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14 ................ Pontos essenciais: - Fisiopatologia da má absorção; - Manifestações clínicas da má absorção; - Síndrome do intestino curto. 1. Introdução o termo má absorção denota uma desordem em que há uma ruptura do equilíbrio da digestão e absorção de nutrien- tes pelo trato gastrintestinal. As manifestações clínicas e la- boratoriais da má absorção podem ser resumidas no Quadro 1. A diminuição na absorção de nutrientes provoca desordens orgânicas variadas (diarréia e perda de peso, anemia, doen- ças ósseas, coagulopatias), exigindo do médico todo o cuida- do e uma investigação sistemática do seu paciente. O aporte de nutrientes, que favorece a eutrofia do orga- nismo, depende de muitos fatores. Há a necessidade de ade- quada absorção intestinal, de uma quantidade satisfatória de alimentos de alto valor nutritivo, de apetite e da normalidade dos mecanismos de ingestão e de transporte dos alimentos no tubo digestivo. A capacidade de absorção intestinal também é variável e depende da área exposta aos nutrientes e da capa- cidade absortiva por unidade de superfície (Tabela 1). Tabela 1-Morfofisiologia da mucosa intestinal Superfície absortiva Intestino delgado Estruturas intestinais Superfície absortiva Válvulas coniventes (pregas de Kerckring) 3xs 21xs Vilosidades (>106) 9xs Microvilosidades (±1.500/enterócito = ±200x106) Total da superfície absortiva (= ± 250m2= quadra de tênis) 570-600xs Má absorção inte Quadro 1-Manifestações clínica e laboratorial da má absorção Manifestação I Achados I Nutrientes laboratoriais não-absortivos Esteatorréia (fezes Aumento de gordura Gorduras volumosas, brilhan- fecal, diminuição do tes, claras) colesterol sérico Diarréia (aumento Aumento da gordura Ácidos graxos e sais da água fecal) feca I e testes positi- biliares vos para sais biliares Perda de peso, des- Aumento da gordura Perda de energia ca- nutrição (perda mus- fecal e nitrogênio; lórica dos nutrientes cular importante); diminuição da (gorduras, proteínas, fraqueza; fadiga e absorção de glicose carboidratos) distensão abdominal e xilose Anemia por deficiên- Anemia hipocrômi- Ferro cia de ferro ca; baixa ferritina sérica Anemia megaloblás- Macrocitose; decrés- Vitamina B12 e ácido tica cimo da absorção fólico de vitamina B12, de- créscimo de vitamina B12 e foi ato séricos Parestesias; tétano; Decréscimo do cál- Cálcio, vitamina D, sinais de Trousseau cio sérico, magnésio magnésio, potássio e Chvostek positivos e potássio Dor óssea; fraturas Osteoporose no raio Cálcio, proteínas patológicas; defor- x; osteomalácia na midades ósseas biópsia Tendências às Tempo de protrom- Vitamina K hemorragias (equi- bina alargado moses, melena, exatória) Edemas Diminuição de Proteínas (entero- albumina sérica; patia perdedora de aumento das perdas proteínas) fecais de antitripsina (antiprotease) Noctúria; distensão Distensão de alças de Água abdominal delgado no raio x Intolerância ao leite Teste de tolerância Lactose de lactose MEDCEL - PRINCIPAIS TEMAS EM GASTROENTEROLOGIA . - iMedce 2. Fisiopatologia da má absorção - o aparelho digestivo tem as seguintes dimensões: -Intestino delgado: de 5 a 7m de comprimento. • 25cm de duodeno; • De 2 a 3m de jejuno; • De 3 a 4m de íleo. Na superfície mucosa, há pregas e numerosas vilosida- des e microvilosidades intestinais que ampliam a capacidade absortiva. O epitélio é monoestratificado, com ciclo de vida curto, de 2 dias, em média. As células nascem da base das vilosidades e sobem gradualmente para amadurecimento e descamação na superfície. A anatomia do intestino grosso consiste em um tubo di- gestivo de 1 a l,5m de comprimento. A mucosa tem superfície lisa e sem pregas, mas é espessada pela presença de criptas nas porções mais distais. O epitélio é cilíndrico e monoestra- tificado até o canal anal. Na mucosa do reto distal, há pregas longitudinais e criptas que se encurtam até desaparecerem. A absorção de micronutrientes não é igual em todo o tra- to digestivo. A absorção dos diferentes elementos (proteínas, hidratos de carbono e ácidos graxos simples) tem início no duodeno e se completa nos primeiros 100cm. Também é a região em que há a absorção de ferro, cálcio e vitaminas hi- drossolúveis. A digestão de proteínas começa no estômago através da ação cloridropéptica que desnatura a proteína, propicia a ati- vação do pepsinogênio em pepsina e, ao manter o baixo pH, favorece a ação da peptidase gástrica. Todas essas ações são reguladas pelos hormônios gastrintestinais. Quando o químio penetra no duodeno, tem o seu pH neutralizado pelas secre- ções pancreáticas. Essa mudança rápida do pH ativa enzimas secretadas pelo pâncreas e a ativação do tripsinogênio em tripsina. Há o fluxo de íons e fluidos para o meio da luz intesti- nal, com o equilíbrio da osmolaridade entre o bolo alimentar e o plasma. Para o transporte dos nutrientes, existe a motilidade do tubo digestivo, que auxilia na diluição do bolo alimentar e sua distribuição pela mucosa, para os processos de digestão en- zimática. A absorção dos nutrientes pode ser passiva (não re- quer gasto energético celular) e ocorre através dos poros da membrana (moléculas pequenas e hidrossolúveis) ou por di- fusão facilitada, através de carregadores específicos da mem- brana celular, para as moléculas maiores. O transporte ativo é determinado por carreadores de membrana que promovem o movimento do nutriente contra o gradiente de concentra- ção (requer gasto energético celular). Podemos entender a fisiologia da digestão, dividindo os processos em 3 fases: a) Fase intraluminal. b) Fase mucosa. c) Fase absortiva. - Assim, dividindo os momentos da transformação dos ali- mentos no tubo digestivo, podemos entender a fisiopatologia dos processos da síndrome de má absorção. A - Fase intraluminal Os aminoácidos e os ácidos graxos induzem à liberação de colecistocinina (CCK) da mucosa do intestino superior. A CCK estimula a liberação de enzimas digestivas (amilase, li- pase, proteases) pelas células acinares pancreáticas e induz à contração da vesícula biliar e relaxamento do esfíncter de Oddi, liberando bile na luz intestinal. As proteases pancreáticas (tripsinogênio, quimiotripsi- nogênio, pró-elastase e pró-carboxipeptidase) são secreta- das em suas formas inativas, sendo a sua ativação realizada no duodeno. O ácido gástrico causa a liberação de secretina pela mucosa superior do delgado, a qual estimula a secreção de bicarbonato pelas células ductais pancreáticas. A acetíl- colina e a CCK potencializam o efeito estimulador da secre- tina. Essa neutralização do ácido na luz do delgado (pelo bicarbonato) é fisiologicamente importante, uma vez que a atividade das enzimas pancreáticas e a formação de micelas atingem nível ótimo em pH de 6 a 8. Os lipídios da dieta são insolúveis no meio aquoso. A li- pase pancreática cliva os triglicerídeos de cadeia longa em ácidos graxos e monoglicerídeos. Os produtos da lipólise interagem com sais biliares e com fosfolipídios, formando micelas mistas, que incorporam o colesterol e vitaminas li- possolúveis (A, D, E, K) em seus centros hidrofóbicos. Os carboidratos e a maioria das proteínas da dieta são hidrossolúveis e prontamente digeridos por enzimas pan- creáticas, após sua quebra em oligossacarídeos e oligopep- tídios. B - Fase mucosa Nessa fase, temos a absorção dos nutrientes em uma grande área de intestino intacto. As enzimas da borda em escova são importantes na hidrólise dos dissacarídeos e di e tripeptídios. A má absorção de específicos nutrientes pode ocorrer como resultado de uma deficiência isolada de uma enzima da borda em escova. Tais condições especiais de de- ficiência enzimática são raras, com exceção da deficiência de lactose. c - Fase absortiva A absorção de águae eletrólitos é realizada tanto no del- gado quanto no cólon. Os nutrientes são absorvidos ao longo de todo o delgado, com exceção de ferro e folato (absorvidos no duodeno e no jejuno proximal) e dos sais biliares e coba- lamina (íleo distal). A eficiência da absorção/captação de nutrientes pela rnu- cosa é influenciada pelo número de células absortivas, pela MÁ ABSORÇÃO INTESTINAL g) Deficiências enzimáticas: deficiência de dissacaridases. h) Crescimento bacteriano exagerado: conseqüência pós- operatória de modificações anatômicas no tubo digestivo por anastomoses cirúrgicas (síndrome da alça cega). i) Doenças vasculares: vasculites e insuficiência vascular intestinal crônica (comum nos idosos com doenças crônicas vasculares, conseqüentes à ateromatose sistêmica). existência de hidrolases funcionais e proteínas transporta- doras específicas de nutrientes na borda em escova, e pelo tempo de trânsito. 3. Manifestações clínicas e etiologias da má absorção Diarréia, cólicas abdominais, flatulência, distensão abdo- minal, esteatorréias, perda de peso, fraqueza e parestesias são as manifestações mais comuns do paciente com a má ab- sorção intestinal. Podemos classificar as causas da síndrome de má absor- ção de várias maneiras. Se a causa é problema na absorção, então existe uma insuficiência de digestão (os alimentos não estão completamente digeridos). Assim, os alimentos não se- rão metabolizados em macro e micronutrientes, para a muco- sa intestinal absorvê-Ios normalmente. As causas podem ser: a) Insuficiência pancreática exócrina: provocada por pro- cessos inflamatórios, crônicos e neoplásicos. Devem ser lem- bradas ressecções cirúrgicas parciais ou totais. b) Insuficiência hepatobiliar: a diminuição dos sais biliares no duodeno determina a insuficiência de digestão do bolo ali- mentar e nos processos de absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis. Exemplos: colestase por obstrução da bile por obstáculos intra ou extra-hepáticos. c) Hipersecreção gástrica: a síndrome de Zollinger-Ellison é o exemplo clássico. O baixo pH do duodeno pode bloquear a atividade digestiva. d) Condições cirúrgicas pós-operatórias: ressecções pan- creáticas extensas, derivações digestivas (segmentos exten- sos de delgado sem receber alimentos ou secreções impor- tantes para a digestão), enterectomias extensas (diminuição da superfície intestinal absortiva). Essa última condição é co- nhecida pela denominação de síndrome do intestino curto. e) Diminuição da superfície de absorção: as ressecções cirúrgicas (comentadas anteriormente), doença de Crohn do intestino delgado, doença celíaca, o espru tropical e a doença de Whipple. f) Obstrução linfática: linfangectasias, linfomas, tubercu- lose intestinal. 4. Doenças principais que levam à má absorção A - Doença celíaca Também denominada espru celíaco, espru não-tropical e enteropatia sensível ao glúten. Caracteriza-se por danos na mucosa das porções proximais do intestino delgado e resulta na síndrome de má absorção de muitos nutrientes. Embora se manifeste na infância, pode haver o ataque na 2ª ou na 4ª dé- cadas de vida. Está fortemente associada a antígenos HLA clas- se " (HLA-DR3 e HLA-DQw2). O mecanismo ainda não é bem compreendido, mas dietas restritas de glúten determinam a resolução dos sintomas. Há uma hipótese de que o hospedeiro é geneticamente suscetível ao glúten, e, talvez, uma infecção viral em conjunto a essa sensibilidade determine uma resposta celular inflamatória com a destruição da mucosa intestinal. Grupos com maior risco incluem parentes de 1º grau com doença celíaca, diabetes mellitus tipo 1, doença auto-imune da tireóide e dermatite herpetiforme. O diagnóstico é estabelecido pela biópsia, a qual tem acha- dos característicos: ausência de vilosidades, hiperplasia das criptas, aumento dos linfócitos intra-epiteliais e infiltração da lâmina própria por plasmócitos e linfócitos. A dieta sem glúten melhora todo o quadro clínico, confirmando o diagnóstico. Alguns testes sorológicos são úteis para diagnóstico ou triagem de parentes de 1º grau. Os anticorpos IgG e IgA an- tigliadina são sensíveis, porém não específicos. Já os anticor- pos IgA antiendomisiais (anticorpo contra a transglutaminase tecidual) são sensíveis (90%) e específicos (90 a 100%). Em alguns pacientes, ocorre anemia ou osteoporose sem sintomas gastrintestinais. Outras manifestações extra-intesti- nais incluem erupção cutânea (dermatite herpetiforme), dis- túrbios neurológicos (miopatia, epilepsia), distúrbios psiqui- átricos (depressão) e distúrbios da reprodução (infertilidade, aborto espontâneo). O tratamento é feito com dieta sem glúten, sendo obser- vada melhora em 90% dos pacientes, dentro de 2 semanas. Pacientes com doença celíaca correm maior risco de desen- volver linfoma de células T e carcinomas intestinais, mas tais riscos podem ser diminuídos com dieta estritamente sem glúten. " " Quadro 2 - Diagnóstico da doença ce/íaca A essência do diagnóstico baseia-se em: - Perda de peso; - Distensão, flatulência e fezes oleosas; - Aumento da gordura fecal (>7g/24h); - Biópsia do intestino delgado anormal nas porções distais do duo- deno e proximais do jejuno; - Melhora com restrição do glúten. iMedcel B - Doença de Whipple É uma rara doença multissistêmica, causada por uma in- fecção do bacilo Tropheryma whipplei. Ocorre em qualquer idade, mas é mais comum em homens brancos na 4ª e na 5ª décadas de vida. A via de contaminação não é conhecida, e nenhum caso de endemia foi reconhecido. Manifesta-se com artralgias migratórias e não-deformantes (80% dos ca- sos), que é a 1ª manifestação clínica, na maioria dos casos. As manifestações gastrintestinais ocorrem em 75% dos ca- sos (dor abdominal tipo cólica, diarréia, e certo grau de má absorção com distensão, flatulência e esteatorréia); perda de peso está presente em todos os casos. Pode ocorrer a enteropatia perdedora de proteínas com o envolvimento linfático, hipoalbuminemia e edemas corporais. O diagnóstico pode ser muito difícil se o paciente não apresentar sintomas gastrintestinais (pode levar anos), e, em 50% dos casos, pode ocorrer febre baixa e tosse crôni- ca. Pode existir linfonodomegalias que lembram sarcoidose. Envolvimento das válvulas cardíacas e o miocárdio levam a insuficiência cardíaca e refluxo. Podem ocorrer achados oculares como uveíte, vitreíte, ceratite e hemorragias re- tinia nas. Em 10% dos casos, o envolvimento do sistema nervoso central determina a demência, letargia, coma, des- maios, mioclonias e sinais hipotalâmicos. Envolvimentos de pares cranianos determinam oftalmoplegia ou nistagmo. O diagnóstico é histopatológico dos tecidos suspeitos. Na maioria dos casos, a biópsia do duodeno pode revelar a infiltração da lâmina própria com macrófagos PAS-positivos que contêm o bacilo Gram positivo. Nos pacientes sem sin- tomas gastrintestinais, a biópsia pode ser normal e deve-se proceder à investigação com outras biópsias de áreas sus- peitas. Teste com PCRtem sensibilidade em torno de 97% e especificidade de 100% e é utilizado nas amostras de fluidos corporais, como líquor cérebro-espinal, humor vítreo, líqui- do sinovial ou válvulas cardíacas. O tratamento consiste no uso de antibióticos com me- lhora progressiva dos quadros apresentados. Não há um esquema específico, mas o uso é prolongado pelo período de 1 ano. As sulfas são utilizadas como 1ª escolha. Nos pa- cientes alérgicos, utiliza-se ceftriaxona ou cloranfenicol. E é necessária uma nova biópsia para a certeza da remissão da infecção. Quadro 3 - Principais características da doença de Whipple A essência do diagnóstico baseia-se na: - Má absorção; - Doença multissistêmica; - Febre, linfonodomegalias,artralgias; - Biópsia duodenal com macrófagos PAS-positivo com característi- cas de bacilos. c -Supercrescimento bacteriano No intestino delgado, existe uma quantidade de bactérias,' normalmente em simbiose com o meio intestinal. O super- crescimento de bactérias no intestino delgado pode determi- nar a má absorção por inúmeros mecanismos. A desconjugação dos sais biliares causa a inadequada for- mação de micelas, resultando na má absorção de gorduras com esteatorréia. A proliferação bacteriana cO.Q?0me nu- trientes, reduzindo a absorção de vitamina B12 e hidrãtos de carbono. As bactérias também causam danos, diretamente, na mucosa intestinal (células epiteliais e da borda em esco- va), impedindo a absorção de açúcares e proteínas. A passa- gem dos ácidos biliares não-absorvidos e hidratos de carbono para os cólons determina as dlarréias osmótica e secretora. O supercrescimento bacteriano é uma importante causa de má absorção no idoso, talvez porque há um decréscimo da acidez gástrica ou motilidade intestinal diminuída. As causas para o crescimento bacteriano incluem: - Acloridria gástrica; - Anormalidades anatômicas do intestino delgado com estagnação (alça aferente da gastroenteroanastomose Billroth 11, divertículos do intestino delgado, obstrução intestinal, alça cega e enterite por radiação); - Mobilidade intestinal prejudicada (esclerodermia, diabe- tes, pseudo-obstrução intestinal crônica); - Fístulas intestinais nas doenças de Crohn (gastrocólica ou coloentérica), cânceres e ressecções cirúrgicas; -Causas associadas: AIOS e pancreatite crônica. O tratamento consiste na correção do defeito anatômico que está potencializando o processo. O uso de antibióticos, de amplo espectro, contra agentes anaeróbicos e aeróbicos, por 1 a 2 semanas, promove a melhora progressiva do pa- ciente. O uso continuado de antibióticos deve ser evitado, pelo risco de resistência bacteriana. o- - Síndrome do intestino curto Essa síndrome é uma condição de má absorção que se instala após a remoção de grandes segmentos do intestino delgado. As causas mais comuns são doença de Crohn, infar- to mesentérico, enterite por radiação e trauma. Na pediatria, como causas encontram-se malformações congênitas em que o cirurgião é obrigado a retirar grandes porções intestinais. O tipo de má absorção depende da extensão e topografia da ressecção e do grau de adaptação do intestino remanescente. O quadro clínico é dominado pela diarréia e perda de peso. Há uma série de modificações adaptativas que aumentam a capacidade absortiva por unidade de superfície do intestino remanescente, além do retardo no esvaziamento gástrico e na velocidade do intestino residual. Ressecções de 40 a 50% do comprimento total do delgado são toleráveis. Quanto maior a iModcel MÁ ABSORÇÃO INTESTINAL ressecção intestinal, maiores as perdas de água e eletrólitos, além dos desequilíbrios já citados. Em média, até 100cm de jejuno proximal pode ser suficiente para manter o equilíbrio nutricional com dietas orais somente, apesar de as perdas de água e eletrólitos se manterem. A adaptação gradual ocorre em, aproximadamente, 1 ano. Já os pacientes com ressecções maiores, nos casos em que estejam presentes menos de 100cm de jejuno proximal, necessitam de suplementação enteral específica (dietas ele- mentais ou poliméricas). A nutrição parenteral pode ser ne- cessária nos casos graves (taxa de mortalidade em torno de 2 a 5% ao ano). A morte dos pacientes com nutrição parenteral crônica é -decorrente das doenças hepáticas induzidas por quadro disabsortivo, infecção generalizada, perda de acesso venoso e infecções dos cateteres centrais. O transplante in- testinal está indicado nos casos extremos, com uma taxa de sobrevida em 5 anos de 60 a 70%. A ressecção do íleo terminal resulta na má absorção de sais biliares e vitamina B12, os quais são absorvidos nessa região. Nos casos de pouca perda intestinal, os pacientes te- rão de receber suplementação de vitamina B12. Nas maiores ressecções desse segmento ileal, a má absorção de sais bi- liares estimula a secreção de fluidos dos cólons, resultando em diarréia aquosa. Devem ser tratados com quelantes de sais biliares (colestiramina, de 2 a 4g, 3x ao dia, com as re- feições). Esteatorréia pode estar associada, além de perdas de vi- taminas lipossolúveis. Empregam-se dietas com baixas gordu- ras, vitaminas e suplementos de gorduras de cadeias médias, que não necessitam de micelas para a sua absorção. Gorduras não-absorvidas ligam-se ao cálcio, também reduzindo a sua absorção. Calculose renal ocorre por cristais de oxalato. Re- posição oral de cálcio favorece a ligação de oxalato e aumenta os níveis séricos de cálcio. Há calculose biliar por colesterol, devido ao decréscimo dos sais biliares (ciclo entero-hepático diminuído). Se tiver ocorrido ressecção da válvula íleo-cecal (ressecção do ceco e cólon ascendente, comuns na hemico- lectomia direita), há a contaminação bacteriana do intestino delgado em grau maior, complicando a má absorção.
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