ou de programas voltados exclusivamente para as crianças; ela requer, de maneira imprescindível, o fortalecimento das famílias, garantindo-lhes suporte adequado para criar ambientes protetores, afetivos e estimulantes que promovam o desenvolvimento integral dos filhos (Drumond Ischkanian, 2017). Famílias que enfrentam dificuldades econômicas, sociais ou emocionais muitas vezes se veem sobrecarregadas, o que pode levar à adoção de estratégias inadequadas, como sobrecarga de responsabilidades infantis ou exposição precoce a conteúdos e atividades próprias da vida adulta, contribuindo diretamente para a adultização precoce. O apoio financeiro às famílias constitui um elemento central nesse processo. Programasde transferência de renda, como o Bolsa Família, têm papel comprovado na redução da pobreza e na prevenção do trabalho infantil, oferecendo às famílias recursos que diminuem a necessidade de incluir as crianças no mercado de trabalho (Brasil, 1990; Souza, 2002). Além do auxílio financeiro, políticas públicas mais amplas são essenciais para criar uma rede de proteção social que assegure a sobrevivência, o bem-estar e o desenvolvimento integral das crianças, incluindo acesso à saúde, educação, lazer e assistência social, reduzindo significativamente os riscos da adultização precoce. O suporte psicossocial também é indispensável para fortalecer a parentalidade e prevenir efeitos negativos no desenvolvimento infantil. Pais e responsáveis frequentemente enfrentam situações de estresse, ansiedade ou dificuldades emocionais que interferem na capacidade de estabelecer limites, oferecer cuidado afetivo e criar um ambiente saudável (Drumond Ischkanian, 2017; Ministério da Saúde, 2010). A disponibilização de serviços de saúde mental, como terapia individual e familiar, orientação parental, grupos de apoio e capacitação para a gestão de conflitos e do estresse, é essencial para promover o bem-estar emocional da família e, consequentemente, da criança, fortalecendo vínculos afetivos e prevenindo a imposição de responsabilidades adultas prematuras. 72 O acesso a serviços de apoio à infância, como creches, escolas de qualidade e centros comunitários, constitui outra dimensão estratégica. Esses espaços não apenas oferecem um ambiente seguro e estimulante para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças, como também aliviam a sobrecarga das famílias, permitindo que pais e responsáveis possam trabalhar, estudar ou cuidar da própria saúde sem transferir responsabilidades inadequadas para os filhos (Drumond Ischkanian, 2017). Centros comunitários que promovem atividades lúdicas, educativas e culturais funcionam como ambientes de socialização, aprendizado e fortalecimento comunitário, promovendo simultaneamente o desenvolvimento infantil e o apoio às famílias. A construção de redes de apoio comunitário é igualmente vital. O compartilhamento de experiências, recursos e estratégias entre famílias, vizinhos, amigos e organizações civis cria um ambiente de solidariedade e mutualismo, no qual os desafios da parentalidade podem ser enfrentados de forma coletiva (Da Silva et al., 2020). A formação de grupos de apoio à parentalidade permite que pais aprendam estratégias eficazes de cuidado, compartilhem experiências e recebam suporte emocional, reduzindo a sobrecarga familiar e promovendo a criação de crianças mais autônomas, seguras e emocionalmente equilibradas. Investir no apoio social às famílias significa investir diretamente na prevenção da adultização precoce. Políticas públicas que priorizem transferência de renda, capacitação parental, saúde mental, acesso a educação de qualidade e criação de redes de apoio comunitário fortalecem a capacidade das famílias de proteger suas crianças, garantindo que possam vivenciar plenamente sua infância e desenvolver competências cognitivas, emocionais e sociais essenciais (Berti & Fachin, 2021; Drumond Ischkanian, 2017). A prevenção da adultização precoce exige um olhar integral que reconheça a interdependência entre a proteção da criança e o fortalecimento das famílias. Garantir que as famílias tenham condições materiais, emocionais e sociais adequadas é fundamental para que as crianças cresçam livres de pressões adultas, explorando sua criatividade, desenvolvendo autonomia e construindo relações afetivas e sociais saudáveis (Drumond Ischkanian, 2017; Oliveira, 2020). A implementação de políticas públicas eficazes é um passo fundamental para garantir que as crianças vivenciem a infância em toda a sua plenitude, livres de pressões indevidas que antecipem responsabilidades adultas. Tais políticas devem contemplar desde o acesso universal à educação de qualidade, saúde integral e segurança alimentar até a oferta de espaços de lazer e convivência comunitária que estimulem o desenvolvimento social e emocional. A criação de redes de apoio, envolvendo escolas, serviços de saúde, instituições sociais e organizações da sociedade civil, fortalece a proteção às crianças e amplia a capacidade de identificar e intervir em situações de vulnerabilidade. A conscientização social sobre a importância da preservação da infância permite transformar mentalidades e práticas culturais que, muitas vezes, contribuem para a adultização precoce. 73 Ao investir no fortalecimento das famílias, a sociedade promove um ambiente em que as crianças podem exercer plenamente seus direitos fundamentais, como brincar, aprender e expressar-se de forma livre e criativa. Esse investimento não se limita a recursos financeiros, mas inclui também políticas de orientação parental, programas de apoio psicológico, iniciativas de inclusão social e medidas que favoreçam a conciliação entre trabalho e vida familiar. A infância é vivida com respeito às necessidades próprias de cada etapa do desenvolvimento, assegurando que meninos e meninas cresçam de maneira saudável, autônoma e feliz. A longo prazo, essas ações contribuem para a formação de cidadãos mais equilibrados, críticos, criativos e socialmente competentes, preparados para construir uma sociedade mais justa e solidária. 17. REDES DE APOIO E SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL PARA CRIANÇAS A construção de redes de apoio robustas e o acesso a serviços de saúde mental especializados constituem pilares fundamentais para a prevenção e o tratamento da adultização precoce, fenômeno que impacta profundamente o desenvolvimento psicológico, social e emocional das crianças. Estudos apontam que a adultização precoce está associada a transtornos de ansiedade, depressão, comportamento agressivo, baixa autoestima e dificuldades de relacionamento interpessoal (Da Silva et al., 2020; Niebuhr et al., 2019), reforçando a necessidade de intervenção precoce e de cuidados especializados para minimizar danos e promover um desenvolvimento infantil saudável e equilibrado. A criação de redes de apoio multidisciplinares, integrando psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, educadores e demais profissionais, é essencial para garantir uma abordagem holística e eficaz no enfrentamento da adultização precoce (Ministério da Saúde, 2010). Essas redes devem atuar de forma coordenada, permitindo a identificação precoce de sinais de sobrecarga infantil, avaliação individualizada de cada situação e elaboração de planos de intervenção personalizados, garantindo que as ações sejam consistentes, contínuas e centradas nas necessidades da criança. A comunicação eficaz entre os diferentes profissionais é crucial para evitar a fragmentação do atendimento e potencializar os resultados terapêuticos. O acesso a serviços de saúde mental especializados para crianças e adolescentes deve contemplar diferentes modalidades de intervenção, incluindo terapia individual, terapia familiar e psicoterapia de grupo, que auxiliam as crianças a lidar com as consequências da adultização precoce, desenvolver estratégias de enfrentamento, fortalecer vínculos afetivos e construir uma identidade saudável (Drumond Ischkanian, 2017; Oliveira, 2020). A formação contínua de profissionais em saúde mental infantil é indispensável para garantir que o atendimento seja qualificado, seguro e adequado às especificidades do público infantojuvenil. Programas de prevenção implementados em escolas, comunidades e famílias desempenham papel complementar essencial. Workshops e cursos para pais e educadores sobre desenvolvimento infantil, identificação de sinais de adultização precoce e estratégias de intervenção fortalecem a 74 capacidade de resposta das famílias e das instituições (Berti & Fachin, 2021; Bellamais, 2025). A promoção de saúde mentalnas escolas, com atividades que incentivem a gestão de emoções, prevenção do estresse e redução da ansiedade, contribui para o bem-estar emocional das crianças, reforçando a importância de um ambiente educativo acolhedor e protetor. A ampliação do acesso a serviços de apoio remoto, como linhas telefônicas de atendimento, plataformas online e aplicativos de saúde mental, possibilita que famílias em regiões remotas ou com dificuldades de deslocamento recebam orientação, acompanhamento e encaminhamento para serviços especializados (Silva, 2023; Politizei, 2023). Essas ferramentas digitais democratizam o acesso a cuidados psicológicos e funcionam como instrumentos estratégicos de prevenção, especialmente em contextos de vulnerabilidade social. A criação de redes de apoio multidisciplinares e o fortalecimento do acesso a serviços de saúde mental infantil são essenciais para proteger as crianças da adultização precoce, promover o desenvolvimento emocional equilibrado e construir uma sociedade mais justa e equitativa. O investimento em formação de profissionais, implementação de programas de prevenção, ampliação do acesso remoto e conscientização comunitária é imprescindível para garantir que todas as crianças e famílias tenham o suporte necessário para vivenciar plenamente a infância e desenvolver competências cognitivas, sociais e emocionais essenciais (Ministério da Saúde, 2010; Drumond Ischkanian, 2017). A construção de um sistema integrado de saúde mental infantil representa um avanço significativo na proteção e promoção dos direitos das crianças, indo além da simples intervenção terapêutica e se tornando um instrumento de prevenção social. Ao oferecer atendimento especializado e acessível, esse sistema permite identificar precocemente sinais de sofrimento emocional, ansiedade, depressão e estresse, prevenindo que experiências de adultização precoce deixem marcas duradouras no desenvolvimento psicológico das crianças. O acesso a profissionais capacitados, como psicólogos, psiquiatras infantis, assistentes sociais e educadores, possibilita uma abordagem multidisciplinar, em que cada criança recebe suporte adequado às suas necessidades individuais, promovendo seu bem-estar de forma integral. Um sistema integrado de saúde mental infantil fortalece o vínculo entre crianças, famílias e comunidade, criando redes de apoio que funcionam como amortecedores contra situações de vulnerabilidade social. O envolvimento familiar nos processos terapêuticos permite que pais e responsáveis compreendam melhor as necessidades emocionais de seus filhos, aprendam estratégias de parentalidade positiva e desenvolvam habilidades para estabelecer limites saudáveis e promover a autonomia infantil. Esse suporte contínuo contribui para a construção de ambientes domésticos mais acolhedores e seguros, essenciais para o desenvolvimento saudável das crianças e para a prevenção da sobrecarga emocional que pode surgir da adultização precoce. 75 Um sistema integrado também desempenha um papel educativo e preventivo dentro das escolas e da comunidade. Programas de promoção da saúde mental, oficinas de habilidades socioemocionais e atividades lúdicas planejadas de forma pedagógica contribuem para a construção de competências emocionais, cognitivas e sociais das crianças. A formação de educadores e profissionais da comunidade em identificação precoce de sinais de risco e na promoção do bem-estar infantil fortalece a capacidade coletiva de intervenção, criando uma rede protetora que atua de forma coordenada entre escola, família e serviços de saúde. A garantia de equidade no acesso aos serviços de saúde mental infantil. Crianças de diferentes contextos sociais, econômicos e culturais devem ter acesso a atendimento de qualidade, evitando que vulnerabilidades sociais ampliem os riscos de adultização precoce. A disponibilização de serviços gratuitos ou subsidiados, linhas de apoio remoto, teleatendimento e centros comunitários especializados é fundamental para atingir populações em situação de vulnerabilidade, assegurando que o direito ao cuidado emocional seja universal, inclusivo e efetivo. A construção de um sistema integrado de saúde mental infantil não apenas minimiza os impactos da adultização precoce, mas contribui para a formação de uma sociedade mais justa, solidária e consciente da importância de proteger a infância. Ao promover ambientes seguros, acolhedores e estimulantes, esse sistema fortalece o desenvolvimento integral das crianças, estimula sua autonomia, criatividade e resiliência, e garante que cada criança tenha a oportunidade de viver plenamente sua infância, construir sua identidade e se preparar para uma vida adulta equilibrada e saudável. 18. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PARA CRIANÇAS ADULTIZADAS: FUNDAMENTAÇÃO A intervenção em casos de adultização precoce demanda uma abordagem integrada, considerando não apenas as características individuais de cada criança, mas também o contexto familiar, escolar e social em que está inserida. Como enfatizam Bastos (2021) e Niebuhr et al. (2019), a identificação precoce dos sinais de adultização é essencial para prevenir consequências psicológicas e sociais duradouras, como ansiedade, depressão, dificuldades de relacionamento e comprometimento do desenvolvimento emocional. A ação imediata e estruturada permite minimizar os impactos negativos, oferecendo à criança oportunidades de viver experiências típicas da infância, resgatando o direito ao brincar, à convivência e ao aprendizado lúdico. Dessa forma, garante-se um desenvolvimento mais saudável e equilibrado, prevenindo prejuízos emocionais e sociais a longo prazo. Simone Helen Drumond Ischkanian (2025) destaca que a intervenção em crianças adultizadas deve ser articulada entre família, escola e serviços de saúde mental, enfatizando que a atuação conjunta e precoce não apenas previne danos emocionais e cognitivos, mas também fortalece vínculos afetivos e promove a reconstrução de experiências típicas da infância, garantindo um desenvolvimento integral mais equilibrado. 76 Gladys Nogueira Cabral (2025) aponta que a eficácia das estratégias de intervenção depende da individualização do atendimento, considerando as especificidades do contexto familiar, social e cultural de cada criança, e que programas educativos e psicossociais coordenados podem reduzir significativamente os efeitos da adultização precoce, promovendo a autoestima, a socialização e a capacidade de lidar com emoções complexas. Celine Maria de Sousa Azevedo (2025) enfatiza que a integração de atividades lúdicas, recreativas e artísticas nas intervenções terapêuticas é essencial para restaurar o direito ao brincar e ao lazer, permitindo que a criança reconstrua sua identidade infantil, desenvolva habilidades sociais e emocionais e recupere experiências que foram precocemente comprometidas pela adultização. Sandro Garabed Ischkanian (2025) defende que a intervenção em crianças adultizadas deve contemplar programas de formação e sensibilização de professores e cuidadores, de modo que estes possam identificar sinais de sobrecarga precoce, promover ambientes seguros e estimulantes e articular ações multidisciplinares que possibilitem à criança vivenciar sua infância de maneira saudável e protegida. Neusa Venditte (2025) ressalta que a intervenção eficaz requer acompanhamento contínuo e avaliações periódicas das estratégias implementadas, considerando que a adultização precoce deixa marcas profundas no desenvolvimento emocional e social da criança, e que somente ações consistentes e integradas podem oferecer oportunidades reais de reconstrução do bem-estar infantil. Silvana Nascimento de Carvalho (2025) argumenta que a criação de redes de apoio comunitário e a articulação entre profissionais de saúde, educação e assistência social são fundamentais para garantir intervençõesefetivas em crianças adultizadas, permitindo não apenas o tratamento das consequências da sobrecarga adulta precoce, mas também a promoção de um ambiente protetor e estimulante que favoreça o crescimento integral da criança. A terapia individual constitui um dos principais recursos de intervenção, proporcionando à criança um espaço seguro para expressar sentimentos e experiências relacionadas à sobrecarga de responsabilidades adultas. Segundo Oliveira (2020) e Drumond Ischkanian (2023), a terapia permite o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento, autoestima saudável e relações interpessoais mais equilibradas. Técnicas lúdicas, artísticas e narrativas representam recursos fundamentais para estimular a imaginação, a criatividade e a livre expressão da criança, possibilitando que ela se reconecte com aspectos essenciais da infância. Por meio de jogos, brincadeiras e atividades simbólicas, a criança encontra espaço para elaborar sentimentos e vivências de forma segura e espontânea. As práticas artísticas, como o desenho, a música, a dança e o teatro, funcionam como canais de expressão emocional, permitindo que o jovem manifeste aquilo que muitas vezes não consegue traduzir em palavras. Já as narrativas, por meio de contação de histórias e atividades literárias, estimulam a empatia, a construção de significados e o desenvolvimento da linguagem. 77 Tabela 3: Intervenção para crianças adultizadas. Contexto Estratégia / Tipo de Intervenção Objetivo Escola Atividades lúdicas diárias no currículo Estimular o desenvolvimento emocional e cognitivo Escola Oficinas de arte, música e teatro Promover expressão emocional e criatividade Escola Projetos de jardinagem e ciências experimentais Desenvolver habilidades cognitivas e motoras Escola Espaços de leitura e contação de histórias Incentivar imaginação, linguagem e socialização Escola Jogos educativos em sala de aula Estimular aprendizado lúdico e cooperativo Escola Aulas de educação física colaborativas Desenvolver habilidades sociais e trabalho em equipe Escola Rodas de conversa sobre sentimentos Promover expressão emocional e empatia Escola Clubes de habilidades sociais Melhorar interação e comunicação entre pares Escola Mindfulness e relaxamento Reduzir estresse e ansiedade infantil Escola Intervalos mais longos para brincar Garantir tempo de lazer e socialização Escola Mentorias entre alunos Desenvolver suporte social e modelos positivos Escola Excursões educativas Expandir conhecimento e experiências vivenciais Escola Projetos de cidadania Desenvolver senso de responsabilidade e direitos Escola Habilidades de resolução de conflitos Promover autonomia e cooperação Escola Espaços seguros para expressão emocional Reduzir ansiedade e insegurança Escola Aprendizagem baseada em jogos Estimular engajamento e criatividade Escola Capacitação de professores sobre adultização Garantir abordagem consciente e adequada Escola Debates sobre direitos das crianças Conscientizar sobre proteção infantil Escola Painéis de conquistas e hobbies Valorizar autoestima e identidade pessoal Escola Atividades em grupo cooperativas Desenvolver empatia e trabalho em equipe Escola Projetos individuais de autoestima Fortalecer autoconfiança e segurança Escola Atividades de culinária e habilidades práticas Desenvolver autonomia e coordenação Escola Clubes de leitura criativa Estimular criatividade e imaginação Escola Feiras de ciências e exposições artísticas Promover aprendizado integrado e socialização Escola Expressão corporal e dança Desenvolver autoconfiança e expressão emocional Escola Empatia com animais e meio ambiente Fortalecer valores sociais e responsabilidade Escola Jogos cooperativos Estimular colaboração e socialização Escola Reflexão sobre mídia e publicidade Conscientizar sobre pressões externas Escola Teatro e improvisação Desenvolver expressão, criatividade e autoestima Escola Simulações de cidadania infantil Promover senso de responsabilidade e autonomia Escola Sistemas de recompensas por Incentivar comportamento positivo 78 colaboração Escola Campanhas anti-bullying Proteger emocionalmente e socialmente Escola Habilidades de negociação e diálogo Desenvolver resolução de conflitos Escola Momentos de silêncio e introspecção Promover autoconhecimento e bem-estar Escola Atividades voluntárias supervisionadas Estimular empatia e cidadania ativa Família / Casa Rotinas familiares consistentes Garantir segurança e previsibilidade Família / Casa Brincadeira diária com os pais Fortalecer vínculo e expressão emocional Família / Casa Leitura diária em família Desenvolver linguagem, imaginação e vínculo Família / Casa Evitar sobrecarga de responsabilidades Preservar tempo de infância e lazer Família / Casa Incentivar hobbies criativos Desenvolver habilidades cognitivas e emocionais Família / Casa Garantir horários regulares de sono Promover saúde física e emocional Família / Casa Limitar exposição digital inadequada Proteger da sexualização precoce e sobrecarga Família / Casa Criar ambiente seguro emocionalmente Fortalecer autoestima e confiança Família / Casa Conversas abertas sobre sentimentos Desenvolver inteligência emocional Família / Casa Valorizar conquistas sem comparações Incentivar autoestima saudável Família / Casa Evitar tarefas adultas excessivas Garantir tempo de brincadeira e aprendizagem Família / Casa Incentivar esportes recreativos Desenvolver habilidades físicas e sociais Família / Casa Respeitar tempo de lazer Preservar infância e bem-estar emocional Família / Casa Jogos de tabuleiro e coletivos Estimular cooperação e vínculo familiar Família / Casa Tomada de decisões apropriada à idade Desenvolver autonomia e responsabilidade Família / Casa Reconhecer emoções da criança Promover inteligência emocional Família / Casa Planejar atividades familiares lúdicas Fortalecer vínculo e diversão Família / Casa Ensinar habilidades de autocuidado Promover independência saudável Família / Casa Encontros com amigos da mesma idade Desenvolver socialização e empatia Família / Casa Exploração segura do ambiente externo Estimular autonomia e curiosidade Família / Casa Evitar sobrecarga escolar Proteger contra estresse e adultização Família / Casa Expressão corporal e dança em casa Estimular criatividade e bem-estar Família / Casa Projetos de construção ou experimentos Incentivar aprendizagem prática e curiosidade Família / Casa Momentos sem tecnologia Estimular interação social e criatividade Família / Casa Visitas a bibliotecas e museus Enriquecer aprendizado e vivências Família / Casa Relatar experiências e sentimentos Desenvolver comunicação e inteligência emocional Família / Casa Valorizar brincadeira simbólica Estimular imaginação e identidade Família / Casa Resolver pequenos problemas Fortalecer autonomia e confiança Família / Casa Planejar atividades com participação da criança Desenvolver senso de protagonismo Família / Casa Evitar discussões adultas complexas Preservar segurança emocional Família / Casa Celebrar conquistas com brincadeira Fortalecer autoestima e pertencimento Família / Casa Criar ambiente emocional seguro Minimizar estresse e pressão adulta Terapia / Profissional Terapia individual centrada em emoções Promover autoconhecimento e autoestima Terapia / Profissional Terapia familiar Melhorar comunicação e limites familiares Terapia / Profissional Terapia de grupo Desenvolver habilidades sociais e empatia Terapia / Profissional Arteterapia Expressar emoções de forma criativa 79 Terapia / Profissional Musicoterapia Promover expressão emocional e cognição Terapia / Profissional Psicoterapia cognitivo-comportamental Trabalhar pensamentos, emoções e comportamentos Terapia / Profissional Desenvolvimento da autoestima Fortalecer confiançaPapel da Família na Prevenção da Adultização Precoce Capítulo 9 – Educação Parental: Orientações e Estratégias Capítulo 10 – O Papel da Escola na Prevenção da Adultização Precoce Capítulo 11 – Práticas Pedagógicas que Promovem o Desenvolvimento Infantil Capítulo 12 – A Importância do Brincar no Desenvolvimento Infantil Capítulo 13 – O Papel da Sociedade na Prevenção da Adultização Precoce Capítulo 14 – Políticas Públicas e a Proteção da Infância Capítulo 15 – Mídia e a Imagem da Criança na Sociedade Capítulo 16 – O Impacto do Trabalho Infantil na Adultização Precoce Capítulo 17 – A Importância do Apoio Social para as Famílias Capítulo 18 – Redes de Apoio e Serviços de Saúde Mental para Crianças Capítulo 19 – Estratégias de Intervenção para Crianças Adultizadas Capítulo 20 – Casos de Sucesso: Histórias de Superação Capítulo 21 – A Importância da Pesquisa e da Conscientização Capítulo 22 – Desafios e Perspectivas Futuras Conclusão 8 INTRODUÇÃO A infância deve ser reconhecida como um período único de descobertas, desenvolvimento e construção de identidade, que não pode ser comprimido ou substituído por exigências e pressões adultas. Quando crianças são submetidas a responsabilidades precoces, elas deixam de experimentar a liberdade de explorar o mundo de forma lúdica, interrompendo processos naturais de desenvolvimento emocional e cognitivo. Combater a adultização precoce requer, portanto, que pais, educadores e a sociedade como um todo compreendam a importância de respeitar a singularidade do tempo infantil, oferecendo experiências compatíveis com a idade e estimulando a curiosidade e a criatividade sem imposições desmedidas. Um primeiro passo crucial é fortalecer o vínculo afetivo entre pais e filhos, proporcionando um ambiente seguro e acolhedor. Crianças que se sentem amadas, valorizadas e compreendidas desenvolvem maior resiliência emocional e têm mais capacidade de lidar com desafios. Práticas simples, como dedicar tempo de qualidade, ouvir atentamente, valorizar sentimentos e reconhecer conquistas, mesmo que pequenas, contribuem para a construção de autoestima saudável e reduzem a necessidade de que a criança busque assumir papéis de adulto para se sentir reconhecida ou competente. A escola, como segundo núcleo de socialização, desempenha um papel estratégico na prevenção da adultização precoce. Instituições de ensino que adotam metodologias que respeitam o ritmo de cada criança, promovem a aprendizagem por meio de projetos, brincadeiras e experiências significativas, ajudam a criar um ambiente seguro e estimulante. Educadores capacitados para identificar sinais de sobrecarga emocional ou comportamental podem intervir precocemente, oferecendo apoio individualizado e orientações adequadas, evitando que a criança assuma responsabilidades desproporcionais à sua idade. As práticas pedagógicas devem ser cuidadosamente planejadas para equilibrar aprendizado e lazer. Atividades excessivamente voltadas para desempenho, competitividade ou resultados imediatos podem contribuir para a sobrecarga emocional, estimulando sentimentos de inadequação e ansiedade. É essencial que o currículo escolar contemple momentos de expressão criativa, socialização lúdica e aprendizado colaborativo, promovendo o desenvolvimento integral e a construção de habilidades socioemocionais essenciais, como empatia, cooperação e resiliência. A tecnologia, quando utilizada de forma inadequada, também é um fator que contribui para a adultização precoce. Crianças expostas precocemente a conteúdos complexos ou violentos podem ser obrigadas a compreender e processar emoções para as quais ainda não estão preparadas. O uso excessivo de dispositivos digitais, redes sociais e programas de entretenimento direcionados a públicos adultos pode gerar ansiedade, comparação social e pressão por performance, impactando diretamente no equilíbrio emocional e cognitivo. A conscientização familiar sobre limites de tempo, supervisão e escolha de conteúdos é, portanto, fundamental. 9 Muitas vezes, os pais enfrentam pressões próprias, demandas de trabalho e desafios cotidianos que dificultam a atenção plena às necessidades emocionais dos filhos. Programas comunitários, grupos de apoio, serviços de orientação parental e políticas públicas voltadas para a proteção da infância podem fornecer suporte, permitindo que as famílias criem um ambiente saudável e seguro, no qual a criança tenha liberdade para crescer de forma natural. A sociedade precisa, também, rever seus valores culturais que exaltam a produtividade precoce, o desempenho e o sucesso imediato em detrimento do bem-estar infantil. Campanhas de conscientização sobre os direitos da criança e o impacto negativo da adultização precoce podem modificar comportamentos e expectativas, incentivando uma visão mais equilibrada da infância. Quando a sociedade compreende que a infância tem valor intrínseco, independente de sua ―preparação‖ para a vida adulta, cria-se um espaço mais favorável para o desenvolvimento pleno e saudável das crianças. O papel da mídia nesse contexto é central. Publicidade, programas de televisão e redes sociais frequentemente reforçam padrões de comportamento adulto ou expectativas irreais, contribuindo para que a criança se sinta pressionada a corresponder a papéis que não lhe são adequados. Incentivar uma produção de conteúdo responsável, que valorize o brincar, a aprendizagem gradual e a imaginação, ajuda a combater essa pressão e fortalece a construção de uma infância protegida e significativa. A proteção contra a adultização precoce também passa pela valorização do brincar como prática formativa essencial. Brincar não é apenas lazer; é uma ferramenta de aprendizagem, expressão emocional, construção de habilidades sociais e desenvolvimento cognitivo. Espaços de recreação seguros, atividades artísticas, jogos cooperativos e tempo livre para exploração são estratégias fundamentais para equilibrar a sobrecarga emocional e fortalecer a autoestima e a resiliência das crianças. Profissionais de saúde infantil têm papel decisivo na identificação precoce de sinais de sobrecarga emocional ou estresse associado à adultização precoce. Psicólogos, pediatras e terapeutas podem orientar famílias, criar programas preventivos e oferecer intervenções individualizadas, permitindo que a criança reconquiste seu espaço de infância. A saúde mental deve ser compreendida como prioridade, integrando cuidados físicos, emocionais e sociais para promover o desenvolvimento integral. A educação parental é outro instrumento poderoso de combate à adultização precoce. Capacitar pais e responsáveis para reconhecer sinais de estresse infantil, lidar com emoções de forma adequada e estabelecer limites claros contribui para reduzir a pressão sobre a criança. Orientações sobre rotina, tempo de lazer, diálogo afetivo e incentivo ao brincar fortalecem a base emocional da criança e permitem que ela viva sua infância de forma saudável e equilibrada. O combate à adultização precoce deve também envolver a criação e implementação de políticas públicas específicas. Programas que regulamentem o trabalho infantil, protejam o tempo de lazer, incentivem o brincar em ambientes públicos, apoiem a saúde mental e promovam campanhas educativas fortalecem a rede de proteção à infância. O investimento governamental em educação, cultura e serviços 10 de saúde é fundamental para garantir que todas as crianças, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso a experiências de desenvolvimento integral. É necessário reconhecer, ainda, o impacto direto das relações familiares na adultização precoce. Famílias que enfrentam desafios como pobreza, violência, ausência de adultos responsáveis ou sobrecarga de responsabilidades domésticas frequentemente transferem exigências excessivas para as crianças. Intervenções que fortaleçam a estruturae identidade saudável Terapia / Profissional Estratégias de regulação emocional Reduzir ansiedade e estresse Terapia / Profissional Atividades lúdicas terapêuticas Recuperar experiências infantis perdidas Terapia / Profissional Mindfulness e relaxamento Promover bem-estar psicológico Terapia / Profissional Intervenção em ansiedade e depressão Prevenir efeitos psicológicos duradouros Terapia / Profissional Treino de resolução de conflitos Desenvolver autonomia e habilidades sociais Terapia / Profissional Narrativas terapêuticas Processar experiências e emoções Terapia / Profissional Construção da identidade infantil Fortalecer autoconfiança e pertencimento Terapia / Profissional Planos de intervenção personalizados Atender necessidades individuais Terapia / Profissional Jogos terapêuticos e simulações Desenvolver habilidades sociais e emocionais Terapia / Profissional Role-playing de situações sociais Treinar respostas sociais saudáveis Terapia / Profissional Trabalhar vínculos afetivos Criar segurança emocional e confiança Terapia / Profissional Monitoramento de estresse e fadiga Prevenir sobrecarga emocional Terapia / Profissional Integração da família no processo Garantir suporte contínuo e coerência Terapia / Profissional Desenvolvimento de habilidades de enfrentamento Preparar a criança para desafios futuros Terapia / Profissional Reforço de memórias positivas Estimular autoestima e bem-estar Terapia / Profissional Expressão corporal e movimento Melhorar regulação emocional e criatividade Terapia / Profissional Recursos multimídia terapêuticos Estimular aprendizagem e engajamento Terapia / Profissional Atividades recreativas supervisionadas Restaurar infância e promover socialização Terapia / Profissional Suporte emocional contínuo Garantir acompanhamento e segurança Terapia / Profissional Objetivos mensuráveis e acompanhamento Avaliar progresso e adaptar estratégias Terapia / Profissional Integração com atividades escolares Coerência entre escola, família e terapia Terapia / Profissional Estratégias de autocuidado Ensinar prevenção de estresse e bem-estar Terapia / Profissional Avaliação periódica e ajustes Garantir eficácia contínua da intervenção Fonte: Drumond Ischkanian, S. H.; Cabral, G. N.; Azevedo, C. M. S.; Ischkanian, S. G.; 80 Venditte, N.; Carvalho, S. N. (2025). A terapia familiar também se mostra indispensável, dado que a adultização precoce frequentemente decorre de dinâmicas familiares inadequadas ou sobrecarga parental. Fernandes e Cunha (2021) e Drumond Ischkanian (2023) apontam que o trabalho com a família visa fortalecer vínculos afetivos, melhorar a comunicação e estabelecer limites claros, criando um ambiente mais seguro e protetor para o desenvolvimento infantil. Essa abordagem contribui para a reorganização do convívio familiar e para a redução de comportamentos que incentivam a adoção precoce de responsabilidades adultas. A escola desempenha papel central na intervenção, oferecendo um ambiente seguro, acolhedor e estimulante que respeite o ritmo de desenvolvimento de cada criança. Bellamais (2025) e Niebuhr et al. (2019) destacam que práticas pedagógicas que promovam atividades lúdicas, artísticas e esportivas, juntamente com a formação de professores, são fundamentais para prevenir e mitigar os efeitos da adultização precoce. A colaboração entre escola e família é crucial, permitindo que a criança receba suporte consistente nos diferentes contextos em que vive e promovendo a integração social e emocional. 100 possibilidades de estratégias de intervenção para crianças adultizadas, organizadas por contexto: escola, família e terapias. Essas estratégias visam proteger, apoiar e restaurar a infância das crianças afetadas pela adultização precoce. 18.1. Na Escola Implementar atividades lúdicas diárias no currículo. Oferecer oficinas de arte, música e teatro. Desenvolver projetos de jardinagem e ciências experimentais. Criar espaços de leitura e contação de histórias. Incentivar o uso de jogos educativos em sala de aula. Promover aulas de educação física que estimulem cooperação. Desenvolver rodas de conversa sobre sentimentos e emoções. Criar clubes de habilidades sociais e empatia. Integrar atividades de mindfulness e relaxamento. Proporcionar intervalos mais longos para brincar livremente. Implementar mentorias entre alunos mais velhos e mais jovens. Organizar excursões educativas e recreativas. Desenvolver projetos de ciências sociais e cidadania. Ensinar habilidades de resolução de conflitos. 81 Criar espaços seguros para expressar medos e ansiedades. Introduzir metodologias de aprendizagem baseadas em jogos. Capacitar professores sobre adultização precoce. Promover debates sobre direitos das crianças e cidadania. Criar painéis de conquistas e hobbies das crianças. Desenvolver atividades de cooperação em grupo. Trabalhar a autoestima através de projetos individuais. Promover atividades de culinária e habilidades práticas. Criar clubes de leitura criativa. Organizar feiras de ciências e exposições artísticas. Incentivar a expressão corporal e dança. Trabalhar a empatia com animais e meio ambiente. Criar dinâmicas de jogos cooperativos. Incentivar a reflexão sobre mídia e publicidade. Implementar aulas de teatro e improvisação. Realizar simulações de cidadania e democracia infantil. Estabelecer sistemas de recompensas por colaboração. Promover campanhas anti-bullying e respeito às diferenças. Trabalhar habilidades de negociação e diálogo. Proporcionar momentos de silêncio e introspecção. Incentivar participação em atividades voluntárias supervisionadas. 18.2. Em Casa / Família Estabelecer rotinas familiares consistentes e previsíveis. Reservar momentos diários de brincadeira conjunta. Promover leitura diária em família. Evitar sobrecarga de responsabilidades domésticas. Incentivar hobbies criativos (desenho, música, artesanato). Garantir horários regulares de sono e descanso. Evitar exposição precoce a conteúdos digitais inadequados. Criar um ambiente acolhedor e seguro emocionalmente. Desenvolver conversas abertas sobre sentimentos. Valorizar conquistas infantis sem comparações adultas. 82 Limitar tarefas que demandem maturidade adulta. Incentivar a participação em esportes recreativos. Respeitar o tempo de lazer da criança. Promover jogos de tabuleiro e brincadeiras coletivas. Estimular a criança a fazer escolhas e decisões apropriadas à idade. Reconhecer e validar emoções, medos e frustrações. Evitar críticas excessivas e cobranças adultas. Criar um mural ou diário de conquistas e interesses da criança. Planejar atividades familiares lúdicas nos finais de semana. Ensinar habilidades de autocuidado de forma lúdica. Organizar encontros com amigos da mesma idade. Incentivar a exploração segura do ambiente externo. Evitar sobrecarga escolar com trabalhos extras desnecessários. Estimular a expressão corporal e dança em casa. Participar de atividades de voluntariado ou comunitárias juntos. Desenvolver projetos de construção ou experimentos científicos simples. Criar “momentos sem tecnologia” em família. Promover visitas a bibliotecas e museus. Incentivar a criança a relatar suas experiências e sentimentos. Valorizar a brincadeira simbólica e dramatizações. Estimular a resolução de pequenos problemas de forma autônoma. Envolver a criança no planejamento de atividades familiares. Evitar exposição a discussões adultas complexas. Celebrar datas e conquistas com festas e brincadeiras apropriadas. Criar um ambiente emocionalmente seguro, sem pressões externas. 18.3. Em Terapias / IntervençõesProfissionais Realizar terapia individual centrada no desenvolvimento emocional. Aplicar terapia familiar para melhorar comunicação e limites. Utilizar terapia de grupo para desenvolver habilidades sociais. Implementar arteterapia para expressão emocional. Realizar musicoterapia para estímulo afetivo e cognitivo. Aplicar psicoterapia cognitivo-comportamental adaptada à idade. 83 Trabalhar a autoestima e autoconfiança em sessões individuais. Desenvolver estratégias de regulação emocional. Promover atividades lúdicas terapêuticas. Implementar técnicas de relaxamento e mindfulness. Aplicar intervenções para reduzir ansiedade e depressão. Trabalhar resolução de conflitos e assertividade. Desenvolver narrativas e histórias para processar experiências. Trabalhar a construção da identidade infantil. Criar planos personalizados de intervenção. Implementar jogos terapêuticos e simulações. Aplicar técnicas de role-playing para situações sociais. Trabalhar vínculos afetivos e segurança emocional. Monitorar sinais de estresse, fadiga ou sobrecarga. Integrar familiares no processo terapêutico. Desenvolver habilidades de enfrentamento de frustrações. Trabalhar memória emocional positiva e reforço de conquistas. Implementar exercícios de expressão corporal e movimento. Utilizar recursos multimídia educativos e terapêuticos. Planejar atividades recreativas supervisionadas como parte da terapia. Fornecer suporte emocional contínuo fora das sessões. Criar objetivos mensuráveis e acompanhamento do progresso. Promover integração com atividades escolares e comunitárias. Oferecer estratégias de autocuidado para crianças e familiares. Avaliar periodicamente a necessidade de ajustes na intervenção. A promoção de atividades recreativas e extracurriculares é vital para restabelecer experiências típicas da infância e fortalecer o desenvolvimento integral. Conforme Leão, Reis e Muzzeti (2014), JEB (2017) e Lunetas (2018), o brincar e a participação em esportes, artes e música proporcionam desenvolvimento da criatividade, socialização, autoestima e identidade saudável. Em casos extremos de risco à integridade física ou emocional da criança, a internação temporária em instituições especializadas, aliada a acompanhamento psicológico, pode ser necessária, sempre com o objetivo de reintegração familiar e comunitária o mais breve possível. 19. CADA TRAJETÓRIA DE SUPERAÇÃO É SINGULAR Casos de sucesso envolvendo crianças que vivenciaram a adultização precoce evidenciam que, mesmo diante de adversidades significativas, a resiliência infantil e o apoio estruturado podem 84 transformar trajetórias de vida, promovendo o desenvolvimento integral e a construção de uma identidade saudável. Estudos e relatos clínicos indicam que crianças adultizadas, quando amparadas por famílias comprometidas, escolas sensíveis às suas necessidades e profissionais de saúde mental capacitados, apresentam capacidade de superar lacunas emocionais e cognitivas, reconstruir vínculos afetivos e alcançar resultados positivos no contexto social e educacional. Essas experiências destacam a importância de intervenções integradas e personalizadas, mostrando que a superação não é apenas possível, mas também fortalecedora para o crescimento psicológico e emocional da criança. Cada trajetória de superação é singular, refletindo a complexidade do processo de intervenção e a diversidade das experiências infantis. Enquanto algumas crianças podem apresentar progressos rápidos, outras demandam acompanhamento prolongado e estratégias diferenciadas, adaptadas às suas necessidades individuais. Esse reconhecimento da individualidade enfatiza que não existe um modelo único de sucesso, mas sim múltiplos caminhos possíveis que valorizam a capacidade de resiliência e o efeito transformador do suporte adequado. Nesse contexto, a celebração de cada conquista, por menor que pareça, constitui um elemento motivador tanto para as crianças quanto para suas famílias e educadores. A presença de adultos de referência confiáveis desempenha papel central na recuperação de crianças adultizadas. Familiares, professores e profissionais de saúde mental podem fornecer suporte emocional consistente, orientação adequada e encorajamento, promovendo a construção de vínculos afetivos seguros e de uma base de confiança que é essencial para a reconstituição da infância. Ambientes acolhedores e protetores, que incentivem a expressão emocional e a comunicação aberta, criam condições propícias para que a criança ressignifique suas experiências e desenvolva uma autoestima sólida, promovendo a integração social e o bem-estar psicológico. Atividades lúdicas, recreativas e extracurriculares são estratégias fundamentais para a reconstrução da infância e para compensar a privação vivida. A participação em esportes, artes, música e brincadeiras direcionadas à faixa etária permite à criança explorar sua criatividade, desenvolver habilidades sociais e fortalecer sua autonomia e identidade. Estudos indicam que essas práticas não apenas promovem a socialização e o prazer infantil, mas também funcionam como mecanismos de enfrentamento, ajudando a reduzir o estresse e os efeitos emocionais da adultização precoce, reforçando a importância de espaços seguros e estruturados para o desenvolvimento integral. A escola, como ambiente de aprendizado e socialização, cumpre papel determinante na superação da adultização precoce, especialmente quando suas práticas pedagógicas respeitam o ritmo individual de cada criança e integram atividades que promovam o desenvolvimento emocional e cognitivo. A formação de professores para identificar sinais de adultização, a implementação de currículos inclusivos e a colaboração contínua com a família garantem um acompanhamento mais efetivo e um suporte integral à criança. O acesso a profissionais de saúde mental especializados possibilita à criança ressignificar suas experiências, reconhecer sua resiliência e construir uma narrativa pessoal positiva, consolidando a superação e fortalecendo sua capacidade de enfrentar desafios futuros. 85 O acesso à educação de qualidade, aliado a estratégias de intervenção adequadas, é fundamental para a superação da adultização precoce, uma vez que permite à criança vivenciar um ambiente de aprendizagem seguro, estimulante e inclusivo, capaz de respeitar seu ritmo de desenvolvimento e oferecer experiências que promovam o desenvolvimento integral, englobando aspectos cognitivos, socioemocionais e físicos (Drumond Ischkanian, 2023; Souza, 2002). A implementação de práticas pedagógicas que integrem atividades lúdicas, recreativas e projetos interativos contribui para a reconstrução da infância perdida, promovendo a socialização, a criatividade e a autoestima, ao mesmo tempo em que fortalece a capacidade das crianças de ressignificar experiências adultizadas e desenvolver competências adaptativas (Niebuhr et al., 2019; Oliveira, 2020). A colaboração entre escola, família e profissionais de saúde mental é crucial, pois garante a criação de uma rede de apoio multidisciplinar capaz de oferecer acompanhamento contínuo e personalizado, prevenindo retraumatizações e promovendo a resiliência infantil. Os pais desempenham um papel central na proteção e no estímulo ao desenvolvimento saudável, sendo responsáveis por acompanhar o aprendizado, reforçar limites adequados e garantir segurança emocional às crianças (Drumond Ischkanian, 2023; Drumond Ischkanian, 2025). A construção de uma narrativa pessoal positiva é outro fator essencial na superação da adultização precoce, permitindo à criança compreender e ressignificar suas experiências, reconhecer sua resiliência e construir uma identidade saudável. O apoio de familiares, educadores e profissionais especializados, como psicólogos e assistentes sociais, édecisivo nesse processo, oferecendo acolhimento emocional, orientação e oportunidades de expressão de sentimentos, pensamentos e experiências (Ministério da Saúde, 2010; Guerra et al., 2022). A educação de qualidade, aliada à proteção digital e ao controle da exposição midiática, também desempenha papel determinante, considerando que a superexposição na internet e a sexualização precoce contribuem para a adultização infantil e podem gerar impactos emocionais duradouros (Bastos, 2021; Bellamais, 2025; Berti; Fachin, 2021; Fernandes; Cunha, 2025; Oliveira, 2020). A sensibilização de pais e educadores quanto ao compartilhamento de imagens de crianças (shareting) e à necessidade de respeitar a privacidade infantil é crucial para prevenir riscos como exploração sexual, assédio e violação de direitos. Compartilhar histórias de sucesso e trajetórias de superação é fundamental para inspirar esperança e motivar intervenções eficazes, demonstrando que, com o apoio adequado da família, da escola e dos profissionais de saúde mental, é possível reconstruir a infância, fortalecer vínculos afetivos, promover o desenvolvimento integral e possibilitar que crianças adultizadas construam vidas equilibradas e saudáveis, livres das marcas da adultização precoce. Em 2025, uma série de notícias veiculadas por veículos como G1, CNN Brasil, BBC, Agência Brasil e outros, trouxe à tona questões alarmantes sobre a exploração e adultização precoce de crianças e adolescentes nas redes sociais, destacando casos envolvendo o influenciador digital Hytalo Santos e o youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca (G1, 2025; CNN Brasil, 2025; BBC, 2025). 86 Esses acontecimentos evidenciam a gravidade da exposição de menores na internet, a necessidade de fiscalização rigorosa de conteúdos digitais e a urgência em promover políticas públicas de proteção infantil. Felca, ao publicar um vídeo de aproximadamente 50 minutos, denunciou a produção e distribuição de conteúdos que exploram sexualmente menores de idade, gerando repercussão nacional e internacional, com mais de 34 milhões de visualizações apenas nas primeiras semanas após a divulgação (BBC, 2025; GZH, 2025). O caso ganhou ainda mais relevância diante da atuação das autoridades, com prisões e investigações conduzidas pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) e decisões judiciais que incluíram a quebra de sigilo de dados de contas digitais, incluindo e-mails e perfis de redes sociais, em conformidade com determinações do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) (Agência Brasil, 2025; G1, 2025). A medida judicial reflete a complexidade legal do tema, envolvendo a proteção de dados, o direito à privacidade, o combate à exploração infantil e a necessidade de responsabilização de adultos que se beneficiam da produção de conteúdo prejudicial a menores. Ao mesmo tempo, a repercussão midiática mostrou a importância da denúncia cidadã e da atuação de influenciadores responsáveis em alertar a sociedade para práticas ilegais e prejudiciais. A repercussão do vídeo de Felca não se restringiu à esfera judicial, mas também promoveu um intenso debate social sobre a adultização precoce e a sexualização de crianças nas plataformas digitais. Segundo especialistas em educação e psicologia infantil, a exposição contínua de menores a conteúdos inadequados contribui para a construção de expectativas adultas sobre crianças, afetando seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo, bem como a construção de uma identidade saudável (G1, 2025; Consultor Jurídico, 2025). Ao denunciar publicamente tais práticas, Felca tornou-se um agente de conscientização, alertando pais, educadores e crianças sobre os riscos da superexposição online e da erotização precoce. O caso também revelou o fenômeno da pressão midiática e das redes de influência digital, destacando como conteúdos virais podem gerar efeitos positivos quando utilizados de forma responsável. O vídeo de Felca, que rapidamente alcançou milhões de visualizações, mobilizou diferentes setores da sociedade, incluindo órgãos governamentais, ONGs e plataformas digitais, a adotarem medidas preventivas e educativas, como a remoção de conteúdos impróprios, bloqueio de contas e criação de campanhas de orientação sobre a proteção de crianças online (CNN Brasil, 2025; Estadão, 2025). Esses eventos demonstram que a conscientização e a educação digital são ferramentas essenciais na prevenção da adultização precoce e da exploração infantil. Ao mesmo tempo, a situação trouxe à tona debates sobre a responsabilidade dos pais e responsáveis no acompanhamento da presença digital das crianças e adolescentes. Felca destacou a importância de limites claros, monitoramento de atividades online e diálogo constante entre adultos e menores, elementos que são fundamentais para a prevenção da exposição a conteúdos prejudiciais e para o fortalecimento de vínculos familiares (Bellamais, 2025; Berti; Fachin, 2021; Fernandes; Cunha, 2025). 87 A participação ativa dos pais não apenas garante segurança digital, mas também permite que crianças e adolescentes compreendam melhor os riscos associados ao ambiente online, desenvolvendo habilidades críticas e consciência sobre sua própria privacidade. As notícias de 2025 também reforçam a necessidade de políticas públicas robustas e integradas que promovam a proteção integral de crianças e adolescentes. Medidas de prevenção incluem campanhas educativas, regulamentação de plataformas digitais, capacitação de profissionais de saúde, educação e assistência social, bem como canais de denúncia acessíveis e eficazes. Nesse sentido, a repercussão do caso de Felca e Hytalo Santos demonstra que ações combinadas entre sociedade civil, governo e empresas privadas são capazes de gerar resultados concretos na proteção infantil (G1, 2025; Agência Brasil, 2025). Especialistas em psicologia infantil destacam que a adultização precoce e a exposição a conteúdos sexualizados podem gerar ansiedade, depressão, dificuldades de socialização e problemas de autoestima, sendo imprescindível o acesso a acompanhamento psicológico e terapêutico (Ministério da Saúde, 2010; Guerra et al., 2022). Programas de intervenção preventiva em escolas e comunidades tornam-se essenciais, não apenas para proteger crianças de situações de exploração, mas também para fortalecer resiliência e desenvolvimento saudável. A mobilização gerada pelo vídeo de Felca também serve como referência para pesquisas futuras sobre adultização precoce, exploração digital e proteção de menores. O engajamento de milhares de internautas, junto com ações do sistema judicial e midiático, evidencia a importância da interseção entre tecnologia, legislação e educação para criar ambientes digitais seguros. A documentação detalhada do caso e sua ampla cobertura midiática fornecem dados valiosos para acadêmicos, profissionais e formuladores de políticas, permitindo análises sobre prevenção, responsabilização e promoção da infância segura (BBC, 2025; Consultor Jurídico, 2025). As notícias de 2025 relacionadas a Felca e Hytalo Santos reforçam a complexidade da adultização precoce e da exploração infantil nas redes sociais, mostrando que a atuação responsável de influenciadores digitais, a fiscalização judicial, a conscientização dos pais e a criação de políticas públicas integradas são cruciais para proteger crianças e adolescentes. A repercussão do caso demonstra que é possível transformar denúncias em ações concretas, inspirando uma cultura de proteção, educação e respeito à infância, ao mesmo tempo em que promove reflexão social sobre os limites da internet e a responsabilidade coletiva na formação de ambientes digitais seguros (G1, 2025; CNN Brasil, 2025; Estadão, 2025). O alcance massivo do vídeo de Felca, com dezenas de milhões de visualizações, evidencia o poder da internet como ferramenta de mobilização social, capaz degerar respostas rápidas da sociedade e do sistema judicial. Entretanto, esse mesmo alcance também expõe crianças e adolescentes a riscos adicionais, como o assédio virtual, a violação da privacidade e a pressão de interações digitais precoces, que podem contribuir para a adultização precoce (Bastos, 2021; Bellamais, 2025). Assim, o caso 88 demonstra a dualidade da tecnologia: ela pode ser instrumento de proteção e conscientização, mas também de vulnerabilidade, exigindo ações coordenadas de educação, regulamentação e supervisão. O episódio ressalta ainda a importância do papel da mídia e dos influenciadores digitais na proteção da infância. A atuação de Felca evidencia que indivíduos com grande alcance digital podem se tornar aliados significativos na denúncia de práticas abusivas, promovendo visibilidade para situações que, de outra forma, permaneceriam ocultas. Ao mesmo tempo, a reação de parte da sociedade e das plataformas digitais, com a suspensão de perfis e medidas preventivas, reforça a necessidade de regras claras para a produção e compartilhamento de conteúdo envolvendo menores, considerando a legislação vigente e os princípios de proteção infantil (Berti; Fachin, 2021; Fernandes; Cunha, 2025). No âmbito familiar, o caso evidencia a necessidade urgente de orientação e acompanhamento dos pais e responsáveis sobre a presença digital de crianças e adolescentes. Programas de educação digital voltados para famílias podem reduzir riscos de superexposição e sexualização precoce, ajudando adultos a estabelecer limites saudáveis, monitorar interações online e promover um uso consciente das tecnologias (Busher, 2017; Pinheiro, 2013; Politizei, 2023). Ao combinar prevenção e educação, tais iniciativas fortalecem a proteção infantil e contribuem para a construção de uma identidade saudável para os menores, evitando efeitos psicológicos negativos a longo prazo. A repercussão do caso também acendeu o debate sobre a necessidade de políticas públicas mais efetivas e integradas para enfrentar a adultização precoce e a exploração digital infantil. A atuação coordenada entre órgãos governamentais, plataformas digitais, escolas, psicólogos e assistentes sociais é fundamental para criar mecanismos de prevenção, monitoramento e intervenção. Além disso, o caso demonstra que a legislação precisa ser constantemente adaptada à realidade digital, garantindo que crianças e adolescentes estejam protegidos frente a novas formas de exploração e vulnerabilidade (Ministério da Saúde, 2010; Guerra et al., 2022). Do ponto de vista psicológico, especialistas alertam que a superexposição na internet, combinada com a produção de conteúdos adultizados, pode provocar impactos duradouros no desenvolvimento emocional e social das crianças. Sintomas como ansiedade, depressão, baixa autoestima e dificuldade de socialização são comuns em menores expostos a esse tipo de conteúdo, sendo essencial a oferta de acompanhamento terapêutico individual e familiar (Oliveira, 2020; Niebuhr et al., 2019). Estratégias de intervenção multidisciplinares, que envolvam escola, família e profissionais de saúde mental, tornam-se indispensáveis para mitigar os efeitos negativos e promover a reconstrução da infância perdida. O caso de Felca e Hytalo Santos em 2025 evidenciou de forma contundente a vulnerabilidade de crianças e adolescentes na era digital e a necessidade de atuação integrada entre sociedade, família, escolas e profissionais de saúde mental. As reportagens divulgadas pelo G1, CNN Brasil, BBC e demais veículos destacam que a denúncia do influenciador Felca sobre a exploração de menores em conteúdos digitais gerou repercussão nacional e internacional, mobilizando autoridades, plataformas digitais e famílias (G1, 2025; CNN Brasil, 2025; BBC, 2025). Essa exposição midiática coloca em evidência o 89 fenômeno da adultização precoce e os riscos associados à superexposição infantil nas redes sociais, reforçando a necessidade de políticas de prevenção e estratégias educativas robustas (Bastos, 2021; Bellamais, 2025; Oliveira, 2020). No âmbito escolar, a prevenção da adultização precoce passa pela criação de ambientes de aprendizagem seguros, inclusivos e estimulantes, que respeitem o ritmo de desenvolvimento das crianças e ofereçam experiências que integrem aspectos cognitivos, socioemocionais e físicos. A implementação de práticas pedagógicas que promovam atividades lúdicas, recreativas e projetos interativos é essencial para reconstruir a infância perdida e favorecer o desenvolvimento integral da criança, fortalecendo competências adaptativas, autoestima e habilidades sociais (Drumond Ischkanian, 2023; Souza, 2002; Niebuhr et al., 2019). Professores capacitados para identificar sinais de adultização precoce e trabalhar com estratégias de ensino inclusivas desempenham papel central, garantindo que cada criança tenha oportunidades equitativas de aprendizagem e expressão de suas potencialidades. A colaboração entre escola, família e profissionais de saúde mental é outro ponto crucial. A integração dessas três frentes permite criar uma rede de apoio multidisciplinar, capaz de oferecer acompanhamento contínuo, individualizado e seguro para crianças adultizadas. Os pais, orientados e apoiados, tornam-se agentes ativos na proteção e no estímulo ao desenvolvimento infantil, estabelecendo limites claros, monitorando a presença digital de seus filhos e garantindo segurança emocional (Drumond Ischkanian, 2023; Drumond Ischkanian, 2025; Guerra et al., 2022). A participação ativa da família em atividades escolares, acompanhamento de tarefas e diálogo constante com profissionais de educação contribui significativamente para prevenir retraumatizações e promover resiliência. No plano terapêutico, a intervenção individual e familiar é fundamental para lidar com os efeitos da adultização precoce. Sessões de psicoterapia podem auxiliar a criança a compreender suas experiências, ressignificar traumas e desenvolver estratégias de enfrentamento para lidar com ansiedade, depressão, baixa autoestima e dificuldades de socialização, comuns em situações de exploração digital e superexposição (Oliveira, 2020; Niebuhr et al., 2019). A terapia familiar, por sua vez, atua na reestruturação de padrões disfuncionais, melhora a comunicação entre membros e fortalece vínculos afetivos, criando um ambiente emocionalmente seguro e propício ao desenvolvimento saudável da criança (Ministério da Saúde, 2010; Berti; Fachin, 2021). A proteção digital e o controle da exposição midiática também são estratégias essenciais. O fenômeno do shareting, ou compartilhamento de imagens de crianças por familiares nas redes sociais, sem critérios de privacidade e segurança, pode gerar riscos significativos de exploração, assédio e adultização precoce (Busher, 2017; Pinheiro, 2013; Politizei, 2023; Fernandes; Cunha, 2025). A sensibilização de pais, educadores e crianças sobre os perigos da exposição digital, combinada à aplicação de filtros, limites de tempo de tela e monitoramento de conteúdos, constitui uma medida preventiva eficaz, que complementa as ações escolares e terapêuticas. 90 O caso de Felca também reforça a importância da intervenção legal e institucional. A liminar da Justiça de São Paulo para quebra de sigilo de dados e a investigação do influenciador Hytalo Santos mostram que medidas legais rápidas são fundamentais para proteger crianças e adolescentes, impedir a continuidade de exploração e responsabilizar agentes envolvidos (Agência Brasil, 2025; CNN Brasil, 2025). Essas ações, somadas ao engajamento das plataformas digitais na suspensão de perfis e monitoramento de conteúdo, demonstram a necessidade de políticas públicas adaptadas à realidade digital, integrando proteção legal, educação, saúde mental e responsabilização de abusadores. Compartilhar histórias de sucesso, como a denúncia de Felca e a reaçãosocial e judicial subsequente, é uma estratégia poderosa para inspirar esperança e mobilizar ações preventivas. Crianças e adolescentes que recebem apoio adequado conseguem superar traumas, reconstruir a infância e desenvolver identidades saudáveis, equilibrando sua vida emocional, social e cognitiva (G1, 2025; JEB, 2017; Leão; Reis; Muzzeti, 2014; Lunetas, 2018). A conscientização da sociedade sobre os riscos da adultização precoce e a valorização de ações coordenadas são fundamentais para garantir que crianças vivam plenamente sua infância, com proteção, educação e apoio emocional adequados, reduzindo impactos negativos no presente e prevenindo consequências futuras. O caso de Felca e Hytalo Santos em 2025 exemplifica os riscos da adultização precoce e da exploração infantil nas redes sociais, evidenciando a necessidade de ações integradas entre família, escola, profissionais de saúde mental e órgãos públicos. As reportagens do G1, CNN Brasil e BBC destacam que a denúncia de Felca, com milhões de visualizações, trouxe à tona situações de exploração e superexposição de crianças em conteúdos digitais, despertando o debate nacional sobre a proteção da infância na era da informação digital (G1, 2025; CNN Brasil, 2025; BBC, 2025). Para a professora Simone Helen Drumond Ischkanian, esses casos reforçam a urgência de estratégias preventivas e de intervenção que promovam a resiliência infantil, a proteção integral e a reconstrução da infância comprometida pela adultização precoce (Drumond Ischkanian, 2025). No contexto escolar, é essencial implementar práticas pedagógicas que respeitem o ritmo de desenvolvimento das crianças, promovam atividades lúdicas, recreativas e interativas, e integrem projetos educativos voltados para o desenvolvimento integral. Tais ações permitem que a criança ressignifique experiências de exploração digital, fortaleça sua autoestima e desenvolva competências socioemocionais, cognitivas e físicas (Drumond Ischkanian, 2023; Niebuhr et al., 2019; Oliveira, 2020). A professora Simone Helen Drumond Ischkanian destaca que a formação continuada de professores para identificar sinais de adultização precoce e intervir de maneira assertiva é fundamental para a eficácia dessas medidas, garantindo que cada criança tenha oportunidades equitativas de aprendizagem e desenvolvimento saudável. A atuação familiar é outro pilar essencial na prevenção e intervenção da adultização precoce. Os pais e responsáveis devem ser orientados quanto ao monitoramento digital, controle de exposição a mídias e estímulo à participação em atividades lúdicas e educativas. 91 Segundo Simone Helen Drumond Ischkanian (2025), o engajamento familiar permite criar um ambiente emocionalmente seguro, fortalece vínculos afetivos e possibilita a construção de estratégias de enfrentamento frente a traumas e superexposição digital. Programas de orientação parental e grupos de apoio podem auxiliar os familiares a desenvolver habilidades para proteger a criança, prevenindo retraumatizações e promovendo resiliência (Drumond Ischkanian, 2025; Bastos, 2021; Bellamais, 2025). No âmbito terapêutico, a intervenção individual e familiar é indispensável para tratar as consequências da adultização precoce. Sessões de psicoterapia ajudam a criança a compreender suas experiências, ressignificar traumas e desenvolver habilidades de enfrentamento frente à ansiedade, depressão e dificuldades de socialização. A professora Simone Helen Drumond Ischkanian reforça que a abordagem multidisciplinar, envolvendo psicólogos, assistentes sociais e educadores, é fundamental para garantir a eficácia do tratamento e a reconstrução da infância (Drumond Ischkanian, 2023; Oliveira, 2020). Terapia familiar específica permite identificar padrões disfuncionais, melhorar a comunicação e promover segurança emocional, oferecendo suporte integral para a criança e sua rede de apoio. A proteção digital é outro componente essencial para a prevenção da adultização precoce. Fenômenos como o shareting — compartilhamento de imagens de crianças por familiares nas redes sociais — podem gerar riscos de exploração e violação de direitos. Para Simone Helen Drumond Ischkanian (2025), a conscientização de pais, educadores e crianças sobre o uso seguro das mídias digitais, combinada a limites de tempo de tela, filtros de conteúdo e monitoramento, constitui uma estratégia preventiva eficaz, complementando ações escolares e terapêuticas. Além disso, a atuação legal, como a liminar do TJ-SP para quebra de sigilo de dados de Hytalo Santos, demonstra a importância de medidas judiciais rápidas para proteger a infância e responsabilizar exploradores digitais (Agência Brasil, 2025; CNN Brasil, 2025; Drumond Ischkanian, 2025). A educação formal e digital integrada, combinada com intervenção terapêutica e suporte familiar, cria um ecossistema protetor capaz de reconstruir a infância comprometida, promover a resiliência e possibilitar o desenvolvimento integral da criança. Histórias de superação, como a denúncia de Felca, demonstram que, mesmo diante da exploração e da adultização precoce, crianças podem reconstruir vínculos, vivenciar a infância e desenvolver identidades saudáveis (G1, 2025; JEB, 2017; Leão; Reis; Muzzeti, 2014; Lunetas, 2018; Simon; Galera, 2017). Simone Helen Drumond Ischkanian enfatiza que o compartilhamento de trajetórias positivas é crucial para inspirar famílias, educadores e profissionais de saúde mental a adotar práticas preventivas e de intervenção eficazes, fortalecendo a proteção integral das crianças (Drumond Ischkanian, 2025). O caso de Felca e Hytalo Santos evidencia, de forma contundente, a importância da proteção integral de crianças e adolescentes, mostrando que a garantia de seus direitos depende não apenas de políticas públicas, mas também da coragem de cidadãos, familiares e profissionais em denunciar situações de exploração, adultização precoce e abuso. Denunciar é um ato de responsabilidade social e ética, que contribui para a construção de um ambiente seguro, acolhedor e protetor, permitindo que as crianças 92 vivenciem plenamente sua infância, desenvolvam sua identidade de forma saudável e tenham acesso a oportunidades de educação, lazer e crescimento integral. A proteção da infância e da adolescência é um compromisso coletivo que envolve famílias, escolas, profissionais de saúde, instituições públicas e sociedade em geral. Casos como o de Felca demonstram que a coragem de expor irregularidades e abusos pode desencadear ações judiciais, fiscalização efetiva e medidas de responsabilização, prevenindo novos episódios de exploração e garantindo a integridade física, emocional e social das crianças. O ato de denunciar fortalece a cultura da proteção e da prevenção, encorajando outras pessoas a não se calarem diante de situações de risco. Quando cidadãos e profissionais assumem a responsabilidade de denunciar, eles promovem a conscientização social sobre a vulnerabilidade infantil, reforçam a importância do respeito à infância e ao desenvolvimento saudável, e inspiram mudanças concretas em políticas públicas e práticas institucionais. A coragem de denunciar, aliada à atuação de sistemas de proteção integrados — envolvendo justiça, saúde, educação e serviços sociais — é essencial para interromper ciclos de exploração e adultização precoce, garantindo que cada criança tenha direito à infância, à segurança e à construção de um futuro digno. Assim, proteger crianças e adolescentes não é apenas um dever legal, mas um compromisso moral e social, cuja efetividade depende da ação consciente, da vigilância e da coragem de todos que fazem parte da sociedade. A proteção da criança e do jovem, combinada à coragem de denunciar práticas abusivas, constitui a base para uma sociedade mais justa, equitativa e atenta aos direitos das futuras gerações, assegurando que cada criança possa crescerde maneira saudável, plena e livre de exploração ou adultização precoce. 20. A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA NO ENFRENTAMENTO DA ADULTIZAÇÃO A importância da pesquisa e da conscientização no enfrentamento da adultização precoce se evidencia quando consideramos que o fenômeno envolve múltiplos fatores sociais, culturais e psicológicos, exigindo um conhecimento sólido e atualizado para orientar políticas públicas, práticas educativas e intervenções terapêuticas (Drumond Ischkanian, 2023; Souza, 2002). Estudos científicos permitem identificar os fatores de risco, compreender os impactos da exposição precoce a conteúdos adultos, como ocorre nas situações de sharenting e superexposição nas redes sociais (Berti; Fachin, 2021; Fernandes; Cunha, 2025; Oliveira, 2020), além de avaliar a eficácia de estratégias preventivas, terapêuticas e pedagógicas, possibilitando intervenções mais seguras e adequadas às necessidades de cada criança. A disseminação de informações confiáveis por meio de campanhas de conscientização, materiais educativos, livros, cartilhas, vídeos e conteúdos online é crucial para alcançar pais, educadores e profissionais de saúde, sensibilizando-os quanto à importância de proteger a infância e ao papel 93 preventivo que desempenham na vida das crianças (Bastos, 2021; Bellamais, 2025; Busher, 2017; Pinheiro, 2013). A utilização de múltiplos canais de comunicação, como redes sociais, televisão, rádio e plataformas digitais, amplia o alcance das mensagens, permitindo que informações sobre os riscos da adultização precoce, sinais de alerta e formas de intervenção cheguem a um público diversificado, reforçando a cultura de proteção da infância (G1, 2025; Niebuhr et al., 2019). Simone Helen Drumond Ischkanian: A pesquisa conduzida por Simone Helen Drumond Ischkanian demonstra que a investigação científica aprofundada sobre a adultização precoce é essencial para compreender não apenas os fatores de risco individuais e familiares, mas também os impactos psicológicos, sociais e educacionais duradouros, permitindo o desenvolvimento de estratégias de intervenção mais precisas, programas de capacitação de profissionais e políticas públicas que promovam a proteção integral da infância, contribuindo para a formação de uma sociedade mais consciente e sensível às necessidades das crianças. Gladys Nogueira Cabral: De acordo com Gladys Nogueira Cabral, a análise sistemática e multidimensional da adultização precoce possibilita identificar padrões de comportamento, contextos socioeconômicos e culturais, bem como pressões midiáticas e familiares que aceleram a imposição de responsabilidades adultas às crianças, fornecendo bases sólidas para a criação de programas de prevenção, campanhas educativas, formação de profissionais da educação e da saúde, além de orientar políticas públicas que assegurem o direito de todas as crianças a uma infância protegida e plena. Celine Maria de Sousa Azevedo: Celine Maria de Sousa Azevedo destaca que o estudo científico sobre adultização precoce é crucial para mapear os efeitos emocionais, cognitivos e sociais de crianças submetidas a papéis e responsabilidades adultas de forma precoce, permitindo desenvolver intervenções psicossociais individualizadas, fortalecer redes de apoio familiar e educacional, criar materiais de orientação acessíveis e construir estratégias que promovam o desenvolvimento integral das crianças, protegendo-as de traumas que possam comprometer sua formação futura. Sandro Garabed Ischkanian: Sandro Garabed Ischkanian enfatiza que a pesquisa acadêmica e documental sobre adultização precoce oferece evidências imprescindíveis para a formulação de estratégias pedagógicas, terapêuticas e sociais, garantindo que crianças vivam plenamente sua infância, desenvolvam competências socioemocionais de maneira saudável e se protejam de exposições indevidas, enquanto orienta profissionais, famílias e formuladores de políticas sobre como construir ambientes seguros e estimulantes que promovam o bem-estar infantil. Neusa Venditte: Para Neusa Venditte, a investigação aplicada à adultização precoce é essencial para compreender a complexidade das influências culturais, midiáticas, familiares e sociais que contribuem para a exposição prematura de crianças a responsabilidades adultas, oferecendo subsídios para o fortalecimento de legislações de proteção, criação de campanhas de conscientização, capacitação de educadores e profissionais de saúde e implementação de ações preventivas que assegurem o desenvolvimento integral e saudável da criança em todos os contextos de sua vida. 94 Silvana Nascimento de Carvalho: Silvana Nascimento de Carvalho ressalta que a pesquisa contínua e atualizada sobre adultização precoce é fundamental para avaliar a eficácia de políticas públicas, programas educativos e intervenções terapêuticas, fornecendo dados que orientem decisões de profissionais, famílias e gestores, garantindo a proteção da infância, promovendo o bem-estar emocional e cognitivo das crianças e estimulando uma sociedade mais comprometida com a preservação dos direitos infantis e com a prevenção de danos decorrentes da adultização precoce. A formação de profissionais especializados é outro aspecto essencial para garantir a eficácia das ações de prevenção e intervenção. Psicólogos, assistentes sociais, educadores e profissionais de saúde precisam de capacitação contínua para identificar casos de adultização precoce, oferecer suporte adequado às crianças e famílias e aplicar estratégias de intervenção baseadas em evidências (Drumond Ischkanian, 2025; Ministério da Saúde, 2010). A atualização constante sobre novas pesquisas e práticas exitosas permite que os profissionais atuem de forma segura, ética e efetiva, promovendo o bem-estar emocional e o desenvolvimento integral das crianças. O acesso a informações corretas e a conscientização pública contribuem para a redução de comportamentos de risco, como a sexualização precoce, exploração e exposição indevida de crianças nas redes sociais (Guerra et al., 2022; Leão; Reis; Muzzeti, 2014; Lunetas, 2018). Casos recentes, como os relatados sobre superexposição infantil e sharenting (Fernandes; Cunha, 2025; Berti; Fachin, 2021; Oliveira, 2020), mostram que a conscientização de pais e educadores é decisiva para prevenir danos emocionais, psicológicos e sociais, fortalecendo o papel da família e da escola como ambientes protetores. A pesquisa científica e a conscientização social atuam como pilares complementares na prevenção e no combate à adultização precoce, fornecendo subsídios para a formulação de políticas públicas, práticas educativas e estratégias terapêuticas fundamentadas em evidências. Investir em estudos, capacitar profissionais e promover campanhas de conscientização garante que crianças e adolescentes possam desenvolver sua identidade de forma saudável, desfrutar plenamente de sua infância e ser protegidos contra a pressão adulta, exploração e violação de seus direitos fundamentais. 21. DESAFIOS E PERSPECTIVAS FUTURAS O enfrentamento da adultização precoce constitui um desafio social e científico de alta complexidade, exigindo ações coordenadas entre diferentes setores da sociedade, incluindo famílias, escolas, serviços de saúde, órgãos governamentais e organizações da sociedade civil, de modo a promover estratégias integradas de prevenção e intervenção que possam proteger a infância e reduzir os impactos psicológicos, sociais e emocionais que resultam da imposição precoce de responsabilidades adultas às crianças (Drumond Ischkanian, 2023; Souza, 2002). A detecção precoce da adultização é um dos obstáculos centrais, uma vez que a ausência de instrumentos de avaliação sensíveis e de formação adequada para profissionais dificulta a identificação tempestiva do problema, podendo acarretar 95 consequências mais graves ao desenvolvimento infantil, comocomprometimento da autoestima, dificuldades de relacionamento e transtornos de comportamento. A integração efetiva entre escola, família, serviços de saúde e instituições públicas é essencial para criar redes de apoio robustas, que possibilitem a troca de informações, o acompanhamento contínuo das crianças e o desenvolvimento de intervenções personalizadas que atendam às necessidades individuais de cada caso, fortalecendo a capacidade de prevenção e mitigação da adultização precoce (Drumond Ischkanian, 2023; Guerra et al., 2022). Sem essa integração, há risco de duplicidade de esforços, lacunas no atendimento e perda de eficácia das estratégias implementadas. A escassez de recursos, tanto financeiros quanto humanos e materiais, representa outro entrave relevante para o combate à adultização precoce. Investimentos em pesquisa científica, formação de profissionais especializados, desenvolvimento de materiais educativos e implementação de políticas públicas eficazes são fundamentais para garantir que todas as crianças e famílias tenham acesso a serviços de qualidade, bem como para apoiar a criação de programas preventivos e interventivos capazes de lidar com a complexidade do fenômeno (Drumond Ischkanian, 2023; Ministério da Saúde , 2010). A disponibilidade de recursos tecnológicos, como plataformas digitais de orientação e aplicativos de apoio a famílias, também se mostra promissora para ampliar o alcance das intervenções, sobretudo em contextos de vulnerabilidade social ou geográfica. A mudança de mentalidades e a transformação cultural são desafios de longo prazo, porém essenciais. É necessário promover valores que priorizem a infância, reconheçam a importância do brincar, do desenvolvimento integral e do respeito aos direitos da criança, enquanto se combate a naturalização de comportamentos de adultização precoce promovidos por mídias e redes sociais (Bastos, 2021; Bellamais, 2025; Berti; Fachin, 2021; Fernandes; Cunha, 2025). A conscientização pública, por meio de campanhas educativas e iniciativas de sensibilização para pais, educadores e profissionais, desempenha papel decisivo na criação de uma cultura social que valorize e proteja a infância. Apesar das dificuldades, as perspectivas futuras oferecem oportunidades promissoras. O aumento do interesse público e governamental, aliado aos avanços na pesquisa científica e no uso de tecnologias digitais, permite o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento mais eficazes, bem como a ampliação do acesso a informações, serviços de apoio e acompanhamento psicológico (Politizei, 2023; Safernet, 2021; Silva, 2023). A construção de um futuro em que todas as crianças possam experimentar plenamente sua infância, livres da pressão de responsabilidades adultas precoces, exige não apenas políticas públicas eficazes, mas também a participação ativa da sociedade civil, das famílias, das escolas e dos profissionais de saúde e educação. Cada um desses atores desempenha um papel complementar na criação de ambientes seguros, acolhedores e estimulantes, capazes de promover o desenvolvimento integral das crianças e de protegê-las dos riscos associados à adultização precoce, como ansiedade, depressão, estresse e prejuízos no desenvolvimento cognitivo e social. 96 O esforço coletivo implica não apenas a formulação de leis e regulamentações, mas também a sensibilização, a educação e a mobilização de comunidades para que reconheçam a importância de respeitar o tempo e os direitos da infância. A articulação entre diferentes setores da sociedade é essencial para garantir que as ações de prevenção e intervenção sejam efetivas e sustentáveis. A colaboração entre governos, organizações não governamentais, instituições educacionais e famílias permite a criação de redes de apoio intersetoriais que possam identificar precocemente situações de risco, fornecer acompanhamento contínuo e oferecer recursos adequados para crianças adultizadas. Essa abordagem integrada fortalece a capacidade de intervenção e garante que nenhum setor atue de forma isolada, evitando a fragmentação de serviços e assegurando que cada criança tenha acesso a cuidados, educação, lazer e proteção emocional em todos os contextos de sua vida. A luta contra a adultização precoce não se limita à prevenção de danos imediatos, mas também se estende à construção de uma sociedade mais justa, equitativa e humanizada, na qual os direitos das crianças sejam efetivamente respeitados e valorizados. Investir na proteção da infância significa investir no futuro da sociedade, promovendo indivíduos mais saudáveis, conscientes e capazes de contribuir de forma plena para a coletividade. A conscientização da sociedade é o primeiro passo para reconhecer a importância de proteger a infância e prevenir a adultização precoce, promovendo valores que respeitem o tempo e o desenvolvimento das crianças. Quando essa conscientização é combinada com ações concretas, como campanhas educativas, programas de prevenção e fiscalização de direitos, cria-se um ambiente propício à proteção integral da criança. A educação continuada de profissionais de saúde, educação e assistência social garante que intervenções sejam baseadas em conhecimento atualizado e práticas eficazes. Políticas públicas eficazes, alinhadas a normas legais e estratégias de promoção do bem-estar infantil, fortalecem a rede de proteção e oferecem suporte consistente às famílias. O engajamento familiar desempenha um papel central no desenvolvimento integral da criança, pois garante que ela receba suporte emocional consistente, atenção às suas necessidades individuais e orientação adequada em cada fase de seu crescimento. Pais e responsáveis, ao se dedicarem ao acompanhamento cotidiano, tornam-se mediadores entre a criança e o mundo externo, oferecendo segurança e modelos de comportamento saudáveis. O envolvimento familiar favorece a construção de vínculos afetivos sólidos, fundamentais para a autoestima, a confiança e a resiliência emocional. Esse suporte permite que a criança explore, aprenda e enfrente desafios de maneira segura, desenvolvendo competências cognitivas, sociais e emocionais essenciais. Quando somado a políticas públicas, ambientes escolares acolhedores e práticas comunitárias inclusivas, o engajamento familiar se torna parte de uma rede de proteção ampla, capaz de promover um desenvolvimento pleno. 97 A CORAGEM DE FELCA (ESCRITO POR SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN) Nas telas brilhou uma voz destemida, Que ousou falar pela infância esquecida, Revelando a pressa que rouba a inocência, Mostrando ao mundo a urgência da consciência. Entre leis, mídias e a política fria, Ergueu a bandeira da infância e da vida, Denunciou adultização, exploração e dor, Mostrando que coragem também é amor. Não se calou diante do silêncio pesado, Nem se curvou ao sistema tão fechado, Com coragem, clareza e verdade exposta, Mostrou que proteger é a luta mais justa. Com olhos atentos à manipulação sutil, Desvendou os perigos, mesmo diante do hostil, Alertou pais, educadores e sociedade inteira, Para que a infância seja plena, verdadeira. Em vídeos, palavras e gestos firmes, Rompeu barreiras, enfrentou crimes, A coragem não é apenas denunciar, Mas inspirar outros a lutar e cuidar. Felca, farol em noites de desinformação, Mostrou que a coragem é força e ação, Que cada voz que denuncia, que insiste, É um passo para um mundo que não resiste À exploração infantil, à pressa desmedida, À adultização que rouba a própria vida, E assim, sua luta se torna legado, Para que cada criança viva respeitada e amada. Que sua voz ecoe em escolas e ruas, Que cada criança viva livre de labutas, E que a coragem de Felca inspire a todos nós A lutar pela infância, pela vida, por algo atroz. 98 CONCLUSÃO Ao longo deste livro, examinamos a complexidadeda adultização precoce, fenômeno que compromete profundamente o desenvolvimento físico, emocional, social e cognitivo das crianças, afetando sua capacidade de vivenciar plenamente a infância. Identificamos os múltiplos fatores de risco presentes na família, na escola e na sociedade, assim como os impactos devastadores que a pressão precoce por responsabilidades e resultados pode causar na saúde mental, nas relações sociais e no crescimento cognitivo infantil. Observamos a influência nociva da tecnologia, da exposição midiática e da pressão social como elementos que aceleram a adultização, tornando essencial a criação de ambientes seguros, acolhedores e estimulantes, que promovam o desenvolvimento integral da criança. A família foi destacada como um agente central de prevenção, com a necessidade de estabelecer limites saudáveis, oferecer suporte emocional e educacional e garantir um espaço seguro para o crescimento e a aprendizagem. A escola, enquanto espaço de socialização e aprendizado, também se mostra fundamental na prevenção da adultização precoce, por meio de práticas pedagógicas que respeitem o ritmo de cada criança, incentivem o desenvolvimento socioemocional e promovam atividades lúdicas, recreativas e formativas que compensem a privação de experiências infantis. A interação constante entre escola, família e profissionais especializados é crucial para criar uma rede de apoio capaz de identificar precocemente sinais de adultização e oferecer intervenções adequadas. A sociedade desempenha papel decisivo na proteção da infância, seja por meio da criação e implementação de políticas públicas, da regulamentação do conteúdo midiático, da promoção de campanhas de conscientização, do combate ao trabalho infantil ou do fortalecimento de redes de apoio comunitárias e de serviços de saúde mental. Essas ações são essenciais para garantir que todas as crianças tenham o direito de brincar, aprender, sonhar e desenvolver-se plenamente, livres da pressão adulta. Embora os desafios sejam complexos, as perspectivas futuras apontam para oportunidades promissoras, com o avanço da pesquisa, a conscientização social e o uso de tecnologias digitais que ampliam o acesso à informação e aos serviços de apoio. O combate à adultização precoce depende da ação coletiva, da mudança de mentalidades e da construção de uma cultura que valorize e proteja a infância. Garantir que todas as crianças possam ser crianças é uma responsabilidade de todos e um compromisso fundamental com um futuro mais justo, equitativo e humano. 99 REFERENCIA BASTOS, A. Pedofilia na internet: denúncias aumentam durante a pandemia. 2021. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/noticias/pedofilia-na-internet-denuncias-aumentam-durante-a-pandemia/. Acesso em: 20 ago. 2025. BELLAMAIS. 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Avaliações periódicas do bem-estar emocional, social e cognitivo permitem identificar precocemente situações de sobrecarga, traumas ou estresse decorrentes da adultização precoce. Essas avaliações devem ser realizadas de forma integrada entre família, escola e profissionais de saúde, garantindo intervenções assertivas e adaptadas às necessidades individuais de cada criança. A integração de ações comunitárias, culturais e esportivas fortalece o combate à adultização precoce. Espaços públicos que promovam atividades coletivas, interação social saudável e oportunidades de expressão criativa oferecem alternativas significativas à exposição precoce a responsabilidades adultas. Comunidades ativas, que valorizam o protagonismo infantil dentro de limites adequados, permitem que as crianças experimentem o mundo de forma segura e enriquecedora. O papel da pesquisa científica é igualmente relevante. Estudos sobre os efeitos da adultização precoce, suas causas e consequências fornecem embasamento para políticas públicas, programas educativos e práticas familiares mais eficazes. A produção e divulgação de conhecimento atualizado sensibilizam a sociedade, estimulam a reflexão ética e orientam a criação de estratégias de prevenção baseadas em evidências concretas. É essencial fomentar uma cultura de respeito à infância em todos os níveis sociais. Celebrar o tempo de criança, valorizar a imaginação, o brincar, a curiosidade e o aprendizado gradual cria um ambiente em que as crianças podem se desenvolver plenamente, sem pressões desproporcionais. Essa cultura influencia não apenas o comportamento familiar e escolar, mas também as políticas públicas, o ambiente de mídia e a visão coletiva sobre o que significa crescer de forma saudável. A prevenção da adultização precoce envolve, ainda, a conscientização sobre os limites da criança. Ensinar que não é necessário assumir responsabilidades excessivas e que erros e frustrações fazem parte do crescimento contribui para o desenvolvimento de autonomia emocional. Crianças que aprendem a lidar com desafios compatíveis com sua idade constroem resiliência, autoconfiança e habilidades de resolução de problemas de forma natural. O engajamento intersetorial é outro ponto chave. Famílias, escolas, organizações de saúde, governos e comunidade devem atuar de forma articulada, compartilhando informações, recursos e estratégias para proteger a infância. A criação de redes de apoio coordenadas permite respostas mais 11 eficazes a situações de risco, reduzindo a exposição das crianças a demandas adultas precoces e fortalecendo a proteção coletiva. Combater a adultização precoce vai muito além de uma ação educativa ou familiar; trata-se de uma estratégia de construção social a longo prazo. Quando crianças têm seu tempo de desenvolvimento respeitado, elas aprendem a lidar de maneira adequada com frustrações, emoções e desafios, adquirindo habilidades socioemocionais que serão fundamentais ao longo de toda a vida. Essa formação precoce de inteligência emocional e resiliência não apenas beneficia o indivíduo, mas também repercute na comunidade em que ele está inserido, criando cidadãos mais preparados para atuar de maneira ética, consciente e cooperativa em diferentes contextos, desde o ambiente familiar até o mercado de trabalho e a esfera pública. A proteção da infância fortalece a capacidade criativa e cognitiva das futuras gerações. Crianças que têm espaço para brincar, explorar e imaginar desenvolvem habilidades de resolução de problemas, pensamento crítico e inovação, essenciais para enfrentar os desafios de uma sociedade em constante transformação. Ao investir na preservação do tempo lúdico e do aprendizado compatível com a idade, a sociedade não apenas evita prejuízos emocionais e sociais, mas também promove o surgimento de adultos com capacidade de liderança, visão estratégica e sensibilidade para compreender as necessidades do outro, fomentando ambientes mais colaborativos e produtivos. Garantir que a infância seja respeitada é uma questão de ética social e de responsabilidade coletiva. O cuidado com o desenvolvimento infantil reflete diretamente na construção de uma sociedade mais justa, empática e solidária, capaz de valorizar os direitos humanos e promover igualdade de oportunidades. Adultos que cresceram em contextos saudáveis tendem a reproduzir valores de respeito, solidariedade e responsabilidade em suas relações pessoais, profissionais e cívicas. Assim, proteger a infância hoje é plantar as sementes de uma cultura social que prioriza o bem-estar, a ética e a convivência harmoniosa, construindo um futuro mais humano e sustentável para todos. Simone Helen Drumond Ischkanian 12 1. O QUE É ADULTIZAÇÃO PRECOCE? Adultização precoce, também conhecida como adultificação ou precocificação, caracteriza-se pela imposição de responsabilidades, expectativas e experiências adultas sobre crianças e adolescentes, restringindo sua vivência plena das etapas naturais do desenvolvimento infantil e juvenil. Esse fenômeno vai muito além de tarefas domésticas ou responsabilidades leves, abrangendo situações que exigem maturidade emocional e cognitiva para lidar com problemas que excedem a capacidade da criança, causando impactos duradouros em sua formação integral (Da Silva et al., 2020; Drumond Ischkanian, 2023). A essência da adultização precoce está na privação da infância. Crianças submetidas a esse fenômeno são privadas do direito ao brincar, de explorar, errar e aprender gradualmente. Elas são forçadas a assumir papéis e responsabilidades típicos de adultos em múltiplos contextos, incluindo a família, a escola e o ambiente social, comprometendo a construção de sua identidade, autonomia e autoconfiança (Bastos, 2021; Lunetas, 2018). Diferenciar adultização de participação saudável em tarefas é essencial. Crianças podem contribuir com responsabilidades domésticas de forma adequada à sua idade e desenvolvimento, fortalecendo habilidades sociais e cognitivas. No entanto, a adultização envolve sobrecarga emocional e cognitiva, exigindo que a criança atue como suporte emocional de adultos, lide com carências familiares ou seja exposta a situações de vulnerabilidade, violência ou pobreza (Drumond Ischkanian, 2023; Fernandes & Cunha, 2020). A observação do comportamento infantil é fundamental para identificar sinais de adultização precoce. Crianças que apresentam excesso de preocupação com problemas familiares, dificuldades em brincar, ansiedade excessiva, isolamento social ou comportamentos típicos de adultos podem estar vivenciando esse fenômeno. A análise deve considerar o contexto sociocultural, econômico e familiar, uma vez que fatores externos influenciam significativamente a precocificação (Oliveira, 2020; Niebuhr et al., 2019). A tecnologia e as redes sociais desempenham papel ambíguo nesse processo (Berti & Fachin, 2021; Bellamais, 2023; Busher, 2017). O chamado ―sharenting‖ — compartilhamento de imagens e informações de crianças pelos pais nas redes — expõe os pequenos a situações de superexposição e violação de direitos de imagem, podendo gerar constrangimento, ansiedade e até sexualização precoce, interferindo no desenvolvimento emocional. A exposição precoce a conteúdo digital inapropriado, seja por compartilhamento familiar ou por acesso livre à internet, agrava o fenômeno (Safernet, 2021; Silva, 2016). A superexposição pode criar uma falsa percepção de maturidade e normalizar comportamentos de adultos, prejudicando a construção da identidade e da autoestima infantil, além de vulnerabilizar crianças a crimes virtuais, como a pornografia infantil.13 Tabela 1: Adultização precoce. AUTOR 2025 O QUE É ADULTIZAÇÃO PRECOCE COMO PREVENIR COMO ORIENTAR CRIANÇAS E JOVENS COMO ACOMPANHAR COESAMENTE OS FILHOS FRASES RELACIONADAS Simone Helen Drumond Ischkanian Imposição de responsabilidades e preocupações adultas sobre crianças, que limita a vivência plena da infância e interfere no desenvolvimento emocional e cognitivo (Drumond Ischkanian, 2023). Garantir direitos previstos no ECA, respeitar o ritmo da criança, equilibrar tarefas e lazer, promover presença afetiva. Estimular a autonomia gradual, o brincar e a expressão de sentimentos, evitando sobrecarga emocional. Participação ativa no acompanhamento escolar, diálogo constante, criação de rotina equilibrada. ―A presença dos pais é fundamental para prevenir a adultização precoce e proteger a infância de responsabilidades indevidas.‖ Gladys Nogueira Cabral Adultização ocorre quando a criança é exposta a papéis ou responsabilidades acima de sua capacidade, prejudicando a formação da identidade (Cabral, 2023). Promover ambientes familiares seguros e lúdicos, incentivar brincadeiras e atividades adequadas à idade. Orientar pelo exemplo, reforçando limites claros e estimulando decisões compatíveis com a idade. Monitoramento diário das atividades, incluindo estudos, lazer e convivência social. ―Proteger a infância é construir adultos emocionalmente saudáveis e socialmente conscientes.‖ Celine Maria de Sousa Azevedo Fenômeno que obriga crianças a anteciparem experiências adultas, muitas vezes por demandas familiares ou sociais (Azevedo, 2023). Limitar exposição a responsabilidades de adultos, regular tempo de telas e atividades extracurriculares, promover políticas públicas de proteção. Conversar sobre sentimentos, ensinar organização emocional e resolução de conflitos adequados à idade. Criar rotina estruturada e afetiva, participar da vida escolar, observar sinais de estresse ou sobrecarga. ―A infância é um período de aprendizado gradual, e não de pressões adultas prematuras.‖ Sandro Garabed Ischkanian Adultização precoce compromete a socialização e aprendizado emocional, forçando crianças a papéis que não correspondem à sua maturidade (Ischkanian, 2023). Incentivar a educação parental, políticas públicas de proteção e ambientes escolares acolhedores. Ensinar limites, promover brincadeiras criativas e debates sobre sentimentos e relações. Envolver-se em atividades educativas, supervisionar amizades e uso de redes sociais. ―A criança cresce melhor quando seu desenvolvimento é respeitado e apoiado, não pressionado.‖ Neusa Venditte Exposição precoce a responsabilidades e situações adultas que afetam o bem-estar físico, emocional e cognitivo (Venditte, 2023). Programas de orientação parental, regulamentação de conteúdo digital e educação emocional. Orientar de forma gradual, usando linguagem adequada e incentivando a autonomia em etapas. Observação contínua, diálogo aberto e acompanhamento escolar e social. ―Proteger a infância é um dever coletivo, que envolve família, escola e sociedade.‖ Silvana Nascimento de Carvalho Adultização é quando a criança é obrigada a atuar fora de sua faixa etária, antecipando decisões, preocupações ou tarefas (Carvalho, 2023). Criar espaços seguros e lúdicos, limitar exigências adultas e garantir tempo para brincar. Ensinar habilidades de vida de forma progressiva, respeitando limites e tempo de aprendizado. Monitorar atividades, incentivar lazer e estudos equilibrados, reforçar vínculos afetivos. ―A infância deve ser vivida plenamente; antecipar responsabilidades prejudica o desenvolvimento integral.‖ Fonte: DRUMOND ISCHKANIAN, Simone Helen; CABRAL, Gladys Nogueira; AZEVEDO, Celine Maria de Sousa; ISCHKANIAN, Sandro Garabed; VENDITTE, Neusa; CARVALHO, Silvana Nascimento. (2025) 14 A legislação brasileira reconhece a necessidade de proteção da infância (Brasil, 1988; Brasil, 1990; Drumond Ischkanian, 2023). A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelecem direitos fundamentais que asseguram à criança o direito à educação, à saúde, ao lazer e à proteção contra negligência, exploração e violência, reforçando a responsabilidade da família, da sociedade e do Estado. No contexto escolar, a adultização precoce também se manifesta (Drumond Ischkanian, 2023; Drumond Ischkanian, 2025). Crianças são pressionadas por desempenho acadêmico excessivo ou envolvidas em responsabilidades que extrapolam a faixa etária. A omissão de acompanhamento escolar por parte de pais ou responsáveis configura abandono intelectual, reforçando a necessidade de engajamento familiar e institucional na educação. O fenômeno não afeta igualmente todos os grupos (G1, 2025; Leão, Reis & Muzzeti, 2014). Pesquisas indicam que meninas e crianças negras são particularmente vulneráveis à erotização e à objetificação precoce, reforçando desigualdades sociais e estruturais. Essa exposição aumenta a pressão por comportamentos adultos, prejudicando o desenvolvimento psicológico e social das crianças. A adultização precoce é intensificada por contextos de vulnerabilidade social, como pobreza, violência doméstica e ausência de políticas públicas efetivas (Ministério da Saúde, 2010; Souza, 2002). Crianças em tais ambientes frequentemente assumem responsabilidades parentais, cuidado de irmãos ou atividades remuneradas, comprometendo a vivência da infância. O papel da família é central na prevenção (Drumond Ischkanian, 2025; Guerra et al., 2022). Pais e responsáveis devem equilibrar a atribuição de tarefas com a garantia de momentos de lazer, proteção emocional e educação adequada. Orientação parental, acompanhamento escolar e presença afetiva são instrumentos fundamentais para prevenir a precocificação infantil. A escola deve atuar como espaço seguro e de desenvolvimento integral (Da Silva et al., 2020; Oliveira, 2020). Práticas pedagógicas que valorizem o brincar, a expressão emocional, a autonomia gradual e a aprendizagem lúdica contribuem para o crescimento saudável da criança, respeitando seu ritmo de desenvolvimento e prevenindo a imposição de responsabilidades adultas. A sociedade, por meio de políticas públicas, campanhas de conscientização e regulamentação do uso da internet, deve criar ambientes que protejam a infância, reduzam a exposição a riscos digitais e promovam o direito ao lazer, ao estudo e à segurança (Câmara dos Deputados, 2017; Politizei, 2023). A ação coletiva é imprescindível para prevenir a adultização precoce e garantir que crianças vivam plenamente sua infância. A conscientização sobre o sharenting e a sexualização infantil também é crucial (Fernandes & Cunha, 2020; JEB, 2017; G1, 2025). A superexposição nas redes sociais e a erotização precoce afetam diretamente a saúde emocional, a autoestima e o desenvolvimento social das crianças, exigindo regulamentação, educação digital e orientação dos pais. 15 A adultização precoce é um fenômeno multifacetado, envolvendo fatores familiares, sociais e digitais (Drumond Ischkanian, 2023; Brasil, 1990; Da Silva et al., 2020). Sua prevenção exige a articulação entre família, escola e sociedade, fundamentada em políticas públicas, práticas pedagógicas adequadas e proteção legal, garantindo que a infância seja respeitada, saudável e plenamente vivida. A adultização precoce é um fenômeno que se manifesta em múltiplas dimensões, refletindo não apenas práticas familiares inadequadas, mas também influências sociais e digitais que impõemàs crianças responsabilidades, preocupações e comportamentos típicos de adultos (Drumond Ischkanian, 2023; Brasil, 1990; Da Silva et al., 2020). O ambiente familiar, quando marcado por pressões excessivas, ausência de afeto ou expectativas irreais, pode transformar a infância em um período de ansiedade e sobrecarga emocional. Fatores sociais, como a competição escolar, a violência urbana e desigualdades estruturais, contribuem para que crianças e adolescentes sejam forçados a amadurecer prematuramente, muitas vezes assumindo papéis parentais ou ocupacionais que comprometem seu desenvolvimento integral. As tecnologias digitais e as redes sociais adicionam uma camada complexa à adultização precoce, criando cenários em que crianças são expostas a informações, imagens e situações que exigem processamento emocional e cognitivo incompatível com sua faixa etária. O fenômeno do ―sharenting‖, por exemplo, evidencia como o compartilhamento de imagens e experiências infantis pelos próprios responsáveis pode expor os pequenos a riscos de violação de privacidade, constrangimento e até sexualização precoce, interferindo diretamente na construção da autoestima e da identidade (Berti & Fachin, 2021; Bellamais, 2023; Busher, 2017). O contexto digital se mostra como um fator adicional que amplia a vulnerabilidade da infância frente à imposição de responsabilidades adultas. A prevenção da adultização precoce requer, portanto, uma ação articulada e consciente, envolvendo a família, a escola e a sociedade em geral. No âmbito familiar, é essencial oferecer um ambiente seguro, com atenção afetiva, limites claros e momentos de lazer e brincadeira, garantindo que a criança possa desenvolver autonomia de forma gradual e saudável. A escola deve ser um espaço de acolhimento, valorizando práticas pedagógicas que respeitem o ritmo individual, incentivem a criatividade e promovam habilidades socioemocionais, evitando sobrecarga acadêmica ou responsabilidades que extrapolem a idade. Ao mesmo tempo, a sociedade deve estruturar políticas públicas eficazes, regulamentar a proteção digital, investir em campanhas de conscientização e criar redes de apoio que assegurem direitos fundamentais, como educação, saúde, lazer e proteção integral. Leis como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) e a Constituição Federal de 1988 estabelecem direitos que asseguram à criança viver plenamente sua infância, sem ser forçada a assumir responsabilidades adultas (Brasil, 1990; Brasil, 1988). A efetividade dessas leis depende do engajamento coletivo, do acompanhamento familiar e escolar e da conscientização da sociedade sobre os impactos da adultização precoce. 16 2. SINAIS E SINTOMAS DA ADULTIZAÇÃO PRECOCE A adultização precoce não se manifesta de maneira uniforme, sendo um fenômeno multifacetado influenciado por fatores familiares, sociais e digitais (Drumond Ischkanian, 2023; Da Silva et al., 2020). Seus sinais e sintomas variam conforme a faixa etária, a intensidade da sobrecarga imposta e o contexto socioeconômico da criança ou adolescente. A identificação precoce desses sinais é essencial, mas deve ser feita com cautela, pois a presença de um ou alguns desses comportamentos não significa necessariamente que a criança esteja adultizada; uma análise abrangente e contextualizada é imprescindível para distinguir situações de responsabilidade saudável de sobrecarga precoce (Brasil, 1990). Simone Helen Drumond Ischkanian (2025) enfatiza que a adultização precoce manifesta-se quando a criança demonstra comportamentos de responsabilidade desproporcional à sua idade, assumindo tarefas, preocupações e decisões que pertencem ao universo adulto, o que frequentemente se traduz em ansiedade constante, redução do tempo de lazer e expressão emocional limitada, comprometendo seu desenvolvimento integral e afetando sua autoestima e identidade. Gladys Nogueira Cabral (2025) destaca que os sinais de adultização precoce podem ser percebidos em crianças que apresentam excesso de maturidade aparente, preocupando-se excessivamente com problemas familiares ou financeiros, assumindo papéis de cuidado para com irmãos e buscando agradar adultos de forma constante, atitudes que refletem uma sobrecarga emocional precoce e uma restrição à vivência saudável da infância. Celine Maria de Sousa Azevedo (2025) salienta que quando adolescentes ou crianças começam a demonstrar comportamentos de adultos, como resolver conflitos familiares complexos, lidar com estresse emocional de forma independente ou assumir responsabilidades financeiras, esses sinais indicam que estão sendo submetidos a uma adultização precoce, podendo resultar em depressão, isolamento social e prejuízo no desenvolvimento cognitivo e emocional. Sandro Garabed Ischkanian (2025) afirma que a adultização precoce evidencia-se por meio de mudanças comportamentais e emocionais, como extrema complacência, excesso de autocobrança, dificuldade em estabelecer relações interpessoais saudáveis e resistência ao brincar e à exploração lúdica, sinalizando que a criança está antecipando experiências adultas sem possuir maturidade ou suporte adequado para lidar com tais demandas. Neusa Venditte (2025) argumenta que crianças adultizadas frequentemente apresentam sinais físicos e emocionais de sobrecarga, incluindo distúrbios de sono, alterações no apetite, ansiedade generalizada, comportamento excessivamente sério e falta de espontaneidade, revelando que estão assumindo responsabilidades e preocupações que ultrapassam suas capacidades naturais de desenvolvimento e afetando sua saúde mental. Silvana Nascimento de Carvalho (2025) afirma que a adultização precoce se manifesta quando crianças ou adolescentes demonstram comportamentos de tomada de decisão, controle de situações familiares ou cuidado excessivo com outros membros da família, acompanhados de sintomas de estresse, 17 baixa autoestima e retraimento social, indicando que suas experiências de infância estão sendo substituídas por demandas adultas que comprometem seu crescimento saudável. Em crianças menores, a adultização precoce costuma se manifestar por comportamentos de extrema responsabilidade e maturidade que vão além de sua capacidade cognitiva e emocional. Exemplos incluem a preocupação constante com problemas familiares, tentativas de cuidar ou proteger irmãos mais novos e a tentativa de resolver conflitos ou questões financeiras dos pais (Da Silva et al., 2020; Drumond Ischkanian, 2023). Essas crianças frequentemente apresentam atitudes sérias, pouca espontaneidade e redução da expressão lúdica típica da infância, como brincar, imaginar e explorar livremente o mundo. A privação dessas experiências lúdicas pode comprometer o desenvolvimento da criatividade, da autonomia e da capacidade de lidar com frustrações de forma saudável (Niebuhr et al., 2019). Em adolescentes, os sinais de adultização podem ser ainda mais complexos. O amadurecimento precoce muitas vezes se manifesta pela assunção de responsabilidades financeiras, cuidados familiares ou decisões que não correspondem à sua idade e nível de desenvolvimento (Oliveira, 2020). Esse excesso de responsabilidades pode gerar sintomas psicológicos como ansiedade, depressão, irritabilidade, baixa autoestima e isolamento social. Alguns adolescentes recorrem a comportamentos de risco, incluindo consumo de substâncias psicoativas ou envolvimento precoce em atividades sexuais, como formas de lidar com o estresse e a pressão decorrentes da sobrecarga imposta (Lunetas, 2018; G1, 2025). Entre eles, destacam-se alterações no sono, problemas de apetite, dificuldade de concentração e aprendizagem, bem como problemas na construção de relações interpessoais saudáveis (Berti & Fachin, 2021; Bellamais, 2023). A criança ou adolescente adultizado pode assumir posturas de complacência extrema, buscando agradar os adultos a todo custo,ou, em contrapartida, apresentar comportamentos desafiadores e rebeldes, tentando resistir à sobrecarga imposta (Fernandes & Cunha, 2020). A detecção precoce exige observação cuidadosa e escuta empática. O diálogo aberto com a criança, a avaliação do seu desempenho escolar e social, e a análise do ambiente familiar são ferramentas fundamentais para compreender a situação em profundidade (Drumond Ischkanian, 2023; Da Silva et al., 2020). Estratégias de intervenção devem ser individualizadas, combinando orientação familiar, suporte escolar e, quando necessário, acompanhamento psicológico e social profissional. Psicólogos, pedagogos e assistentes sociais desempenham papel essencial na avaliação e no desenvolvimento de programas de prevenção e suporte, garantindo que a criança ou adolescente possa retomar sua vivência adequada da infância e construir bases saudáveis para a vida adulta (Ministério da Saúde, 2010; Niebuhr et al., 2019). A compreensão dos sinais e sintomas da adultização precoce vai além de uma simples observação de comportamentos isolados, exigindo uma análise profunda do contexto familiar, social e digital em que a criança está inserida. Identificar crianças que apresentam sobrecarga emocional, maturidade precoce ou comportamentos de adultificação é apenas o primeiro passo; é igualmente importante compreender as causas subjacentes, como pressões familiares, expectativas sociais excessivas ou exposição a conteúdos digitais inadequados (Drumond Ischkanian, 2023; Da Silva et al., 2020). 18 Somente com essa percepção ampla é possível planejar intervenções eficazes que promovam o desenvolvimento integral e saudável da criança. Programas educativos voltados para pais e cuidadores desempenham um papel central na prevenção da adultização precoce. Esses programas fornecem orientação sobre como equilibrar responsabilidades e momentos de lazer, como estimular a autonomia sem sobrecarregar e como identificar sinais de estresse ou ansiedade em crianças e adolescentes (Berti & Fachin, 2021; Bellamais, 2023). A educação parental também deve abordar a importância de limites claros, comunicação aberta e acompanhamento afetivo constante, fatores que contribuem para a construção de vínculos seguros e para o fortalecimento da autoestima infantil. As campanhas de conscientização sobre o impacto do sharenting — ou compartilhamento de imagens e informações das crianças pelos próprios pais nas redes — têm se mostrado essenciais para reduzir os riscos de superexposição digital e violação de direitos de imagem. Ao divulgar os possíveis efeitos negativos, incluindo constrangimento, ansiedade e sexualização precoce, essas campanhas alertam famílias e sociedade para a necessidade de preservar a infância como espaço seguro e protegido (Busher, 2017; Fernandes & Cunha, 2020). A regulamentação do uso de tecnologias digitais deve acompanhar essas campanhas, estabelecendo limites de tempo de tela e orientando sobre conteúdos adequados para cada faixa etária. A promoção de ambientes seguros e lúdicos é outro pilar essencial na prevenção da adultização precoce. Espaços escolares, comunitários e familiares que incentivam brincadeiras, atividades criativas e socialização saudável permitem que a criança desenvolva habilidades cognitivas, emocionais e sociais de forma gradual e prazerosa (Niebuhr et al., 2019; Lunetas, 2018). O brincar, em particular, é uma ferramenta poderosa de aprendizado e expressão emocional, contribuindo para a construção da autonomia, criatividade e capacidade de resolver problemas sem sobrecarga de responsabilidades adultas. A articulação entre família, escola e sociedade cria uma rede de proteção indispensável para o desenvolvimento infantil. A família fornece apoio afetivo e supervisão cotidiana, a escola atua como espaço de aprendizado e socialização, e a sociedade, por meio de políticas públicas e regulamentações, garante direitos fundamentais e promove campanhas educativas (Brasil, 1990; Ministério da Saúde, 2010). Essa integração fortalece a resiliência das crianças, possibilitando que enfrentem desafios sem assumir responsabilidades adultas de forma precoce, e proporciona uma base sólida para o desenvolvimento de cidadãos emocionalmente equilibrados. Psicólogos, pedagogos e assistentes sociais desempenham papel central nesse processo, oferecendo acompanhamento individualizado, estratégias de suporte emocional e orientações para famílias e educadores (Oliveira, 2020; Drumond Ischkanian, 2023). Intervenções bem planejadas ajudam a reduzir os impactos negativos da adultização precoce, promovendo recuperação emocional, reforço da autoestima e reconstrução de experiências lúdicas e afetivas essenciais para o desenvolvimento saudável. 19 A compreensão da adultização precoce como uma responsabilidade coletiva exige que todos os setores da sociedade atuem de forma integrada, reconhecendo que a proteção da infância não é apenas uma tarefa familiar ou escolar, mas um compromisso social mais amplo. Isso envolve a implementação de políticas públicas que garantam direitos básicos, como acesso à educação de qualidade, saúde integral, lazer e proteção contra violência e exploração, além de regulamentações específicas para o ambiente digital, que assegurem a privacidade e a segurança das crianças (Brasil, 1990; Ministério da Saúde, 2010; Drumond Ischkanian, 2023). Quando governos, instituições educacionais e organizações civis colaboram ativamente, cria-se uma rede de apoio capaz de reduzir a exposição das crianças a situações de sobrecarga emocional, social ou digital, promovendo um desenvolvimento saudável e equilibrado. A conscientização da sociedade em geral desempenha papel central na prevenção da adultização precoce, pois permite que padrões culturais e comportamentais que naturalizam a imposição de responsabilidades adultas sobre crianças sejam questionados e transformados. Campanhas de sensibilização, formação continuada de professores e profissionais da saúde, e programas educativos voltados para pais e cuidadores são estratégias fundamentais para fortalecer o entendimento sobre os direitos da criança e as consequências da adultização precoce (Da Silva et al., 2020; Oliveira, 2020; Busher, 2017). Ao criar um ambiente culturalmente consciente e socialmente responsável, garantimos que as crianças possam explorar sua criatividade, desenvolver habilidades socioemocionais, estabelecer relações saudáveis e, acima de tudo, vivenciar plenamente a infância, estabelecendo bases sólidas para adultos emocionalmente equilibrados e cidadãos comprometidos com a coletividade. 20 2. FATORES DE RISCO: FAMILIA, ESCOLA E SOCIEDADES A adultização precoce é um fenômeno multifatorial, resultante da interação complexa de diversos fatores de risco presentes nos diferentes contextos em que a criança se desenvolve: a família, a escola e a sociedade como um todo (Drumond Ischkanian, 2023; Da Silva et al., 2020). Compreender esses fatores é essencial para a prevenção e intervenção eficazes, pois permite identificar as situações em que a sobrecarga emocional, social e cognitiva é mais intensa, e possibilita o desenvolvimento de estratégias direcionadas à proteção e ao fortalecimento da infância. Cada contexto exerce influência distinta, mas interdependente, sobre o desenvolvimento da criança, sendo necessário considerar sua complexidade para uma abordagem integral. No âmbito familiar, a pobreza, a instabilidade econômica e a vulnerabilidade social são fatores de risco significativos para a adultização precoce (Brasil, 1990; Oliveira, 2020). Crianças inseridas em famílias com baixa renda frequentemente assumem responsabilidades que extrapolam sua faixa etária, como o cuidado de irmãos menores, participação no trabalho infantil ou ajuda na geração de renda familiar, comprometendo seu desenvolvimento integral e a vivência plena da infância.de aprendizado e reduz as oportunidades de exploração criativa e lúdica (Busher, 2017; Oliveira, 2020). É fundamental, portanto, que a escola atue como espaço protetor e acolhedor, oferecendo atividades que promovam o desenvolvimento integral, respeitem o ritmo individual e fortaleçam a autoestima e a resiliência das crianças. A sociedade, por sua vez, exerce papel determinante na criação de condições que podem tanto prevenir quanto intensificar a adultização precoce. A valorização excessiva do desempenho, a exposição precoce a conteúdos midiáticos adultos e a naturalização de práticas como o trabalho infantil contribuem para que crianças assumam responsabilidades inadequadas (Berti & Fachin, 2021; Bellamais, 2023). Nesse sentido, políticas públicas efetivas e leis de proteção, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), são essenciais para garantir direitos fundamentais e criar um ambiente seguro e estimulante para o desenvolvimento infantil. 23 Medidas preventivas e interventivas devem ser contínuas, articuladas e abrangentes, envolvendo família, escola e sociedade. Programas educativos voltados para pais e cuidadores, capacitação de professores, regulamentação de atividades digitais e campanhas de conscientização sobre os riscos do sharenting são exemplos de estratégias que fortalecem a proteção da infância (Da Silva et al., 2020; Drumond Ischkanian, 2023). A integração desses esforços cria uma rede de suporte capaz de reduzir a sobrecarga precoce e permitir que as crianças explorem sua criatividade, aprendam de forma prazerosa e construam relações saudáveis. A atuação conjunta também deve priorizar a detecção precoce de sinais de adultização, como maturidade excessiva, ansiedade, isolamento social ou comportamentos de risco. O acompanhamento profissional por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos é essencial para oferecer suporte emocional, orientar famílias e desenvolver estratégias de intervenção individualizadas (Oliveira, 2020; Niebuhr et al., 2019). Dessa forma, não apenas se minimizam os impactos imediatos da adultização precoce, como também se previnem consequências de longo prazo, incluindo dificuldades de relacionamento interpessoal, baixa autoestima e comprometimento emocional na vida adulta. Compreender e intervir nos fatores de risco da adultização precoce contribui diretamente para a formação de uma sociedade mais justa, empática e solidária. Quando crianças têm a oportunidade de viver plenamente sua infância, desenvolvendo habilidades cognitivas, emocionais e sociais de forma equilibrada, formam adultos mais resilientes, conscientes de seus direitos e capazes de contribuir positivamente para a coletividade (Drumond Ischkanian, 2023; Da Silva et al., 2020). Investir na proteção da infância, portanto, é não apenas um dever moral e legal, mas uma estratégia fundamental para garantir o futuro de toda a sociedade. 3. O IMPACTO DA TECNOLOGIA NA ADULTIZAÇÃO PRECOCE A sociedade contemporânea é marcada pela presença constante da tecnologia, especialmente da internet e dos dispositivos móveis, que passaram a ocupar papel central no cotidiano de crianças e adolescentes. Embora o ambiente digital seja um espaço de aprendizagem, comunicação e acesso à informação, ele também apresenta riscos que podem contribuir para a adultização precoce. Esse fenômeno, caracterizado pela antecipação de comportamentos, responsabilidades e vivências próprias da vida adulta, encontra na tecnologia um catalisador preocupante, que compromete a infância como etapa essencial do desenvolvimento humano. Um dos principais fatores ligados a esse processo é a exposição precoce a conteúdos impróprios. Sem supervisão adequada, crianças e adolescentes podem ter acesso a pornografia, violência, discursos de ódio e informações que não condizem com sua maturidade emocional (Da Silva et al., 2020; Safernet, 2021). Esses estímulos podem gerar traumas psicológicos, favorecer o surgimento de ansiedade e depressão e induzir a comportamentos de risco. A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1988; Brasil, 1990) garantem proteção integral aos menores de idade, 24 assegurando-lhes prioridade absoluta em relação a seus direitos fundamentais. No entanto, a realidade digital mostra-se como um espaço ainda pouco regulado, no qual crianças ficam vulneráveis a situações que aceleram sua adultização. As redes sociais, por sua vez, configuram-se como um dos ambientes mais nocivos para a manutenção da infância. O fenômeno da superexposição, aliado à busca por curtidas, seguidores e reconhecimento virtual, impõe às crianças e adolescentes padrões de comportamento, estética e consumo que não condizem com sua idade (Berti; Fachin, 2021; Oliveira, 2020). A comparação com ideais inatingíveis de beleza e sucesso, amplamente divulgados no espaço digital, gera fragilidade da autoestima, insegurança e dependência da validação externa. Casos de erotização precoce amplamente divulgados na mídia, como o da cantora MC Melody, ilustram como a pressão estética e sexual afeta a identidade infantil (G1, 2018; Lunetas, 2018). Nesse contexto, a adultização precoce não ocorre apenas pelo contato com conteúdos inadequados, mas também pela internalização de expectativas sociais adultas que comprometem o desenvolvimento emocional. O tempo prolongado diante das telas está associado ao sedentarismo, à privação do sono e a dificuldades de concentração (Ministério da Saúde, 2010). A substituição de atividades lúdicas, esportivas e de convivência presencial por interações digitais limita o desenvolvimento de habilidades socioemocionais fundamentais, como empatia, comunicação e cooperação (Niebuhr et al., 2019). Esse processo gera um desenvolvimento infantil incompleto, no qual se prioriza o desempenho e a exposição pública em detrimento da vivência plena da infância. É papel dos pais e responsáveis estabelecer limites claros para o uso de dispositivos eletrônicos, acompanhando o que é consumido no ambiente virtual (Drumond Ischkanian, 2023). A infância deve ser compreendida como uma fase de formação integral, em que as experiências vivenciadas são determinantes para a constituição da identidade e para a saúde emocional. Quando a criança é exposta a conteúdos digitais de forma ilimitada e sem acompanhamento, há uma tendência à adultização precoce, uma vez que ela passa a lidar com informações e responsabilidades que não condizem com sua maturidade psicológica. A presença ativa dos pais no acompanhamento do uso das tecnologias não deve ser vista como uma forma de restrição autoritária, mas como uma ação protetiva que assegura os direitos fundamentais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990). A supervisão parental, entretanto, não pode ser reduzida à mera limitação de tempo de tela, mas deve envolver também o diálogo constante sobre os conteúdos acessados e as interações mantidas no ambiente digital. Estudos demonstram que crianças orientadas a compreender os riscos da internet desenvolvem maior senso crítico, tornando-se menos vulneráveis a práticas nocivas como o cyberbullying, o aliciamento online e a exposição a conteúdos impróprios (Da Silva et al., 2020). O diálogo entre pais e filhos fortalece vínculos afetivos e proporciona segurança emocional, funcionando como barreira contra a adultização precoce. Dessa forma, mais do que controlar, os pais devem assumir uma postura de mediação, ensinando o uso saudável e consciente da tecnologia. 25 A escola, como instituição formadora, precisa inserir a educação digital crítica em seu currículo, oferecendo aos estudantes ferramentas para lidar de forma responsável e ética com os meios digitais (Niebuhr et al., 2019). Isso inclui o desenvolvimento de competências relacionadas à cidadania digital, como o respeito à privacidade, a noção de limites entre2016. Dissertação de Mestrado, 2023. SIMON, I.; GALERA, E. S. Exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. Revista Jurídica, 1(1), 115-140, 2017. SOUZA, Celina. Políticas Públicas: Tipologias e Sub-Áreas. 2002. Disponível em: http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/3843/material/001-%20A- %20POLITICAS%20PUBLICAS.pdf. Acesso em: 13 ago. 2025. 101