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DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA – TUTORIAL 3 RESUMO – BRUNO FARIAS SIMÕES Página 1 1. Definição Síndrome caracterizada pela obstrução crônica difusa das vias aéreas inferiores, de caráter irreversível, com destruição progressiva do parênquima pulmonar. Estão incluídos nesta definição os pacientes com bronquite crônica e/ou com enfisema pulmonar. 2. Epidemiologia É uma doença de adultos velhos ou idosos, manifestando-se entre 5ª e 6ª décadas de vida. Predominante no sexo masculino por conta da maior prevalência do tabagismo nos homens. O tabagismo é o principal fator de risco para DPOC, havendo história tabágica positiva em 90% dos casos. As substâncias do tabaco causam várias alterações nas vias aéreas: a) Estimulam a produção de muco e hipertrofia das glândulas submucosas; b) Reduzem ou bloqueiam os movimentos ciliares das células epiteliais; c) Ativam macrófagos alveolares a secretar principalmente IL-8 (estimula recrutamento alveolar de neutrófilos); d) Ativam neutrófilos, que passam a produzir mais enzimas proteolíticas, como elastase; e) Inibem atividade da alfa1- antitripsina, enzima inibidora da elastase. *Carga tabágica = Qtde maços consumidos/dia X número de anos de tabagismo Outros fatores de risco: tabagismo passivo, poluição atmosférica extra e intradomiciliar, exposição ocupacional a poeiras orgânicas, fumaças e vapores. Podem ser aditivos ao efeito do tabagismo ou explicar a ocorrência em não tabagistas. 3. Fisiopatologia a) Histopatológico: Bronquite obstrutiva crônica – hipertrofia e hiperplasia das glândulas submucosas secretoras de muco associadas a aumento no numero de células caliciformes da DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA – TUTORIAL 3 RESUMO – BRUNO FARIAS SIMÕES Página 2 mucosa; redução do lúmen das vias aéreas distais devido ao espessamento da parede brônquica por edema e fibrose (bronquiolite obliterante). Enfisema pulmonar – alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos, decorrentes de destruição progressiva dos septos alveolares. O tipo patológico mais comum é o enfisema centroacinar (alargamento e a destruição parenquimatosa encontram-se nos bronquíolos respiratórios, ou seja, região central do ácino ou lóbulo pulmonar. Predomina nos lobos superiores dos pulmões). O segundo tipo patológico é o enfisema panacinar (típico de deficiência de alfa1-antitripsina. O processo mórbido distribui-se uniformemente pelo ácino, na região central e periférica). b) Obstrução das vias aéreas e hiperinsuflação Na inspiração, geralmente, não há grande limitação, pois a força geradora do fluxo depende da musculatura respiratória e a pressão pleural negativa ajuda a manutenção das vias aéreas abertas. A força expiratória, porém, está reduzida pela diminuição da elasticidade pulmonar (enfisema) enquanto a resistência está aumentada pela redução do lúmen das vias aéreas, gerado por 2 fatores: diminuição do tecido elástico de sustentação e edema e fibrose na parede dos pequenos brônquios. Estes fatores somados a pressão pleural e intratorácica positivas, predispõem ao colapso das vias aéreas, impedindo a eliminação do ar armazenado nas porções periféricas do pulmão (fenômeno de aprisionamento do ar, air trapping) promovendo aumento do volume residual, capacidade residual funcional e capacidade pulmonar total. c) Distúrbio da troca gasosa Comprometida por conta da lesão enfisematosa e da lesão bronquítica. Ambas as patologias levam a obstrução de vias aéreas de forma heterogênea e por isso propiciam o surgimento de alvéolos mal ventilados, porém bem perfundidos. Nesses alvéolos o sangue venoso passa recebendo pouco oxigênio (shunt parcial). Se tiver muitos alvéolos com shunt parcial, a mistura de sangue mal oxigenado causa hipoxemia e desaturação de hemoglobina (distúrbio V/Q). No inicio a hipoxemia ocorre apenas no exercício físico. Com o progredir da doença, pode ocorrer no repouso. Nas fases mais avançadas da doença, 3 mecanismos atuam em conjunto para retenção progressiva de CO2: - agravamento do distúrbio V/Q; - aumento do espaço morto fisiológico (áreas ventiladas sem perfusão); - hipossensibilidade do centro respiratório bulbar ao CO2. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA – TUTORIAL 3 RESUMO – BRUNO FARIAS SIMÕES Página 3 Estes pacientes começam a reter CO2 lenta e progressivamente (acidose respiratória crônica) estimulando o rim a reter mais bicarbonato e assim evitar acidose respiratória descompensada. d) Cor pulmonale Disfunção do ventrículo direito consequente a um distúrbio pulmonar. 4. Quadro Clínico e Diagnóstico a) História Clínica Dispneia aos esforços. Evolução insidiosa, progressiva, marcada por pioras agudas desencadeadas por fatores descompensantes. No avançar da doença a dispneia pode ocorrer aos mínimos esforços e depois ao repouso. Tosse. Comumente acompanhada de expectoração e muitas vezes precedendo o quadro dispneico. b) Exame físico Bronquite obstrutiva crônica – ausculta pulmonar com ruídos adventícios (sibilos, roncos, estertores crepitantes e subcrepitantes) associado a diminuição do murmúrio vesicular. Enfisematoso – ausculta revela apenas diminuição do murmúrio vesicular, sem ruídos adventícios. Elasticidade e expansibilidade reduzidas. Percussão mostra aumento do timpanismo. Fase expiratória desproporcionalmente prolongada em relação a fase inspiratória. Pode apresentar-se pletórico (tom de pele avermelhado), por conta de policitemia reativa a hipoxemia crônica mediado pelo aumento de eritropoietina renal. A dessaturação da hemoglobina associada a eritrocitose leva a cianose. Hiperinsuflação com aumento do diâmetro anteroposterior – tórax em tonel. Edema de MMII e turgência jugular pode ocorrer em pacientes com cor pulmonale. Pink puffers – sopradores róseos (enfisematoso) Blue Bloaters – inchados azuis (bronquítico grave) c) Exames complementares inespecíficos - Hemograma: pode mostrar eritrocitose (hematócrito > 55%); - Gasometria arterial: Hipoxemia leve, moderada ou grave (PaO2<55 ou SaO2 < 88%), hipercapnia com acidose respiratória crônica, marcada pelo aumento compensatório do bicarbonato e BE (30% dos pacientes, casos mais avançados da doença), pH discretamente baixo. - ECG: alterações do cor pulmonale (sinais de sobrecarga cardíaca direita: onda P alta e pontiaguda, desvio QRS para direita, graus variados de bloqueio de ramo direito, relação R/S maior que 1 em V1); - Radiografia de tórax: retificação das hemicúpulas diafragmáticas; hiperinsuflação pulmonar; hipertransparencia; aumento dos espaços intercostais; redução do diâmetro cardíaco; aumento do espaço aéreo retroesternal no perfil; espessamento brônquico. d) Prova de função pulmonar: avaliar VEF1 e relação VEF1/CVF. Se a relação VEF1/CVF < 70%, mesmo após a prova broncodilatadora, utiliza-se este dado como critério diagnóstico. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA – TUTORIAL 3 RESUMO – BRUNO FARIAS SIMÕES Página 4 5. Tratamento a) Abstinência ao tabagismo Após 1 ano sem fumar, a taxa de queda do VEF1 iguala-se a dos não tabagistas. A doença tende a permanecer estável nos próximos anos. Os sintomas tendem a melhorar, porém não totalmente, pois a lesão pulmonar permanece e é irreversível. b) Oxigenoterapia domiciliar O aumento na sobrevida é proporcional ao numero de horas diárias de oxigenoterapia. As indicações de oxigenoterapia são baseadas na gasometria arterial: Se PaO2≤55mmHg e/ou SaO2≤88% em repouso há indicação precisa de oxigenoterapia diária contínua(por mais 15h). PaO2 = 56-59mmHg ou SaO2≤88% com evidencias de cor pulmonale e/ou policitemia (Hto > 55%) também há indicação de oxigenoterapia. c) Exacerbações Piora aguda dos sintomas respiratórios. O diagnostico é clinico feito pelo reconhecimento de piora da dispneia, da tosse e/ou da expectoração. O tratamento envolve: - antibioticoterapia: quando houver pelo menos 2 das seguintes: 1. Aumento do volume do escarro; 2. Alteração do aspecto para purulento; 3. Aumento da intensidade da dispneia. - broncodilatadores: beta2 agonista de curta (salbutamol, fenoterol, terbutalina) associado com anticolinérgico (brometo de ipratrópio). - corticosteróides sistêmicos: uma dose de prednisona 40mg/dia 7-10 dias. A nebulização com budesonida é uma alternativa aos corticoides orais - Metilxantinas (teofilina, aminofilina): consideradas drogas de segunda linha, reservada para casos graves, não responsivos a terapia com broncodilatadores inalatórios. Tem grande potencial de toxicidade podendo causar efeitos adversos sérios como convulsões e arritmias. - ventilação não invasiva: critérios: 1. Dispneia moderada a grave, com uso de musculatura acessória e movimento abdominal paradoxal; 2. Acidose moderada a grave com hipercapnia (45-60mmHg); 3. FR>25ipm. Os métodos mais utilizados são CPAP e BIPAP. VNI é contraindicada nos pacientes com instabilidade cardiovascular, nível de consciência rebaixado ou incapacidade de cooperar, secreção respiratória DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA – TUTORIAL 3 RESUMO – BRUNO FARIAS SIMÕES Página 5 copiosa, queimaduras, obesidade extrema e anormalidades craniofaciais, prejudicando o acoplamento da máscara. - ventilação invasiva: Alteração do estado de consciência, precipitada pela fadiga da musculatura respiratória, agudizando a acidose respiratória. Lembrar de programar tempo expiratório prolongado, evitando-se auto-PEEP. d) Farmacoterapia de manutenção: beta2 de longa (formoterol, salmeterol), brometo de ipratrópio (atrovent), corticoide inalatório (usar em pacientes com DPOC e asma; pacientes com VEF1 < 60% do previsto, principalmente aqueles com exacerbações muito frequentes (dois ou mais em 1 ano); teofilina pode melhorar a queda noturna de função pulmonar e sintomas matinais. e) Reabilitação cardiopulmonar: fisioterapia. f) Cirurgia g) Vacinação: anti-influenza e anti-pneumocócica.
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