Prévia do material em texto
Maria Paula Carlos - Beta XVII AULA 3 - CA GÁSTRICO P/2: EPIDEMIOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA ● O câncer gástrico ainda é uma causa importante de mortalidade, sendo a quarta causa de morte por câncer no Brasil. ● No cenário mundial, observa-se alta prevalência especialmente em países asiáticos, como Japão e outros países do continente, e na América do Sul, destacando-se o Chile. ● No Japão, há maior detecção precoce da doença, enquanto em países ocidentais, como o Brasil, os pacientes geralmente são diagnosticados em estágio avançado. ● Isso resulta em melhor sobrevida para pacientes japoneses, devido ao diagnóstico mais precoce. Incidência no Brasil ● Estima-se cerca de 20 a 21 mil casos de câncer gástrico anualmente no país. ● A prevalência é maior em homens, sendo a quarta causa de câncer nesse grupo. ● Em mulheres, excluindo os tumores hormonais como os de mama, a prevalência é aproximadamente metade da observada em homens. ● A distribuição regional mostra maior prevalência nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. ● Estudos da Santa Casa de São Paulo evidenciam que muitos pacientes chegam em estágios avançados da doença. FATORES DE RISCO PARA CÂNCER GÁSTRICO Alimentação ● Consumo elevado de alimentos ricos em nitrosaminas, presentes em alimentos em conserva e defumados. ● Consumo de alimentos com alto teor de sódio, como condimentos usados na culinária japonesa, contribui para o risco aumentado. ● Dieta ocidental, rica em gorduras, está mais associada ao câncer colorretal do que ao gástrico. Hábitos e Infecções ● Tabagismo e etilismo. ● Infecção por Helicobacter pylori (H. pylori), principal fator ambiental associado ao câncer gástrico. ● Infecção por vírus Epstein-Barr, relacionada a alguns tipos de câncer gástrico. Maria Paula Carlos - Beta XVII Outras Condições ● Pólipos gástricos. ● Doença de Menetrier. ● Tipo sanguíneo A ● Dieta pobre em vitaminas A e C. ● História familiar positiva para câncer gástrico. ● Pacientes com gastrectomia prévia. ● Gastrite atrófica, especialmente dos tipos A (autoimune) e B (ambiental). ○ Gastrite atrófica do tipo A: autoimune, localizada principalmente no corpo gástrico, caracterizada pela produção de anticorpos contra células parietais, causando redução da acidez gástrica. O diagnóstico é feito pela dosagem de anticorpos contra células parietais. ○ Gastrite atrófica do tipo B: associada à infecção por H. pylori, considerada gastrite ambiental. ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO DA GASTRITE ATRÓFICA ● A Gastrite atrófica manifesta-se por mucosa gástrica mais lisa e com pregas menos evidentes e vasos mais visíveis devido à atrofia. ● Pode favorecer proliferação bacteriana e alterações celulares que levam à metaplasia intestinal, adenoma, displasia e adenocarcinoma. ● O aumento do pH gástrico (hipocloridria) pela gastrite atrófica favorece crescimento bacteriano. AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA — CLASSIFICAÇÕES OLGA E OLGIM ● Para avaliação do grau e extensão da gastrite atrófica e metaplasia intestinal, recomenda-se realizar cinco biópsias endoscópicas: ○ Duas no corpo do estômago. ○ Duas no antro gástrico. ○ Uma no ângulo gástrico. ● Classificação OLGA: Estadia o grau de atrofia gástrica. ● Classificação OLGIM: Estadia o grau de metaplasia intestinal. ● Pacientes com estádios avançados (3 ou 4) apresentam maior risco para câncer gástrico e devem ser acompanhados de perto. Maria Paula Carlos - Beta XVII MANEJO E VIGILÂNCIA ● Se o paciente for positivo para H. pylori e apresentar gastrite atrófica sem metaplasia intestinal, realizar tratamento para erradicação do H. pylori. ● Pacientes com atrofia leve restrita ao antro e sem metaplasia intestinal geralmente não necessitam de vigilância endoscópica contínua após tratamento. ● Presença de metaplasia intestinal isolada no antro: ○ Se o paciente não tiver fatores de risco adicionais (história familiar de câncer gástrico de 1º grau, metaplasia intestinal incompleta, gastrite atrófica autoimune ou infecção persistente por H. pylori), não há necessidade de vigilância. ○ Se algum desses fatores estiver presente, realizar endoscopias seriadas a cada 3 anos. ● Se o paciente apresentar atrofia e metaplasia envolvendo antro e corpo gástrico, com história familiar positiva para câncer gástrico, realizar vigilância endoscópica rigorosa, com exames a cada 1 ou 2 anos. SEGUIMENTO E COMUNICAÇÃO COM PACIENTES COM GASTRITE ATRÓFICA ● Muitas vezes, pacientes ficam desconfiados quando recebem orientações sobre não precisar de acompanhamento endoscópico imediato. ● Explicações claras ajudam a tranquilizá-los. ● Isso é comum entre pacientes que fazem exames anualmente. DOENÇA DE MENETRIER (GASTRITE HIPERTRÓFICA) ● Caracterizada por pregas gástricas hipertrofiadas, às vezes edemaciadas. ● Pode apresentar nódulos e modulações na mucosa, por exemplo, no antro e piloro. ● Esta condição também aumenta o risco de evolução para câncer gástrico. INFECÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI (H. PYLORI) ● A mucosa gástrica normal é protegida por secreção ácida. ● A infecção por H. pylori pode se tornar crônica, iniciando com gastrite antral. ● Muitos pacientes infectados são assintomáticos; estima-se que 70% da população brasileira esteja infectada. ● A infecção pode evoluir para: ○ Úlcera duodenal ○ Pangastrite, Maria Paula Carlos - Beta XVII ○ Atrofia gástrica, ○ Metaplasia intestinal, ○ Displasia, ○ Câncer gástrico, ○ Linfoma do tecido linfoide associado à mucosa gástrica (linfoma MALT). EPIDEMIOLOGIA DA INFECÇÃO POR H. PYLORI ● Apesar da alta prevalência de H. pylori em algumas regiões, nem todos desenvolvem câncer gástrico. ● Por exemplo, o continente africano tem alta prevalência de H. pylori, mas baixa incidência de câncer gástrico, indicando que outros fatores ambientais ou genéticos modulam o risco. ● Estudo brasileiro mostrou maior prevalência de H. pylori em áreas com saneamento básico inadequado. FATORES QUE AGRAVAM A INFECÇÃO POR H. PYLORI ● Tabagismo. ● Consumo de álcool. ● Dieta rica em sal. ● Outros fatores ambientais e genéticos: ○ Polimorfismos das enzimas: CagA (EPIYA), vac A, s1m1, vacA i1, Oip e Bab A. ○ Esse polimorfismo é o que leva a um quadro mais tranquilo ou mais severo. LINFOMA MALT E H. PYLORI ● Linfoma MALT está associado à infecção por H. pylori. ● A erradicação adequada da bactéria pode levar à cura completa do linfoma, especialmente em lesões limitadas. QUADRO CLÍNICO DO CÂNCER GÁSTRICO ● Dor abdominal: leve a moderada, geralmente no quadrante superior do abdômen. Sensação de desconforto ou digestão lenta. Pode não ser uma dor intensa como em gastrites agudas. População geralmente idosa. ● Saciedade precoce, ● Anorexia e perda de peso, Maria Paula Carlos - Beta XVII ● Anemia (frequente, pode ser o sintoma inicial): pensar em dois sítios principais: estômago e cólon. Se tiver sangue oculto positivo, já se parte para a EDA e posteriormente para a colonoscopia. ● Hemorragia digestiva alta (rara e geralmente de pequena intensidade). ● Vômitos: principalmente quando existe lesão no antro. AVALIAÇÃO DO PESO E PERDA DE PESO NO PACIENTE ● Medir o peso atual e comparar com o peso habitual do paciente. ● Perda de 5% em 3 meses ou 10% em 6 meses é considerada perda ponderal significativa e um sinal de alerta. ● É fundamental pesar o paciente e não confiar apenas na história verbal. ● Avaliação do estado nutricional é essencial para planejamento terapêutico, incluindo cálculo de dose de medicamentos (ex: antibióticos) SINTOMAS DE OBSTRUÇÃO GÁSTRICA ● Pacientes com tumores avançados podem apresentar obstrução gástrica, causando sintomas como vômitos e dificuldades alimentares. SINAIS DE DOENÇA AVANÇADA NO CÂNCER GÁSTRICO ● Nódulo de Sister Mary Joseph: nódulo umbilical palpável. ● Nódulo de Irish: linfonodo axilar esquerdo aumentado. ● Nódulo de Krukenberg: Metástase em ováriosdecorrente de câncer gástrico. ● Prateleira de Blummer: Massa palpável no fundo de saco de Douglas detectada pelo toque retal, indicando metástase pélvica. ● Nódulo de Virchow: Linfonodo supraclavicular esquerdo aumentado, sinal de doença avançada. DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO DO CÂNCER GÁSTRICO 1. Diagnóstico inicial ○ EDA com biópsias. ○ Visualização direta da lesão. ○ Uso de técnicas como cromendoscopia para melhor definição das áreas suspeitas. 2. Estadiamento Maria Paula Carlos - Beta XVII ○ Tomografia computadorizada de tórax e abdome. ○ Ultrassonografia endoscópica (USE), importante para avaliar a profundidade da lesão e comprometimento linfonodal. ○ Laparoscopia exploradora para detecção de metástases peritoneais, se indicado. CLASSIFICAÇÃO DO CÂNCER GÁSTRICO Câncer gástrico precoce (CGP) ● Lesão restrita à mucosa e submucosa, independente da presença de metástase linfonodal. ● Tratamento geralmente endoscópico (ressecção endoscópica da mucosa - REM ou ESG). ● Lesões pequenas (● O paciente fica "sem estômago" e precisa de um período de adaptação para se alimentar por via oral. ● Orientações nutricionais importantes: ○ Evitar alimentos muito doces ou gordurosos, pois estimulam rápida passagem intestinal e aumentam o risco de síndrome de dumping devido à osmolaridade elevada. ○ Pacientes podem desenvolver deficiência nutricional, especialmente: ■ Vitamina B12: por ausência de fator intrínseco produzido pelo estômago, com necessidade de reposição se houver déficit. ■ Ferro: absorvido no duodeno com auxílio da acidez gástrica, que está ausente, podendo haver anemia ferropriva; dosar e repor se necessário. ● Apesar dessas dificuldades, os pacientes podem manter boa qualidade de vida a longo prazo, com acompanhamento adequado. MONITORAMENTO PÓS-TRATAMENTO ● Avaliação periódica inclui: ○ Endoscopia. ○ Tomografia. ○ Dosagem de marcadores tumorais. ● Objetivo: detectar recidiva precoce e acompanhar evolução clínica. ● A sobrevida em câncer gástrico é geralmente avaliada pelo critério de 5 anos; o acompanhamento contínuo é essencial. Maria Paula Carlos - Beta XVII CÂNCER GÁSTRICO AVANÇADO SEM POSSIBILIDADE CURATIVA ● Tumores avançados podem obstruir completamente o estômago, impedindo a alimentação oral. ● Alternativas paliativas: ○ Em centros com endoscopia avançada, colocação de prótese na transição pilórica para manter passagem alimentar. ○ Quando não possível, realizar gastroenterostomia paliativa: ■ Cirurgia que cria uma anastomose entre estômago e alça intestinal proximal à lesão, permitindo passagem do alimento. ■ Indicada principalmente para tumores distais. ● Limitações: ○ Tumores proximais ou em corpo/fundo dificultam ou impedem essa técnica devido à localização da lesão. ○ Para esses casos, pode-se pensar em sonda ou prótese diretamente no jejuno para alimentação. CASO CLÍNICO DE CÂNCER GÁSTRICO AVANÇADO ● Paciente de 62 anos com perda ponderal de 10 kg em 6 meses e disfagia. ● Exames mostraram lesão infiltrativa em antro e corpo gástrico, linfadenopatia e biópsia confirmando adenocarcinoma em anel de sinete. ● Paciente não conseguia se alimentar por via oral devido à lesão avançada. ● Na avaliação operatória: ○ Encontrada carcinomatose peritoneal extensa com comprometimento de alças intestinais e outros órgãos. ○ Apesar de doença avançada e impossibilidade de cura, foi realizada gastrectomia total para retirar tumor e permitir alimentação. ● Reconstrução em Y de Roux (esôfago-jejunostomia) foi feita. ● Paciente teve recuperação inicial, porém faleceu algumas semanas após cirurgia por complicações clínicas. EVIDÊNCIAS PARA CIRURGIA PALIATIVA EM CÂNCER GÁSTRICO AVANÇADO ● Estudos mostram que, mesmo sem cura, a gastrectomia paliativa pode melhorar a sobrevida e a qualidade de vida. Maria Paula Carlos - Beta XVII ● É melhor tentar ressecar o tumor do que deixar obstrução ou hemorragia, quando possível. ● Importante: considerar a estabilidade hemodinâmica do paciente e possibilidade técnica para cirurgia. AULA 3 - CA GÁSTRICO P/2: EPIDEMIOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA FATORES DE RISCO PARA CÂNCER GÁSTRICO ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO DA GASTRITE ATRÓFICA AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA — CLASSIFICAÇÕES OLGA E OLGIM MANEJO E VIGILÂNCIA SEGUIMENTO E COMUNICAÇÃO COM PACIENTES COM GASTRITE ATRÓFICA DOENÇA DE MENETRIER (GASTRITE HIPERTRÓFICA) INFECÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI (H. PYLORI) EPIDEMIOLOGIA DA INFECÇÃO POR H. PYLORI FATORES QUE AGRAVAM A INFECÇÃO POR H. PYLORI LINFOMA MALT E H. PYLORI QUADRO CLÍNICO DO CÂNCER GÁSTRICO AVALIAÇÃO DO PESO E PERDA DE PESO NO PACIENTE SINTOMAS DE OBSTRUÇÃO GÁSTRICA SINAIS DE DOENÇA AVANÇADA NO CÂNCER GÁSTRICO DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO DO CÂNCER GÁSTRICO CLASSIFICAÇÃO DO CÂNCER GÁSTRICO OBSERVAÇÃO: Sempre que manejamos um paciente com úlcera gástrica, após o tratamento devemos sempre realizar a EDA de controle após 2 meses para confirmação de que a úlcera está cicatrizada (caso contrário pode ser uma neoplasia). MANEJO TERAPÊUTICO CLASSIFICAÇÃO DE LAUREN (1965): CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DO CA GÁSTRICO EPIDEMIOLOGIA E LOCALIZAÇÃO DO CÂNCER GÁSTRICO NO BRASIL MARCADORES TUMORAIS NO CÂNCER GÁSTRICO TRATAMENTO DO CÂNCER GÁSTRICO TIPOS DE CIRURGIA ADAPTAÇÃO E ORIENTAÇÕES PÓS-GASTRECTOMIA TOTAL MONITORAMENTO PÓS-TRATAMENTO CÂNCER GÁSTRICO AVANÇADO SEM POSSIBILIDADE CURATIVA CASO CLÍNICO DE CÂNCER GÁSTRICO AVANÇADO EVIDÊNCIAS PARA CIRURGIA PALIATIVA EM CÂNCER GÁSTRICO AVANÇADO