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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Direito Penal II – Resumo II Aluno: Rached da Silva Centeno Sumário 1. A ilicitude e as causas de exclusão da ilicitude (causas justificantes) .......................... 3 1.1 Conceito de ilicitude: ........................................................................................................... 3 1.2 Causas de exclusão da ilicitude (causas justificantes) ......................................................... 3 A) Legítima defesa ............................................................................................................. 4 B) Estado de necessidade .................................................................................................. 5 C) Estrito Cumprimento de dever legal ............................................................................. 7 D) Exercício regular de um direito ..................................................................................... 7 2. Culpabilidade .......................................................................................................................... 8 2.1 Culpabilidade no Sistema clássico (Liszt / Beling) ............................................................... 8 2.2 Culpabilidade no Sistema Neoclássico (Mezger) ................................................................. 8 2.3 Culpabilidade no Sistema Finalista (H. Welzel) ................................................................... 9 2.4 Culpabilidade – Requisito do crime ou pressuposto de pena? ......................................... 10 2.5 Co-culpabilidade ................................................................................................................ 10 2.6 Excludentes da culpabilidade ...................................................................................... 11 2.6.1 Inimputabilidade ............................................................................................................ 11 2.6.1.1 Semi-imputabilidade ............................................................................................... 14 2.6.1.2 Consequências jurídicas da imputabilidade e da Semi-imputabilidade .................. 14 2.6.2 Inexigibilidade de conduta diversa................................................................................. 16 3. Consumação e tentativa ..................................................................................................... 17 3.1 Atos preparatórios x Atos executórios .............................................................................. 18 3.2 Tentativa imperfeita x tentativa perfeita .......................................................................... 20 3.2 Crimes que não admitem tentativa .................................................................................. 20 3.3 Desistência voluntária e arrependimento eficaz .............................................................. 21 3.4 Arrependimento posterior ............................................................................................... 22 3.5 Crime impossível .............................................................................................................. 23 3.6 Punibilidade do crime impossível ...................................................................................... 24 4. Teoria do erro ....................................................................................................................... 24 4.1 Erro de Tipo Essencial........................................................................................................ 25 4.2 Erro de Tipo Acidental ....................................................................................................... 25 4.3 Erro de Proibição ............................................................................................................... 28 4.4 Descriminantes putativas .................................................................................................. 28 5. Concurso de pessoas – Autoria e participação ............................................................... 29 5.1 Sistema Unitário x Sistema Diferenciador ......................................................................... 30 5.2 Autoria e participação ....................................................................................................... 30 5.2.1 Formas de autoria ......................................................................................................... 31 5.2.2 Participação “Stricto sensu” .......................................................................................... 31 5.3 Requisitos do concurso de pessoas ................................................................................... 32 5.4 Circunstâncias incomunicáveis .......................................................................................... 33 5.5 Casos de inimputabilidade – Favorecimento pessoal e real ............................................. 33 5.6 Teoria do domínio do fato................................................................................................. 34 5.6.1 Hans Welzel ................................................................................................................... 34 5.6.2 Claus Roxin .................................................................................................................... 35 5.6.2.1 Claus Roxin – Teoria do aparato organizado de poder .............................................. 36 1. A ilicitude e as causas de exclusão da ilicitude (causas justificantes) 1.1 Conceito de ilicitude: A) Ilicitude formal: É a relação de contrariedade entre o fato (ou a conduta) e a norma (entre o fato e o direito). B) Ilicitude Material: Leva em consideração o fundamento material da ilicitude, que é a danosidade social, a qual se expressa na ideia de ofensa a bens jurídicos (lesão ou exposição a perigo). 1.2 Causas de exclusão da ilicitude (causas justificantes) As hipóteses previstas no artigo 23 do código penal não são as únicas possíveis. Além das expostas na parte especial, é reconhecido como causa excludente da ilicitude o consentimento do ofendido (titular do bem jurídico), nos casos em que a ausência de consentimento não é requisito para caracterização do crime. Por exemplo, no caso do crime de estupro: CP Art. 213. "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, se houver consentimento da outra pessoa a conduta deixa de ser típica, já que a ausência de consentimento é requisito para o crime de estupro. No entanto, quando se trata, por exemplo, do crime de lesão corporal (C.P. Art. 129), o indivíduo que coloca um piercing em outro está praticando um ato típico, porém lícito, já que o dissentimento não é requisito do crime de lesão corporal, logo não havendo dissentimento o fato deixa de ser ilícito. O consentimento pode ser classificado como causa supralegal de exclusão da ilicitude. Causas Justificantes Art. 23 Estado de defesa Legítima Defesa Estrito Cumprimento do dever legal Exercício regular de direito Há consentimento no caso Exclui a Tipicidade Ausência de Consentimento é requisito do crime A) Legítima defesa: CP Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. São elementos da legítima defesa: Agressão injusta: Nem toda agressão é ilícita, a exemplo da praticadano estrito cumprimento do dever legal por um policial. Para ser considerada injusta não precisa nem ser considera como crime, sendo possível até mesmo um ato ilícito civil. A agressão injusta de deve ser considerada objetivamente, assim uma pessoa pode defender-se mesmo quando o agente agressor é menor de idade, por exemplo. o A mera provocação não gera direito à legitima defesa. o Caso o agressor seja um animal a justificante é estado de necessidade e não legítima defesa. Agressão atual ou iminente: Não pode ser agressão ocorrida no passado nem que possivelmente ocorra no futuro, deve estar acontecendo (atual) ou prestes a acontecer (iminente). Direito próprio ou alheio: Para agir em legítima defesa o sujeito pode estar diante de uma agressão injusta atual ou iminente a um bem jurídico seu ou de outrem. Meios necessários e usados moderadamente: o Meio necessário: É o suficiente e indispensável para uma defesa eficaz. (Não é meio necessário, por exemplo, uma arma de fogo para separar uma briga, quando os sujeitos envolvidos estão desarmados). o Uso moderado: O uso deve ser na proporção adequada para defesa eficaz. (Não é uso moderado, por exemplo, atirar na cabeça dos envolvidos para separar uma briga, ainda que os envolvidos estejam armados). Art 23 Parágrafo único – “O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo” Além dos elementos previstos no artigo 25, a legítima defesa deve ter “animus defendendi” (elemento subjetivo), isto é, deve ter a intenção de pôr termo a uma agressão injusta a um bem jurídico seu ou de outrem. Ainda que o agente interrompa uma agressão ou impeça sua ocorrência, se não agir com essa intenção não poderá alegar legítima defesa. Exclui a Ilicitude Há consentimento no caso Ausência Consentimento não é requisito do crime Legítima defesa putativa: Ocorre quando o agente se imagina diante de uma agressão injusta que não existe na realidade. Ex: A está em um bar e vê B colocar a mão dentro do casaco, a partir disso imagina que B vai sacar uma arma, quando na verdade B quer apenas pegar algo em seu bolso. Nesse mesmo momento A dispara contra B. o A legítima defesa putativa não é excludente de ilicitude, mas sim erro de tipo ou erro de proibição (ponto 4), podendo ensejar crime culposo ou isentar de pena. o CP Art 20. § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. B) Estado de necessidade: CP Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Espécies: - Defensivo: ocorre quando o ato necessário se dirige contra a coisa ou pessoa da qual promana o perigo para o bem jurídico protegido. Ex.: dois náufragos disputando uma tábua salvará um dos dois. Ambos podem usar dos meios possíveis. Sendo assim o ato em estado de necessidade será contra a fonte do perigo ao bem jurídico (no caso, um dos náufragos terá que impedir que o outro – a origem do perigo - fique com a tábua) - Agressivo: O ato se dirige contra pessoa ou coisa diversa da qual promana o perigo Ex.: Quando em um incêndio as pessoas pisoteiam umas às outras – o perigo emana do fogo e não das pessoas que foram lesionadas. Elementos da legítima defesa Agressão Injusta Atual ou iminente Defesa de direito (bem jurídico) Próprio ou Alheio Meios usados Necessários de uso moderado Teorias Teoria unitária (unificadora): Não leva em consideração o valor do bem defendido. O estado de necessidade é sempre uma causa justificante que exclui a ilicitude. Não importa se o bem sacrificado é de valor maior em relação ao que foi preservado. Teoria diferenciadora: O estado de necessidade é causa justificante (afasta a ilicitude), quando o bem preservado for de valor superior ao bem sacrificado, ou em outras palavras, quando o bem sacrificado for de valor igual ou inferior ao preservado. (ex.: preserva-se a vida em detrimento de um bem patrimonial – motorista desvia de uma pessoa e atinge outro veículo). Entretanto, quando o bem de me valor igual ou inferior for preservado, o estado de necessidade será causa dirimente (ou exculpante), excluindo a culpabilidade por razão da inexigibilidade de conduta diversa. Requisitos: Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Perigo atual: É o que está acontecendo no momento da ação atual. Não provocação voluntária do perigo: Exemplo: Agente coloca dolosamente fogo no prédio e ao sair correndo pisa nas pessoas. Não poderá alegar estado de necessidade, pois foi ele quem provocou a situação. (A doutrina diverge se a causa for por culpa o agente poderá ou não alegar estado de necessidade) Inevitabilidade da lesão: Se há outro meio para evitar a lesão, que não prejudique nenhum bem jurídico, o sujeito deve valer-se desse meio. O estado de necessidade só se justifica quando for a única opção, o último recurso. Te o ri as d o E st ad o d e N ec es si d ad e Unitária (unificadora) Não faz juízo de valor Causa justificante Sempre exclui a ilicitude Diferenciadora Preservado > Sacrificado Causa Justificante Exclui a Ilicitude Preservado ≤ Sacrficado Causa Dirimente (ou exculpante) Exclui a culpabilidade Inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado: Relaciona-se com o princípio da ponderação de bens. Só haverá estado de necessidade quando o bem jurídico preservado for de valor superior ou inferior ao bem jurídico sacrificado. Direito próprio ou alheio: Por direito entende-se bens jurídicos em geral. Elemento subjetivo (não está no artigo): a vontade de salvar um bem jurídico. Ausência de dever legal em enfrentar o perigo: Art 24,§ 1º - “Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.” Ex.: Militares, bombeiros, capitão de navio. Igualmente aplica-se a proibição de excesso: Art 23, Parágrafo único – “O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo” Estado de necessidade putativo: O perigo só existe na cabeça do sujeito que pratica. Afasta a ilicitude também Legítima Defesa Estado de Necessidade Pressupõe agressão Pressupõe perigo A agressão pode ser evitável O perigo deve ser inevitável Há só uma pessoa com razão Há duas ou mais pessoas com razão C) Estrito Cumprimento de dever legal: É caracterizado quando o agente lesa ou ofende um bem jurídico, mas por estar cumprindo obrigação a ele legalmente imposta. Ex.: Policial quando prende alguém (nos limites e condições permitidos por lei). D) Exercício regular de um direito O fundamento encontra-se, sobretudo, em fontes extrapenais, isto é, fora da legislação penal. Ex.: CC Art. 1.210. “O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestador”. O possuidor nesse exemplo possui a faculdade de utilizar a “força” para manter-se na posse do bem sem que osatos usados como meios para essa finalidade sejam considerados como crime, se respeitados os limites legais como a proporcionalidade e necessidade dos meios. Ofendículos: São instrumentos que servem para defender bens jurídicos, mais especificamente a propriedade privada. Exemplos: arame farpado; cacos de vidro em cima do muro; cães bravos. Os ofendículos devem estar perceptíveis facilmente. Natureza jurídica duas correntes: i) Ofendículos são meios exercício regular de direito ii) Ofendículos são meios de legítima defesa (Uma critica feita a essa corrente é que a legitima defesa é uma reação a uma ação atual ou iminente, e os ofendículos são instalados previamente a uma possível agressão ao bem jurídico. A resposta a corrente doutrinária favorável a natureza de legítima defesa é no sentido de que os ofendículos atuarão no momento da agressão, embora instalados com antecedência) Do ponto de vista prático é irrelevante se a natureza desses mecanismos é exercício regular de direito ou legítima defesa, pois a consequência da atuação de um ofendículo em defesa da propriedade privada para o proprietário será sempre a exclusão da ilicitude. O ato será típico, porém ilícito. 2. Culpabilidade Relembrando a estrutura do crime no sistema finalista: O crime é uma conduta típica (tipicidade), ilícita e culpável. O último elemento a ser analisado é a culpabilidade. 2.1 Culpabilidade no Sistema clássico (Liszt / Beling) A concepção clássica está vinculada às ciências naturais, nos métodos das ciências da natureza. o Teoria psicológica da culpabilidade: (adotada até final do sec. XIX) A culpabilidade é o vínculo psicológico entre o agente e o fato. O vínculo não tem gradação, ou seja, simplesmente existe vínculo ou não. Ocorre vínculo quando, por exemplo, o agente pensa “ eu quero matar alguém” antes de cometer um homicídio. Problemas: Na culpa inconsciente não haveria culpabilidade, pois não o agente não tem vínculo psicológico. (não seria crime portanto) Crimes de coação: Tinha vínculo psicológico mas agiu sob coação. (Exemplo do gerente de banco que, sob coação, saca dinheiro e entrega aos coatores) 2.2 Culpabilidade no Sistema Neoclássico (Mezger) o Teoria Psicológica-normativa: Ex.: (tribunal do Reich). Parteira que colocava a data de nascimento dos bebês para segunda-feira quando os nascimentos ocorriam no domingo, a pedido do sindicato. O Tribunal a absolveu, pois não basta o vínculo psicológico, precisa de um aspecto de reprovação. A parteira agiu em circunstancias normais, no entanto, premida da necessidade de trabalhar, o que exclui o aspecto de reprovação de sua conduta, já que não é exigível que alguém, na situação da parteira, arrisque-se em perder o meio de sobrevivência em nome da legalidade. A culpabilidade ganha aspecto normativo e deixando de ser mero vínculo psicológico – EXIGIBILDIADE DE CONDUTA DIVERSA. Até o momento a culpabilidade tinha como pressupostos: imputabilidade, Dolo ou culpa (teoria psicológica) o sem elementos valorativos, apenas naturalísticos. O dolo e a culpa deixam de ser espécies de culpabilidade e passaram a ser elementos. O dolo e a culpa eram, a grosso modo, a própria culpabilidade no sistema clássico, agora a integram como elementos. 2.3 Culpabilidade no Sistema Finalista (H. Welzel) De acordo com o sistema finalista, o dolo e a culpa não compreendem a culpabilidade (como no sistema clássico), tampouco a integram (como no sistema neoclássico), mas sim constituem elementos do fato típico (da tipicidade). o Antes desenvolvimento do sistema finalista, a consciência da ilicitude estava inserida dolo. Para que a conduta fosse considerada dolosa era imprescindível que o agente tivesse plena consciência de que a conduta por ele praticada era proibida pelo direito (isso na teoria neoclássica, como tentativa de corrigir alguns aspectos da teoria clássica). o Teoria normativa pura: Culpabilidade tem como elementos: Imputabilidade, POTENCIAL consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. Retiram-se o dolo e a culpa da culpabilidade (por isso essa teoria não traz o termo “psicológica”), os quais, como visto, integram a própria conduta típica. Para que a conduta seja típica precisa ser dolosa ou culposa. o Culpabilidade é o puro juízo de reprovação sobre o agente capaz (ou imputável) que tenha praticado fato ao menos com a possibilidade de ter ciência da ilicitude em circunstâncias em que era exigível um comportamento diverso. o Para caracterizar culpabilidade, portanto: Imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. 2.4 Culpabilidade – Requisito do crime ou pressuposto de pena? Não há unanimidade na doutrina sobre a natureza da culpabilidade, se pressuposto da pena ou requisito do crime. A linha que afirma ser a culpabilidade pressuposto para pena usa o argumento que o código utiliza expressões como “isento de pena”, quando se refere a ausência de culpabilidade. Exemplo: Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Quando há erro sobre a ilicitude, e esse erro é inevitável, não é possível exigir outra conduta do agente, logo não preenche os requisitos da culpabilidade. Nessa situação, o legislador determina a isenção de pena, por isso classifica-se a culpabilidade não como requisito para caracterização do crime e sim como pressupostos para pena. Como resposta a teoria antes mencionada, a doutrina aponta que, não apenas a culpabilidade, mas todos os elementos do crime (tipicidade, ilicitude e culpabilidade) são pressupostos de pena. Se o fato não é típico o agente não pode ser punido, assim como se o fato for típico, mas lícito. 2.5 Co-culpabilidade É a teoria que reconhece uma parcela de responsabilidade por parte da sociedade, devido à inércia ou à falha em oferecer ao indivíduo que agride um bem El em en to s d a cu lp ab ili d ad e Sistema Clássico Teoria Psicológica Dolo Culpa Sistema Neoclássico Teoria Normativa- psicológica Dolo e Culpa Imputabilidade Exigência de conduta diversa Sistema Finalista Teoria Normatica pura Imputabilidade Exigência de conduta diversa Potencial consciência da ilicitude jurídico os meios necessários para que a reincidência criminal não ocorresse, tais como alternativas e perspectivas que possibilitassem o afastamento seu da criminalidade. Partindo desse pressuposto, de que a sociedade tem uma parcela de responsabilidade, a pena do agente seria reduzida. 2.6 Excludentes da culpabilidade Inimputabilidade (2.6.1) Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Inexigibilidade de conduta diversa (2.6.2) Ausência de potencial conhecimento sobre a ilicitude (4.3) Erro de proibição. Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço Coação irresistível: Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. Causa supralegal: Súmula 68 do TRF. “A prova dedificuldades financeiras, e conseqüente inexigibilidade de outra conduta, nos crimes de omissão no recolhimento de contribuições previdenciárias, pode ser feita através de documentos, sendo desnecessária a realização de perícia. ” 2.6.1 Inimputabilidade Conforme Heleno Cláudio Fragoso “a imputabilidade é a condição pessoal de maturidade e sanidade mental que confere ao agente a capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar segundo esse entendimento”. Conceito legal de inimputabilidade: Art. 26 – “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” Sistemas ou critérios sobre a inimputabilidade Sistema biológico ou etiológico (sistema francês): Conforme esse sistema a inimputabilidade é vinculada à anomalia ou à imaturidade. É adotado em nosso ordenamento em relação ao menor de 18 anos. Sistema ou critério psicológico: Considera as condições psíquicas do agente no momento da prática do fato, sem indagar se há alguma perturbação mental mórbida, não importa se o sujeito é doente ou não. Não foi adotada pelo código penal brasileiro. Sistema Biopsicológico: É a reunião dos dois primeiros. É o critério adotado no Brasil, com exceção dos menores de 18 anos. Verifica-se a condição mental do agente, aliada aos efeitos dessa condição sobre o indivíduo no momento do fato. Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. . No Brasil foram adotados os critérios: Biológico no caso do menor de 18 anos e o Biopsicológico nos demais casos. Casos de inimputabilidade Doença Mental (Art. 26) Comorbidade: Quando sujeito é acometido por mais de uma doença etiologicamente relacionadas por exemplo: Alucinação (perturbação nas percepções visuais, auditivas etc.); Delírio (perturbações no pensamento/crenças). Ausência de autodeterminação: “ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. ” Ex.: Sujeito que não consegue mais se controlar devido ao efeito das drogas. Desenvolvimento mental incompleto: A) Art. 27 – “Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.” (Legislação especial = Estatuto da Criança e do Adolescente). o O menor não pratica crime, apenas ato infracional, podendo ser apreendido, mas não preso. o A presunção de inimputabilidade do menor de 18 anos é absoluta. o O menor não responde penalmente ainda que cometa o ato infracional pouco antes da meia noite do dia anterior em que completará 18 anos. o Se cometer o ato infracional no dia em que completa 18 anos, responde penalmente, já que, nas penas privativas de liberdade e restritivas de direito, deve-se desprezar as frações de dia (Art. 11). B) Indígena: Não há previsão no código, mas a doutrina majoritária indica o indígena como inimputável, dependendo da análise do caso concreto, embora existam precedentes do STF afirmando o contrário. Embriaguez Completa e involuntária (Acidental): Agente é isento de pena – Art. 28. § 1º - “É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” Caso fortuito: Agente ingere bebida desconhecendo seus efeitos (não previu e não tinha como prever) Força Maior: Agente é obrigado a beber. Deve ser inteiramente incapaz de entender o ilícito Isento de pena Embriaguez como doença mental (patológica): Prevista no caput do artigo 26. Assim como a embriaguez completa acidental (involuntária) o agente é isento de pena. Outras modalidades de embriaguez, que não isentam ou isentam parcialmente o agente de pena: o Embriaguez Incompleta involuntária (acidental): Art 28 § 2º - “A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” o Embriaguez pré-ordenada (não acidental): É um agravante de pena. Art. 61 – “São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II. L) em estado de embriaguez preordenada.” Ocorre quando o sujeito se embriaga com a finalidade de cometer o crime. Teoria da actio libera in causa O sujeito que se põe em estado de inimputabilidade não pode alegar desconhecimento do ilícito, ou seja, a ação foi livre na causa (embriaguez). o Voluntária ou culposa: Agente embriague-se voluntariamente ou por culpa Responde pelo crime. 2.6.1.1 Semi-imputabilidade Art. 26, Parágrafo único – “A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” Enquanto caput do artigo 26 trata da doença mental, o parágrafo único desse artigo o faz em relação à perturbação mental, a qual é mais ampla do que aquela, abarcando a doença mental em grau menos grave que no caput, a neurose, a psicopatia, dentre outras. Além dessas hipóteses, a embriaguez incompleta e involuntária (acidental) (Art 28. §2º) também é classificada como semi-imputabilidade, tendo, portanto, como consequência a redução da pena (1/3 a 2/3). 2.6.1.2 Consequências jurídicas da imputabilidade e da Semi- imputabilidade Quando for caso de inimputabilidade a primeira consequência será a absolvição (isenção de pena), e quando for de semi-imputabilidade, em regra, a redução da pena de 1/3 a 2/3. Inimputabilidade (Casos do caput do artigo 26 e embriaguez completa involuntária) estado do sujeito Primeira consequência Segunda consequência Doença mental (e demais casos do Art. 26, caput) Isento de pena Medida de segurança (Arts 97 e CPP 386, IV, parágrafo único, III ) Em b ri ag u ez Patológica Artigo 26, caput Isento de pena Completa e Involuntária Artigo 28 . §1º Isento de pena Incompleta involuntária Artigo 28 . §2º Redução pena de 1/3 a 2/3 Preordenada Artigo 61,II,L Agravante de pena Voluntária OU culposa Responde pelo crime Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê- lo a tratamento ambulatorial. Internação e tratamento ambulatorial são espécies de medidas de segurança. O sujeito será submetido a tratamento ambulatorial quando o crime for punível com detenção e à internação quando a pena for de reclusão. A pena de detenção é a que não admite o regime inicial fechado (só pode semiaberto ou aberto) A pena de reclusão é que admite o regime inicial fechado. (para os crimes mais graves) Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todosdo Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: III - aplicará medida de segurança, se cabível. Trata-se da sentença absolutória imprópria: O juiz reconhece o fato como crime, absolve o agente pela inimputabilidade, mas aplica-lhe uma medida de segurança. Cabe lembrar que a embriaguez patológica é caracterizada como doença mental, aplicando-se ao sujeito uma sentença absolutória imprópria, quando for o caso. estado do sujeito Primeira consequência Segunda consequência Embriaguez Completa e involuntária (Art. 28, 1º) Isento de pena - No caso de embriaguez completa e involuntária (acidental), o sujeito que praticar o fato tido como crime nesse estado será inimputável e, portanto, absolvido complemente, não lhe sendo aplicável medida de segurança. Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade; Não se aplica a embriaguez voluntária. Nos demais casos de embriaguez o agente responde com pena reduzida (incompleta e involuntária), agravada (preordenada – embriagou-se especificamente para cometer o crime) ou responde como se sóbrio estivesse (voluntária ou culposa) Semi-imputabilidade estado do sujeito Consequência Perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado Redução pena de 1/3 a 2/3 Medida de segurança capaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento (Art 26, parágrafo único) Art. 98 – “Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º.” O juiz pode substituir a pena reduzida por medida de segurança, se entender que o agente precisa de tratamento. estado do sujeito Consequência Embriaguez não completa e involuntária/acidental (Art. 28, 2º) Pena reduzida de 1/3 a 2/3 Nesse caso de semi-imputabilidade, o agente responde com pena reduzida de 1/3 a 2/3, não havendo possibilidade de substituição da pena por medida de segurança. 2.6.2 Inexigibilidade de conduta diversa Elemento da culpabilidade Excludente de culpabilidade Imputabilidade Inimputabilidade Potencial conhecimento sobre ilicitude Erro de proibição Exigibilidade de conduta divers Inexigibilidade de conduta diversa A inexigibilidade de conduta diversa tem causas legais e causas supralegais. Causas legais: Art. 22: “Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.” OU O artigo mencionado trata da coação irresistível MORAL (vis compulsiva) e não da coação física (Vis absoluta) Se a ordem for RESISTÍVEL, ainda que não seja excludente de culpabilidade, pode caracterizar uma situação atenuante da pena, prevista no artigo 65. Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; O mero temor reverencial não caracteriza coação irresistível. (Cometer um crime por medo de reprovação do padre, do pai, da mãe, de alguém por quem se tenha admiração) Obediência hierárquica A Ordem não pode ser manifestamente (evidente) ilegal, para que afaste a culpabilidade. No caso de ordem manifestamente ilegal, respondem os dois, de quem emanou a ordem (superior hierárquico) e quem a executou (inferior hierárquico), mas para o último a pena será reduzida nos termos do artigo 65, III, C. Ordem manifestamente ilegal é a que: A) Emana de autoridade incompetente OU B) Não reúne os requisitos formais. Causas supra legais de inexigibilidade de conduta diversa: Ex.: Súmula 68 do TRF4. “A prova de dificuldades financeiras, e conseqüente inexigibilidade de outra conduta, nos crimes de omissão no recolhimento de contribuições previdenciárias, pode ser feita através de documentos, sendo desnecessária a realização de perícia.” 3. Consumação e tentativa Crime consumado é o que reúne todos os elementos de sua definição legal (Art 14,I). O Tipo legal sempre descreve o crime consumado. Já o crime tentado é o que, quando iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente (Art 14,II). As razões “alheias à vontade do agente” que impedem a consumação do crime devem ocorrer na fase de execução do chamado “Iter criminis” (o caminho do crime), o qual inicia-se desde o momento em que o crime está na mente do sujeito (cogitação), passa pelos atos preparatórios, pelo momento da execução e pela consumação, tendo como última fase o exaurimento do crime (quando o agente provoca, após a consumação, nova lesão ao bem jurídico ou obtém nova vantagem sem o que o ato caracterize crime diverso). A simples cogitação (propósito do agente de cometer o crime) não possui consequências penais. O segundo momento após a execução é onde ocorrem os atos preparatórios para o crime, tendo a seguinte fase a de execução do plano. A grande dificuldade consiste em identificar quando o ato deixa de ser preparatório para ser executório. Cogitação Não é punível Atos preparatórios Em regra, não são puníveis. Só serão quando constituírem por si sós um crime. o Ex.: Ato preparatório punível Formação de uma quadrilha para cometer um homicídio. A formação de quadrilha em si já constitui crime por isso é um ato preparatório punível (Lei 12.850/13 – Art. 1º, §1º) o Ex.: Ato preparatório não punível A quer matar B. Por isso começa a observar a sua possível vítima, os horários que chega em casa, quando está sozinha etc.. Execução Se não for consumado o crime, caracteriza tentativa (se as razões impeditivas forem alheias à vontade do agente). 3.1 Atos preparatórios x Atos executórios (texto enviado por email) – Prof. Ângelo Ilha da Silva TEORIA NEGATIVA (Luigi Scarano): “Para essa teoria, é impossível determinar quando há um ato de execução.” TEORIA SUBJETIVA (Von Buri): “Define tentativa exclusivamente pela representação do autor: ações representadas como preparatórias no plano do autor não caracterizam tentativa; ações representadas como executivas no plano do autor caracterizam tentativa.” o Leva em consideração como o agente considera o ato, se ele considera como preparatório o fato não constitui tentativa, se considera como ato de execução , constitui tentativa. TEORIA FORMAL-OBJETIVA (Beling): “Entende-se por começo de execução o começo da realização da ação descrita no verbo do tipo.” Ex.: o agente põe a mão no bolso da vítima para furtá-la. o Crítica: “é um critério demasiadamente estreito e insuficiente para abarcar todas as hipóteses.” TEORIA MATERIAL-OBJETIVA (Frank): “Esta teoria pretende aperfeiçoar a teoria formal-objetiva, apelando dentre outros elementos, ao perigo para o bem jurídico e a inclusão de ações que, por sua vinculação necessária com a ação típica, aparecem, segundo uma concepção natural, como parte integrante dela.” Ex.: “a tentativa de homicídio já estaria caraterizada no momento em que o agente aponta a arma paravítima.” Crítica: “ações anteriores a ações que oferecem ataque ao bem jurídico feririam o princípio da legalidade.” TEORIA OBJETIVO-INDIVIDUAL, SUBJETIVO-OBJETIVA OU DO PLANO DO AUTOR (Hans Welzel, teoria adotada pelo StGB, o CÓDIGO PENAL ALEMÃO) “Para estabelecer a diferença entre ato preparatório e ato executório, complementa o critério objetivo levando em conta o plano do autor. Ex.: os agentes planejam assaltar um banco, mas são surpreendidos pela polícia quando escavavam um túnel já perto da agência. Essa teoria leva a uma tendência de subjetivação. Ex.: se o ladrão rompe a fechadura da porta, porque seu plano será invadir imediatamente a residência para realizar a subtração de objetos, terá praticado, desde logo, atos de execução; se, porém, seu plano é o de romper a fechadura para mais tarde voltar ao local e proceder à subtração apenas atos preparatórios”. StGB Título II – Tentativa: Art. 22 Definição do conceito. Comete tentativa de um fato punível quem, de acordo com sua representação do fato, age diretamente para a realização do fato típico. TEORIA DA INEQUIVOCIDADE E IDONEIDADE (Carmignani). “Os atos externos devem ser inequívocos ou unívocos e idôneos. Remonta à jurisprudência formada na vigência do Código Zanardelli. É a teoria adotada pelo CP italiano e também pelo revogado CP brasileiro de 1969.” o Art. 56. Delito tentado: Aquele que pratica atos idôneos, dirigidos de modo não equívoco à prática de um delito, responde pelo crime tentado, se a ação não se realiza ou se o evento não se verifica. “Ato executivo é, portanto, o ato idôneo, dotado de capacidade potencial para a produção do resultado somada a inequivocidade ou univocidade, ou seja, não ambíguo. O ato preparatório é aquele que, além de inidôneo, é equívoco ou ambíguo. Aquele que for surpreendido no topo de uma escada, apoiada em uma janela, se estiver praticando um ato idôneo, não estará praticando um ato inequívoco (poderá visar ao furto, a um sequestro ou poderá estar reparando a janela).” A idoneidade deve ser apreciada em cada caso concreto e, de acordo com a jurisprudência italiana, ex ante e id quod plerumque accidit. Ex.: o açúcar, substância inócua para causar a morte, poderá ser idônea a produzi-la se ministrado a um diabético. Ao ato idôneo e inequívoco deve somar-se o elemento subjetivo, qual seja, o dolo de crime consumado. Ex.: “A, animus necandi, ministra a B certa quantidade de açúcar, pensando tratar-se de violento veneno. Evidente, B não vem a morrer”. (Mestieri). Como não se tratava de veneno violento a conduta se mostrou inidônea. No Brasil, seguem essa orientação Paulo José da Costa Jr. e Miguel Reale Júnior 3.2 Tentativa imperfeita x tentativa perfeita A Tentativa Imperfeita ocorre quando o agente não consegue praticar todos os atos necessários à consumação por interferência externa. Ex.: A quer matar B, e consegue atingir a vítima com um disparo, causando-lhe lesões. No entanto, quando vai realizar outro disparo, C interfere impedindo que a consumação aconteça. Já a tentativa perfeita (ou crime falho) ocorre quando o agente realiza todo o necessário para obter o resultado, mas mesmo assim não o atinge. Ex.: A dispara dolosamente contra B, mas antes que o homicídio se consume C interfere, após A ter realizado todos os atos, e leva B para o hospital impedindo a sua morte. 3.2 Crimes que não admitem tentativa A) Crimes culposos Para tentar é preciso querer. B) Crimes preterdolosos (dolo no tipo básico e culpa no qualificador) Ex.: Agente quer causar apenas lesões na vítima, mas acaba, por culpa, causando- lhe a morte. C) Contravenções penais Lei das contravenções penais – Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção. D) Omissivos próprios: Ex.: Art. 135 – “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública.” Logicamente, não é possível tentar deixar de fazer algo. E) Unisubsistentes. Mediante ato único. Ex.: Injúria verbal (Art 140). F) Crimes de resultado: Os crimes em que a lei pune somente quando ocorre o resultado. Ex.: Art. 122 – “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar- lhe auxílio para que o faça.” Se o suicídio não acontecer ou a tentativa de suicídio não gerar lesões, ainda que o sujeito tenha instigado o outro a suicidar- se, não haverá crime. Nesse caso, não há possibilidade de tentativa, pois somente a consumação do ato induzido pode ocasionar a punição daquele que induziu. G) Crime habituais: Só se caracterizam se houver reiteração da conduta. Senão o crime não se consuma. Ex.: Art. 230 – “Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça.” Só se caracteriza crime se for praticado de modo habitual. É preciso reiteradas condutas previstas no tipo, logo a mera tentativa não constitui crime. H) Crimes de atentado. Lei 7170/83. Art. 17 – “Tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito.” A própria tentativa já é considerada consumação. I) Crime continuado. “Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.” São diversos atos que, por uma ficção jurídica, constituem um único crime. Não constituindo a mera tentativa em crime. Constitui Crime complexo, quando o agente pratica mais de um ato típico e ilícito. Pode ocorrer tentativa no crime complexo: Roubo + Morte. Agente tentou roubar e tentou matar. (tentativa de latrocínio) Roubo + Morte. Agente tentou roubar e consumou o homicídio. Todo o crime fica tentado. (tentativa de latrocínio) Roubo + Morte. Agente roubou e matou a vítima. (Latrocínio consumado) O crime complexo só será consumado quando todos os atos típicos praticados forem consumados. Sumula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima.” 3.3 Desistência voluntária e arrependimento eficaz Art. 15 – “O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.” Esse artigo é resultado de uma política criminal que visa à desistência do sujeito em praticar o crime. Desistência voluntária: Sujeito atira na vítima e acerta o braço. Embora tenha mais munição na arma, resolve desistir de cometer o homicídio. Responde por lesão corporal. Entretanto, se o agente erra o tiro e, em seguida, desiste voluntariamente, tendo munições na arma, não responde por crime algum. Para que se caracteriza a desistência voluntária é necessário que o agente tenha possibilidade de continuar com o crime. A desistência voluntária não precisa ser espontânea, isto é, o agente pode desistir por convencimento de terceiro ou da própria vítima. Arrependimento eficaz: Ocorre quando, após esgotados os atos executórios, o agente atua para que o resultado não ocorra, fazendo uma nova atividade. Exemplo: A Ministra veneno na comida de B. Momentos após o ato, resolve ministrar o antídoto em outra refeição de B. Não respondepelo crime a não ser pelos resultados que eventualmente tenham ocorrido (possíveis sequelas) Exemplo²: A ministra veneno na comida de B. Avisa do veneno, mas o a vítima morre. A responderá pela morte de B. 3.4 Arrependimento posterior Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. Se o sujeito oferecer a restituição da coisa até o recebimento da denuncia pelo juiz, a pena será reduzida de um a dois terços, mas se o oferecimento da restituição ocorrer depois do recebimento da denúncia e antes do julgamento, caracteriza-se mera circunstância atenuante da pena. Art. 65 – “São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: (...) b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar- lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;” Restituição antes do recebimento da denúncia: Redução de pena de um a dois terços Restituição (reparação do dano) depois do recebimento da denúncia e antes do julgamento: Circunstância atenuante Mas há exceções, quando de forma diversa estiver previsto em lei. A exemplo: Peculato - Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Peculato culposo: Art 321. § 2º - “Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem” § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Reparar o dano antes da sentença: fica extinta a punibilidade Reparação depois da sentença reduz pela metade a pena imposta. (Apenas no peculato culposo) 3.5 Crime impossível Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. Ineficácia absoluta do meio: Se ineficácia do o meio ou o objeto for relativa o sujeito responde pela tentativa. Para que o sujeito fique isento de pena não pode haver possibilidade alguma do meio ou objeto utilizado consumar o crime. Ex.: A ministra açúcar na alimentação da vítima supondo que era veneno, como o meio é absolutamente ineficaz para atingir o resultado, A não será punido pela tentativa. Ex².: Tentar matar alguém com uma pistola de água. Ineficácia relativa do meio: O agente responde por crime tentado. Ex.: Arma de fogo falha quando o agente vai realizar um homicídio. (a ineficácia é relativa pois a arma poderia ou não ter falhado) impropriedade absoluta do objeto: O “objeto” mencionado no artigo 17 é a pessoa ou coisa sobra a qual recai a conduta. O agente não responde por tentativa. Ex.: Desferir tiros em pessoa morta. Ex.: Ingerir medicamentos abortivos quando a gravidez é meramente psicológica. Impropriedade relativa do objeto: Nesses casos, há possibilidade do crime ser consumado, respondendo o agente por tentativa. Ex.: Sujeito atira em vítima que está com uma medalha em baixo da camisa, a qual lhe salva a vida. Em suma, quando for relativa a impropriedade do objeto ou a ineficácia do meio, ou seja, se houver possibilidade de consumação do crime, o agente responde por crime tentado. Já quando não existir possibilidade de consumação do crime, por ser absoluta a impropriedade do objeto ou a ineficácia do meio o agente caracteriza-se o crime impossível, não respondendo o agente por crime algum. 3.6 Punibilidade do crime impossível De acordo com a teoria subjetiva a punibilidade ou não do agente tem como fator determinante a intenção do autor no momento do ato, o que leva possivelmente a consequências mais radicais. Por exemplo, se alguém atira em uma pessoa morta, responderia por tentativa de homicídio, sendo a sua intenção (psicológico) cometer um crime. Portanto, a teoria subjetiva equipara o crime impossível ao crime tentado. Já para a teoria objetiva o que deve ser levado em consideração é a ofensa a que é exposto o bem jurídico (lesão ou perigo). Nesse caso, o agente não responde por atirar em uma pessoa morta, já que são irrelevantes as lesões causadas no bem jurídico atacado. Crime provocado ou crime de ensaio: A própria autoridade competente para investigação propicia que o crime ocorra. Ex.: Policial que vai comprar drogas, e na hora da entrega seus colegas policiais predem o sujeito. A principal característica é a prévia combinação do flagrante (flagrante preparado). Situação diversa seria se os policiais apenas esperassem a consumação do crime em local provável para seu acontecimento (flagrante esperado). Conforme a súmula 145 do STF, “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.” Há dois requisitos para aplicação dessa súmula: i) Preparação (ou ensaio); ii) Impossibilidade de consumação do crime. No exemplo do flagrante preparado pelos policiais para prender um traficante de drogas, este não poderá ser preso por “venda” (impossibilidade de consumação), mas o poderá por “guardar”, “trazer consigo” (Art. 33. Lei 343/2006). 4. Teoria do erro Er ro De tipo Essencial Acidental Sobre o objeto Sobre a pessoa Erro na execução Resultado diverso do pretendido De proibição Direto Indireto Até a reforma do código penal de 1984, não se trabalhava com a noção de erro de proibição, apenas erro de fato e erro de direito, já que o código original de 1940 tinha uma concepção predominantemente causalista, tratando o dolo como elemento da culpabilidade e não como elemento do tipo. Sendo assim, qualquer erro recaía na culpabilidade. Com a reforma de 1984 o código penal brasileiro passou a ter um viés finalista adotando a concepção de erro de tipo e erro de proibição, em grande medida por conta do dolo ser considerado como elemento do tipo e não da culpabilidade. 4.1 Erro de Tipo Essencial Erro de tipo essencial, ou simplesmente erro de tipo, é aquele que versa sobre algum elemento constitutivo do tipo. Art. 20 – “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.” No erro de tipo essencial, o agente tem uma falsa noção da realidade, o que tem por consequência a prática de um crime, supondo que o fato não é típico. Exclui o dolo, pois para existir dolo o agente deve querer praticar o tipo objetivo (o que inclui todos os seus elementos). Ex.: Crime de furto. Art. 155 – “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Se o agente subtrair, mas não para si ou para outrem, não há dolo, já que ele não teve como finalidade realizar o tipo previsto no artigo 155. Logo, se o agente subtrai um objeto de outrem supondo ser seu, equivocando-se sobre um elemento do tipo, não responderá criminalmente pelo fato. Não importa se o erro recai sobre os elementos são descritivos, subjetivos ou normativos do tipo, o erro de tipo essencial SEMPRE excluirá o dolo (não há exceções). No entanto, de acordo com artigo 20 do CP, em caso erro sobre elemento constitutivo do tipo, permite-se a punição por crime culposo se o erro for vencível, ou seja, se o agente tinha como saber, e houver previsão legal da forma culposa, 4.2 Erro de Tipo Acidental É o erro (falsa percepção da realidade) que recai sobre circunstâncias acessórias ou estranhas ao tipo, sem as quais o crime não deixariade desistir. Divide-se em erro sobre o objeto, erro sobre a pessoa, erro na execução e resultado diverso do pretendido. Erro de tipo acidental - sobre o objeto: O erro recai sobre coisa diversa daquela pretendida pelo agente, sendo um erro irrelevante para afins penais quando a confusão entre os objetos não altera a essência do crime. Ex.: Agente rouba caminhão de açúcar supondo ser de farinha. Se o agente confundir cocaína com farinha, por exemplo, não se trata de erro de tipo acidental já que ele não sabia que sua conduta era típica. Erro de tipo acidental - sobre a pessoa: Art 20. § 3º - “O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.” Ocorre um erro de representação. O sujeito pratica crime contra pessoa diversa da que representou mentalmente. Ex.: Agente mata uma mulher não grávida, quando queria matar uma grávida – responde como se tivesse matado aquela que era objeto de sua intenção – a mulher grávida. Erro de tipo acidental - na execução – Aberratio criminis. “Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.” Não é caso de erro de representação (sobre a pessoa), mas, em razão do erro no uso dos meios de execução, o agente atinge pessoa diversa da que pretendia ofender. O agente que comete erro na execução responderá pelo crime com os mesmos efeitos do erro sobre a pessoa (de acordo com as qualidades da vítima) previstos no artigo 20, §3º. Se o agente atingir pessoa diversa por erro na execução e também a pessoa que era seu objetivo inicial atingir, responderá com efeitos do concurso formal (Art 70): Aberratio criminis com resultado duplo: o Art. 70 – “Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. (...)” Uma ação e Dois ou mais crimes diferentes: Pena mais grave + 1/6 a 1/2. Uma ação e Dois ou mais crimes iguais: uma das penas + 1/6 a 1/2. o Art. 70 - “ (...) As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.” Desígnios autônomos = Ex.: A quer atingir B e vê que C está nas proximidades. Mesmo assim decide atirar contra B, assumindo o risco de acertar C também. Dolo Eventual. As penas pelos crimes causados são cumulativas. Resultado diverso do pretendido: Aberratio delicti Art. 74 – “Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica- se a regra do art. 70 deste Código.” Ao contrário do artigo 73 (aberratio criminis – erro na execução), o instituto da aberratio delicti trata de pessoas e coisas e não apenas de pessoas. A quer atingir uma coisa, mas acaba errando e atinge B, causando-lhe a morte A COISA B A responde por homicídio Culposo A quer atingir B, mas acaba errando e atinge uma coisa, destruindo-a A B COISA A responde por tentativa de homicídio. A quer atingir B, mas acaba atingindo também uma coisa A B COISA Responde pelo resultado contra a pessoa. Homicídio ou lesões. A quer atingir uma coisa, mas acaba atingindo também B A COISA B Ocorreu o resultado pretendido e também um crime culposo. Art. 74 – “ (...),se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.” O artigo 70 é dividido em duas partes: A) Primeira parte: Prevê que na ocorrência de dois ou mais crimes iguais aplica-se uma das penas + (1/6 a 1/2) e na ocorrência de dois ou mais crimes diferentes aplica-se a pena do mais grave + (1/6 a 1/2). B) Segunda parte: Prevê que sendo os desígnios autônomos, em que agente quer a produção dos dois resultados (no exemplo acima, destruir a coisa E matar B), as penas de ambos os crimes devem ser somadas (cumuladas). Logo, no exemplo acima, a pena a ser aplicada depende das intenções do agente: Se queria consumar os dois crimes: Cumulação das penas Se queria apenas um dos resultados, sendo o outro na forma culposa: Aplica-se a pena mais grave + 1/6 a 1/2. 4.3 Erro de Proibição Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. É o erro que recai sobre o fato de determinada conduta ser ou não proibida (ilicitude). “Desconhecimento da lei é inescusável” Inescusável = imperdoável. Entretanto, o indivíduo não precisa conhecer o dispositivo do código penal propriamente dito. Erro de proibição direto: O agente não sabe que o fato que ele pratica é ilícito. Ex.: Alguém que acredita no ditado “achado não é roubado”, subtrai para si objeto encontrado a rua, supondo não ser crime. Se provado que agiu de boa- fé afasta a incidência do artigo 169,II. Erro de direito indireto: A pessoa sabe que o fato é típico, porém acha que existe uma excludente (causa de justificação) ou supera os limites de uma causa de justificação. O erro de proibição pode excluir a pena, quando o erro for invencível, ou diminuí-la, quando vencível. 4.4 Descriminantes putativas Art 20. § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não Descriminantes putativas Erro de tipo Circunstância de fato Erro de proibição Existência de justificante Limites da justificante há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Descriminar é tornar o fato indiferente para o direito penal. As descriminantes putativas são aquelas que existem apenas no pensamento de quem pratica o ato, podendo estar relacionadas a circunstâncias fáticas (erro de tipo) ou a excludentes de ilicitude (erro de proibição). Erro sobre Circunstância de fato: Trata do erro de tipo. A promete que vai matar B, o qual começa a andar armado por conta dessa ameaça. Certo dia B encontra A em um bar, e em um dado momento coloca a mão no casaco para pegar um objeto. Nesse instante A, supondo que B fosse pegar uma arma de fogo, dispara contra B, causando-lhe a morte. O erro está na situação de FATO, por isso o fato é um erro de tipo. o Tem os mesmos efeitos que o erro de tipo essencial. o Se o erro derivar de culpa e houver previsão do tipo culposo o agente não estará isento pena. Erro sobre existência de justificante e Limites da justificante: Trata do erro de proibição indireto. Art. 21 – “O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. “ Ex.: Policial pretende prender A mas acaba prendendo B, irmão gêmeo de A. O policial, agindo de boa-fé, acredita estar no estrito cumprimento de um dever legal.Ex.: Sujeito que, para defender-se de um agressor desarmado, utiliza arma de fogo, ultrapassando os limites da legítima defesa. Nesse caso, o fato só será considerado como descriminante putativo se o sujeito agiu de boa-fé, supondo que sua atitude estava dentro dos limites permitidos para legítima defesa. o Efeitos: Erro Inevitável (invencível) – Agente é isento de pena Erro Evitável (vencível) – Pode responder por crime culposo, tendo a pena reduzida de um 1/6 a 1/3. 5. Concurso de pessoas – Autoria e participação Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. 5.1 Sistema Unitário x Sistema Diferenciador Sistema Unitário: Não distingue autores de participantes. Foi o sistema adotado pelo código penal brasileiro em sua origem, por influência do código penal italiano e devido à orientação predominante entre os penalistas autores do CP – o causalismo. A principal teoria do sistema unitário é a Teoria subjetiva causal (Monística): ligada à teoria da conditio sine qua non (nexo causalidade) – todo fato que contribui para o resultado é considerado como causa - equipara todos que interferem na consecução do crime a autores. Sistema diferenciador: Teoria Formal Objetiva: Autor é o sujeito que pratica o verbo nuclear previsto no tipo (Beling). É insuficiente para a realidade. No exemplo de duas pessoas praticarem homicídio, uma segura a vítima e a outra mata, apenas a que mata seria considerada como autora do crime. Teoria Subjetiva: Autor é aquele que age com animus auctoris e o participe é o que age com animus socii (em nome do autor). Essa teoria desconsidera totalmente o aspecto objetivo e se atem apenas à intenção do sujeito. Alguém que executou o crime pode ser considerado como participe e não como autor. Teoria Material Objetiva: Busca ser um corretivo para a teoria formal objetiva, que é uma teoria muito restritiva. Atribui a condição de autor não apenas a quem pratica a conduta nuclear do tipo, mas também àqueles que praticam condutas próximas ao verbo nuclear. Pauta-se na relevância da causa. (Ex.: Crime virtual em conta bancária. Aquele que rouba a senha da conta também seria autor, não apenas quem faz a transferência de uma conta para outra). Teoria do domínio do fato: (Ponto 5.6) 5.2 Autoria e participação Concurso Eventual: Dá-se nos casos de infrações que não exigem mais de um autor para consumação do crime. Ex.: Homicídio. Não exige mais de uma pessoa. Se o crime for praticado por mais uma pessoa será considerado concurso eventual. Concurso necessário: Ocorre quando o crime exige mais de um autor. Art 288 do código penal. Ex.: Art. 288. “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:” Quanto ao número de crimes na ocorrência de concurso de pessoas, para teoria monista autores e partícipes praticam apenas um crime, já para teoria dualista, há um crime para autores e outro crime para partícipes, e por fim, a teoria pluralista determina que há quantos crimes de acordo com quantos forem os autores e partícipes, ou seja, cada agente que participa do concurso pratica crime distinto e independente dos demais. A maioria dos autores adota a teoria monista. 5.2.1 Formas de autoria Autoria Direta ou imediata: O agente realiza o ato diretamente. Autoria indireta: O agente pratica o crime valendo-se de um instrumento (que não será autor nem partícipe) – outra pessoa. Exemplos: Valer-se de uma coação para alguém praticar o crime. Valer-se de um inimputável. Valer-se de um instrumento que atue em erro: Médico que quer matar paciente e indica injeção com substância tóxica a ser aplicada pela enfermeira. O Instrumento é denominado autor mediato ou indireto, não sendo punível. Portanto, na autoria indireta, o agente com intenção de praticar o crime faz uso de alguém inimputável para consumação. Cabe ressaltar que se o agente paga a outrem para que cometa determinado crime, não é hipótese autoria indireta, sendo imputável o instrumento. Autoria coletiva (Coautoria): Crime é executado por mais de um autor - com vínculo subjetivo entre eles (confluência de vontades) Autoria Colateral: Crime é executado por mais de um autor sem vínculo subjetivo entre eles (sem confluência de vontades). Cada um age por si. Ex.: Várias pessoas agridem a vítima não havendo acordo de vontades prévio. Não é concurso de pessoas, pois para ser deve haver vínculo entre os sujeitos. 5.2.2 Participação “Stricto sensu” Quanto à forma, a participação pode ser caracterizada pela instigação ou pela cumplicidade, sendo que parte da doutrina ainda distingue a instigação do induzimento. Parte da doutrina distingue instigação de induzimento. Instigação: Determinação de uma pessoa para prática do crime. Faz nascer em outrem a vontade de praticar o crime (apenas para doutrina que distingue instigação de induzimento). O agente instigador não comete nenhuma participação material. Induzimento – A pessoa instiga aquele que já tinha vontade de praticar o crime. Cumplicidade – Nem sempre é a participação material, podendo ser moral. A participação é sempre acessória. Se a autoria não ocorrer, o crime não é punível. Em relação a quais elementos do crime devem estar presentes para responsabilização do agente, são estabelecidos quatro níveis de acessoriedade: Acessoriedade Mínima: Quando a punição do partícipe depende de simples conduta típica do autor direto. Acessoriedade Limitida: A conduta do autor deve ser típica e ilícita É a teoria adotada no Brasil. Acessoriedade Máxima: A conduta do autor deve ser típica, ilícita e culpável Hiperacessoriedade: A conduta do autor deve ser típica, ilícita, culpável e punível Participação de menor importância Art 29. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. Ex.: Algumas pessoas querem assaltar uma casa e alguém fica responsável por cuidar os horários e rotinas dos moradores dessa casa. Participação em crime menos grave Art. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Ex.: Agentes combinam de praticar um furto em uma residência. Chegando no local do crime, alguns resolvem matar os moradores, enquanto outros apenas praticam furto. Estes, em regra, respondem por crime menos grave, mas a pena poderá ser aumentada até a metade, se for considerado que previsível o resultado mais grave. 5.3 Requisitos do concurso de pessoas São requisitos para caraterização do concurso de pessoas: A) Pluralidade de pessoas. B) Relevância causal das condutas. Ex.: Emprestar uma arma para praticar um crime que não se consuma, aquele que emprestou não responderá por crime. C) Vínculo volitivo. Ex.: Duas pessoas agridem uma vítima, mas sem combinarem, cada uma responde sozinha, não havendo concurso de pessoas. D) Identidade de infração – Os sujeitos devem Concorrer para um único crime (tipo legal) 5.4 Circunstâncias incomunicáveis Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. “Salvo quando elementares” Se a circunstância for elementar do tipo – comunica. “Comunicar” significa as circunstâncias e condições de caráter pessoal de um dos agentes alcançará aos demais em concurso de pessoas. Exemplo: Peculato. Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Peculato furto § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Um servidor público e um amigo vão até o órgão onde o primeiro exerce suas atribuições, fora do horário de expediente, e acabam furtando um objeto. Como funcionário público é uma função elementar do crime de peculato furto, os dois respondem por peculato, ainda que um deles não seja servidor público, já que as circunstâncias e as condições de caráter pessoal se comunicam. 5.5 Casos de inimputabilidade – Favorecimento pessoal e real Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. Favorecimento pessoal Ex.: Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Se alguém auxilia outrem a subtrair-se da polícia não responde por concurso de pessoas e sim por favorecimento pessoal § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Nesse caso a pessoa que favoreceu fica isento de pena Favorecimento real Ex.: Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Ocorre favorecimento real quando o sujeito ajuda o agente a tornar seguro o proveito do crime. Ex.: Guardar o objeto furtado pelo amigo. 5.6 Teoria do domínio do fato A Teoria do domínio do fato foi concebida inicialmente por Hans Welzel em 1939, em seu artigo Studien Zun System des Strafrechts (Estudos sobre o Sistema de Direito Penal) no qual delineou um pouco melhor a sua concepção sobre crime. 5.6.1 Hans Welzel Para que o agente concorra em concurso de pessoas na qualidade de autor, distinguindo-se autor de partícipe, é necessário que preencha ao menos um dos requisitos: A) Qualidade pessoal objetiva (qualidades especiais – essenciais ao crime); B) Pratique o ato com a intenção especial prevista no tipo. E: A) Tenha o domínio do fato. No entanto, para que ambos respondam como autores (coautoria), em concurso de pessoas, ou os agentes tomaram a decisão conjunta de praticar o crime ou executaram o crime conjuntamente. Portanto, para Welzel, é autor aquele que possui domínio da decisão e da execução do fato típico. Hans Welzel Características do autor Pessoal Objetiva Subjetiva Geral ou pressuposto fático Domínio do fato Coautoria Decisão conjunta do fato Excecução conjunta do fato Características do autor: Pessoais objetivas: São qualidades especiais que caracterizam o agente como autor do crime. Exemplo: Peculato - servidor público. Art. 312 – “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:” Pessoais Subjetivas: São as intenções especiais – tendências ou tipos de sentimento: exemplo Intenção lasciva – Art. 213. “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:” Além de umas das características (objetiva ou subjetiva), o autor deve ter o domínio do fato, deve ser senhor da ação praticada. Características da Coautoria Decisão conjunta do fato: Se alguém aponta uma arma para outra pessoa e um terceiro sujeito vai e rouba o celular de quem está com a arma apontada. Responde por furto quem pegou o celular e por constrangimento ilegal com aumento de pena por uso de arma de fogo quem apontou a arma. No entanto, se os dois sujeitos combinassem (tomassem a decisão conjunta) de um apontar a arma e outro pegar o celular, ambos responderiam por roubo (ambos autores – coautores – não se fazendo distinção entre partícipe e autor) Execução conjunta do fato: Ambos serão autores, mesmo que um dos sujeitos não atue no momento executório. Para o Welzel, para ser considerado coautor, basta atuar em um momento preparatório e deter do domínio final do fato. 5.6.2 Claus Roxin Claus Roxin Divisão geral Delitos do domínio Delitos de dever Delitos de mão própria Domínio do fato Domínio da ação Domínio da vontade Coação - Inimputável Erro Aparato de poder Domínio Funcional Autoria mediata ou por domínio de aparato de poder Em uma divisão geral os delitos podem ser divididos em delitos de domínio (domínio da ação, da vontade, domínio funcional), delitos de dever e delitos de mão própria, sendo que apenas aos primeiros é aplicável a teoria do domínio do fato; Domínio da ação: Está presente na autoria imediata ou direta. A autoria é evidente. Quando o agente pratica ele mesmo o fato. Ex.: Disfere tiros na vítima. Ele domina a própria ação Domínio da vontade: Está presente na autoria mediata ou indireta. O agente não executa pessoalmente o fato, mas, por exemplo, coage alguém a praticar o fato típico. O instrumento utilizado pelo agente age com erro, coagido ou na qualidade de inimputável ou ainda sob influência de um aparato organizado de poder dissociado do direito. Domínio funcional: tem relação com as funções – cada coautor faz suas próprias funções, cada autor desempenha uma função determinada que contribui para consecução do crime comum. 5.6.2.1 Claus Roxin – Teoria do aparato organizado de poder Aparato organizado de poder: Trata-se de uma inovação proposta por Roxin, após análise do caso da execução de diversos judeus ao tempo do nacional-socialismo alemão, concluiu inapropriado o soldado responder como autor e o general de quem emanou a ordem como partícipe. Para que o sujeito de quem emana a ordem responda como autor, o aparato organizado de poder deve preencher três requisitos: A) Uma organização vertical rigidamente organizada Onde alguém possui poderes para determinar uma ordem e outro obedecer – vínculo hierárquico entre os dois; B) Dissociação com o direito – Ausência de conformação legal Aplica-se a estados autoritários Ex. Alemanha nazista; grupos terroristas; Organismo ilegais; (em uma empresa o empregado não é obrigado a atender uma ordem contrária ao direito, porque a empresa não é dissociada ao direito). C) Fungibilidade dos executores Se um não executa o outro fará O fato necessariamente deve ser cumprido ou pelo executor ou por outro. Se um dos soldados não executar a vítima outro o fará, o que caracteriza a fungibilidade dos executores. Quem domina o aparato (Ex.: General) é Autor do crime e não coautor. Não existe prévia combinação entre o mandante e o executor. Para Welzel na coautoria o autor não precisa participar da fase executória, basta participar da fase preparatória, já para Roxin, em regra, o autor deve participar da fase executória, sendo a única exceção a isso a ideia de crime com aparato organizado de poder. Havendo aparato organizado de poder: o Mandante e executor
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