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são: o autoritário, o laíssez-faire e o democrático. Quando o líder é um autêntico recurso para o funcionamento instituinte, denomina-se revolucionário-desejante-produtivo. Seu estatuto não é o de um modelo, mas o de um exemplo singular. LOGÍSTICA: balanço dos recursos e forças disponíveis no início de uma intervenção. Avalia-se o que está disponível para contribuir ou para dificultar o trabalho, que se iniciará se houver um mínimo de possibilidade de realização. A logística vai sendo reavaliada durante o percurso da intervenção. MARGINALIDADE: por referência a teorias, doutrinas, ideologias, organizações, movimentos, espaços físicos, geográficos ou abstratos, idiossincrasias (sexuais, raciais, etárias, nacionais, econômicas, jurídicas) etc., considera-se marginal a todo e qualquer elemento afastado do que se entende por central, legítimo, consagrado ou autêntico nos campos correspondentes. O marginal em geral adquire um matiz pejorativo que denota ou conota tanto aquilo que está desvirtuado como até o que se avalia francamente como negativo ou perigoso. Obviamente, o termo marginalidade está muito relacionado com a oposição centro-periferia. MASSAS: noção de difícil definição, que foi empregada de muitas maneiras não coincidentes. Num sentido, designa grandes segmentos da população que se opõem às minorias (particularmente às elites) e podem vir a ocupar seu lugar. Em outra significação, refere-se a conjuntos humanos amorfos, cujos integrantes carecem de "identidade" própria. Também se diz de seus componentes que são dirigidos por outros; e não intradirigidos. Freud utilizou o conceito de massa como sinônimo de grande agrupação. As massas efêmeras dividem-se naquelas que se fomlam e dissolvem espontânea ou fugazmente (multidão) e nas que se organizam ocasionalmente em torno de um líder. As massas "estáveis" são, de modo plausível, sinônimo de organizações; Freud dá como exemplo a Igreja e o Exército. Chama-se "Sociedade de Massas" aquela em que as diferenças (por exemplo, a de classes) se apagam em função de outros parâmetros (por exemplo, o acesso 158▲ ao consumo de certos produtos). MISTIFICAÇÃO: processo mais ou menos deliberado de produção, difusão e assimilação de representações, crenças, convicções e valores que deformam, encobrem ou falsificam a realidade natural ou social com a finalidade de enganar as forças e agentes* instituintes* e organizantes* Perpetuam-se assim os instituídos*-organizados*-estabelecidos, e com eles, as formas históricas que adotam a exploração" e al dominação*. Pode-se considerar os processos de mistificação como sinônimos de produção, difusão e assimilação de ideologias regressivas ou, segundo outra terminologia institucionalista, de máquinas de semiotização de captura e recuperação* . MODULAÇÃO (PRODUÇÃO) DA DEMANDA: O lnstitucionalismo questiona a crença de que existem necessidades "naturais" (portanto universais e eternas) que se expressam em "demandas espontâneas". Uma sociedade* tem necessidades que não conhece e não consegue definir como tais, assim como supõe ter necessidades cuja existência foi produzida e cuja expressão em demandas foi gerada e modulada pela oferta. A produção de objetos suntuosos, bens de luxo e desperdício dos setores dominantes, tem sido sempre prioritária. O que resta da produção é o que se oferece às comunidades, categorizado como "objetos das necessidades básicas". Dessa maneira, definem-se tais necessidades e se convoca e modula sua demanda. Nas sociedades industriais modernas, a construção de um "Estado beneficente, previdenciário, administrador-gerente-cientista" e de um mercado de bens e serviços submete a produção de necessidades e a modulação das demandas à ação dos saberes disciplinares e de seus agentes*, os experts. São eles os que decidem o que, como, quanto, onde, porque e quando as pessoas "necessitam" e "demandam", no que se refere a bens de consumo ou de "capital" e a serviços de saúde (física e mental), educação, transporte etc. Essas decisões e as ações que elas orientam são, segundo dizem os experts, "cientificamente" fundadas, e de acordo com a "vontade popular", sempre visando "o bem comum". A partir da Psicanálise, costuma-se afirmar que o desejo* mediatiza a relação entre necessidade e demanda. Ou seja, entre as exigências da necessidade e sua expressão significante atua o desejo, que a Psicanálise define como essencialmente faltoso de objeto ou carente de resposta material possível. A necessidade não satisfeita origina uma privação que pode ser resolvida com os objetos materiais correspondentes. Já a demanda, do ponto de vista psicanalítico, não é um pedido do que manifestamente se solicita, mas de "amor" e "reconhecimento", sendo compensável com as respostas que a complementem. O desejo, em troca, pede uma impossível restauração narcisística, o gozo absoluto. A produção de um fantasma pode lhe dar uma satisfação imaginária e transitória, e a simbolização, um destino 159 ▲ socializável, enquanto só a morte pode conferir-lhe uma definitiva. Algumas correntes institucionalistas questionam radicalmente essa concepção do desejo*. MOLAR: para a Esquizoanálise*, este termo designa uma ordem de organização do real que caracteriza a superfície de registro e controle e a de consumo-consumação. Nessa ordem, as entidades características são os estratos e os grandes blocos representativos dos territórios constituídos. É o lugar dos códigos, sobrecódigos e axiomáticas, das formas sujeitos e objetos definidos, dos organismos biológicos e das grandes corporações e corpos cheios do Estado*, Igreja etc. Compõe o que em outra terminologia se denomina instituídos*-organizados*-estabelecidos. Nesse espaço constituem-se as matérias formadas e as forças vetorizadas (númen voluptas). É o campo da regularidade, da estabilidade, da conservação e da reprodução*, onde operam os equipamentos sedentários de captura e recuperação*. Aproxima-se ao que se chama "o mundo do macro". MOLECULAR: para a Esquizoanálise, este termo caracteriza os elementos que compõem a superfície de produção desejante. Essa superfície está integrada pelo "corpo sem órgãos" (uma rede de intensidades puras que se distribuem em gradientes delimitados por limiares a partir de zero) e pelas "máquinas desejantes" (rede de singularidades acopladas de maneira binária – máquina-fonte-m.áquina-órgão – que se conectam em todas as direções, segundo o acaso* ou uma lógica aleatória). Essas conexões fazem circular fluxos (devires-esquizias) interrompidos por cortes que, em suas ligações anárquicas locais ou à distância, resultam em uma eclosão do novo ou na metamorfose das entidades molares,que assim se desestratificam e se desterritorializam por linhas de fuga. É o lugar das matérias não-formadas e das energias não vetorizadas onde as máquinas moleculares se formam ao nlesmo tempo em que funcionam. Os dispositivos* e máquinas de guerra nômades, agenciamentos* que se montam com especial permeabilidade para o desejo*